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Análise de textos (Aula 11)

a) Nova etapa do curso: aplicar análise argumentativa à leitura e à escrita

- Textos servirão de ocasião para entender aspectos de uma controvérsia

• Metaética: universalismo racionalista X subjetivismo e egoísmo

b) Níveis de análise com vistas à dissertação:

- Básico: P. Singer, Ética prática, cap. 1 “Sobre ética”

- Intermediário: básico + textos de Kurt Baier e James Rachels [ideal]

- Avançado: intermediário + textos de Stephen Buckle e Ira Schnall

c) Peter Singer: filósofo australiano (nascido em 1946) com muitas obras de grande
impacto no campo da ética

- Muito conhecido por polêmicas e propostas reformistas de largo espectro. Não


vamos discutir as aplicações de suas posições a temas particulares

- Importa-nos recuperar a concepção de ética por ele defendida (enraizada na tradição


filosófica)

d) Ética prática, cap.1 – Sobre a ética

- O que a ética não é / O que a ética é – uma concepção

e) O que a ética não é

- Conjunto de regulações (religiosas) sobre o comportamento sexual

- Sistema ideal de regras

• Opõe sistemas de regras a avaliação das consequências

- Baseada em crenças religiosas

• Naturalismo acerca da origem da moralidade

• Origem natural não garante correção (distingue justificação moral de sua


origem)

- Relativa à sociedade

- Uma questão de gosto pessoal (subjetivismo)

• Risco de esvaziar controvérsias éticas


• Cumpre dar o devido peso aos esforços de justificação ética

f) O que a ética é

- Não confundir viver imoralmente (sob certos padrões) com viver amoralmente

- Viver etica/moralmente supõe apresentar razões para as escolhas e as ações

- Justificativas em termos de interesse próprio não bastam [passagem ao


universalismo]

- Aspecto universal da ética não permite deduzir um sistema ético único

- Posição utilitarista mínima como base do agir ético: buscam-se as melhores


consequências para todos os envolvidos (maximizar a realização das preferências)
Análise de textos II (Aula 12)
a) Singer recusa que ética seja mera questão de gosto subjetivo. Analisemos mais de perto o
subjetivismo (J. Rachels)

b) Subjetivismo simples: juízos morais (certo/errado) não caracterizam fatos, mas reportam
atitudes/sentimentos

- Vantagens: valoriza a diversidade opinativa, fomenta a tolerância sobre visões divergentes

- Desvantagens: esvazia os desacordos/controvérsias morais, e deixa como forma principal de


convencimento a manipulação do sentir

- Controvérsias centradas em conteúdos proposicionais que se contradizem:

• p V F

• não-p F V

- Relatos de atitudes subjetivas não se contradizem:

• Eu aprovo p V

• Eu desaprovo p V

- Subjetivismo reduz controvérsias morais a relatos compatíveis:

• X é imoral V F = Eu desaprovo X V

• X é moral F V = Eu aprovo X V

c) Emotivismo: tenta recuperar controvérsias morais ao distinguir reportar uma atitude /


expressar diretamente uma atitude

- Desacordos em atitudes: pessoas desejam coisas diferentes, que se excluem

- Dificuldade: as atitudes/desejos que fundam o discurso moral permanecem aquém das


justificativas racionais

d) Singer afirma que justificativas morais em termos de interesses próprios não são suficientes
– debate com posições egoístas (K. Baier)

- Promover o maior bem próprio é sempre racional (egoísmo racional)

• Mostrar que algo satisfaz os interesses próprios é uma justificativa para fazê-lo

- Se o agente busca o seu bem maior [como exigência ética], então a sujeição a uma
exigência ética está de acordo com a razão (egoísmo racional)

- Se a sujeição a uma exigência ética está de acordo com a razão, então essa exigência
deve ser aceita (racionalismo ético)
- Conclusão: Se o agente busca o seu bem maior como exigência ética, então essa

exigência deve ser aceita (egoísmo ético)

- Dificuldades: exigência morais devem ajudar a regular conflitos interpessoais

- Por vezes, é moralmente exigido agir contra o interesse próprio, ou a ação em favor do
interesse próprio é proibida

- Singer parece recusar o egoísmo racional ao atribuir um papel central à imparcialidade


A escrita argumentativa (Aula 13)
a) A dissertação interpretativa

- Introdução (contextualização, formulação do problema conceitual, formulação da


tese, esboço do caminho expositivo)

- Desenvolvimento (em que são cumpridas as etapas do caminho expositivo)

- Conclusão (retomada do problema e da tese à luz do desenvolvimento)

b) Aspectos centrais

- Deve haver formulação precisa do problema e da tese (recorte temático)

- Ênfase em comentários de trechos decisivos dos textos comentados

c) Modelo de dissertação interpretativa argumentativa

- No cumprimento do recorte temático proposto, deve haver análise dos elementos


argumentativos dos textos estudados

• Reconstrução da posição dos autores deve envolver referência aos argumentos


utilizados, aos tipos de premissas e de laços inferenciais propostos, a eventuais
teses implícitas

d) Pode haver reconstrução de embates entre posições

- Posições filosóficas não se desenvolvem isoladas mas em contraste com posições


adversárias

• Ex.: posição ética universalista pretende tanto descrever situações éticas


quanto prescrever formas de ação de um modo mais convincente que posição
individualista

- Cabe reconstruir as críticas que do ponto de vista de uma posição se poderia

fazer a uma posição adversária

• Sugestão: as críticas do ponto de vista de Singer ao subjetivismo e ao egoísmo


éticos

e) Críticas a uma posição filosófica

- É preciso formular os argumentos da posição adversária

• Princípio de caridade: deve-se buscar reconstruir a versão mais forte dos


argumentos estudados
• Somente assim se conhece a força lógica efetiva do adversário e, por contraste,
da posição defendida

- Uma vez reconstruídos os argumentos, cabe analisar:

• Os laços inferenciais: há contraexemplos? Há contraexemplos plausíveis?

• As sentenças (em particular as premissas): são aceitáveis? São relevantes? São


suficientes?

• Há movimentos inferenciais falaciosos?

- Por vezes, também cabe reconstruir estratégias de defesa da posição criticada

• Mostrar que as objeções não se aplicam quando a posição criticada é


compreendida em sua versão mais forte

• Mostrar que as objeções até se aplicam mas não devem levar ao abandono da
posição criticada

• Mostrar que as objeções foram consideradas e novas versões da posição foram


formuladas

f) Retomada: dissertação interpretativa argumentativa

- Formular um problema conceitual que envolva reconstrução de argumentos (de


posições adversárias)

- Formular uma tese interpretativa que pode seguir a perspectiva de uma posição ou
que busca reconstruir de modo neutro os embates

- No desenvolvimento dar destaque aos elementos da análise argumentativa

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