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Em busca
da perfeição
O ESFORÇO PARA SER IMPECÁVEL , MANTENDO TUDO SOB CONTROLE - E
ASSIM, ILUSORIAM ENTE, DISSIPAR O FANTASMA DA INSATISFA ÇÃO-, PODE
TANTO CONTRIBU IR PARA O SUCESSO QUANTO LEVAR À ANGÚSTIA; PORÉM,
NEM SEMPRE NOS DAMOS CONTA DE QUE A FORMA COMO VIVEMOS AS
EXPERIÊNC IAS PODE SER MAIS SIGNIFICAT IVA QUE AS SITUAÇÕES EM SI

por Emily Laber-War ren

empresário americano David Liu trabalha com


desenvolvimento de novas tecnologias em

º
São Francisco. Ele ajudou a estruturar vários
empreendimentos para vender produtos que
criou. Mas, enquanto sonha com novas invenções, uma voz
contínua em sua cabeça contesta suas ideias dizendo que
são estupidamente óbvias. E, apesar de suas realizações,
Liu oscila em uma tortura mental: "É vergonhoso, estou com
30 anos, deveria ter lançado algo como um Yahoo ou, pelo
menos, ter uma empresa que pudesse vender por toneladas
de dinheiro". Embora trabalhe muito e obtenha vários suces-
sos, sente-se constantemente insatisfeito: exige excelênci a
máxima de si mesmo, criando expectativas que podem levar
ao medo do fracasso e à reflexão autocrítica. Mesmo qua n-
A AUTORA do está indo bem, ele tem problemas para se sentir em paz
EMILY LABER-WARREN é jornalista. consigo mesmo.
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Pesqui sas mostram que as pessoas tendem a se desen- que quase um quarto deles apresentava alguma forma
corajar por não atender a padrões muito altos, tornando- não saudável de perfeccionismo. Há, porém, característi-
se relutantes em assumir novos desafios ou até mesmo cas bastante positivas ligadas ao perfeccionismo - como
co mpletar tarefas. Quando o alto grau de exigência aparece inclinação para planejamento, organização e capacidade
aliado à baixa tolerância à possibilidade de cometer erros de manter o foco-, que fazem esse aspecto muitas vezes
essas reações tendem a ser mais intensas . Na prática, o ser exaltado pelos pretendentes a uma vaga de emprego
excesso de autocobrança costuma produzir ineficiência, durante entrevistas de seleção.
ca usar atrasos, dificuldade de cumprir prazos, sobrecarga Embora a constante sensação de insatisfação não carac-
de trabalho e até mesmo resultados medfocres, em com- terize, por si só, um quadro que possa ser diagnosticado,
paração ao que poderia produzir se a tranquilidade fosse aparece como sintoma que merece receber atenção e um
mantida. A busca constante pela excelência pode ainda processo psicoterápico. Apostando que tendências per-
prejudicar relacionamentos e até fazer mal à saúde . O feccionistas podem ser usadas de maneira saudável, nos
co mportam ento tem sido associado a anorexia, distúrbio últimos anos alguns pesquisadores têm se empenhado em
obsessivo-co mpul si vo, ansiedade social, bloqueio de escri- desenvolver ferramentas para analisar e medir tanto benefi -
tor, alcooli smo e depressão. Um estudo americano de 2007 cias quanto aspectos prejudiciais da constante preocupação
ava li ou mai s de 1.500 estudantes universitários e revelou de atingir (o que a pessoa supõe ser) a perfeição.
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Depois de um Mas não é de hoje que o perfeccionismo cha- muitas vezes, parecem assustadores. Há em
alguns casos, uma lógica defensiva nessa atitu -
contratempo ma a atenção de psicólogos. No artigo O script
de: ao investir pouco tem.po e energia em algo
perfeito para a autoderrota, de 1980, o psiquiatra
ou urn a David D. Burns escreveu que, quando alguém
(como estudar para uma prova ou prep arar uma
decepção, apresentação de projeto, por exemplo), a pess oa
busca desesperadamente atingir um objetivo
pode dar a si mesma a justificativa de que se
pessoas ' e acertar (em geral tomando como parâmetro
tivesse se empenhado mais poderia atingir seu
um referencial alheio), a qualidade da vivência
que exigem prop~iamente dita pode se perder. Segundo ele,
objetivo. Talvez isso até se comprovasse , mas o
excessivamente o "tiro costuma sair pela culatra"; as pessoas que se tem, concretamente, é a fru s~ração.
nte em Um estudo de 2003 apontou 'para os perigos
de si mesmas medem o seu próprio valor inteirame com pa- psicológicos de aspirações irracionais, que podem
termos de produtividade e realização,
costumam rando-se com outras pessoas, sem se voltar
levar as pessoas ao fracasso. Uma equipe liderada
ser mais pelo psicólogo Peter J. Bieling, da Universidade
para os próprios desejos, história e condições
McMaster, em Ontário, avaliou características de
vulneráveis a em dado momento. Vulneráveis à perda da
personalidade de 198 estudantes. Em seguida,
a e às dolorosas mudanças de humor
mudanças de autoestim os pesquisadores perguntaram a nota que gos-
após qualquer contratempo, os perfeccionistas
humor e perda correm ó risco de se dedicar aos objetivos de tariam de alcançar em méd io prazo. Aqueles que
apresentavam traços perfeccionistas traçaram
de autoestima forma inconsistente, adotar hábitos ineficientes ·objetivos mais altos que os demais, embora os
que prejudicam seu real desempenho e trabalhar
destes últimos não fossem necessariamente
lentamente, sofrendo para definir cada detalhe e
melhores. Os perfeccionistas, porém, eram muito
gastando muito mais tempo em um projeto do
mais propensos a ficar aquém de suas ambições
que ele mer ece- e, muitas vezes, sem nenhum
e, em vez de ajustar suas expectativas à realidade
benefício adicional. Eles podem adiar atividades
quando não conseguiram alcançar as notas
porque os projetos que deveriam ser perfeitos,
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errado?
E se algo de ruldad
dific e, algumas reflexões podem ajudar a
Antes que o perfeccionismo se torne uma gr.ande
opressivo e onipotente - de ser impecável.
lidar melhor com o anseio fervoroso - mas também
ndo o doutqr em psicologia comportamental
Reavaliar padrões pode ser um bom começo, segu
artamento de Psicologia da Universidade de
Martin M. Antony, professor e coordenador do Dep
Ryerson, em Toronto, autor do livro When pe,fect isn't
good enough, de 2009 (Quando ser perfeito
Ele sugere que a pessoa pergunte a si mesma: "O
não é bom o suficiente, não publicado no Brasil).
E ressalta a importânc ia
que aconteceria se eu relaxasse um pouco mais?".
com naturalidade o fato
de tratar de temas de maneira específica: "Aceitar
menos perfeccionista
de ganhar um ou dois quilos" é mais útil do que "ser
re a identificação de
sobre a aparência física", por exemplo. Antony suge
rtido e dizer coisas inte-
pensamentos perfeccionistas como "devo ser dive
saídas para cada situa -
ligentes o tempo todo" e o hábito de listar possíveis
ências para confirmar
ção. O psicólogo também sugere a avaliação de evid
grave vai acontecer se
suas crenças - digamos, será que algo realmente
até incorreta?
você executar uma tarefa de forma imperfeita ou
resultados, pode
S_e esse tipo de consideração não oferecer grandes
ta mais preocupado
ser c~mveniente optar pela ajuda de urh psica nalis
les erradicação de
com processos e funcionamentos que com a simp
na tarefa de elaborar e
sintomas, esse profissional pode acompanhá-lo
ição pode ser uma
ressignificar expe riências. Afinal, a busca pela perfe
e vazios que devem -
forma defensiva (e inglória) de lidar com angústias
e merecem - ser olhados e cuidados.
FILHOS DE PA!S
NEGUCE.NTIS supõem,
muitas vezes, ~ se fizerffli
tudo c.erto ttt2o maion!s
c:Nnc.es de 5eeTI notados
e .imados; já crianças que
mem em um br caótico,
como .i protagonisu do
filme lndom6~ sonhadora ,
de 2012, podem tentar
encontnr formas de
esubdecer .algum controle
sobre um ambiente
imprevisível e, não r.uo,
assusudor

planejadas, insistiram em manter ou até mesmo a drferença entre as expectativas e os resu ltados ,
aumentar a dmculdade para o próximo exa me- o os perfeccionistas perdem cada vez ma is a auto-
que forta lecia a sensação de insatisfação. confiança, o que os leva a evitar novos desafios.
Diferentemente do que mu itos imaginam , Iron icamente, quanto maior ênfase colocam na
ni nguém é perfeccionista em todas as situações excelência, mais se sentem perseguidos e podem
ou áreas da vida. Algumas pessoas são muito minar oportunidades de sucesso. Os pesquisa-
exigentes a respeito da limpeza da casa, outras dores Paul L Hewitt, da Universidade de British
se co ncentram no traba lh o ou na aparência Columbia, e L Gordon Flett, da Universidade de
física, por exemplo. Essas tendências podem York em Toronto, chamam o fenômeno de "pa-
ser especialmente evidentes quando as apostas radoxo do perfeccionismo". Como disse Voltaire:
são altas. Em um estudo de 1990, o psicólogo "O melhor é o inimigo do bom".
Randy O. Geada, da Smith College, e sua então A autoexigência extrema tem raízes na infân-
aluna Patrícia Marten DiBartolo (atua lmente cia, podendo aparecer como resultado da forte
também psicóloga da Smith College) pediram a cobrança dos pais em relação às crianças ou à
51 esti.ujarrtes universitárias, algumas com altos sobrecarga emocional suportadas por elas. Embo-
escores em uma esca la que mede perfeccionismo, ra não seja uma regra, é muito frequente que pri-
que reescrevessem um parágrafo de um livro. mogênitos encarregados pelas figuras parentais
Os pesqu isadores acompanharam as variações de responsabilidades, muitas vezes excessivas
do estado emocional das participantes antes e para sua idade, tendam a se sentir incapazes de
depois da tarefa. dar conta do que lhes foi atribuído e a carregar
essa marca para a vida adulta, o que acarreta
INIMJGOS DO BOM grande sensação de insuficiência - ainda que os
As voluntárias muito perfeccionistas realizaram dados concretos contradigam essa impressão.
a tarefa tranqui lamente no momento em que a Por outro lado, filhos de pais negligentes podem
pressão estava baixa. Mas, quando foi dito a elas imaginar que se fizerem tudo certo terão maiores
que o trabalho seria corrigido e comparado com chances de serem notados-e amados. Há ainda
o de outras pessoas, elas passaram a considerar casos de crianças que vivem em um lar caótico e
a tarefa ma is importante e se sentiram mais · podem tentar ser perfeitas como uma forma de
angustiadas que as dema is participantes. Em estabelecer algum controle sobre um ambiente
geral, a escrita das perfeccionistas fo i inferior, imprevisível e, não raro, assustador. Além disso,
provavelmente porque, temendo críticas, elas costumamos reproduzir modelos: pais perfeccio-
'::"llitararn a oportunidade de ter um feedback nistas têm grandes pos.sibilidades de cri;3r filhos
da edição e, consequentemente, procuraram se com a mesma caracter.ística.
':::"lfYA o mínimo possível. "Inicialmente, as crianças podem descobrir
Essa constatação dos autores corrobora a opi- que o perfeccionismo é útil e se tornam, por
nião de outros psicólogos: à medida que aumenta exemplo, excelentes alunos para serem recom-

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A exigência
pen sados e, de fato, quanto mai s se dedicam, às quais se propõe, embora também considere
extrema não mai s se tornam meticulosos e melhores no que traços que cau sa m desconforto, como o medo
compreende fazem ", diz a psicóloga Roz Shafran, pesqui sa- de cometer erros e a inclinação de duvidar das
todas as dora da Universidade de Reading, na Inglaterra. próprias reali zações e até invalidá -las.
Mas, então, a situação muda: as crianças cres- Ape~ar de não endossada por Frost, a noção
áreas da vida; cem, vão para a universidade, para o mercado de de que o perfeccionismo pode ser uma mistura
alguns são trabalho, e descobrem que há variáveis demai s
1
de aspectos benéficos e preíudiciais ve m, em
especialment e para controlar; percebem que às vezes vão se parte, de um estudo seu de 1993 . Ele e seus
dar bem, mas não sempre. "É aí que surge o colegas avaliaram 553 voluntários usando sua
atentos à sentimento de que não são bons o suficiente e, escala e a de Hewitt e Flett e de·scobriram que
higiene de para tentar 'arrumar' a situação, alguns podem certas características se agrupam. Atributos
casa, outros, ficar acordados a noite Inteira, outros somati- como "evitar cometer erros" e "senti r-se opri-
zam e muitos caem em depressão", afirma Roz. mido pelas expectativas de outras pessoas"
muito O perfeccionismo também pode atrapalhar mostraram forte correlação entre si e também
ngorosos no as pessoas quando aparece em áreas "inade- com a depressão. Frost chamou o fen ômeno
trabalho ou quadas" da vida. Quando uma jovem decide de "preocupações de avaliação desajustadas".
colocar todo seu foco no objetivo de fazer dieta, Outras tendências, como "estabelecer padrões
nas relações é possível que, em certas condições, essa de- elevados" e "esforço para atender metas au-
pessoais voção a leve à anorexia. Além disso, algumas toimpostas", demonstraram forte correlação
manifestações de perfeccionismo podem ser entre si no sentido positivo - o que fez co m
especialmente problemáticas para relaciona- que Frost as chamasse de agrupame nto de
mentos. Hewitt e Flett desenvolveram uma "esforço positivo" . Cada indivíduo parece ter
escala que identifica perfeccionistas orientados um equilíbrio particular entre as características
socialmente (socially prescribe(i), que se sentem "boas" e "más".
atormentados pelas altas expectativas daqueles Muitos psicólogos estão convencidos de
com quem convivem e temem desapontar, que crenças e comportamentos de perfeccioni s-
e os perfeccionistas orientados pelos outros tas podem favorecer seu bem-estar e aumentar
(other-oriented), que observam as pessoas ao suas chances de sucesso - é possível escrever
redor para intimidá-las e superá-las e, assim, um texto melhor que o anterior, ter uma casa
se sentirem mais capazes. mais atraente, construir um negócio ma is
bem-sucedido ou mesmo ser mais tolerante
HÁBITOS SAUDÁVEIS com aqueles com quem convivemos. "Bons ar-
MANTER O MUNDO Apesar disso, alguns especialistas argumen- tesãos, mecânicos, cirurgiões, artistas e líderes
SOB CONTROLE é uma tam que o perfeccionismo tem suas vanta- espirituais provavelmente seriam considerados
ilusão: quando o anseio
gens. De fato, uma das medidas mais utiliza- perfeccionistas", observa o psicólogo joachim
de se superar se torna
uma obsessão, passa a das na identificação do traço de personalidade Stoeber, pesquisador da Universidade de Kent ,
ser motivo de sofrimento desenvolvida no início dos anos 90 por uma na Inglaterra, autor de diversas publi cações
e deixamos de ter alegria
equipe liderada por Frost avalia características sobre o tema. "Procurar fazer algo benfeito
no que fazemos, parece ser
hora de compreender o que indiscutivelmente positivas, como a tendência pode ser muito bom; se você está fel iz, não há
está por trás da idealização de definir padrões elevados e cumprir tarefas razão para se preocupar, o problema apa recE
quando o anseio de se superar se torna um c=
obsessão, passa a ser motivo de so
frimento na maior parte do tempc

.V,

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Il i

- - Que tipo de perfeccionista é você?


erística tendem a
tivos. As pessoas que lidam de forma saudável com essa caract
O perfeccionismo inclui elementos úteis, mas também destru outro lado, perfec-
desse esforço e se permitem comemorar suas'conquistas. Por
obter bons resultados naquilo que se propõem fazer, gostam que são ca pazes
do fracasso - em geral, mais fantasiado que concreto. Duvidam
cionistas insatisfeitos costumam ser assombrados pelo medo é usado em tra-
se sentem satisfeitos com suas realizações. O teste ( ' ) a seguir
1

de cumprir as metas que estabeleceram para si e raramente o "pode ser",


próprio grau de autoexigência . É importante levar em consideração
baihos de pesqu isa pa ra avaliar a relação das pessoas com o as declaraç~es
e de uma ferramenta informal, sem poder de diagnóstico. Pontue
porque o teste - e aqui vale o trocadilho - não é perfeito, trata-s
l a 7, em que l é "discordo totalmente", 2 "disco rdo", 3
"discordo ligeiramente ", 4
indicando o que é verdade para você, usando uma escala de
"concordo" e 7 "concordo plenamente".
"não concordo nem discordo", 5 "concordo um pouco ", 6

o ou na escola . (
1. Tenho padrões altos em relação ao meu desempenho no trabalh
ir meus objetivos. (
2. Muitas vezes me sinto frustrado por não conseguir cumpr
3. Se você não espera muito de si, nunca terá sucesso. ( )
( )
4. "Meu melhor" parece nunca ser bom o suficiente para mim.
5. Tenho grandes expectativas para mim. ( )
os. (
6. Raramente aproveito o resultado dos meus padr~ s elevad
7. Fazer o "meu melhor" parece nunca ser suficiente. (
8. Eu defino padrões muito altos para mim. ( )
9. Nunca estou satisfeito com minhas realizações. (
10. Espero o melhor de mim. ( )
ativas. (
11. Frequentemente não me preocupo em medir minhas expect
12. Meu desempenho raramente reflete meus padrões. ( )
podia. ( )
13. Não fico satisfeito mesmo quando sei que fiz o melhor que
14. Tento fazer o melhor em tudo que realizo . ( )
s elevados de desempenho . (
15. Raramente sou capaz de dar conta dos meus próprios padrõe
)
16. Quase nunca estou satisfeito com o meu desempenho . (
nte. ( )
17. Quase nunca sinto que aquilo que faço seja bom o suficie
18. Tenho forte necessidade de buscar a excelência. ( )
tarefa por saber que poderia ter feito melhor. (
19. Muitas vezes me sinto decepcionado após completar uma

HORA DE CONTAR "padrões", sua


tas dos itens l, 3, 5, 8, 10, 14 e 18. Este número representa os
Depois de atribuir um número a cada afirmação, some as respos do representa a
dos demais itens: 2, 4, 6, 7, 9, 11, 12, 13, 15, 16, 17 e 19. O resulta
tendência a estabelecer metas ambiciosas. Some as respostas
s ou não, não estão medindo seus padrões.
"discrepância", uma indicação de que suas impressões, precisa

RESULTADOS Você pode ser


s e menos do que 42 pontos de discrepância, é um bom sinal.
Se você marcou 42 pontos ou mais nos itens que medem padrõe
ncia, sabendo que não
objetivos de maneira tranquila e aproveita a busca pela excelê
um perfeccionista saudável: tende a se concentrar em seus , isso pode indica r
itens que medem padrões e 42 pontos ou mais de discrepância
vai alcançá-la o tempo todo. Se teve 42 pontos ou mais nos certamente contab i-
marcou menos de 42 pontos nos itens que medem padrões,
que o perfeccionismo, às vezes, trabalha contra você. Se você tudo bem, mas, se
você é um não perfeccionista. Se você está satisfeito com isso,
lizou menos de 42 discrepâncias também - e, provavelmente, uma área específica de
ho pode ser definir objetivos mais específicos, começando por
você gostaria de dar um P,_DUCO mais de si, então um camin
você não aumen te também a autocrítica.
sua vida. Elevar seus padrões pode ser motivador, desde que

da Universidade da
(*) Adaptação da Escala (quase) Perfeita, criada pelos psicólo
gos Robert Slaney, da Universidade da Pensilv ânia, Kenneth Rice,
ração com Joseph Trippi e o consu ltor sênio r ela
de Un iversidade da Geórgia, em colabo
Flórida, Micha el Mobley, da Un iversidade Rutgers, e Jeffrey Ashby,
SHL lnc. Landy Jacobs, em State College , PA.
A insistência e de i~amo~ de ter a legria no que fazemos ", de Frost tam bém se mostraram mais propensos
em atingir a~redita. Ai possive lme nte é ho ra de procurar a serem perfeccionistas positivos.
índices ª _Ju da psicológica para compreender os sen- Mais recenteme nte, Stoeber e seus colegas
tidos dessa bu sca idealizada pe la perfeição. demon straram que, em situações reais, o perfec-
constantes Ou seja: a melh or maneira de li dar com cion ismo saudável pode ajudar as pessoas a errar
de excelência o perfeccioni smo é a capacidade de buscar a menos e a se sentir mais satisfeitas. Primeiro, os
pode excelência sem ser excessivamente autocrítico. pesquisadores avaliaram 121 universitários para
Aqueles que adotam essa estratégia - os per- determinar se eles eram perfeccionistas positivos,
resultar em feccionistas saudáveis - em geral se mantêm negativos ou não perfeccionistas (para testar a si
dificuldade ma is cuidadosos consigo mesmos, tolerantes mesmo de maneira informal com a mesma ferra-
de assumir com eventuais erros; procuram se concentrar menta utilizada por Stoeber, veja quadro na pág.
em seus pontos fortes e encontram grande 39) . Na sequência os voluntários responderam
desafios, satisfação em suas realizações. De fato, uma um teste que supostamente mediria inteligência
atrasos, pesquisa realizada ao longo dos últimos 15 anos emocional e social -qualidades que os cientistas
associou o chamado perfeccionismo saudável enfatizaram como indispensáveis para o sucesso
sobrecarga em qualquer área da vida. Então, aleatoriamente,
com maior capacidade de realização pessoal -
de trabalho como alcançar boas notas e melhor desempenho foi escolhida metade dos participantes e dito a
e produções no triatlo. O esforço positivo do perfeccionista eles que tiveram um bom desempenho e, aos
pode conduzir à melhora na saúde e no humor, outros, que tiveram pontuações baixas. Depois
mediocres de receber a notícia falsa, os examinados preen-
maior sociabilidade e satisfa~o com a vida de
por receio de forma geral. Em um estudo de 2003, Bieling e cheram um questionário para avaliação de seu
criticas seus colegas separaram universitários perfec- estado emocional. Os perfeccionistas saudáveis
cionistas que utilizavam essa característica dos mostraram mais orgulho quando informados
que se atormentavam buscando fazer o melhor da alta pontuação no teste e menos emoções
de forma persecutória e descobriram que os negativas ao serem notificados de que tinham
primeiros se sentiram mais bem preparados ido mal, em comparação aos perfeccionistas não
para provas e obtiveram notas superiores do que saudáveis e aos não perfeccionistas.
qualquer perfeccionista não saudável ou um não Ainda assim, a noção de que o perfeccionismo
perfeccionista. Em uma pequena pesquisa feita pode ser positivo permanece controversa. Muitos
em 2002, atletas olímpicos avaliados pelo teste especialistas argumentam que a maioria das pes-
soas que se esforçam para alcançar a perfeição
sofre com a preocupação autodestrutiva- e o uso
desse traço a seu próprio favor seria uma exceção.
Apesar de terem inventado ferramentas que ins-
piraram o termo "perfeccionismo positivo", Frost
e Hewitt, por exemplo, não acreditam nele. Eles
preferem chamar pessoas que frequentemente
se empenham, são comprometidas com suas
atividades -em grande parte das ocasiões e obtêm
bons resultados de "altamente conscientes" ou
"esforçadas para a realização".

_', -
✓, 1~
PRATICANDO A IMPERFEIÇÃO
:;._ _,__ , : ~ O perfeccionismo não é um diagnóstico e é
1~ pouco provável que uma pessoa com esse traço
( ¾ exacerbado procure ajuda por esse mot ivo- em
• ~ parte porque os pensamentos e os hábitos são
1
~ ;..;.;;.l;!.";.)~,il.:.!-~~"'"'~'",,-" .,.. ,;. ; tão arraigados que se torna difícil para o próprio

PARA O BEM : pesquisa realizada nos últimos 15 anos tem associa o perfeccionismo indivíduo reconhecer o problema. E mesmo
saudável com maior capacidade de realização pessoal, incluindo aspectos como alcançar quando o enxergam, relutam em mudar. O
boas notas e obter bom desempenho no triatlo
que os leva a buscar ajuda, em geral, são as
40 1 mentechebro I maio 2013
CORRER RISCOS
controlados ajuda a rever
conceitos, em bo ra no
inicio isso suscite algum
desconforto

dificuldades de relacionamento, indiretamente do-se desafiar padrões para saber se o resultado


causadas pela inflexibilidade. será realmente tão ruim quanto eles imaginam.
Uma vez iniciado o processo, é importante Roz os encoraja a errar deliberadamente: "esque- 11111 1111 11111 11 111 1111 1111 11 1111 1111 ,1 111111
No
que a pessoa reconheça como o ideal de perfei- cer" de comprar algo em sua lista de compra~, PARA SABER fvWS
dois
ção afeta - e prejudica - sua vida. Será que tem caso de universitários, ela pede que escrevam Ser ou não ser perfeito: per-
feccion ismo e ps icop ato -
é necessário trabalhar tão
dificuldade em tomar decisões por medo de ensaios: no primeiro logia . Antón io Ferreira de
repercussões catastróficas se fizerem a escolha duro quanto normalmente fariam; no segundo, Macedo . Leg1s, 20 13.

errada? É doloroso delegar tarefas no trabalho devem obrigatoriamente colocar menos esforço. When perfec t isn ' t good
enough: Strateg ies for co-
ou dividir os afazeres em casa e por isso se Depois, Roz entrega os textos para que um profes- ping w ith pe rfec t io nism .
sobrecar regam? Por que não confiar que as sor universitário faça uma classificação informal. Martin M . Anton)· e R,charc
P. Swinson . New Harb,nger
coisas serão benfeitas pelos outros? Psicólogos Geralmente, os alunos descobrem que o trabalho Publicatio ns . 2009 .
cognitivos sugerem a manutenção de um diário escrito sem preocupação tem qualidade muito Positive conceptions of per-
de incidentes que provocam os sentimentos. Já similar à do que foi feito com esforço excessivo. fection ism: Approaches , evi-
dence, ch allenges. Joach:m
os psicanalistas trabalham com associação livre Os resultados prel iminares sugerem que
Stoebe r e Kathleen Otto em
durante as sessões e interpretação de sonhos, os métodos podem amenizar características Personahty and Social Pwchc1-
logy Review, vol. 10, nº 4, pa 5s.
ampliando e desdobrando a queixa inicial, o que perfeccionistas. Estudos ainda mais recentes 295-319, 2006 .
muitas vezes produzem resultados inesperados desenvolvidos porTraceyWade, da Universidade A co mp,uison of two m e-
e transformadores. de Flinders, na Austrália, Roz Shafran e outros asu res of perfection ism .
Ainda que por caminhos diferentes , nos dois pesquisadores revelaram que, na maioria dos Randy O . Frost , R,.:hJrd G
Heimberg, Cr.i ;g S. H0it, j ill
casos a proposta é rever a ideia de que erros estão casos, em até oito semanas após o in ício do 1. Mattia t' .A.n'Y L Neuba uer
associados a desastres incontornáveis. "Em geral, tratamen to ocorre redução de sintom as de em Prrsot1t1 fit)l arrd lr1J;,,;dual
D,jfe.rt"nct s, \ OI. 14 . n · 1. págs .
perfeccionistas estão co~vencidos de que ruminar transtorno obsessivo-compulsivo, depressão e 119-126, 1993.
excessivamente sobre os erros é necessário para buli mia, além de diminuição da imagem negativa The perfectionist 's script for
aprender com eles. Mas, na verdade, a autocrítica de adolescentes em relação ao próprio corpo. No self.defeat. David D. Burns
em Ps}d10/ogy Today, vol. 14,
exagerada impede as pessoas de mudar; uma entanto, o recurso terapêutico não dimi nui o an- n''. l l , págs. 34-52 , novem bro
coisa é aprender com os enganos, mas a autofla- seio de buscar a excelência. "Felizmente, parece de 1980.
gelação é contraproducente", afirma a psicóloga que somos capazes de lidar com a parte rui m Psychodynam ics of normal
and neurotic perfel.i .ionism .
cognitiva Roz Shafran. Ela costuma propor a seus sem reduzir o lado bom do perfeccioni smo ", Don E. Hamachek em Psvc/J,,.
pacientes que pratiquem a imperfeição, permitin- afirma Tracey. ~ logy, vol. 15,págs. 27-33. IQ7zl

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