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METODOLOGIAS ATIVAS E AS TICS: O USO DA MÍDIA PODCAST PARA

UM PROCESSO DE APRENDIZAGEM E AUTONOMIA


João Paulo de Oliveira Farias1
Vanderlene de Farias Lima2
Francisco Alex de Oliveira Farias3
RESUMO
Nos últimos anos, recebemos o auxílio das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs)
que provocaram intensas mudanças sociais, sendo responsáveis por criar novas formas de
convivência e interação social. Pensar nos desafios que fazem parte do cotidiano do professor,
relacionado a um mundo cada vez mais conectado e com acesso à informação, mostra que é
preciso integrar e utilizar aparatos tecnológicos enquanto recursos pedagógicos para aulas
mais interativas e significativas. Assim, mostra-se formidável a investigação da utilização das
TICs e, no caso deste trabalho, da ferramenta podcast e suas possibilidades de mediação para
o ensino e aprendizagem. Deste modo, temos como objetivo principal refletir sobre o
potencial da criação de ambientes colaborativos através de plataformas digitais, em especial a
viabilidade da produção e difusão de conteúdos históricos, feito com/para os alunos e
professores do Ensino Médio através de uma linguagem digital, o podcast.
Palavras-chave: Aprendizagem. Metodologias Ativas. Tecnologias Digitais. Podcast.

Introdução
Nos últimos anos percebemos que o mundo passou por grandes transformações em
várias esferas e em todas as relações humanas. Uma das características do século XXI é a
dinamicidade das formas como adquirimos informação e conhecimento. A propagação de
informação e comunicação incide em uma velocidade antes inimaginável. Tempo e espaço
acabam sendo vencidos pelas novas invenções tecnológicas que, a cada dia conquistam mais
adeptos, fazendo com que o mundo virtual cresça. Em nossas atividades cotidianas, tanto
profissionais quanto de entretenimento, recebemos o auxílio das TICs.
O ano de 2020, por exemplo, acabou por trazer ainda mais reflexões acerca do tema,
dadas as circunstâncias proporcionadas pela pandemia do novo coronavírus (COVID-19) em
vários setores sociais, incluindo a educação, que teve sua rotina fortemente afetada. Com o
processo de quarentena e fechamento das instituições de ensino em todo o Brasil, a

1
Professor de História da Rede Estadual de Ensino, Mestre em Ensino de História pelo Programa de Pós-
Graduação em Ensino de História da Universidade Regional do Cariri/CE (PROFHISTORIA-URCA).
2
Professora de Sociologia da Rede Estadual de Ensino, Mestre em Ensino de Sociologia pelo Programa de Pós-
Graduação em Ensino de Sociologia (PROFSOCIO-UFC).
3
Diretor Escolar na Rede Estadual de Ensino, Mestre em Ensino de Física, pela Universidade Estadual do Ceará-
(MNPEF-UECE).
dinamicidade das aulas foi alterada, sendo intensamente marcada pelo uso das tecnologias
digitais e os Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAS) para realização de suas atividades.
As TICs passaram a ser a principal aliada ao ensino, que se deu em sua maior parte a distância
e de forma remota durante o decorrer do ano letivo.
As novas demandas, portanto, nos possibilitaram ainda mais reflexões necessárias
sobre a inserção das tecnologias no processo de ensino e aprendizagem, devendo estas serem
estratégias das políticas educacionais. Vemos que o uso das TICs de forma assertiva, através
de metodologias e didática apropriadas, possibilita transformar as práticas pedagógicas.
Ferreira (2015) expõe que o ato de ensinar deve ser provocador da inteligência e do
desejo de produzir do aluno, e isso se dá por meio de metodologias ativas em que o estudante
tenha condições de expor seu conhecimento. Citando Kenski, a autora mostra os ganhos do
uso das novas tecnologias pelos professores (KENSKI apud FERREIRA, 2012, p. 103):

O uso criativo das tecnologias pode auxiliar os professores a transformar o


isolamento, a indiferença e a alienação com que costumeiramente os alunos
frequentam a sala de aula, em interesse e colaboração, por meio dos quais eles
aprendam a aprender, a respeitar, a serem pessoas melhores e cidadãos participativos

Moran, Masetto e Behrens (2013), evidenciam que se utilizada de forma apropriada e


como mediadora do conhecimento, as metodologias que incluam as novas tecnologias podem
diminuir parte dos problemas enfrentados na educação, tendo assim, impactos diretos em uma
aprendizagem mais eficiente, possibilitada pelo vasto campo de oportunidades, aplicáveis nas
diversas áreas da educação.
Para uma educação transformadora e de qualidade não basta apenas o domínio das
TICs pelo professor, é preciso que ela seja utilizada dentro de um contexto pedagógico que
ressalte o desenvolvimento integral das partes envolvidas, ou seja, estudantes, professores e a
sociedade, nos seus diversos setores e em suas dimensões intelectual, social, cultural e política
(LEITE et al, 2014, p.9).
É em meio a essas demandas, desafios e possibilidades do uso e produção advindos
com as novas tecnologias que refletimos e analisamos sobre a ferramenta podcast no processo
de ensino-aprendizagem. Tomamos como referência para o desenvolvimento da metodologia,
a disciplina de história e as turmas de 2º anos da Escola Estadual de Educação Profissional
(EEPP) Deputado José Maria Melo, localizada em Guaraciaba do Norte-CE. Assim,
procuramos identificar como esses arquivos digitais de áudio que foram possibilitados pelo
avanço da Internet, os quais podem ser acessados, baixados e produzidos por diferentes
usuários da web 2.0, servem como objeto que auxilie também os professores e estudantes a se
envolverem tanto na análise, na pesquisa, quanto na produção de conteúdo a partir da sala de
aula e através das contribuições de comunicação dessa ferramenta, já que desde o seu
surgimento, por volta de 2004 (FREIRE, 2017), tem se mostrado com características e
potencialidades que ganham cada dia mais adeptos no mundo digital.
Metodologia
A proposta de trabalho se dá através de metodologias ativas, em que o aluno é
instigado a participar, com o auxílio das TICS no processo de pesquisa e produção de
conhecimento, usando como apoio, os recursos da ferramenta podcast. Para operacionalização
do trabalho, usaremos nesse artigo a experiência de uma atividade desenvolvida por um dos
autores, professor na disciplina de história, nas turmas de 2º anos do Ensino Médio da EEEP
Deputado José Maria Melo, localizada no município de Guaraciaba do Norte-CE (CREDE 5).
Para o desenvolvimento das mídias podcast junto aos alunos, seguiu os seguintes
passos: com base no plano de ensino voltado para as turmas do 2º ano, focamos no tema sobre
a escravidão, seus diferentes contextos históricos, suas múltiplas formas de resistências e os
legados que essa tal exploração econômica, cultural e política deixou, principalmente na
sociedade brasileira. Assim, criamos um tema gerador: “Conceito de escravidão em
perspectiva: contextos históricos diversos”.
A escolha da temática procurou atender o documento de referência curricular,
proposto pela Secretaria de Educação do Estado do Ceará (Seduc-CE), denominado de
“Matrizes de conhecimentos Básicos”. Optou-se por trabalhar especialmente com essa
temática, pois a mesma também vai ao encontro do que propõem as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura
afro-brasileira e africana, indicada através da lei nº 10.639/2003 e ampliada pela lei n°
11.645/2008 e seus respectivos pareceres e resoluções, que dentre outros apontam a
obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira na educação básica.
Desenvolvimento
A produção de podcasts, foi trabalhado em grupos de estudantes, denominados Grupos
de Trabalhos ( GTs), de forma criativa e colaborativa, tendo cada aluno a possibilidade de um
maior envolvimento, nas diversas atividades propostas na produção da mídia. O GT pôde
definir a melhor maneira de como cada estudante poderia contribuir, seja durante a pesquisa, a
organização da pauta, a gravação, a edição ou a divulgação dos materiais produzidos.
Nos quadros abaixo, é possível analisar algumas das etapas e orientações oferecidas
aos estudantes para a realização das tarefas de pesquisa e produção de materiais:
Quadro 1- Etapas da pesquisa e produção de materiais.
Etapa 1 Fases da atividade proposta
Primeira •Fazer pesquisas sobre o tema do GT;
Tarefa •O trabalho foi realizado com o auxílio de fontes históricas sobre a temática abordada;
•O grupo de WhatsApp e da turma do Google Sala de Aula foi usado para compartilhamento de
textos e fontes.
Segunda •Após minuciosa pesquisa, cada equipe produziu um texto dissertativo ou slide sobre o seu tema, que
Tarefa foi encaminhado para o professor;
•O texto ou o slide continham alguns pontos importantes como: introdução, objetivos do trabalho,
desenvolvimento e conclusão.
Terceira •Foi realizado discussões sobre o material produzido pelos estudantes em grupo e com orientações do
Tarefa professor para revisão do texto.
Fonte: Elaborada pelos autores
Quadro 2- Estrutura para a culminância do projeto de produção de podcast
Etapa 2- Fases da atividade proposta
Quarta •Planejamento do Podcast em Grupo;
Tarefa •Em seus respectivos GTs os estudantes produziram um roteiro com base no material da pesquisa
(texto/slide) que contemplou sua temática, escolhendo também a melhor forma de realizar seu
podcast (bate-papo, estilo mesa-redonda, ou seja, algumas pessoas debatem o assunto; informativo ou
educativo; entrevista; dissertativo - o locutor disserta sobre o assunto específico, opinando ou não -;
um único podcast pode combinar esses diversos tipos).
Quinta • Escolha do nome do canal de podcast pelos estudantes.
Tarefa -Nome para o programa decidido através das sugestões dos grupos e escolha do coletivo (cada equipe
sugeriu um nome para o programa de podcast).
Sexta • Após estabelecer o roteiro, os GTs gravaram o conteúdo com o auxílio de um computador ou
Tarefa celular;
• Os áudios forma trabalhados usando algum programa de edição (Sugestão de uso do aplicativo
Anchor).
• Os GTs devem produzir um podcast de no máximo 10 minutos sobre sua temática, portanto, a
necessidade de uma boa organização no roteiro.
Sétima • Publicação dos podcast em canais agregadores e Avaliação do Trabalho;
Tarefa • Ficha avaliativa para cada estudante sobre o trabalho (através do GoogleForms).
•Link dos podcasts produzidos pelos alunos: https://anchor.fm/histria-de-planto
Fonte: Elaborado pelos autores

Assim, houve ao longo da atividade a viabilização de podcasts que contemplaram


temas históricos trabalhados nas aulas, através de grupos onde cada aluno foi estimulado a
participar e vivenciar práticas de ensino e aprendizagem que envolvesse relacionamentos
produtivos e colaborativos, desta forma, criando senso de responsabilidade e capacidade de
interação com os colegas e com o professor, já que a produção de podcasts foi
intrinsecamente coletiva e seu desenvolvimento serviu como forma de problematização
histórica, principalmente dentro do contexto que estamos vivenciando .
Considerações Finais
É preciso entender os estudantes como agentes históricos, os quais são partícipes em
seus diferentes contextos. Para isso ressaltamos que o professor deve procurar ser sempre
inspirador, no sentido que leve os estudantes a desenvolverem sua autonomia, como já nos
evidenciava o mestre Paulo Freire em suas obras, dentre elas a “Pedagogia da Autonomia”
(FREIRE, 1996). Portanto, é preciso valorizar o aluno como um sujeito capaz de produzir
novos olhares e novos conhecimentos, potencializados por um processo educativo
emancipador.
Trabalhar com os estudantes oficinas de produção de podcasts com temas históricos,
parte inicialmente da necessidade de no tempo presente nos utilizarmos das ferramentas
possibilitadas pela nova cultura tecnológica, a cibercultura (LEVY, 1999). A tecnologia
educacional acaba sendo uma possibilidade para que nós, professores, também nos adequemos
às novas gerações, e inclua no processo de ensino essas novas ferramentas de forma mais
assertiva, eficaz e complementar. Freire (1996) ressalta a importância de uma educação não
autoritária, em que o princípio democrático fosse valorizado e construíssem diálogos entre
educadores e educandos.
A observação, por meio das diferentes leituras, referências bibliográficas e
principalmente da coleta e análise dos dados junto a escola e aos estudantes sujeitos da
pesquisa, ajudou a perceber os ganhos em se trabalhar no ensino de história com metodologias
ativas através de recursos e o apoio das novas tecnologias. O trabalho aponta que o uso das
TICs, mas especificamente com a produção de mídias podcasts pelos estudantes de forma
colaborativa, possibilitou tornar as aulas mais interessantes, atrativas e trouxe impactos
positivos. Houve grande protagonismo estudantil, que aproximou ainda mais os estudantes da
disciplina e principalmente do tema proposto “Conceitos de escravidão em perspectivas:
contexto histórico diversos”, já que durante a atividade em GTs, empenharam-se em
pesquisar, conhecer e principalmente expressarem o que aprenderam através das
narratividades construídas, desde a pesquisa até a produção dos podcasts elaborados por eles.
Através da pesquisa, notamos que a mídia podcast é relevante, de fácil acesso e uso,
se mostrando ainda, como um dispositivo socializador com um importante potencial de
discutir vários temas, cabendo dentre essas múltiplas temáticas, aquelas do contexto
educacional.
Referências Bibliográficas
BEHRENS, Maria Aparecida. Projetos de aprendizagem colaborativa num
paradigma emergente. In: MORAN, José Manuel. Novas tecnologias e mediação
pedagógica. 21ª ed.rev. e atual.Campinas –SP: Papirus, 2013.

FERREIRA, G. K. F. Formação continuada de professores para o uso das Tecnologias


Educativas: um estudo de caso sobre o discurso e a prática. Tese (Doutorado em Ciências da
Educação). Universidade do Minho – Instituto de Educação. Minho (Portugal): Universidade
do Minho, 2015.
FREIRE, Eugênio Paccelli Aguiar. Podcast: breve história de uma nova tecnologia
educacional. EDUCAÇÃO EM REVISTA, Marília, v.18, n.2, p. 55-70, Jul.-Dez., 2017.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25. ed.
São Paulo: Paz e Terra, 1996.

LEITE, Lígia S. (Coord.). Tecnologia educacional. Descubra suas possibilidades em sala de


aula. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 2014.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999.

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