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Resumo – textos da Aula de 7 de junho

Paula Beiguelman – A Destruição do Escravismo Capitalista


 Quando o tráfico negreiro é proibido, a manutenção da escravidão passa a se basear no uso
dela para a produção, onde passa a ocorrer o acúmulo de capital que antes acontecia no
comércio – argumento principal.
 A autora destaca também que quando o trabalho livre ou semi-servil pode ser tão explorado
quanto o do escravo, se desfaz o vínculo de dependência da economia internacional com a
mão de obra escrava e a acumulação deixa de estar no comércio. Com isso, passa a existir
um foco na superprodução que não ocorria antes. Na fase do capitalismo comercial, a
superprodução implicava perdas porque faz os preços internacionais caírem. Nessa nova
fase, no capitalismo industrial, Beiguelman afirma que as economias centrais passam a ser
consumidoras de gêneros tropicais que buscam a superprodução para vender seus produtos
em massa para as economias periféricas, que são agora vendedoras de gêneros tropicais a
preços cada vez mais baixos e em volumes cada vez maiores, e consumidoras da produção
central.
 Na Inglaterra, o combate a escravidão começa porque as Antilhas (que tinham o
monopólio do mercado inglês) passam a se encontrar em uma situação de desvantagem
produtiva com relação às novas colônias produtoras de açúcar. Inglaterra não quer que sua
colônia fique em desvantagem, então proíbe o tráfico, também pensando que a elite colonial
local poderia lucrar com a venda de seus escravos a preços altos
 Porém, ainda era caro manter o consumo monopolista. Por isso, em ~1820, a Inglaterra
passa a permitir também o consumo do açúcar das Índias Orientais (medida contrária aos
interesses das elites coloniais), até que em 1836 não se tem mais restrições sobre de onde
consumir açúcar dentro das colônias inglesas.
 A abolição, ao mesmo tempo:
o Permite aos ingleses uma situação propicia para ter acesso a um açúcar mais barato
(pode consumir de outras colônias que não apenas as Antilhas);
o Corrige, em parte, a superprodução (Paula argumenta que o trabalho livre não
necessariamente gera muito mais mercado consumidor do que a escravidão)
 A disputa do açúcar Oriental com Cuba e Brasil faz com que a Inglaterra equiparasse as
taxas aplicadas ao açúcar de suas colônias e de outras nações. Livre cambismo. Mais uma
vez contra os interesses das elites coloniais
 Suprimido o quadro de superprodução internacional do açúcar, os locais atingidos pela
abolição se ajustam. Agora, era melhor em termos de troca para a Inglaterra que ela
comprasse açúcar dos locais com menores preços, fossem eles utilizadores de mão de obra
escrava ou não, e é o que acontece. A Inglaterra passa agora a estimular o aumento da
produção independentemente se a mão de obra utilizada na produção era livre ou escrava
(formada por estrangeiros)
 Enquanto era do interesse inglês equalizar os direitos entre os açúcares das Índias e das
Antilhas, queriam abolir o tráfico de escravos para para ter acesso a açúcar mais barato e
para encarecer o valor de mercado do escravizado (compensando o descontentamento das
elites coloniais locais que perderam seu monopólio, que poderiam vender seu contingente
de escravos locais a preços altos). Quando o livre comercio passa a significar a livre entrada
do açúcar estrangeiro, o abolicionismo já não faz mais sentido (Inglaterra pode comprar de
qualquer lugar desde que o preço seja vantajoso, então lutar contra açúcar produzido a
partir de mão de obra escrava não é mais algo que está alinhado aos seus interesses).
 Paula afirma que a Inglaterra foi “inoperante” na repressão do tráfico internacional de
escravos e atribui esse comportamento ao desinteresse no fim das economias escravistas.
Obrigou as colonias e metrópoles a fazerem ajustes no comercio internacional, mas nao
afetou a atividade significativamente porque estava sempre buscando formas de compensar
os interesses das classes coloniais dirigentes, não alterando o status quo escravista.
 Na França, a partir de ~1820, o açúcar das colônias passa por uma fase de superprodução,
mesmo com as medidas protetivas para expulsar o açúcar estrangeiro da metrópole. A
extinção do tráfico, que aconteceu em 1830 por lá, devia ter diminuído a superprodução e
permitido aos produtores locais lucrarem com a venda dos escravos “em excesso” que
tinham para as novas colônias produtoras, agora com preços mais altos dada a proibição do
trafico.
o Porém, já surgia o açúcar produzido a partir da beterraba na Metropole francesa,
impedindo que a superprodução minasse a queda de preços, e chateando a elite
colonial, que ate conseguiu que fosse imposta taxação maior para o açúcar da
beterraba metropolitano, o que não adiantou de muita coisa.
o Enquanto se agravava a situação do açúcar colonial, ia crescendo o movimento
abolicionista na Metropole, ate que em 1848, quando a burguesia industrial ascende
politicamente, a abolição é estabelecida.
o A elite colonial, já em decadência, perdia agora ainda mais forças.
o Agora, é importante estimular a superprodução para garantir o açúcar barato
 Nos EUA, o combate a escravidão fica mais forte no fim do século XIX ligado mais
diretamente à luta dos interesses industriais contra a elite agrária.
 Com a vitória eleitoral do Norte em 1860, o abolicionismo se instala. Apesar da tentativa de
secessão, a desorganização que sofreu o Sul com a abolição foi um fator importante para
que o Norte tivesse vitória militar
 Em Cuba, o movimento contra o trafico começa em ~1840, no contexto da superprodução
cubana no mercado internacional: os plantadores mais antigos (pelo que entendi, eram
minoria), saturados de escravos, veem a proibição do trafico como uma forma de parar a
superprodução e de monetizar o excedente de mao de obra.
o Esse movimento acontece concomitante com um processo de separação do plantio
e da fabricação do açúcar: cada vez menos engenhos, cada vez mais produtivos.
Isso acontece no contexto da colônia ser controlada em termos absolutistas pela
Metropole, sem participação parlamentar
o Por isso, apesar das manifestações a favor 20 anos antes, a abolição acontece em
~1865 apenas
o Revolução Liberal na Espanha acontece em 8168 e desencadeia uma revolução
separatista liberal em Cuba com caráter abolicionista também. Dessa insurreição
surge a lei dos nascituros e dos sexagenários em Cuba, em 1870 (não afetava de
imediato a força disponível, então não gerou muita revolta). Em 1880, com o fim
da guerra, decretam a abolição. Em 1873, ocorre a abolição dos escravos de Porto
Rico.
o No entanto, as condições em que viviam os negros resultou na queda desse
contingente populacional. Beiguelman afirma que isso era uma forma de evitar o
acumulo de novos interesses a favor da classe. Tambem argumenta que é possível
pensar que so em um contexto revolucionário de tensões com a Metropole tais
medidas teriam passado.
o Antes da guerra da Secessão, fazia sentido para o Sul estadunidense anexar Cuba
por ser mais um estado escravista. Depois da Guerra, o Norte pensava no quão
barato o açúcar ficaria quando anexado ao seu território por causa do fim das taxas
pagas à Metrópole. Assim, os EUA apoiam a independência cubana (em relação a
Espanha) como uma meia-medida. Nem anexavam mais um estado agrícola
escravista, nem perdiam a oportunidade de tomar proveito da economia cubana
liberta.
 No Brasil, a extinção do tráfico acontece em meio a:
o Agropecuária decadente
o Economia açucareira madura
o Lavoura cafeeira em expansão
 A Paula traz um dado de que mesmo antes do trafico ser extinto, o CE já vendia escravos
para o Centro-Sul do Brasil. Quando o trafico é extinto e o preço aumenta, ela alega que
houve até transferência de terras dos fazendeiros para os “especuladores de escravizados”.
 Ela afirma que a compra de mão de obra desnecessária, e que permitia essa venda de
excedentes quando da proibição do tráfico, era característica de economias escravistas
amadurecidas. Beiguelman afirma que nessa fase madura, o que faz isso acontecer não é a
demanda, como na fase inicial, de expansão agrícola, mas a equalização entre contingente
de escravos e riqueza (ser rico = ter escravos). Ter escravos era sinal de fartura. O
fazendeiro se endividava e não tinha produção como contraparte.
o Afirma que se o tráfico tivesse continuado no Brasil, essa atividade especulativa
teria crescido em detrimento da agricultura, resultando em proprietários incapazes
de comercializar mais escravos, ocasionando o fim do trafico.
o Porem, o fim do trafico ocorreu antes que a tensão agricultores x especuladores
pudesse se materializar
o Ao contrario de outras partes do mundo, a autora afirma que não houve muita da
economia açucareira, que já era bastante abastecida em termos de mao de obra.
Para o sul do país, não houve revoltas/resistências porque o abastecimento vindo do
Norte supria suas necessidades.
o Como a lavoura cafeeira oferecia preços altos, a atividade de venda de escravos
pelo Norte/Nordeste tornou-se mais lucrativa do que a opção de manter escravos.
o Além disso, os ganhos do café puderam ser mais distribuídos pelo território a partir
das relações de comercio de escravos com as regiões açucareiras
 Isso gerou algum “germe” de mercado interno
 Basicamente, quando ocorreu a proibição do trafico, esse já não era condição essencial para
o crescimento das atividades econômicas.
 O encarecimento do escravo faz com que as pessoas “pensem duas vezes” antes de
adquirirem a mao de obra sem que ela seja necessária e a lavoura cafeeira que se
desenvolve depois da decadência do açúcar é mais comedida no sentido de usar a mão de
obra para o que fosse essencial, misturando-o com a atividade de homens livres.
 Na tentativa de enviar colonos europeus para trabalharem basicamente como escravos, os
fazendeiros acabam tendo perdas consideráveis, e recorre-se ao trabalho semi-servil
bancado pelo governo
 A criação de vilas para esses colonos acontece em meio a um processo de maior
especialização da lavoura, quando o comercio faz parte do processo como meio de garantir
a subsistência, dado que agora as fazendas não são mais autossuficientes como no caso do
açúcar
 Daí vem a lei de 1871, que torna libertos os nascidos de escravizados. Daí surge oposição
dos setores da lavoura pelo impacto que tinha no sistema escravista a longo prazo (não se
podia mais comprar escravos, nem se poderia multiplicar o número de escravizados
internamente).
o A Paula afirma que essa oposição teve intensidades diferentes dependendo da
região. Norte-Nordeste não se opuseram com tanta força quanto o Centro-Sul,
quando da passagem da medida. Para eles fazia menos diferença, já que o
contingente de que dispunham ainda era suficiente para manter suas atividades.
o Depois da medida, perdeu-se o sentido do negocio de criação de escravos, e a oferta
caiu
 Depois de 1871, passa-se a estimular (e bancar) fortemente a vinda de imigrantes europeus
para o Brasil, com dinheiro público.
o Ele passa a ser usado nos cafezais novos do Oeste paulista, e “coopera” com o
fazendeiro. O colono queria que o cafezal expandisse para ter acesso a mais terras
(era fornecida uma parte da área para o europeu) e ainda trazia sua família para
realização ode trabalhos extras. Para a autora, estavam eliminadas as principais
situações de atrito entre dono de terra e colono.
o Só que esse imigrante era livre, e podia ir pra outra fazenda de café ou ir viver de
comercio nos núcleos urbanos, o que gerava a necessidade de se estar sempre
trazendo novos europeus. Essa situação se mostrou mais forte no Oeste paulista,
região mais recente na produção de café.
o Beiguelman fala que o Vale da Paraiba e o Oeste “velho” eram os mais abatidos
pela queda de produtividade derivada do “excesso” de escravizados (quanto mais
antiga a lavoura, mais abastecida de escravos e mais improdutiva era)
o O Oeste “novo” faz um lobby em parceria com o Vale da Paraiba a favor do
imigrantismo. Não funciona e o Oeste mais antigo consegue impedir o imposto que
queriam cobrar por cada novo escravo registrado.
o A autora vai argumentar que a permanência do trabalho escravo dependia das áreas
de “vanguarda” (mais novas) da lavoura. Essa era a lógica do café, que expandia at
nas áreas menos produtivas e mais antigas. Quando a lavoura mais recente passa a
insistir pelo trabalho do imigrante, o equilíbrio escravista nacional era rompido.
o Com crescente instauração de impostos para exportação/importação, a abolição é
declarada e a política de imigrantes continua a ser incentivada
o Enquanto em São Paulo instauram-se mais e mais barreiras para a entrada/registro
de novos escravizados, no Ceará cria-se taxa sobre cada escravo vendido para fora
da região. A queda do valor do escravo por causa dessa leia é um fator importante
para a declaração da abolição no estado em 1884, segundo a autora.
o O CE estimula outras províncias a se juntarem ao movimento abolicionista, levando
o NE
o A lavoura continua empurrando para o estabelecimento de ferramentas para garantir
o influxo de mao de obra europeia e são abertos vários créditos financeiros para
continuar a financiar a imigração. A principal influencia dos interesses da lavoura
mais recente do café eram as exigências sobre a família do imigrante europeu (ela
não especifica, mas acredito que seja no sentido de que este teria que ter filhos para
ajudarem em atividades auxiliares)
o Em 1888, a imigração estava subsidiada e estabelecida e o trabalho escravo se
encontrava desorganizado
o Paula diz que depois de estabelecida a corrente migratória, o ciclo acontecia assim:
o imigrante ia para a fazenda de café, primeiro, depois ia para a cidade atrás das
novas oportunidades advindas da expansão do mercado interno (trabalhadores
assalariados). Em resposta a esse fluxo para as cidades, a lavoura trazia mais
imigrantes e o ciclo se reiniciava
 Sumarizando o processo no Brasil, segundo a Paula:
o O fim do tráfico vem antes da saturação de escravos na área açucareira (o fim do
tráfico ocorreu antes que a tensão agricultores x especuladores pudesse se
materializar)
o A lavoura nacional foi contra a libertação dos nascidos escravos;
o A imigração se conduz no tempo e na sequencia conveniente para o setor cafeeiro
imigrantista
o Para entender como isso foi possível, é preciso entender a organização política do
império (acho que isso é uma introdução do próximo capitulo, mas o capitulo 1
acaba aqui)

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