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Problemas Clássicos 61

7. PROBLEMAS CLÁSSICOS

Apresenta-se, a seguir, a solução literal de alguns problemas de condutos forçados


considerados clássicos por serem de grande importância no estudo de dutos sobre
pressão.

7.1 Condutos com uma tomada intermediária

A hf1

LCE
hf
L1
Q1 =Q2+q
E’

hf2

E L2

Q2
B

q
O conduto AB de diâmetro D, é alimentado por um reservatório de nível constante.
Num determinado ponto desse conduto, existe uma tomada d’água de vazão q.
Assim, podemos afirmar que:

MB é a linha de carga se não existisse a sangria, desprezadas a perdas locais.

Considerando a sangria e desprezadas as perdas locais:

ME’: linha de carga no trecho AE de comprimento L 1.


E’B: linha de carga no trecho EB de comprimento L 2.

Perda de carga no trecho AE :

h f1 
8 f Q 12
L1  h f1 
8f Q 2  q 2 L
1
 2g D5  2g D5

Perda de carga no trecho EB :


Hidráulica 62

8 f Q 22
hf 2  2 L2
 g D5

Perda de carga total :

hf  hf 1  hf 2 
8f
 gD 5
2 Q L
2
2 1  L 2   qL1 2Q 2  q 
se não houvesse a sangria, a perda de carga total seria:
2
8f Q
hf  2 L  L  L1  L 2
 g D5

Igualando - se as duas últimas expressões :

Q 2L  Q 22L 1  q 2L 1  2Q 2 qL 1  Q 22L 2

L 1  2 L1 
Q 22  2Q 2 q  q  Q2   0
L  L 

cujo resultado, fornece:

2
L1 L  L
Q 2  q  q2  1   Q2  q2 1
L L L

Se q  Q, os termos q2 podem ser desprezados, então :

L1
Q2  Q  q (7.1)
L

7.2 Condutos com distribuição em marcha.


PCE
Diferentemente dos casos até aqui estudados, onde a vazão é constante em cada
trecho, existem tubulações onde a vazão é variável, como ocorrem nas redes de
distribuição de água. A

Considera-se para a solução do problema, que a tubulação seja composta de várias


fendas por onde escoa água Q
uniforme
i e continuamente. hf

Dessa forma,
z do reservatório R de nível constante (ilustração abaixo), parte um
conduto AB, de diâmetro D e comprimento L, com vazão de distribuição q em l/s.m.
x
L,D

M B
Problemas Clássicos 63

Em A, penetra uma vazão inicial Q i (l/s), enquanto em B, sai uma vazão final Q e
(l/s). Ao longo do comprimento da canalização é consumida uma vazão qL. Assim, a
equação da continuidade é escrita como:

Qi = qL + Qe

Em um ponto qualquer M, distante X metros da extremidade B, a vazão será :

QM = Q e + q . x

Considerando dx , o comprimento de tubo para o qual a vazão é constante, tem-se :

dh f 
8f Q e  qx 2 dx
 2g D5

integrando entre os limites zero e L,

8f  2 2 q 2L3 
hf   Q e L  Q e qL  
 2 gD 5  3 
ou ainda,

8f  2 q 2 L2 
hf  L  Q e  Q e qL  
 2 gD 5  3 

chamando de Qf o termo entre parênteses,

 q 2 L2 
Q f   Q e2  Q e qL  
 3 
pode-se escrever:
Hidráulica 64

2 2
 qL  2  qL 
 Qe    Qf   Qe  
 2  3

onde a vazão fictícia, Qf, é a vazão constante que, supostamente, escoa pela
tubulação e que substitui a vazão variável nos cálculos hidráulicos.

Na prática faz-se:

Qf = Qe + 0,5qL

Qi  Qe
ou ainda, Qf 
2

Observa-se, pela equação da perda de carga, que a linha de carga em um conduto


com distribuição em marcha é uma parábola cúbica. Se a vazão de extremidade for
igual a zero (Qe = 0), tem-se que Qi = qL, e a perda de carga será:

8f L
hf  2 5
qL 2 3
 gD

8 f Q i2 L
hf  (7.2)
 2g D5 3

Logo, quando Qe = 0 a perda de carga total é igual a um terço daquela que se


verificaria se Qi se mantivesse constante.

7.3 O problema dos três reservatórios ( ou problema de Belanger )

Considerem-se três reservatórios ligados através de condutos, conforme a figura


abaixo. As grandezas envolvidas no problema são as seguintes:

 As vazões Q
M 1, Q 2 e Q 3 P.C.E.
 Os diâmetros D1, D2 e D3
 Os comprimentos
R1 dos condutos L1, hL2 e L3 1

E h2
As cotas dos reservatórios z1, z2 e z3
1

y R2
D1, L1, Q1

D2, L2, Q2 Z2 h3
Z1
E

D3, L3,Q3 N

R3
ZE
Z3

DATUM
Problemas Clássicos 65

As condições procuradas dependem da cota piezométrica y = EE 1. Dessa forma,


pode-se ter os seguintes casos:

a) zE + y  z2  o reservatório R1 alimenta R2 e R3 : Q1 = Q2 + Q3

b) zE + y = z2  o reservatório R2 não recebe nem cede água : Q 2 = 0 e Q1 = Q3

c) zE + y  z2  o reservatório R3 é alimentado por R1 e R2 : Q3 = Q1 + Q2

São dados do problema as cotas dos níveis dos reservatórios e a cotas z E do ponto
E de entroncamento dos condutos.

O problema pode ser visto sob dois aspectos :

1. Problema direto

Além dos dados mencionados, são conhecidos L 1, L2 e L3 ; D1 , D2 e D3 . São


incógnitas Q1 , Q2, Q3 e y.

Como se tem 4 incógnitas, há necessidade de 4 equações. Três delas saem, sem


qualquer dificuldade, da equação da perda de carga para os correspondentes
trechos e a quarta equação é a da continuidade.

Entretanto, para a sua determinação, é necessário descobrir qual o sentido de


escoamento nos condutos, principalmente no trecho 2, já que este pode sofrer
escoamento nos dois sentidos, dependendo da perda de carga no primeiro trecho.

Utilizando a fórmula universal, as três equações da perda de carga são:

8f1 Q12 8f1 Q12


h1  L1  z1  ( zE  y )  L1
 2g D15  2g D15
Hidráulica 66

8f2 Q22 8f2 Q22


h2  L2  ( zE  y )  z2  L2
 2g D52  2g D52

8f3 Q23 8f3 Q32


h3  2 L3 5  ( zE  y )  z3  2 L3 5
 g D3  g D3

e a equação da continuidade é uma das opções:

a) Q1 = Q2 + Q3

b) Q2 = 0 e Q1 = Q3

c) Q3 = Q1 + Q2

Os casos listados abaixo, ajudarão a entender melhor a solução.

1o caso: São incógnitas Q2 , Q3 e D3. São conhecidos os demais elementos.

Neste caso começa-se por calcular a perda de carga no trecho 1, pois são
conhecidos todos os elementos do referido trecho: L 1 , D1 e Q1.

Aplicando-se a fórmula universal,

8f Q12
h1  L1
 2g D12

determina-se h1, e y é determinado pela subtração de z 1 - (zE + h1).

Assim sendo, por comparação com a cota z 2, determina-se qual a condição real do
problema, isto é, se

a) zE + y  z2  Q1 = Q2 + Q3

b) zE + y = z2  Q2 = 0 e Q1 = Q3

c) zE + y  z2  Q3 = Q1 + Q2

Identificado o caso, calcula-se por subtração simples de cotas, o valor da perda de


carga no trecho 2. Após isso, o valor de Q 2 e, então, o valor de Q 3, através da
correspondente equação da continuidade.

Com a vazão no trecho 3, e pela fórmula da perda de carga, determina-se a última


incógnita, D3.

2o caso: São incógnitas Q2 , Q3 e z3 . São dados os demais elementos.


Problemas Clássicos 67

O problema segue a mesma marcha de cálculo do 1 o caso. Determina-se a perda


de carga no trecho 1. Compara-se o valor obtido com a diferença de níveis ( z 1 - z2).
Determina-se o sentido de escoamento e a conseqüente equação da continuidade
do problema.

3o caso: São incógnitas Q1 , Q2 , Q3 e y. São dados os demais elementos.

A resolução do problema, de modo mais simples, é feita da seguinte forma:

Admite-se que ( zE + y ) = z2 , ou seja, Q2 = 0 e Q1 = Q3 , portanto, o caso b.


Considerando-se que os coeficientes de atrito ( f ) sejam os mesmos para os
8f
condutos e, fazendo   , temos
 2g

D15
Q1  ( z1  z2 )
L1

D53
Q3  ( z2  z3 )
L 3

Se, Q1 = Q3 , o problema está resolvido. Mas, se Q1  Q3 , o problema é do tipo


(a). Entretanto, se Q1  Q3, o problema recai no caso (c).

Determinada a equação da continuidade, começa-se a resolver o problema.

2. Problema inverso

Neste caso, são incógnitas os diâmetros D 1, D2 e D3 e a pressão no entroncamento.


São conhecidos, além de L 1, L2, L3, z1, z2 , z3 , zE , as vazões e os sentidos de
escoamento.

O problema fica indeterminado, pois a equação ligando vazões, torna-se uma


identidade. Além disso, pela fórmula de Darcy-Weissbach, há inúmeras
combinações de , D, L que satisfazem o problema, admitindo, portanto, uma
infinidade de soluções.

Para levantar a indeterminação, é costume impor a condição de velocidade máxima


ou de custo mínimo.

Exemplos de aplicação
Hidráulica 68

1) Qual o volume diário fornecido por uma adutora de ferro fundido com diâmetro de
200 mm e 3200 m de comprimento, alimentada por um reservatório com N.A. na
cota de 938,00 m ? Os tubos têm f = 0,04 e a descarga se faz na cota 890,00 m ao
ar livre.

938,00 m

L,D,Q 890,00 m

Aplicando a equação de Bernoulli entre um ponto no NA do reservatório e o ponto B


situado no eixo da saída da descarga, tem-se

2
p1 V1 pB U2
z1    zB    hf
 2g  2g

U2  L 
48   1 f   48 
2g  D 

19,6 x 48
U   1,21 m / s e
641

  0,038 x8 6400    32 84

Não considerando a carga cinética, temos:

U2  L  U2  3200 
48  f   48   0,04   U  1,21 m/s
2g  D  19,6  0,2 

o resultado fica inalterado justificando, em muitos casos, que podemos desprezar a


carga cinética.

2) Se na tubulação do problema anterior, esquematizada abaixo, fizermos uma


tomada de 24 l/s no ponto E, qual será o aumento de vazão no trecho de
comprimento L1 ? (adotar f = 0,03)

938,00 m
(1 )

L1 = 2000 m

890,00 m
E L2 = 1200 m
D = 200 mm

q = 24 l/s
Problemas Clássicos 69

(2 )

Aplicando a equação de Bernoulli entre os pontos (1) e (2), e desprezando a carga


cinética, chega-se a perda de carga total de (938,00 - 890,00) = 48,00 m.

Empregando a fórmula de Darcy-Weisbach, conforme indicado pelo enunciado, tem-


se para a vazão virgem:

48x0,2
5
hf D5 8f
Q   0,044 m3 / s  
L 0,00248 x3200  2g

Substituindo na equação deduzida anteriormente,

2
L1 L  L
Q 2  q  q2  1   Q 2  q2 1
L L L

2
2000 2000 2  2000 
Q2  0,024
3200
 0,0242  3200   0,044  0,024 
2

 3200 

Q2  0,0247 m3 / s

Assim, a vazão no trecho 1 será:

Q1 = 0,0247 + 0,024 = 0,0487 m 3/s

o aumento, portanto, foi de Q = 0,0487 - 0,044 = 0,0047 m 3/s

3) Três reservatórios situam-se nas posições indicadas na figura a seguir. De R 1


saem 200 l/s. Adotando-se f = 0,02, qual o valor de D 2 ?
h1
R1

L1 = 610 m h2

D1 = 450 mm E
L2 = 4750 m h3 R2

D2 = ?
Z1 = 122 m

L3 = 1220 m
D3 = 200 mm
Z2 = 76,25 m

R3
Z

Z3 = 15,25 m
Hidráulica 70

Utilizando-se a fórmula de Darcy-Weisbach, já que o enunciado forneceu o


coeficiente de atrito f, pode-se determinar a perda de carga no trecho 1,

Com h1, calcula-se a perda de carga no trecho 3 por simples subtração, e em


seguida a vazão no referido trecho.

h3  z1  h1  z3   122   2,18  15,25  104,57 m

104,57 9,810,2
5
h3  2gD53
Q3    Q3  0,084 m3 / s  84 l / s
8fL3 8x0,02x1220

A vazão e a perda de carga no trecho 2 serão:

Q2  Q1  Q3  200  84  116 l / s e
h2  z1  h1  z 2   122   2,18  76,25  43,57 m

O diâmetro no trecho 2 será:

Exercícios propostos

7.1) Certa cidade é abastecida por uma adutora cujo esquema é mostrado a seguir.
Determinar
1.275 m seu diâmetro usando a fórmula de Hazen-Williams para C=90 e vazão
de 50 l/s.
R

L1 = 14 km
1.245,5 m

L2 = 5 km

1.205,2 m

B
Problemas Clássicos 71

7.2) Três mangueiras revestidas de borracha, f = 0,02, com 60 m de comprimento e


63 mm de diâmetro terminam em bocais e se ligam a um hidrante de 150 mm.
Sendo de 25 mm o diâmetro dos bocais, C c = 1,00 e Cv = 0,93 seus coeficientes de
contração e de velocidade, calcular a pressão necessária no hidrante para lançar os
jatos a 30 m de altura, estando os bocais 3,0 m acima do hidrante.

7.3) Mede 100,00 m o trecho de uma tubulação com serviço em trânsito. Foi
calculada para a vazão fictícia de 4 l/s. Sabendo-se que fornece 3 l/s na
extremidade, pede-se calcular a vazão de distribuição q m.

7.4) No sistema hidráulico mostrado abaixo deseja-se saber quais as vazões que
fluem nas três canalizações. Adotar, para efeito de cálculo, C = 120 para todos os
tubos. O ponto D encontra-se na mesma cota do ponto C.
30 m

R1 24 m

A
R2
L1 = 1200 m
D1 = 300 mm
B 15 m

L2 = 900 m
D2 = 200 mm R3
L3 = 1500 m
D D3 = 150 mm C

7.5) A figura mostra o esquema de uma interligação de três reservatórios,


executada em condutos de ferro fundido novos, com as seguintes características:

trecho AD DB DC
comprimento (m) 600 450 450
44,5 m
diâmetro (mm) 450 300 -
40,0 m
Sabendo-se que a vazão no trecho AD é de 260 l/s, pede-se o diâmetro do trecho
DC.
A
B 38,5 m
D

C
Hidráulica 72

7.6) No sistema da figura abaixo, o reservatório A alimenta três reservatórios


através de tubos novos de aço soldado. Determinar as vazões em todos os trechos.
As características dos tubos são as seguintes:

trecho AB BC BD BE
comprimento (m) 600 300 300 1200
diâmetro (mm) 450 375 375 375

30 m

24 m 24 m

C D

15 m

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