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OLOGIA SOCIAL
307
TÁBUA DE MATÉRIAS
SOLIDÃO
Introdução
O que é a solidão?
Definir a solidão
Formas de solidão
O que se sente quando se está só
Abordagens teóricas
Síntese comparativa
Avaliação da solidão
Idade
Sexo
Estado civil
Outras características
Fontes de solidão
Influências situacionais
Características pessoais
Atribuições causais da solidão
=
Variações interculturais
Sumário
Actividades propostas
310
Objectivos
* Definir solidão;
311
1. Introdução
Ai do Lusíada, coitado,
Que vem de tão longe, coberto de pó,
Que não ama, nem é amado,
Lúgubre Outono, no mês de Abril!
Que triste foi o seu fado!
Antes fosse pra soldado,
Antes fosse pró Brasil...
Antônio Nobre
Platão fala de «hermafrodite», um ser mítico que habitou a terra antes de haver
homens e mulheres. Esta criatura tinha características humanas, mas continha
ambos os sexos num corpo. Dado ser completo em si mesmo, era tão poderoso
que rivalizava com os deuses. Por isso Zeus tomou um dos seus raios e dividiu
a hermafrodite em dois sexos. Desde esse tempo, segundo o mito, homens e
mulheres foram forçados a procurar-se um ao outro e a juntar-se para ultrapassar
a sua imperfeição.
A solidão é experienciada pelo ser humano em qualquer que seja o lugar que
habite. É porventura difícil imaginar uma pessoa que não se tenha sentido
sozinha alguma vez na sua existência. Os primeiros tempos passados na
escola, na fábrica, na caserna, porventura a mudança do seu país de residência
para um país receptor de imigração (Neto, 1993b, 1997a), o fim de um
relacionamento íntimo... são ocasiões em que as pessoas podem experienciar
a solidão.
Encontramos pelo menos dois factores que contribuiram para que os cientistas
sociais só tivessem começado recentemente a investigar a solidão. Em
primeiro lugar, o facto de se sentir a solidão, é percepcionado como um
estigma susceptível de afectar os cientistas que estudam a solidão sendo
olhados com uma certa desconfiança como se talvez a sua investigação tenha
sido despoletada por problemas pessoais não resolvidos. Um segundo factor,
é que a solidão, ao invés da agressão, da competição e do sobrepovoamento,
por exemplo, não pode ser facilmente manipulada no laboratório. É sabido
que os psicólogos têm muitas vezes idealizado o método experimental como
sendo a abordagem mais válida para o estudo da realidade. Concordamos
com a opinião de Russell, Peplau e de Cutrona (1980) segundo os quais a
tarefa crucial para os investigadores neste domínio não é tanto o
desenvolvimento de um paradigma experimental para produzir a solidão em
diferentes graus sob condições controladas, como o desenvolvimento de
instrumentos para pôr em evidência variações na solidão que ocorre na vida
quotidiana.
316
A solidão é um fenómeno complexo. Quem pretender compreendê-la e
estudá-la confronta-se com diversas abordagens teóricas e metodológicas.
Esta diversidade de abordagens tem posto em evidência variadas causas e
manifestações da solidão. O conhecimento obtido pela investigação psico-
-social sobre a solidão pode ser utilizado para melhorar as técnicas de a aliviar.
317
2. O que é a Solidão?
A solidão é um termo que tem um significado intuitivo para a maior parte das
pessoas. Por exemplo, quando se interrrogam pessoas em inquéritos de vasta
escala sobre se a solidão é para elas um problema ou quantas vezes se sentem
sós, a maior parte responde, sem necessitar que esses termos sejam clarificados
(Peplau e Perlman, 1982). Seria, todavia, um erro defender que o significado
da solidão é o mesmo para todas as pessoas. À semelhança do amor, a solidão
é um conceito vago, revestindo-se de muitos significados.
Vários autores têm tentado definir a solidão (cf. revisões feitas por Apple-
baum, 1978; Peplau e Perlman, 1982; Sadler, 1978). No documento 10.1 são
apresentadas algumas dessas definições. Se bem que diversas definições
tenham tido um grande impacte no desenvolvimento teórico e na estimulação
do trabalho empírico, não há uma definição que seja universalmente aceite
pelos especialistas. Essas diferentes definições são o reflexo de diferentes
orientações teóricas que se relacionam com alguns aspectos importantes nos
modos de conceptualizarmos a solidão. Estas diferenças focalizam-se em
particular à volta da natureza da deficiência social experienciada pelas pessoas
sós.
o indivíduo;
|
|
c) asolidão resulta de alguma forma de relacionamento deficiente. |
)
/
321
Se podemos sentir a solidão quando estamos sozinhos, no caso de querermos estar com
alguém, também se pode sentir quando estamos rodeados de pessoas, caso desejássemos
antes estar com mais alguém.
Sullivan (1953)
Lopata (1969)
Weiss (1973)
«A solidão é causada não por se estar só, mas por se estar sem alguma
relação precisa de que se sente a necessidade ou conjunto de relações...
to
to
»
A solidão aparece sempre como sendo uma resposta à ausência de
algum tipo particular de relação ou, mais precisamente, uma resposta
à ausência de alguma provisão relacional particular.»
De Jong-Gierveld (1978)
Young (1982)
Rook (1984a)
323
2.2 Formas de solidão
Têm sido utilizadas várias tipologias para distinguir diferentes formas de solidão.
Vê-se, pois, que a solidão inclui desejo do passado, frustração com o presente
e medos acerca do futuro.
325
A solidão pode aparecer associada a uma vasta gama de sentimentos.
Vulnerável Alienado
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R
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Ao longo dos anos, vários psicólogos e sociólogos conceptualizaram a solidão.
Damos um breve resumo de algumas das mais importantes contribuições
teóricas.
Modelo psicodinâmico
Perspectiva fenomenológica
Abordagem existencialista
Explicações sociológicas
329
interpessoal para determinar o modo como devem comportar-se. As pessoas
«comandadas» estão cortadas do seu «Self» interno, dos seus sentimentos e
das suas aspirações.
Perspectiva interaccionista
Abordagem cognitiva
Podemos ver no quadro 10.2 uma síntese comparativa das seis concepções
expostas a partir de três questões principais. A primeira é a partir de que
evidência (história de casos, investigação sistemática...) ou tradições intelectuais
está formulada a teoria. A segunda questão comparativa é a propósito da
natureza da solidão. É uma condição normal ou anormal? Uma experiência
positiva ou negativa? A terceira questão é a propósito das causas da solidão.
Situam-se dentro da pessoa ou no meio? Resultam de influências actuais ou
passadas/desenvolvimentais no comportamento?
Perspectivas ligadas a Trabalho clínico | Trabalho clínico | Trabalho clínico Análise social Trabalho clínico | Investigação
Natureza da solidão
Causas
Dentro da pessoa ou situação | Pessoa Pessoa Condição humana Sociedade Ambas Ambas
História infantil vs. corrente Infantil Corrente Perpétua Ambas Corrente Corrente
Têm sido utilizados diversos instrumentos para avaliar a solidão, que se situam
quer numa quer noutra das abordagens citadas. Referir-nos-emos
seguidamente ao instrumento mais utilizado na literatura para se avaliar a
solidão, a Escala de Solidão da UCLA (Russell, Peplau, e Ferguson, 1978;
Russell, Peplau, e Cutrona, 1980). O exame dos métodos utilizados nos
estudos empíricos efectuados desde 1980, e publicados em revistas, revelou
que cerca de 80% utilizaram a escala original ou revista da UCLA (Paloutzian
e Janigian, 1989). Após uma referência ao modo como esta escala se
desenvolveu, apresentar-se-á a adaptação portuguesa da mesma.
385
Julgamentos muito extremos (e. g. «A televisão é o meu único amigo», «A
morte será a minha única companhia»). Exemplos de itens que foram
seleccionados são «Não posso tolerar estar tão só», e «Ninguém me conhece
realmente bem». Os sujeitos situavam as suas respostas numa escala em
quatro pontos utilizada por Sisenwein, indo desde «Sinto-me muitas vezes
deste modo» até «Nunca me sinto deste modo».
Esse conjunto inicial de itens foi administrado a dois grupos de jovens adultos
que frequentavam a UCLA: uma amostra clínica que incluia voluntários
recrutados para participarem numa discussão de grupo sobre a solidão e
uma amostra de estudantes de psicologia. Todos os participantes responderam
aos 25 itens e indicaram até que ponto se sentiam sós em comparação com
os outros numa escala tipo Likert em cinco pontos. Os indivíduos também
descreveram o seu estado afectivo corrente através da avaliação da intensidade
de sentimentos como «aborrecido», «deprimido», «ansioso».
Apesar do que foi dito, que mostra que a escala de solidão da UCLA é um
instrumento adequado, esta medida levanta diversos problemas potenciais.
Um primeiro problema é a possibilidade de enviesamento nas respostas já
que todos os itens foram redigidos na mesma direcção, as pontuações elevadas
reflectindo sentimentos de insatisfação social. Assim, a tendência a responder
de um certo modo poderia sistematicamente influenciar as pontuações de
solidão. Um segundo problema potencial é a desejabilidade social. Se um
certo estigma está ligado à solidão (Gordon, 1976), os sujeitos podem distorcer
as respostas subvalorizando a sua experiência de solidão. Um outro problema
diz respeito à validade discriminante. As correlações encontradas entre as
pontuações de solidão e medidas de outros construtos, como a depressão e
auto-estima são intuitivamente razoáveis, evidenciando a validade da Escala
de Solidão da UCLA. Todavia, simultaneamente, esses dados apontam a
necessidade de se demonstrar a validade discriminante da escala pondo-se
em evidência que a solidão é distinta de construtos que estão relacionados
com ela.
337
O segundo estudo confirma a validade concorrente da escala revista através
do exame das relações entre solidão e comportamento social. Além disso
esse estudo demonstra a validade discriminante da escala revista já que as
pontuações de solidão são distintas da desejabilidade social, da tomada de
riscos sociais, de estados emocionais negativos e da motivação afiliativa.
Indique quantas vezes se sente da forma que é descrita em cada uma das seguintes
afirmações. Coloque um círculo à volta de um número para cada uma delas.
* Item que deve ser invertido (i.e., 1=4, 2=3, 3=2, 4=1) antes de se calcular a pontuação.
339
A validade da versão portuguesa da escala da solidão foi examinada relativa-
mente a vários critérios. A correlação entre uma questão de auto-avaliação
acerca da solidão e a nota global obtida para a solidão é altamente significativa
(r=.46, p<.001). Os sujeitos com pontuações altas na escala da solidão
descrevem-se como sentindo-se mais sós que as outras pessoas.
o R 2 Beta t
Passo Variável Es R
múltipla
340
Como se pode observar, a dimensão aceitação social do autoconceito, é o
termo com maior contribuição para a predição da solidão, sendo também
termos de predição significativos a ansiedade social, a satisfação com a vida
e o nível de ensino. As quatro variáveis explicam 40% da variância da solidão.
Note-se todavia que a variância explicada pelo nível de ensino pouco
acrescenta à explicada pelas variáveis psicológicas. Assim, esta análise de
regressão deixa transparecer que são as variáveis psicológicas mais que as
sócio-demográficas que determinam a solidão nos professores.
341
5. Quem são as Pessoas Sós?
Um certo número de estudos procuraram saber se há certos grupos de pessoas
que são mais vulneráveis à solidão que outros. De um modo geral esses
trabalhos centram-se em características demográficas facilmente identifi-cáveis,
tais como a idade, o sexo e o estado civil.
5.1 Idade
Sullivan (1953) defendera que a solidão não pode ocorrer até à pré-adolescência,
altura em que os indivíduos procuram validar o seu valor através de relações
exteriores à família, em particular nas relações com os companheiros. Autores
mais recentes sugeriram que a solidão pode ocorrer muito mais cedo (e.g.,
Rubin, 1982), talvez na infância (Ellison, 1978). Evidência empírica disponível
indica que a solidão pode ser medida de modo fidedigno em crianças com sete
e oito anos de idade (Asher, Hymel, e Renshaw, 1984; Asher e Wheeler,
1985).
Existe na nossa cultura o estereótipo que as pessoas idosas são pessoas solitárias.
As pessoas jovens e idosas concordam em que são as idosas as que mais se
sentem sós (Rubenstein e Shaver, 1982a). Este estereótipo não se confirma
todavia quando as pessoas revelam a sua própria experiência de solidão. /
A tendência geral que se encontra é para a solidão diminuir com a idade, -
obtendo as pessoas mais idosas as pontuações mais baixas de solidão (Gutek, ||»
Nakamure, Gehart, Handschumacher, e Russell, 1980). Podemos observar no
quadro 10.5 dados que vão nesse sentido. Rubenstein, Shaver e Peplau (1979)
encontraram as pontuações mais elevadas de solidão na faixa etária dos 18-25
anos e mais baixos após os 70 anos. Parlee (1979) encontrou que 79% dos
sujeitos com menos de 18 anos diziam sentir-se sós algumas vezes ou muitas
vezes comparados com 53% dos 45 aos 54 anos e 37% das pessoas com mais
de 54 anos.
O efeito da idade é tão forte que mesmo num leque restrito de idades
(12-20 anos), as pessoas mais novas dizem sentir mais a solidão (Ostrov e
Offer, 1981).
345
Contrariamente aos estereótipos, as pessoas idosas não são o grupo
etário que mais sofre da solidão. As pessoas jovens podem sentir mais
a solidão que as pessoas idosas.
346
RICE ae
Inquérito de Rubenstein,
Shaver, e Peplau (1979) 18-25 26-30 31-39 40-49 50-59 60-69 +70
Idade em anos
5.2 Sexo
347
que estas sentissem mais frequentemente a solidão que os homens. Contudo,
os estudos efectuados sobre a solidão não são concludentes sobre as diferenças
sexuais na solidão. Por um lado, no estudo de validação da Escala de Solidão
da UCLA os autores (Russell, Peplau, e Cutrona, 1980) não encontram
diferenças segundo o sexo. Por outro lado, Weiss (1973) assinala, através do
recurso ao inquérito, que as mulheres estão mais inclinadas a sentirem-se
sós que os homens. Esta diferença de resultados pode provavelmente ser
atribuída à medida utilizada. Globalmente os estudos que utilizam a escala
da UCLA, e foi o nosso caso, não encontram diferenças. Esta escala não
questiona directamente os sujeitos sobre se sentem sós, mas procura avaliar
a solidão indirectamente. A natureza indirecta desta escala permite que os
homens expressem muito presumivelmente a sua solidão subjacente de modo
mais livre que em estudos de inquérito em que se recorre a questões directas.
Quando se recorre à avaliação directa, como é o caso das asserções em
inquéritos, diferenças segundo o sexo tendem a emergir, as mulheres
assinalando mais frequentemente a solidão que os homens. Entre as
explicações possíveis para os homens auto-censurarem a expressão da solidão
pode-se invocar a influência social.
As pessoas que não estão casadas sofrem mais da solidão que as casadas
(Weiss, 1982). Todavia num estudo, quando se subdividia o grupo das pessoas
não casadas, a solidão era maior nas pessoas viúvas e divorciadas que nas
solteiras. Os valores destas não diferiam das pessoas casadas (Gubrium, 1974).
A solidão parece, pois, ser determinada mais pela perca de uma relação
conjugal que pela sua ausência.
O sexo parece interagir com o estado civil. Entre casais, as mulheres referem
mais a solidão, mas quando se verifica uma ruptura nas relações pela
separação, pela morte ou pelo divórcio os homens referem mais a solidão
(Rubenstein e Shaver, 1982b).
348
5.4 Outras características
A solidão é mais comum entre as pessoas pobres que entre as ricas (Weiss,
1982). Boas relações podem manter-se mais facilmente quando as pessoas
têm tempo e dinheiro para actividades de lazer. Todavia em Portugal não se
encontraram diferenças na solidão entre jovens de diferentes níveis socio-
culturais (Neto, 1992b).
6. Fontes da Solidão
Para além de características sócio-demográficas, referidas na secção anterior,
os investigadores têm referido outros factores como potenciais causas da
solidão. A experiência da solidão resulta da interacção de factores situacionais
e de características pessoais (Shaver, Furnam, e Buhrmester, 1985). Os
factores situacionais são acontecimentos que reduzem a quantidade e a
qualidade das interacções sociais. É por isso que geralmente causam solidão.
As características pessoais podem dispor alguns sujeitos a tornarem-se
solitários ou a experienciarem a solidão durante longos lapsos de tempo.
Abordaremos de seguida ambas as constelações de factores e examinaremos
também as atribuições causais da solidão.
São muitos os factores que na vida moderna contribuem para a quebra da rede
de relações das pessoas e daí pode advir a solidão. Cutrona (1982) perguntou
a estudantes universitários porque é que sentiam a solidão. As percentagens
de resposta mais frequentes foram as seguintes: a) deixar a casa dos pais para
ir para a universidade, 40%; b) separações românticas, 159%; c) problemas
com amigos, 11%; d) dificuldades no trabalho escolar, 11%; e) problemas
familiares, 9% (e.g., divórcio dos pais); f) situações em que viviam isolados,
69%. Apresenta-se no quadro 10.7 uma lista de categorias que reflectem o tipo
de factor externo que contribui para o desenvolvimento da solidão: menos
contacto social, estatuto social em disponibilidade, perca relacional, redes sociais
inadequadas, novas situações, barreiras indirectas ao contacto social, fracasso
e factores temporais (Jones, Cavert, Snider, e Bruce, 1985). Nesse quadro é
apresentada uma lista representativa da investigação e não tanto uma lista
exaustiva. Note-se que algumas das categorias principais se sobrepõem. Por
exemplo, perca relacional pode resultar em estatuto relacional em
disponibilidade. A mobilidade geográfica está incluída em duas categorias,
pois há uma certa evidência de que a solidão associada à mudança para outro
lugar deriva da perca relacional (isto é, amigos e colegas que se deixaram) e
das incertezas de estar numa nova situação em que se devem desenvolver
novas relações. O documento 10.2 ilustra até que ponto a entrada para a
universidade é susceptível de causar solidão.
tos
in
9)
Quadro 10.7 — Determinantes externos da solidão
Categoria/Exemplo
ce e a
Menos tempo com a família, Mobilidade geográfica Factores temporais
e
os amigos, os vizinhos Rejeição dos colegas Partes do dia,da
Menos contacto com amigos e Redes socias semana e estação
família pelo telefone Menos amigos
Menos actividades sociais Menos relações íntimas
em
Namorar menos Menos apoio social
Menos participação em Rede com densidade mais baixa
organizações voluntárias,
reuniões e cerimónias
religiosas Novas situações
Viver sozinho Ir para a Universidade
Estatuto relacional Mobilidade geográfica
see—
Estado civil: em disponibilidade | Barreiras indirectas
Desemprego
Rendimento baixo
Transportes inadequados
dos pais. Tal cria perturbações nas redes sociais. Os caloiros são forçados a
construir uma nova rede de apoio social e a renegociar as suas relações com a
família e os amigos que ficaram na terra. Os estudos de Newcomb e colegas
(Newcompb et al., 1967) apresentados no capítulo 4 confirmam que amizades
e mudanças de valores que se formam durante a vida universitária podem
perdurar ao longo do ciclo vital.
354
ano, melhoramento que tinha a ver com a formação de novas redes de amizade.
Apesar disso cerca de um quinto dos sujeitos permaneceram sós todo o ano,
os quais foram identificados desde o começo pela sua tendência a atribuirem
a solidão mais a causas pessoais (ou internas) que situacionais (ou externas).
Ou por outras palavras, censuravam-se mais pela sua solidão do que pela
transição. Enfim, encontrou-se neste trabalho que a qualidade percepcionada
de amizades e de namoros era um melhor preditor da solidão que índices
quantitativos, tais como o número de amigos e de namorados.
Num trabalho posterior Shaver et al. (1985) mostraram que a transição para a
universidade reveste-se de stress sobretudo para os rapazes. A frequência de
namoros nos rapazes diminuiu mais que nas raparigas. Isto pode ser o resultado
de que os rapazes têm um conjunto mais pequeno de namoradas disponíveis,
dado haver a norma cultural que encoraja as raparigas (mas não os rapazes) a
namorar com elementos do sexo oposto mais velhos e a declinarem pedidos
de namoro de rapazes mais jovens.
A maior parte dessas condições estão relacionadas com a solidão porque são
obstáculos para trocas sociais satisfatórias com os outros que são ou podiam
ser importantes na vida das pessoas. Note-se todavia que, uma maior solidão
355
está relacionada com condições que só de modo indirecto interferem com
interacções satisfatórias. O desemprego retira a uma pessoa oportunidades
sociais no trabalho e também é susceptível de restringir o envolvimento social
devido à falta de dinheiro para certos tipos de interacção ou ao embaraço por
ter perdido o trabalho. Aliás o baixo rendimento encontra-se associado à
solidão mesmo entre pessoas que estão empregadas.
356
também realçar que a solidão e a depressão são fenómenos distintos embora
em parte coincidentes (Russell, Peplau, e Cutrona, 1980). Nem todas as pessoas
sós estão deprimidas, e nem todas as pessoas deprimidas se sentem sós. Este
resultado levou Bragg (1979) a propor uma distinção entre «solidão deprimida»
e «solidão não deprimida». Num estudo com estudantes universitários, Bragg
encontrou que a solidão deprimida estava claramente associada com a
negatividade global, apreendida na insatisfação não só com as relações sociais,
como também com a escola, o trabalho e muitas outras facetas da vida. Pelo
contrário, as pessoas sós não deprimidas expressavam insatisfação só com as
suas relações sociais, não se sentindo necessariamente infelizes a respeito de
outros aspectos das suas vidas.
357
A ligação entre a auto-estima e a solidão é recíproca. Uma baixa auto-estima
pode engendrar solidão, mas, simultaneamente, as pessoas com uma baixa
auto-estima podem censurar-se pelos fracassos sociais e por terem baixos
níveis de contacto social o que reforça o seu próprio baixo auto-conceito.
A timidez que é «uma tendência para evitar interacções sociais e para falhar a
participação de modo apropriado em interacções sociais» (Pilkonis, 1977),
pode predispor para a solidão. Zimbardo (1977) encontrou correlações
significativas entre a timidez e a solidão. Sermat (1980) mostrou que os
homens solitários têm uma pontuação mais baixa numa medida da tomada
de risco social. Investigações de Cheek e Busch (1981) e de Cutrona (1982)
indicam que a timidez pode levar à solidão. Em adolescentes portugueses
encontrou-se que a solidão se associava também à timidez (Neto, 1992b).
Tem sido sugerido que a falta de habilidades sociais pode estar associada à
solidão (Weiss, 1973). Um vasto leque de défices interpessoais estão
associados à solidão. Estudantes universitários sós referiam maior dificuldade
que os não sós em apresentar-se aos outros, em telefonar para iniciar contacto,
em participar em grupos, em sentir-se bem nas festas (Horowitz, French, e
Anderson, 1982; Jones, 1982; Moore e Sermat, 1974). Num estudo de
interacção no laboratório, Jones, Hobbs, e Hockenbury (1982) compararam
os padrões de interacção de estudantes com pontuações altas de solidão com
estudantes com pontuações baixas. Os estudantes com pontuações altas de
solidão fizeram menos referências ao seu companheiro durante a interacção,
mostraram menos atenção ao companheiro, faziam-lhe menos questões e
eram menos susceptíveis de continuarem a discutir o tópico iniciado pelos
companheiro. Esses achados reflectem a intensa auto-focalização das pessoas
sós e a dificuldade que têm para responder de modo apropriado aos outros.
“Solano, Batten, e Parish (1982) compararam estudantes solitários e não
solitários e observaram que os estudantes solitários manifestavam padrões
inabituais de auto-realização, pois tendiam quer a revelar muito deles próprios
rapidamente quer a tornar-se reticentes. Jones, Sansome, e Helm (1983)
encontraram que as pessoas solitárias são não só mais rejeitadas pelos outros,
mas também mais auto-rejeitadas, pois esperam que os outros os rejeitem nas
interacções sociais.
358
Do
MS
próprias e das outras pessoas, tímidas e sem assertatividade, não respon-dentes
e insensíveis nas interacções sociais e diferentes em determinadas características
nas situações sociais. Muitas destas características constituem uma dificuldade
para que a pessoa se envolva em relações íntimas e por essa razão podem |
|
conduzir à solidão. |
LOCUS DE CAUSALIDADE
Interno Externo
Estou sozinho porque não sou As pessoas por aqui são frias e
amado.É deprimente; sinto um impessoais, nenhuma partilha os
Estável
vazio. Sento-me à noite sozinho, meus interesses ou corresponde
a beber, a comer e divertindo-me às minhas expectativas. Estou
a mim mesmo com a televisão. farto deste lugar.
ESTABILIDADE
360
estudantes sós, a depressão mais acentuada estava associada com atribuições
de solidão à sua aparência física, personalidade e medo de rejeição.
361
7. Confronto com a Solidão
Acabamos de ver que há muitos factores situacionais e pessoais que
podem suscitar a solidão. Há igualmente muitos modos de confronto com a
solidão.
365
quando sós e ser um pouco mais provável entregarem-se a actividades com
cariz íntimo e religioso. Os sujeitos que percepcionaram as suas habilidades
sociais de modo mais positivo viam também as reacções sensuais e de diversão
como sendo menos eficazes para reduzir os sentimentos de solidão e as reacções
de contacto íntimo como as mais eficazes.
Beber
Diversos estudos encontraram que as pessoas sós eram mais susceptíveis em indicar
o confronto com a solidão evitando os outros (Jones, Cavert, Snider, e Bruce,
1985), sensibilidade à rejeição (Russell et al. 1980), passividade (Dubrey e Terrill,
1975), menor compromisso em funções sociais activas (Evans, 1983). Não é de
surpreender que as pessoas religiosas recorram a estratégias de confronto, tais
como a oração e a leitura da Bíblia (Dufton e Perlman, 1986).
366
de fazer face à solidão e a necessidade opressiva de a negar e de evitar uma
completa tomada de consciência da sua dor. Se bem que esta abordagem possa
impedir com sucesso a dor da solidão a breve prazo, muito provavelmente não
será suficiente para tratar com a solidão a longo termo. O recurso a algum
destes métodos poderá levar a mais problemas.
367
A terceira abordagem geral de confronto com a solidão permite reduzir as
expectativas de uma pessoa para se ajustar à realidade da sua situação. As
pessoas podem desenvolver novos interesses e habilidades, uma adaptação
positiva, ou podem voltar-se para o álcool e a droga para compensar as relações
sociais insatisfatórias, uma adaptação negativa. Como esta estratégia negativa
sugere, a solidão obriga a custos individuais e da sociedade.
Perante a diversidade de causas que podem levar à solidão não existe só uma
estratégia de cura, mas muitas estratégias (Rook e Peplau, 1982).
As abordagens comunitárias não são muito úteis para as pessoas com défices
em habilidades sociais. Se não se solucionar primeiro o problema subjacente
ao «Sai e encontra mais pessoas», isso significa efectivamente «Sai e sê
rejeitada por mais pessoas» (Duck, 1983).
Para além de respostas orientadas sensualmente, há diversas estratégias
de confronto associadas à solidão.
369
XII. COMPORTAMENTO EM GRUPOS
TÁBUA DE MATÉRIAS
É, Introdução
4.3 Comunicação
493
6. Liderança
Grupos na sociedade
Tal Famílias
Ju Grupos experienciais
Sumário
Actividades propostas
494
Objectivos:
Bertold Brecht
O nosso planeta tem não só cinco biliões de pessoas, como também tem
cerca de 200 Estados-nações, 4 milhões de comunidades locais, 20 milhões
de organismos económicos e centenas de milhares de outros grupos. Todos
nós somos membros de grupos que exercem uma influência enorme nas
nossas vidas. A maior parte de nós nasceu num grupo familiar, passou grande
parte da infância em interacções com pais e irmãos. Quando nos aventuramos
por um mundo social mais amplo inserimo-nos em novos grupos, porventura
para jogar, para a catequese ou para estudar. Já como jovens adultos podemos
ter oportunidade de aderir a grupos de trabalho, a partidos políticos ou a
outras organizações. Qual é a influência de grupos sobre os seus membros?
499
necessidade de recorrer a uma abordagem teórica e metodológica diferente
da do estudo da psicologia dos indivíduos? Esta questão ainda suscita hoje
em dia vivo debate (Brown, 1988, Steiner, 1972; Tajfel, 1972).
500
2. A Natureza dos Grupos
4
s
E
E] a
a
-
F
&
E
E
E
a
2.1] O que é um grupo?
2. Uma unidade social que tem duas ou mais pessoas que se percepcionam
como pertencendo a um grupo.
Smith (1945):
503
DO aa
de uns em relação aos outros estabelizadas em certo grau no tempo e
que possuem um conjunto de valores ou normas do seu próprio modo
de regular o comportamento dos membros individuais, pelo menos
em assuntos com consequências para o grupo.»
Sprott (1958):
Bass (1960):
«Definimos “grupo” como uma colecção de indivíduos cuja existência
como uma colecção é recompensadora para os indivíduos.»
504
2.2 Diferentes tipos de grupos
505
Os grupos informais têm a sua razão de existir, mesmo se é para divertimento.
Não existem fronteiras nítidas entre estes tipos de grupos na prática. Por
exemplo, antropólogos que descreveram numerosas comunidades que são
organizadas em agrupamentos pequenos, instáveis e móvies com cerca de
50 pessoas, cujos membros partem regularmente para se juntarem a outros
agrupamentos e mais tarde regressam (Murdock, 1949). Em tais comunidades
não é clara a distinção que possa ser feita entre grupos primários, secundários,
ou de referência.
2.3 Porque é que as pessoas se juntam em grupos?
Uma das questões fundamentais no estudo da psicologia dos grupos diz respeito
a explicações da formação de grupos. Porque é que nos juntamos em grupos?
Existem dois motivos gerais. Em primeiro lugar, uma pessoa pode juntar-se a
um grupo em vista aatingir objectivos que não poderia atingir trabalhando só,
tais como projectos de amelhoramento da comunidade, perservação da defesa
nacional ou manutenção de vários serviços governamentais. Foi sugerido haver
três objectivos principais que podem ser atingidos pelos grupos (Mackie e
Goethals, 1987). Objectivos utilitários que se relacionam com necessidades
do grupo em dinheiro, realização, influência, etc. Objectivos de conhecimento
que se relacionam com a obtenção de informação, de conhecimento ou de um
consenso partilhado sobre a realidade entre os membros de um grupo (Festinger,
1950). Os grupos podem também ajudar os membros a obter uma identidade
social (Turner e Oakes, 1989). Os grupos fornecem à pessoa uma definição
reconhecida de modo consensual e uma avaliação de quem se é, como se deve
comportar e como será tratada pelos outros. Propicia assim uma redução na
incerteza subjectiva. Para além disso, dado que nós e os outros nos avaliamos
tendo em conta a atractividade relativa, a desejabilidade e o prestígio dos grupos
a que pertencemos, estamos motivados a juntarmo-nos a grupos que são
avaliados positivamente de modo consensual e que propiciarão uma identidade
social positiva.
508
Quadro 12.1 — Cinco estádios do desenvolvimento de um grupo
509
Também há algo que o grupo pode fazer para ajudar o recém-chegado a
adaptar-se ao grupo. Em primeiro lugar, o grupo deveria tentar recrutar pessoas
susceptíveis de serem compatíveis com o grupo. O recurso a procedimentos
de iniciação e o fornecimento de treino consistente sobre o grupo também são
métodos importantes.
Até que ponto este modelo dá conta das experiências que tem nos vários
grupos em que participa? Sem dúvida que muitas das pessoas leitoras deste
texto estão actualmente associadas a um certo número de grupos diferentes
e estão em diferentees fases de socialização grupal no seu seio. Um certo
número de processos psicossoais que se expuseram nas diferentes fases da
socialização grupal, tais como influência maioritária e minoritária, foram
discutidos em capítulos anteriores. Talvez tivesse notado que a dinâmica da
socialização grupal tem uma grande semelhança com a dinâmica das relações
românticas discutidas no capítulo 9. Efectivamente as relações românticas
constituem um tipo de grupo, a díade íntima.
510
Membro Membro
Prospectivo | Novo Membro | Membro pleno Marginal Ex. Membro
Õ-
z
u
E
2
O
>
z
ui
TEMPO »
511
3. Influência da Presença de Outras Pessoas
Uma das primeiras questões levantadas pelos psicólogos sociais foi a seguinte:
qual é o efeito da presença de outras pessoas no comportamento do indivíduo?
A resposta não é simples. Por vezes as pessoas executam melhor quando
outras pessoas estão presentes, enquanto que outras vezes executam pior. A
presença de outras pessoas pode afectar a realização de três modos gerais:
mediante a quantidade de esforço desenvolvido, o aumento daactivação, e a
influência de factores cognitivos, tais como a distração e a apreensão em ser
avaliado.
Se bem que os grupos possam realizar mais que os indivíduos, por vezes os
membros de um grupo podem dispender menos esforço do que o fariam
individualmente. Latané e seus colegas (Latané et al., 1979) denominaram
este efeito de preguiça social que abordaremos mais adiante.
Quando a resposta
Melhoramento
dominante é uma
do rendimento
boa resposta
Aumento da
[ tendência
Presença de outrem
(auditório ou coacção)
=| Activação |+| a dar uma resposta
dominante
y
Quando a resposta
Deterioração
dominante é uma —p>
do rendimento
má resposta
Figura 12.2 — A teoria da facilitação social segundo Zajonc. Adaptado de Zajonc (1965).
Já alguma vez jogou bilhar? O que lhe aconteceu quando alguém o estava a
observar? Segundo a teoria da facilitação social, a realização melhoraria se é
um bom jogador e pioraria se é um jogador medíocre. Michaels e os seus
colegas testaram esta predição (Michaels, Blommel, Brokato, Linkous, e
Rowe, 1982). Durante a fase inicial deste estudo, observadores viam
discretamente a acção e identificavam pares de jogadores que estavam ou
acima ou abaixo da média. Durante a segunda fase, equipas com quatro
observadores ficavam perto da mesa onde um dos pares estava a jogar e
observavam o jogo. Seis pares diferentes de jogadores acima da média e seis
pares diferentes de jogadores abaixo da média eram observados deste modo.
517
3.3 A presença de outras pessoas pode causar distração e apreensão
da avaliação
518
Li a
Cottrell previu que os observadores tornam-nos inquietos da avaliação que vão
fazer de nós. Para verificar a existência desta apreensão da avaliação, Cottrell e
seus colegas (1968) repetiram a experiência de Zajonc e Sales (1966) sobre sílabas
desporvidas de sentido acrescentando-lhe uma terceira situação. Nesta situação de
«simples presença», os observadores, apresentados como estanto a preparar uma
experiência sobre a percepção, tinham os olhos vendados para os impedir de avaliar
o rendimento dos participantes. Em contraste com o efeito que produz uma
audiência observadora, a mera presença destas pessoas com os olhos tapados não
amelhorava as respostas predominantes. Noutras experiências confirmou-se a
conclusão de Cottrell de que o amelhoramento das respostas predominantes é
mais marcado quando as pessoas pensam que são avaliadas.
Bond (1982) defende que as pessoas com um público executam melhor uma
tarefa simples porque as pessoas querem dar a impressão certa, querem aumentar
a sua estima perante os outros, uma perspectiva próxima da de Cottrell. Tal é
suficiente para dar conta do aumento na realização de tarefas simples, e no caso da
diminuição em tarefas complexas? Bond defende que não é por causa do aumento
geral da activação, mas que é consequência do embaraço. Quando sabemos que
estamos a realizar perante outras pessoas tentamos com maior firmeza. Tal aumentará
a realização. Mas se a tarefa é difícil, então podemos começar a falhar. Falhar na
presença de outras pessoas produz embaraço. Mas embaraço é uma questão de
estar autoconsciente. É por isso que a realização fracassa. Assim Bond encontrou
que a presença de outras pessoas aumentaria a realização no item difícil se estivesse
encaixado numa tarefa fácil, e inibiria a realização numa tarefa fácil se estivesse
encaixado numa tarefa difícil.
519
4. Características de Grupos
Começámos por considerar os indivíduos numa situação relativamente simples
em que uma pessoa é observada ou acompanhada por uma ou mais pessoas.
Todavia um grupo implica algo mais do que pessoas realizando a mesma
actividade num determinado tempo e local. Os grupos implicam interacção, o
desenvolvimento de percepções partilhadas e laços afectivos e a
interdependência de papéis. Nesta secção abordaremos três modos em que
os grupos podem diferir: a estrutura, a coesão e a comunicação.
523
e]
Num estudo levado a cabo por Simon, Eder, e Evans (1992) estudou-se o
desenvolvimento de normas acerca do amor romântico em adolescentes do
sexo feminino. Os investigadores efectuaram entrevistas em profundidade e
observações na escola durante três anos. Uma norma que emergiu nestas
adolescentes era que as relações românticas deveriam ser importantes, mas
não são tudo na vida. As adolescentes que se desviavam desta regra eram
criticadas. Por isso as normas determinam se essas acções e crenças específicas
das pessoas são aprovadas ou desaprovadas pelo grupo.
4.2 Coesão
525
À |
problemas de produtividade por causa da atracção mútua que existe. Podem
gastar mais tempo na interacção social que membros de grupos menos coesos
perdendo de vista o objectivo do grupo.
E
R
E ou
a
Cc > D
4.3. Comunicação
á Existem várias formas de redes de comunicação dentro dos grupos. Nalguns grupos
todos os seus membros comunicam livremente com qualquer outro membro.
Noutros grupos o chefe comunica com os seus membros e os membros podem
| comunicar directamente com o chefe. Grupos formais existentes nas organizações
têm em geral uma estrutura de rede de comunicação especificada. As redes nos
grupos informais são determinadas por processos sociais dentro dos grupos. Bavelas
(1950) e Leavitt (1951) estudaram os efeitos de diferentes estruturas de redes sobre
as comunicações necessárias para resolver um problema simples. A figura 12.5
mostra algumas das estruturas de comunicação que testaram. Note-se que estas
redes estão centralizadas e descentralizadas. A roda requer que todas as
comunicações num grupo de cinco pessoas passe pelo sujeito que está no centro.
to
in
e)
A rede Y é a seguinte mais centralizada, permitindo comunicações para dois
membros centrais. A rede todos os canais é a mais descentralizada, pois cada
membro pode comunicar directamente com qualquer outro dos quatro membros
do grupo. As redes cadeia e círculo são menos centralizadas que a roda, mas mais
centralizadas que a rede todos os canais.
O estudo típico nesta área consiste em formar um grupo para trabalhar sobre um
determinado problema e colocar limites à comunicação que se pode estabelecer
entre os seus membros. Tal é feito colocando os sujeitos em salas separadas e
permitindo-lhes comunicar unicamente por meio de mensagens escritas ou por
intercomunicadores. Os experimentadores podem então controlar quem fala com
quem e podem impor um grande número de padrões diferentes de comunicação.
Uma técnica desenvolvida por Bales (1950, 1970) foi a análise do processo
de interacção (IPA). Este sistema de análise utiliza um pequeno número de
528
EE
Subjacente ao sistema IPA está uma perspectiva teórica. Esta perspectiva, uma
teoria funcional, defende que os grupos devem resolver dois conjuntos de
problemas para manterem a sua existência. O primeiro conjunto, denominado
problemas de tarefa, refere-e aos que um grupo encara quando tenta alcançar
os seus objectivos. Por exemplo, o grupo deve calcular como produzir um
produto satisfatório e como negociar com pessoas e organizações no seu meio.
O segundo conjunto, denominado problemas sócio-emocionais, refere-se a
CD Jet al al)
Cadeia
DADA
S O
O
Roda Círculo
AN,
: GO
OQ
: O
O
Y Todos os canais
529
problemas interpessoais que se levantam entre membros do grupo. O grupo
deve calcular como restringir atritos interpessoais, e como se assegurar que os
membros estão suficientemente satisfeitos para permanecer no grupo. Se o
grupo falha em resolver quer os problemas de tarefa quer os seus problemas
sócio-emocionais, deixará eventualmente de existir.
Uma outra classificação das categorias da IPA é indicada pelas letras a-f na
figura 12.6. Estas letras representam questões que são encaradas por qualquer
grupo. Dentro da área de tarefas estão as questões a) de orientação, b) de
avaliação e c) de controlo. As questões de orientação envolvem a análise de
uma situação; as questões de avaliação referem-se às atitudes dos membros
em relação a essa situação; e as questões de controlo referem-se a sugestões
de acção dentro da situação. Dentro da área sócio-emocional estão as questões
d) de decisão, e) de manipulação de tensão e f) de integração. As questões de
decisão referem-se à aceitação ou rejeição das propostas de acção, ao passo
que as questões de manipulção de tensão e de integração referem-se ao
establecimento das relações emocionais dentro do grupo.
O sistema IPA fomece meios de observar quem fala nos grupos e que género de
coisas se dizem. Os investigadores têm-no usado numa ampla variedade de
resoluções de problemas e em grupos de discussão que envolvem estudantes
universitários, militares, doentes em terapia, prisioneiros, etc. (Bales e Hare, 1965).
Áreas sócio-emocional
- Demonstra solidariedade eleva o status
—,
dos demais, ajuda, recompensa.
MN
positivas ri, demonstra satisfação.
clarifica, confirma R
Áreas de tarefa: a b c d e
Busca orientação, informação, dl
Pa
repetição, confirmação
Áreas sócio-emocional
10. Discorda, demonstra rejeição passiva,
formalidade nega ajuda
Figura 12.6 — Categorias utilizadas por Bales (1950) na análise do processo de interacção
nos grupos.
pn É
Tamanho do grupo
3 4 à 6 ! Í
1 44 32 $ + º E
2 33 29 2 e H 1
3 23 23 15 E
i
2 —
16 10 H o E
5 » E E -
6
Ê E -
7
, Í
3
Nota: Os dados estão baseados num total de 134 421 actos observados por meio do sistema IPA em 167 grupos
com três a oito membros.
j—
532
informações), ao passo que o menor número de actos inscreve-
-se nas categorias 7-9 (busca informação, busca opiniões e busca sugestões).
Dentro das categorias sócio-emocionais, a maior parte dos actos inscreve-se
nas categorias positivas 1-3 (parece amigável, dramatiza e concorda), ao passo
que o menor número de actos pertence às categorias negativas 10-12 (discorda,
demonstra tensão e parece pouco amigável). Este padrão faz sentido para um
grupo de resolução de problemas que certamente fracassaria se houvesse mais
questões que tentativas de resolução e mais reacções emocionais negativas
que positivas.
2, Dramatiza 8,17
3. Concorda 10,70
4. Dá sugestões 6,56
5. Dá opiniões 22,24
6. Dá informações 28,72
Uma outra técnica desenvolvida por Bales após mais de duas décadas de
investigação foi o SYMLOG (SYstematic Multiple Observation of Groups)
que permite analisar as interacções grupais. O sistema SYMLOG examina
as interacções sociais por meio de três dimensões que medem a dominância
e a submissão, a amizade e a inimizade, as comunicações controladas e
533
expressivas. Esta técnica foi planificada para uso geral em muitos tipos de
grupos e focaliza-se em aspectos da tarefa e sócio-emocionais da comunicação
de um grupo.
A produtividade tem a ver com a tarefa dos grupos. Uma tarefa de grupo
abarca um conjunto de pessoas designadas para realizar uma tarefa. Segundo
Steiner (1972) a produtividade é determinada pela interacção de três factores:
3. Processo que consiste nos meios utilizados pelo grupo para realizar
a tarefa.
537
devem ser realizados por um só indivíduo, e tarefas divisíveis que podem ser
realizadas através da divisão do trabalho. As tarefas podem também categorizar-
-se segundo os modos como os esforços dos indivíduos podem ser utilizados
para as realizar (quadro 12.6). Steiner distingue quatro tipos de tarefas e mostra
que a superioridade do grupo em relação ao indivíduo varia em função da
tarefa.
Em suma, esta tipologia mostra que é erróneo pensar que o trabalho em grupo
h
constitui em geral uma perca de tempo. Em relação a certas tarefas o trabalho É
em grupo é claramente vantajoso em comparação com o trabalho individual. |
,
Í
Numa revisão da investigação sobre a realização de grupo Hill (1982) observa
que a maior parte das conclusões de Steiner sobre a produtividade de grupo
foram confirmadas pela investigação.
]
538 :
E
E DS OTROS 30 DR a ATI SS
539
70 -
Realização esperada
o — e — e)
T
o
Õ
Força por pessoa (Kg)
o
Õ
I T
Õ
a
Realização actual
[95]
Õ
T
No
o
T I
>
1 2 3 4 5 6 7/8
Tamanho do grupo (pessoas)
540
nos grupos era mais baixo que o esforço individual de pessoas sós demonstra
os efeitos da preguiça social.
O que é que pode explicar a preguiça social? Os esforços dos indivíduos são
muitas vezes anónimos em grupos aditivos. Dado que é a produção do grupo
e não do indivíduo que se mede, o indivíduo pode sentir-se impune (Harkins,
1987). Para além disso, as pessoas em grupos podem assumir que os outros
abrandarão e por isso em consonância com as teorias da troca e da equidade
também abrandarão (Jackson e Harkins, 1985). Também pode acontecer que
quando as pessoas trabalham em grupos aditivos, não estejam tão activadas e
motivadas como as pessoas que trabalham como indivíduos (Jackson e
Williams, 1985).
541
muitas vezes ser suficiente para eliminar a preguiça social. Por isso a avaliação
individual efectuada por si próprio ou pelos outros constitui muitas vezes um
modo eficaz de reduzir a preguiça social. Não é surpreendente que a preguiça
social seja mais susceptível de aparecer quando as tarefas do grupo são
aborrecidas e não implicativas (Williams e Karau, 1991). Por isso um outro
modo de combater a preguiça social nos locais de trabalho é criar trabalhos
com sentido e implicação para os trabalhadores.
542
Janeiro de 1986 é um outro exemplo de aparente pensamento grupal
(Magnuson, 1986).
543
O problema do pensamento grupal surge porque os membros de um grupo
concordam todos com uma questão, mesmo sem tirar partido de uma discussão
completa do assunto. Em tais grupos os seus membros podem sentir uma pressão
para a uniformidade e colocar entre parentesis as dúvidas pessoais. Um
processo de racionalização colectiva pode ocorrer, persuadindo-se os seus
membros da exactidão das suas decisões. Todo este processo é muitas vezes
mais susceptível de ocorrer devido à presença de um chefe forte e de certos
membros do grupo que Janis chama de guardas das mentes que desempenham
o papel de manter o desacordo ao nível mínimo. O conjunto destas diferentes
forças podem levar a que se tome uma decisão deficiente. Na figura 12.8
apresenta-se um sumário das condições que facilitam o pensamento grupal, os
seus sintomas e os resultados de uma má tomada de decisão.
544
| .
Condições antecedentes
1. Ilusão de invulnerabilidade
2. Crença na moralidade do grupo
3. Racionalizações colectivas
4. Estereótipos dos exogrupos
5. Auto-censura das dúvidas e opiniões dissidentes
6. Ilusão de unanimidade
7. Pressão directa sobre os dissidentes
Sm ms isminia)
” ,
Sintomas de má tomada de decisão =
Y E 2
Baixa probabilidade de obter um resultado bem sucedido
Figura 12.8 — Uma análise do pensamento grupal. Fonte: Adaptado de Janis, 1972.
545
Se bem que muitos aspectos do pensamento grupal necessitem ainda de ser
clarificados (Aldag e Fuller, 1993), este modelo fornece uma perspectiva
fascinante sobre a tomada de decisão dos grupos.
À maior parte das pessoas prediria que o grupo tenderia a tomar decisões mais
seguras que os indivíduos; todavia, de modo surpreendente, Stoner encontrou
que tal não era o caso. Os julgamentos de grupo eram muito mais arriscados
do que os efectuados pelos indivíduos, e os julgamentos individuais obtidos
após discussão de grupo eram também mais arriscados. Este fenómeno
tornou-se conhecido sob o nome de mudança arriscada. O efeito da mudança
arriscada encontrou-se não só nos Estados Unidos e Canadá, como também
em vários países da Europa e na Nova Zelândia.
de responsabilidade.
546
A polarização de grupo foi confirmada em dezenas de experiências. Por
exemplo, Serge Moscovici e Marisa Zavalloni (1969), após efectuarem três
medidas: 1) a opinião dos indivíduos antes da discussão (pré-consenso), 2) a
opinião do grupo no fim da discussão (consenso), 3) a opinião dos indivíduos
no fim da discussão (pós-consenso), observaram que a discussão reforçava,
em estudantes franceses, a sua atitude inicial positiva em relação ao presidente
De Gaulle e a sua atitude inicial negativa em relação aos americanos.
547
qualquer mudança no grupo dependerá da preponderância da
argumentação persuasiva e nova numa ou noutra direcção. No âmbito
desta explicação, no caso de se conhecer o tipo de argumento, a direcção
e a extensão da mudança do grupo podem-se prever (Isenberg, 1986).
Designado por uma autoridade mais alta Pode-se obter um título, mas pode-se não
ganhar a aceitação ou a legitimação dos mem-
bros
551
e ———
Por valiosa que tenha sido a contribuição de Fiedler, mais recentemente foi
proposto que haveria evidência de um traço de liderança, muito embora ainda
não se tenha encontrado. A evidência de um traço escondido, sem se ser
capaz de se especificar qual será, advém de um estudo em que se junta um
grupo de pessoas e dá-se-lhes uma tarefa. Observa-se quem emerge como
líder. Muda-se então a tarefa e os membros do grupo e observa-se quem
emerge como líder. Se acontecer que a mesma pessoa emerge como líder,
apesar da tarefa ou da composição do grupo, então há razão para se crer que
algo, muito embora não se sabendo o quê, acerca destas pessoas faz com que
de modo consistente se tornem líderes.
O)
6.4 Cultura e estilos de liderança
6.5 Poder
554
Quadro 12.10 — Tipos, fontes e mecanismos de poder social
[
| Eb
| Tipo Baseado em Eficácia
| |
| Legítimo Direito a liderar Quer o seguidor esteja sob vigi-
| lância quer não
[
| Recompensa Controlo dos recursos Somente com vigilância
555
SO Sa ES ES Co ES SE SAN READ O RC DIS
Stahelski e Frost (1989) mediram a frequência com que várias formas de poder
eram utilizadas em três organizações diferentes. Encontraram que em todas as
organizações o poder referente e de competência eram utilizados mais
frequentemente que o poder legítimo, de recompensa e coercivo. Contudo os
autores também observaram que quando o número de empregados
supervisonados aumentava, o recurso ao poder coercivo aumentava.
556
7. Grupos na Sociedade
Reveste-se de dificuldade reflectir sobre uma sociedade sem se notar a
abundância de grupos que nela operam. Muito embora o fim da família já
tenha sido frequentemente vaticinado acontece que essa célula continua a
formar a base da maior parte das sociedades. Diferentes tipos de grupos
terapêuticos são debatidos em revistas especializadas e nos meios de
comunicação social. Nesta secção consideraremos alguns destes grupos.
cet
7.1] Famílias
559
positivas e outras que o não são tanto. Na vertente positiva
é referida uma
facilidade em elaborar um sonho a dois e em realizar este sonho, uma
liberdade
incomparável de escolha criadora, uma grande autonomia, indepe
ndência.
No lado negativo ressalta-se uma família pesada para ser transpo
rtada. Os
pais são dois no seu sonho, às vezes um, para assumir todo um
conjunto de
funções duradoiras de que só eles são responsáveis.
560
Ra
Neste âmbito o grupo é pois tomado quer como objecto de análise quer
como metodologia de investigação. Esta segunda vertente constitui uma
abordagem inovadora na medida em que se alia investigação e acção,
observação participante e implicação dos sujeitos. É a experiência relacional
vivida pelos sujeitos que é utilizada como material de estudo. Trata-se pois de
uma abordagem experiencial.
O T-grupo teve uma grande repercursão nos anos 50 nos Estados Unidos e,
um pouco mais tarde, na Europa. Foi para a psicologia social um verdadeiro
561
laboratório contribuindo para compreender e elaborar fenómenos de interac
ção,
de coesão, de liderança, de mudança, etc.
563
EPCERES ur TVNGESAES EST
Construção da coesão
Objectivos
Definição do papel
564
Resolução dos problemas
565
SUMÁRIO
566
por ele. Os grupos coesos proporcionam maior satisfação nos seus membros e
geralmente têm como resultado uma melhor produtividade. As redes de
comunicação afectam a realização e a satisfação, a rede mais centralizada
produz melhor realização, mas mais baixa satisfação nos seus membros.
567
PARA IR MAIS LONGE
BROWN, R.
1988 Group processes: Dynamics within and between groups. Oxford:
Blackwell.
O livro introduz as principais teorias e desenvolvimentos empíricos
no campo da dinâmica de grupo. Apresenta-se uma grande variedade
de investigação sobre o comportamento grupal.
CASTELLAN, Y.
1993 Psychologie de la famille. Toulouse: Privat.
Como funciona a família contemporânea? Quais são as forças
psíquicas que intervêm na sua construção?A resposta a estas questões
essenciais são abordadas nesta obra que constitui uma introdução à
compreensão psicológica do grupo familiar.
SHAW, M. E
1981 Group dynamics: The psychology of small group behavior (3rd ed.).
New York: McGraw-Hill.
Um dos textos clássicos sobre a dinâmica de grupo susceptível de
interessar o leitor para se orientar tecnicamente.
VISSCHER, P
1991 Us, avatars et métamorphoses de la dynamique des groupes: Une
brêve histoire des groupes restreints. Grenoble: Presses Universitaires
de Grenoble.
O livro aborda o lugar dos grupos em psicologia social, a sua
variedade, a diferença entre o interpessoal e o intragupal, a co-presença
e a grupalidade.
568
EEE ESET ES
RS SP NT
DS E EE ERR
EM ES
TS MATTS
A CS RO Tas
SN REdres
ACTIVIDADES PROPOSTAS
569
XII. COMPORTAMENTO COLECTIVO
TÁBUA DE MATÉRIAS
l. Introdução
4.3.2 Desindividualização
4.3.3 Teoria da convergência
4.3.4 Teoria da norma emergente
5 Moda
575
5.3.1 Definição
Duda Fenómeno colectivo de ontem e de hoje
.3,3 Processos de transmissão da informação
Actividades propostas
576
Objectivos:
577
8,
E
E
E
rá
ERR PO E PIRES SSIS TS Ce TER
Miguel Torga
581
massas e dos problemas das massas. Os fenómenos colectivos estão
omnipresentes na nossa vida quotidiana.
Mas apesar disso, a análise teórica a respeito dos comportamentos das massas
é ainda limitada e a sua aplicação a problemas concretos está ainda em estado
incipiente.
2) relativamente desorganizado;
585
O estudo do comportamento colectivo é um aspecto importante
da psicologia
social, não só em si mesmo, mas também porque é difícil que qualqu
er aspecto
do comportamento social não depare ocasionalmente com a expressão
extrema
de algum tipo de comportamento colectivo (Milgram e Toch,
1969).
Estereótipos, preconceitos, agressão, obediência são facilmente percept
íveis
nos comportamentos de linchamentos e fornecem a energia
aquando de
demonstrações públicas paroxísticas, como na época hitleriana.
586
Ê
Por razões práticas e éticas não é possível estudar a maior parte dos tipos de
comportamento colectivo no laboratório. Imagine como engendrar algo no
laboratório que fosse equivalente a um concerto de uma banda rock ou a um
linchamento. Apesar disso têm aparecido tentativas esporádicas. A criação
589
de uma turba foi estudada quando se convenceram
sujeitos de que um crime
terrível tinha sido cometido (Meier, Mennenga e Stoltz
, 1941). O compadre
dos investigadores tentou então tornar-se o chefe de
um grupo e criar uma
turba para procurar por todos os lados os perpretores.
Só cerca de 12% dos
sujeitos se mostraram propensos a juntar-se à turba. Num
outro estudo, French
(1944) tentou estimular um pânico para avaliar as reacç
ões diferenciais de
grupos organizados e de grupos não organizados. Para
tal fechou grupos de
sujeitos numa sala, tocando então o alarme de incênd
io, enquanto que se
fazia entrar fumo. O pânico não ocorreu entre os partic
ipantes, mas os grupos
previamente organizados mostraram a tendência a
reagir de modo mais
ordenado do que os grupos que não tinham sido previ
amente organizados.
Há também referências de que investigadores nazis
estudaram o pânico
utilizando prisioneiros em situações da vida real
(Farago, 1942). Mais
recentemente Gamson, Fireman e Rytina (1982) recor
reram ao método
experimental para estudar a condescendência e a
revolta em encontros
colectivos. Seja como for, ainda resta muito trabalho
à concretizar para que se
esteja perante uma literatura plenamente convincente. Mil
gram e Toch afirmaram
que «não há experiência realmente satisfatória sobre
o comportamento
colectivo» (1969, p. 582). Segundo os autores a melho
r experiência seria a de
Mintz, a que nos referiremos mais adiante, mas que em
relação ao pânico real
estaria para ele como o jogo do Monopólio em relação
à alta finança.
Em suma, há diversos métodos que permitem estuda
r o comportamento
colectivo. Todavia é de ressaltar que esta área de estudo
defronta-se com
problemas diferentes dos de outras áreas de investi
gação apresentadas neste
texto.
590
4. Os Comportamentos das Massas
Serão analisados comportamentos colectivos que se acompanham de
expressões comportamentais de cólera, de alegria e de medo desenvolvidas
paroxisticamente. Quer se trate de acções ou de desagregações colectivas
sobressai a constância de um estado passional.
593
expectativas e os temores. O incidente gerador desencadeia a estruturação
precária suficiente à multidão, aparecendo os chefes.
A corrida para «El Dorado» é um dos exemplos das alegrias das massas.
Está centrada na crença de que a riqueza pessoal rápida está à mão se uma
pessoa quiser ir buscá-la agora (LaPiere, 1938). Implica correr para um lugar
específico para tomar posse de riqueza. A corrida ao ouro do Brasil em séculos
passados está bem patente na história de Portugal.
595
4.2.1 Natureza do pânico
Antes da emissão terminar, conta Hadley Cantril, pode-se ver sobre todo o
território dos Estados Unidos, pessoas que fujiam desvairadas para escapar à
maneira de matar utilizada pelos marcianos tal como o descrevia a emissão,
ou então rezar a Deus ou vociferar. Uns precipitavam-se para tirar as pessoas
próximas do suposto perigo, outros transmitiam por telefone os adeus ou
conselhos às pessoas amadas, apressavam-se a informar os vizinhos, outros
ainda procuravam ter informações mais precisas das redacções dos jornais ou das
estações de emissão de rádio, ou chamavam ambulâncias ou carros da polícia.
Avalia-se o número dos auditores desta emissão entre seis e doze milhões.
Deste número, dois milhões consideraram a emissão como uma reportagem
real e portanto autênticos os factos contados. Destes dois milhões, 70%, portanto
1 400 000 pessoas, foram abarcadas pelas emoções que vimos mais acima.
596
Foi esta a primeira demonstração de que o pânico pode ser suscitado sem
envolver rumores ou multidões (Klapp, 1972).
Como é possível que tantas pessoas tenham reagido deste modo perante um
programa de rádio? Uma das razões é de que estavam perante o que lhes
parecia ser um relato de notícias autênticas. Então, quando muitas das pessoas
telefonaram para a polícia e foram incapazes de obter ligação, ficaram
persuadidas de que os marcianos haviam inutilizado as linhas telefónicas.
Uma vez desencadeada a reacção de pânico é muito difícil pará-la. Quando
as pessoas começaram a fugir, se viam outras pessoas que iam para tratar
dos seus assuntos de modo normal concluiam que não estavam cientes da
emergência, e se viam alguém a correr podiam interpretar esse comportamento
como reflectindo a necessidade de escapar.
Várias tentativas para simular situações de pânico têm sido efectuadas, para
além da de French (1944) que já referimos previamente (Mintz, 1951: Kelley
et al., 1965; Schultz, 1969, Guten e Allen, 1972).
Por exemplo, Mintz (1951) realizou uma experiência para testar a hipótese,
segundo a qual, o pânico deve-se mais à desintegração da cooperação do que
ao medo ou ao perigo. Efectuou uma simulação de pânico, observando sujeitos
repartidos em grupos de 15 a 20 pessoas cuja tarefa consistia em remover
cones de alumínio através do gargalo apertado de uma garrafa por meio de
um fio atado aos cones. Após os cones haverem sido colocados na garrafa,
era dado a cada sujeito um pedaço de um fio de pesca atado a só um dos
cones. Dizia-se então aos sujeitos que unicamente podia passar um cone de
cada vez através do gargalo da garrafa. Se dois cones chegavam simulta-
neamente ao gargalo, bloqueavam-no. Quando era dado o sinal para começar,
a água começava a fluir ao fundo da garrafa. Dava-se como instruções aos
sujeitos para tentar extrair os seus cones sem os molhar. Quando não se
ofereciam recompensas pelo sucesso não havia «engarrafamentos» no gargalo
da garrafa. Todavia, numa segunda condição, era dito aos sujeitos que
ganhavam 25 «centavos» pela obtenção de um cone completamente seco. Se
um terço ou menos de um terço do cone estivesse molhado não haveria
recompensa, e se mais de um terço estivesse molhado haveria uma multa.
Neste caso os «engarrafamentos» ocorreram em mais de metade dos grupos.
Isto aconteceu quer se permitisse que os sujeitos comunicassem quer não se
lhes permitisse. Mintz concluiu não ser necessário um medo intenso para
causar um comportamento não adapativo semelhante ao comportamento de
pânico.
Figura 13.1 - O aparato de Mintz
598
| O pânico constitui uma das formas mais dramáticas de comportamento colectivo.
,
Também na experiência de Guten e Allen (1972) os sujeitos eram castigados com
| choques eléctricos se fracassavam em escapar, e encontrou-se que intensidade das
tentativas de escape estava relacionada de modo curvilinear com a possibilidade
de escape. Isto é, os sujeitos tentavam escapar de modo mais vigoroso se estavam
incertos de ser capazes de o fazer. Tais resultados ajudariam a explicar porque é
que o pânico não ocorre geralmente quando o perigo é muito alto mas a
probabilidade de escaparé muito baixa, como quando os mineiros ficam fechados
numa cave (Lucas, 1968). Por outro lado, a ambiguidade acerca do grau de perigo
e probabilidade de escapar aumenta a probabiliade de pânico.
601
4.3 Teorias explicativas
602
O próprio aplauso e riso podem ser «contagiosos». Num estudo, os visitantes
do Centro de Ciência do Ontario (Canadá) viam um filme, após o qual um
compadre aplaudia (Freedman, Birsky e Cavoukian, 1980). Observavam o
número de pessoas que também aplaudiam e encontraram que quando as
pessoas estavam sentadas muito perto umas das outras, o contágio era muito
maior do que quando as pessoas estavam mais espalhadas. O número de
pessoas também teve um efeito, embora pequeno. Um grande número de
pessoas experienciavam mais contágio do que um pequeno grupo.
4.3.2 Desindividualização
1) Perca de identificação. Isto pode ocorrer numa pessoa que está numa
multidão de estranhos ou usando uma máscara.
604
Quando estamos inseridos numa multidão tendemos a sentir-nos activados e
desinibidos. Tal pode suscitar comportamentos perigosos ou simplesmente
uma agradável atenuação de constrangimentos.
605
participar num estudo em que alguns dos seus direitos seriam protelados. Por
isso podiam sentir a obrigação moral ou legal de continuar e podiam ter
exagerado os seus sintomas de stress para sair das suas obrigações. Os guardas
podiam ter actuado como o fizeram, como «bons sujeitos», porque se esperava
deles que tornassem o estudo mais real. Havia também algumas diferenças
individuais, pois alguns dos prisioneiros não se tornaram apáticos nem alguns
dos guardas abusadores.
Este tipo de efeito não parece ser específico da cultura ocidental. Por meio de
uma amostra com 200 culturas espalhadas através do mundo, Watson (1973)
mostrou que a desindividualização, medida por mudanças na consciência
individual no decurso de danças colectivas ou de cantos, se associam de modo
significativo com tortuosos castigos aplicados ao inimigo aquando de combates
guerreiros.
606
Estes três processos, bem como outros, podem contribuir para sentimentos de
=
Tal como para a teoria do contágio, Tumer (1964) observa que a teoria da
convergência defronta-se com diversos problemas importantes. Um primeiro
problema é a dificuldade em explicar mudanças no comportamento das
multidões com base nesta abordagem. Um segundo problema, partilhado
com a teoria do contágio, é a de fornecer pouca ajuda no estudo da organização
nas situações de multidão. Um terceiro problema, intimamente relacionado
com o primeiro, é de que se concordarmos que provavelmente os indivíduos
têm várias tendências latentes, e não só uma, como efectuar a predição dos
estados latentes que aparecerão? Um último problema é de que se a definição
da situação é um produto do grupo, essa definição podia ser contrária às
supostas tendências latentes desse grupo. Defrontamo-nos aqui com
problemas empíricos cuja resolução se reveste de extrema dificuldade.
607
288
"3"
=
Ra
Cada uma das quatro teorias acabadas de referir — contágio, desindivi-
dualização, convergência e norma emergente — exercem uma certa atracção
ra se para explicar um ou outro episódio colectivo. Todavia todas as quatro suscitam
ovo problemas na explicação do comportamento colectivo. Trata-se de teorias que
Nitos não estão suficientemente bem definidas. Tal não surpreende se tivermos
ipos presente a extrema dificuldade em estudar o comportamento colectivo. Há
outras abordagens do comportamento colectivo, mas também elas não estão
isentas de problemas. Por exemplo, a teoria dos jogos que fornece uma base
para algumas formas de comportamento colectivo (Berk, 1974), reduz
fenómenos extremamente complexos a teorias que surgem amplamente de
jogos com duas pessoas (Granovetter, 1978).
609
5. Os Comportamentos nas Massas
Como acabamos de ilustrar o comportamento colectivo ocorre muitas vezes
nas multidões, mas as multidões não são uma condição necessária para o
aparecimento do comportamento colectivo. Pode emergir no âmbito de uma
colectividade de pessoas sem proximidade física.
O ser humano não vive numa colectividade desde tenra idade sem receber as
suas influências que podem orientar os comportamentos. O quotidiano aparece
banhado no social seja através dos modelos susceptíveis de serem imitados
seja através das informações que circulam. Aparecem assim diferentes
fenómenos que apesar de se entrecruzarem, assumem características dife-
renciadas.
5.1 Moda
Deschamps (1979) efectuou uma análise estrutural da moda para quem este
mecanismo de contágio imitativo compreende numerosos vectores: valor, sexo,
mudança, norma, sociedade, luta de classes, política, economia, indústria,
comércio, inspiração, representação. Cada um destes vectores corresponde a
um dos domínios da nossa sociedade fazendo da moda um uso particular. Para
além disso, há forças opostas que desempenham um papel em cada vector.
Sendo assim não é de admirar que seja possível descrevê-la de modo
contraditório ou apresentá-la como englobando todo um conjunto de paradoxos.
Em cada meio a moda funciona enfatizando um dos seus vectores e resolvendo
as diversas oposições, chegando-se em cada caso a soluções de compromisso.
Considere-se, por exemplo, o vector, sexo. A moda no vestuário parece ter
como função o pudor (Deschamps, 1979). Trata-se de esconder os órgãos
sexuais permitindo assim um domínio dos instintos reprodutivos subordinando-
613
-Os à inclinação pronunciada do amor ou à influência de qualquer moda
em
galantaria e adorno sexual. Todo o pudor transforma-se em erotismo tendo
como papel principal a manutenção da curiosidade desperta. Erotismo e pudor
encontram-se assim imbricados na moda. Esta luta de tendências contraditórias
permite considerar a moda como um sintoma neurótico, como o sonho (Flugel,
1930). Esta ambivalênia permite-lhe efectuar o subtil Jogo do «erotismo púdico».
Para além do vector sexual evocado, há que ter em conta os restantes vectores.
Ora uma moda «corresponde, segundo as idades e os lugares, à acção sinérgica
de um conjunto destes diversos vectores diferentemente ponderados»
(Deschamps, 1979, p. 61).
Apesar da indústria da moda ter uma grande influência, ela não é omnipotente
para decidir o que as pessoas devem usar. A mini-saia obteve rapidamente
uma ampla aceitação, mas saias mais cumpridas tiveram mais dificuldade
em ser aceites, apesar da campanha da indústria da moda.
Um caso concreto que tem sido abordado é o modo de vestir das senhoras
que competem com os homens para postos nos negócios. Estudos têm
mostrado que no «vestuário de sucesso» as senhoras devem evitar estilos
tradicionalmente femininos (Solomon, 1986).
Moda no início e no fim do Século XX.
Para além da moda ser uma marca do estatuto da pessoa na sociedade, ela
também permite atenuar a banalidade. A novidade é um reforçador primário
do comportamento humano (Berlyne, 1960). Parece haver em nós uma
predisposição à curiosidade que é encorajada por uma nova estimulação.
Sendo assim, a mudança da moda pode representar uma tentativa de aliviar
o aborrecimento perante a uniformidade em afirmar a nossa individualidade
(Klapp, 1972).
615
:
617
Influência efectiva - Opinião pública nesta discussão pode ser tomada
simplesmente para significar as opiniões mantidas por pessoas
privadas cujos governos encontram prudente prestar atenção (Key,
1961).
618
a América Latina e os Países do Terceiro Mundo criam Institutos de
Sondagens.
619
5.3 Os rumores
5.3.1 Definições
620
ipidou estaria gravemente doente e que não poderia chegar ao fim do seu
to. Este rumor era veiculado por meios políticos quer da maioria quer
oposição, tendo sido amplamente difundido em França. A doença do
fesidente françês nunca foi confirmada oficialmente. Um ano mais tarde
orges Pompidou faleceu de uma doença atroz.
621
necessário fazer-se publicidade no domínio do consumo. Efectivamente
à
maioria das pessoas prestam pouca atenção à pasta dentrífica ou aos detergen
tes.
Além disso, estão desporvidos de ambiguidade, sendo totalmente transparentes.
A equipa de Morin pode pôr em evidência várias fases na história deste rumor.
Numa primeira fase, o rumor aparece entre as jovens de vários liceus. Surge
depois uma fase de propagação da notícia em grande escala, já circulando
entre os adultos. Os professores aconselharam às suas estudantes a não
frequentarem tais lugares sozinhas, ou até acompanhadas, cuja competência
ES
-ataque por parte das autoridades, dos jornais, dos grupos anti-racistas, dos
partidos da oposição, desmentindo os factos, ridicularizando o absurdo do
rumor, acusando os facistas. Trata-se pura e simplesmente de um facto de
opinião, pois não tem nenhum fundamento real como suporte: nenhum desapa-
recimento foi assinalado à polícia. Perante a denúncia do rumor, aparece um
anti-mito: os partidos da oposição teriam feito um cavalo de batalha, os jornais
teriam inventado um assunto para ocuparem as suas páginas, os comerciantes
judeus teriam imaginado uma publicidade odiosa.
Após Allport e Postman (1947) terem passado em revista alguns rumores dos
tempos passados perguntam-se: que porção da história do mundo poderia
atribuir-se a reacções de importantes grupos sociais perante rumores
correntes? Os autores pensam que essa influência seria enorme na medida em
que os habitantes deste planeta não dispunham de muitos mais meios de
informação do que os chegados pelas tradicionais vias do rumor. Antes da
chegada da imprensa, do telefone, da rádio e da televisão o público dependia
de notícias relatadas por algum Fernão Mendes Pinto ou do pregoeiro. Ora é
sabido, e veremos mais adiante, a deformacão a que está sujeita a repetição de
uma versão oral de uma descrição. «Como deveria ter sido inexacta a repre-
sentação do mundo exterior a que se ajustaram povos e governantes ao longo
do curso da história!» (Allport e Postman, 1964, p. 178). Todavia estes autores
não defendem que o papel do rumor na vida moderna seja menor que outrora,
já que «apesar das modernas invenções as nossas necessidades emocionais e
cognitivas não se diferenciam das dos nossos antepassados» (Ibid., p. 178).
Não tem faltado quem tenha tentado traçar uma classificação do conteúdo dos
rumores. Por exemplo, Knapp (1944) distinguiu três tipos de rumores segundo
o seu conteúdo manifesto:
Não foi tanto pelo conteúdo como pelos aspectos formais dos rumores, pela
alteração da mensagem e o movimento da difusão que se interessaram os
investigadores no domínio dos rumores (Stoetzel, 1963).
626
Esso
Rpaa 4 Rpg
Figura 13.2 — A distorção na transmissão dos rumores. Fonte: Bartlett, 1932.
627
Com base nas suas observações, Allport e Postman designaram três processos
de alteração da informação que intervêm nos rumores. O volume da mensagem
diminui (redução), depois estabiliza-se; certos elementos de conteúdo são postos
em evidência (acentuação); diversas deformações ou acrescentamentos
intervêm (assimilação).
629
esquecimento em consonância perfeita com as opiniões, atitudes, estereótipos
e preconceitos do grupo em que circula.
630
ERROS Sm ? UR
631
encontrava-se também nas barbas do velho. Com o intuito de ter negócios
prósperos, Procter & Gamble teria um pacto com Satanás e outorgaria 10%
dos seus benefícios a uma seita satânica. Esta empresa vê-se assim a braços
com uma guerra de estrelas bem particular e para que não estava preparada.
633
APLICAÇÕES: CONTROLO DE DESORDEM SOCIAL
635
Waddington etal. (1987) efectuou uma análise de dois comícios que ocorreram
durante a greve dos mineiros em 1984 na Inglaterra. Um deles foi desordeiro
e envolveu violência entre a polícia e os manifestantes. O segundo, realizado
num contexto semelhante, foi pacífico.
637
One
atros
PARA IR MAIS LONGE
lido,
's ao
ável DESCHAMPS, M. A.
MOSCOVICI, S.
SOLOMON, M. R.
639
ACTIVIDADES PROPOSTAS