Você está na página 1de 22

SCRIBD

Solidão: um construto complexo


Margarida Pocinho

Esmeralda Macedo

2019

1
SCRIBD

Índice
Solidão 3

Introdução 3

Abordagem psicodinâmica 4

Perspetiva fenomenológica 5

Perspetiva sociológica 6

Perspetiva interacionista 6

Perspetiva cognitiva 7

Perspetiva sistémica 9

Abordagem da privacidade de Derlega e Margulis 9

Perspetiva existencial 9

Epidemiologia da solidão 9

Relação entre Solidão e Depressão 11

2
SCRIBD

Solidão

Introdução

A solidão parece ser facilmente percetível, já que qualquer individuo já a


experimentou em um momento ou outro da sua vida, sendo mesmo capaz de definir esse
estado difuso de mal-estar existencial de um modo descritivo que lhe é próprio.
Contudo, mesmo se este estado psíquico é aparentemente fácil de definir do ponto
de vista linguístico (de facto, segundo o dicionário online Priberam da língua portuguesa
(www.priberam.pt), “ solidão provém do latim (solitudo-inis)” podendo ser significado
como “Estado do que está só. Lugar solitário, retiro. Isolamento. Lugar
despovoado, ermo”) a sua definição científica é mais complexa.
Para além da discussão sobre o sentido ontológico do termo solidão, sobre a qual
não nos atardaremos neste texto, o impacte dos avanços tecnológicos e científicos da
contemporaneidade, nomeadamente no plano comunicacional, tem tido o efeito paradoxal
de acentuar a percepção da solidão existencial no ser humano. Trata-se, é certo, de um
efeito paradoxal que pode reenviar ao estilo de vida individualista, competitivo e
consumista que é apanágio, em particular, dos tempos em que vivemos (Moreira &
Callou, 2006).
Por outro lado, a solidão provoca um sentimento de vazio interior que pode estar
presente no ser humano nas diferentes fases da vida, e tende a ser mais frequente com o
envelhecimento(Lopes, Lopes, & Camara, 2009).
Na opinião de Perlman e Peplau (1982) a solidão é uma experiência desagradável
que acontece quando a rede de relações sociais de uma pessoa é significativamente pobre.
Existem pelo menos oito abordagens diferentes acerca da solidão: 1) a psicodinâmica, 2)
a fenomenológica, 3) a sociológica, 4) a interacionista, 5) a cognitiva, 6) a sistémica, 7) a
abordagem da privacidade de Derlega e Margulis, e 8) a existencial.

3
SCRIBD

Abordagem psicodinâmica
Em 1938, Zilborg publicou provavelmente a primeira análise psicológica da
solidão, distinguindo estar só de ser solitário. O autor definir a primeira como um estado
normal e transitório e a segunda uma experiencia esmagadoramente persistente.
A abordagem psicodinâmica considera que a solidão reflete traços básicos de
narcisismo, megalomania e hostilidade. O solitário retém sentimentos infantis de
omnipotência pessoal e é egocêntrico. Os narcisistas têm a tendência de desenvolver uma
ligação com seu ambiente através do exercício de poder sobre ele. Por meio deste
mecanismo, somente conseguem construir alguma unidade. A união com o outro e com
o mundo é oferecida pela capacidade estratégica de subjugar-se a uma pessoa, um grupo,
a um Deus, etc. tentando desta forma, superar o isolamento e sentindo-se parte de um
grande poder, com qual se uniu ainda que toda e qualquer integração autêntica esteja
ausente.
Solidão, de acordo com Sullivan (1953), é uma "experiência extremamente
desagradável que conduz a uma extrema e inadequada necessidade de intimidade humana
(290 p.). Sullivan marcou o pensamento de Frieda Fromm-Reichmann, a autora mais
citada, dentro da temática da solidão, devido a um artigo científico que publicou no final
da década de 50 do seculo passado, sobre a solidão. Tema que tinha sido quase sempre
ignorado pelos outros psicanalistas até então. Mesmo Freud só lhe havia tocado de
passagem. Fromm-Reichmann sugeriu que, mesmo de estados benignos de solidão, é
difícil falar sobre a mesma. Algumas pessoas protegem-se do sofrimento da solidão
negando a sua experiência.
Tal como Sullivan e Zilborg também Frieda Fromm-Reichmann traçou as origens
da solidão nas experiencia na infância
A autora defendia que a solidão, era um dos fenómenos psicológicos mais
importantes no desenvolvimento da doença mental cujo conceito estava
insatisfatoriamente trabalhado. Considerava que a solidão era um estado extremo e
destrutivo e estava associada ao pânico e à ansiedade.
À data, a solidão era relatada e discutida por poetas, pacientes e filósofos, mas
pouco desenvolvida na área psicológica (Fromm-Reichman, 1959). Em 1973, Robert
Weiss foi um dos primeiros cientistas a delinear uma teoria que relacionava a solidão com
a vinculação (attachment theory of loneliness) em que refere que a solidão é tida como

4
SCRIBD

uma angústia crónica sem nenhuma característica positiva. Esta sua assunção resulta da
observação de que os indivíduos experimentaram solidão devido à perda de um parceiro
íntimo, uma vez encontrado um novo parceiro, a solidão "magicamente" desaparecia
(Weiss, 1973). Neste sentido, Weiss (1973, 1989) define a solidão como a angústia da
separação, sem um objeto, que é muito mais uma descrição afetiva da solidão. Em 1982,
Peplau e Perlman, editaram um trabalho que compilava as pesquisas da solidão que
existiam até à data e consideraram que as posições dos teóricos psicodinâmicos era clara
e que resultavam da sua observação e que emergia no setting clinico. Talvez por este
motivo os psicodinâmicos sejam consensuais em considerar a solidão como patologia.
Provavelmente, mais do que qualquer outro grupo teórico, os investigadores
psicodinâmicos atribuem à solidão fenómenos relacionados com as vivências precoces
dos indivíduos que sofrem desta patologia. Contudo a forma de lidar com estas
experiencias precoces que resultaram em podem ter o foco nas relações interpessoais ou
intrapessoais (traço, conflitos intrapsíquicos, etc). Para Pocinho (2007) apesar da
definição de solidão ser de difícil definição, as pessoas continuam a descrever e a sentir
a sua solidão, mesmo que não tenham um conhecimento completo sobre ela e sobre as
suas causas ou consequências. Fundamentalmente a solidão pode ser conceptualizada
como uma condição afetiva adversa acompanhada por possíveis cognições problemáticas,
circunstâncias de vida, estratégias de resolução de problemas e vários outros fatores de
carácter individual e/ou social.

Perspetiva fenomenológica
Carl Rogers, o pai da terapia centrada no cliente, é a quem mais se dá mais crédito
dentro da perspetiva fenomenológica da solidão e a sua análise acerca da mesma reflete
a sua teoria da personalidade. Rogers define a solidão como “is sharpest and most
poignant in the individual who has for one reason or another, found himself standing,
without some of his costomary defenses, a vulnerable, frightened, lonely but real self,
sure of rejection in a judgmental world” (1979, 1973, p.119). para este autor, esta crença
de desamor mantem a pessoa aprisionada na sua solidão. O medo da rejeição impede os
sujeitos de resistir e retem-os no seu isolamento social e assim manter os seus sentimentos
de vazio. Seguindo esta linha de pensamento Moore (1976) colocou a hipótese de uma
discrepância entre o self atual e o idealizado pode resultar em solidão. Tal como os

5
SCRIBD

psicodinâmicos, análise da solidão de Rogers resultou do seu trabalho com clientes,


levando-o a defender uma visão de que a solidão está relacionada com um pobre
ajustamento devido a uma discrepância fenomenológica no seu autoconceito. Rogers
difere dos psicodinâmicos não facto de não acreditar na influência das experiencias
precoces, mas sim que são as forças atuais que produzem a experiencia.

Perspetiva sociológica
A perspetiva sociológica define a solidão como o resultado da produção social do
individuo “Ego-centrado” e “Individualista”, que ao firmar sua individualidade, firma
também a fragmentação do universo social e o isolamento. Esta perspetiva tem como
representantes Bowman (1955), Riesman e Slater.
Segundo a perspetiva sociológica, ao contrário da psicodinâmica, a solidão advém
de fatores externos como deficits sociais, expetativas irrealistas, eventualidades da vida e
fatores internos, como fatores psicológicos desde disfunções cognitivas, afetiva, mas
também os traços de personalidade: por exemplo, os indivíduos com uma personalidade
evitante têm limitações nas habilidades sociais, fazendo com que sofram de solidão
(Jones, 1992, Pocinho, 2007, Singh & Misra, 2009).
Importa, ainda, referir que, independentemente da perspetiva, estar sozinho e
isolamento voluntário, não são tidos como solidão, pois são premeditados e até podem
ser benéficos. A solidão, não é algo deliberado, é um estado emocional doloroso, que
contém aspetos negativos, provocando nostalgia, tristeza, saudade sendo por isso
considerado um conceito subjetivo: as pessoas que sentem solidão sentem-se sozinhas,
não sendo algo planeado (Cacioppo, Hawkley, & Berntson, 2003; Perlman & Peplau,
1982; Pocinho, Farate, & Dias, 2010; Russell, Cutrona, McRae, & Gomez, 2012).

Perspetiva interacionista
Weiss é o líder da perspetiva interacionista e defende que a solidão se pode manifestar
de duas formas: emocional (como falta de integração social), e a solidão emocional (por
exemplo, a ausência de uma figura de vinculação segura). A solidão emocional é “a forma
mais dolorosa de isolamento e está relacionada com a falta de relacionamento emocional
íntimo, por exemplo a morte do cônjuge. A solidão social está relacionada com uma
lacuna na rede social por exemplo, perda de amigos próximos, contudo estas deficiências
nas relações sociais que servem funções específicas (por exemplo, fixação, integração

6
SCRIBD

social, nutrição). Apesar de estes dois tipos de solidão poderem levar o indivíduo a isolar-
se, a verdade é que mesmo que se tenha um conjunto de amigos e uma boa rede social, o
indivíduo poderá sentir solidão emocional por não ter uma companhia íntima (Cacioppo
et al., 2003; Cacioppo, Hughes, Waite, Hawkley, & Thisted, 2006; Cacioppo, Hawkley,
et al., 2006).
Os seres humanos por natureza são uma espécie dependente e estão durante toda
a sua vida dependentes das relações para sobreviver e prosperar. A recompensa social do
sentimento de ligação a outros e a dor social do sentimento de desligamento servem uma
função adaptativa, ou seja, para motivar a formação, manutenção e alimentando-se de
relações sociais que promovem a sobrevivência (Aanes, Hetland, Pallesen, & Mittelmark,
2011; Cacioppo et al., 2003; Cacioppo, Hawkley, Norman, & Berntson, 2011; Cacioppo,
Hughes, et al., 2006; Hawkley, Cole, Capitanio, Norman, & Cacioppo, 2012; Singh &
Kiran, 2013).
Jong Grieveld definiu solidão como “uma situação vivida pelo indivíduo onde
existe uma desagradável ou inadmissível falta de (qualidade de) certas relações. Isto inclui
situações em que o número de relações existentes é menor do que é considerado desejável
ou aceitável, bem como situações em que a intimidade que o indivíduo deseja não foi
atingida”. Segundo este autor e seus colaboradores esta perspetiva a solidão engloba a
maneira pela qual a pessoa percebe, experiência e avalia o seu isolamento e a falta (ou
falha) de comunicação com outras pessoas. Esta definição de solidão considera-a como
um fenómeno multidimensional onde três dimensões se individualizam. A primeira
dimensão, “privação” diz respeito às sensações associadas à ausência de um acessório
íntimo, sentimentos de vazio ou abandono, sendo a base de todo o conceito já que se
refere à incapacidade do indivíduo desenvolver relações sociais consideradas
satisfatórias. A segunda dimensão é um tipo de solidão situacional e transitória já que tem
em conta a perspetiva temporal (será que as pessoas interpretam a sua solidão como sendo
inerente à Vida ou como mutável e tratável, que elas culpam os outros ou a si próprias
pela situação em que se encontram?). A terceira dimensão envolve diferentes tipos de
aspetos emocionais, como tristeza, sentimentos de vergonha, culpa, frustração e
desespero (Jong-Gierveld, 1987, 1998; Pocinho et al., 2010).

Perspetiva cognitiva

7
SCRIBD

A abordagem cognitiva da solidão baseia-se na hipótese de vulnerabilidade


cognitiva como um modelo distúrbio emocional que pode desembocar em solidão.
Emocional. A vulnerabilidade cognitiva leva a que certos indivíduos, ao processar
informações, cometam distorções que os predispõem para a solidão. Este modelo
cognitivo pressupõe que a solidão crónica, tem origem na forma distorcida que cada um
percebe os acontecimentos, modulando e mantendo emoções disfuncionais que
independem de sua origem. A solidão é definida, nesta abordagem, como o sentimento
de mal-estar que se tem quando há uma discrepância entre o tipo de relações sociais que
temos, isto é, entre os níveis de contactos sociais desejados e realizados (Pocinho et al.,
2010). Apesar de ser difícil encontrar uma definição única de solidão, parece se
consensual que é um conceito negativo, subjetivo, e multidimensional, que poderá estar
relacionada com a falta de suporte social e ou emocional e assim resulta de uma
experiência que é sentida como sendo desagradável (Neto, 2000; Weiss, 1973; Peplau &
Perlman, 1982; Paúl, 1991; Pocinho, 2007).
Esta teoria defende que os pensamentos automáticos de isolamento são espontâneos
e fluem em nossa mente a partir dos acontecimentos do dia-a-dia, independente de
deliberação ou raciocínio. São perceções, mantidas e reforçadas sistematicamente, a
respeito de nós mesmos, das pessoas e do mundo. Nesta perspetiva podemos compreender
a solidão como um estado de consciência no qual nos voltamos para nós mesmos e
analisamos nossa vida, nossas relações, sem o peso da culpa, pautada numa análise não
crítica, sem julgamentos ou culpas, num movimento de reflexão sobre o que fizemos e as
consequências de nossas ações. Dessa forma, a solidão pode ser uma oportunidade de
autoconhecimento, de descobrirmos do que gostamos, queremos ou precisamos, um
processo necessário para que possamos desenvolver nossa individualidade, bem como,
dos recursos de que dispomos para alcançar nossos objetivos, o perigo é quando a opção
pelo isolamento se manifesta sob formas patológicas, acompanhada de depressão, pânico
e vícios, danosos à vida em sociedade.
O grande paradoxo é que, também, precisamos nos relacionar com os outros para nos
individualizarmos. Esse é o grande dilema atual, pois, nesta perspetiva, a sociedade
instrumentaliza o homem, supondo dar todos os recursos para uma vida plena, porém, o
individualismo cada vez maior.

8
SCRIBD

Perspetiva sistémica
A perspetiva sistémica insere-se num paradigma científico que substitui a causalidade
linear pela circular e permite o estudo dos fenómenos complexos ao tomar em
consideração a complexidade que os caracteriza (Yatchinovsky, 2000). O enquadramento
científico desta abordagem assenta sobre um tripé conceptual composto pela teoria geral
dos sistemas, que define o sistema e as suas propriedades, pela cibernética, que se debruça
sobre os mecanismos de auto-regulação dos sistemas complexos, e pela pragmática da
comunicação humana, que nos permite perceber o valor comunicacional do
comportamento . Nesta perspetiva a solidão é um mecanismo de feedback para ajudar os
indivíduos ou a sociedade a manterem estável o contacto humano.

Abordagem da privacidade de Derlega e Margulis

Derlega e Margulis apresentam a solidão como o desequilíbrio entre a rede social e


a expetativas pessoais do sujeitos. Os autores consideram que a solidão se deve tanto a
fatores individuais como ambientais

Perspetiva existencial
O existencialismo tem como ponto de partida o facto de que os humanos são solitários
ninguém mais experiencia o nossos pensamentos e sentimentos. A individualidade é uma
condição essencial à nossa existência. Aqueles que aceitam este ponto de vista colocam
o foco na questão em como é que se pode viver com a sua solidão. A visão da solidão é
positiva e o principio é de que qualquer experiencia de solidão envolve o confronto ou
um encontro consigo próprio. Tanto o encontro como a confrontação são formas de estar
vivo num mundo relativamente estagnado.

Epidemiologia da solidão
Singh e Kiran (2013) referem que a solidão é mais comum nos homens idosos
solteiros e nas mulheres de qualquer idade. Existem alguns estudos que analisam a relação
entre solidão e a depressão, o alcoolismo, a doença física e o luto contudo, faltam estudos

9
SCRIBD

que relacionem a solidão com perturbações psiquiátricas. Um estudo alemão demonstrou


que quem sente solidão tem maior probabilidade de sofrer de demência num período de
3 anos comparado com quem não a experienciou (Harison, 2012).
Ora, se, por um lado, a solidão resulta da distância entre a qualidade das relações
sociais e as expectativas prévias do sujeito, por outro lado, corresponde a uma experiência
subjetiva desagradável, até de natureza aversiva, mesmo, e isto mesmo quando se inscreve
na perspetiva desenvolvimental. Na opinião de Augusto, Oliveira & Pocinho (2008) a
solidão é uma experiência inerente à condição humana assim, poderá ser descrita como
um sentimento desconfortável de alienação, perda e isolamento. No entanto, a solidão
inclui também ela uma função desenvolvimental, ao levar o ser humano a procurar
estabelecer e manter relações interpessoais, sendo estas essenciais para o seu bem estar
(Baumeiste & Leary, 1995).
Solidão não é simplesmente o que se sente quando se está sozinho, ela pode estar
presente quando a pessoa não encontra a companhia desejada, ou quando, mesmo não
estando, se sente isolado das outras pessoas.
Em 2011, foram encontrados em Portugal em casa quase 2.900 idosos, dias ou mesmo
semanas depois de terem morrido. Se verificarmos os resultados dos Censos 2011
indicam que há 2,023 milhões de pessoas com mais de 65 anos a residir em Portugal.
Destas, cerca de 60% vive só. Viver cada vez mais isolado, está a ser, nos dias de hoje e
sobretudo na nossa sociedade uma realidade cada vez mais enraizada. Contudo, não
podemos afirmar que exista uma relação causal em atingir a velhice e a solidão. Não. O
que existe é uma maior vulnerabilidade nos idosos para sentirem solidão, devendo-se à
associação de muitos fatores. A nossa personalidade que, de forma única, tem influência
no processo cognitivo, comportamental e nas motivações, a diminuição das atividades
sociais, quer pela perda de autonomia, perda de amigos, independência dos filhos, a saída
do mundo laboral e a entrada na reforma poderão levar à solidão. Holmèn, Andersson,
Ericsson, Rydberg & Winblad, realizaram um estudo em 1992, em Estocolmo, com 1725
idosos com mais de 80 anos e concluíram que a solidão está relacionada com a idade,
sexo, estado civil, contactos sociais, amigos, saúde e função cognitiva. Os principais
preditores para a solidão foram insatisfação com contatos sociais e de habitação, seguido
pela perceção percebida de saúde baixa e insuficiência da função cognitiva (Holmèn,
Andersson, Ericsson, Rydberg & Winblad, 1992).
A afirmação e manutenção de relações sociais são importantes para o bem-estar
do idoso e para a sua própria a saúde i.e., a forma como o idoso interpreta o apoio

10
SCRIBD

emocional e instrumental, é fundamental para um envelhecimento bem-sucedido e a


menores níveis de solidão (Feldman, 2007; Monteiro & Neto, 2008; Paúl & Fonseca,
2005; Victor & Boldy, 2005). De acordo com Jaremka, Fagundes, Glaser, Bennett,
Malarkey, Kiecolt-Glaser (2013), ter solidão traz consequências para o sistema
imunitário, ficando este debilitado e podendo contribuir para o aumento de doenças
crónicas. Sofrer de solidão contribui para o aumento de stress, diminuição da autoestima
do idoso e pode desencadear sintomas depressivos. Assim, e segundo Perissinotto, Cenzer
& Covinsky, 2012; Stek, Vinkers, Gussekloo, Beekman, Van Der Mast & Westendorp,
2005; Udell, Steg & Bhatt, 2013 a solidão é considerada um fator preditor do declínio
funcional e também um preditor de mortalidade.
Quanto ao género, e de acordo com Jylhä, (2004) e Ussel, (2001) as mulheres
quando comparadas com os homens, relatam maiores níveis de solidão. Este aspeto é
poderá ser explicado pela esperança média de vida nas mulheres ser superior à dos
homens, que consequentemente enviúvam mais rapidamente. A viuvez altera a forma de
vida dos idosos, tendo este que se adaptar à sua nova realidade. Na viuvez, perde-se a
relação íntima (Ussel, 2001) podendo desencadear processos mórbidos graves e provocar
a morte do enviuvado (Magalhães, 2003).
Assim, podemos concluir que a solidão, na velhice, é considerada um problema
individual na medida em que atinge o próprio, e tem inerentes aspetos pessoais, mas
também situacionais. Contudo, este também é um problema social, pois, enquanto
técnicos de saúde devemos ter em conta esta temática, para que o idoso viva os seus dias
com maior qualidade de vida.

Relação entre Solidão e Depressão


A solidão e os sintomas depressivos são construtos estreitamente relacionados. No
entanto, apesar da sua evidente ligação, na sua perspetiva associativa, apenas poucos
estudos têm focado a sua intervenção sobre estes mecanismos (Vanhalst, J., Luyckx, K.,
Teppers, E., & Goossens, L., 2012).
Vários investigadores e profissionais como Cacioppo, Hughes, Waite, Hawkley, e
Thisted (2006) concordam que os sentimentos de solidão e os sintomas depressivos
tendem a andar de mãos dadas. Os estudos longitudinais realizados por Cacioppo e seus
colaboradores (2006), numa amostra de adultos com idades compreendidas entre os 50 e
os 67 anos, concluíram que a solidão era um fator de risco para o desenvolvimento de
uma sintomatologia depressiva, mesmo quando as variáveis demográficas eram

11
SCRIBD

controladas. Os seus estudos também permitiram concluir a existência de diferenças entre


homens e mulheres ao nível dos valores de solidão e depressão. A existência de sintomas
depressivos causados por solidão apresentam ser significativamente superiores nos
homens.
Adams, Sanders, Auth ( 2004) realizaram um estudo com adultos entre os 60 e os 98
anos, a fim de perceberem quais os riscos e fatores de resiliência associados à solidão e
depressão, tendo concluído que a solidão é um fator de risco independente dos sintomas
depressivos.
Nos estudos desenvolvidos por Cacioppo, Hawkley, Ernst, Burleson, Berntson
Nouriani & Spiegel (2006) a solidão e depressão estão correlacionados, mas os resultados
também evidenciam que a solidão e a depressão são também constructos distintos. Em
2010, Cacioppo, Hawkley & Thisted, concluíram que a relação entre solidão e depressão
não pode ser reduzida a fatores demográficos, isolamento social, exposição a uma vida
stressante, sentimentos afetivos negativos, ou a suporte social.
Segundo as investigações realizadas por Vanhalst em seus colaboradores (2012) os
pressupostos teóricos sugerem associações transacionais entre solidão e sintomas
depressivos, mas a maioria das teorias foca-se na solidão como antecedente, ao invés da
consequência, de sintomas depressivos.
Segundo Barg et al. 2006, a população adulta mais velha pode estar inclinada a
descrever os sintomas depressivos em termos de solidão. A revisão da literatura sobre a
relação entre solidão e depressão em adultos mais velhos enfatiza fatores de apoio social
(Pinquart & Sorensen, 2001), o número crescente de perdas que os adultos mais velhos
experienciam (ALPass & Neville, 2003; Andersson, 1998; van Baarsen, 2002),
características de personalidade como neuroticismo, extroversão e introversão (Long &
Martin, 2000; Pinquart & Sorensen, 2001), e as diferenças entre a experiência de estar
sozinho e se sentir solitário (Adams, Sanders & Auth, 2004). Intervenções para enfrentar
a solidão em idosos têm como objetivo o aumento da autoeficácia e o enfrentar as
mudanças nas redes sociais (Blazer, 2002).
Uma pesquisa fenomenológica transcultural sobre a experiência da depressão foi
realizada no Brasil, no Chile e nos Estados Unidos, sendo a solidão uma das temáticas
emergentes nos três países. O objetivo foi aprofundar essa temática e descrever a relação
entre solidão e depressão na experiência vivida, a fim de compreender até que ponto a
solidão é causa (etiologia) ou consequência (sintoma) da depressão. Os resultados

12
SCRIBD

mostram o significado ambíguo da solidão na experiência da depressão. (Moreira &


Callou, 2006)
A solidão tem sido identificada como um fator de risco para sintomas depressivos em
estudos transversais e longitudinais realizados com adultos mais velhos. A solidão
revelou-se como um fator de risco para uma vasta gama de problemas em adultos de meia-
idade e idosos, incluindo a falta de independência, o alcoolismo, a pressão arterial elevada
e prolemas com o sono (Cacioppo, Hawkley, Crawford, et al, 2002). A ocorrência em
simultâneo de sintomas de solidão e sintomas depressivos já é largamente observada, e
os itens que medem a solidão foram incluídos em algumas medições de sintomas
depressivos em idosos (Cacioppo & Hughes, 2006).
Pesquisas posteriores estabeleceram que a solidão e os sintomas depressivos são, na
verdade, construções distintas (Weeks et al., 1980), mas a especificidade da solidão como
um fator de risco para sintomas depressivos não foi previamente abordada em estudos de
base populacional multiétnicas de homens e mulheres de meia-idade e mais velhos.
De acordo com estudos anteriores, Lim & Kua (2011), verificaram que a solidão é um
contributo forte para a saúde mental. Este estudo sugere que o facto de morar sozinho
contribuiu para um bem-estar psicológico diminuído sendo a maioria atribuída a solidão.
A solidão continua atualmente a ser difícil de definir, em termos médicos não é
diagnosticável, não é considerada uma doença, podendo ter muitos fatores que a
despoletam bem como pode estar relacionada com muitas alterações cognitivas. Sabemos
que a solidão existe, e que altera e prejudica a vida de muitas pessoas, no entanto continua
a existir uma lacuna imensa na investigação sobre a solidão e a forma como ela pode
desenvolver-se em doença.
Muitas vezes a solidão surge como sombra da depressão, na medida em que muitas
vezes os doentes com depressão referem sinais de solidão e isolamento social.
Para Moreira & Calliou (2006) solidão, em termos psicológicos, pode caracterizar-se
pela ausência afetiva do outro e estar intimamente relacionada com o sentimento, com a
sensação de se estar só. O outro pode até estar próximo geograficamente, mas não há
aproximação psicológica; falta interação e comunicação emocional. No estudo realizado
por estes autores, solidão é relatada como algo inerente, como parte constitutiva, da
depressão.
A falta de amigos íntimos e contatos sociais escassos geralmente trazem desconforto
emocional ou sofrimento conhecido como solidão. A solidão começa com a tomada de
consciência de uma deficiência nos relacionamentos, ativando-se assim um alarme

13
SCRIBD

emocional que conduz à tristeza e a uma sensação de vazio. Apesar dos efeitos negativos
da solidão, esta pode ser interpretada como uma sensação natural, contudo quando passa
a ser uma solidão crónica pode ser a base de diversos problemas emocionais que
perturbam a vida do indivíduo. Quando comparamos a solidão com a depressão, esta
última é mais atraente e segura, uma vez que atualmente conhecem-se diferentes
mecanismos quer psicoterapêuticos quer medicamentosos para se obter uma cura ou pelo
menos atenuar os efeitos provocados. Atualmente a solidão continua a ser um poço sem
fundo, uma vez que se trata difícil de diagnosticar e muito mais de tratar, sobretudo pela
falta de bases terapêuticas que a definam.
Neste trabalho propusemo-nos a analisar a forma como a solidão e a depressão se
relacionam e se se podem considerar entidades totalmente independentes ou se estão
relacionadas e coexistem. Através dos resultados obtidos após a aplicação da correlação
de Pearson obteve-se uma correlação positiva para estas duas variáveis. Ou seja, nos casos
estudados neste trabalho se a solidão aumenta a depressão também aumenta e vice-versa,
mostrando desta forma que as duas situações existem de forma concomitante, o que
verifica as conclusões obtidas em outros estudos (Cacciopo et al. 2006, Jaremka et al.
2012) Para Barg et al. (2006), os idosos relacionam o sentimento de solidão a conceitos
de depressão e consideram mesmo a solidão como predisponente da depressão.
Resultados prévios mostram que quer a depressão quer a solidão podem ter resultados
preditivos uma da outra (Cacciopo & Hughes 2006). Weeks et al. (1980) afirmam que se
a solidão e a depressão se relacionam e uma vez que nenhuma é causa da outra, a melhor
hipótese para justificar esta relação é a de partilharem diversas causas em comum.
Contudo não se coloca de lado a hipótese de ter havido alguma confusão por parte dos
participantes, uma vez que ao responderem a ambos os testes no mesmo momento, podem
ter tido dificuldades em interpretar os seus sentimentos, ou seja, fica a dúvida se esses
sentimentos de solidão despertaram nesse instante respostas positivas para sinais de
depressão ou o contrário, sintomas de depressão que se refletem em parâmetros de solidão
Um outro objetivo deste estudo era o de perceber se a solidão e a depressão podem
estar de alguma forma relacionadas com o género. Um dos fatores de risco que tem sido
identificado para a depressão é o género, tendo sido avaliado em estudos epidemiológicos
realizados, através de métodos e meios de diagnóstico semelhantes em diferentes nações,
culturas e etnias, e revelando a depressão mais prevalente em mulheres que em homens.
Muitas teorias têm sido propostas, no entanto, ainda nenhuma conseguiu explicar
completamente essa diferença de género. Estas diferenças de género não são bem

14
SCRIBD

entendidas podendo estar relacionadas a uma combinação de fatores genéticos e


biológicos, incluindo alterações hormonais bem como a partir do stress da vida ativa,
responsabilidade familiar e papéis sociais (Ortiz et al. 2012, Vaz et al. 2011). Neste
trabalho que levamos a cabo, verificou-se que não há diferenças significativas nos níveis
de depressão bem como nos níveis de solidão entre géneros. No que concerne á solidão
este resultado é equivalente ao que se concluiu noutros estudos (Beadle, Brown, Keady,
Tranel & Paradiso, 2012).
Em alguns estudos consultados para a realização deste trabalho, a solidão e a
depressão aparecem relacionadas com um fator de risco que é a idade. Apesar de existirem
vários estudos a referir uma diferença na taxa de solidão presente em indivíduos de
diferentes faixas etárias, no nosso estudo, que se limitou a participantes com uma idade
compreendida entre os 41 e os 80 anos, não foram encontradas diferenças significativas
nos resultados UCLA, indo de encontro ao concluído em outros trabalhos (Beadle,
Brown, Keady, Tranel & Paradiso, 2012) Nos seus estudos, Neto & Barros (2001),
verificam que a solidão é sobretudo um problema dos adolescentes e dos idosos. Estes
resultados sobre os idosos não concordam com os de outras investigações levadas a cabo
noutros contextos culturais. (Ortiz et al. 2012) Relativamente á depressão, no nosso
estudo encontramos diferenças significativas nos resultados da EDG nas diferentes faixas
etárias em que segmentámos a nossa amostra, sendo mais prevalente a depressão nos
indivíduos com mais de 51 anos. Este achado para esta amostra em particular encontra
resultados semelhantes a estudos realizados no passado em comunidades distintas (Beadle
et al., 2012; Lime t al. 2011).
O último objetivo deste trabalho era o de perceber se os resultados relativos á solidão
se mantinham estáveis durante um período de tempo relativamente curto (máximo de 15
dias). Concluímos que a solidão não se altera significativamente com o decorrer do tempo,
e que pelo contrário se pode manter. Estes resultados são suportados por outros estudos
como por exemplo o levado a cabo por Cacciopo & Hughes (2006).
Relativamente a este estudo levado a cabo para apresentação deste trabalho de
dissertação, penso ser importante salientar as suas limitações, sobretudo no que respeita
a amostra, sendo que a sua dimensão é pequena e a informação sobre a mesma é muito
escassa, uma vez que não temos dados sociodemográficos (se os indivíduos vivem ou não
sozinhos, se vivem em meio rural ou urbano, qual o seu estado civil, se sofrem de doenças
e se são crónicas, sabendo a sua duração, ou agudas, sabendo a sua frequência e se tomam
algum tipo de medicação), e isto iria permitir uma melhor compreensão da amostra.

15
SCRIBD

Em jeito de conclusão, gostava de sugerir a importância de se efetuarem novos


estudos que partilhem os objetivos aqui propostos, nomeadamente estudos com uma
amostra maior e mais bem definida face aos dados sociodemográficos Pode alargar-se o
estudo a outras zonas do País, estudar-se as diferentes faixas etárias. Penso que também
é importante estudar se a solidão se mantém estável em períodos maiores de tempo do
que aquele que se efetuou neste estudo. Considero importante a realização de estudos em
Portugal que associem as variáveis estudadas com a medição de determinados parâmetros
bioquímicos de forma a perceber se estas podem ter alguma influência em outras doenças
crónicas, nomeadamente cognitivas e também para identificar quais as causas comuns
para a depressão e solidão.

Viver até aos 100 ou 120 anos deixará, dentro de 40 anos, de ser exceção. Sabemos
que a velhice sempre existiu e sempre existirá, contudo quando nos deparamos com uma
sociedade maioritariamente idosa, há que saber lidar com este fato. E saber lidar com este
fato, é perceber os problemas inerentes ao envelhecimento, e a solidão e a depressão são
fatores preponderantes nesta etapa da vida. Mas, quando falamos em solidão e depressão
falamos de uma só entidade? Com efeito coloca-se cada vez mais a questão de se a solidão
e a depressão tem diferentes características e particularidades, daí a pertinência de tratar
a solidão como uma entidade isolada da depressão.
Neste sentido e ainda que existam diversos investigadores desde os anos 50 que
estudaram a solidão, um fator importante nasce na North American Nursing Diagnosis
Association (NANDA) que coloca a solidão como uma entidade isolada com
procedimentos de diagnóstico e intervenção (Carpentino, citado em Pocinho, 2007).
Posto isto, torna-se plausível, verificar se a solidão e a depressão são entidades
separadas, cada uma com as suas características. Só assim se evitam psicoterapias
incorretas e até o uso e abuso de psicofármacos que são dispensáveis ou até mesmo
incorretos.
Na perspetiva de Augusto e seus colaboradores (2008), para que possa existir uma
definição consistente de solidão, é necessário incluir uma outra componente, a temporal,
esta pode ser transitória ou persistente, ou seja, pode estar presente na vida do individuo
durante um longo ou um curto período, consoante a variedade de causas e consequências.
As pessoas que sofrem de solidão descrevem-se num sentido muito negativo com auto
depreciações, utilizam expressões como: vazio, inacessível, separado do outro, só,
sozinho, vulneráveis, relações inadequadas, vazio espiritual, referem que se sentem

16
SCRIBD

passivos, não apreciados e, muitas vezes, dizem-se irritados quando alguém quer alterar
este estado (Pocinho 2007). Nestes estados de descrição, a solidão e infelicidade
começam a tornar-se crónicas estando já correlacionadas com o risco de depressão
(Booth, 2000). O risco de depressão aumenta quando estes estados de descrição
depreciativos começam a aumentar Pocinho 2007).
Estudos, desenvolvidos por Cacioppo, Hawkley, Ernst, Burleson, Berntson Nouriani
& Spiegel (2006) relacionaram a solidão com o humor, ansiedade, raiva, otimismo,
autoestima, receio de avaliações negativas, competências sociais e suporte social. Foi
também encontrada uma relação entre solidão e fatores de personalidade como
instabilidade emocional, amabilidade, timidez e sociabilidade. Sentir solidão é mais do
que alguém sentir-se infeliz, na medida que também aumenta os sentimentos de
insegurança e sensibilidade às ameaças e rejeições. Os autores também não encontraram
evidências de que pensamentos intrusivos sobre acontecimentos traumáticos, seriam
responsáveis, para que os indivíduos sentissem menos controlo ou mais efeitos
depressivos, ansiedade, raiva e pessimismo do que os indivíduos “ não solitários”.
Analisando o construto solidão face à idade, percebe-se que a tendência geral que se
encontra é para a solidão diminuir com a idade, obtendo as pessoas mais idosas as
pontuações mais baixas de solidão. Na perspetiva de Neto ( 2000), à medida que as
pessoas vão avançando na idade, as suas vidas sociais podem tornar-se mais estáveis,
podendo assim a idade acarretar maiores habilidades sociais e expectativas mas realistas
acerca das relações sociais.
Em estudos mais recentes, Cacioppo, Hawkley & Thisted (2010) concluíram que a
solidão diminui a partir dos 45-55 anos para aumentar a partir dos 65-75 anos. No estudo
desenvolvido por Pocinho (2007), o sentimento de solidão parecia aumentar para os
indivíduos com mais de 74 anos.
Analisando a solidão em termos do género, um estudo realizado por Beal (2006)
revelou que as mulheres idosas relatam mais solidão do que seus pares masculinos. A
solidão é uma área de preocupação relacionada com o bem-estar das mulheres mais
velhas, porque é uma causa de angústia emocional e está ligada a uma variedade de
problemas de saúde nos indivíduos mais idosos. As mudanças da própria vida, incluindo
a viúvez, aumenta a vulnerabilidade para a existência de solidão. Assim, fatores como o
género, o estatuto social e cultural influencia a experiencia de solidão nas mulheres mais
velhas.

17
SCRIBD

Autores como Rius-Ottenheim, Kromhout, van der Mast, Zitman, Geleijnse & Giltay
( 2012) também demostram interesse em perceber o impacto da solidão sobre os homens
mais velhos, tendo concluído que estes, com expectativas de resultados positivos são
menos propensos a experimentar sentimentos de solidão, apesar das transições
estressantes relacionadas com a idade da vida tardia. Porque o envelhecimento é
inevitavelmente relacionado a eventos estressantes da vida. Estes estudos indicaram
também que que os homens mais velhos, com expectativas positivas em relação ao futuro
são menos propensos a terem sentimentos subjetivos de solidão, apesar do
envelhecimento e dos eventos de vida negativos, tais como luto e a deterioração da saúde
O interesse de pesquisa crescente sobre os sentimentos de solidão, relaciona-se com
a preocupação com os efeitos que a solidão tem sobre a saúde física e mental dos adultos
mais velhos (Shiovitz-Ezra & Ayalon, 2011). Neste sentido, para a área da enfermagem,
a solidão é vista como uma doença ( Killen, 1998), embora ao nível do tratamento este
não exista, este pode ser minimizado em certa medida, um exemplo desta perspetiva é o
diagnóstico de enfermagem desenvolvido pela North American Nursing Diagnosis
Association ( NANDA), a qual define solidão, como o risco de vivenciar desconforto
associado a um desejo ou necessidade de mais contacto com outros, considerando como
fatores de risco: falta de energia, isolamento físico, isolamento social e privação afetiva (
NANDA, 2009-2011).
Mesmo a solidão fazendo parte da Associação de Diagnósticos de Enfermagem da
América do Norte (NANDA) este construto não foi ainda incorporado no Manual de
Estatística e Diagnóstico (DSM-IV). Uma razão para esta omissão pode ser, segundo
Booth (2000), a falta de familiaridade dos clínicos com o conceito como um constructo
isolado/discreto, mas apenas ser compreendido como correlacionado com outras
patologias, nomeadamente a depressão.
Pesquisas realizadas na última década têm fornecido um forte apoio para os efeitos da
solidão na sintomatologia depressiva Cacioppo, Hawkley, e Thisted, (2010),
VanderWeele, Hawkley, Thisted, & Cacioppo (2011). Estes estudos têm mostrado que a
solidão é um fator de risco para um conjunto de problemas, quer ao nível psicológico
como fisiológicos, assim, alguns estudos têm considerado a solidão como o único fator
de risco para estas causas independentemente da existência de suporte social, de
sintomatologia depressiva, da existência de stress percebido, hostilidade ou outros efeitos
negativos, muitas vezes equiparados à solidão, por vezes de forma errónea (Booth, 2000;
Cacioppo, Hawkley, et al., 2006; Cacioppo, Hughes, Waite, Hawkley, & Thisted, 2006)

18
SCRIBD

Numa pesquisa em teses académicas verificou-se a presença de uma elevada percentagem


de indivíduos (>75%) com índices de solidão, sendo que 1/3 deles, foram identificados
como deprimidos, mas não apresentam valores significativos de solidão. Estes resultados
apontam a confirmação do construto de solidão como uma possível entidade
independente da depressão.

Este resultado poderá representar a evidência de que o construto solidão, poderá vir a
ser uma entidade diagnostica, separando-se assim da depressão, tal como já identificado
pela Associação de Diagnósticos de Enfermagem da América do Norte (NANDA).
No segmento oposto, temos um valor relativamente reduzido (23,6%) de indivíduos
que apresentam depressão, sem indícios de solidão. Podemos também perceber, que o
instrumento utilizado para análise da solidão (UCLA), não está orientado unicamente para
a análise de situações de isolamento social, uma vez que este critério não esteve presente
na definição da amostra. Sugere-se, deste modo, a existência, de uma possível solidão
crónica, já outrora referenciada na literatura por Young em 1982 (citado por Rosedale,
2007) na introdução, o qual refere que as crenças irracionais impossibilitam o individuo
de estabelecer relações pessoais satisfatórias.
Os maiores níveis de solidão encontram-se em indivíduos do grupo etário 65-74,
evidencia já identificada por outros autores referenciados na introdução (Cacioppo,
Hawkley & Thisted, 2010). Este grupo etário parece estar invariavelmente associado ao
período de entrada na reforma, tal como comentado na literatura por inúmeros autores,
como uma fase do ciclo da vida, na qual os indivíduos, realizam uma reflexão sobre o
desenvolvimento da suas vidas olhando para os objetivos atingidos e por atingir. A este
propósito, Lachman ( 2001), referencia esta fase como um processo que envolve perdas
e ganhos, que desencadeia afetos simultaneamente positivos e negativos e que,
consequentemente se faz acompanhar de algum grau de stress. Os estudos realizados por
Jones e Meredith ( 2000), concluíram que há períodos do ciclo da vida em que a saúde
psicológica dos indivíduos pode declinar, temporária ou permanentemente, devido à
reorientação de si mesmos para novos papeis e responsabilidades, constituindo o período
de entrada na reforma um desses momentos. Também Erikson através da sua teoria do
desenvolvimento psicossocial enquadra a idade da reforma numa crise assente em
sentimentos de integridade versus desesperança, uma vez que, o individuo que sente o
aproximar do fim da vida e que já sabe não ter muito pela frente, vê-se forçado a olhar
para trás e contemplar o que fez e ou o que não fez como pessoa, e daí poder resultar um

19
SCRIBD

sentido de integridade e satisfação, ou antes pelo contrário de amargura e inaceitação do


confronto com a morte, é assim um momento para fazer um balanço e reflectir sobre a
vida (Veríssimo, 2002).
Quanto à variável sexo, concluísse que a solidão é independente do sexo. Esta conclusão
difere na maioria dos estudos, ao quais indicam a existência de uma maior prevalência do
indicie de solidão entre as mulheres em relação aos homens (Beal, 2006; Rius-Ottenheim,
Kromhout, van der Mast, Zitman, Geleijnse & Giltay ( 2012)
Segundo Neto (2000), seria de esperar, tendo em conta a tendência geral para reações
emocionais negativas serem mais frequentes nas mulheres, que estas se sentissem mais
frequentemente a solidão do que os homens, contudo os estudos efetuados sobre a solidão
não são conclusivos em termos das diferenças sexuais, uma vez que alguns estudos
mostraram não existir diferenças significativas entre homens e mulheres. O estudo de
validação da Escala de Solidão UCLA desenvolvido por Russel, Peplau e Cutrona, em
1980, são exemplo desse facto. Na perspetiva de Neto ( 2000), este resultado pode estar
relacionado com a medida utilizada na avaliação da solidão, uma vez que os estudos que
realizaram a Escala de Solidão UCLA, a qual não questiona diretamente os sujeitos sobre
o sentimento de solidão, mas sim de forma indireta, poderá permitir, por exemplo aos
homens, expressarem a sua solidão subjacente de uma forma mais livre, do que
aconteceria em estudos que utilizam a metodologia por questionário, em que os
indivíduos são questionados diretamente.
No estudo (da claudia) verificamos que existem um numero significativo de sujeitos
idosos sem depressão que apresentam elevados níveis de solidão o que nos leva a
questionar, uma vez mais, sobre a importância da solidão ser uma entidade separada da
depressão. A verdade é que existem alguns estudos sobre a solidão e a depressão. Dos
mais simples que demonstram que indivíduos que apresentam depressão e solidão têm
um maior risco de mortalidade (Stek, Vinkers, Gussekloo, Beekman, Van Der Mast,
Westendorp, 2005), e também de declínio funcional (Perissinotto, Cenzer, Covinsky,
2012) aos que correlacionam a solidão e a depressão, mas com a presença de fatores,
como o estatuto socio económico, escolaridade, estado civil. Segundo Aylaz, Aktürk,
Erci, Öztürk & Aslan no seu estudo em 2012, observaram que existia uma correlação
significativa entre a solidão e a depressão nas pessoas idosas que viviam em comunidade,
a presença da segurança social e rendimentos mais elevados. Singh & Misra (2009)
apontam que a depressão é um problema que acompanha a solidão mascarando os
sintomas da solidão.

20
SCRIBD

Cacioppo, Hughes, Waite, Hawkley & Thisted em 2006, referem que a solidão e a
depressão se relacionam entre si, e que até se influenciam mutuamente ao longo do tempo,
contudo são constructos diferentes.
Neste estudo as mulheres apresentam mais solidão que os homens. Berg, Mellstrom,
Persson e Svanborg num estudo realizado em 1981, com uma amostra representativa de
1007 idosos com 70 anos, em Suécia demonstraram que a solidão afetava 24% das
mulheres e 12% dos homens. Os fatores mais importantes relacionados ao sentimento de
solidão foram a perda do cônjuge, depressão do humor e falta de amigos. O solitário tinha
uma autoavaliação de saúde negativa e precisava de mais cuidados de ambulatório e
sedativos.

Aanes, M. M., Hetland, J., Pallesen, S., & Mittelmark, M. B. (2011). Does loneliness
mediate the stress-sleep quality relation? The Hordaland Health Study.
International Psychogeriatrics / IPA, 23(6), 994–1002.
doi:10.1017/S1041610211000111

Cacioppo, J. T., Hawkley, L. C., & Berntson, G. G. (2003). The anatomy of loneliness.
Current Directions in Psychological Science, 12(3), 71–74. doi:10.1111/1467-
8721.01232

Cacioppo, J. T., Hawkley, L. C., Ernst, J. M., Burleson, M., Berntson, G. G., Nouriani,
B., & Spiegel, D. (2006). Loneliness within a nomological net: An evolutionary
perspective. Journal of Research in Personality, 40(6), 1054–1085.
doi:10.1016/j.jrp.2005.11.007

Cacioppo, J. T., Hawkley, L. C., Norman, G. J., & Berntson, G. G. (2011). Social
isolation. Annals of the New York Academy of Sciences, 1231, 17–22.
doi:10.1111/j.1749-6632.2011.06028.x

Cacioppo, J. T., Hughes, M. E., Waite, L. J., Hawkley, L. C., & Thisted, R. a. (2006).
Loneliness as a specific risk factor for depressive symptoms: cross-sectional and
longitudinal analyses. Psychology and Aging, 21(1), 140–51. doi:10.1037/0882-
7974.21.1.140

Fromm-Reichman, F. (1959). Loneliness. Psychiatry: Journal for the Study of


Interpersonal Processes, 22, 1–15.

Harison, P. (2012). Loneliness increase dementia risk among the elderly. Medscape
News-Psychiatry and Mental Health. Retrieved August 18, 2014, from
http://www.medscape.com/viewarticle/776327 .

Hawkley, L. C., Cole, S. W., Capitanio, J. P., Norman, G. J., & Cacioppo, J. T. (2012).
Effects of social isolation on glucocorticoid regulation in social mammals.
Hormones and Behavior, 62(3), 314–23. doi:10.1016/j.yhbeh.2012.05.011
21
SCRIBD

HS, S. (1953). The interpersonal theory of psychiatry (p. 393). New York: Norton;
1953.: Norton.

Jong-Gierveld, J. (1987). Developing and testing a model of loneliness. Journal of


Personality and Social Psychology, 53(1), 119–128. doi:10.1037/0022-
3514.53.1.119

Jong-Gierveld, J. (1998). A review of loneliness: concept and definitions, determinants


and consequences. Reviews in Clinical Gerontology, 8(1), 73–80.
doi:10.1017/S0959259898008090

Lopes, R. F., Lopes, M. T. F., & Camara, V. D. (2009). Entendendo a solidão do idoso.
Revista Brasileira de Ciências Do Envelhecimento Humano, 6(3), 373–381.
doi:10.5335/rbceh.2009.036

Moreira, V., & Callou, V. (2006). Fenomenologia da solidão na depressão, 4, 67–83.

Perlman, D., & Peplau, L. A. (1982). Theoretical approaches to loneliness. In L. A.


Peplau & D. Perlman (Eds.), Loneliness: A sourcebook of current theory, research,
and therapy. New York: Wiley-Interscience publication.

Pocinho, M., Farate, C., & Dias, C. A. (2010). Validação Psicométrica da Escala
UCLA-Loneliness para Idosos Portugueses. Interações: Sociedade E Novas
Modernidades, (18), 65–77.

Russell, D. W., Cutrona, C. E., McRae, C., & Gomez, M. (2012). Is Loneliness the
Same as Being Alone? The Journal of Psychology, 146(1-2), 7–22.
doi:10.1080/00223980.2011.589414

Singh, B., & Kiran, U. V. (2013). Loneliness among elderly women. International
Journal of Humanities and Social Science Invention, 2(2), 10–14. Retrieved from
www.ijhssi.org

Weiss, R. S. (1973). Loneliness: The experience of emotional and social isolation.


Cambridge: MIT Press.

Weiss, R. S. (1989). Reflections on the present state of loneliness research. In


Loneliness: Theory, research and applications (p. 51.56). Newbury Park,
California: Sage Publications.

Yatchinovsky, A. (2000). L’approche systémique : pour gérer l'incertitude et la


complexité (p. 168). Paris.

22

Você também pode gostar