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Esmeralda Macedo
2019
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Índice
Solidão 3
Introdução 3
Abordagem psicodinâmica 4
Perspetiva fenomenológica 5
Perspetiva sociológica 6
Perspetiva interacionista 6
Perspetiva cognitiva 7
Perspetiva sistémica 9
Perspetiva existencial 9
Epidemiologia da solidão 9
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Solidão
Introdução
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Abordagem psicodinâmica
Em 1938, Zilborg publicou provavelmente a primeira análise psicológica da
solidão, distinguindo estar só de ser solitário. O autor definir a primeira como um estado
normal e transitório e a segunda uma experiencia esmagadoramente persistente.
A abordagem psicodinâmica considera que a solidão reflete traços básicos de
narcisismo, megalomania e hostilidade. O solitário retém sentimentos infantis de
omnipotência pessoal e é egocêntrico. Os narcisistas têm a tendência de desenvolver uma
ligação com seu ambiente através do exercício de poder sobre ele. Por meio deste
mecanismo, somente conseguem construir alguma unidade. A união com o outro e com
o mundo é oferecida pela capacidade estratégica de subjugar-se a uma pessoa, um grupo,
a um Deus, etc. tentando desta forma, superar o isolamento e sentindo-se parte de um
grande poder, com qual se uniu ainda que toda e qualquer integração autêntica esteja
ausente.
Solidão, de acordo com Sullivan (1953), é uma "experiência extremamente
desagradável que conduz a uma extrema e inadequada necessidade de intimidade humana
(290 p.). Sullivan marcou o pensamento de Frieda Fromm-Reichmann, a autora mais
citada, dentro da temática da solidão, devido a um artigo científico que publicou no final
da década de 50 do seculo passado, sobre a solidão. Tema que tinha sido quase sempre
ignorado pelos outros psicanalistas até então. Mesmo Freud só lhe havia tocado de
passagem. Fromm-Reichmann sugeriu que, mesmo de estados benignos de solidão, é
difícil falar sobre a mesma. Algumas pessoas protegem-se do sofrimento da solidão
negando a sua experiência.
Tal como Sullivan e Zilborg também Frieda Fromm-Reichmann traçou as origens
da solidão nas experiencia na infância
A autora defendia que a solidão, era um dos fenómenos psicológicos mais
importantes no desenvolvimento da doença mental cujo conceito estava
insatisfatoriamente trabalhado. Considerava que a solidão era um estado extremo e
destrutivo e estava associada ao pânico e à ansiedade.
À data, a solidão era relatada e discutida por poetas, pacientes e filósofos, mas
pouco desenvolvida na área psicológica (Fromm-Reichman, 1959). Em 1973, Robert
Weiss foi um dos primeiros cientistas a delinear uma teoria que relacionava a solidão com
a vinculação (attachment theory of loneliness) em que refere que a solidão é tida como
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uma angústia crónica sem nenhuma característica positiva. Esta sua assunção resulta da
observação de que os indivíduos experimentaram solidão devido à perda de um parceiro
íntimo, uma vez encontrado um novo parceiro, a solidão "magicamente" desaparecia
(Weiss, 1973). Neste sentido, Weiss (1973, 1989) define a solidão como a angústia da
separação, sem um objeto, que é muito mais uma descrição afetiva da solidão. Em 1982,
Peplau e Perlman, editaram um trabalho que compilava as pesquisas da solidão que
existiam até à data e consideraram que as posições dos teóricos psicodinâmicos era clara
e que resultavam da sua observação e que emergia no setting clinico. Talvez por este
motivo os psicodinâmicos sejam consensuais em considerar a solidão como patologia.
Provavelmente, mais do que qualquer outro grupo teórico, os investigadores
psicodinâmicos atribuem à solidão fenómenos relacionados com as vivências precoces
dos indivíduos que sofrem desta patologia. Contudo a forma de lidar com estas
experiencias precoces que resultaram em podem ter o foco nas relações interpessoais ou
intrapessoais (traço, conflitos intrapsíquicos, etc). Para Pocinho (2007) apesar da
definição de solidão ser de difícil definição, as pessoas continuam a descrever e a sentir
a sua solidão, mesmo que não tenham um conhecimento completo sobre ela e sobre as
suas causas ou consequências. Fundamentalmente a solidão pode ser conceptualizada
como uma condição afetiva adversa acompanhada por possíveis cognições problemáticas,
circunstâncias de vida, estratégias de resolução de problemas e vários outros fatores de
carácter individual e/ou social.
Perspetiva fenomenológica
Carl Rogers, o pai da terapia centrada no cliente, é a quem mais se dá mais crédito
dentro da perspetiva fenomenológica da solidão e a sua análise acerca da mesma reflete
a sua teoria da personalidade. Rogers define a solidão como “is sharpest and most
poignant in the individual who has for one reason or another, found himself standing,
without some of his costomary defenses, a vulnerable, frightened, lonely but real self,
sure of rejection in a judgmental world” (1979, 1973, p.119). para este autor, esta crença
de desamor mantem a pessoa aprisionada na sua solidão. O medo da rejeição impede os
sujeitos de resistir e retem-os no seu isolamento social e assim manter os seus sentimentos
de vazio. Seguindo esta linha de pensamento Moore (1976) colocou a hipótese de uma
discrepância entre o self atual e o idealizado pode resultar em solidão. Tal como os
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Perspetiva sociológica
A perspetiva sociológica define a solidão como o resultado da produção social do
individuo “Ego-centrado” e “Individualista”, que ao firmar sua individualidade, firma
também a fragmentação do universo social e o isolamento. Esta perspetiva tem como
representantes Bowman (1955), Riesman e Slater.
Segundo a perspetiva sociológica, ao contrário da psicodinâmica, a solidão advém
de fatores externos como deficits sociais, expetativas irrealistas, eventualidades da vida e
fatores internos, como fatores psicológicos desde disfunções cognitivas, afetiva, mas
também os traços de personalidade: por exemplo, os indivíduos com uma personalidade
evitante têm limitações nas habilidades sociais, fazendo com que sofram de solidão
(Jones, 1992, Pocinho, 2007, Singh & Misra, 2009).
Importa, ainda, referir que, independentemente da perspetiva, estar sozinho e
isolamento voluntário, não são tidos como solidão, pois são premeditados e até podem
ser benéficos. A solidão, não é algo deliberado, é um estado emocional doloroso, que
contém aspetos negativos, provocando nostalgia, tristeza, saudade sendo por isso
considerado um conceito subjetivo: as pessoas que sentem solidão sentem-se sozinhas,
não sendo algo planeado (Cacioppo, Hawkley, & Berntson, 2003; Perlman & Peplau,
1982; Pocinho, Farate, & Dias, 2010; Russell, Cutrona, McRae, & Gomez, 2012).
Perspetiva interacionista
Weiss é o líder da perspetiva interacionista e defende que a solidão se pode manifestar
de duas formas: emocional (como falta de integração social), e a solidão emocional (por
exemplo, a ausência de uma figura de vinculação segura). A solidão emocional é “a forma
mais dolorosa de isolamento e está relacionada com a falta de relacionamento emocional
íntimo, por exemplo a morte do cônjuge. A solidão social está relacionada com uma
lacuna na rede social por exemplo, perda de amigos próximos, contudo estas deficiências
nas relações sociais que servem funções específicas (por exemplo, fixação, integração
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social, nutrição). Apesar de estes dois tipos de solidão poderem levar o indivíduo a isolar-
se, a verdade é que mesmo que se tenha um conjunto de amigos e uma boa rede social, o
indivíduo poderá sentir solidão emocional por não ter uma companhia íntima (Cacioppo
et al., 2003; Cacioppo, Hughes, Waite, Hawkley, & Thisted, 2006; Cacioppo, Hawkley,
et al., 2006).
Os seres humanos por natureza são uma espécie dependente e estão durante toda
a sua vida dependentes das relações para sobreviver e prosperar. A recompensa social do
sentimento de ligação a outros e a dor social do sentimento de desligamento servem uma
função adaptativa, ou seja, para motivar a formação, manutenção e alimentando-se de
relações sociais que promovem a sobrevivência (Aanes, Hetland, Pallesen, & Mittelmark,
2011; Cacioppo et al., 2003; Cacioppo, Hawkley, Norman, & Berntson, 2011; Cacioppo,
Hughes, et al., 2006; Hawkley, Cole, Capitanio, Norman, & Cacioppo, 2012; Singh &
Kiran, 2013).
Jong Grieveld definiu solidão como “uma situação vivida pelo indivíduo onde
existe uma desagradável ou inadmissível falta de (qualidade de) certas relações. Isto inclui
situações em que o número de relações existentes é menor do que é considerado desejável
ou aceitável, bem como situações em que a intimidade que o indivíduo deseja não foi
atingida”. Segundo este autor e seus colaboradores esta perspetiva a solidão engloba a
maneira pela qual a pessoa percebe, experiência e avalia o seu isolamento e a falta (ou
falha) de comunicação com outras pessoas. Esta definição de solidão considera-a como
um fenómeno multidimensional onde três dimensões se individualizam. A primeira
dimensão, “privação” diz respeito às sensações associadas à ausência de um acessório
íntimo, sentimentos de vazio ou abandono, sendo a base de todo o conceito já que se
refere à incapacidade do indivíduo desenvolver relações sociais consideradas
satisfatórias. A segunda dimensão é um tipo de solidão situacional e transitória já que tem
em conta a perspetiva temporal (será que as pessoas interpretam a sua solidão como sendo
inerente à Vida ou como mutável e tratável, que elas culpam os outros ou a si próprias
pela situação em que se encontram?). A terceira dimensão envolve diferentes tipos de
aspetos emocionais, como tristeza, sentimentos de vergonha, culpa, frustração e
desespero (Jong-Gierveld, 1987, 1998; Pocinho et al., 2010).
Perspetiva cognitiva
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Perspetiva sistémica
A perspetiva sistémica insere-se num paradigma científico que substitui a causalidade
linear pela circular e permite o estudo dos fenómenos complexos ao tomar em
consideração a complexidade que os caracteriza (Yatchinovsky, 2000). O enquadramento
científico desta abordagem assenta sobre um tripé conceptual composto pela teoria geral
dos sistemas, que define o sistema e as suas propriedades, pela cibernética, que se debruça
sobre os mecanismos de auto-regulação dos sistemas complexos, e pela pragmática da
comunicação humana, que nos permite perceber o valor comunicacional do
comportamento . Nesta perspetiva a solidão é um mecanismo de feedback para ajudar os
indivíduos ou a sociedade a manterem estável o contacto humano.
Perspetiva existencial
O existencialismo tem como ponto de partida o facto de que os humanos são solitários
ninguém mais experiencia o nossos pensamentos e sentimentos. A individualidade é uma
condição essencial à nossa existência. Aqueles que aceitam este ponto de vista colocam
o foco na questão em como é que se pode viver com a sua solidão. A visão da solidão é
positiva e o principio é de que qualquer experiencia de solidão envolve o confronto ou
um encontro consigo próprio. Tanto o encontro como a confrontação são formas de estar
vivo num mundo relativamente estagnado.
Epidemiologia da solidão
Singh e Kiran (2013) referem que a solidão é mais comum nos homens idosos
solteiros e nas mulheres de qualquer idade. Existem alguns estudos que analisam a relação
entre solidão e a depressão, o alcoolismo, a doença física e o luto contudo, faltam estudos
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emocional que conduz à tristeza e a uma sensação de vazio. Apesar dos efeitos negativos
da solidão, esta pode ser interpretada como uma sensação natural, contudo quando passa
a ser uma solidão crónica pode ser a base de diversos problemas emocionais que
perturbam a vida do indivíduo. Quando comparamos a solidão com a depressão, esta
última é mais atraente e segura, uma vez que atualmente conhecem-se diferentes
mecanismos quer psicoterapêuticos quer medicamentosos para se obter uma cura ou pelo
menos atenuar os efeitos provocados. Atualmente a solidão continua a ser um poço sem
fundo, uma vez que se trata difícil de diagnosticar e muito mais de tratar, sobretudo pela
falta de bases terapêuticas que a definam.
Neste trabalho propusemo-nos a analisar a forma como a solidão e a depressão se
relacionam e se se podem considerar entidades totalmente independentes ou se estão
relacionadas e coexistem. Através dos resultados obtidos após a aplicação da correlação
de Pearson obteve-se uma correlação positiva para estas duas variáveis. Ou seja, nos casos
estudados neste trabalho se a solidão aumenta a depressão também aumenta e vice-versa,
mostrando desta forma que as duas situações existem de forma concomitante, o que
verifica as conclusões obtidas em outros estudos (Cacciopo et al. 2006, Jaremka et al.
2012) Para Barg et al. (2006), os idosos relacionam o sentimento de solidão a conceitos
de depressão e consideram mesmo a solidão como predisponente da depressão.
Resultados prévios mostram que quer a depressão quer a solidão podem ter resultados
preditivos uma da outra (Cacciopo & Hughes 2006). Weeks et al. (1980) afirmam que se
a solidão e a depressão se relacionam e uma vez que nenhuma é causa da outra, a melhor
hipótese para justificar esta relação é a de partilharem diversas causas em comum.
Contudo não se coloca de lado a hipótese de ter havido alguma confusão por parte dos
participantes, uma vez que ao responderem a ambos os testes no mesmo momento, podem
ter tido dificuldades em interpretar os seus sentimentos, ou seja, fica a dúvida se esses
sentimentos de solidão despertaram nesse instante respostas positivas para sinais de
depressão ou o contrário, sintomas de depressão que se refletem em parâmetros de solidão
Um outro objetivo deste estudo era o de perceber se a solidão e a depressão podem
estar de alguma forma relacionadas com o género. Um dos fatores de risco que tem sido
identificado para a depressão é o género, tendo sido avaliado em estudos epidemiológicos
realizados, através de métodos e meios de diagnóstico semelhantes em diferentes nações,
culturas e etnias, e revelando a depressão mais prevalente em mulheres que em homens.
Muitas teorias têm sido propostas, no entanto, ainda nenhuma conseguiu explicar
completamente essa diferença de género. Estas diferenças de género não são bem
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Viver até aos 100 ou 120 anos deixará, dentro de 40 anos, de ser exceção. Sabemos
que a velhice sempre existiu e sempre existirá, contudo quando nos deparamos com uma
sociedade maioritariamente idosa, há que saber lidar com este fato. E saber lidar com este
fato, é perceber os problemas inerentes ao envelhecimento, e a solidão e a depressão são
fatores preponderantes nesta etapa da vida. Mas, quando falamos em solidão e depressão
falamos de uma só entidade? Com efeito coloca-se cada vez mais a questão de se a solidão
e a depressão tem diferentes características e particularidades, daí a pertinência de tratar
a solidão como uma entidade isolada da depressão.
Neste sentido e ainda que existam diversos investigadores desde os anos 50 que
estudaram a solidão, um fator importante nasce na North American Nursing Diagnosis
Association (NANDA) que coloca a solidão como uma entidade isolada com
procedimentos de diagnóstico e intervenção (Carpentino, citado em Pocinho, 2007).
Posto isto, torna-se plausível, verificar se a solidão e a depressão são entidades
separadas, cada uma com as suas características. Só assim se evitam psicoterapias
incorretas e até o uso e abuso de psicofármacos que são dispensáveis ou até mesmo
incorretos.
Na perspetiva de Augusto e seus colaboradores (2008), para que possa existir uma
definição consistente de solidão, é necessário incluir uma outra componente, a temporal,
esta pode ser transitória ou persistente, ou seja, pode estar presente na vida do individuo
durante um longo ou um curto período, consoante a variedade de causas e consequências.
As pessoas que sofrem de solidão descrevem-se num sentido muito negativo com auto
depreciações, utilizam expressões como: vazio, inacessível, separado do outro, só,
sozinho, vulneráveis, relações inadequadas, vazio espiritual, referem que se sentem
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passivos, não apreciados e, muitas vezes, dizem-se irritados quando alguém quer alterar
este estado (Pocinho 2007). Nestes estados de descrição, a solidão e infelicidade
começam a tornar-se crónicas estando já correlacionadas com o risco de depressão
(Booth, 2000). O risco de depressão aumenta quando estes estados de descrição
depreciativos começam a aumentar Pocinho 2007).
Estudos, desenvolvidos por Cacioppo, Hawkley, Ernst, Burleson, Berntson Nouriani
& Spiegel (2006) relacionaram a solidão com o humor, ansiedade, raiva, otimismo,
autoestima, receio de avaliações negativas, competências sociais e suporte social. Foi
também encontrada uma relação entre solidão e fatores de personalidade como
instabilidade emocional, amabilidade, timidez e sociabilidade. Sentir solidão é mais do
que alguém sentir-se infeliz, na medida que também aumenta os sentimentos de
insegurança e sensibilidade às ameaças e rejeições. Os autores também não encontraram
evidências de que pensamentos intrusivos sobre acontecimentos traumáticos, seriam
responsáveis, para que os indivíduos sentissem menos controlo ou mais efeitos
depressivos, ansiedade, raiva e pessimismo do que os indivíduos “ não solitários”.
Analisando o construto solidão face à idade, percebe-se que a tendência geral que se
encontra é para a solidão diminuir com a idade, obtendo as pessoas mais idosas as
pontuações mais baixas de solidão. Na perspetiva de Neto ( 2000), à medida que as
pessoas vão avançando na idade, as suas vidas sociais podem tornar-se mais estáveis,
podendo assim a idade acarretar maiores habilidades sociais e expectativas mas realistas
acerca das relações sociais.
Em estudos mais recentes, Cacioppo, Hawkley & Thisted (2010) concluíram que a
solidão diminui a partir dos 45-55 anos para aumentar a partir dos 65-75 anos. No estudo
desenvolvido por Pocinho (2007), o sentimento de solidão parecia aumentar para os
indivíduos com mais de 74 anos.
Analisando a solidão em termos do género, um estudo realizado por Beal (2006)
revelou que as mulheres idosas relatam mais solidão do que seus pares masculinos. A
solidão é uma área de preocupação relacionada com o bem-estar das mulheres mais
velhas, porque é uma causa de angústia emocional e está ligada a uma variedade de
problemas de saúde nos indivíduos mais idosos. As mudanças da própria vida, incluindo
a viúvez, aumenta a vulnerabilidade para a existência de solidão. Assim, fatores como o
género, o estatuto social e cultural influencia a experiencia de solidão nas mulheres mais
velhas.
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Autores como Rius-Ottenheim, Kromhout, van der Mast, Zitman, Geleijnse & Giltay
( 2012) também demostram interesse em perceber o impacto da solidão sobre os homens
mais velhos, tendo concluído que estes, com expectativas de resultados positivos são
menos propensos a experimentar sentimentos de solidão, apesar das transições
estressantes relacionadas com a idade da vida tardia. Porque o envelhecimento é
inevitavelmente relacionado a eventos estressantes da vida. Estes estudos indicaram
também que que os homens mais velhos, com expectativas positivas em relação ao futuro
são menos propensos a terem sentimentos subjetivos de solidão, apesar do
envelhecimento e dos eventos de vida negativos, tais como luto e a deterioração da saúde
O interesse de pesquisa crescente sobre os sentimentos de solidão, relaciona-se com
a preocupação com os efeitos que a solidão tem sobre a saúde física e mental dos adultos
mais velhos (Shiovitz-Ezra & Ayalon, 2011). Neste sentido, para a área da enfermagem,
a solidão é vista como uma doença ( Killen, 1998), embora ao nível do tratamento este
não exista, este pode ser minimizado em certa medida, um exemplo desta perspetiva é o
diagnóstico de enfermagem desenvolvido pela North American Nursing Diagnosis
Association ( NANDA), a qual define solidão, como o risco de vivenciar desconforto
associado a um desejo ou necessidade de mais contacto com outros, considerando como
fatores de risco: falta de energia, isolamento físico, isolamento social e privação afetiva (
NANDA, 2009-2011).
Mesmo a solidão fazendo parte da Associação de Diagnósticos de Enfermagem da
América do Norte (NANDA) este construto não foi ainda incorporado no Manual de
Estatística e Diagnóstico (DSM-IV). Uma razão para esta omissão pode ser, segundo
Booth (2000), a falta de familiaridade dos clínicos com o conceito como um constructo
isolado/discreto, mas apenas ser compreendido como correlacionado com outras
patologias, nomeadamente a depressão.
Pesquisas realizadas na última década têm fornecido um forte apoio para os efeitos da
solidão na sintomatologia depressiva Cacioppo, Hawkley, e Thisted, (2010),
VanderWeele, Hawkley, Thisted, & Cacioppo (2011). Estes estudos têm mostrado que a
solidão é um fator de risco para um conjunto de problemas, quer ao nível psicológico
como fisiológicos, assim, alguns estudos têm considerado a solidão como o único fator
de risco para estas causas independentemente da existência de suporte social, de
sintomatologia depressiva, da existência de stress percebido, hostilidade ou outros efeitos
negativos, muitas vezes equiparados à solidão, por vezes de forma errónea (Booth, 2000;
Cacioppo, Hawkley, et al., 2006; Cacioppo, Hughes, Waite, Hawkley, & Thisted, 2006)
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Este resultado poderá representar a evidência de que o construto solidão, poderá vir a
ser uma entidade diagnostica, separando-se assim da depressão, tal como já identificado
pela Associação de Diagnósticos de Enfermagem da América do Norte (NANDA).
No segmento oposto, temos um valor relativamente reduzido (23,6%) de indivíduos
que apresentam depressão, sem indícios de solidão. Podemos também perceber, que o
instrumento utilizado para análise da solidão (UCLA), não está orientado unicamente para
a análise de situações de isolamento social, uma vez que este critério não esteve presente
na definição da amostra. Sugere-se, deste modo, a existência, de uma possível solidão
crónica, já outrora referenciada na literatura por Young em 1982 (citado por Rosedale,
2007) na introdução, o qual refere que as crenças irracionais impossibilitam o individuo
de estabelecer relações pessoais satisfatórias.
Os maiores níveis de solidão encontram-se em indivíduos do grupo etário 65-74,
evidencia já identificada por outros autores referenciados na introdução (Cacioppo,
Hawkley & Thisted, 2010). Este grupo etário parece estar invariavelmente associado ao
período de entrada na reforma, tal como comentado na literatura por inúmeros autores,
como uma fase do ciclo da vida, na qual os indivíduos, realizam uma reflexão sobre o
desenvolvimento da suas vidas olhando para os objetivos atingidos e por atingir. A este
propósito, Lachman ( 2001), referencia esta fase como um processo que envolve perdas
e ganhos, que desencadeia afetos simultaneamente positivos e negativos e que,
consequentemente se faz acompanhar de algum grau de stress. Os estudos realizados por
Jones e Meredith ( 2000), concluíram que há períodos do ciclo da vida em que a saúde
psicológica dos indivíduos pode declinar, temporária ou permanentemente, devido à
reorientação de si mesmos para novos papeis e responsabilidades, constituindo o período
de entrada na reforma um desses momentos. Também Erikson através da sua teoria do
desenvolvimento psicossocial enquadra a idade da reforma numa crise assente em
sentimentos de integridade versus desesperança, uma vez que, o individuo que sente o
aproximar do fim da vida e que já sabe não ter muito pela frente, vê-se forçado a olhar
para trás e contemplar o que fez e ou o que não fez como pessoa, e daí poder resultar um
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Cacioppo, Hughes, Waite, Hawkley & Thisted em 2006, referem que a solidão e a
depressão se relacionam entre si, e que até se influenciam mutuamente ao longo do tempo,
contudo são constructos diferentes.
Neste estudo as mulheres apresentam mais solidão que os homens. Berg, Mellstrom,
Persson e Svanborg num estudo realizado em 1981, com uma amostra representativa de
1007 idosos com 70 anos, em Suécia demonstraram que a solidão afetava 24% das
mulheres e 12% dos homens. Os fatores mais importantes relacionados ao sentimento de
solidão foram a perda do cônjuge, depressão do humor e falta de amigos. O solitário tinha
uma autoavaliação de saúde negativa e precisava de mais cuidados de ambulatório e
sedativos.
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