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FACULDADE ESTÁCIO DO AMAPÁ

Curso de Direito

ANÁLISE ACERCA DO DIREITO DE LOCOMOÇÃO NA PANDEMIA DO


CORONAVÍRUS (SARS-COV-2) CAUSADOR DA DOENÇA CHAMADA
“COVID-19”

SALORRAN MARQUES VIEIRA CAMPOS

Macapá
2020.2
SALORRAN MARQUES VIEIRA CAMPOS

ANÁLISE ACERCA DO DIREITO DE LOCOMOÇÃO NA PANDEMIA DO


CORONAVÍRUS (SARS-COV-2) CAUSADOR DA DOENÇA CHAMADA
“COVID-19”

Trabalho de conclusão de curso, sob a


modalidade de artigo científico,
apresentado ao Colegiado do Curso de
Direito, da Faculdade Estácio do
Amapá- FAMAP, como requisito para a
obtenção do Título de Bacharel em
Direito.

Prof. Orientador: Fernando de


Alvarenga Barbosa.

Macapá
2020.2
RESUMO

O objeto da presente pesquisa consiste na análise do direito de locomoção em


tempos de pandemia de Coronavírus (SARS-COV-2) causador da doença
chamada Covid-19. A pesquisa partiu do questionamento acerca do limite das
autoridades públicas em restringir o direito de ir e vir dos cidadãos brasileiros. A
sociedade em geral, assim, como, as autoridades públicas divergiram quanto ao
tema. Neste sentido, o Supremo Tribunal Federal chegou à conclusão de que as
restrições impostas não violam o direito de locomoção que pode ser limitado em
casos de calamidade pública ou estado de emergência e em prol da vida. A
metodologia utilizada para a consecução da presente pesquisa é
predominantemente bibliográfica, consistindo basilarmente no estudo da
Constituição da República, leis, doutrina, obras e jurisprudências
correlacionadas ao tema.

Palavras-Chave: Pandemia de Coronavírus. Violação. Direito de locomoção.


Direito à vida.
SUMÁRIO

1. Introdução; 2 Histórico do Direito de Locomoção no ordenamento jurídico; 3


Histórico do direito de locomoção no ordenamento jurídico brasileiro; 4. Da
flexibilização do direito de locomoção com o objetivo de preservar a vida; 5. O
direito de locomoção limitado pelo poder público em tempos de pandemia; 6.
análise acerca do direito de locomoção na Pandemia do Corona Vírus (SARS-
COV-2) causador da doença chamada COVID-19;
2

1 INTRODUÇÃO

O direito de locomoção, direito constitucionalmente assegurado a todos


os cidadãos brasileiros, no Brasil, teve início na Constituição da República de
março de 1824.
Anteriormente, já havia discussões acerca do direito de ir e vir dos
cidadãos, entretanto, tal direito somente era assegurado a poucos cidadãos, a
exemplo dos comerciantes que em 1215 tinham o direito à liberdade.
Neste contexto surgiu a presente pesquisa, cujo objetivo precípuo
consiste na análise acerca do direito de locomoção na Pandemia do Coronavírus
(SARS-COV-2) causador da doença chamada de COVID-19.
A pesquisa mencionada partiu do seguinte problema científico: “Podem
as autoridades no âmbito de suas atribuições durante uma pandemia, limitar o
direito de ir e vir dos cidadãos?
Para responder ao problema supramencionado, partiu-se das seguintes
questões norteadoras: “O Estado pode interferir na vida do cidadão sem violar
seus direitos fundamentais, a saber o direito de locomoção? Pode o direito de
locomoção ser flexibilizado com o objetivo de assegurar o direito à vida? A
interferência do Poder Público no direito de locomoção em tempos de pandemia
viola os direitos do cidadão?
Para responder às questões suscitadas no presente trabalho, foi
necessário arguir acerca do limite do Poder Público, bem como sua interferência
no direito de locomoção dos cidadãos brasileiros.
A metodologia utilizada para a consecução da presente pesquisa é
predominantemente bibliográfica, consistindo basilarmente no estudo da
Constituição da República, das leis, doutrina, obras e jurisprudências
correlacionadas ao tema.

2. Histórico do Direito de Locomoção no ordenamento jurídico

O direito de locomoção, hoje entendido como um dos direitos


fundamentais do cidadão foi inserido na Magna Carta da Inglaterra no ano de
1215. Naquela época os barões obrigaram o rei inglês João Sem Terra a assinar
a Constituição “que garantia aos comerciantes e homens livres a liberdade de
3

entrar e sair da Inglaterra, nela residir e percorrer tanto por terra quanto por mar,
ressalvada as situações de guerra.” (arts. 41 e 42)1.
Por outro lado, o ilustre pensador Jaques Rousseau defendia que não só
os comerciantes e homens livres mereciam ter o direito de ir e vir, mas que a
todos fossem assegurados o direito de locomoção. Para Rousseau; “Todos os
homens nascem livres, e a liberdade faz parte da natureza do homem e dos
direitos inalienáveis do homem, seriam a garantia equilibrada da igualdade e da
liberdade.”2 Após 500 anos da assinatura da Carta Magna, outra declaração de
direitos dos homens foi declarada, qual seja, declaração de direitos da Virgínia
que defendia o direito à vida e a liberdade, isto em 16 de junho de 1776.
A constituição de Portugal em 1822, sob a influência da revolução
francesa, conceituou a palavra liberdade como “A faculdade que compete a cada
um de fazer tudo o que a lei não proíbe, enquanto que a conservação dessa
liberdade depende da exata observância das leis.” Este conceito, apesar de ter
sido redigido há cerca de 180 anos, ainda é aplicado, tendo em vista que a única
limitação imposta à liberdade individual é aquela decorrente da lei.

3 Histórico do direito de locomoção no ordenamento jurídico brasileiro

A liberdade de locomoção sempre esteve presente no nosso ordenamento


jurídico. Inicialmente, não era tão explícito, no texto da Constituição de 25 de
março de 1824 era disciplinado pelo artigo 178 que preceituava o seguinte:
Art. 178. É só constitucional o que diz respeito aos limites, e atribuições
respectivas dos Poderes Políticos, e aos Direitos Políticos, e individuais
dos Cidadãos. Tudo, o que não é constitucional, pode ser alterado sem
as formalidades referidas, pelas Legislaturas ordinárias.

In casu, garantia-se os direitos civis ao cidadão brasileiro, mas não se


fazia distinção entre o direito de ir e vir e entre outras liberdades individuais.
O direito de locomoção foi expressamente garantido pela primeira
constituição republicana do Brasil. A Constituição Federal de 24 de fevereiro de
1891 precisamente entendido no seu §10 do artigo 72 da seguinte forma:

1
INGLATERRA. Carta Magna. 1215. Disponível em:
https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/19900/a-constituicao-de-1215. Acesso em 14
de setembro de 2020 às 22h03min;
2
Rousseau, Jean Jacques. O Contrato social. Editora Ridento Castigat Moraes, 2002.
4

Art. 72. A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros


residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à
liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos
seguintes:

§ 10. Em tempo de paz qualquer pessoa pode entrar no território


nacional ou dele sair com a sua fortuna e bens, quando e como lhe
convier, independentemente de passaporte.”

A Constituição de 1934 repetiu de forma expressa o direito de ir e vir do


cidadão brasileiro, inclusive aos estrangeiros, mas com a ressalva da exigência
de passaporte. Ao contrário do que garantia a Constituição de 1934, a
Constituição de 1937, no seu artigo 122, inciso II, garantiu a liberdade de
locomoção apenas aos brasileiros.
A constituição que abordou a garantia ao direito de locomoção em sua
totalidade estendendo-o a qualquer cidadão, indistintamente, brasileiro ou
estrangeiro, foi a Constituição de 1946, expressamente em seu artigo 142 que
“Em tempo de paz, qualquer pessoa poderá com os seus bens entrar no território
nacional, nele permanecer ou dele sair, respeitados os preceitos da lei.”
Na vigência da Constituição de 1967 a liberdade locomoção sofreu
severas limitações, considerando que o país estava sob o regime militar. A
emenda constitucional adotada pelo presidente Artur da Costa e Silva, em
dezembro de 1968 , ato institucional número cinco (AI-5), externavam as
arbitrariedades que atacavam o direito de ir e vir dos cidadãos brasileiros,
destacando-se principalmente, a ilegalidade das reuniões políticas não
autorizadas pelo Estado e o toque de recolher que foram implementados em todo
o País.
Passado esse período intranquilo da história brasileira, observando a
pretensão da população com o movimento diretas já, o Poder Constituinte foi
alavancado para elaborar e promover a redação da atual Constituição, criada em
1988, também conhecida como a Constituição Cidadã que assegura no seu
artigo 5º, inciso XV o direito à liberdade de locomoção:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)
5

XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz,


podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer
ou dele sair com seus bens;

Desde a promulgação da Constituição da República, o Brasil não tinha


passado por momentos delicados capazes de afetar o direito de locomoção de
seus cidadãos, entretanto, como será abordado a partir do tópico seguinte, com
a pandemia do corona vírus e a decretação do estado de calamidade pública
pelo Congresso Nacional em 20 de março de 2020 através do Decreto-
Legislativo n. 63, os brasileiros, foram obrigados a abrir mão de determinados
direitos, inclusive o direito de locomoção em favor do direito à vida.

4. Da flexibilização do direito de locomoção com o objetivo de preservar a vida

A liberdade de locomoção é direito protegido pela nossa Constituição,


garantindo-se que todo o cidadão tenha o direito de ir e vir. Essa garantia,
todavia, não pode se sobrepor a outros direitos fundamentais, a exemplo dos
direitos à vida e à segurança, bem como o direito à saúde. a liberdade da pessoa
deve ter restrições quando pode colocar a saúde e a vida das outras pessoas
em risco, especialmente quando estamos diante de um vírus de rápida
transmissibilidade4.
Em tempos de pandemia causada pelo coronavírus (COVID-19) diversas
medidas restritivas no tocante aos direitos às liberdades fundamentais
asseguradas constitucionalmente foram tomadas pelos Chefes de Estado para
combaterem o avanço da pandemia.
O Presidente da República editou a Lei n. 13.9795, de 6 de fevereiro de
2020 que “Dispõe sobre as medidas para enfrentamento da emergência de

3
Brasil. Decreto-Legislativo n. 06 de março de 2020. Reconhece, para os fins do art. 65 da Lei
Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, a ocorrência do estado de calamidade pública, nos
termos da solicitação do Presidente da República encaminhada por meio da Mensagem nº 93,
de 18 de março de 2020. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/portaria/DLG6-
2020.htm. Acesso em 29 set 2020 às 19:00h50m
4
https://www.lbs.adv.br/artigo/direitos-individuais-x-direitos-coletivos-durante-a-pandemia;
5
BRASIL. Lei nº. 13.979/2020 de 06 de fevereiro de 2020. Dispõe as medidas para
enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do
coronavirus responsável pelo surto de 2019. Disponível em: http://www2.planalto.gov.br. Acesso
em 13 de agosto de 2020 às 21h01min;
6

saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus


responsável pelo surto de 2019”.
A lei supramencionada conhecida como "LEI DA QUARENTENA"
possibilitou diversas medidas, como, por exemplo:

Art. 3º Para enfrentamento da emergência de saúde pública de


importância internacional de que trata esta Lei, as autoridades poderão
adotar, no âmbito de suas competências, entre outras, as seguintes
medidas: (Redação dada pela Lei nº 14.035, de 2020)

I - isolamento;

II - quarentena;

III - determinação de realização compulsória de:

a) exames médicos;

b) testes laboratoriais;

c) coleta de amostras clínicas;

d) vacinação e outras medidas profiláticas; ou

e) tratamentos médicos específicos;

III-A – uso obrigatório de máscaras de proteção individual. (Incluído


pela Lei nº 14.019, de 2020);

IV - estudo ou investigação epidemiológica;

V - exumação, necropsia, cremação e manejo de cadáver;

VI - restrição excepcional e temporária de entrada e saída do País,


conforme recomendação técnica e fundamentada da Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa), por rodovias, portos ou aeroportos;

VI - restrição excepcional e temporária, conforme recomendação


técnica e fundamentada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária,
por rodovias, portos ou aeroportos de: (Redação dada pela Medida
Provisória nº 926, de 2020);

a) entrada e saída do País; e (Incluído pela Medida Provisória nº 926,


de 2020);

b) locomoção interestadual e intermunicipal; (Incluído pela Medida


Provisória nº 926, de 2020). (Vide ADI 6343);

VI – restrição excepcional e temporária, por rodovias, portos ou


aeroportos, de:(Redação dada pela Lei nº 14.035, de 2020);

a) entrada e saída do País; e (Incluído pela Lei nº 14.035, de 2020);

b) locomoção interestadual e intermunicipal; (Incluído pela Lei nº


14.035, de 2020);
7

(...)

Após a entrada em vigor da Lei da Quarentena, surgiram diversas


divergências em relação a competência do Poder Executivo Federal, Poder
Executivo Estadual e Poder Executivo Municipal acerca das medidas de
proteção a saúde. O Congresso Nacional através do Decreto-Lei n. 6 de março
de 2020 determinou a criação de uma comissão mista de senadores com o
objetivo de acompanhar a situação fiscal e a execução orçamentária e financeira
das medidas relacionadas à emergência de saúde pública nos seguintes termos:

Faço saber que o Congresso Nacional aprovou, e eu, Antônio


Anastasia, Primeiro Vice-Presidente do Senado Federal, no exercício
da Presidência, nos termos do parágrafo único do art. 52 do Regimento
Comum e do inciso XXVIII do art. 48 do Regimento Interno do Senado
Federal, promulgo o seguinte

DECRETO LEGISLATIVO Nº 6, DE 2020

Reconhece, para os fins do art. 65 da Lei Complementar nº 101, de 4


de maio de 2000, a ocorrência do estado de calamidade pública, nos
termos da solicitação do Presidente da República encaminhada por
meio da Mensagem nº 93, de 18 de março de 2020.

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1º Fica reconhecida, exclusivamente para os fins do art. 65 da Lei


Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, notadamente para as
dispensas do atingimento dos resultados fiscais previstos no art. 2º da
Lei nº 13.898, de 11 de novembro de 2019, e da limitação de empenho
de que trata o art. 9º da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de
2000, a ocorrência do estado de calamidade pública, com efeitos até
31 de dezembro de 2020, nos termos da solicitação do Presidente da
República encaminhada por meio da Mensagem nº 93, de 18 de março
de 2020.

Art. 2º Fica constituída Comissão Mista no âmbito do Congresso


Nacional, composta por 6 (seis) deputados e 6 (seis) senadores, com
igual número de suplentes, com o objetivo de acompanhar a situação
fiscal e a execução orçamentária e financeira das medidas
relacionadas à emergência de saúde pública de importância
internacional relacionada ao coronavírus (Covid-19).

§ 1º Os trabalhos poderão ser desenvolvidos por meio virtual, nos


termos definidos pela Presidência da Comissão.

§ 2º A Comissão realizará, mensalmente, reunião com o Ministério da


Economia, para avaliar a situação fiscal e a execução orçamentária e
financeira das medidas relacionadas à emergência de saúde pública
de importância internacional relacionada ao coronavírus (Covid-19).

§ 3º Bimestralmente, a Comissão realizará audiência pública com a


presença do Ministro da Economia, para apresentação e avaliação de
relatório circunstanciado da situação fiscal e da execução orçamentária
8

e financeira das medidas relacionadas à emergência de saúde pública


de importância internacional relacionada ao coronavírus (Covid-19),
que deverá ser publicado pelo Poder Executivo antes da referida
audiência.

Art. 3º Este Decreto Legislativo entra em vigor na data de sua


publicação.

Senado Federal, em 20 de março de 2020.

SENADOR ANTONIO ANASTASIA


Primeiro Vice-Presidente do Senado Federal, no exercício da
Presidência.

Com o avanço da pandemia em todos os Estados as autoridades públicas,


executivo, legislativo e judiciário foram obrigados a sopesar acerca do direito do
cidadão à liberdade de locomoção ou o direito fundamental à vida.
Inicialmente, foram adotadas apenas medidas educativas, entretanto, tais
medidas não foram suficientes para cessar a propagação do vírus. Diante desse
contexto os governantes foram obrigados a tomar medidas mais severas com o
intuito de preservar a vida dos brasileiros, contudo, houve divergência no que
tange às competências dos Estados e Municípios.
O Presidente Jair Bolsonaro, entendia que cabia apenas ao Governo
Federal definir quais serviços e/ou medidas restritivas poderiam ser adotadas ou
mantidos.
Divergindo da opinião do Presidente da República, diversos
parlamentares entenderam que “a Constituição é clara ao permitir que União,
estados e municípios tratem de forma conjunta de assuntos relacionadas à
saúde pública e, numa situação grave como essa, é preciso que todos se
mobilizem.”
O Partido Democrático Trabalhista ajuizou Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) 6341)6com a finalidade de ver declarada a
incompatibilidade parcial, com a Constituição Federal, da Medida Provisória nº
926, de 20 de março de 20207, relativamente às alterações promovidas no artigo

6
BRASIL. Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 6341. Disponível em:
http://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=441447&ori=1. Acesso em: 29
set 2020 às 20:00h50m
7
Medida Provisória nº 926, de 20 de março de 2020. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/Mpv/mpv926.htm#:~:text=. Acesso em
29 set 2020.
9

3º, cabeça, incisos I, II e VI, e parágrafos 8º, 9º, 10 e 11, da Lei federal nº 13.979,
de 6 de fevereiro de 2020:

Art. 3º Para enfrentamento da emergência de saúde pública de


importância internacional decorrente do coronavírus, as autoridades
poderão adotar, no âmbito de suas competências, dentre outras, as
seguintes medidas:

I – isolamento;

II – quarentena;

[…]

VI - restrição excepcional e temporária, conforme recomendação


técnica e fundamentada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária,
por rodovias, portos ou aeroportos de:

a) entrada e saída do País;

b) locomoção interestadual e intermunicipal;

[…]

§ 8º As medidas previstas neste artigo, quando adotadas, deverão


resguardar o exercício e o funcionamento de serviços públicos e
atividades essenciais.

§ 9º O Presidente da República disporá, mediante decreto, sobre os


serviços públicos e atividades essenciais a que se referem o § 8º.

§ 10. As medidas a que se referem os incisos I, II e VI do caput, quando


afetarem a execução de serviços públicos e atividades essenciais,
inclusive as reguladas, concedidas ou autorizadas, somente poderão
ser adotadas em ato específico e desde que em articulação prévia com
o órgão regulador ou o Poder concedente ou autorizador.

§ 11. É vedada a restrição à circulação de trabalhadores que possa


afetar o funcionamento de serviços públicos e atividades essenciais,
definidas nos termos do disposto no § 9º, e cargas de qualquer espécie
que possam acarretar desabastecimento de gêneros necessários à
população.

O Partido Rede Sustentabilidade também ajuizou Ação Direta de


Inconstitucionalidade para suspender parcialmente a eficácia de dispositivos das
Medidas Provisórias (MPs 926 e 927/2020).
Diante da celeuma, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), por
unanimidade, confirmou o entendimento de que as medidas adotadas pelo
Governo Federal na Medida Provisória (MP) 926/2020 para o enfrentamento do
novo coronavírus não afastam a competência concorrente nem a tomada de
10

providências normativas e administrativas pelos estados, pelo Distrito Federal e


pelos municípios8:

O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), em sessão realizada


nesta quarta-feira (6), decidiu que estados e municípios, no âmbito de
suas competências e em seu território, podem adotar,
respectivamente, medidas de restrição à locomoção intermunicipal e
local durante o estado de emergência decorrente da pandemia do novo
coronavírus, sem a necessidade de autorização do Ministério da Saúde
para a decretação de isolamento, quarentena e outras providências.
Por maioria de votos, os ministros deferiram medida cautelar na Ação
Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 6343, ajuizada pelo partido Rede
Sustentabilidade, para suspender parcialmente a eficácia de
dispositivos das Medidas Provisórias (MPs) 926/2020 e 927/2020.

Segundo a decisão, a União também tem competência para a


decretação das mesmas medidas, no âmbito de suas atribuições,
quando houver interesse nacional.

Ademais, a Corte decidiu que a adoção de medidas restritivas relativas


à locomoção e ao transporte, por qualquer dos entes federativos, deve
estar embasada em recomendação técnica fundamentada de órgãos
da vigilância sanitária e tem de preservar o transporte de produtos e
serviços essenciais, assim definidos nos decretos da autoridade
federativa competente.

As MPs alteraram dispositivos da Lei 13.979/2020, que trata das


medidas para enfrentamento da pandemia, e impuseram aos entes
federados a obrigação de seguir as recomendações dos órgãos
federais sobre o tema.

A decisão do STF permitiu que os Estados e Municípios tomassem suas


próprias decisões com base em dados estatísticos e de acordo com a realidade
de cada ente.

5. O direito de locomoção limitado pelo poder público em tempos de pandemia.

No Estado do Amapá, por exemplo, O Governo do Estado editou o


Decreto n 1.375 de 17 de março de 20209 que dispõe a Decretação da situação
anormal caracterizada como Situação de Emergência em todo território do Estado do

8
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Disponível em:http:// portal.stf.jus.br/ noticias/ ver Noticia
Detalhe.asp? id Conteudo =441447&ori=1. Acesso em: 29 set 2020 às 21:00h28m.
9
AMAPÁ. Governo do Estado. Decreto n 1.375 de 17 de março de 20209 que dispõe a
Decretação da situação anormal caracterizada como Situação de Emergência em todo território
do Estado do Amapá, visando à prevenção, mitigação, preparação e resposta ao risco de
Desastre Natural – Biológico - Epidemia – Doença infecciosa viral causada pelo novo
Coronavírus - COVID-19, com Codificação COBRADE nº 1.5.1.1.0 e dá outras providências.
Disponível em: http://www.transparencia.ap.gov.br/informacoes/atos_normativos. Acesso em: 01
out 2020 às 19:00h24m.
11

Amapá, visando à prevenção, mitigação, preparação e resposta ao risco de Desastre


Natural – Biológico - Epidemia – Doença infecciosa viral causada pelo novo Coronavírus
- COVID-19, com Codificação COBRADE nº 1.5.1.1.0 e da outras providências:

Decreta:

(...)

Art. 2º Autoriza-se a mobilização de todos os órgãos estaduais para


atuarem sob a coordenação da Superintendência em Vigilância em
Saúde - SVS, nas ações de prevenção, mitigação, preparação e
resposta, a fim de evitar o desastre ou minimizar seus efeitos sobre a
população.

Art. 3º Fica autorizada a Superintendência em Vigilância em Saúde -


SVS a promover e organizar ações no sentido de facilitar a integração
e envolvimento da comunidade e os agentes públicos, visando a
educação e sensibilização da população em risco de ser afetada pelo
desastre.

Art. 4º Com base no artigo 4º, da Lei nº 13.979, de 06.022020 e no


inciso IV, do artigo 24 , da Lei nº 8.666 , de 21.06.1993, sem prejuízo
das restrições da Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000 ), ficam
dispensados de licitação os contratos de aquisição de bens
necessários às atividades de prevenção, mitigação, preparação e
resposta a propagação do Coronavírus - Covid-19, de prestação de
serviços e de obras relacionadas com a reabilitação dos cenários dos
desastres, desde que possam ser concluídas no prazo máximo de
cento e oitenta dias consecutivos e ininterruptos, contados a partir da
caracterização do desastre, vedada a prorrogação dos contratos.

Art. 5º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Posteriormente, com o agravamento da situação, o Governo do Estado do


Amapá editou o decreto n. 1.413 de 19 de março de 2020 10 declarando estado
de calamidade pública em decorrência do agravamento da pandemia de COVID-
19:

Declara estado de calamidade pública, para os fins do art.65 da Lei


Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000,em razão da grave crise
de saúde pública decorrente da pandemia da COVID-19 (novo
Coronavírus), e suas repercussões nas finanças públicas do Estado do
Amapá, e dá outras providências.

10
AMAPÁ. Governo do Estado do. Declara estado de calamidade pública, para os fins do art.65
da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, em razão da grave crise de saúde pública
decorrente da pandemia da COVID-19 (novo Coronavírus), e suas repercussões nas finanças
públicas do Estado do Amapá, e dá outras providências. Disponível em https://l
eisestaduais.com.br/ ap/decreto-n-1413-2020-amapa-declara-estado-de-calamidade- publica-
para-os- fins-do-art-65-da-lei-complementar-no-101-de-4-de-maio-de-2000-em-razao-da-grave-
crise-de -saude-publica- decorrente-da- pandemia-da- covid-19-novo- coronavirus-e-suas-
repercussoes- nas-financas-publicas-do-estado-do-amapa-e-da-outras-providencias. Acesso
em: 01 out 2020 às 22:00h33m.
12

O GOVERNADOR DO ESTADO DO AMAPÁ, usando das atribuições


que lhe são previstas no inciso II, do art.11 e inciso VIII, do art. 119, da
Constituição do Estado do Amapá, c/c, inciso II, do art. 23 e inciso VII,
do art. 24, da Constituição do Estado do Amapá,

Considerando a grave crise de saúde pública em decorrência da


pandemia da Covid-19 declarada pela Organização Mundial da Saúde
– OMS – que afeta todo o sistema interfederativo de promoção e
defesa da saúde pública estruturado nacionalmente por meio do
Sistema Único de Saúde - SUS;

Considerando a sua repercussão nas finanças públicas em âmbito


nacional, conforme reconhecido pelo Governo Federal ao enviar a
Mensagem nº 93/2020 ao Congresso Nacional para os fins do art. 65,
da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000 (Lei de
Responsabilidade Fiscal);

Considerando que a referida crise impõe o aumento de gastos públicos


e o estabelecimento das medidas de enfrentamento da emergência de
saúde pública de importância internacional decorrente da aludida
pandemia; e

Considerando, ainda, todos os esforços de reprogramação financeiros


já empreendidos para ajustar as contas estaduais, em virtude de se
manter a prestação dos serviços públicos e de adotar medidas no
âmbito estadual para o enfrentamento da grave situação de saúde
pública,

DECRETA:

Art. 1º Fica decretado estado de calamidade pública, para os fins


exclusivos do art. 65, da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de
2000, em razão da grave crise de saúde pública decorrente da
pandemia da COVID-19 (novo Coronavírus), e suas repercussões nas
finanças públicas do Estado do Amapá.

Art. 2º Ficam as autoridades competentes autorizadas a adotar


medidas excepcionais necessárias para combater à disseminação da
Covid-19 (novo Coronavírus) em todo o território do Estado do Amapá.

Art. 3º As autoridades competentes editarão os atos normativos


necessários à regulamentação e execução dos atos administrativos em
razão do estado de calamidade pública decretado.

Art. 4º O Poder Executivo solicitará, por meio de mensagem


governamental enviada à Assembleia Legislativa do Estado do Amapá,
o reconhecimento do estado de calamidade pública, para os fins do art.
65, da Lei de Responsabilidade Fiscal, nos termos do inciso V, do
artigo 102, da Constituição do Estado do Amapá.

Art. 5º Este Decreto entrará em vigor na data de sua publicação.

ANTÔNIO WALDEZ GÓES DA SILVA


Governador

O Prefeito Municipal de Macapá, através do Decreto n. 1.692, de 18 de


março de 2020, impôs diversas medidas para o enfrentamento da pandemia do
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COVID-19, entretanto, tais medidas não foram suficientes para barrar a


disseminação do vírus.
Diante da gravidade da situação, o Prefeito editou o novo decreto, Decreto
Municipal nº 2.058, de 15 de maio de 2020 11, determinando a “restrição de
locomoção ou circulação de pessoas (lockdown) com normas de isolamento
rígido no Município de Macapá, visando a contenção do avanço da pandemia do
novo coronavírus:

Decreta:

Art. 1º Fica instituído Regime Emergencial de Intensificação das


medidas de restrição de locomoção ou circulação de pessoas
(lockdown) com normas de isolamento rígido no Município de Macapá,
visando a contenção do avanço da pandemia do Novo Coronavírus
(COVID-19), pelo período de 10 (dez) dias, podendo ser prorrogado.

Art. 2º O regime de restrição de circulação de veículos automotores


nas vias públicas do Município de Macapá, independentemente de sua
localidade de licenciamento, será realizado na seguinte conformidade:

I - Nos dias do mês de número par, será permitido o trânsito de veículo


cujo último número de sua placa for par;

II - Nos dias do mês de número ímpar, será permitido o trânsito de


veículo cujo último número de sua placa for ímpar.

§ 1º A restrição de que trata o caput deste artigo ocorrerá todos os dias,


incluindo sábados, domingos e feriados, das 6h00 (seis horas) às 0h00
(zero hora).

§ 2º Em todos os casos permitidos de circulação é obrigatório o uso de


máscara e cumprimento das demais regras previstas na legislação em
vigor.

Parágrafo único. Para fins de fiscalização durante a vigência deste


Decreto, os veículos que não foram emplacados, poderão circular sem
placas nos dias do mês que for par. A Deliberação CONTRAN nº 185
de 19.03.2020, surgida em decorrência da COVID-19, suspendeu por
tempo indeterminado as providências necessárias à efetivação da
expedição de Certificado de Registro de Veículo (CRV) em caso de
transferência de propriedade de veículo e relativos a registro e
licenciamento de veículos novos. (Parágrafo acrescentado pelo
Decreto Nº 2074 DE 18/05/2020).

Art. 3º As restrições previstas nos incisos I e II do artigo 2º deste


Decreto abrangem todas as vias urbanas e rurais que estão situadas
no território do Município de Macapá, das formas abaixo descritas:

§ 1º Barreiras Sanitárias Móveis.

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MACAPÁ. Prefeitura Municipal de. Decreto Municipal nº 2.058 , de 15 de maio de 2020,
alterado pelo Decreto Municipal nº 2.074 , de 18 de maio de 2020, com efeitos a contar do dia
29.05.2020, redação dada pelo Decreto Nº 2124 DE 28/05/2020. Acesso em: 01 out 2020 às
22:00h25m.
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§ 2º Bloqueio total com uso de barreiras.

Art. 4º Os Bairros com maiores incidências de infectados pelo Novo


Coronavírus (COVID-19), terão ações intensivas para seu combate e
prevenção, evitando-se aglomerações de pessoas, com o intuito de
aumentar o índice de isolamento:

I - As ações serão desenvolvidas nos bairros com maiores índices de


infecção e menor índice de isolamento;

II - Serão montadas barreiras sanitárias pela Companhia de Trânsito e


Transporte de Macapá - CTMAC, Guarda Civil Municipal de Macapá e
Polícia Militar do Estado do Amapá nas fiscalizações;

III - Serão fiscalizados constantemente os estabelecimentos


comerciais pelos servidores da Secretaria Municipal de Meio Ambiente,
Desenvolvimento Sustentável e Postura Urbana, Secretaria Municipal
de Finanças, Secretaria Municipal de Mobilização e Participação
Popular, Coordenadoria de Vigilância e Saúde de Macapá e da
Superintendência e Vigilância e Saúde do Estado do Amapá - SVS,
Guarda Civil Municipal de Macapá e Polícia Militar do Estado do
Amapá. (Redação do inciso dada pelo Decreto Nº 2074 DE
18/05/2020).

Parágrafo único. Serão desenvolvidas as seguintes ações:


Disponibilização de máscaras, aferição de temperatura, desinfecção
de ruas e calçadas nos bairros e outras ações de fiscalizações por meio
do Superintendência de Vigilância em Saúde - SVS.

Art. 5º As ruas e avenidas do centro comercial serão bloqueadas para


passagem de veículos, sendo permitido somente para pessoas
autorizadas na forma do art. 7º deste Decreto.

Art. 6º Os bairros com menores incidências de infectados pelo Novo


Coronavírus (COVID-19), terão barreiras sanitárias para verificação do
rodízio de veículos.

Art. 7º Ficam excluídos da restrição de circulação de veículos nas


seguintes atividades: (Redação do caput dada pelo Decreto Nº 2074
DE 18/05/2020).

I - De transportes coletivos, devidamente autorizados a operar o


serviço;

II - Motocicletas e similares que façam entrega a delivery;

III - Táxis, mototáxis;

IV - Guinchos, devidamente autorizados a operar o serviço;

V - Aqueles destinados a socorro de incêndio e salvamento, os de


polícia, os de fiscalização e operação de trânsito e as ambulâncias,
devidamente identificados por dispositivos regulamentares de alarme
sonoro e iluminação vermelha intermitente;

VI - Aqueles, próprios ou contratados, desde que devidamente


identificados utilizados em serviços públicos essenciais, assim
considerados, para os fins deste Decreto:

a) defesa civil;
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b) das forças armadas;

c) de fiscalização e operação de transporte de passageiros;

d) funerários;

e) penitenciários;

f) assistência social e os Conselhos Tutelares;

g) do Poder Judiciário;

h) utilizados no transporte de materiais necessários à campanhas


públicas, inclusive as de saúde pública e da defesa civil, bem como na
prestação de serviços de caráter social;

i) das empresas públicas de atendimento à emergências químicas,


devidamente identificados.

VII - aqueles, próprios ou contratados, desde que devidamente


identificados, utilizados em obras e serviços essenciais, assim
definidos para os fins deste Decreto:

a) de implantação, instalação e manutenção de redes e equipamentos


de infraestrutura urbana, atinentes a energia elétrica, iluminação
pública, água e esgoto, telecomunicações e dados;

b) de implantação, manutenção e conservação da sinalização viária,


bem como de apoio à operação de trânsito, quando à serviço de órgão
de trânsito;

c) de coleta de lixo, devidamente autorizados a operar o serviço;

d) de obras, manutenção e conservação de vias e logradouros


públicos;

e) dos Correios;

f) de transporte de combustível;

g) de transporte de insumos diretamente ligados às atividades


hospitalares;

h) de transporte de sangue e derivados, de órgãos para transplantes e


de material para análises clínicas;

i) de transporte de valores, devidamente autorizados pelo


Departamento de Polícia Federal;

j) de escolta armada, devidamente autorizada pelo Departamento de


Polícia Federal;

k) de reportagem voltados à cobertura jornalística;

l) de transporte de produtos alimentares perecíveis, ou seja, todo


alimento alterável ou instável à temperatura ambiente, processado ou
não, congelado ou supergelado, ou que necessite estar
obrigatoriamente em temperaturas estabelecidas por legislação
específica;
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m) Veículo Urbano de Carga (VUC) e fretamento, como furgão,


caminhão de pequeno porte, com dimensões e características que
sejam adequadas à distribuição de mercadorias e abastecimento no
meio urbano, com licença de tráfego em vigor, expedidas pela
Companhia de Trânsito e Transporte de Macapá - CTMac;

n) unidades móveis especialmente adaptadas para prestação de


serviços médicos;

o) de manutenção e conservação de elevadores, devidamente


autorizados para a prestação deste serviço;

p) de atendimento a emergências química e ambiental relacionadas ao


transporte, devidamente credenciados pela Secretaria Municipal de
Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Postura Urbana.

VIII - aqueles próprios ou contratados, empregados em obras e


serviços essenciais, assim definidos para os fins deste Decreto, os de
abastecimento de farmácias, atacadistas, supermercados, minibox,
açougues, peixarias, hortifrutigranjeiros, revendedora de água,
panificadoras e de artigos médicos, odontológicos, ortopédicos e
hospitalares. (Redação do inciso dada pelo Decreto Nº 2074 DE
18/05/2020).

IX - veículos com isenção decorrente de regime jurídico próprio, assim


considerados a serem utilizados no trabalho diário:

a) os pertencentes a médicos;

b) os pertencentes a Missões Diplomáticas, Delegações Especiais,


Repartições Consulares de Carreira e de Representações de
Organismos Internacionais, devidamente registrados e emplacados
conforme disposições específicas;

c) os conduzidos por pessoa com deficiência da qual decorra


comprometimento de mobilidade ou por quem as transporte;

d) os conduzidos por pessoa com doença crônica que comprometa sua


mobilidade ou que realize tratamento continuado debilitante de doença
grave, como quimioterapia para tratamento oncológico, ou por quem
as transporte.

Art. 8º Também ficam excepcionados da restrição de circulação, os


veículos pertencentes às pessoas ocupantes das funções abaixo
descritas, cabendo ao empregador identificar os respectivos
profissionais e/ou apresentação da identificação funcional do
respectivo conselho de classe, quando utilizados no trabalho diário:

I - Profissionais da saúde, profissionais de enfermagem, técnicos ou


tecnólogos da saúde, médicos veterinários, fisioterapeutas,
farmacêuticos, nutricionistas, psicólogos, fonoaudiólogos, patologistas,
dentistas, cuidadores de idosos, pesquisadores da área da saúde,
guarda municipal, segurança, vigilância, manutenção e limpeza de
estabelecimentos hospitalares, de assistência médica e laboratoriais e
agentes que executam serviços administrativos; (Redação do inciso
dada pelo Decreto Nº 2074 DE 18/05/2020).

II - Servidores que exerçam atividade de segurança pública e


fiscalização administrativa, tais como Policial Militar, Policial Civil,
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Policial Federal, Polícia Rodoviária Federal, Agentes do Sistema


Penitenciário, Agentes da Polícia Técnico-Científica, Guarda Municipal
e Agentes Fiscais das Fazendas Federais, Estaduais e Municipais,
Advogados, Procuradores da República, Procuradores de Justiça,
Promotores de Justiça, Procuradores Federais, Estaduais e
Municipais, Desembargadores, Juízes Federais e Estaduais, oficiais de
justiça estaduais e federais; (Redação do inciso dada pelo Decreto Nº
2074 DE 18/05/2020).

III - Servidores e contratados do serviço funerário e da assistência


social, cabendo ao Serviço Funerário Municipal, à Secretaria Municipal
de Assistência Social e à Secretaria de Inclusão e Mobilização Social -
SIMS, identificar os profissionais;

IV - Profissionais de órgãos de imprensa, tais como jornal, rádio e


televisão, cabendo ao respectivo empregador identificar os
profissionais ou identificação funcional do respectivo conselho;

V - Profissionais atuantes nos serviços de zeladoria dos cemitérios do


Município de Macapá, cabendo a Secretaria de Zeladoria, do
Município, identificar os mesmos.

VI - Empregados de obras públicas e privadas, conforme Decreto


Municipal nº 1.710 , de 23 de Março de 2020. (Inciso acrescentado pelo
Decreto Nº 2074 DE 18/05/2020).

§ 1º A declaração aqui mencionada só poderá ser emitida para aqueles


enumerados neste artigo e será de uso exclusivo para o serviço,
devendo os excepcionados nos demais casos respeitar o rodízio
estabelecido no art. 2, inciso I e II deste Decreto. (Redação do
parágrafo dada pelo Decreto Nº 2074 DE 18/05/2020).

§ 2º Responde o declarante pela falsidade de sua informação, nos


termos do art. 299 do Código Penal , sem prejuízo das demais sanções
cabíveis. (Parágrafo acrescentado pelo Decreto Nº 2074 DE
18/05/2020).

Art. 9º Caberá a Companhia de Trânsito e Transporte da Macapá -


CTMac, por meio dos agentes da autoridade de trânsito, a Guarda Civil
Municipal de Macapá e a Polícia Militar do Estado do Amapá, a
fiscalização do cumprimento das restrições regulamentadas por este
Decreto e a aplicação de penalidade correspondente, conforme o art.
187 do Código de Trânsito Brasileiro , vejamos:

I - Transitar em locais e horários não permitidos pela regulamentação


estabelecida pela autoridade competente, para todos os tipos de
veículos: Infração - Média e Penalidade - multa, conforme inciso I, do
art. 187 do CTB no valor de R$ 130,16 (cento e trinta reais e dezesseis
centavos), conforme inciso III, do art. 258 do CTB.

§ 1º Será lavrada uma autuação por cada descumprimento para o


mesmo veículo por infringência ao art. 187 do CTB.

§ 2º As autuações lavradas serão comunicadas às autoridades policiais


competentes e ao Ministério Público do Estado, a fim de adotarem as
medidas judiciais necessárias, em razão de descumprimento do art.
268 do Código Penal que assim dispõe: "Infringir determinação do
Poder Público, destinada a impedir introdução ou propagação de
doença contagiosa".
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Art. 10. A restrição prevista neste Decreto se aplica aos caminhões,


ressalvados aqueles que prestam serviços essenciais, conforme
Decretos Municipais em vigor.

Art. 11. Toda a Legislação Municipal que versa sobre medidas relativas
ao combate ao Novo Coronavírus (COVID-19) permanece em vigor,
devendo ser aplicada naquilo que for compatível com as atuais
medidas excepcionais.

Art. 12. Os casos omissos serão dirimidos pelo Comitê Municipal de


Enfrentamento e Resposta Rápida ao Coronavírus (COVID-19), do
Município de Macapá.

Art. 13. Este Decreto entra em vigor a contar de 19 de maio de 2020.

6. análise acerca do direito de locomoção na Pandemia do Corona Vírus (SARS-


COV-2) causador da doença chamada COVID-19.

As decisões tomadas pelo Poder Público para tornarem efetivos o


combate à pandemia, causaram dissensão de opinião em toda a sociedade.
Muitos argumentavam que as medidas de restrição, assim como a decretação
de lockdown que obrigava a população a permanecer em suas residências
infringia o direito constitucional de locomoção de todos os cidadãos.
Essas decisões também colocaram em conflito a aplicabilidade de
diversos direitos, a exemplo do direito à vida com o direito fundamental de ir e
vir do cidadão.
O conflito existente entre o Presidente da República e os Governadores
dos Entes Federados causou divergência quanto à competência dos entes para
legislar sobre determinadas matérias. Diante do agravamento do quadro de
saúde pública, os Estados adotaram uma política rígida de isolamento.
Parte da doutrina entende que as medidas adotadas são absolutamente
inconstitucionais, considerando que afrontam diretamente o direito fundamental
do cidadão de ir e vir previsto no art. 5º, XV da Constituição Federal de 1988.
Ocorre que é necessário sopesar o direito de locomoção quando em
colisão com o direito à vida, expresso no caput do art. 5º da Constituição Federal.
O direito à vida é inviolável. Nesse sentido, se faz necessário a aplicação
do sistema de ponderação entre os mandamentos constitucionais que estão em
conflito. Considerando que a vida é um bem maior, este deve prevalecer sobre
o direito fundamental de locomoção.
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CONCLUSÃO

A presente pesquisa abordou o direito de locomoção dos cidadãos


brasileiros em tempos de pandemia do novo coronavírus (COVID-19). No
decorrer da presente restou demonstrado que há dissensões no seio da
sociedade acerca do tema. Parte da sociedade entende que as regras impostas
pelo Poder Público violam o direito de ir e vir assegurado constitucionalmente.
Outra parte da sociedade entende que não há violação ao direito de
locomoção, considerando que tal direito é suprimido em razão do direito à vida.
As autoridades públicas, Governo Federal, Estadual e Municipal, por
exemplo, divergiram no que tange às restrições impostas de quarentena,
lockdown e outras.
Diante da celeuma suscitada em todo o Estado Brasileiro, o STF permitiu
que os Estados e Municípios tomassem suas próprias decisões com base em
dados estatísticos e de acordo com a realidade de cada ente.
Neste sentido, a presente pesquisa, analisando os decretos federais,
estaduais e municipais e, ainda, na decisão da Corte Suprema, chegou à
conclusão de que as restrições impostas não violam o direito de locomoção que
pode ser limitado em casos de calamidade pública ou estado de emergência em
prol da vida.
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BIBLIOGRAFIA

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dispõe a Decretação da situação anormal caracterizada como Situação de
Emergência em todo território do Estado do Amapá, visando à prevenção,
mitigação, preparação e resposta ao risco de Desastre Natural – Biológico
- Epidemia – Doença infecciosa viral causada pelo novo Coronavírus -
COVID-19, com Codificação COBRADE nº 1.5.1.1.0 e dá outras
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em razão da grave crise de saúde pública decorrente da pandemia da
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do Estado do Amapá, e dá outras providências. Disponível em https://l
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MACAPÁ. Prefeitura Municipal de. Decreto Municipal nº 2.058, de 15 de maio


de 2020, alterado pelo Decreto Municipal nº 2.074, de 18 de maio de 2020,
com efeitos a contar do dia 29.05.2020, redação dada pelo Decreto Nº 2124
de 28/05/2020. Disponível em: https://macapa.ap.gov.br/. Acesso em: 01 out
2020 às 22:00h25m;

ROUSSEAU, Jean Jacques. O Contrato social. Editora Ridento Castigat


Moraes, 2002;

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