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27.mar.2021 às 23h15
EDIÇÃO IMPRESSA
(https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2021/03/28/)
Entre o estrato 20% mais pobre da população brasileira, 80,8% dos filhos cujos
pais (palavra empregada, no estudo, como plural de pai) não tinham o ensino
médio completo repetiram esse desfecho educacional. No grupo dos 20% mais
ricos do país, esse percentual era de 32,6%, um pouco abaixo da média da
OCDE.
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Allan Greicon, 28, formado em relações internacionais USP; a inspiração para estudar veio de um
irmão
- Eduardo Knapp/Folhapress
A mobilidade educacional ainda baixa entre os nascidos em famílias menos
favorecidas ajuda a perpetuar a alta disparidade de renda no país.
(https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/01/imposto-de-heranca-e-concentracao-da-riqueza-no-brasil.shtml)
"São dois problemas distintos, que andam juntos", afirma outra parte do
estudo, cujo título é "Mobilidade Intergeracional de Educação: Comparações
Internacionais".
A segunda parte teve como foco dados do Banco Mundial que o Imds computou
para analisar o progresso educacional ao longo das gerações nascidas entre
1940 e 1980, em mais de cem países.
Essa análise –que excluiu os filhos cujos pais tinham concluído o ensino
superior– pode capturar avanços mais sutis de escolaridade, já que os dados do
Banco Mundial incluem cinco níveis de estudo, ante três no caso dos números
da OCDE.
A parcela dos brasileiros nascidos na década de 1980 que, hoje, têm o ensino
médio completo é 66,6%, quase o triplo dos 23,4% registrados entre seus pais.
Quando a mesma comparação é feita com o ensino superior, essas fatias caem
para, respectivamente, 26% e 11%.
Além disso, entre a população de baixa renda, mesmo os pais que conquistaram
um diploma universitário têm grande dificuldade em "transmitir" essa herança
positiva para seus filhos (https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/01/brasil-comeca-2021-com-mais-
miseraveis-que-ha-uma-decada.shtml).
Entre os 20% mais pobres do país, apenas 27,7% dos filhos cujos pais tinham
ensino superior, em 2014, atingiram essa mesma escolaridade. Na população
20% mais rica, a fatia dos filhos que, como seus pais, possuíam curso
universitário era de 81,5%.
"Isso mostra que há uma enorme fragilidade dos brasileiros mais pobres, cujas
conquistas podem ser, facilmente, perdidas", diz o economista Fernando
Veloso, do Ibre e da EPGE, centros que fazem parte da FGV-Rio.
minha-formatura-foi-igual.shtml).
"É uma oportunidade que não existia quando eu, que sou negra, ingressei na
universidade, em meados dos anos 1990", afirma a pesquisadora.
Almeida conta que foi a primeira pessoa de sua numerosa família a concluir o
ensino superior e, até hoje, é a única que tem mestrado e doutorado entre seus
parentes.
"Meus pais eram analfabetos. Minha mãe teve 15 filhos, dos quais 4 morreram.
Apenas quatro irmãos e eu concluímos o ensino superior, outros não
terminaram nem o ensino fundamental."
Segundo ela, embora as cotas nas universidades tenham sido um passo crucial,
elas precisam ser complementadas por outras medidas, hoje, inviabilizadas
pelo limite à expansão dos gastos públicos.
Caçula entre seis filhos, Dantas ainda estudou dois anos a mais do que os pais,
que chegaram apenas ao primeiro ano do ensino médio. Um de seus irmãos,
conta, chegou a começar o ensino superior. O curso, porém, precisou ser
trancado.
José Ilton Batista Santos Dantas, 18, tem ensino médio e está buscando emprego; queria fazer
faculdade, mas faltou dinheiro
- Danilo Verpa/Folhapress
"Meu pai faleceu em 2018. Por isso estou procurando serviço. Sem ele, todo o
mundo precisa ajudar no aluguel", diz. "Fiz muitos bicos de ajudante de
pedreiro, mas o serviço terminou. Agora quero pegar o que aparecer."
O objetivo de ajudar jovens como Dantas é o que leva Allan Greicon, 28, a
dividir seu tempo entre o trabalho na Secretaria de Desenvolvimento
Econômico do Governo de São Paulo e a coordenação do cursinho pré-
vestibular popular Emancipa Jardim Jaqueline.
"Meu pai morreu quando eu tinha seis anos, deixando para minha mãe apenas
contas a pagar", diz ele, que é assessor técnico na área de gestão de programas
de educação profissional do governo paulista.
"Ela não tinha tempo de nos acompanhar, de ir a reuniões da escola, mas ligava
para os professores para se informar sobre nosso desempenho", afirma ele.
Além do apoio da mãe, Greicon sempre se inspirou no irmão mais velho, que
ingressou um ano antes do que ele na Universidade de São Paulo, onde cursou
jornalismo. Os dois fizeram cursinho pré-vestibular popular para reforçar sua
base educacional.
Além disso, ressalta, as famílias precisam ter renda para atingir um nível de
bem-estar suficiente para que seus filhos possam, de fato, se dedicar aos
estudos.
"Os alunos de baixa renda têm sido prejudicados pela falta de protocolos
nacionais, que deveriam ter sido adotados havia muito tempo pelo Ministério
da Educação", diz Veloso, da FGV.
"O descalabro que vemos na saúde, nesta crise, ocorre também na educação",
afirma o pesquisador.
Veloso ressalta que o quadro é agravado pela piora das perspectivas futuras de
trabalho para a população menos escolarizada, em meio à aceleração de uma
tendência, anterior à crise, de substituição da mão de obra menos qualificada
por tecnologias cada vez mais avançadas.
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repetir-baixa-escolaridade-do-pai-e-o-dobro-dos-eua.shtml
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