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população, inclusive para aquelas pessoas que não tiveram acesso à escola em idade
como de estados e municípios, assegurar a oferta pública e gratuita de educação escolar para
anos, as estatísticas nacionais não deixam dúvidas sobre os desafios enfrentados pelo país
para assegurar a educação de todos, em especial daqueles que tiveram seus direitos violados
pandemia da covid-19.
Vista muitas vezes como não prioritária, a EJA foi considerada durante as décadas de 80 e 90
como obsoleta, uma vez que a expectativa política era de que os investimentos em uma
educação primária eficiente a longo prazo eliminariam sua necessidade. O fato é que, mais de
trinta anos depois, a desigualdade social e a ausência de políticas públicas efetivas que
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2020 20,2% dos jovens de 14 a 29 anos não
relação às taxas de analfabetismo, apesar de estas registrarem queda geral desde 2016, o país
ainda possui 11 milhões de pessoas que não dominam plenamente a leitura e a escrita.
covid-19, aliada ao contexto de violação de direitos subjacente em nosso país. A EJA registrou a
com redução de 8,3% em relação à 2019, o que corresponde a quase 270 mil estudantes a
menos. Além disso, o Censo indica que 1,5 milhão de estudantes entre 14 e 17 anos não
frequentam mais a escola. Em entrevista coletiva, o diretor de Estatísticas Educacionais do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Carlos Eduardo
Moreno, detalhou como o direito à educação corre mais riscos de ser violado à medida que os
anos. Isso acende o alerta de que algum problema acontece na trajetória dos
universalização do acesso."
sistematicamente desde 2017, dado que acompanha a sistemática queda nos investimentos
destinou a menor verba dos últimos anos para a EJA, R$ 25 milhões. Em 2019, dos R$ 74
O que os dados indicam é que o direto à educação permanece sendo violado e sua restauração
se torna ainda mais vital no atual contexto, frente às crises sanitária e econômica. Há uma
demonstraram que apenas investir na educação primária não é a solução, é preciso pensar
efetivas.
No Brasil, de acordo com dados do IBGE, cerca de 11 milhões de pessoas são analfabetas,
problemática social que perdura desde o século passado ainda sem um conjunto robusto e
articulado de políticas públicas adequadas. Contudo, alguns esforços das políticas educacionais
têm surtido efeitos, sobretudo nas últimas décadas. A modalidade de ensino com foco na
juventude e na idade adulta busca restaurar o direito ao acesso à educação e à aprendizagem
analfabetismo no Brasil.
Entre as metas do Plano Nacional da Educação (PNE), por exemplo, está o desafio de aumentar
em até 25% o nível de escolaridade da população com oferta de Educação de Jovens e Adultos
estabelecia que, até o fim de sua vigência, 25% das matrículas da EJA deveriam estar
esse índice diminuiu para 1,8%. Assim, nenhuma das metas foi atingida em 2020, um ano que
foi ainda mais desafiador dado o agravamento das desigualdades sociais e econômicas em
na infância ou adolescência, de modo que seu perfil demográfico está entrelaçado ao de outros
travestis. Com efeito, as turmas de Educação de Jovens e Adultos são heterogêneas e sua
debateu esses desafios das políticas públicas para EJA na atualidade. Segunda a pesquisadora,
a EJA ocupa um lugar secundário nas políticas educacionais, que ainda estão tomadas pela
adolescentes. A despeito dessa tendência geral, Pierro indicou que, na primeira década do
século 21, há uma mudança discursiva, que passa a considerar a EJA como uma dívida social
histórica. Isso tem como principais consequências a inclusão da Educação de Jovens e Adultos
Constituição de 1988 reconheceu esse direito aos cidadãos com mais de 14 anos
que não tivessem tido a escolaridade obrigatória no país por ocasião da sua infância
Apesar de toda a base legal do acesso à educação na juventude e na idade adulta, essa
modalidade permanece, nas palavras da pesquisadora, quase como uma “inquilina pouco
confortável”, sobretudo porque ainda não há uma cultura consolidada de educação de adultos
nas escolas. A EJA é uma modalidade de ensino que cumpre um dever legal do Estado e, por
conseguinte, não deve ser vista como filantropia ou “ação social”. Para alguns especialistas,
essa percepção errônea é um dos maiores entraves para a concretização de uma política
pública mais eficaz. Em entrevista ao Canal Futura, Ana Paula Abreu Moura, professora da
Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), falou sobre a história
“Não existe idade própria para se educar e a legislação garante isso. Entretanto, a
ideia da educação como um favor e não exigindo esse direito. Por outro lado, não há
uma chamada pública no sentido de avisar as pessoas onde estão as escolas, avisar
Além da percepção coletiva da EJA não com um direito mas como ação filantrópica, há também
“analfabetismo”, como se a pessoa que teve seu direito à educação violado fosse a principal
com essas pessoas, isso não é feito de uma hora para outra.”
Parte dessa construção envolve o reconhecimento dos saberes próprios dos estudantes dessa
“Paulo Freire trouxe visibilidade para a Educação de Jovens e Adultos e várias das
obras dele falam do 'saber de experiência feito'. A gente tem uma ideia, muitas
vezes reproduzida pelos próprios alunos, de que o tempo que o estudante ficou fora
cada tempo possui sua própria aprendizagem. O conceito de “saber de experiência feito”,
elaborado por Paulo Freire, refere-se exatamente aos saberes acumulados pelos estudantes
fora do espaço escolar, que devem ser valorizados e celebrados ao longo do processo
da covid-19 no acesso ao direito à educação por jovens e adultos. Rummert destacou o fato de
pandemia, dado o seu caráter secundário no panorama das políticas públicas educacionais,
sociais, de modo que a restauração do direito à educação para aqueles que não tiveram essa
garantia ao longo da infância e da adolescência se torna ainda mais difícil. O contexto que
deixando ainda mais vulneráveis jovens e adultos cujo direito à educação não foi assegurado
que recebem a remuneração mais baixa quanto aqueles para quem o trabalho
remoto não é uma opção, aqueles cujos arranjos familiares – sobretudo com a
mesma, ela vai se explicar nas condições sócio-históricas da qual ela é fruto e
condição.”
(2%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua). O contexto aponta,
nesse sentido, para uma crescente demanda pela EJA a fim de contornar as violações de direito
que se agravaram devido aos efeitos econômicos e sociais da pandemia provocada pela covid-
para o não acesso ao direito à educação por jovens e adultos. A pesquisadora destacou o fato
demanda, realizando ações censitárias e convocatórias, o que acaba por reduzir a procura. Em
decorrência, há uma discrepância muito grande entre a demanda potencial derivada dos baixos
sentido estrito. A esmagadora maioria de alunos da EJA integra grupos sociais mais
atualmente em nosso país. Para além de uma agenda integrada de políticas públicas,
da EJA na cidade de São Paulo, oferecida de maneira diversificada e ampla, a fim de não
apenas atender, mas também induzir e identificar a demanda existente. Elas estão divididas
entre: regular (em escolas municipais de ensino fundamental, das 19h às 23h); modular
Popular, com mais de 500 turmas em salas de igrejas e salões paroquiais, com atuação mais
se nas regiões próximas ao centro metropolitano, de modo que ainda há muitas desigualdades
territoriais que precisam ser enfrentadas, sobretudo no tange à oferta para jovens e adultos
que trabalham e não dispõem de tempo hábil para o deslocamento até a escola.
operadoras de telefonia móvel os planos de mais baixo custo com acesso irrestrito ao
WhatsApp, para facilitar o acesso dos estudantes aos grupos das turmas de EJA.
gestão pedagógica com muita luta. Saímos de um lugar de conforto, mas que bom
que saímos desse lugar de conforto, porque é por meio dessa inquietação que a
pela gestora Angélica Brenda Diogo de Oliveira, coordenadora pedagógica do Cieja Vila Maria
Vila Guilherme (SP). Para além de uma cartilha, Angélica acredita que o compartilhamento de
experiências pode inspirar outros profissionais dessa modalidade, que foi tão desafiada pelas
restrições impostas pela pandemia. Nos primeiros meses, a coordenadora relatou que, no
diálogo com os educadores, a gestão identificou que as videoaulas eram uma ferramenta
estratégica de trabalho, uma vez que contemplariam tanto os estudantes com pleno domínio
ainda seriam acessíveis aos estudantes com deficiência. Além de adotar estratégias para
combater a evasão e lutar para a manutenção dos vínculos com a escola, a gestão também se
pacote de dados ou memória suficientes para baixar o aplicativo e acessá-lo. Dessa forma, a
coordenação diversificou as plataformas nas quais as videoaulas eram publicadas, criando uma
metodologias de busca ativa com ligações e mensagens por redes sociais evitaram a perda de
vínculos e a evasão:
estudante, mas escola não é só isso. Escola está permeada de relações humanas,
cartão merenda ou cesta básica. Apenas um quinto deles possui emprego formal, a
não poderíamos ignorar essa demanda, como se ela não existisse. Conseguimos
civil que trabalham com segurança alimentar ou com a Unidade Básica de Saúde mais próxima
para educadores – foi crucial para o enfrentamento dos efeitos da pandemia no Cieja Vila
Maria.
fato de ter como objetivo a restauração de direitos violados implica uma maior necessidade de
integração das políticas públicas. O estudante que retorna na juventude ou na idade adulta na
maior parte das vezes enfrenta situações de risco e vulnerabilidade social que não podem ser