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Introdução……………………………………………………………………………………………3
1. O casamento Judaico……………………………………………………………………………5
1.5 Divórcio…………………………………………………….…………………………..………10
3. O Casamento Cristão………………………………………………………………..…………19
Conclusão………………………………………………………………………………………….33
Bibliografia…………………………………………………………………………………………34
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Introdução
O casamento cristão é uma instituição que desempenha um papel fundamental na vida dos
fiéis, proporcionando um contexto sagrado para a união de duas pessoas perante Deus e a
comunidade. Sua origem remonta aos primórdios do cristianismo e reflete a interação entre
diversas influências históricas, culturais e religiosas. Neste trabalho, investigaremos as
origens do casamento cristão até os séculos VII e VIII, com base em três principais fontes: a
figura de Jesus Cristo e seus ensinamentos, as tradições romanas e as práticas judaicas.
Compreender essa rica interação permitirá uma análise aprofundada das bases teológicas,
rituais e valores que permeiam o casamento cristão. Através da análise desses elementos,
visamos lançar luz sobre a evolução e a influência das práticas matrimoniais na fé cristã ao
longo dos séculos, bem como sua relevância contínua nos dias de hoje.
A figura central para compreender as origens do casamento cristão é Jesus Cristo. Como
fundador do cristianismo, ele deixou um legado de ensinamentos e princípios que serviram
de base para a formação do casamento cristão. Ao examinar os evangelhos e outras fontes
históricas, é possível identificar as ideias e concepções de Jesus sobre o casamento. A
indissolubilidade, a monogamia, o amor e respeito mútuo, bem como a fidelidade e pureza
são alguns dos valores que ele enfatizou como essenciais para a vida matrimonial.
Além disso, Jesus utilizou a instituição do casamento como uma metáfora para ilustrar seus
ensinamentos sobre o Reino de Deus. Ele estabeleceu uma conexão intrínseca entre o
relacionamento conjugal e a relação entre Deus e seu povo. Essa abordagem contribuiu
para a elevação do casamento cristão como um sacramento, uma aliança sagrada que
reflete o amor divino e a união espiritual entre os cônjuges.
A influência dos ensinamentos de Jesus Cristo e das epístolas dos apóstolos, como as de
Paulo, Pedro, João e Tiago, também moldaram as práticas matrimoniais cristãs. Essas
epístolas fornecem orientações específicas sobre o casamento, ressaltando a importância
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da família e do casamento como instituições divinamente ordenadas. Elas incentivam os
cônjuges a viverem em harmonia, a serem submissos e amorosos uns com os outros, e a
desempenharem seus papéis dentro da estrutura familiar estabelecida.
À medida que nos aprofundamos na interação entre as figuras de Jesus Cristo, as tradições
romanas e as práticas judaicas, desvelamos uma história complexa que moldou a noção e a
importância do casamento cristão. O objetivo deste trabalho é lançar luz sobre essa história
e explorar as implicações dessas origens para a compreensão contemporânea do
casamento cristão. Ao examinar as influências históricas, teológicas e culturais, esperamos
enriquecer nosso conhecimento sobre o casamento cristão e sua relevância contínua como
uma instituição sagrada na fé cristã.
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1. O casamento Judaico
O casamento é uma instituição ancestral que desempenha um papel central nas diversas
culturas e religiões ao redor do mundo. No contexto cristão, a celebração matrimonial
possui profundas raízes que remontam aos primórdios da fé cristã, ao início das raízes
abraâmicas, com a história do judaísmo e do contexto hebraico. Ao explorar as origens do
casamento cristão, é crucial compreender as influências e ligações com as tradições
judaicas, que desempenharam um papel significativo na formação dos rituais e simbolismos
que envolvem essa sagrada união.
Este trabalho tem como objetivo mergulhar nas raízes do casamento cristão e examinar
como a herança judaica contribuiu para a sua formação. Ao longo dos séculos, as primeiras
comunidades cristãs encontraram-se imersas em uma cultura predominantemente judaica,
onde muitos dos primeiros seguidores de Jesus eram judeus convertidos. Portanto, não é
surpreendente que muitos aspectos do casamento cristão tenham sido influenciados por
tradições judaicas.
O casamento é uma ocasião especial e significativa que marca o início de uma nova
jornada na vida de um casal. Ao redor do mundo, diferentes culturas têm as suas próprias
tradições matrimoniais, cada uma com suas peculiaridades e simbolismos únicos. Entre
essas tradições, o casamento judaico se destaca como uma cerimónia rica em história,
espiritualidade e simbolismo, repleta de significado profundo e uma conexão com a fé
judaica.
Os casamentos judaicos são enraizados em uma herança cultural e religiosa milenar,
transmitida através das gerações. Eles são uma manifestação tangível dos valores,
costumes e ensinamentos do povo judeu, incorporando elementos que refletem a
importância da família, comunidade e compromisso mútuo.
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1.1 Formas de relação matrimonial
A literatura hebraica mais antiga representa um desenvolvimento comparativamente alto da
vida social e doméstica da altura. Não há evidências claras no Antigo Testamento das
condições primitivas de poliandria, como existiam entre os antigos árabes.
Era comum que a escrava hebraica se fizesse esposa ou concubina do seu senhor. Existem
relatos de casos em que a esposa voluntariamente entregava a sua serva para se tornar
esposa de seu marido (Génesis 16:3; 30:3, 9). A situação da esposa sem filhos nesse tipo
de lar era claramente infeliz. A lei posterior foi estabelecida para limitar essa prática e
corrigir os abusos da poligamia. Ao rei era ordenado que não multiplicasse as esposas
"para que seu coração não se desviasse" (Deuteronómio 17:17). Um homem não podia
"tomar uma mulher juntamente com sua irmã, para torná-la inimiga" (Levítico 18:18, R.V.) e
tanto os direitos da mulher e da escrava desposada pelo senhor estavam bem protegidas
pela lei desde tempos antigos, como se pode ver em Êxodo 21:2-11.
A poligamia era desencorajada pelos profetas. Na história profética, a monogamia é
apresentada como o estado original ideal (Génesis 2:18 e seguintes). A pluralidade de
esposas na Bíblia ocorre primeiramente entre os descendentes amaldiçoados de Caim
(Génesis 4:23), mas Noé é marido de uma única esposa, assim como Jó. Todos os profetas
e pais de Israel tomados como exemplo são monogâmicos. Os profetas Oséias e Isaías por
exemplo eram monogâmicos. Até a relação entre Deus e a nação de Israel é apresentada
pelos profetas como uma relação monogâmica. Apesar dos abundantes casos de poligamia,
a monogamia era a regra entre os judeus tanto em tempos remotos, como na época
romana.
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1.2 Parentesco e casamento:
Por norma, o casamento judeu era endogâmico. Além disso, até ao histórico exílio da
Babilónia, em Israel existiam 12 tribos em Israel e havia preferência para casar dentro da
mesma tribo. Como a coesão da tribo dependia em parte do sentimento de pertença
familiar, era preferível que os casamentos não fossem realizados entre tribos, para evitar
envergonhar a própria tribo e os casamentos com membros de outra tribo eram fortemente
desencorajados. No entanto, ao longo dos tempos, sobretudo desde o exílio da Babilónia,
gradualmente houve mistura entre tribos. No Antigo Testamento é visível a preocupação de
que os protagonistas, como Isaque e Jacob, se casassem dentro do próprio clã familiar.
Houveram parcas exceções como o caso de Moisés, fugitivo adotado pela tribo da sua
esposa (Êxodo 2:21).
Muitas das normas do casamento para o judeus podem ser achadas nos livros que os
judeus do Antigo Testamento usavam para a Lei Judaica e a sua conduta moral, social e
espiritual. São eles, os livros da Torá, sobretudo o Levítico e o Deuteronómio. O casamento
de israelitas com estrangeiros, por norma era proibido, inclusive por lei, no entanto, a sua
flexibilidade poderia mudar consoante alianças políticas com os reis de Israel. A lei no
Deuteronómio, por exemplo, proíbe o casamento com os cananeus, mas aparentemente faz
uma exceção à regra endogâmica em favor dos edomitas e egípcios. Durante o período do
Exílio houve uma flexibilização nas leis de casamento, geralmente entre tribos, mas ao
mesmo tempo, foram reforçadas leis rigorosas para proibir o casamento com estrangeiros.
O casamento entre parentes próximos era comum, mas havia restrições específicas. As
várias instâncias de casamentos entre parentes ao longo da história patriarcal mostram que
os valores antigos eram diferentes dos valores posteriores. Abraão casou-se com sua
meia-irmã paterna. Já no tempo do rei Davi, tal casamento seria visto como incomum, mas
não seria repreensível nem proibido. O próprio Moisés foi resultado de um casamento entre
um sobrinho e sua tia paterna. Um primo do lado paterno era considerado especialmente
elegível para ser pretendente - uma visão que sobreviveu entre os beduínos e no
campesinato sírio. Por fim, tanto no livro do Deuteronómio, o casamento entre irmãos é
proibido. Por último, também havia permissão dentro da lei judaica, para o costume do
casamento do levirato, um casamento em que um homem se casava com a viúva de seu
irmão falecido, para perpetuar o nome e a propriedade dentro da família do homem.
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1.3 Deveres do marido e da esposa:
A esposa era considerada posse do seu homem. No livro o Êxodo é possível encontrar os
nomes hebraicos "ba'al" (que significa “senhor” ou “dono”) para "marido" e "be'ulah" (que
significa “possuída”) para "esposa". No entanto, ela era uma propriedade valiosa e, em
geral, era bem cuidada. Ela não era isolada como entre os muçulmanos, mas tinha
considerável liberdade e influência. Nas casas mais abastadas, ela muitas vezes desfrutava
de uma grande independência e na família real, às vezes se tornava uma poderosa
influência no estado. Basta recordar as histórias das mulheres do Antigo Testamento, como
Sara, Rebeca, Débora e Jael. No relato profético da Criação (Génesis 2, 3), Eva é uma
auxiliadora do seu marido, “osso de seus ossos e carne da sua carne”.
No lar, o compartimento mais interior era seu, ou, em alguns casos, havia uma casa
separada inteiramente para a mulher.. Ela realizava as tarefas domésticas comuns ou
administrava os assuntos de sua casa e dirigia seus servos. O seu lugar era, portanto, a
casa e ela deveria ser casta e obediente. Ao seu marido, estava obrigado a fornecer à
esposa roupa e comida.
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para a casa do noivo, enquanto o noivo ia sozinho para a casa dos pais. Sem dúvida,
também ocorriam procissões. O costume atual é que os convidados cantem hinos de louvor
à noiva e ao noivo. Essa prática também pode ter suas raízes na antiguidade. Como um
bem valioso do marido, a mulher era muito bem cuidada. Ela tinha o seu próprio quarto
dentro de casa, onde nenhum homem poderia entrar. No caso de pessoas ricas ou de alto
estatuto, elas tinham uma casa separada só para si. No entanto, isso não significa que não
realizassem tarefas diárias em casa. Elas costuravam, teciam, confeccionavam roupas,
cozinhavam, assavam pão e cuidavam dos rebanhos.
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Admite-se também a probabilidade da existência de um contrato de casamento feito por
escrito. Após o noivado, a noiva poderia ir para a casa do marido e as núpcias eram
celebradas imediatamente ou pouco depois.
Os primeiros passos para o noivado, ao que parece, eram geralmente dados pelos pais do
pretendente, que formalmente faziam a proposta aos pais da noiva. No entanto, não era
raro naquela época, que os jovens tivessem se conhecido e namorado espontaneamente,
num casamento romântico e não haveriam falta de oportunidades para isso acontecer, no
convívio sem restrições do dia-dia, fosse pastoreando o gado, ou junto aos poços de água.
Mesmo assim, a norma era que nos tempos antigos, a escolha da noiva era um assunto que
cabia ao chefe da família. Isso fica evidente quando a pessoa escolhida tinha que se tornar
membro do clã da tribo. Além disso, era mal visto pelos judeus que um filho, por mais
bem-intencionado que fosse, insistisse em se casar com uma mulher que sua família não
quisesse receber. E de tempos em tempos, ocorria de facto, que uniões por amor
acontecessem com ou sem o consentimento dos chefes da família, citando por exemplo, o
caso do personagem bíblico Esaú, que se casou contra a vontade dos seus pais.
1.5 Divórcio
O marido tem o direito de se divorciar da sua esposa, mas pela lei do Deuteronómio
(Deuteronómio 24:1), ele é obrigado a dar-lhe um documento de divórcio. Ela pode casar-se
novamente, mas se for novamente divorciada ou ficar viúva, o seu ex-marido não a pode
receber de volta (Deuteronómio 24:2-4). É possível que práticas antigas sobre o divórcio
sejam encontradas nos livros de Oséias capítulo 2 e livro 2º de Samuel 3:14. Para qualquer
dos efeitos, o direito ao divórcio foi posteriormente revogado, como consta no livro do
deuteronómio e profetas e rabinos, como o profeta Malaquias protestaram veementemente
contra essa prática.
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2. O CASAMENTO ROMANO
O casamento, como instituição social, tem sido parte integrante da humanidade ao longo
dos séculos. Diversas culturas e civilizações têm suas próprias tradições e rituais
matrimoniais, cada uma com suas peculiaridades e influências. No contexto cristão, é
interessante explorar a influência do casamento romano, uma vez que os primeiros
seguidores de Jesus Cristo viveram em um mundo impregnado pela cultura romana.
Esta pesquisa tem como objetivo examinar as origens do casamento cristão e a influência
direta que o casamento romano exerceu sobre essa sagrada união. Durante o período em
que o cristianismo se desenvolveu e se difundiu, a sociedade romana era dominante e
exercia uma influência significativa sobre todas as esferas da vida cotidiana, incluindo o
casamento.
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Ao considerar a influência do casamento romano no casamento cristão, torna-se evidente
que a fusão dessas duas tradições desempenhou um papel crucial na formação da prática
matrimonial cristã. Através dessa análise, esperamos compreender melhor as raízes
históricas e culturais dessa união sagrada, e como a interação entre o mundo romano e a
mensagem cristã moldou a concepção do casamento como é conhecida hoje. O casamento
cristão é um testemunho vivo da sinergia entre tradições antigas e fé, unindo a herança
romana e o ensinamento de Jesus Cristo em uma celebração de amor e compromisso
duradouro.
O casamento romano pode ser exercido por filhos legítimos, filhos bastardos nascidos de
uma cidadã ou escravos libertos. O casamento romano é um acto privado e não
sancionável pelo Estado. Não tem nenhum representante civil ou religioso a que se recorra
como um padre ou um notário e é um acontecimento não escrito e totalmente ausente de
rito simbólico. Em suma, o casamento era um ato privado, como para nós é o noivado. Em
falta de um documento formal que permitisse a um juiz deliberar sobre situações como a
questão de herança, era preciso recorrer a indícios que provassem a união do casal como a
constituição de um dote, gestos que provavam a intenção de ser esposo, como o casal
dormir na mesma cama, testemunhas que atestam o casal participar de um rito em que as
interações íntimas de casal eram evidentes, etc. Em último caso, apenas o homem e a
mulher poderiam saber se eram realmente casados ou não.
Era ainda preciso saber se os dois estavam em núpcias legítimas, já que o casamento por
mais informal que fosse não deixaria de ser uma situação de facto com efeitos de direito. As
crianças destas núpcias contêm o nome do pai e recebem a sua herança por direito.
O divórcio era igualmente simples. Bastava um dos elementos do casal se separar com a
intenção de se divorciar, o que deixava alguns juristas cautelosos inicialmente a perguntar
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se fora uma simples zanga ou uma verdadeira separação. Muita vez era a própria mulher
que se separava por iniciativa própria e sendo repudiada ou não, ela levava consigo o dote.
No entanto, era normal que os filhos por norma ficassem com o pai. Debaixo do mesmo teto
poderiam coexistir filhos nascidos legítimos, bastardos, filhos de leitos diferentes e ainda
filhos adotivos.
Os romanos casavam por diversos motivos: para enriquecer (desposando um dote). e ter
descendentes em núpcias legítimas que recebessem a herança e perpetuar o “corpo cívico”
ou “núcleo de cidadãos” isto é, não só perpetuar a família, mas também ajudar a manter o
número de habitantes do Império que exercem a “profissão de cidadão”.
No primeiro século, os homens com estatuto de cidadão viam-se como homens que tinham
de cumprir as suas funções de cidadão romano. No segundo século, já se vêem como
homens que devem cumprir a função de bons maridos e respeitar as suas esposas.
De acordo com Michel Foucault, esta alteração resultou de uma mudança de paradigma
com a consolidação do Império. Ao mesmo tempo, o estoicismo era uma filosofia de vida
muito difundida nas classes superiores romanas (as classes populares e os escravos não
interessam pois é impossível saber o que pensavam). No primeiro século durante a
república, a visão do marido era de um soldado com um dever cívico, militar e devia cumprir
o seu dever. Os dois séculos seguintes viram uma transformação não tanto da conduta,
mas do formato da moral. Enquanto no primeiro século, a moral do marido põe em questão
o fundamento da regra - é preciso casar para ter filhos, logo, é preciso obedecer e casar -
nos séculos seguintes, a moral torna-se menos militarista e procura dar fundamento para a
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ideia do casamento - deve haver um motivo para casar para além de ter ter filhos, pois é
preciso que o marido e a mulher vivam juntos em harmonia e com amor um no outro. A
respeito da mulher, enquanto na primeira moral, ela não passa de um instrumento da
profissão de cidadão para fazer filhos e aumentar o património, na moral mais tardia, ela
passa a ser uma amiga e companheira para a vida toda a quem basta cumprir o seu papel
razoável de obedecer ao marido como ser inferior que ela desempenha.
No entanto, é importante ressaltar que essas atitudes infantis não eram capazes de
ridicularizar seus maridos, que exerciam um controle total sobre suas esposas, filhas e
servos domésticos. Se a esposa fosse infiel, isso era considerado uma infelicidade, não um
motivo de ridículo. Da mesma forma, uma gravidez indesejada de uma escrava ou a falta de
cumprimento de deveres por parte dos servos também eram questões a serem tratadas
com seriedade, não com desprezo.
Se a mulher traísse seu marido, ele seria acusado de ter falhado em sua vigilância e
firmeza, permitindo que o adultério ocorresse em sua casa devido à sua fraqueza. Da
mesma forma que na sociedade romana se criticava os pais por serem muito indulgentes
com seus filhos, o que poderia levar ao aumento da delinquência e à insegurança pública.
Uma das maneiras pelas quais um pai ou marido podia evitar tal afronta era ser o primeiro a
denunciar publicamente tais atos. Por exemplo, o Imperador Augusto expôs
detalhadamente em um édito as relações sexuais de sua filha Júlia, e Nero fez o mesmo ao
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revelar o adultério de sua esposa Octávia. A opinião pública, por sua vez, debatia se
deveria admirar ou censurar o silêncio estóico dos outros maridos. O fato de que os maridos
traídos eram ultrajados, em vez de ridicularizados, e que as mulheres divorciadas
mantinham seu dote, resultou em uma alta frequência de divórcios entre a classe alta (como
César, Cícero, Ovídio e Cláudio, que se casaram três vezes), e possivelmente também
entre a plebe das cidades.
O casamento era apenas um dos aspectos da vida e a esposa, eterna adolescente, era
apenas mais um dos elementos da casa, assim como eram os filhos, os libertos, os clientes
e os escravos. O marido permaneceu sempre como o pater familiae, autoridade máxima e
absoluta da casa. Os seus assuntos são tratados com outros chefes de casa de poder para
poder. Se algum deles tiver alguma coisa urgente a tratar, reúne o seu "conselho de amigos”
para conferenciar em sua casa, preferencialmente na presença da sua esposa.
Nessas ocasiões, será que o senhor e a senhora formavam um "casal"? Será que o senhor
permitia que a esposa se mostrasse aos visitantes, como ocorre na sociedade ocidental
moderna, ou a afastava rapidamente, como em alguns países islâmicos? Os poucos
documentos e indicações encontradas não permitem chegar a uma conclusão definitiva. A
única coisa clara é que a esposa, bem vigiada, tinha o direito de visitar suas amigas.
Aos romanos, não era estranho casar-se com uma divorciada ou voltar a se casar com uma
ex-esposa depois de ela ter tido outro marido. Ter tido apenas um homem em sua vida era
considerado um mérito, mas apenas alguns cristãos isolados tentaram transformar isso em
um dever e proibir as viúvas de se casarem novamente.
Como o casamento era um dever cívico e uma vantagem patrimonial, tudo o que a antiga
moral exigia dos cônjuges era que cumprissem uma tarefa específica: ter filhos e manter o
lar. Consequentemente, a moralidade incluía dois tipos de união. Por um lado, havia o dever
estrito do casamento. Por outro lado, havia uma união facultativa que poderia ser um mérito
adicional ou uma coincidência, como a formação de um casal unido. Foi por meio desse
aspecto que a ideia de casal foi introduzida no Ocidente, embora de maneira falsa. Como
aqueles encarregados de governar a casa, os cônjuges tinham o dever estrito de cumprir
suas respectivas tarefas. Se além disso se entendessem bem, isso seria considerado um
mérito e não uma suposição. Naquela época, a realidade do casamento não se confundia
com a harmonia entre o casal.
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O amor entre os cônjuges era considerado um acaso feliz, não era o fundamento nem uma
condição para o casamento. Era sabido que o desentendimento era algo comum e as
pessoas se resignavam a isso. Os moralistas afirmavam que ao aprender a suportar os
defeitos e humores de uma pessoa, aprendia-se a enfrentar as adversidades deste mundo.
Embora não fosse obrigatório, o mérito de tratar bem a esposa não era maior do que ser um
bom vizinho, um anfitrião amigável, "carinhoso com a esposa e clemente com o escravo",
como escreveu Horácio.
A transformação moral que ocorreu segue o padrão da evolução das ideias ao longo da
história. Os sociólogos da época encontravam dificuldades crescentes para explicar as
mudanças culturais, sem terem uma explicação causal clara. No entanto, observa-se que
essa transformação moral não foi exclusivamente resultado do estoicismo. A nova
moralidade também encontrou defensores entre aqueles que não seguiam o estoicismo e
até mesmo entre os neutros.
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apoiar moralmente o marido, e sua presença não enfraquecia, mas reconfortava esse
guerreiro.
Portanto, não é surpreendente que os estoicos tenham assimilado essa nova moralidade,
considerando-a evidente, uma vez que ela estava triunfante. No entanto, muitos estoicos
erroneamente acreditavam que foram eles os responsáveis por difundir essa moralidade,
em vez de apenas serem influenciados por ela.
Com o passar do tempo, a ideia de ternura e amizade no casamento se tornou cada vez
mais enraizada na filosofia estóica. O filósofo Séneca, um dos principais expoentes do
estoicismo, defendia a importância da amizade no casamento, destacando que o verdadeiro
companheirismo e afeição entre marido e mulher eram essenciais para uma vida conjugal
feliz e virtuosa.
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Essa mudança de perspectiva também se refletiu na literatura e na poesia estóica. Epicteto,
outro filósofo estoico, escreveu sobre a importância do amor e da ternura no casamento,
enfatizando a necessidade de tratar o cônjuge com respeito e carinho. O poeta estoico
Sêneca, o Jovem, também expressou a ideia de amor e afeto no casamento em suas obras,
retratando o casal como amigos e companheiros inseparáveis.
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3. O casamento Cristão
No entanto, a compreensão do casamento cristão vai além de uma simples união legal ou
social. Os ensinamentos de Jesus Cristo acrescentam uma dimensão espiritual e um
chamado à santidade nessa relação. Jesus reafirmou a importância do casamento como
uma instituição divina, enfatizando sua indissolubilidade e a necessidade de amor, respeito,
fidelidade e compromisso mútuo. Ele elevou o casamento a um nível mais elevado de
significado espiritual, comparando-o à relação de amor entre Ele e a Igreja, Sua noiva.
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No contexto atual, o casamento cristão continua a ser um tema relevante e desafiador. A
sociedade enfrenta mudanças significativas nos conceitos e práticas relacionadas ao
casamento e à família, exigindo uma reflexão contínua sobre como viver o matrimónio à luz
da fé cristã. Questões como divórcio, papéis de gênero, sexualidade e relacionamentos
interpessoais são temas que demandam uma abordagem cuidadosa e baseada na teologia
e nos princípios cristãos.
É importante ressaltar que a figura histórica de Jesus Cristo tem sido objeto de intenso
debate entre os historiadores. Enquanto a maioria dos estudiosos concorda sobre a
existência de um Jesus histórico, há divergências em relação aos detalhes da sua vida e
dos seus ensinamentos. Alguns historiadores procuram compreender Jesus a partir de uma
abordagem estritamente histórica, analisando evidências e fontes disponíveis, enquanto
outros exploram sua figura sob uma perspectiva teológica e espiritual.
Estas discussões académicas e os diferentes pontos de vista sobre a vida de Jesus têm
impacto na interpretação dos eventos relacionados ao casamento cristão. Embora seja
amplamente aceito que Jesus tenha ensinado sobre o casamento e sua importância, as
interpretações específicas desses ensinamentos podem variar. É fundamental reconhecer
que, enquanto nos baseamos em fontes históricas, a compreensão do Jesus histórico pode
ser limitada e sujeita a interpretações. Portanto, ao examinar as implicações de Jesus no
casamento cristão, devemos levar em consideração tanto as perspectivas históricas quanto
as teológicas, entendendo que há espaço para diferentes interpretações e discussões. O
mínimo consenso a que podemos chegar no momento é que Jesus existiu como um judeu
na Palestina, durante o início do primeiro século da nossa Era, sob o governo do romano
Pôncio Pilatos. Ele é amplamente considerado como um rabino e líder de um movimento
judeu messiânico. Foi condenado à morte devido às suas convicções, que incluíam
aspectos sociais, políticos e religiosos, que eram vistos como desafiadores ou subversivos
pelas autoridades da época. Ao longo de seu ministério, Jesus trouxe ensinamentos e
princípios que tiveram um impacto profundo nas práticas e conceitos do casamento cristão.
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A abordagem de Jesus em relação ao casamento foi revolucionária para sua época. Ele não
apenas endossou a instituição do casamento, mas também a elevou a um nível mais
elevado de significado espiritual e compromisso mútuo. As suas palavras e ações
transmitiram valores fundamentais que moldaram a compreensão cristã do casamento.
Esses ensinamentos e princípios de Jesus Cristo tiveram um impacto profundo nas práticas
e conceitos do casamento cristão, moldando a visão de que o casamento é uma aliança
sagrada e compromisso duradouro entre um homem e uma mulher, fundamentado no amor,
respeito, fidelidade e pureza. Esses valores continuam a orientar as crenças e práticas
matrimoniais dentro da tradição cristã até os dias de hoje.
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O uso que Jesus faz da instituição do casamento:
O uso mais característico que Jesus faz do casamento e da família é quando ele descreve o
Reino de Deus como uma ordem social em que o relacionamento dos seres humanos com
Deus é comparado ao de filhos com um pai, e a sua relação de uns com os outros é como a
relação de irmãos. Esse ideal social, que está constantemente na sua mente, é resumido na
expressão "Reino de Deus", que ocorre mais de cem vezes nos evangelhos sinópticos. As
passagens em que essa expressão é mencionada constituem o clímax interno da sua
mensagem para a humanidade. Ele não proclama um novo e nobre judaísmo que assumiria
a forma de uma restauração política, nem anuncia um "evento divino distante" que ocorrerá
apenas na consumação gloriosa do apocalipse. Em vez disso, ele ensina sobre um Reino
de Deus "dentro de você", onde o principal elemento é a comunhão com Deus, uma relação
amorosa de "filhos" com um "Pai", uma posse atual. Embora o futuro possa ser totalmente
realizado como resultado, ele também está presente; é invisível, mas está se tornando cada
vez mais visível como uma nova ordem social, uma irmandade consciente com um Pai
Celestial comum. Jesus proclama essa realidade em todas as etapas de seu ensinamento,
apesar da oposição e das vicissitudes, com a certeza inabalável de sua conclusão - esse é
o "Reino" que Jesus tornou uma posse inalienável da consciência cristã. Toda a sua
teologia pode ser descrita como uma transfiguração da família.
Além disso, Jesus frequentemente usava figuras relacionadas ao casamento para ilustrar
seus ensinamentos sobre a vinda do Reino, assim como Paulo fez em relação a Cristo e à
Igreja.
3.2 Os apóstolos:
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para a compreensão das práticas e valores do casamento cristão. Através dessas
escrituras, os apóstolos transmitiram diretrizes específicas relacionadas ao matrimónio,
abordando questões como amor mútuo, respeito, fidelidade conjugal e submissão mútua.
As epístolas dos apóstolos oferecem uma orientação prática e espiritual aos cristãos,
fornecendo instruções sobre como viver uma vida matrimonial em consonância com os
ensinamentos de Jesus. Esses ensinamentos contribuíram significativamente para a
formação das práticas e valores do casamento cristão ao longo dos séculos.
Por exemplo, Paulo de Tarso, em suas cartas, especificamente na sua primeira carta aos
Coríntios, capítulo 7, ele discute questões relacionadas ao casamento e à vida conjugal.
enfatizou a importância do amor incondicional e do respeito mútuo entre maridos e esposas.
Ele exortou os maridos a amarem suas esposas como Cristo amou a igreja e incentivou as
esposas a respeitarem seus maridos. Na sua epístola aos Efésios, Paulo compara o
relacionamento entre Cristo e a igreja com o relacionamento entre marido e mulher,
destacando a grandiosidade e a profundidade deste mistério divino (Efésios 5:22-33). O
apóstolo Pedro também abordou a importância da pureza e da modéstia no relacionamento
conjugal. Na sua primeira epístola, capítulo 3, Pedro discute os papéis do marido e da
esposa, enfatizando a necessidade de um relacionamento de respeito e amor mútuo. Ele
encoraja as esposas a serem submissas a seus maridos e os maridos a tratar suas esposas
com honra e consideração. Quanto ao apóstolo João, embora ele não tenha escrito
especificamente sobre o casamento, o seu evangelho destaca o papel significativo do amor
nos relacionamentos. Na sua primeira epístola, capítulo 4, ele enfatiza que Deus é amor e
que aqueles que amam mostram que conhecem a Deus. Essa ênfase no amor pode ser
aplicada aos relacionamentos conjugais, incentivando os cônjuges a se amarem e se
tratarem com bondade.
Sobre a fidelidade e o compromisso, os apóstolos ensinaram a importância da fidelidade e
do compromisso no casamento. A infidelidade e o divórcio são vistos como exceções
indesejáveis, e os cônjuges são incentivados a buscar a reconciliação e a restauração do
relacionamento, sempre que possível. Paulo enfatiza a necessidade de amor, respeito e
cuidado mútuos no casamento, incentivando os cônjuges a honrarem seus compromissos e
a trabalharem para a harmonia e a felicidade conjugal. Os apóstolos também abordaram os
papéis específicos dos membros da família dentro do contexto social. Eles enfatizaram a
valorização da família e do casamento como instituições divinamente ordenadas e
reconheceram a importância da família como um ambiente para o crescimento espiritual, a
formação do caráter e a transmissão da fé de geração em geração. O apóstolo Paulo exorta
os crentes a cuidarem de seus próprios lares e a serem exemplos para os outros (1 Timóteo
3:4-5). Paulo, nas suas epístolas, também instrui os maridos e as esposas a
desempenharem seus papéis com sabedoria e amor. Os maridos são chamados a amar
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suas esposas e a serem líderes amorosos e responsáveis em seus lares, enquanto as
esposas são encorajadas a se submeterem aos seus maridos e a contribuírem para a
unidade familiar. No contexto dos pais e filhos, Paulo instrui os pais a criarem seus filhos na
disciplina e no ensino do Senhor, enquanto os filhos são incentivados a honrar e obedecer a
seus pais. Essas instruções refletem a importância da autoridade, do cuidado e do respeito
mútuo na família.
Esses ensinamentos dos apóstolos, fundamentados nos ensinamentos de Jesus,
estabeleceram uma base sólida para as práticas e valores do casamento cristão. Ao
transmitirem essas orientações e princípios através de suas epístolas, os apóstolos
influenciaram diretamente a forma como os cristãos compreendem e vivenciam o
matrimónio.
No entanto, é importante ressaltar que, embora as epístolas dos apóstolos forneçam
insights gerais sobre o casamento, eles não oferecem uma discussão detalhada sobre o
assunto. As suas abordagens são mais abrangentes e visam fornecer princípios gerais para
a vida cristã. Além disso, as epístolas são escritos teológicos e pastorais, não tratados
acadêmicos sobre o casamento.
Em resumo, os apóstolos foram os seguidores diretos de Jesus e responsáveis por
disseminar seus ensinamentos. Por meio de suas epístolas e ensinamentos registrados no
Novo Testamento, eles contribuíram para a formação das práticas e valores do casamento
cristão, oferecendo orientações práticas e espirituais aos cristãos sobre como viver uma
vida matrimonial em conformidade com os ensinamentos de Jesus.
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ambos uma só carne." Essa passagem é frequentemente citada como base para a
compreensão do casamento como uma união indissolúvel e de compromisso mútuo.
Além das bases bíblicas, os pais da igreja contribuíram significativamente para a teologia do
casamento. Agostinho de Hipona, um dos mais influentes teólogos do século IV, enfatizou o
papel do casamento como uma instituição ordenada por Deus para a procriação e a
complementaridade entre homem e mulher. Ele argumentou que a união matrimonial é um
reflexo do amor divino e uma fonte de virtude. Em sua obra "A Trindade", Agostinho
compara a união entre marido e mulher à relação entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo,
destacando a importância da unidade e do amor nesse contexto.
Além das contribuições dos pais da igreja, o desenvolvimento dos rituais matrimoniais
também desempenhou um papel importante na teologia do casamento. A introdução de
cerimónias religiosas formais, como a bênção nupcial e a troca de votos, serviu para
sacramentalizar e solemnizar a união conjugal. Esses rituais reforçam a dimensão sagrada
do casamento, destacando a presença de Deus e a importância da comunidade de fé na
vida do casal.
Para os cristãos, a teologia do casamento está intimamente ligada à visão da relação entre
Cristo e a Igreja. O apóstolo Paulo, em sua Epístola aos Efésios, compara o relacionamento
entre marido e mulher à união entre Cristo e a Igreja. Ele escreve: "Maridos, amai vossa
mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela" (Efésios
5:25). Essa analogia reforça a ideia de que o casamento é uma instituição sagrada,
refletindo o amor sacrificial de Cristo pela humanidade.
25
3.4 O paradigma monástico sobre a sexualidade:
26
O homem cristão primitivo viveu na dualidade de procurar os heroicos “homens do deserto”
para aconselhamento espiritual. Apesar das suas pregações e crença de que a sexualidade
era um acto hostil à alma, os monges só reservavam a obrigação do celibato para si
mesmos, não interferindo de qualquer maneira com a sexualidade dos “homens do mundo”.
Ao mesmo tempo, foi adotada uma perspetiva inovadora e revolucionária sobre os
impulsos sexuais. Estes instintos inerentes do ser humano, atentamente estudados por
Evágrio e João Cassiano, poderiam ser indicativos de outros problemas da psique humana
mais profundos e mascarados por debaixo desses impulsos sexuais, constituindo obstáculo
para a perfeição da alma humana e da “simplicidade de coração”. Por isso, todas as
alterações de desejo sexual como sonhos e ejaculações involuntárias eram
cuidadosamente estudadas pelos monges.
Para o homem bizantino do século VI, as regras sobre a sexualidade estavam claramente
delineadas. A vida do casal cristão monogâmico era austera, mas não problemática. Era
comum, para o que hoje consideramos um pré adolescente irresponsável de treze anos ter
de decidir para o resto da vida qual das duas vias gostaria de seguir: ou prometer noivado
com essa idade e seguir a vida mundana, ou renunciar ao sexo para se unir aos “odores do
deserto”. A indecisão entre os dois comumente resultava em uma desilusão e
arrependimento para o resto da vida e no adiamento da promessa para a vida religiosa para
a geração seguinte. Por exemplo, Marta, uma jovem forçada a casar por conveniência,
prometeu o seu filho Simeão de Antioquia para a vida religiosa aos 7 anos de idade. O
século VI foi o século das crianças santas e dos recrutas infantis para a vida ascética.
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No entanto, apesar de toda esta beatitude, até as cidades mais cristãs e devotas se
encontravam paganizadas pelo seu passado greco-romano, por exemplo, a presença de
estátuas nuas em banhos públicos e andavam cobertas de jovens prostitutas a aliciar as
elites locais.
28
3.6 Desenvolvimento dos rituais matrimoniais no contexto cristão:
Os rituais matrimoniais cristãos têm as suas raízes nas tradições judaicas e nas práticas
matrimoniais da cultura greco-romana. Durante o período em que o cristianismo se
desenvolveu e se difundiu, a sociedade romanaexercia uma influência significativa sobre
todas as esferas da vida cotidiana, incluindo o casamento. Os romanos valorizavam o
casamento como uma instituição vital para a continuidade da sociedade e a preservação da
linhagem familiar. Eles acreditavam na importância da procriação e na estabilidade dos
laços conjugais. No entanto, com o passar do tempo, esses rituais foram enriquecidos e
transformados pelos ensinamentos e pelas crenças cristãs. O objetivo principal desses
rituais é proclamar publicamente o compromisso mútuo dos noivos, abençoar sua união e
reconhecer a presença de Deus nesse momento sagrado.
Uma das influências mais marcantes no desenvolvimento dos rituais matrimoniais cristãos
foi a combinação do sacramento cristão com os costumes e rituais romanos. No início do
cristianismo, os casamentos eram celebrados principalmente nas casas dos noivos ou nas
igrejas, sem um rito formal específico. No entanto, à medida que a Igreja se tornava mais
institucionalizada e as práticas sacramentais se desenvolviam, surgiu a necessidade de
celebrar rituais matrimoniais distintos.
No século IV, com o Édito de Milão, que legalizou o cristianismo, a Igreja começou a exercer
um papel mais ativo na regulamentação dos casamentos. Surgiram cerimónias formais e
rituais específicos, como a bênção nupcial, a troca de votos e a celebração da Eucaristia.
Esses rituais foram incorporados para sacramentalizar o casamento e enfatizar sua
natureza sagrada. A presença de um sacerdote ou ministro da igreja para oficiar a
cerimónia e abençoar a união também se tornou uma prática comum.
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sociedade. Nesse momento, os noivos expressam publicamente seu compromisso mútuo
de amor e fidelidade. Estes votos são considerados sagrados e, segundo a tradição cristã,
são feitos diante de Deus e da comunidade de fé. A troca de alianças, simbolizando a união
e o compromisso duradouro, também se tornou um elemento central nas cerimónias
matrimoniais cristãs.
Além disso, o simbolismo do casamento como uma representação da relação entre Cristo e
a Igreja também influenciou os rituais matrimoniais. A noiva é muitas vezes comparada à
Igreja e o noivo a Cristo, refletindo a teologia do amor sacrificial e da união espiritual. Essa
simbologia é expressa através de gestos rituais, como a troca de anéis, a bênção nupcial e
a leitura de passagens bíblicas relacionadas à relação entre Cristo e a Igreja.
Em resumo, os rituais matrimoniais cristãos têm evoluído ao longo dos séculos, combinando
elementos das tradições judaicas, da cultura greco-romana e das crenças e práticas cristãs.
Esses rituais são projetados para sacramentalizar o casamento, proclamar publicamente o
compromisso mútuo dos noivos e reconhecer a presença de Deus nesse momento sagrado.
A troca de votos, a celebração da Eucaristia, o simbolismo da relação entre Cristo e a Igreja
e a presença de um ministro ou sacerdote são elementos centrais desses rituais.
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história. A Igreja assumiu a responsabilidade de supervisionar e regulamentar as cerimónias
matrimoniais, buscando preservar a santidade e a sacralidade do casamento como um
sacramento divinamente ordenado. Neste subcapítulo, examinaremos a influência da Igreja
na regulamentação dos rituais matrimoniais, suas razões teológicas e suas implicações
práticas.
A partir do século IV, a Igreja começou a desempenhar um papel cada vez mais ativo na
regulamentação dos casamentos. Essa regulamentação era motivada por várias razões
teológicas e pastorais, incluindo a ênfase na santidade do casamento, a proteção dos
direitos e deveres dos cônjuges e a manutenção da ordem e da disciplina eclesiástica.
Uma das primeiras áreas em que a Igreja estabeleceu regulamentações foi a questão da
validade do casamento. A Igreja procurava assegurar que os casamentos fossem
celebrados de acordo com os princípios e rituais cristãos, garantindo assim sua validade
sacramental. A presença de um sacerdote ou ministro da igreja para abençoar a união e a
observância dos rituais prescritos tornaram-se requisitos para a validade do casamento.
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Em resumo, a regulamentação pela Igreja desempenhou um papel crucial na definição e no
estabelecimento dos rituais matrimoniais cristãos. Através de suas regulamentações, a
Igreja buscou preservar a sacralidade e a santidade do casamento, estabelecer normas
para a validade do sacramento e promover a estabilidade e a integridade do matrimónio.
Essas regulamentações foram fundamentadas em princípios teológicos e pastorais,
refletindo a visão da Igreja sobre a importância e o propósito do casamento cristão.
Conclusão
Em conclusão, o casamento cristão foi moldado por três principais fontes: a figura de Jesus
Cristo e seus ensinamentos, as tradições romanas e as práticas judaicas.
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Jesus Cristo desempenhou um papel central na definição dos princípios e valores do
casamento cristão. Os seus ensinamentos enfatizavam a indissolubilidade, a monogamia,
amor, respeito mútuo, fidelidade e pureza como pilares fundamentais dessa união sagrada.
Além disso, Jesus utilizava a instituição do casamento como uma metáfora para ilustrar os
ensinamentos sobre o Reino de Deus. Os apóstolos, como seguidores diretos de Jesus,
desempenharam um papel significativo na disseminação e consolidação dos ensinamentos
sobre o casamento cristão. Por meio de suas epístolas, eles reforçaram a importância da
família e do casamento como instituições divinamente ordenadas, estabelecendo diretrizes
para a conduta dos cônjuges.
As tradições romanas também tiveram impacto na formação do casamento cristão. O
casamento romano era valorizado como uma instituição vital para a sociedade, baseado em
rituais e cerimônias que influenciaram os ritos matrimoniais cristãos. A ênfase na fidelidade
e na obrigação mútua dos cônjuges, bem como a concepção do casamento como um
contrato legal e duradouro, foram elementos incorporados à visão cristã do matrimônio.
Ademais, o casamento judaico desempenhou um papel relevante na formação do
casamento cristão, especialmente nas primeiras comunidades cristãs compostas por
convertidos do judaísmo. As práticas e tradições judaicas, como a preferência por
casamentos endogâmicos e a valorização da cerimónia como um evento carregado de
simbolismo e espiritualidade, influenciaram profundamente o casamento cristão. Nesse
contexto, é possível observar que o casamento cristão se consolidou como uma síntese
dessas influências, combinando os ensinamentos de Jesus Cristo, os aspectos culturais e
legais do casamento romano e as práticas e tradições judaicas. Essa fusão resultou em
uma instituição que valorizava a indissolubilidade, a monogamia, a fidelidade, o amor mútuo
e a importância da família como parte essencial da vida cristã.
Portanto, a compreensão das origens do casamento cristão até os séculos VII e VIII
evidencia a rica interação entre os elementos religiosos, culturais e históricos na formação
dessa instituição. O estudo dessas influências contribui para uma compreensão mais
abrangente do casamento cristão e de sua importância como um pilar da fé cristã,
permeado pelos princípios e valores transmitidos por Jesus Cristo, assim como por
aspectos das tradições romanas e judaicas.
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