Você está na página 1de 36

Universidade dos Açores

Faculdade das Ciências Sociais e Humanas


3º Ciclo de estudos em História
Unidade Curricular: Projeto em História
2022/2023

Trabalho de Investigação sobre as origens do


casamento cristão

Docente: Susana Maria Goulart Pereira da Costa

Discente: Alexandre Dias de Moura (2020112646)


Índice

Introdução……………………………………………………………………………………………3

1. O casamento Judaico……………………………………………………………………………5

1.1 Formas de relação matrimonial…………………………………………………….....………6

1.2 Parentesco e casamento……………………………………………………………...………7

1.3 Deveres do marido e da esposa…………………...…………………………...……………8

1.4 Contrato de Noivado e Ritos Nupciais…..…………………………………………..………9

1.5 Divórcio…………………………………………………….…………………………..………10

2. O Casamento Romano …………………………………………………………..……………11

2.1 O casamento na Antiguidade Romana………………………………………..……………12

3. O Casamento Cristão………………………………………………………………..…………19

3.1 Jesus Cristo - O fundamento divino para a união conjugal………………………………20

3.2 Os apóstolos ……………………………………………………………………..……………22

3.3 A Teologia do Casamento no Contexto Cristão………………………………...…………24

3.4 O paradigma monástico sobre a sexualidade…………………………...…………………25

3.5 A sexualidade no mundo latino…………………………………………………...…………27

3.6 Desenvolvimento dos rituais matrimoniais no contexto cristão……….…………………29

3.7 Regulamentação pela Igreja dos Rituais Matrimoniais…………………………...………31

Conclusão………………………………………………………………………………………….33

Bibliografia…………………………………………………………………………………………34

2
Introdução

O casamento cristão é uma instituição que desempenha um papel fundamental na vida dos
fiéis, proporcionando um contexto sagrado para a união de duas pessoas perante Deus e a
comunidade. Sua origem remonta aos primórdios do cristianismo e reflete a interação entre
diversas influências históricas, culturais e religiosas. Neste trabalho, investigaremos as
origens do casamento cristão até os séculos VII e VIII, com base em três principais fontes: a
figura de Jesus Cristo e seus ensinamentos, as tradições romanas e as práticas judaicas.
Compreender essa rica interação permitirá uma análise aprofundada das bases teológicas,
rituais e valores que permeiam o casamento cristão. Através da análise desses elementos,
visamos lançar luz sobre a evolução e a influência das práticas matrimoniais na fé cristã ao
longo dos séculos, bem como sua relevância contínua nos dias de hoje.

A figura central para compreender as origens do casamento cristão é Jesus Cristo. Como
fundador do cristianismo, ele deixou um legado de ensinamentos e princípios que serviram
de base para a formação do casamento cristão. Ao examinar os evangelhos e outras fontes
históricas, é possível identificar as ideias e concepções de Jesus sobre o casamento. A
indissolubilidade, a monogamia, o amor e respeito mútuo, bem como a fidelidade e pureza
são alguns dos valores que ele enfatizou como essenciais para a vida matrimonial.

Além disso, Jesus utilizou a instituição do casamento como uma metáfora para ilustrar seus
ensinamentos sobre o Reino de Deus. Ele estabeleceu uma conexão intrínseca entre o
relacionamento conjugal e a relação entre Deus e seu povo. Essa abordagem contribuiu
para a elevação do casamento cristão como um sacramento, uma aliança sagrada que
reflete o amor divino e a união espiritual entre os cônjuges.

Ao mesmo tempo, as tradições romanas também tiveram um impacto significativo no


desenvolvimento do casamento cristão. O casamento romano, como instituição vital para a
sociedade, trouxe consigo rituais, cerimônias e noções legais que influenciaram a forma
como o casamento cristão foi estabelecido. A valorização da fidelidade, a obrigação mútua
dos cônjuges e a ideia do casamento como um contrato legal e duradouro foram aspectos
incorporados pelas primeiras comunidades cristãs.

A influência dos ensinamentos de Jesus Cristo e das epístolas dos apóstolos, como as de
Paulo, Pedro, João e Tiago, também moldaram as práticas matrimoniais cristãs. Essas
epístolas fornecem orientações específicas sobre o casamento, ressaltando a importância

3
da família e do casamento como instituições divinamente ordenadas. Elas incentivam os
cônjuges a viverem em harmonia, a serem submissos e amorosos uns com os outros, e a
desempenharem seus papéis dentro da estrutura familiar estabelecida.

Adicionalmente, é essencial compreender as tradições judaicas e seu impacto no


casamento cristão. A presença de seguidores convertidos do judaísmo nas primeiras
comunidades cristãs trouxe consigo influências culturais e práticas matrimoniais judaicas. O
casamento judaico era uma cerimônia rica em história, espiritualidade e simbolismo,
refletindo os valores, costumes e ensinamentos do povo judeu. Através do estudo dessas
práticas, podemos entender melhor como elementos do casamento judaico foram
incorporados à tradição cristã.

Ao analisar as origens do casamento cristão até os séculos VII e VIII, mergulhamos em um


período crucial da história em que o cristianismo começou a se consolidar como uma
religião estabelecida. Nessa época, a teologia do casamento cristão estava em constante
evolução, baseada na interpretação das Escrituras e nas contribuições teológicas ao longo
dos séculos. Essa teologia influenciou a compreensão e prática do casamento cristão nas
diversas comunidades cristãs espalhadas pelo mundo.

À medida que nos aprofundamos na interação entre as figuras de Jesus Cristo, as tradições
romanas e as práticas judaicas, desvelamos uma história complexa que moldou a noção e a
importância do casamento cristão. O objetivo deste trabalho é lançar luz sobre essa história
e explorar as implicações dessas origens para a compreensão contemporânea do
casamento cristão. Ao examinar as influências históricas, teológicas e culturais, esperamos
enriquecer nosso conhecimento sobre o casamento cristão e sua relevância contínua como
uma instituição sagrada na fé cristã.

4
1. O casamento Judaico

O casamento é uma instituição ancestral que desempenha um papel central nas diversas
culturas e religiões ao redor do mundo. No contexto cristão, a celebração matrimonial
possui profundas raízes que remontam aos primórdios da fé cristã, ao início das raízes
abraâmicas, com a história do judaísmo e do contexto hebraico. Ao explorar as origens do
casamento cristão, é crucial compreender as influências e ligações com as tradições
judaicas, que desempenharam um papel significativo na formação dos rituais e simbolismos
que envolvem essa sagrada união.

Este trabalho tem como objetivo mergulhar nas raízes do casamento cristão e examinar
como a herança judaica contribuiu para a sua formação. Ao longo dos séculos, as primeiras
comunidades cristãs encontraram-se imersas em uma cultura predominantemente judaica,
onde muitos dos primeiros seguidores de Jesus eram judeus convertidos. Portanto, não é
surpreendente que muitos aspectos do casamento cristão tenham sido influenciados por
tradições judaicas.

O casamento é uma ocasião especial e significativa que marca o início de uma nova
jornada na vida de um casal. Ao redor do mundo, diferentes culturas têm as suas próprias
tradições matrimoniais, cada uma com suas peculiaridades e simbolismos únicos. Entre
essas tradições, o casamento judaico se destaca como uma cerimónia rica em história,
espiritualidade e simbolismo, repleta de significado profundo e uma conexão com a fé
judaica.
Os casamentos judaicos são enraizados em uma herança cultural e religiosa milenar,
transmitida através das gerações. Eles são uma manifestação tangível dos valores,
costumes e ensinamentos do povo judeu, incorporando elementos que refletem a
importância da família, comunidade e compromisso mútuo.

5
1.1 Formas de relação matrimonial
A literatura hebraica mais antiga representa um desenvolvimento comparativamente alto da
vida social e doméstica da altura. Não há evidências claras no Antigo Testamento das
condições primitivas de poliandria, como existiam entre os antigos árabes.

A poligamia era a forma predominante de relação matrimonial nos tempos do Antigo


Testamento. Parece não haver limite para o número de esposas ou concubinas que cada
homem poderia ter, exceto a sua capacidade de as sustentar a elas e aos seus filhos. Na
prática, entretanto, apenas homens ricos, chefes ou reis tinham muitas esposas. Podemos
tirar exemplo dos grandes agregados familiares de Gideão, Davi e Salomão (Juízes 8:30; 2
Samuel 5:13; 1 Reis 11:1). Os Patriarcas não tinham muitas esposas. Isaac, por exemplo,
parece ter ficado satisfeito com apenas uma. Casos como os de Elcana (1 Samuel 1:1-2) e
Jeoiada (2 Crônicas 24:3), cada um deles tendo duas esposas, podem ter sido comuns
(Deuteronómio 21:15).

Era comum que a escrava hebraica se fizesse esposa ou concubina do seu senhor. Existem
relatos de casos em que a esposa voluntariamente entregava a sua serva para se tornar
esposa de seu marido (Génesis 16:3; 30:3, 9). A situação da esposa sem filhos nesse tipo
de lar era claramente infeliz. A lei posterior foi estabelecida para limitar essa prática e
corrigir os abusos da poligamia. Ao rei era ordenado que não multiplicasse as esposas
"para que seu coração não se desviasse" (Deuteronómio 17:17). Um homem não podia
"tomar uma mulher juntamente com sua irmã, para torná-la inimiga" (Levítico 18:18, R.V.) e
tanto os direitos da mulher e da escrava desposada pelo senhor estavam bem protegidas
pela lei desde tempos antigos, como se pode ver em Êxodo 21:2-11.
A poligamia era desencorajada pelos profetas. Na história profética, a monogamia é
apresentada como o estado original ideal (Génesis 2:18 e seguintes). A pluralidade de
esposas na Bíblia ocorre primeiramente entre os descendentes amaldiçoados de Caim
(Génesis 4:23), mas Noé é marido de uma única esposa, assim como Jó. Todos os profetas
e pais de Israel tomados como exemplo são monogâmicos. Os profetas Oséias e Isaías por
exemplo eram monogâmicos. Até a relação entre Deus e a nação de Israel é apresentada
pelos profetas como uma relação monogâmica. Apesar dos abundantes casos de poligamia,
a monogamia era a regra entre os judeus tanto em tempos remotos, como na época
romana.

6
1.2 Parentesco e casamento:
Por norma, o casamento judeu era endogâmico. Além disso, até ao histórico exílio da
Babilónia, em Israel existiam 12 tribos em Israel e havia preferência para casar dentro da
mesma tribo. Como a coesão da tribo dependia em parte do sentimento de pertença
familiar, era preferível que os casamentos não fossem realizados entre tribos, para evitar
envergonhar a própria tribo e os casamentos com membros de outra tribo eram fortemente
desencorajados. No entanto, ao longo dos tempos, sobretudo desde o exílio da Babilónia,
gradualmente houve mistura entre tribos. No Antigo Testamento é visível a preocupação de
que os protagonistas, como Isaque e Jacob, se casassem dentro do próprio clã familiar.
Houveram parcas exceções como o caso de Moisés, fugitivo adotado pela tribo da sua
esposa (Êxodo 2:21).

Muitas das normas do casamento para o judeus podem ser achadas nos livros que os
judeus do Antigo Testamento usavam para a Lei Judaica e a sua conduta moral, social e
espiritual. São eles, os livros da Torá, sobretudo o Levítico e o Deuteronómio. O casamento
de israelitas com estrangeiros, por norma era proibido, inclusive por lei, no entanto, a sua
flexibilidade poderia mudar consoante alianças políticas com os reis de Israel. A lei no
Deuteronómio, por exemplo, proíbe o casamento com os cananeus, mas aparentemente faz
uma exceção à regra endogâmica em favor dos edomitas e egípcios. Durante o período do
Exílio houve uma flexibilização nas leis de casamento, geralmente entre tribos, mas ao
mesmo tempo, foram reforçadas leis rigorosas para proibir o casamento com estrangeiros.
O casamento entre parentes próximos era comum, mas havia restrições específicas. As
várias instâncias de casamentos entre parentes ao longo da história patriarcal mostram que
os valores antigos eram diferentes dos valores posteriores. Abraão casou-se com sua
meia-irmã paterna. Já no tempo do rei Davi, tal casamento seria visto como incomum, mas
não seria repreensível nem proibido. O próprio Moisés foi resultado de um casamento entre
um sobrinho e sua tia paterna. Um primo do lado paterno era considerado especialmente
elegível para ser pretendente - uma visão que sobreviveu entre os beduínos e no
campesinato sírio. Por fim, tanto no livro do Deuteronómio, o casamento entre irmãos é
proibido. Por último, também havia permissão dentro da lei judaica, para o costume do
casamento do levirato, um casamento em que um homem se casava com a viúva de seu
irmão falecido, para perpetuar o nome e a propriedade dentro da família do homem.

7
1.3 Deveres do marido e da esposa:
A esposa era considerada posse do seu homem. No livro o Êxodo é possível encontrar os
nomes hebraicos "ba'al" (que significa “senhor” ou “dono”) para "marido" e "be'ulah" (que
significa “possuída”) para "esposa". No entanto, ela era uma propriedade valiosa e, em
geral, era bem cuidada. Ela não era isolada como entre os muçulmanos, mas tinha
considerável liberdade e influência. Nas casas mais abastadas, ela muitas vezes desfrutava
de uma grande independência e na família real, às vezes se tornava uma poderosa
influência no estado. Basta recordar as histórias das mulheres do Antigo Testamento, como
Sara, Rebeca, Débora e Jael. No relato profético da Criação (Génesis 2, 3), Eva é uma
auxiliadora do seu marido, “osso de seus ossos e carne da sua carne”.
No lar, o compartimento mais interior era seu, ou, em alguns casos, havia uma casa
separada inteiramente para a mulher.. Ela realizava as tarefas domésticas comuns ou
administrava os assuntos de sua casa e dirigia seus servos. O seu lugar era, portanto, a
casa e ela deveria ser casta e obediente. Ao seu marido, estava obrigado a fornecer à
esposa roupa e comida.

Apesar de se encontrar nesta situação inferiorizada de posse, a mulher hebraica sentia


ainda assim um certo grau de independência e de igualdade de direitos com os homens,
para realizar as suas tarefas diárias. Elas não recusam conversar com estranhos, aceitam
ajuda de boa vontade e estão prontas para oferecer ajuda em troca. Mais tarde, quando a
história dos patriarcas foi escrita, também houve alterações nos costumes relacionados aos
afazeres. O processo de povoamento e as mudanças resultantes na relação tribal levaram a
uma visão mais flexível em relação aos casamentos e alianças com os cananeus e outros
estrangeiros, que passaram a ser considerados naturais.
Existem casos de mulheres israelitas que se casaram com estrangeiros (em todos os casos,
era pressuposto que os homens adotariam Israel como sua pátria). Sabemos de várias
instâncias em que mulheres israelitas se casaram no estrangeiro, como o caso de
Huram-Abi, um artesão de Tiro que era filho de uma mãe hebraica.
No livro de Deuteronómio, observamos uma mudança em que é permitido o casamento com
mulheres estrangeiras que foram tomadas em guerra, mas proíbe, por outro lado,
casamentos de aliança com os cananeus ou qualquer outro povo pagão (Êxodo 34:15 pode
ter sido redigido de forma deuteronomista). Os motivos para essa proibição são religiosos,
pois essas mulheres pagãs poderiam seduzir seus maridos para a idolatria. É possível que
essa atitude em relação aos cananeus tenha mudado com a evolução da monarquia, com
uma gradual maior tolerância. O casamento entre israelitas também era permitido entre
sobrinho e viúva. A característica central dos casamentos era que o noivo levava a noiva
vestida para a cerimónia, acompanhada pelos seus amigos. A noiva seguia festivamente

8
para a casa do noivo, enquanto o noivo ia sozinho para a casa dos pais. Sem dúvida,
também ocorriam procissões. O costume atual é que os convidados cantem hinos de louvor
à noiva e ao noivo. Essa prática também pode ter suas raízes na antiguidade. Como um
bem valioso do marido, a mulher era muito bem cuidada. Ela tinha o seu próprio quarto
dentro de casa, onde nenhum homem poderia entrar. No caso de pessoas ricas ou de alto
estatuto, elas tinham uma casa separada só para si. No entanto, isso não significa que não
realizassem tarefas diárias em casa. Elas costuravam, teciam, confeccionavam roupas,
cozinhavam, assavam pão e cuidavam dos rebanhos.

1.4 Contrato de Noivado e Ritos Nupciais


O primeiro passo em direção ao casamento era o contrato de noivado (“aras”), envolvendo
o consentimento dos pais ou do guardião da mulher e o pagamento de um preço ("mohar").
Este contrato de casamento designava-se por Ketubah. O mohar, longe de ser um dote no
início, originalmente figurava quase como uma compra que se fazia ao pai ou guardião da
mulher, pela sua “transação” para o pretendente. Este contrato, fazia-se e foi feito durante
longos séculos da história de Israel, dentro de um contexto de uma sociedade tribal, onde a
mulher estava inserida dentro de uma família que pertencia a um clã e interessava por isso
saber quais as origens do pretendente e se era seguro para os pais ou guardiães da filha,
retirá-la para longe da proteção da sua família e passá-la para a guarda do outro homem
que se propunha. Esta transação, por vezes, poderia ser de quantidades consideráveis.
Não há muita informação sobre a quantia em dinheiro a ser paga. De acordo com artefatos
da época, a média era de cerca de 50 shekels de prata. No entanto, o mohar podia ser pago
de outras maneiras, para além do dinheiro, por exemplo, na forma de serviços no campo ou
na guerra. Provavelmente, mesmo nos tempos antigos, era costume também dar à noiva
alguma parte do mohar, ou pelo menos dar-lhe um presente. Na tradição hebraica, não
havia o costume de a mulher dar algo em troca ou os pais da mulher receberem algo em
troca.
As mulheres frequentemente eram dadas em casamento aos heróis pelas suas proezas em
guerra. Acredita-se, por exemplo, que o Rei David comprou Mical aos pais dela com os
seus feitos em batalha. Os heróis homéricos da antiguidade costumavam pagar com gado.
O "mohar", como era chamado, gradualmente perdeu seu significado original como
"dinheiro de compra" à medida que passou a ser oferecido à mulher pretendida em vez de
ao pai dela. Somente após o exílio na Babilônia é que a concessão de dotes na forma
moderna parece ter começado a existir.

9
Admite-se também a probabilidade da existência de um contrato de casamento feito por
escrito. Após o noivado, a noiva poderia ir para a casa do marido e as núpcias eram
celebradas imediatamente ou pouco depois.

Os primeiros passos para o noivado, ao que parece, eram geralmente dados pelos pais do
pretendente, que formalmente faziam a proposta aos pais da noiva. No entanto, não era
raro naquela época, que os jovens tivessem se conhecido e namorado espontaneamente,
num casamento romântico e não haveriam falta de oportunidades para isso acontecer, no
convívio sem restrições do dia-dia, fosse pastoreando o gado, ou junto aos poços de água.
Mesmo assim, a norma era que nos tempos antigos, a escolha da noiva era um assunto que
cabia ao chefe da família. Isso fica evidente quando a pessoa escolhida tinha que se tornar
membro do clã da tribo. Além disso, era mal visto pelos judeus que um filho, por mais
bem-intencionado que fosse, insistisse em se casar com uma mulher que sua família não
quisesse receber. E de tempos em tempos, ocorria de facto, que uniões por amor
acontecessem com ou sem o consentimento dos chefes da família, citando por exemplo, o
caso do personagem bíblico Esaú, que se casou contra a vontade dos seus pais.

Após o noivado, a noiva estava sujeita às mesmas restrições de uma esposa


(Deuteronômio 22:23-24). Pouco se sabe sobre a cerimónia de casamento. Os elementos
centrais nos tempos posteriores eram o cortejo nupcial e o banquete de casamento. O
noivo, vestido a rigor e acompanhado pelos seus amigos, ia até a casa da noiva, de onde
ela, também em trajes de noiva, véu e acompanhada pelas suas amigas, era conduzida
para a casa dos pais do noivo. O cortejo era animado com canções para, ou em louvor, da
noiva e do noivo, e se à noite, era iluminado por tochas ou velas. Seguia-se o banquete
nupcial na casa do noivo, e as festividades subsequentes, que por vezes, continuavam por
vários dias.

1.5 Divórcio
O marido tem o direito de se divorciar da sua esposa, mas pela lei do Deuteronómio
(Deuteronómio 24:1), ele é obrigado a dar-lhe um documento de divórcio. Ela pode casar-se
novamente, mas se for novamente divorciada ou ficar viúva, o seu ex-marido não a pode
receber de volta (Deuteronómio 24:2-4). É possível que práticas antigas sobre o divórcio
sejam encontradas nos livros de Oséias capítulo 2 e livro 2º de Samuel 3:14. Para qualquer
dos efeitos, o direito ao divórcio foi posteriormente revogado, como consta no livro do
deuteronómio e profetas e rabinos, como o profeta Malaquias protestaram veementemente
contra essa prática.

10
2. O CASAMENTO ROMANO

O casamento, como instituição social, tem sido parte integrante da humanidade ao longo
dos séculos. Diversas culturas e civilizações têm suas próprias tradições e rituais
matrimoniais, cada uma com suas peculiaridades e influências. No contexto cristão, é
interessante explorar a influência do casamento romano, uma vez que os primeiros
seguidores de Jesus Cristo viveram em um mundo impregnado pela cultura romana.

Esta pesquisa tem como objetivo examinar as origens do casamento cristão e a influência
direta que o casamento romano exerceu sobre essa sagrada união. Durante o período em
que o cristianismo se desenvolveu e se difundiu, a sociedade romana era dominante e
exercia uma influência significativa sobre todas as esferas da vida cotidiana, incluindo o
casamento.

Ao investigar a influência do casamento romano no casamento cristão, é fundamental


considerar a adoção de certos costumes e práticas pelos primeiros cristãos. Os romanos
valorizavam o casamento como uma instituição vital para a continuidade da sociedade e a
preservação da linhagem familiar. Eles acreditavam na importância da procriação e na
estabilidade dos laços conjugais.

Os rituais e cerimónias romanas, como o uso de anéis, o intercâmbio de votos e a


celebração pública do casamento, influenciaram diretamente as práticas adotadas pelos
primeiros cristãos. A concepção do casamento como uma aliança pública e solene, além do
reconhecimento da importância da testemunha e da comunidade, foram elementos
incorporados ao casamento cristão.

Além disso, o estabelecimento do matrimónio como um contrato legal e a concepção do


casamento como uma instituição duradoura também foram influências romanas que
moldaram a compreensão cristã do casamento como um compromisso perante Deus e a
sociedade. A valorização da fidelidade e a obrigação mútua dos cônjuges foram princípios
estabelecidos pelo direito romano que se enraizaram na prática matrimonial cristã.

No entanto, é importante destacar que, apesar da influência romana, o casamento cristão


também foi profundamente moldado pelos ensinamentos de Jesus Cristo e das epístolas
paulinas. A ênfase na união espiritual, na igualdade e no amor ágape entre marido e mulher
é uma característica distintiva do casamento cristão, que vai além das influências romanas.

11
Ao considerar a influência do casamento romano no casamento cristão, torna-se evidente
que a fusão dessas duas tradições desempenhou um papel crucial na formação da prática
matrimonial cristã. Através dessa análise, esperamos compreender melhor as raízes
históricas e culturais dessa união sagrada, e como a interação entre o mundo romano e a
mensagem cristã moldou a concepção do casamento como é conhecida hoje. O casamento
cristão é um testemunho vivo da sinergia entre tradições antigas e fé, unindo a herança
romana e o ensinamento de Jesus Cristo em uma celebração de amor e compromisso
duradouro.

2.1 O casamento na Antiguidade Romana:


A sociedade da Itália romana era composta por 5-5 milhões de homens e mulheres livres
que viviam em domus ou “bairros particulares” servidos por 2-3 milhões de escravos ou
trabalhadores agrícolas aos quais lhes era proibido o casamento até ao século III. A estes
estava destinado a promiscuidade sexual à exceção de alguns mais próximos do seu amo
ou dos funcionários do imperador que em ambos os casos, tinham uma escrava concubina
reservada para si.

O casamento romano pode ser exercido por filhos legítimos, filhos bastardos nascidos de
uma cidadã ou escravos libertos. O casamento romano é um acto privado e não
sancionável pelo Estado. Não tem nenhum representante civil ou religioso a que se recorra
como um padre ou um notário e é um acontecimento não escrito e totalmente ausente de
rito simbólico. Em suma, o casamento era um ato privado, como para nós é o noivado. Em
falta de um documento formal que permitisse a um juiz deliberar sobre situações como a
questão de herança, era preciso recorrer a indícios que provassem a união do casal como a
constituição de um dote, gestos que provavam a intenção de ser esposo, como o casal
dormir na mesma cama, testemunhas que atestam o casal participar de um rito em que as
interações íntimas de casal eram evidentes, etc. Em último caso, apenas o homem e a
mulher poderiam saber se eram realmente casados ou não.

Era ainda preciso saber se os dois estavam em núpcias legítimas, já que o casamento por
mais informal que fosse não deixaria de ser uma situação de facto com efeitos de direito. As
crianças destas núpcias contêm o nome do pai e recebem a sua herança por direito.

O divórcio era igualmente simples. Bastava um dos elementos do casal se separar com a
intenção de se divorciar, o que deixava alguns juristas cautelosos inicialmente a perguntar

12
se fora uma simples zanga ou uma verdadeira separação. Muita vez era a própria mulher
que se separava por iniciativa própria e sendo repudiada ou não, ela levava consigo o dote.
No entanto, era normal que os filhos por norma ficassem com o pai. Debaixo do mesmo teto
poderiam coexistir filhos nascidos legítimos, bastardos, filhos de leitos diferentes e ainda
filhos adotivos.

A cerimónia nupcial realizava-se na presença de testemunhas. O homem, geralmente tinha


o costume de não “desflorar” a mulher (penetração vaginal) na primeira noite, no entanto,
não tinha problema de a “sodomizar” (penetração anal) com ou sem o consentimento da
esposa. Era encorajado e até quase obrigatório, os convidados elogiarem atrevidamente os
noivos nos primeiros dias antes e a seguir às núpcias. “Um poeta no seu epitalâmio, vai ao
ponto de prometer ao novo esposo uma tarde de amor: ousadia perdoável no dia a seguir
às núpcias; senão, fazer amor sem ser à noite seria uma libertinagem descarada” (Ariès e
Duby, História da vida privada, 1990, pp. 47).

Os romanos casavam por diversos motivos: para enriquecer (desposando um dote). e ter
descendentes em núpcias legítimas que recebessem a herança e perpetuar o “corpo cívico”
ou “núcleo de cidadãos” isto é, não só perpetuar a família, mas também ajudar a manter o
número de habitantes do Império que exercem a “profissão de cidadão”.

Ao longo da história do Império, quer se tratasse de casamento ou de concubinato, a


monogamia era a norma. No entanto, a noção de casal sofreu várias mutações desde o
primeiro século.

No primeiro século, os homens com estatuto de cidadão viam-se como homens que tinham
de cumprir as suas funções de cidadão romano. No segundo século, já se vêem como
homens que devem cumprir a função de bons maridos e respeitar as suas esposas.

De acordo com Michel Foucault, esta alteração resultou de uma mudança de paradigma
com a consolidação do Império. Ao mesmo tempo, o estoicismo era uma filosofia de vida
muito difundida nas classes superiores romanas (as classes populares e os escravos não
interessam pois é impossível saber o que pensavam). No primeiro século durante a
república, a visão do marido era de um soldado com um dever cívico, militar e devia cumprir
o seu dever. Os dois séculos seguintes viram uma transformação não tanto da conduta,
mas do formato da moral. Enquanto no primeiro século, a moral do marido põe em questão
o fundamento da regra - é preciso casar para ter filhos, logo, é preciso obedecer e casar -
nos séculos seguintes, a moral torna-se menos militarista e procura dar fundamento para a

13
ideia do casamento - deve haver um motivo para casar para além de ter ter filhos, pois é
preciso que o marido e a mulher vivam juntos em harmonia e com amor um no outro. A
respeito da mulher, enquanto na primeira moral, ela não passa de um instrumento da
profissão de cidadão para fazer filhos e aumentar o património, na moral mais tardia, ela
passa a ser uma amiga e companheira para a vida toda a quem basta cumprir o seu papel
razoável de obedecer ao marido como ser inferior que ela desempenha.

Em síntese, o casal formou-se quando ocorreram mudanças na percepção e nos papéis


atribuídos aos indivíduos dentro do Império Romano que resultaram da mudança de
paradigma com o novo regime vigente e da influência de novas filosofias de vida. A partir do
momento que gradualmente começou a existir em Roma a ideia de casal, passou a ser
também da preocupação do Estado Romano também garantir a constante taxa de
fertilidade, com medo de enfrentar crises de nupcialidade já existentes nessa altura.

Na sociedade romana, as mulheres eram frequentemente consideradas como "crianças


grandes", necessitando de cuidados devido ao seu dote e à posição social de seu pai. Os
escritos de Cícero e de seus correspondentes revelam os caprichos dessas jovens
eternamente adolescentes, que aproveitavam a ausência de seus maridos, muitas vezes
enviados para governar províncias distantes, para se divorciar e se casar novamente. Esses
comportamentos imaturos tinham consequências nas relações políticas entre os senhores
romanos.

No entanto, é importante ressaltar que essas atitudes infantis não eram capazes de
ridicularizar seus maridos, que exerciam um controle total sobre suas esposas, filhas e
servos domésticos. Se a esposa fosse infiel, isso era considerado uma infelicidade, não um
motivo de ridículo. Da mesma forma, uma gravidez indesejada de uma escrava ou a falta de
cumprimento de deveres por parte dos servos também eram questões a serem tratadas
com seriedade, não com desprezo.

Se a mulher traísse seu marido, ele seria acusado de ter falhado em sua vigilância e
firmeza, permitindo que o adultério ocorresse em sua casa devido à sua fraqueza. Da
mesma forma que na sociedade romana se criticava os pais por serem muito indulgentes
com seus filhos, o que poderia levar ao aumento da delinquência e à insegurança pública.

Uma das maneiras pelas quais um pai ou marido podia evitar tal afronta era ser o primeiro a
denunciar publicamente tais atos. Por exemplo, o Imperador Augusto expôs
detalhadamente em um édito as relações sexuais de sua filha Júlia, e Nero fez o mesmo ao

14
revelar o adultério de sua esposa Octávia. A opinião pública, por sua vez, debatia se
deveria admirar ou censurar o silêncio estóico dos outros maridos. O fato de que os maridos
traídos eram ultrajados, em vez de ridicularizados, e que as mulheres divorciadas
mantinham seu dote, resultou em uma alta frequência de divórcios entre a classe alta (como
César, Cícero, Ovídio e Cláudio, que se casaram três vezes), e possivelmente também
entre a plebe das cidades.

O casamento era apenas um dos aspectos da vida e a esposa, eterna adolescente, era
apenas mais um dos elementos da casa, assim como eram os filhos, os libertos, os clientes
e os escravos. O marido permaneceu sempre como o pater familiae, autoridade máxima e
absoluta da casa. Os seus assuntos são tratados com outros chefes de casa de poder para
poder. Se algum deles tiver alguma coisa urgente a tratar, reúne o seu "conselho de amigos”
para conferenciar em sua casa, preferencialmente na presença da sua esposa.

Nessas ocasiões, será que o senhor e a senhora formavam um "casal"? Será que o senhor
permitia que a esposa se mostrasse aos visitantes, como ocorre na sociedade ocidental
moderna, ou a afastava rapidamente, como em alguns países islâmicos? Os poucos
documentos e indicações encontradas não permitem chegar a uma conclusão definitiva. A
única coisa clara é que a esposa, bem vigiada, tinha o direito de visitar suas amigas.

Aos romanos, não era estranho casar-se com uma divorciada ou voltar a se casar com uma
ex-esposa depois de ela ter tido outro marido. Ter tido apenas um homem em sua vida era
considerado um mérito, mas apenas alguns cristãos isolados tentaram transformar isso em
um dever e proibir as viúvas de se casarem novamente.

Como o casamento era um dever cívico e uma vantagem patrimonial, tudo o que a antiga
moral exigia dos cônjuges era que cumprissem uma tarefa específica: ter filhos e manter o
lar. Consequentemente, a moralidade incluía dois tipos de união. Por um lado, havia o dever
estrito do casamento. Por outro lado, havia uma união facultativa que poderia ser um mérito
adicional ou uma coincidência, como a formação de um casal unido. Foi por meio desse
aspecto que a ideia de casal foi introduzida no Ocidente, embora de maneira falsa. Como
aqueles encarregados de governar a casa, os cônjuges tinham o dever estrito de cumprir
suas respectivas tarefas. Se além disso se entendessem bem, isso seria considerado um
mérito e não uma suposição. Naquela época, a realidade do casamento não se confundia
com a harmonia entre o casal.

15
O amor entre os cônjuges era considerado um acaso feliz, não era o fundamento nem uma
condição para o casamento. Era sabido que o desentendimento era algo comum e as
pessoas se resignavam a isso. Os moralistas afirmavam que ao aprender a suportar os
defeitos e humores de uma pessoa, aprendia-se a enfrentar as adversidades deste mundo.

Embora não fosse obrigatório, o mérito de tratar bem a esposa não era maior do que ser um
bom vizinho, um anfitrião amigável, "carinhoso com a esposa e clemente com o escravo",
como escreveu Horácio.

Após Homero, o conceito de ternura entre os cônjuges passou a ser considerado um


complemento às obrigações estritas do casamento. Os baixos-relevos retratavam marido e
mulher de mãos dadas, mas isso não era um símbolo do casamento em si, como se
acreditava, mas sim uma representação da harmonia desejável nessa união.

A transformação moral que ocorreu segue o padrão da evolução das ideias ao longo da
história. Os sociólogos da época encontravam dificuldades crescentes para explicar as
mudanças culturais, sem terem uma explicação causal clara. No entanto, observa-se que
essa transformação moral não foi exclusivamente resultado do estoicismo. A nova
moralidade também encontrou defensores entre aqueles que não seguiam o estoicismo e
até mesmo entre os neutros.

Um exemplo disso é o filósofo Plutarco, seguidor do platonismo, que se distanciava do


estoicismo, que era dominante e enfrentava desafios do novo platonismo. No entanto, isso
não o impediu de defender a teoria do amor conjugal como uma forma superior de amizade.
Outro filósofo, Polímio, mesmo não sendo estoico, também aceitava essa teoria. Ele
preferia se concentrar na sabedoria. Em suas cartas, descrevia-se como um homem
virtuoso, que tomava decisões com a autoridade que possuía como senador em Roma.
Polímio afirmava que um segundo casamento era permitido, mesmo que a idade de um dos
cônjuges não permitisse a procriação. Isso ocorria porque o verdadeiro objetivo do
casamento era a ajuda mútua e a amizade entre os cônjuges. Ele mesmo aprendeu a ter
relacionamentos diversos e afetuosos com sua esposa, mantendo um profundo respeito e
uma amizade baseada em virtudes. É importante destacar que a esposa mencionada foi
casada por motivos de conveniência social e financeira, ainda era jovem e havia sofrido um
aborto espontâneo em sua primeira gravidez. O senador, que também era neutro, admirava
a adição republicana, que permitia que uma mulher acompanhasse o marido quando ele
partia para governar uma província, mesmo que tal função fosse quase militar e as
mulheres fossem excluídas das atividades de guerra. A presença da esposa servia para

16
apoiar moralmente o marido, e sua presença não enfraquecia, mas reconfortava esse
guerreiro.

Portanto, não é surpreendente que os estoicos tenham assimilado essa nova moralidade,
considerando-a evidente, uma vez que ela estava triunfante. No entanto, muitos estoicos
erroneamente acreditavam que foram eles os responsáveis por difundir essa moralidade,
em vez de apenas serem influenciados por ela.

Na realidade, a doutrina estoica não pregava a submissão à moralidade dominante; pelo


contrário, em sua primeira versão, o estoicismo ensinava o indivíduo a se tornar semelhante
aos deuses, autossuficiente e indiferente às vicissitudes do destino, desde que, por meio de
sua razão crítica.

No entanto, o estoicismo acabou se adaptando às mudanças culturais e incorporando


elementos da nova moralidade que enfatizavam a ternura e a amizade no casamento. Essa
mudança pode ser atribuída a uma série de fatores, incluindo a influência do platonismo, a
necessidade de conciliar a doutrina estóica com a realidade social e a busca por uma
moralidade mais inclusiva e humana.

À medida que a nova moralidade ganhava aceitação, os estóicos começaram a reinterpretar


sua doutrina para acomodar esses valores. Eles passaram a enfatizar a importância da
amizade e do afeto no casamento, argumentando que a união conjugal era uma
oportunidade para o crescimento mútuo e para a manifestação da virtude. Em vez de ver o
casamento como uma simples parceria funcional, os estóicos começaram a enxergá-lo
como uma união baseada no respeito, no amor e no compromisso mútuo.

Essa mudança de perspectiva foi influenciada pelo entendimento estóico da natureza


humana. Os estóicos acreditavam que os seres humanos são dotados de razão e são
capazes de cultivar virtudes como a sabedoria, a coragem e a justiça. Eles viam o
casamento como um contexto ideal para exercitar essas virtudes e desenvolver um
relacionamento baseado na harmonia e na felicidade mútua.

Com o passar do tempo, a ideia de ternura e amizade no casamento se tornou cada vez
mais enraizada na filosofia estóica. O filósofo Séneca, um dos principais expoentes do
estoicismo, defendia a importância da amizade no casamento, destacando que o verdadeiro
companheirismo e afeição entre marido e mulher eram essenciais para uma vida conjugal
feliz e virtuosa.

17
Essa mudança de perspectiva também se refletiu na literatura e na poesia estóica. Epicteto,
outro filósofo estoico, escreveu sobre a importância do amor e da ternura no casamento,
enfatizando a necessidade de tratar o cônjuge com respeito e carinho. O poeta estoico
Sêneca, o Jovem, também expressou a ideia de amor e afeto no casamento em suas obras,
retratando o casal como amigos e companheiros inseparáveis.

Portanto, a transformação moral que ocorreu no estoicismo em relação à ternura no


casamento pode ser vista como uma resposta à evolução das ideias e valores da sociedade
da época. Os estoicos se adaptaram à nova moralidade, reconhecendo a importância do
afeto e da amizade conjugal como aspectos essenciais de uma vida virtuosa e feliz.

É importante ressaltar que, apesar dessa mudança, o estoicismo não abandonou


completamente sua ênfase na autossuficiência e no controle das emoções. Os estoicos
ainda enfatizavam a importância de cultivar a virtude individualmente e não depender
excessivamente das relações externas para alcançar a felicidade. No entanto, eles
reconheceram a importância da ternura e do afeto no contexto do casamento, integrando
esses elementos em sua filosofia.

Assim, o estoicismo evoluiu ao longo do tempo, adaptando-se às mudanças culturais e


incorporando novas perspectivas sobre o casamento e as relações humanas. A ideia de
ternura e amizade no casamento tornou-se um elemento valorizado dentro dessa filosofia,
refletindo a busca dos estóicos por uma vida virtuosa, harmoniosa e feliz.

18
3. O casamento Cristão

O casamento cristão é uma instituição sagrada e de grande importância dentro da fé cristã.


Fundamentado nas Escrituras, nos ensinamentos de Jesus Cristo e nas contribuições dos
apóstolos e teólogos ao longo da história, o casamento cristão é visto como uma união
abençoada por Deus, que reflete o amor, a fidelidade e a comunhão entre Cristo e a Igreja.

A base teológica para o casamento cristão encontra-se na narrativa da criação, presente no


livro de Génesis, onde Deus estabelece o casamento como uma instituição divinamente
ordenada. Através da união de um homem e uma mulher, o casamento é descrito como a
formação de uma só carne, uma comunhão íntima e duradoura. Essa visão do casamento
como uma aliança indissolúvel reflete o propósito original de Deus para a humanidade,
demonstrando Seu amor e Sua intenção de estabelecer relacionamentos harmoniosos e
significativos.

No entanto, a compreensão do casamento cristão vai além de uma simples união legal ou
social. Os ensinamentos de Jesus Cristo acrescentam uma dimensão espiritual e um
chamado à santidade nessa relação. Jesus reafirmou a importância do casamento como
uma instituição divina, enfatizando sua indissolubilidade e a necessidade de amor, respeito,
fidelidade e compromisso mútuo. Ele elevou o casamento a um nível mais elevado de
significado espiritual, comparando-o à relação de amor entre Ele e a Igreja, Sua noiva.

Os apóstolos também desempenharam um papel crucial na formação da teologia do


casamento cristão. Através das suas epístolas e cartas, como as de Paulo, Pedro, João e
Tiago, eles transmitiram diretrizes específicas sobre a vida matrimonial, destacando a
importância do amor mútuo, do respeito, da submissão e da fidelidade conjugal. Esses
ensinamentos apostólicos forneceram uma orientação prática e espiritual aos cristãos,
moldando as práticas e os valores do casamento ao longo dos séculos.

A teologia do casamento cristão também se desenvolveu através das contribuições dos


teólogos e líderes da igreja ao longo da história. Desde os primeiros pais da igreja até os
teólogos contemporâneos, houve reflexões e debates sobre diversos aspectos do
casamento cristão, incluindo a importância da complementaridade entre homem e mulher, a
natureza sacramental do matrimónio e a responsabilidade dos cônjuges na formação de
uma família centrada em Deus.

19
No contexto atual, o casamento cristão continua a ser um tema relevante e desafiador. A
sociedade enfrenta mudanças significativas nos conceitos e práticas relacionadas ao
casamento e à família, exigindo uma reflexão contínua sobre como viver o matrimónio à luz
da fé cristã. Questões como divórcio, papéis de gênero, sexualidade e relacionamentos
interpessoais são temas que demandam uma abordagem cuidadosa e baseada na teologia
e nos princípios cristãos.

3.1 Jesus Cristo - O fundamento divino para a união conjugal

Jesus Cristo é amplamente reconhecido como o fundador do cristianismo e a sua influência


se estende a todos os aspectos da vida dos seguidores dessa fé, incluindo o casamento.

É importante ressaltar que a figura histórica de Jesus Cristo tem sido objeto de intenso
debate entre os historiadores. Enquanto a maioria dos estudiosos concorda sobre a
existência de um Jesus histórico, há divergências em relação aos detalhes da sua vida e
dos seus ensinamentos. Alguns historiadores procuram compreender Jesus a partir de uma
abordagem estritamente histórica, analisando evidências e fontes disponíveis, enquanto
outros exploram sua figura sob uma perspectiva teológica e espiritual.

Estas discussões académicas e os diferentes pontos de vista sobre a vida de Jesus têm
impacto na interpretação dos eventos relacionados ao casamento cristão. Embora seja
amplamente aceito que Jesus tenha ensinado sobre o casamento e sua importância, as
interpretações específicas desses ensinamentos podem variar. É fundamental reconhecer
que, enquanto nos baseamos em fontes históricas, a compreensão do Jesus histórico pode
ser limitada e sujeita a interpretações. Portanto, ao examinar as implicações de Jesus no
casamento cristão, devemos levar em consideração tanto as perspectivas históricas quanto
as teológicas, entendendo que há espaço para diferentes interpretações e discussões. O
mínimo consenso a que podemos chegar no momento é que Jesus existiu como um judeu
na Palestina, durante o início do primeiro século da nossa Era, sob o governo do romano
Pôncio Pilatos. Ele é amplamente considerado como um rabino e líder de um movimento
judeu messiânico. Foi condenado à morte devido às suas convicções, que incluíam
aspectos sociais, políticos e religiosos, que eram vistos como desafiadores ou subversivos
pelas autoridades da época. Ao longo de seu ministério, Jesus trouxe ensinamentos e
princípios que tiveram um impacto profundo nas práticas e conceitos do casamento cristão.

20
A abordagem de Jesus em relação ao casamento foi revolucionária para sua época. Ele não
apenas endossou a instituição do casamento, mas também a elevou a um nível mais
elevado de significado espiritual e compromisso mútuo. As suas palavras e ações
transmitiram valores fundamentais que moldaram a compreensão cristã do casamento.

Os ensinamentos e princípios de Jesus Cristo tiveram um impacto significativo nas práticas


e conceitos do casamento cristão e que é preciso referir. Alguns desses ensinamentos
incluem:
● Indissolubilidade do casamento: Jesus enfatizou a santidade e a permanência do
casamento, ensinando que o vínculo matrimonial é para toda a vida. Ele afirmou que
"o que Deus uniu, o homem não deve separar" (Mateus 19:6). Esse ensinamento
influenciou a visão cristã de que o casamento é um compromisso sagrado e
duradouro.
● Monogamia: Jesus reafirmou a importância da monogamia, ensinando que um
homem e uma mulher devem se unir em matrimónio. Ele referiu-se ao princípio
estabelecido desde o início da criação, quando Deus criou um homem e uma mulher
para serem uma só carne (Mateus 19:4-5). Esse ensinamento contribuiu para a
visão cristã de que o casamento deve envolver a união exclusiva de um homem e
uma mulher.
● Amor e respeito mútuo: Jesus ensinou sobre a importância do amor e do respeito
mútuo dentro do casamento. Ele exortou os maridos a amarem suas esposas como
a si mesmos e as esposas a respeitarem seus maridos (Efésios 5:22-33). Essa
ênfase no amor e respeito mútuo moldou a perspectiva cristã de que o casamento é
uma parceria baseada no amor, no cuidado e na compreensão mútua.
● Fidelidade e pureza: Jesus condenou a infidelidade e o adultério, ensinando que a
fidelidade conjugal é um aspecto fundamental do casamento. Ele afirmou que
qualquer um que olhasse para uma mulher com cobiça já havia cometido adultério
em seu coração (Mateus 5:27-28). Esse ensinamento enfatiza a importância da
pureza e da fidelidade dentro do matrimónio, influenciando as normas e expectativas
morais do casamento cristão.

Esses ensinamentos e princípios de Jesus Cristo tiveram um impacto profundo nas práticas
e conceitos do casamento cristão, moldando a visão de que o casamento é uma aliança
sagrada e compromisso duradouro entre um homem e uma mulher, fundamentado no amor,
respeito, fidelidade e pureza. Esses valores continuam a orientar as crenças e práticas
matrimoniais dentro da tradição cristã até os dias de hoje.

21
O uso que Jesus faz da instituição do casamento:
O uso mais característico que Jesus faz do casamento e da família é quando ele descreve o
Reino de Deus como uma ordem social em que o relacionamento dos seres humanos com
Deus é comparado ao de filhos com um pai, e a sua relação de uns com os outros é como a
relação de irmãos. Esse ideal social, que está constantemente na sua mente, é resumido na
expressão "Reino de Deus", que ocorre mais de cem vezes nos evangelhos sinópticos. As
passagens em que essa expressão é mencionada constituem o clímax interno da sua
mensagem para a humanidade. Ele não proclama um novo e nobre judaísmo que assumiria
a forma de uma restauração política, nem anuncia um "evento divino distante" que ocorrerá
apenas na consumação gloriosa do apocalipse. Em vez disso, ele ensina sobre um Reino
de Deus "dentro de você", onde o principal elemento é a comunhão com Deus, uma relação
amorosa de "filhos" com um "Pai", uma posse atual. Embora o futuro possa ser totalmente
realizado como resultado, ele também está presente; é invisível, mas está se tornando cada
vez mais visível como uma nova ordem social, uma irmandade consciente com um Pai
Celestial comum. Jesus proclama essa realidade em todas as etapas de seu ensinamento,
apesar da oposição e das vicissitudes, com a certeza inabalável de sua conclusão - esse é
o "Reino" que Jesus tornou uma posse inalienável da consciência cristã. Toda a sua
teologia pode ser descrita como uma transfiguração da família.
Além disso, Jesus frequentemente usava figuras relacionadas ao casamento para ilustrar
seus ensinamentos sobre a vinda do Reino, assim como Paulo fez em relação a Cristo e à
Igreja.

3.2 Os apóstolos:

Os apóstolos desempenharam um papel fundamental como seguidores diretos de Jesus e


responsáveis por disseminar seus ensinamentos. Esses indivíduos escolhidos
pessoalmente por Jesus foram testemunhas oculares de seus ensinamentos e obras
durante seu ministério terreno. Após a morte e ressurreição de Jesus, os apóstolos
assumiram a missão de compartilhar a mensagem do Evangelho e estabelecer
comunidades cristãs. No cristianismo primitivo, os apóstolos enfatizaram a importância do
casamento como uma instituição sagrada e abençoada por Deus. Eles reconheceram que o
casamento foi estabelecido por Deus desde a criação e é uma expressão do amor e da
união entre um homem e uma mulher.
Ao longo do Novo Testamento, encontramos várias epístolas e cartas escritas pelos
apóstolos, como as de Paulo, Pedro, João e Tiago. Esses textos são de importância crucial

22
para a compreensão das práticas e valores do casamento cristão. Através dessas
escrituras, os apóstolos transmitiram diretrizes específicas relacionadas ao matrimónio,
abordando questões como amor mútuo, respeito, fidelidade conjugal e submissão mútua.
As epístolas dos apóstolos oferecem uma orientação prática e espiritual aos cristãos,
fornecendo instruções sobre como viver uma vida matrimonial em consonância com os
ensinamentos de Jesus. Esses ensinamentos contribuíram significativamente para a
formação das práticas e valores do casamento cristão ao longo dos séculos.
Por exemplo, Paulo de Tarso, em suas cartas, especificamente na sua primeira carta aos
Coríntios, capítulo 7, ele discute questões relacionadas ao casamento e à vida conjugal.
enfatizou a importância do amor incondicional e do respeito mútuo entre maridos e esposas.
Ele exortou os maridos a amarem suas esposas como Cristo amou a igreja e incentivou as
esposas a respeitarem seus maridos. Na sua epístola aos Efésios, Paulo compara o
relacionamento entre Cristo e a igreja com o relacionamento entre marido e mulher,
destacando a grandiosidade e a profundidade deste mistério divino (Efésios 5:22-33). O
apóstolo Pedro também abordou a importância da pureza e da modéstia no relacionamento
conjugal. Na sua primeira epístola, capítulo 3, Pedro discute os papéis do marido e da
esposa, enfatizando a necessidade de um relacionamento de respeito e amor mútuo. Ele
encoraja as esposas a serem submissas a seus maridos e os maridos a tratar suas esposas
com honra e consideração. Quanto ao apóstolo João, embora ele não tenha escrito
especificamente sobre o casamento, o seu evangelho destaca o papel significativo do amor
nos relacionamentos. Na sua primeira epístola, capítulo 4, ele enfatiza que Deus é amor e
que aqueles que amam mostram que conhecem a Deus. Essa ênfase no amor pode ser
aplicada aos relacionamentos conjugais, incentivando os cônjuges a se amarem e se
tratarem com bondade.
Sobre a fidelidade e o compromisso, os apóstolos ensinaram a importância da fidelidade e
do compromisso no casamento. A infidelidade e o divórcio são vistos como exceções
indesejáveis, e os cônjuges são incentivados a buscar a reconciliação e a restauração do
relacionamento, sempre que possível. Paulo enfatiza a necessidade de amor, respeito e
cuidado mútuos no casamento, incentivando os cônjuges a honrarem seus compromissos e
a trabalharem para a harmonia e a felicidade conjugal. Os apóstolos também abordaram os
papéis específicos dos membros da família dentro do contexto social. Eles enfatizaram a
valorização da família e do casamento como instituições divinamente ordenadas e
reconheceram a importância da família como um ambiente para o crescimento espiritual, a
formação do caráter e a transmissão da fé de geração em geração. O apóstolo Paulo exorta
os crentes a cuidarem de seus próprios lares e a serem exemplos para os outros (1 Timóteo
3:4-5). Paulo, nas suas epístolas, também instrui os maridos e as esposas a
desempenharem seus papéis com sabedoria e amor. Os maridos são chamados a amar

23
suas esposas e a serem líderes amorosos e responsáveis em seus lares, enquanto as
esposas são encorajadas a se submeterem aos seus maridos e a contribuírem para a
unidade familiar. No contexto dos pais e filhos, Paulo instrui os pais a criarem seus filhos na
disciplina e no ensino do Senhor, enquanto os filhos são incentivados a honrar e obedecer a
seus pais. Essas instruções refletem a importância da autoridade, do cuidado e do respeito
mútuo na família.
Esses ensinamentos dos apóstolos, fundamentados nos ensinamentos de Jesus,
estabeleceram uma base sólida para as práticas e valores do casamento cristão. Ao
transmitirem essas orientações e princípios através de suas epístolas, os apóstolos
influenciaram diretamente a forma como os cristãos compreendem e vivenciam o
matrimónio.
No entanto, é importante ressaltar que, embora as epístolas dos apóstolos forneçam
insights gerais sobre o casamento, eles não oferecem uma discussão detalhada sobre o
assunto. As suas abordagens são mais abrangentes e visam fornecer princípios gerais para
a vida cristã. Além disso, as epístolas são escritos teológicos e pastorais, não tratados
acadêmicos sobre o casamento.
Em resumo, os apóstolos foram os seguidores diretos de Jesus e responsáveis por
disseminar seus ensinamentos. Por meio de suas epístolas e ensinamentos registrados no
Novo Testamento, eles contribuíram para a formação das práticas e valores do casamento
cristão, oferecendo orientações práticas e espirituais aos cristãos sobre como viver uma
vida matrimonial em conformidade com os ensinamentos de Jesus.

3.3 A Teologia do Casamento no Contexto Cristão:

A teologia do casamento desempenha um papel significativo na compreensão e prática do


matrimónio dentro do contexto cristão. Ela fundamenta-se em interpretações teológicas das
Escrituras e nas contribuições de teólogos e líderes da igreja ao longo da história. Neste
subcapítulo, exploraremos os principais aspectos da teologia do casamento e sua evolução
no pensamento cristão.

A teologia do casamento tem suas raízes na fundação bíblica do cristianismo. No livro de


Génesis, encontramos a narrativa da criação, na qual Deus estabelece o casamento como
uma instituição sagrada e divinamente ordenada. O versículo 24 do capítulo 2 declara:
"Portanto, deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão

24
ambos uma só carne." Essa passagem é frequentemente citada como base para a
compreensão do casamento como uma união indissolúvel e de compromisso mútuo.

Além das bases bíblicas, os pais da igreja contribuíram significativamente para a teologia do
casamento. Agostinho de Hipona, um dos mais influentes teólogos do século IV, enfatizou o
papel do casamento como uma instituição ordenada por Deus para a procriação e a
complementaridade entre homem e mulher. Ele argumentou que a união matrimonial é um
reflexo do amor divino e uma fonte de virtude. Em sua obra "A Trindade", Agostinho
compara a união entre marido e mulher à relação entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo,
destacando a importância da unidade e do amor nesse contexto.

Outro teólogo proeminente, João Crisóstomo, do século IV, destacou a importância da


fidelidade conjugal e do compromisso mútuo no casamento. Em seus escritos, ele enfatiza
que o matrimónio é um sacramento sagrado, uma expressão do amor de Cristo pela Igreja.
Crisóstomo enfatiza a necessidade de amor altruísta, respeito mútuo e compromisso
duradouro como características essenciais do casamento cristão.

Além das contribuições dos pais da igreja, o desenvolvimento dos rituais matrimoniais
também desempenhou um papel importante na teologia do casamento. A introdução de
cerimónias religiosas formais, como a bênção nupcial e a troca de votos, serviu para
sacramentalizar e solemnizar a união conjugal. Esses rituais reforçam a dimensão sagrada
do casamento, destacando a presença de Deus e a importância da comunidade de fé na
vida do casal.

Para os cristãos, a teologia do casamento está intimamente ligada à visão da relação entre
Cristo e a Igreja. O apóstolo Paulo, em sua Epístola aos Efésios, compara o relacionamento
entre marido e mulher à união entre Cristo e a Igreja. Ele escreve: "Maridos, amai vossa
mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela" (Efésios
5:25). Essa analogia reforça a ideia de que o casamento é uma instituição sagrada,
refletindo o amor sacrificial de Cristo pela humanidade.

Em resumo, a teologia do casamento no contexto cristão se baseia nas Escrituras, nas


contribuições dos pais da igreja e no desenvolvimento de rituais matrimoniais. Essa teologia
enfatiza a natureza sagrada do casamento, sua relação com o amor divino e sua
importância como reflexo da relação entre Cristo e a Igreja. Ao longo da história, esses
princípios teológicos têm moldado as práticas e as crenças em torno do casamento cristão,
proporcionando uma base sólida para a compreensão e vivência dessa instituição.

25
3.4 O paradigma monástico sobre a sexualidade:

De acordo com os autores de História da vida privada, as ordens monásticas do


cristianimso primitivo tiveram forte influência sobre a vivência do casamento cristão. Estes
monges do deserto colocaram no casamento uma problemática, culpando (pelo menos
indiretamente) a sexualidade como a causa da queda de Adão e Eva e a partir desta queda,
o homem e a mulher começaram a preocupar-se com “preocupações próprias das pessoas
de “coração duplo” ligadas ao casamento, ao nascimento dos filhos e ao duro labor
necessário para alimentar bocas famintas” (pp. 285). Segundo os autores, para o monge, a
queda de Adão e Eva espelhava a queda do homem nas preocupações da vida mundana,
que se impunha obrigatoriamente na vida do homem a partir do casamento, comumente
arranjado pelos pais, no início da sua adolescência. Preocupações estas a que o
hermetismo da vida ascética monástica radicalmente se opunha. Como referido
anteriormente, a vida monástica buscava voltar à realidade perdida do Jardim do Éden, na
união completa do Homem com Deus. Tais implicações concluíram na premissa de que a
menos que os cristãos casados praticassem a abstinência sexual radical como Adão e Eva
no Éden, estes não poderiam entrar no Paraíso. E ao mesmo tempo, se tanto o monge
como as virgens renunciam radicalmente a sua sexualidade, estes poderiam vaguear juntos
sem problema pelas montanhas e cidades. Tais preocupações foram grandes temas de
debate no mundo oriental do século IV. Tais receios provocaram fortes reações por parte
dos monges e do clero. Um leitor moderno pode achar a leitura monástica da altura a
respeito do assunto misógino e problemático devido à cautela e até medo do clero contra a
tentação carnal da mulher. Citando a sagrada escritura, monges e pregadores como
Atanásio e São João Crisóstomo questionavam e pregavam contra a crença de pensadores
como Hierax que eram apologistas de “associações espirituais” entre monges e virgens,
convivência que já estava a tornar-se comum na Síria e na Ásia Menor Oriental do século
IV.

A presença deste medo resultou na mais estrita organização da conduta moral da


sociedade da altura. Todos os cristãos, quer casados, quer monges, praticavam assim uma
estrita abstinência sexual. As homilias de São João Crisóstomo faziam críticas impensáveis
até então. Os banhos públicos eram um escândalo, pois expunham a nudez do corpo. As
mulheres eram criticadas por exporem as suas peles bem ornamentadas às bocas de
homens gulosos. Até os farrapos dos mendigos de rua eram criticados como tentadores.

26
O homem cristão primitivo viveu na dualidade de procurar os heroicos “homens do deserto”
para aconselhamento espiritual. Apesar das suas pregações e crença de que a sexualidade
era um acto hostil à alma, os monges só reservavam a obrigação do celibato para si
mesmos, não interferindo de qualquer maneira com a sexualidade dos “homens do mundo”.
Ao mesmo tempo, foi adotada uma perspetiva inovadora e revolucionária sobre os
impulsos sexuais. Estes instintos inerentes do ser humano, atentamente estudados por
Evágrio e João Cassiano, poderiam ser indicativos de outros problemas da psique humana
mais profundos e mascarados por debaixo desses impulsos sexuais, constituindo obstáculo
para a perfeição da alma humana e da “simplicidade de coração”. Por isso, todas as
alterações de desejo sexual como sonhos e ejaculações involuntárias eram
cuidadosamente estudadas pelos monges.

Para o homem bizantino do século VI, as regras sobre a sexualidade estavam claramente
delineadas. A vida do casal cristão monogâmico era austera, mas não problemática. Era
comum, para o que hoje consideramos um pré adolescente irresponsável de treze anos ter
de decidir para o resto da vida qual das duas vias gostaria de seguir: ou prometer noivado
com essa idade e seguir a vida mundana, ou renunciar ao sexo para se unir aos “odores do
deserto”. A indecisão entre os dois comumente resultava em uma desilusão e
arrependimento para o resto da vida e no adiamento da promessa para a vida religiosa para
a geração seguinte. Por exemplo, Marta, uma jovem forçada a casar por conveniência,
prometeu o seu filho Simeão de Antioquia para a vida religiosa aos 7 anos de idade. O
século VI foi o século das crianças santas e dos recrutas infantis para a vida ascética.

No século VI, o cristianismo teve um impacto na sociedade ao estabelecer normas sobre a


sexualidade. Os homens podiam ter relações sexuais antes do casamento, desde que
fossem fiéis dentro do matrimónio. Houve uma maior preocupação com a virgindade
masculina, chegando a questionar os homens sobre a perda da virgindade e em que
circunstâncias ocorreu. Embora existisse uma segregação teórica entre homens e mulheres
nas cidades bizantinas, a proximidade das habitações fazia com que essa segregação fosse
apenas teórica. Assim, o cristianismo influenciou a esfera da sexualidade, regulando a
conduta masculina e alterando a percepção da virgindade, enquanto a segregação de
género era afetada pela proximidade física nas cidades. Além disso, no mundo bizantino, o
casamento precoce era visto como uma proteção aos jovens da libertinagem adolescente.
Além disso era exigida a abstinência sexual durante as festas da Igreja, menstruação e
gravidez, no entanto, o sexo conjugal fora dessas exceções era permitido e bem aceite.

27
No entanto, apesar de toda esta beatitude, até as cidades mais cristãs e devotas se
encontravam paganizadas pelo seu passado greco-romano, por exemplo, a presença de
estátuas nuas em banhos públicos e andavam cobertas de jovens prostitutas a aliciar as
elites locais.

3.5 A sexualidade no mundo latino:

Ao contrário de Evágrio e João Cassiano, Santo Agostinho considerava a sexualidade como


um bem de Deus, não mais anómala que toque frio da morte, ambos resultantes da queda
inevitável de Adão e Eva. A sexualidade não era uma anomalia insignificante em
comparação com a resultante queda do paraíso, nem a causa da queda de Adão e Eva no
jardim do paraíso, mas antes uma bênção do criador para a felicidade do casal em primeiro
lugar e para a multiplicação da espécie. Em consequência, a ideia de paraíso para Santo
Agostinho não era a ausência de uma sociedade organizada como seria o deserto mas sim
a presença de uma sociedade harmoniosa despojada das “tensões inerentes aos
paradigmas atuais” (idem, pp 294). Esta concepção inovadora de Santo Agostinho ao
contrário do mundo do Império Romano do Oriente, de juntar o que parecem ser as
realidades paralelas de o “mundo da carne” com o “mundo do deserto” resulta em uma
sociedade onde não os monges, mas os bispos católicos e clérigo treinado nas
comunidades monásticas urbanas dos novos reinos cristãos emergentes no ocidente (Itália,
Gália e Espanha) disciplinam e aconselham a vida íntima dos leigos, "aconselhando-os a
anomalia partilhada e perpétua de uma sexualidade pecadora.” Ao mesmo tempo
permanece a visão no ocidente de que o homem e a mulher, independentemente de quem
sejam ou que vocação exerçam, nunca poderão se desvincular da sua natureza sexual
desordenada resultante da queda de Adão e Eva, que após a expulsão do paraíso, não
puderam impedir a redução e deterioração do seu prazer sexual e harmonia conjugal. A
melhor coisa a fazer seria tentar suprimir essa herança da natureza sexual desordenada.
Assim se consolida a ideia cristã de sexualidade e casamento no início da Idade Média,
com um escritor menor registrando já bem dentro da Idade Média em 1200 esta
encruzilhada: “De todas as batalhas dos cristãos, a luta pela castidade é a maior. Aqui o
combate é constante e a vitória é rara. A continência é na verdade a grande guerra” (idem,
pp. 298-299).

28
3.6 Desenvolvimento dos rituais matrimoniais no contexto cristão:

O desenvolvimento de rituais matrimoniais desempenha um papel crucial na celebração e


na sacramentalização do casamento dentro do contexto cristão. Ao longo da história, esses
rituais evoluíram e adquiriram significados simbólicos que refletem a teologia e as práticas
da fé cristã. Neste subcapítulo, examinaremos o desenvolvimento dos rituais matrimoniais,
suas influências e sua importância na expressão do compromisso conjugal.

Os rituais matrimoniais cristãos têm as suas raízes nas tradições judaicas e nas práticas
matrimoniais da cultura greco-romana. Durante o período em que o cristianismo se
desenvolveu e se difundiu, a sociedade romanaexercia uma influência significativa sobre
todas as esferas da vida cotidiana, incluindo o casamento. Os romanos valorizavam o
casamento como uma instituição vital para a continuidade da sociedade e a preservação da
linhagem familiar. Eles acreditavam na importância da procriação e na estabilidade dos
laços conjugais. No entanto, com o passar do tempo, esses rituais foram enriquecidos e
transformados pelos ensinamentos e pelas crenças cristãs. O objetivo principal desses
rituais é proclamar publicamente o compromisso mútuo dos noivos, abençoar sua união e
reconhecer a presença de Deus nesse momento sagrado.

Uma das influências mais marcantes no desenvolvimento dos rituais matrimoniais cristãos
foi a combinação do sacramento cristão com os costumes e rituais romanos. No início do
cristianismo, os casamentos eram celebrados principalmente nas casas dos noivos ou nas
igrejas, sem um rito formal específico. No entanto, à medida que a Igreja se tornava mais
institucionalizada e as práticas sacramentais se desenvolviam, surgiu a necessidade de
celebrar rituais matrimoniais distintos.

No século IV, com o Édito de Milão, que legalizou o cristianismo, a Igreja começou a exercer
um papel mais ativo na regulamentação dos casamentos. Surgiram cerimónias formais e
rituais específicos, como a bênção nupcial, a troca de votos e a celebração da Eucaristia.
Esses rituais foram incorporados para sacramentalizar o casamento e enfatizar sua
natureza sagrada. A presença de um sacerdote ou ministro da igreja para oficiar a
cerimónia e abençoar a união também se tornou uma prática comum.

Um elemento central nos rituais matrimoniais cristãos é a troca de votos, influência do


casamento romano. O estabelecimento do matrimónio como um contrato legal e a
concepção do casamento como uma instituição duradoura foram influências romanas que
moldaram a compreensão cristã do casamento como um compromisso perante Deus e a

29
sociedade. Nesse momento, os noivos expressam publicamente seu compromisso mútuo
de amor e fidelidade. Estes votos são considerados sagrados e, segundo a tradição cristã,
são feitos diante de Deus e da comunidade de fé. A troca de alianças, simbolizando a união
e o compromisso duradouro, também se tornou um elemento central nas cerimónias
matrimoniais cristãs.

A celebração da Eucaristia durante a cerimónia do casamento é outra característica


distintiva dos rituais matrimoniais cristãos. Essa prática enfatiza a importância da presença
de Deus no casamento e a participação dos noivos na comunidade de fé. A Eucaristia
também simboliza a união do casal com Cristo e a partilha do corpo e do sangue de Cristo,
fortalecendo seu compromisso e sua unidade espiritual.

Além disso, o simbolismo do casamento como uma representação da relação entre Cristo e
a Igreja também influenciou os rituais matrimoniais. A noiva é muitas vezes comparada à
Igreja e o noivo a Cristo, refletindo a teologia do amor sacrificial e da união espiritual. Essa
simbologia é expressa através de gestos rituais, como a troca de anéis, a bênção nupcial e
a leitura de passagens bíblicas relacionadas à relação entre Cristo e a Igreja.

Em resumo, os rituais matrimoniais cristãos têm evoluído ao longo dos séculos, combinando
elementos das tradições judaicas, da cultura greco-romana e das crenças e práticas cristãs.
Esses rituais são projetados para sacramentalizar o casamento, proclamar publicamente o
compromisso mútuo dos noivos e reconhecer a presença de Deus nesse momento sagrado.
A troca de votos, a celebração da Eucaristia, o simbolismo da relação entre Cristo e a Igreja
e a presença de um ministro ou sacerdote são elementos centrais desses rituais.

3.7 Regulamentação pela Igreja dos Rituais Matrimoniais:

A regulamentação pela Igreja dos rituais matrimoniais desempenhou um papel fundamental


na definição e no estabelecimento das normas e práticas do casamento cristão ao longo da

30
história. A Igreja assumiu a responsabilidade de supervisionar e regulamentar as cerimónias
matrimoniais, buscando preservar a santidade e a sacralidade do casamento como um
sacramento divinamente ordenado. Neste subcapítulo, examinaremos a influência da Igreja
na regulamentação dos rituais matrimoniais, suas razões teológicas e suas implicações
práticas.

A partir do século IV, a Igreja começou a desempenhar um papel cada vez mais ativo na
regulamentação dos casamentos. Essa regulamentação era motivada por várias razões
teológicas e pastorais, incluindo a ênfase na santidade do casamento, a proteção dos
direitos e deveres dos cônjuges e a manutenção da ordem e da disciplina eclesiástica.

Uma das primeiras áreas em que a Igreja estabeleceu regulamentações foi a questão da
validade do casamento. A Igreja procurava assegurar que os casamentos fossem
celebrados de acordo com os princípios e rituais cristãos, garantindo assim sua validade
sacramental. A presença de um sacerdote ou ministro da igreja para abençoar a união e a
observância dos rituais prescritos tornaram-se requisitos para a validade do casamento.

Além disso, a Igreja também buscou regulamentar outras questões relacionadas ao


casamento, como o impedimento de parentesco, a idade mínima para o matrimónio e a
proibição do divórcio. Essas regulamentações visavam garantir a integridade e a
estabilidade do casamento, bem como a proteção dos direitos e interesses das partes
envolvidas. A Igreja argumentava que essas normas eram baseadas em ensinamentos
bíblicos e na tradição apostólica, buscando alinhar as práticas matrimoniais com a vontade
divina.

A regulamentação pela Igreja também se estendeu ao controle da cerimónia e dos rituais


matrimoniais. A Igreja estabeleceu liturgias e orações específicas para a celebração do
casamento, enfatizando a importância da bênção nupcial, da troca de votos e da celebração
da Eucaristia. Esses rituais e práticas sacramentais eram considerados essenciais para a
validade e a santidade do casamento.

As regulamentações da Igreja relativas ao casamento foram codificadas em cânones e


decretos conciliares ao longo da história. Por exemplo, o Concílio de Trento (1545-1563)
emitiu decretos específicos sobre o casamento, reafirmando a indissolubilidade do vínculo
matrimonial e estabelecendo requisitos rigorosos para sua validade. Esses decretos
exerceram uma influência significativa sobre a prática matrimonial no contexto católico
romano.

31
Em resumo, a regulamentação pela Igreja desempenhou um papel crucial na definição e no
estabelecimento dos rituais matrimoniais cristãos. Através de suas regulamentações, a
Igreja buscou preservar a sacralidade e a santidade do casamento, estabelecer normas
para a validade do sacramento e promover a estabilidade e a integridade do matrimónio.
Essas regulamentações foram fundamentadas em princípios teológicos e pastorais,
refletindo a visão da Igreja sobre a importância e o propósito do casamento cristão.

Conclusão
Em conclusão, o casamento cristão foi moldado por três principais fontes: a figura de Jesus
Cristo e seus ensinamentos, as tradições romanas e as práticas judaicas.

32
Jesus Cristo desempenhou um papel central na definição dos princípios e valores do
casamento cristão. Os seus ensinamentos enfatizavam a indissolubilidade, a monogamia,
amor, respeito mútuo, fidelidade e pureza como pilares fundamentais dessa união sagrada.
Além disso, Jesus utilizava a instituição do casamento como uma metáfora para ilustrar os
ensinamentos sobre o Reino de Deus. Os apóstolos, como seguidores diretos de Jesus,
desempenharam um papel significativo na disseminação e consolidação dos ensinamentos
sobre o casamento cristão. Por meio de suas epístolas, eles reforçaram a importância da
família e do casamento como instituições divinamente ordenadas, estabelecendo diretrizes
para a conduta dos cônjuges.
As tradições romanas também tiveram impacto na formação do casamento cristão. O
casamento romano era valorizado como uma instituição vital para a sociedade, baseado em
rituais e cerimônias que influenciaram os ritos matrimoniais cristãos. A ênfase na fidelidade
e na obrigação mútua dos cônjuges, bem como a concepção do casamento como um
contrato legal e duradouro, foram elementos incorporados à visão cristã do matrimônio.
Ademais, o casamento judaico desempenhou um papel relevante na formação do
casamento cristão, especialmente nas primeiras comunidades cristãs compostas por
convertidos do judaísmo. As práticas e tradições judaicas, como a preferência por
casamentos endogâmicos e a valorização da cerimónia como um evento carregado de
simbolismo e espiritualidade, influenciaram profundamente o casamento cristão. Nesse
contexto, é possível observar que o casamento cristão se consolidou como uma síntese
dessas influências, combinando os ensinamentos de Jesus Cristo, os aspectos culturais e
legais do casamento romano e as práticas e tradições judaicas. Essa fusão resultou em
uma instituição que valorizava a indissolubilidade, a monogamia, a fidelidade, o amor mútuo
e a importância da família como parte essencial da vida cristã.

Portanto, a compreensão das origens do casamento cristão até os séculos VII e VIII
evidencia a rica interação entre os elementos religiosos, culturais e históricos na formação
dessa instituição. O estudo dessas influências contribui para uma compreensão mais
abrangente do casamento cristão e de sua importância como um pilar da fé cristã,
permeado pelos princípios e valores transmitidos por Jesus Cristo, assim como por
aspectos das tradições romanas e judaicas.

33
Bibliografia

Fernandes, Maria de Lurdes Correia. (1995). Espelhos, Cartas e Guias - Casamento e


Espiritualidade na Península Ibérica 1450-1700. Instituto de Cultura Portuguesa
Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Porto.

ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. Rio: Forense. 1977.

CAPPARELLI, Júlio César. Manual sobre o Matrimônio no Direito Canônico. Paulinas, São
Paulo, 1999.

Dias, Paula Barata. “A influência do Cristianismo no conceito de casamento e


de vida privada na Antiguidade Tardia” in Ágora. Estudos Clássicos em Debate 6 (2004).
Universidade de Coimbra. Coimbra.

Ariès, Philipe. (1990). História da vida privada. (Vol. 1). Harvard University Press. Traduzido
por Armando Luís de Carvalho Homem. Edições Afrontamento. pp 33-51 e 253-313

Evans, Morris O. (1915) pp. 1996-1999. The International Standard Bible Encyclopedia, (vol
III). General Editor. Chicago.
The International Standard Bible Encyclopedia, Volume 3 : Umair Mirza : Free Download,
Borrow, and Streaming : Internet Archive

Satlow, Michael. Reconsidering the Rabbinic ketubah Payment, in The Jewish Family in
Antiquity. Brown Judaic Studies. (2020) pp. 133-152
https://www.jstor.org/stable/j.ctvzgb9cp.10?searchText=ancient+jewish+marriage&searchUri
=%2Faction%2FdoBasicSearch%3FQuery%3Dancient%2Bjewish%2Bmarriage&ab_segme
nts=0%2Fbasic_search_gsv2%2Fcontrol&refreqid=fastly-default%3EUZK8oJ2gFQAqYtwb
WM87uHYwYon6GNqS&seq=22

Bromiley, Geoffrey W. The International standard Bible encyclopedia. Grand Rapids.


Michigan. (1979) pp. 261-266
https://archive.org/details/internationalsta0003unse/page/262/mode/2up

Lamm, Maurice. The Jewish way in love and marriage. Jonathan David Publishers, Inc.
Middle Village, New York. (1991)
https://archive.org/details/jewishwayinlovem0000lamm_w4o1

Macmullen, Ramsay. Roman social relations, 50 B.C. to A.D. 284. Yale University press.
1974.

Augustine. The Trinity. Edited by ‎John E. Rotelle. Augustinian Heritage Institute. Brooklyn,
New York, 1990.

Chrysostom, John. On Marriage and Family Life. Popular Patristics Series. 1986

34
Bíblia Sagrada. Difusora Bíblica. 2008

Franke, John R. "Marriage." In The Oxford Handbook of Systematic Theology, edited by


John Webster, et al., 410-425. Oxford University Press, 2007.

Johnson, Maxwell E. "The Christian Rite of Marriage: A Historical and Theological Study."
Theological Studies, 1991, Vol. 52, No. 3, 403-425.

Bradshaw, Paul F. "The Origins of Christian Marriage Rites." Studia Liturgica, 2004, Vol. 34,
No. 1, 1-20.

Sheils, W. J. "Marriage in Christianity." In The Cambridge History of Christianity: Volume 3,


Early Medieval Christianities, c.600-c.1100, edited by Thomas F.X. Noble and Julia M.H.
Smith, 335-353. Cambridge University Press, 2008.

Hefling, Charles, and Cynthia Shattuck. The Oxford Guide to The Book of Common Prayer:
A Worldwide Survey. Oxford University Press, 2006. Witte Jr., John. "Marriage in Church and
State." In The Blackwell Companion to Political Theology, edited by Peter Scott and William
T. Cavanaugh, 402-419. Wiley-Blackwell, 2004.

Westermarck, Edward. "The History of Human Marriage." Allerton Book Co., 1921.
Rouse, Richard. "The Canon Law of Marriage in the Thirteenth Century." The Journal of
Religious History, 1980, Vol. 11, No. 2, 166-183.

Duffy, Eamon. "The Stripping of the Altars: Traditional Religion in England, c. 1400-c. 1580."
Yale University Press, 2005.

Toulalan, Sarah. "Imagining Sex: Pornography and Bodies in Seventeenth-Century


England." Oxford University Press, 2007.

Finkelman, A. (Ed.). (2014). The Wedding Rituals: The Rites of the Sacraments. Liturgical
Press.

Johnson, M. D. (2016). The Wedding Feast of the Lamb: Eros, the Body, and the Eucharist.
Wm. B. Eerdmans Publishing Co.

Keating, D. (2007). Catholicism and Fundamentalism: The Attack on "Romanism" by "Bible


Christians." Ignatius Press.

Martos, J. (2003). Doors to the Sacred: A Historical Introduction to Sacraments in the


Catholic Church. Liguori Publications.

McGrath, A. E. (2012). Christian Theology: An Introduction. Wiley-Blackwell.

O'Collins, G. (2009). Catholicism: The Story of Catholic Christianity. Oxford University Press.

Pelikan, J. (2011). The Christian Tradition: A History of the Development of Doctrine, Vol. 1:
The Emergence of the Catholic Tradition (100-600). University of Chicago Press.

35
Schaff, P., & Wace, H. (Eds.). (2013). Nicene and Post-Nicene Fathers Series II, Vol. 14: The
Seven Ecumenical Councils. Cosimo Classics.

Walsh, M. J. (2001). The Making of the Christian Mind: A Survey of the Intellectual and
Cultural History of Christianity. InterVarsity Press.

Singer, Isidore (Ed.). (1901-1906). "Marriage" in The Jewish Encyclopedia. New York: Funk
& Wagnalls.

McLaughlin, J. F. (1912). "Marriage" in The Catholic Encyclopedia. New York: Robert


Appleton Company.

Schechter, Solomon. (1899). Studies in Judaism: First Series. Philadelphia: The Jewish
Publication Society of America.

Greenstone, Julius H. (1907). The Religion of the Jews. Philadelphia: The Jewish
Publication Society of America.

Jacobs, Joseph. (1898). Jewish Encyclopedia: A Descriptive Record of the History, Religion,
Literature, and Customs of the Jewish People from the Earliest Times to the Present Day.
New York: Funk & Wagnalls.

36

Você também pode gostar