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Aluna: Rilary Coronel de Paula

RGM: 50177

A CIDADE ANTIGA – RESUMO

Livro 1 (um) – As crenças antigas

"Cidade Antiga" é um livro escrito pelo historiador e arqueólogo francês Fustel de


Coulanges e publicado originalmente em 1864. A obra é considerada uma das mais
influentes no campo da história e antropologia, pois apresenta uma análise profunda e
inovadora sobre as estruturas sociais e religiosas das antigas cidades gregas e romanas.

O livro explora a relação entre religião, família e sociedade nessas civilizações antigas.
Uma das principais teorias de Fustel é a ideia de que a religião desempenhou um papel
fundamental na organização social dessas cidades. Coulanges examina como a transição
das antigas crenças familiares para a religião pública acompanhou a evolução das
civilizações grega e romana. Ele argumenta que as crenças religiosas moldaram não
apenas a espiritualidade, mas também as estruturas sociais, políticas e legais dessas
comunidades. No livro, ele aborda cada um dos tópicos, explica metodicamente como
cada um impactou e influenciou a estrutura social da época e como essa organização
“primitiva” se desenvolveu e se moldou aos costumes das civilizações posteriores. Ele
também explora várias civilizações e exemplifica a forma como cada uma funcionava e
que tipos de crenças cultivavam. O livro nos dá uma leitura dinâmica e intuitiva, o que
facilita o vislumbre e entendimento da realidade dos povos antigos.

No primeiro livro “Antigas crenças”, o autor explica como as crenças religiosas estavam
interligadas com as estruturas políticas, focando principalmente em Roma e na Grécia.
Descreveu também como os líderes políticos muitas vezes também eram líderes
religiosos, reforçando a conexão entre a autoridade política e a aprovação divina. Essa
interação entre religião e política contribuía para a estabilidade e a coesão da cidade.
Ele começa explorando as crenças e práticas relacionadas à vida após a morte nas
antigas cidades gregas e romanas. No contexto das cidades antigas, a alma era vista
como algo essencial e imortal. As pessoas acreditavam que a alma sobrevivia à morte
física e continuava a existir em outro plano. Os rituais funerários eram extremamente
importantes, pois eram vistos como uma forma de garantir que a alma do falecido
alcançasse uma vida após a morte feliz e próspera. Os túmulos eram considerados locais
sagrados, onde os vivos podiam se conectar com os mortos. Também havia a crença de
que se por descuido uma sepultura fosse pisada, o sepultado se enfureceria, nesses
casos, era necessária apaziguar a entidade e purificar-se para evitar a punição divina.
Nos cultos aos já falecidos, era costume levar oferendas e fazerem orações, pedindo aos
entes queridos que protegessem os que ainda viviam. Nesse modelo de sociedade, os
mortos eram vistos como divindades, zelando pelos descendentes do outro plano. Os
laços familiares também eram fortalecidos por meio dos cultos aos antepassados, pois a
continuidade da linhagem estava ligada à perpetuação das práticas religiosas. Os cultos
aos entes falecidos eram feitos exclusivamente pela família, sendo proibida a
participação de qualquer pessoa de fora, mesmo que amigos, já que acreditavam que os
mortos só receberiam as oferendas e orações de seus próprios familiares e os puniriam
caso esse limite fosse violado. Em algumas culturas, os cultos eram metodicamente
organizados em dias específicos e com A herança, a propriedade e o status social
também estavam conectados a essas crenças, uma vez que a transmissão desses
elementos dependia da continuidade da família e do culto aos antepassados.

Além de explorar costumes ritualísticos de alguns povos em relação aos mortos, o autor
também explica a relação do fogo com a crença dos cidadãos antigos. Para alguns
desses povos, fogo era uma manifestação divina e suas chamas eram consideradas um
elo entre os seres humanos e os deuses. O fogo era mantido acesso constantemente nas
casas, era zelado pelos patriarcas e sacerdotes das famílias. Quando o fogo se apagava,
poderia significar mau presságio, sofrimento e desastres. Além da grande ligação ao
sagrado, o fogo também movimentava a organização social, pois para manter o fogo,
desempenhava-se uma grande movimentação conjunta, fazendo dele, um grande
símbolo dessas sociedades. Esse símbolo estava presente nos rituais sagrados tanto
quanto nas comemorações daqueles povos, era importante que essa ligação estivesse
presente em eventos como casamentos e funerais.
As cidades antigas eram movidas pelos núcleos familiares, organizações sanguíneas, um
poder passado de pai para filho. Por isso, era importante fortalecer os laços familiares
através dos costumes e tradições. A religião doméstica consistia em práticas e rituais
realizados dentro das casas, que eram uma forma de honrar o divino, pedir proteção
divina e prosperidade e estreitar os laços parentais. Os lares possuíam altares onde
oferendas e orações eram feitas regularmente. Esses rituais eram conduzidos pelos
patriarcas da família, e tinham como objetivo estabelecer uma conexão contínua entre
os vivos e os mortos. A herança, a propriedade e o status social eram fortemente ligadas
ao divino, por isso a religião domestica era de suma importância. Era também uma
forma de resolver conflitos entre famílias e manter a ordem social.

Em suma, o primeiro livro “As crenças antigas”, trata de como a religião e as crenças
antepassadas moldavam o estilo de sociedade da época, já que a movimentação gerada
pelas práticas religiosas exigiam trabalho conjunto e aproximação entre as pessoas. As
hierarquias formadas pela religião também influenciavam na formação política das
cidades antigas. Dessa forma, a religião era um elemento de grande importância social,
impactando diretamente na política, economia e convívio entre os habitantes.

Além da religião, Fustel também explana sobre a estrutura familiar e os costumes das
famílias das sociedades antigas. Como a religião domestica atribuía-se aos contratos
sociais como o casamento, a forma como se manifestava a religião dentro das famílias.
As mulheres, nessa época, eram meras telespectadoras dos processos religiosos e
políticos, apenas acompanhando o patriarca de sua família ou seu marido. O ato do
casamento era um processo de extrema movimentação na vida dos envolvidos, já que
casar-se, para a mulher, significava abandonar as crenças do pai e adotar as novas
crenças do marido, devotar-se a ele e responsabilizar-se por parte da dinâmica familiar,
nesses casos era preciso inicia-la na nova religião do marido. Para o homem, o ato de
inserir uma desconhecida em seu núcleo familiar também era uma movimentação muito
importante, no conjunto, acostumar-se com um novo cotidiano, e tendo as unidades
religiosas divididas por família, que como já dito, tinha a religião como base central do
convívio social dos cidadãos antigos. Na época das crenças domésticas, qualquer tipo de
ritual era realizado com extrema privacidade familiar, inclusive os casamentos, que
simbolizavam uma ligação sagrada entre esposo e esposa, e não poderia ser interferida
por terceiros. Portanto, o casamento como um contrato entre famílias sem fim
prazeroso, continha apenas o intuito de perpetuar as essências e ritos das famílias, um
evento obrigatório.

Após explicar um pouco mais sobre o processo do casamento e de como certos povos
celebravam esse tipo de união, o autor passa a explorar os temas de fertilidade. Para as
famílias era de grande importância que se tivessem herdeiros homens, já que as
mulheres não poderiam cumprir um papel ativo nas obrigações religiosas e sociais da
família. A perpetuação da família também tinha como objetivo cumprir o dever com o
divino, já que os espíritos das famílias precisavam das oferendas e cultos para manter-se
feliz e iluminado no outro plano. O casamento só poderia ser anulado em caso de
infertilidade da mulher, já em caso de infertilidade do homem, um irmão ou outro
membro da família tomaria seu lugar para que não se desfizesse o pacto do casamento.
Em caso da morte do esposo, a viúva se casaria com o parente mais próximo se não
tivesse tido filhos com o primeiro marido.

Em relação à perpetuação da crença doméstica, não era necessário apenas que se


procriasse, também era preciso que as crenças, ritos e costumes da religião fossem
passadas aos descendentes. Os filhos bastardos não eram dignos de desempenhar papeis
religiosos e nem da continuação do nome e crenças da família. Ele aborda o tema do
celibato, que era proibido na cidade antiga, já que a prática punha em risco a
continuidade da família e ameaçava o pós-vida dos entes falecidos. A prática do celibato
era condenável e passível de punição, inclusive, prevista por lei em algumas
civilizações.

Assim como as mulheres, seus filhos também precisariam passar por uma iniciação
religiosa que era feita pouco tempo depois de seu nascimento, além do viés de ligação
sagrada com a família e os deuses, esse ritual tinha o objetivo de purificar e pedir
proteção e saúde para a criança.

Em casos onde a família estaria à beira da extinção, o divino lhes permitia a adoção para
evitar que se perdesse a linhagem e a cultura das crenças domésticas. Como era um
evento unicamente voltado para evitar a descontinuação da família, só seria possível á
aqueles que não tivessem filhos. Á estes, também era necessária a iniciação, com isso,
quebrava-se o laço sagrado com sua antiga família e, para ela, já não poderia retornar.
Esse processo era correspondente á emancipação. Nesses raros casos, o filho adotado
apesar de não conter laço sanguíneo, poderia herdar o patrimônio e as crenças do pai.
Platão cita o parentesco como aqueles que compartilham a mesma comunidade de
crenças domésticas. O culto aos antepassados influenciou as leis de sucessão e herança.
A propriedade era frequentemente passada de geração em geração, e a transmissão dos
bens era regida por rituais e costumes que garantiam que a ligação entre os vivos e os
mortos fosse mantida. A herança era uma forma de continuar o culto aos ancestrais e
manter a coesão da família. Além disso, as crenças religiosas também influenciaram a
noção de propriedade individual e coletiva. A propriedade muitas vezes estava ligada à
comunidade, à cidade ou à família mais ampla, e o autor argumenta que essa relação
entre propriedade e coletividade era uma extensão das crenças religiosas
compartilhadas.

A herança era transmitida ao filho mais velho, visto como aquele que continuaria a
tradição familiar e religiosa. A filha não tinha o mesmo direito de herança, uma vez que
se casava com outro homem e passava a fazer parte da família dele. Além disso,
Coulanges discute o papel do testamento nessas sociedades. Embora menos comum do
que a herança tradicional, o testamento permitia que o indivíduo determinasse como sua
propriedade seria distribuída após a morte. Isso possibilitava certa flexibilidade em
relação à sucessão.

Na família antiga, o pai da família possuía autoridade legal e religiosa sobre todos os
membros, incluindo esposa, filhos, netos e servos. Ele era responsável por tomar
decisões importantes, administrar a propriedade da família e representar a família nos
assuntos públicos. A autoridade do pai era vista como uma extensão da autoridade dos
deuses, e ele exercia um papel central na realização de rituais religiosos que mantinham
a conexão com os ancestrais. Os filhos adultos, mesmo depois de se casarem, ainda
estavam sob a autoridade do pai, o que resultava em uma forte ligação entre gerações. A
autoridade do patriarca também se estendia à escolha de casamentos e à transmissão de
heranças. Essa autoridade rígida garantia a continuidade das tradições familiares e a
estabilidade social. A autoridade na família refletia-se em toda a sociedade antiga,
influenciando a organização política e as relações interpessoais. A família era uma
célula modelo das estruturas de poder mais amplas, e a autoridade do chefe de família
servia como um modelo para a autoridade exercida pelos governantes nas cidades
antigas.
O autor descreve a "gens" como uma unidade social e familiar que se baseava na crença
de descendência comum de um ancestral. Em Roma, era uma estrutura importante, com
membros que compartilhavam um nome e ancestrais comuns, praticavam cultos
familiares e reivindicavam direitos e deveres compartilhados. A "gens" desempenhava
um papel crucial na sociedade, incluindo na transmissão de propriedade, no culto aos
antepassados e na defesa dos interesses do grupo. O autor revela que nas antigas
sociedades grega e romana, a afiliação à "gens" estava relacionada à cidadania e à
participação na vida pública. Ela era a instituição central que ligava o indivíduo à
comunidade e que sua influência ia além das relações familiares, afetando a vida
política e social. A crença em ancestrais compartilhados fortalecia os laços dentro desse
núcleo e criava uma rede de relações que ultrapassava o âmbito familiar. Na cidade
antiga, a escravidão era uma parte intrínseca da comunidade, e seus escravos eram
passados como propriedade durante as linhagens. A relação de clientela era uma forma
de vínculo social baseada em obrigações e favores mútuos. Os clientes eram indivíduos
menos poderosos socialmente que estabeleciam laços com os patronos, que eram
pessoas mais influentes e ricas. Os clientes ofereciam apoio e serviços aos patronos,
enquanto estes forneciam proteção e ajuda em várias situações.

Em conclusão, "A Cidade Antiga" é uma obra atemporal que oferece uma análise
profunda e provocativa das sociedades antigas e de como suas crenças, instituições e
interações moldaram o tecido de suas vidas. É uma leitura essencial para quem deseja
compreender melhor as raízes culturais e sociais das civilizações grega e romana, bem
como refletir sobre as interações entre religião, política e vida cotidiana ao longo da
história.

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