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DEFINIÇÃO

Estudo do movimento artístico impressionista: seu início na França, sua difusão no mundo e seus reflexos no Brasil.

PROPÓSITO
Apresentar o impressionismo e suas particularidades para uma reflexão sobre as relações da arte com a sociedade, além do estabelecimento de uma percepção sobre os
movimentos artísticos como o resultado das trocas entre artistas,
críticos e público em tempos e locais determinados.

OBJETIVOS

MÓDULO 1

Distinguir as características do impressionismo e as dos movimentos artísticos anteriores

MÓDULO 2

Reconhecer as particularidades do movimento impressionista no Brasil

MÓDULO 3

Identificar obras-primas impressionistas em seus aspectos temáticos, estéticos e técnicos

INTRODUÇÃO
É bem provável que você já tenha visto quadros de Edgar Degas, de Auguste Renoir ou de Claude Monet reproduzidos em pôsteres ou na internet. Afinal, as bailarinas de Degas, as
cenas pintadas por Renoir ou as ninfeias de Monet
já caíram no gosto do público. Esses artistas fizeram parte do grupo dos impressionistas.

Muitas pessoas conhecem suas pinturas, mesmo que não saibam identificar seus autores. Por conta disso, é importante você compreender o processo de desenvolvimento
impressionista. Somente a partir daí você estará habilitado
a entender as chaves apresentadas neste tema, fazendo com que elas possam ter a representatividade esperada em
nosso estudo.

MÓDULO 1

 Distinguir as características do impressionismo e as dos movimentos artísticos anteriores

A HISTÓRIA DO MOVIMENTO IMPRESSIONISTA


Falaremos sobre a história do movimento impressionista e suas principais características.

CONTEXTO
O impressionismo surgiu, na segunda metade do século XIX, na França. Hoje em dia, as obras originadas desse movimento atraem a atenção de admiradores no mundo todo.
Contudo, nessa época, seus autores foram ridicularizados por
críticos que estranharam a nova e ousada maneira de eles pintarem.

Fonte: Alexander Kirch / Shutterstock


SAIBA MAIS

O impressionismo surgiu na França, que, na época, era considerada o centro do mundo, ainda que não fosse seu país mais rico ou com mais colônias. Mas era nela que a cultura, a
arte, a indumentária e
os hábitos serviam de modelo para o resto do planeta.

Ainda que tivessem membros nos EUA, na Alemanha e na Inglaterra, os principais intelectuais, pintores e escolas de pensamento sempre eram discutidas e debatidas na França. No
século do cientificismo, as feiras de ciência de
Paris, assim como suas galerias e universidades, eram uma referência.

Muitos autores chamam esse período de belle époque (em português, este termo significa “bela época”). A música, a literatura e os cafés criavam um ambiente que fomentava o
desenvolvimento cultural e a irradiação dessas
tradições por todo o mundo.

Fonte: Song_about_summer / Shutterstock

 COMENTÁRIO

Nessa dinâmica, tanto a técnica quanto uma visão profunda e filosófica eram especialmente demarcadas como algo primordial. Desse modo, toda forma de manifestação científica ou
artística que valorizasse a simplicidade
e o cotidiano eram criticados como algo ultrapassado, ou seja, oriundos de alguém que não acompanhava o mundo.

Outra visão importante é a crítica à metafísica do conhecimento, que passou a ser valorizada, direcionada, forjada e fundamentada pelo conhecimento e pela ciência. É nesse
ambiente que aparecem os chamados grupos impressionistas,
cujas vidas não foram tão simples, já que o apoio recebido foi muito limitado e seu trajeto, bastante difícil.

Fonte: Benjamin Paquette / Shutterstock

Na belle époque de Paris, a cidade fervilhava: Paris, em suma, era um exemplo de urbanidade para o resto do mundo. Destacavam-se suas ruas largas, praças públicas e pontes,
além do crescimento da moda e das artes,
desde espetáculos aos moldes do Moulin Rouge até teatros com grandes óperas. O consumo de álcool e um novo ideal
de vida urbana
também ganhavam corpo.

Nesses ambientes, a arte adquiriu um status muito específico, o que, aliás, confere sentido à nossa abordagem anterior. A partir desse momento, ela passa a ter valor – em alguns
casos, tais valores já eram muito altos
– e um público que, formado por grupos de especialistas e meros apreciados, passa a consumi-la.

Conheceremos esses grupos a seguir.

O cabaré Moulin Rouge foi fundado aos pés da Colina Montmartre, em 10 de outubro de 1889, por Joseph Oller (1839-1922) e Charles Zidler (1831-1897). Ambos desejavam
oferecer um lugar de divertimento popular a um
público diversificado.

Fonte: (PARIS CITY VISION, 2020)

O GRUPO IMPRESSIONISTA

Você sabe como se formou o grupo dos impressionistas, que novidades eles trouxeram para a arte e por que se tornaram tão especiais?

A história desses artistas começa na França na década de 1860. Capital francesa, Paris era também o centro internacional das artes no século XIX. Naquela época, artistas do mundo
todo (ou mesmo franceses provenientes de outras
cidades) passavam um tempo nela.

Fonte: Nadar/Wikipedia
 Claude Monet

Fonte: Wikipedia
 Pierre-Auguste Renoir

Esse foi o caso de Claude Monet (1840-1926) e Pierre-Auguste Renoir (1841-1919).


Ambos foram estudar pintura no ateliê parisiense de Charles Gleyre, um pintor de sucesso e
mestre respeitado. Conheceram ali Alfred Sisley (1839-1899),
com quem, após um período de estudos tradicionais no ateliê, partiram para o campo a fim de pintar ao ar livre.

ALFRED SISLEY

Paisagista francês de origem inglesa.

Fonte: Renoir / Wikipedia

Fonte: Google Arts and Culture.

CLAUDE MONET

Icônico pintor de paisagens, Monet enfrentou graves dificuldades financeiras até conseguir mecenas e apoio para sua obra em Paris.

Fonte: Nadar / Wikipedia

Fonte: (E-BIOGRAFIA, 2020B)

PIERRE-AUGUSTE RENOIR

Ele foi um dos primeiros a ser aceito nos salões. Apesar de sua origem academicista, Renoir refutava tais tradições, buscando mestres que apresentassem caminhos diversos.
Alistou-se na guerra franco-prussiana, mas,
por conta da saúde frágil, não seguiu na batalha. Ele pintou até uma idade avançada, fase de sua vida demarcada pelo esforço de
vencer as debilidades físicas da velhice.

Fonte: Wikipedia

Fonte: (E-BIOGRAFIA, 2020C)


Juntaram-se mais tarde a esse núcleo os pintores Camille Pissarro (1830-1903), Berthe Morisot (1841-1895) e Mary Cassatt
(1844-1926), assim como diversos outros. A partir de
1874, eles passaram a realizar exposições coletivas como uma alternativa às oficiais, que eram conhecidas como salons.

Fonte: Wikipedia
 Autorretrato de Camille Pissarro

CAMILLE PISSARRO

Pissarro, um acadêmico clássico que se juntou ao grupo impressionista, participou de oito das principais exposições do grupo.

Fonte: Wikipedia

Fonte: (E-BIOGRAFIA, 2020A)


SAIBA MAIS

Os salons (salões, em português) eram exposições de belas artes organizadas todos os anos pelo governo francês em Paris. Para participar, os artistas deviam ter suas obras
aprovadas por um júri de seleção.
Ser aceito era um passaporte para o sucesso artístico.

Durante muitas décadas, o sistema funcionou dessa forma. Sem a chancela do júri do salão, um artista não alcançava o reconhecimento do público ou de colecionadores.

Havia uma grande insatisfação naqueles que tinham suas obras recusadas. Buscando uma alternativa ao salão, Monet, Renoir, Degas, Pissarro, Sisley, Berthe Morisot e outros
artistas se reuniram em uma sociedade anônima e realizaram,
em 1874, a primeira exposição coletiva do grupo no estúdio do fotógrafo Nadar.

O quadro Impressão, nascer do sol, de Claude Monet, estava nessa exposição. O nome desta obra inspirou o crítico de arte Louis Leroy a “batizar” o grupo em seu artigo A exposição
dos impressionistas, publicado
no jornal Le charivari.

Fonte: Claude Monet (1872) / Museu Marmottan, Paris


 Impressão, nascer do sol (1872), por Claude Monet

Era a primeira vez que alguém chamava esses pintores de “impressionistas”; então, de forma crítica e irônica, os artistas posteriormente resolveram assumir o nome, que, assim,
deixava de ter a conotação pejorativa inicial.

Após 1874, os impressionistas realizaram exposições em 1876, 1877, 1879, 1880, 1881, 1882 e 1886, totalizando oito mostras coletivas.

OS ANTECEDENTES

Pintar ao ar livre era uma das marcas dos impressionistas. Em grupo, eles costumavam registrar em suas telas paisagens dos arredores de Paris ou momentos de lazer nos jardins
públicos da cidade.

Mas será que eles foram os primeiros artistas a pintarem ao ar livre?

Na verdade, antes deles, outras pessoas haviam pintado fora dos ateliês. Camille Corot (1796-1875) foi um deles. Por volta de 1850, Corot se instalou na cidade de Barbizon, que fica
nas proximidades da floresta de Fontainebleau.
Ali, reunido com outros artistas, ele pintou muitas vistas da floresta. Este grupo ficou conhecido como a Escola de Barbizon.

Fonte: Nadar / Wikipedia


 Camille Corot retratado por Nadar

Outros paisagistas também podem ser citados como os precursores do impressionismo:

Fonte: Wikipedia

O FRANCÊS EUGÈNE BOUDIN

(1824-1989)

Fonte: Wikipedia

O HOLANDÊS JONGKIND
(1819-1891)

Fonte: Wikipedia

O INGLÊS WILLIAM TURNER

(1775-1851)

Fonte: Wikipedia

O INGLÊS JOHN CONSTABLE

(1776-1837)

Fonte: Wikipedia

O INGLÊS BONINGTON

(1802-1828)

Todos pintaram paisagens a partir de estudos do ambiente natural. Seus trabalhos eram admirados pelos impressionistas, que, além desses ambientes, também se dedicaram às
cenas urbanas de cunho realista.

 ATENÇÃO

Nesse aspecto urbanístico, os impressionistas foram influenciados por Gustave Courbet (1819-1877) e Édouard Manet (1832-1883), com quem aprenderam a pintar apenas o que
viam em vez de imaginar cenas alegóricas ou históricas.

Dessa forma, os impressionistas deram continuidade ao realismo difundido por Courbet. Nenhum artista surge do nada: na verdade, ele cria a partir de suas afinidades e da
admiração por obras precedentes.

Na segunda metade do século XIX, o foco na vida moderna passou a ganhar espaço, preparando, assim, o terreno para a novidade do impressionismo. De maneira análoga, os
elementos impressionistas relativos à ruptura estética fizeram
o mesmo para as futuras concepções de arte moderna.

Sua busca não era pelo belo, pelo sublime ou pelo fantástico; na verdade, ela buscava a percepção, tentando exprimir a relação entre homem e natureza. Não bastava apenas
observar o mundo e a luz: havia a necessidade de verificar
como era possível perceber esses elementos.

A DIVERSIDADE DENTRO DO GRUPO: AS INDIVIDUALIDADES

Embora se identifiquem características que os unem em um mesmo movimento artístico, os impressionistas também possuíam suas particularidades.

Veremos a seguir algumas diferenças presentes nas obras de Claude Monet e Edgar Degas:

CLAUDE MONET (1840-1926)


Claude Monet (1840-1926) é considerado o mais impressionista dos impressionistas. Afinal, em seus quadros, podemos observar todas as características próprias do movimento.

Até o final da vida ele se manteve fiel à pesquisa visual das vibrações luminosas e dos contrastes das cores complementares. Seus quadros vibram e transpiram vida justamente pelo
efeito que Monet conseguia criar
com o uso de cores intensas e contrastantes justapostas na superfície.

Em Mulher com sobrinha virada para a esquerda, a personagem do quadro é sua enteada, Suzanne Hoschedé, filha de sua segunda esposa. Quase podemos sentir ali o vento que
desloca as nuvens, as plantas e o
vestido de Suzanne. Isso é o resultado do ritmo das pinceladas, o que indica um movimento.

A observação das sombras coloridas está presente no vestido branco. Monet aplicou nele tons de rosa, azul e amarelo. O tratamento é o mesmo em todas as partes da tela: tudo se
torna uma vibração
luminosa.

Não importa, portanto, se realmente se trata do céu, da mulher ou da vegetação no quadro. Não é o aspecto tátil das coisas que Monet representa, e sim a pura visualidade.

Fonte: Claude Monet (1886) / Museu d’Orsay, Paris


 Mulher com sobrinha virada para a esquerda (1886), por Claude Monet

EDGAR DEGAS (1834-1917)


Diferentemente dos demais impressionistas, Edgar Degas (1834-1917) gostava de pintar cenas em locais fechados. Ele se interessava mais pela representação de figuras humanas
que por pinturas de paisagens.

Degas dedicou-se a pintar o corpo humano em movimento, como pode ser visto, por exemplo, em suas séries sobre dançarinas em ensaios, nas aulas de balé ou no palco. Mulheres
se lavando constituem outro tema que o
encantava. Nos dois casos, as posições das figuras em seus quadros não eram posadas, e sim espontâneas.

Admirador das estampas japonesas que estavam em voga na Europa no século XIX, ele se deixou influenciar por essa arte, sobretudo em seu aspecto compositivo. É o que se pode
perceber na comparação das imagens a seguir:
um quadro de Degas e uma gravura japonesa.

Observemos que, nas duas obras, o vazio ocupa grande parte do espaço. As figuras acabam ficando deslocadas para o canto.

Fonte: Edgar Degas (1874) / The Burrell Collection, Glasgow, Escócia


 O ensaio (1874), por Edgar Degas

Fonte: Suzuki Harunobu (1771) / Art Institute of Chicago, EUA


 Picture book of spring brocades (1771), por Suzuki Harunobu

A HISTÓRIA DA ARTE E O IMPRESSIONISMO


Você deve sempre se lembrar da seguinte frase:

A história da arte não é a arte, e sim a percepção de sua relação com o tempo.

Em muitos momentos, nós estudamos a arte como um sinônimo de política e economia, assim como uma forma de dominação e força. Mas o impressionismo é um desafio. Apesar
de ter atingido uma impressionante notoriedade, esta escola
não é entendida, de forma geral, como uma arte hegemônica nem como uma que represente um país ou uma sociedade.

 ATENÇÃO

O impressionismo é a associação dos seus seguidores. Não é à toa que eles são denominados várias vezes neste tema como um grupo impressionista.

O mundo como conhecemos – ao menos seus antecedentes – foi formado no século XIX. Afinal, estão consolidadas nessa era as formas do capitalismo. Nela, os estados-nação se
tornaram uma tônica da geopolítica ocidental.

Fonte: Mike Flippo / Shutterstock

A política passava a versar sobre república, democracia e federalismo. O mundo se tornava mais urbano, além de ser ainda mais dominado por uma forte cultura europeia. África e
Ásia, por sua vez, se juntavam às Américas no reconhecimento
da força das nações ocidentais.

Dessa forma, tudo o que se torna efervescente nesse mundo se multiplica, se recria e se reforma. Com isso, conseguimos compreender como uma disputa entre intelectuais e artistas
na França se torna uma querela capaz de influenciar
a pintura em todo mundo.

As produções de Renoir, Degas e Monet são um fenômeno, pois deixam de ser representativas de uma arte francesa. Elas passam a fazer parte de um movimento histórico que
transforma a arte, seu valor e suas disputas em algo de
interesse universal.

No próximo módulo, observaremos como a arte francesa, especificamente o impressionismo, se disseminou pelo mundo. Além disso, buscaremos entender sua presença no Brasil.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. O IMPRESSIONISMO ABRIU UM CAMINHO PARA A ARTE MODERNA, POIS OS PINTORES DESSE MOVIMENTO APRESENTARAM
INOVAÇÕES EM RELAÇÃO ÀS PRÁTICAS ARTÍSTICAS ANTERIORES. LISTAMOS A SEGUIR ALGUNS PROCEDIMENTOS QUE MARCARAM A
RUPTURA IMPRESSIONISTA COM O PASSADO. ASSINALE A ALTERNATIVA FALSA.

A) Os impressionistas praticavam a pintura ao ar livre não apenas para realizar esboços e estudos, mas também para a realização completa de seus quadros.

B) Os impressionistas usavam a imaginação para criar temas fantásticos e sobrenaturais em suas obras,

C) Em vez de empregar a tinta preta, os impressionistas usavam cores complementares para pintar sombras projetadas.

D) As pinceladas nos quadros impressionistas são fragmentadas e aparentes.

2. OBSERVE AS IMAGENS A SEGUIR (A E B) E LEIA AS AFIRMAÇÕES DADAS. QUAL DELAS É VERDADEIRA DO PRINCÍPIO AO FIM?

A B

A) Na imagem A, vemos uma pintura impressionista de Claude Monet muito bem recebida pelo público parisiense quando, em 1877, ela foi exposta no Salão de Belas Artes de Paris.

B) Na imagem B, observamos uma pintura impressionista de Edgar Degas, que gostava de pintar cenas de espetáculos teatrais que impressionassem o público.

C) Na imagem A, temos uma tela de Jean-Léon Gérôme, pintor que fazia sucesso com o público dos salões de arte em Paris na década de 1870. Já imagem B revela um quadro
impressionista de Claude Monet.

D) As duas telas foram pintadas na década de 1870, mas são muito diversas. A primeira é uma obra impressionista (imagem A); a segunda, um exemplo da arte acadêmica que
agradava ao público dos salões (B).

GABARITO

1. O impressionismo abriu um caminho para a arte moderna, pois os pintores desse movimento apresentaram inovações em relação às práticas artísticas anteriores.
Listamos a seguir alguns procedimentos que marcaram a ruptura impressionista com o passado. Assinale a alternativa falsa.

A alternativa "B " está correta.

Os temas sobrenaturais e fantásticos estavam ausentes das pinturas impressionistas, pois sua motivação era a observação direta da natureza e dos efeitos da luz. Só lhes
interessava aquilo que eles viam e percebiam no mundo no qual viviam. Nesse aspecto, eles seguiam a orientação realista lançada por Gustave Courbet em meados do século XIX.

2. Observe as imagens a seguir (A e B) e leia as afirmações dadas. Qual delas é verdadeira do princípio ao fim?

A B

A alternativa "D " está correta.

É fácil perceber as diferenças entre as pinturas reproduzidas nas imagens A e B tanto em seus temas quanto em seus aspectos plásticos. Identificamos a primeira como
impressionista pelas pinceladas fragmentadas, pelas cores vivas e pelo tema contemporâneo. Quadro de Monet, La Gare Saint-Lazare (pintado em 1877) fez parte da terceira
exposição dos impressionistas e recebeu críticas negativas, pois parecia inacabado para o público da época. O que interessava ao pintor, no entanto, era registrar os efeitos da
fumaça e da luz na movimentada e barulhenta estação de trem. Os impressionistas abandonaram temas elaborados da história antiga como o da segunda imagem, que reproduz o
quadro Pollice verso, pintado por Jean-Léon Gérôme em 1872. Gérôme usou nele uma técnica tradicional: o desenho e o claro-escuro estão bem marcados. Além disso, ele escolheu
um tema chamativo, a história da Roma Antiga, o que agradava o público dos salões de arte de então.

MÓDULO 2

 Reconhecer as particularidades do movimento impressionista no Brasil

MODAS E COSTUMES: DA FRANÇA PARA O MUNDO


Assim como os artistas do mundo inteiro faziam no século XIX, os brasileiros realizavam viagens de estudos à Europa. Eles costumavam passar pela Itália para verem as célebres
obras dos mestres do Renascimento. Na Espanha, Holanda
e Inglaterra, eles visitavam os grandes museus.

Fonte: Porcupen / Shutterstock

Mas era na capital francesa que os brasileiros costumavam fixar residência e se punham a par das novidades. Nos salões de arte em Paris, podiam conhecer a produção dos artistas
em evidência, as polêmicas do momento e os novos
movimentos artísticos.

Fonte: Morphart Creation/Shutterstock


Foi assim que eles entraram em contato com as obras impressionistas, as quais, alçando voos pelo mundo todo, agora também podiam dar o ar de sua graça no Brasil.

Observaremos a seguir como isso ocorreu em outros países e, em seguida, no nosso.

O IMPRESSIONISMO EM OUTROS PAÍSES

A partir da França, o impressionismo foi adotado por pintores de muitos outros países. Como sabemos, no século XIX, Paris era o centro do mundo das artes. Pintores de diversas
origens passavam por lá para estudar, visitar museus
e galerias de arte ou para expor o próprio trabalho.

Foi dessa forma que o impressionismo se difundiu e conquistou novos adeptos. Veremos agora três obras impressionistas realizadas fora da França:

Fonte: Martín Malharro (1911) / Museo Nacional de Bellas Artes, Buenos Aires
 Las parvas (la pampa de hoy) (1911), por Martín Malharro

A primeira é do argentino Martín Malharro (1865-1911).

Fonte: Philip Wilson Steer (1888 - 1894) / Tate


 Meninas correndo , pier Walberswick (1888-1894), por Philip Wilson Steer

A segunda do inglês Philip Wilson Steer (1860-1942).

Fonte: Butler Institute for American Art


 Papoulas (1890), por Robert Vonnoh

A terceira do norte-americano Robert Vonnoh (1858-1933).

As três exemplificam obras que fizeram diversas adaptações do impressionismo ao redor do mundo.

 ATENÇÃO

A história da belle époque é constantemente confundida com um triunfo econômico francês, mas esse conceito constitui um equívoco. A Inglaterra se consolidava como a força
imperialista mais forte naquela época.
A França aparecia em segundo lugar, sendo seguida pelas recém-unificadas Alemanha e Itália, em oposição a Estados-Nação decadentes,
como Espanha e Portugal.

Ainda que se fortalecesse nas Américas, o coadjuvante Estados Unidos era tão tributário das tradições europeias quanto as demais nações que sentiam o peso do imperialismo.

Apesar desse quadro de disputa, a França era a referência de cultura mundial e a cidade de Paris, a joia máxima desse processo. Pessoas de todo o mundo iam até lá para “adquirir”
cultura nas ruas francesas. A burguesia do mundo
inteiro reconhecia os modos e a realidade francesa como uma referência cultural.

Conceito sociopolítico que explica o processo de domínio socioeconômico dos Estados-Nação europeus, especialmente na África e na Ásia. Seu resultado também é chamado
de neocolonialismo.

Fonte: r.classen / shutterstock

Se a cultura se tornou um mercado na segunda metade do século XIX, a França foi o modelo que serviu de base para tal. Por isso, refletia-se no planeta inteiro o que fazia sucesso
nas ruas de Paris. Suas novidades deveriam ser
trazidas como um sinal de modernidade, sendo, portanto, difundidas em todo o mundo.

ANTECEDENTES: A PINTURA DE PAISAGEM AO AR LIVRE

A estadia do pintor alemão Georg Grimm (1846-1887) no Rio de Janeiro agitou o meio artístico nacional na década de 1880.

Fonte: Wikipedia

 Grimm

1878

Grimm chegou ao Brasil em 1878 e só retornou à Europa, de forma definitiva, em 1887. Sua atuação como professor de pintura de paisagem marcou uma geração de pintores no Rio
de Janeiro. Ainda não se tratava
de impressionismo, mas o que ele apresentou aos brasileiros já anunciava importantes mudanças.

1882

Quando suas telas foram expostas aos cariocas em 1882, o público ficou fascinado com suas cores vivas e ensolaradas. Até então, nossos pintores não capturavam a luz tropical em
suas paisagens pintadas com
cores sóbrias.

Isso explica a surpresa e o encanto provocados pela luminosidade alegre das paisagens de Grimm. Depois desta exposição, ele foi contratado para dar aulas de pintura de paisagem
na Academia Imperial das Belas
Artes, onde lecionou durante dois anos.

Fonte: Wikipedia

 Reforma na Academia Imperial de Belas Artes (1885 a 1895)

Fonte: ranimiro / Shutterstock

 Teresópolis

1884

Seu entusiasmo pela pintura ao ar livre contagiou seus alunos, que preferiram abandonar a academia em meados de 1884, ano em que o contrato de Grimm terminou. Juntos, alunos
e mestre foram às praias de Niterói
ou à serra fluminense, em Teresópolis, para pintar.

Essa prática foi fundamental para a formação de jovens pintores. Suas obras receberam inúmeros elogios nos jornais quando foram vistas na exposição geral aberta na academia ao
final de agosto de 1884.

Vários deles foram premiados na mostra de 1884. Alguns de seus quadros até foram adquiridos pelo governo; atualmente, eles estão no Museu Nacional de Belas Artes, como, por
exemplo, Praia da Boa Viagem, de Hipólito
Boaventura Caron (1862-1892).

Fonte: Hipólito Boaventura Caron (1884) / MNBA, Rio de Janeiro


 Praia da Boa Viagem (1884), por Hipólito Boaventura Caron

Fonte: Wikipedia
 Antônio Parreiras

Antônio Parreiras (1860-1937) foi o artista do grupo que teve uma carreira mais longa e produtiva. Grimm o ajudou a dar os primeiros passos na pintura de paisagem, porém, em
seguida, o aluno foi mais longe que seu professor.

Em viagens à Europa, Parreiras teve contato com o impressionismo. Embora ele não tenha se tornado um impressionista, é inegável a influência dessa escola em sua obra.

Observemos a diferença perceptível entre Grimm e Parreiras nos quadros a seguir.

Fonte: Georg Grimm (1884) / MNBA


 Vista do Morro do Cavalão (1884), por Georg Grimm

Fonte: Antônio Parreiras (1935) / Museu Antônio Parreiras


 Regueiro (1935), por Antônio Parreiras

Em Vista do Morro do Cavalão, Grimm é minucioso na representação das rochas e das árvores, as quais reproduz com fidelidade fotográfica. Já em Regueiro (que, em português,
significa regato), as pinceladas
de Parreiras são soltas e enérgicas, demonstrando uma clara tendência impressionista.

ELISEU VISCONTI (1866-1944) — PRIMEIRO IMPRESSIONISTA BRASILEIRO

Quem ficou conhecido como o primeiro impressionista brasileiro, no entanto, não foi Antônio Parreiras. Tal alcunha cabe a Eliseu Visconti.

Fonte: Wikipedia
 Eliseu Visconti. Autorretrato de 1902

Eliseu Visconti, conhecido como o primeiro impressionista brasileiro

Fonte: ventdusud / Shutterstock

Após ter se formado na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, Visconti ganhou o Prêmio de Viagem à Europa. Ele então mudou-se para a França, onde viveu de 1893 a
1900.

Isso possibilitou que ele entrasse em contato com várias tendências artísticas, especialmente as do art nouveau, do simbolismo e do impressionismo. Experimentando todas elas,
Visconti variou a maneira de pintar ao
longo de sua vida, nunca tendo se declarado um impressionista.

Ainda assim, de sua variada produção, as telas impressionistas foram as mais valorizadas por críticos e historiadores da arte. Testemunhemos alguns desses trabalhos:

Fonte: Eliseu Visconti (1906) / Pinacoteca do Estado de São Paulo


 Maternidade (1906), por Eliseu Visconti

Fonte: Eliseu Visconti (1897) / Coleção particular


 Patinhos no lago (1897), por Eliseu Visconti

Foi em Paris que Visconti pintou Patinhos no lago e Maternidade. Nas duas obras, conseguimos perceber seu interesse pelos efeitos da luz solar tanto nos reflexos sobre a água
quanto nas manchas do sol filtrado
pela folhagem das árvores no jardim.

Já os quadros A caminho da escola e Quaresmas foram pintados por Visconti no Brasil.

Fonte: Eliseu Visconti (1928) / MNBA


 A caminho da escola (1928), por Eliseu Visconti

Na primeira tela, a cena se passa em Copacabana, no Rio de Janeiro – mais precisamente, em frente ao portão da casa do artista.

Fonte: Eliseu Visconti (1942) / coleção particular


 Quaresmas (1942), por Eliseu Visconti

No segundo quadro, Visconti pintou o quintal de sua casa de veraneio em Teresópolis, cidade serrana do estado do Rio de Janeiro.

No período de cinco décadas (desde Patinhos no lago, de 1897, até Quaresmas de 1942), nota-se como sua pintura foi se tornando diáfana. As formas foram, aos poucos, se
dissolvendo, estando cada vez mais mergulhadas
nos efeitos luminosos observados na natureza.

OS IMPRESSIONISTAS BRASILEIROS

No Brasil, os pintores associados ao impressionismo pertenceram a gerações diversas, não formando um grupo coeso.

Não organizaram exposições coletivas do grupo, como, por exemplo, a dos impressionistas franceses.


Não evitaram participar dos salões oficiais; pelo contrário, eles buscavam a visibilidade que as exposições gerais de belas artes propiciavam.

Fonte: Wikipedia
 Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro

Essas exposições eram organizadas pelos professores da Academia Imperial das Belas Artes, que, após o fim do Império e a proclamação da República, passou a ser chamada de
Escola Nacional de Belas Artes.

Muitos pintores impressionistas do país foram alunos da academia ou da escola. Alguns até se tornaram professores da instituição.

Portanto, no Brasil, o impressionismo não funcionou como na França, onde os artistas se opuseram ao sistema tradicional de ensino e se afastaram das exposições oficiais, os
chamados salões de belas artes. Na verdade, nossos
pintores se apropriaram, aos poucos, da nova forma de pintar.

No final do século XIX, eles se aproximaram do impressionismo sem abandonar o desenho das linhas de contorno e o modelado em claro-escuro aprendido na academia. Eis o
motivo: nossos críticos os aconselhavam a evitar os “perigos”
da nova tendência.

A PARTIR DA DÉCADA DE 1910, O IMPRESSIONISMO FOI ACEITO, POIS O PÚBLICO JÁ SE HABITUARA À


NOVA MANEIRA E OS CRÍTICOS NACIONAIS PASSARAM A ELOGIAR OS ARTISTAS BRASILEIROS QUE
USAVAM TÉCNICAS IMPRESSIONISTAS.

CAVALCANTI, 2019

MUITOS BRASILEIROS FORAM CLASSIFICADOS COMO IMPRESSIONISTAS POR CRÍTICOS E


HISTORIADORES, ASSIM COMO POR CURADORES QUE ORGANIZARAM EXPOSIÇÕES SOBRE O
IMPRESSIONISMO NO BRASIL.

MUSEU DE ARTE MODERNA DE SÃO PAULO, 2017; MUSEU NACIONAL DE BELAS ARTES, 1974

Outra característica importante do grupo foi a expressão de sua individualidade. Todos criaram obras impressionistas, mas cada um usava uma paleta pessoal para isso, privilegiando
certas combinações de cores.

Alguns usaram cores mais suaves; outros, mais saturadas. O método escolhido trazia a marca pessoal de cada artista, com o trabalho do pincel sendo mais ou menos enérgico.

Para entendermos isso, analisaremos estas seis obras:

Fonte: Georgina de Albuquerque (1920) / MNBA, Rio de Janeiro/RJ

Dia de verão (1920), por Georgina de Albuquerque.


Fonte: Lucílio de Albuquerque (1911) / MNBA, Rio de Janeiro/RJ

Paraíso restituído (1911), por Lucílio de Albuquerque (1877-1939)

Fonte: Carlos Oswald (1913) / MNBA, Rio de Janeiro/RJ

Retrato de Ernesto Pinto de Azeredo Coutinho (1913), por Carlos Oswald

Fonte: Mário Navarro da Costa (1914 - 1931) / Pinacoteca do Estado de São Paulo

Porto de Leixões, Portugal (1914-1931), por Mário Navarro da Costa (1883-1931).

Fonte: Antônio Garcia Bento (1925) / Palácio Anchieta, Vitoria/ES

Porto de Vitória (1925), por Antônio Garcia Bento (1897-1929).

Fonte: João Timótheo da Costa / Museu Afro-Brasil, São Paulo

Barcos, por João Timótheo da Costa

Nas três primeiras (Dia de verão, Paraíso restituído e Retrato de Ernesto Pinto de Azeredo Coutinho), podemos constatar a presença de figuras humanas; as intenções dos artistas,
no entanto, são muito
diversas.

Fonte: Lucílio de Albuquerque (1911) / MNBA, Rio de Janeiro/RJ

PARAÍSO RESTITUÍDO (1911), POR LUCÍLIO DE ALBUQUERQUE (1877-1939)

Em Paraíso restituído, Lucílio de Albuquerque (1877-1939) fez uma alegoria da família. O “paraíso” do título indica que o homem e a mulher representados são Adão e Eva.

Quem lhes restitui o paraíso é o filho que Eva levanta para ser beijado por Adão. Lucílio usou pinceladas e cores impressionistas, porém o tema da pintura está mais próximo do
simbolismo.

Fonte: Georgina de Albuquerque (1920) / MNBA, Rio de Janeiro/RJ

DIA DE VERÃO (1920), POR GEORGINA DE ALBUQUERQUE

De autoria de sua esposa, Georgina de Albuquerque (1885-1962), Dia de verão é mais fiel aos princípios do impressionismo, pois a figura feminina aqui não é alegórica, e sim um tipo
contemporâneo à artista.
O que interessa à Georgina é o efeito da luz do sol na cortina de tule e no vestido da moça.

Fonte: Carlos Oswald (1913) / MNBA, Rio de Janeiro/RJ

RETRATO DE ERNESTO PINTO DE AZEREDO COUTINHO (1913), POR CARLOS OSWALD

O efeito da luz também é o foco de Carlos Oswald (1882-1971) em Retrato de Ernesto Pinto de Azeredo Coutinho. No entanto, não se trata da luz natural, e sim da artificial advinda
da lanterna japonesa, produzindo
reflexos vermelhos e sombras lilases no personagem retratado.

Nas três obras seguintes, vemos marinhas ou paisagens fluviais com barcos. Podemos ordenar essas pinturas em uma gradação que vai:

Fonte: Mário Navarro da Costa (1914-1931) / Pinacoteca do Estado de São Paulo

PORTO DE LEIXÕES, PORTUGAL (1914-1931), POR MÁRIO NAVARRO DA COSTA (1883-1931)

De Porto de Leixões, de Mário Navarro da Costa (1883-1931), pintura com a saturação das cores mais intensa...

Fonte: Antônio Garcia Bento (1925) / Palácio Anchieta, Vitoria/ES

PORTO DE VITÓRIA (1925), POR ANTÔNIO GARCIA BENTO (1897-1929)

Passando pelo Porto de Vitória, de Antonio Garcia Bento (1897-1929)...

Fonte: João Timótheo da Costa / Museu Afro-Brasil, São Paulo

BARCOS, POR JOÃO TIMÓTHEO DA COSTA

Até a obra que apresenta cores menos saturadas: Barcos, de João Timótheo da Costa (1879-1932).

Em Barcos, as pinceladas se fundem: seu aspecto é o de um dia nublado. Já nas pinturas de Navarro da Costa e Garcia Bento, as áreas de cor são bem delimitadas e a luz é mais
intensa, como a de um dia de sol.

 DICA

Você pode continuar a comparação entre esses trabalhos a partir da própria observação. O exercício de olhar e comparar obras é essencial na história da arte.

IMPRESSIONISMO NO BRASIL
O impressionismo brasileiro é fruto de uma tentativa de trazer o mundo europeu para o nosso país. Assista a este vídeo para entender como se deu essa idealização.

COMPARAÇÕES POSSÍVEIS

O impressionismo se manifestou em espaços diversos e de várias formas no mundo. Uma excelente forma de entender essa realidade é comparar o peso dessa escola na arte
mundial.

Observemos um exemplo disso:

Estas imagens são do sul-africano Adrian Bashoff. Verificamos nelas que é recorrente haver, em meios periféricos, uma forte representação da construção de uma memória.

Também é possível observar algum bucolismo social e uma forte relação com a materialidade social. Outro destaque de sua obra é o uso da cor, sendo isso um de seus marcos.

Fonte: Adriaan Boshoff / Adriaan Boshoff Museum


 The road to Calvinia, por Adriaan Boshoff (1935-2007)

Para efeitos de comparação, notemos que o movimento impressionista sul-africano é tardio, ainda que ele mostre como a arte passa a ter um papel especial em diversas realidades
sociais.

Veremos a seguir o desenvolvimento desse movimento em um centro de poder ainda em formação:

Nos Estados Unidos, que se consideravam os herdeiros da cultura ocidental, o impressionismo deixou fortes marcas. O estilo local era de cores muito vivas e pinceladas leves,
criando outro tipo de efeito. Um de seus maiores
nomes é o de Theodore Robinson.

Fonte: Wikipedia
 Robinson em 1882

Suas paisagens industriais, cores mais vivas e perpetuação demonstram que, de alguma forma, o domínio e o olhar do mundo “real”, ou seja, visto pelo olhar humano, são uma marca
da forma de representação norte-americana.

Fonte: Theodore Robinson (1894) / Collection of Margaret and Raymond Horowitz


 Low tide riverside yacht club (1894), por Theodore Robinson
O uso das cores mais vivas pode ser percebido em Lilacs in a window, de Mary Cassatt.

Fonte: Mary Cassatt (1880) / The Met


 Lilacs in a window (1880), por Mary Cassatt

Poderíamos seguir mundo afora, observando o impacto do impressionismo na arte de outras nações, mas nosso objetivo é lhe permitir perceber que o grupo impressionista fez
pela arte muito mais do que criticar ou buscar uma nova forma de fazê-la.
Ele, na verdade, ajudou a consolidar o campo artístico como algo singular, existindo além do mundo
fotográfico e de suas disputas.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. NO BRASIL, O IMPRESSIONISMO SEGUIU CAMINHOS PRÓPRIOS EM NOSSO MEIO ARTÍSTICO. DAS AFIRMAÇÕES LISTADAS ABAIXO,
MARQUE A ALTERNATIVA FALSA.

A) Os impressionistas brasileiros formaram um grupo homogêneo e organizado que se recusou a participar das exposições organizadas pela Escola Nacional de Belas Artes, no Rio
de Janeiro.

B) No final do século XIX, os críticos de arte brasileiros eram reticentes quanto ao impressionismo. Apenas a partir da década de 1910 nota-se uma aceitação da pintura
impressionista no Brasil.

C) Eliseu Visconti foi considerado o primeiro impressionista brasileiro. No entanto, o próprio Visconti nunca se definiu como um pintor impressionista.

D) Georgina de Albuquerque foi uma pintora brasileira profundamente marcada pelo impressionismo. Em suas pinturas, podemos perceber o uso de pinceladas fragmentadas e cores
luminosas.

2. OBSERVE AS IMAGENS A E B. SABENDO QUE A MOSTRA UM QUADRO DE ANTÔNIO PARREIRAS E B, UMA TELA DE ELISEU VISCONTI,
ASSINALE A ÚNICA ALTERNATIVA INTEIRAMENTE VERDADEIRA.

A B

A) Apenas o quadro da imagem A pode ser identificado como impressionista, pois foi pintado em 1900. A pintura de Visconti (imagem B), realizada por volta de 1931, não pode ser
chamada de impressionista, pois quase seis décadas a separam do início do movimento na França.

B) O destaque da paisagem e as cores claras nas duas pinturas são marcas do impressionismo na arte brasileira. Ao mesmo tempo, nota-se a individualidade de cada um dos
pintores nesses quadros.

C) Os dois quadros (imagens A e B) são exemplares do impressionismo no Brasil. Embora eles tenham sido pintados por artistas diferentes, as técnicas utilizadas são tão
semelhantes que parecem obras de um mesmo pintor.

D) As duas pinturas sofreram muita resistência, sendo duramente criticadas no Brasil, já que a novidade do impressionismo foi mal recebida pelo público brasileiro.

GABARITO

1. No Brasil, o impressionismo seguiu caminhos próprios em nosso meio artístico. Das afirmações listadas abaixo, marque a alternativa falsa.

A alternativa "A " está correta.

Os pintores que podem ser classificados como impressionistas brasileiros não formaram um grupo homogêneo. Eles pertenceram a gerações diversas; além disso, muitos variavam
sua maneira de pintar, ora se aproximando, ora se distanciando do impressionismo. Todos participaram das exposições gerais organizadas pela Escola Nacional de Belas Artes, já
que elas eram as mostras de arte mais importantes no início do século XX no Brasil.

2. Observe as imagens A e B. Sabendo que A mostra um quadro de Antônio Parreiras e B, uma tela de Eliseu Visconti, assinale a única alternativa inteiramente
verdadeira.

A B

A alternativa "B " está correta.

Na imagem A, vemos o quadro Baía Cabrália, que foi pintado por Antônio Parreiras em 1900; e, na imagem B, Na alameda, de Eliseu Visconti (1931). Identificadas como pinturas de
tendência impressionista, ambas foram bem recebidas pelo público contemporâneo dos pintores. Os dois artistas se destacaram especialmente na pintura de paisagens; além disso,
souberam captar a vibração da luz natural característica do movimento. Eles conseguiram imprimir em suas telas a própria individualidade, que pode ser percebida nas diferentes
faturas das pinceladas e nas paletas de cores diferenciadas de cada um.

MÓDULO 3

 Identificar obras-primas impressionistas em seus aspectos temáticos, estéticos e técnicos

OS PRINCÍPIOS ESTÉTICOS DO GRUPO


Apontaremos neste módulo algumas possibilidades estéticas do impressionismo.

O que descreve a arte dos impressionistas? Em que aspectos ela se diferencia dos movimentos artísticos anteriores e abre caminho para a arte moderna?

Observaremos a seguir os princípios estéticos adotados pelos impressionistas, fazendo, nesse processo, um brevíssimo inventário de suas características.

RUPTURA COM A ARTE DOS SALÕES OFICIAIS

A partir do momento em que se organizaram para realizar exposições coletivas, os impressionistas deixaram de enviar quadros para os salões. Com essa atitude, eles expressavam
sua oposição à arte feita para agradar ao público.

ABANDONO DOS GRANDES TEMAS DA PINTURA DE HISTÓRIA

Os impressionistas não tinham interesse por temas gloriosos tirados da literatura, da história, da mitologia ou da Bíblia, que, aliás, ainda vigoravam no século XIX. A pintura que
contava histórias (bíblicas, mitológicas, literárias,
nacionais ou mundiais) era chamada de “pintura de história” ou “pintura histórica”.

Desde o século XVII, a academia francesa havia definido uma escala na qual se valorizava:

Fonte: Aleksandr Bryliaev / Shutterstock

Essa hierarquia se baseava na ideia de que a pintura tinha uma função didática a serviço da difusão de sentimentos nobres e patrióticos. Com o impressionismo, os temas do
cotidiano, as paisagens e as naturezas-mortas ganharam
destaque, pois o que lhes interessava eram as experiências sensíveis da visão.

ORIENTAÇÃO REALISTA

Por seu interesse na observação do natural, os impressionistas se identificavam com o realismo. Em vez de recorrerem à imaginação e à fantasia, seus autores pintavam aquilo que
viam em seu dia a dia.

Influenciada pelo movimento impressionista, a arte moderna foi marcada não mais por uma expressão do sublime ou pela perfeição da forma, e sim pela relação com o mundo. Afinal,
o que temos dele é o que vemos, ou seja, o que
percebemos efetivamente sobre ele.

Claro que isso foi visto e pensado de formas muito diversas, mas, nas escolas de arte, a percepção dessa ruptura é um fundamento de influência e diferenciação entre dois
momentos.

Fonte: Violetta Nahachevska / Shutterstock

ABANDONO DO DESENHO DE BASE

Em vez da prática tradicional de iniciar uma pintura pelo desenho dos contornos para depois passar ao modelado em claro-escuro, os impressionistas aplicavam diretamente as cores
sobre a tela. O motivo? Eles compreendiam que
as linhas de contorno são abstrações, já que não existem na natureza.

Apesar de constituir uma ruptura técnica, ela é fundamental na construção de um resultado. Em suas manifestações – ainda que divergentes – de arte, o romantismo e o neoclássico
não perderam o sentido desse processo academicista,
tendo em vista o domínio da técnica.

A perda dessa capacidade é o fundamento da negação inicial do movimento, assim como a caracterização de sua ruptura.

Fonte: dengali / Shutterstock

TRABALHO AO AR LIVRE, ESTUDO DAS SOMBRAS COLORIDAS E DAS CORES


COMPLEMENTARES

Ao pintar ao ar livre, os impressionistas aguçaram sua percepção visual e a observação das sombras coloridas. Quando um objeto iluminado projeta uma sombra, ela se colore com a
cor complementar à que a circunda.

Esse fato científico pode ser observado em um dia de sol na praia. As sombras das pessoas na areia se tornam violáceas ou azuis, duas cores complementares ao amarelo e ao
laranja.

 VOCÊ SABIA

A descoberta desse fenômeno se deve ao químico francês Michel-Eugène Chevreul (1786-1889), que, em 1839, publicou um livro em que expôs a lei do contraste simultâneo das
cores e sua aplicação nas artes.

As cores complementares se localizam em lados diametralmente opostos no círculo cromático (figura a seguir). Quando duas delas são vistas lado a lado, uma reforça a outra,
tornando-a, assim, mais intensa. Um verde ao lado de
um vermelho, por exemplo, parece mais vivo.

Estando a par dessas pesquisas, os impressionistas procuraram aplicar esses conhecimentos em suas obras .

Fonte: Albachiaraa / Shutterstock


 Círculo cromático

AS PINCELADAS APARENTES E FRAGMENTADAS

Os impressionistas romperam com a prática anterior de uma pintura lisa cujo trabalho do pincel fica imperceptível. Ao contrário, eles deixavam as pinceladas visíveis em seus
quadros.

Dessa forma, afirmavam o caráter manual de seu trabalho, evidenciando que se tratava de uma pintura – e não de uma fotografia.

A RELAÇÃO COM A FOTOGRAFIA

Devemos fazer agora uma observação sobre a relação da pintura impressionista com a fotografia, que é uma invenção do século XIX. Quando os fotógrafos começaram a oferecer
seus serviços para retratar os clientes em seus estúdios,
eles passaram a competir com os pintores.

Fonte: : Everett Collection / Shutterstock

Os impressionistas reagiram a isso, valorizando o que diferencia a pintura da fotografia, ou seja, o trabalho manual, em contraposição ao funcionamento mecânico do aparelho
fotográfico. Mas a relação entre pintura e fotografia
não foi apenas de competição: também houve colaboração entre ambas.

As pinturas impressionistas parecem captar momentos fugidios, o que nos faz pensar em instantâneos fotográficos. Listaremos agora alguns exemplos disso:

Fonte: Jaime Acioli / Divulgação


Fonte: Augusto Malta / Acervo IMS

 Paisagem com igreja da Penha (1915), por Arthur Timótheo da Costa e Copacabana em 1910, por Augusto Malta

Fonte: Donna Beeler / Shutterstock

Fonte: Wikipedia

 Minha família (a rosa), por Eliseu Visconti

CONVITE À ANÁLISE
A história da arte é feita da análise de obras de arte.

Não basta entendermos o contexto histórico em que se formou um movimento artístico ou a biografia dos artistas para darmos conta do significado das obras. Para isso, precisamos
dedicar nossa atenção a algumas das mais conhecidas
pinturas impressionistas e analisá-las em seus aspectos temáticos, estéticos e técnicos.

É o que faremos a seguir.

AS PINCELADAS VIBRANTES E FRAGMENTADAS E A SENSAÇÃO DE MOVIMENTO

Fonte: Auguste Renoir (1876) / Museu d’Orsay, Paris


 O baile no Moulin de la Galette (1876), por Auguste Renoir

Esta obra, uma das mais importantes e conhecidas de Renoir, é considerada uma obra-prima do período inicial do impressionismo. O artista a apresentou na exposição do grupo
realizada em 1877.

Em 1877, O baile no Moulin de la Galette recebeu muitas críticas negativas, pois, para o público da época, as formas pintadas pareciam estar se dissolvendo.

A falta de contornos precisos circundando as figuras dava à pintura a aparência de um desenho inacabado. Mas as dimensões do quadro indicavam se tratar de uma obra finalizada,
e não de um mero esboço (que, normalmente, era
feito em um suporte menor).

Quanto ao tema do quadro, Renoir registrou um baile popular que acontecia em frente a um moinho (moulin, em francês) de Montmartre. Tratava-se de um dos bairros mais
charmosos e boêmios de Paris, abrigando, no século
XIX, inúmeros eventos festivos.

 VOCÊ SABIA

O Moulin de la Galette que dava nome ao baile era um moinho onde se fabricava farinha de trigo, estando até hoje de pé. O próprio Renoir frequentava o local; por isso, sabemos que
alguns dos personagens retratados
na tela eram seus colegas.

Renoir, portanto, foi fiel a uma das diretrizes do impressionismo: pintar o real, o que seus olhos viam – e, neste caso particular, aquilo que ele mesmo vivia.

Fonte: Pierre-Auguste Renoir (1876) / Musée d’Orsay, Paris

É como se o pintor nos convidasse a sentir o que ele sentia ao ver essa multidão frenética reunida sob as árvores. Alguns conversavam alegremente em torno de uma mesa no canto
direito, enquanto muitos casais dançavam, ocupando
todo o espaço.

Fonte: Pierre-Auguste Renoir (1876) / Musée d’Orsay, Paris

Podemos sentir o ritmo da música e o movimento dos bailarinos justamente por conta da técnica que tanto incomodou os contemporâneos de Renoir.

Fonte: Pierre-Auguste Renoir (1876) / Musée d’Orsay, Paris

As manchas de cor se fundem, propiciando a sensação de que, a qualquer momento, as figuras vão sair dançando, pois elas parecem estar vivas e em movimento. Conforme o olhar
adentra o quadro, elas se tornam pequenas manchas
de cor; ainda assim, continuamos a perceber a alegria do encontro e da festa.

Fonte: Pierre-Auguste Renoir (1876) / Musée d’Orsay, Paris

Nas figuras mais próximas do primeiro plano, o efeito vibrante é realçado pelas manchas de luz rosas e azuis que salpicam o solo, as roupas e os chapéus dos personagens
elegantes. A técnica das pinceladas fragmentadas é
perfeita para o objetivo do pintor.

Neste quadro de Renoir, encontra-se um dos melhores exemplos do uso de pinceladas vibrantes e fragmentadas capazes de traduzir um movimento. Isso configura uma
característica do impressionismo.

O USO DOS CONTRASTES SIMULTÂNEOS DAS CORES

Fonte: Claude Monet (1894) / National Gallery of Art, Washington, EUA


 Catedral de Rouen, fachada oeste sob a luz do sol (1894), por Claude Monet

Uma das obras mais famosas de Claude Monet, este quadro faz parte de uma série de mais de 20 quadros em que ele pintou a fachada da catedral de Rouen, uma cidade próxima a
Paris.

 VOCÊ SABIA

Para realizar esta obra e os demais quadros da série, Monet alugou um quarto do qual via a igreja. Trabalhando simultaneamente em várias telas, ele passava de uma a outra
conforme os efeitos do sol se modificavam. Em
seguida, ele retornava às anteriores de acordo com as mudanças da luz.

Não foi por interesse espiritual que Monet escolheu a catedral como tema. Com seus relevos profundos, a fachada gótica lhe permitia observar os efeitos da atmosfera e da luz no
mundo visível.

Fonte: Claude Monet (1894) / National Gallery of Art, Washington, EUA

Fonte: Claude Monet (1894) / National Gallery of Art, Washington, EUA

O prédio imponente ocupa toda a superfície da tela em um close-up que nos aproxima da fachada. Três pequeninas manchas escuras no canto inferior esquerdo são o registro das
figuras humanas da obra. Seu tamanho
diminuto contrasta com a imensidão da igreja monumental.

Fonte: Claude Monet (1894) / National Gallery of Art, Washington, EUA

O céu azul indica o dia de sol que ilumina as pedras da catedral. Monet emprega pinceladas fragmentadas tal como vimos em Renoir, criando uma grande vibração.

Fonte: Claude Monet (1894) / National Gallery of Art, Washington, EUA

Quanto às cores, notamos um tom róseo e dourado a banhar toda a superfície. No contraste tanto entre azuis e laranjas quanto entre amarelos e lilases, nota-se o uso das cores
complementares. No círculo cromático, essas
cores ocupam partes opostas.

Quando usadas em proximidade, as cores complementares se reforçam entre si, intensificando sua saturação cromática. Essa influência recíproca foi muito bem utilizada por Monet
nesta obra-prima, que é exemplar na utilização
dos contrastes dessas cores.

A INFLUÊNCIA DAS ESTAMPAS JAPONESAS NA COMPOSIÇÃO


Fonte: Edgar Degas (1875-1876) / Museu d’Orsay, Paris


 O absinto (1875-1876), por Edgar Degas

Fonte: Hiroshige (1858) / Brookiln Museum


 Cotton-Goods Lane, Ondema-cho (1858), por Hiroshige. Parte da série Cem vistas de Edo

Podemos traçar um comparativo entre a obra de Degas e a gravura japonesa de Hiroshige.

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Edgar era diferente dos demais impressionistas – e isso é visível neste quadro. No lugar das cenas alegres de passeios ao ar livre, ele preferia retratar figuras em lugares fechados.
Por vezes, seus personagens podiam ser
sombrios, como ocorre no caso desta pintura.

Degas pintou uma cena que conhecia; para isso, usou uma temática realista da vida cotidiana. Nesse quesito, ele trabalhou como seus colegas impressionistas. O café retratado (La
Nouvelle Athènes) era um local de encontro
de artistas e intelectuais boêmios.

No quadro, embora estivessem sentados um ao lado do outro, os personagens, isolados e silenciosos, olham para o nada. Ambos estão deslocados na cena – e não centralizados.

Formando diagonais, os tampos das mesas ocupam metade do espaço da tela, reforçando, com isso, a sensação de vazio. Esta obra pode ser vista como uma denúncia contra o
absinto, bebida alcoólica muito nociva que seria proibida
na França pouco depois.

O enquadramento descentralizado foi um recurso estético intencionalmente buscado por Degas. Ele se inspirou em estampas japonesas que se tornaram muito populares entre os
franceses no século XIX.

Monet, por exemplo, era um colecionador dessas obras vindas do Japão. Na gravura de Hiroshige, A rua dos artigos de algodão, podemos ver um exemplo de enquadramento similar
ao usado por Degas.

As figuras dela também estão deslocadas; além disso, a diagonal predomina em sua composição. O absinto é um bom exemplo da influência das estampas japonesas na pintura
impressionista.

O PROCESSO DA PINTURA DEIXADO VISÍVEL NA OBRA FINALIZADA

Fonte: Berthe Morisot (1879) / Stockolm National Museum, Estocolmo, Suécia


 No Bois de Boulogne (1879), por Berthe Morisot

O caráter “inacabado” das pinturas de Berthe Morisot causou estranhamento no início de sua carreira. No entanto, não se tratava de obras inacabadas, e sim de uma estética
intencional: deixar visível o processo da pintura.

Pinceladas rápidas, como, por exemplo, as na obra No Bois de Boulogne, são marcas da artista. Ela deixava inclusive parte de suas telas sem pintura, mostrando o suporte em seu
estado bruto.


SAIBA MAIS

O Bosque da Bolonha (tradução do nome Bois de Boulogne) se trata de um grande parque parisiense situado em um bairro chique nos limites da cidade. Desde o século XIX, ele é
considerado um lugar de lazer tanto
para a elite quanto para os populares.

Neste quadro, Berthe Morisot pintou duas moças elegantes (que poderiam ser suas conhecidas) descansando à beira de um dos lagos do parque.

Sentada em uma cadeira, uma delas segura algumas flores que observa.


A segunda se inclina para pegar algo (que não sabemos bem ao certo o que seria). Podemos supor que sejam mais flores para serem juntadas ao buquê que a primeira segura.

Nota-se o domínio técnico da artista, que sabe perfeitamente indicar o volume dos corpos e a elegância das roupas com poucas pinceladas ágeis. Berthe Morisot participou de quase
todas as exposições dos impressionistas – a começar
pela primeira, em 1874, na qual foi a única artista mulher presente.

O quadro No Bois de Boulogne foi apresentado na exposição de 1880. Críticos da época descreveram suas pinturas como a essência do impressionismo por enfatizarem o transitório
e o momento fugaz.

 COMENTÁRIO

Vemos neste quadro sua maneira rápida de registrar um instante. As mulheres não estão posando para a pintora; em vez disso, elas são captadas em meio a movimentos
espontâneos e autênticos.

A ABSORÇÃO DO IMPRESSIONISMO POR PINTORES DO “MEIO-TERMO”

Fonte: Alfred Roll (1890) / Petit Palais, Paris


 Retrato de Jane Hading (1890), por Alfred Roll

Esta obra – que, aliás, não é impressionista – figura neste tema como um exemplo da influência que o impressionismo exerceu sobre diversos pintores da época. Muitos artistas,
embora tenham aproveitado algumas características
da pintura impressionista, não aderiram ao movimento.

Antes de analisarmos este quadro, lhe pergunto: por que este retrato pintado por Alfred Roll (1846-1919) não é uma pintura impressionista? Em que aspectos dele se nota
a influência do impressionismo sobre o pintor?

 RESPOSTA

Para responder a estas questões, basta observar a diferença que existe na forma como a figura e o fundo foram pintados. Existe uma fluidez no trabalho do pincel em todo o espaço
que circunda a mulher.

O tapete e as flores, assim como a manta que cobre a poltrona e o biombo à direita, são esboçados com manchas em cores claras, sem contornos precisos. Em contraste, o rosto e
os braços da mulher estão delineados com precisão.
Olhos, boca e nariz são desenhados detalhadamente.

Se este quadro fosse de um impressionista, seu tratamento seria igualmente rápido tanto na figura quanto no fundo. Por isso, dizemos que Alfred Roll foi um moderado, ou seja, um
pintor de meio-termo em relação ao impressionismo.

Os tons mais claros de seu quadro também foram usados por muitos outros pintores, mesmo aqueles que recebiam encomendas do governo para a decoração de prédios públicos,
como foi o caso de Roll.
 VOCÊ SABIA

Alfred Roll era um pintor de sucesso tanto no meio de colecionadores privados quanto nos poderes públicos. Em Retrato de Jane Hading, ele retratou uma atriz que fazia muito
sucesso entre os franceses. Ela era
famosa pela beleza – e Roll soube ressaltá-la.

Tendo recebido muitos elogios, este quadro é um exemplo da absorção de certas características do impressionismo por pintores que, no entanto, ainda conservavam a tradição do
desenho e do claro-escuro .

AS CARACTERÍSTICAS DO IMPRESSIONISMO
A professora Luana explica algumas características do impressionismo.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. OS IMPRESSIONISTAS ADMIRAVAM AS ESTAMPAS JAPONESAS. ESSA APROXIMAÇÃO, PORTANTO, MARCOU SUAS OBRAS.
COMENTAREMOS ALGUNS ASPECTOS DESSA RELAÇÃO A PARTIR DA OBSERVAÇÃO DAS IMAGENS A E B. LEIA COM ATENÇÃO E
ASSINALE A ÚNICA ALTERNATIVA FALSA.

A B

A) O conhecimento da arte japonesa estimulou os impressionistas a experimentarem novas possibilidades ao compor suas pinturas. Nesta obra de Degas (imagem A), é visível a
influência das estampas japonesas (imagem B), especialmente no corte abrupto da composição com a diagonal da bancada, sobre a qual vemos objetos de toalete em uma
perspectiva distorcida. Trata-se de um recurso semelhante ao que se observa em B.

B) A cena íntima da toalete feminina no pastel de Degas (A) dialoga com as cenas domésticas nas estampas japonesas (B). Nos dois casos, a simplicidade do tema se alia à
experimentação estética.

C) Cenas do cotidiano, como a da obra impressionista de Edgar Degas (A), não existiam na arte ocidental antes de a arte japonesa estar em voga na França no final do século XIX
(B).

D) Na organização espacial da imagem de Degas (A), a influência das estampas japonesas (B) é evidente. No uso das cores complementares azul e laranja, revela-se outra
influência: a da lei dos contrastes simultâneos das cores (formulada pelo químico francês Michel-Eugène Chevreul).

2. OBSERVE AS IMAGENS A E B E LEIA AS AFIRMAÇÕES A SEGUIR. SABENDO QUE AS DUAS PINTURAS FORAM REALIZADAS ENTRE
1879 E 1881, ESCOLHA A ÚNICA ALTERNATIVA INTEIRAMENTE VERDADEIRA.

A B

A) Os dois quadros (imagens A e B) são exemplares do impressionismo francês. Figuras femininas em meio à natureza foram um tema privilegiado pelos impressionistas. É o caso
destas obras: nelas, os artistas registraram prazerosos momentos da vida cotidiana.

B) Embora os dois quadros tratem de temas similares, apenas a imagem A mostra uma pintura impressionista. Para identificar o impressionismo, não basta verificar o tema de uma
obra. É muito importante observar a técnica empregada. Apenas em A notamos as pinceladas soltas e fragmentadas que trazem a vibração característica do impressionismo.

C) Nenhuma das duas pinturas é impressionista. A imagem A não é impressionista, pois não se trata de uma obra finalizada, e sim de um esboço pintado rapidamente que serviria de
base para a obra que seria completada no ateliê. Na imagem B, vemos uma pintura bem acabada na qual o artista seguiu as técnicas tradicionais aprendidas nas escolas de belas
artes; portanto, ela não é impressionista.

D) Apenas a imagem B mostra uma pintura impressionista. Sua observação cuidadosa dos efeitos da luz do sol e das sombras coloridas é uma das características desse movimento.
As pinceladas inquietas e ziguezagueantes de A são características do expressionismo – e não do impressionismo.

GABARITO

1. Os impressionistas admiravam as estampas japonesas. Essa aproximação, portanto, marcou suas obras. Comentaremos alguns aspectos dessa relação a partir da
observação das imagens A e B. Leia com atenção e assinale a única alternativa falsa.

A B

A alternativa "C " está correta.

Na verdade, as cenas do cotidiano já estavam presentes na arte europeia muito antes do contato dos europeus com as estampas japonesas. São numerosas as pinturas de gênero
na pintura holandesa do século XVII, por exemplo. Portanto, a novidade que os impressionistas perceberam nas estampas japonesas não foi a representação de cenas do cotidiano.
O que entusiasmou esses artistas foi a descoberta de novas formas de composição ousadas para os ocidentais habituados aos padrões renascentistas. Por outro lado, a
representação de cenas do dia a dia facilitou a identificação dos impressionistas com a arte japonesa.

2. Observe as imagens A e B e leia as afirmações a seguir. Sabendo que as duas pinturas foram realizadas entre 1879 e 1881, escolha a única alternativa inteiramente
verdadeira.

A B

A alternativa "B " está correta.

O pintor da imagem B, embora tenha aproveitado alguns aspectos do impressionismo, não aderiu inteiramente a ele. Na comparação deste quadro (B) de Albert Bartholomé (Na
estufa, de 1881) com a pintura de Berthe Morisot (Dia de Verão, de 1879), as diferenças saltam aos olhos. A figura feminina pintada por Bartholomé tem uma pose estudada,
enquanto as duas mulheres no quadro de Morisot têm atitudes espontâneas, como se a pintora as tivesse captado em um instante passageiro. Com suas pinceladas ágeis, Berthe
Morisot trata todos os elementos do quadro como resultados da vibração luminosa. Já em sua tela, Albert Bartholomé reproduz o aspecto tátil dos objetos, delimita os contornos da
figura e modela bem seus braços. Por tudo isso, podemos afirmar que apenas a imagem A reproduz uma pintura impressionista.

CONCLUSÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observamos neste tema a história do movimento e as principais características do impressionismo. Para isso, tivemos de compreender como os movimentos artísticos resultam das
trocas entre artistas, críticos e público em tempos
e locais determinados.

Desde o início do impressionismo, no século XIX, houve uma interrelação entre pintores de vários países, pois os primeiros impressionistas franceses admiravam as pinturas de
paisagens de ingleses e holandeses. Essa admiração
foi um estímulo à pintura ao ar livre e ao estudo dos efeitos luminosos.

Em seguida, observamos como pintores de vários países conheceram as obras dos impressionistas franceses e começaram a produzir pinturas marcadas pelas novidades do
movimento. As consequências dele se espraiaram, aliás, até
o século seguinte, com o advento da arte moderna.

Por fim, verificamos como o impressionismo teve um papel importante na criação de uma nova relação com as obras de arte, não mais vistas como representações miméticas da
realidade, e sim como expressões artísticas autônomas.

AVALIAÇÃO DO TEMA:

REFERÊNCIAS
ARGAN, G. C. Arte moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. cap. 2. p. 75-153.

CAVALCANTI, A. M. T. O impressionismo no Brasil. In: BRANDÃO, A.; GUZMÁN, F.; SCHENKE, J. História da arte: fronteiras. São Paulo: Unifesp, 2019. p. 120-133.

CAVALCANTI, A. M. T. 1884: dos velhos mestres à nova geração. In: MALTA, M.; CAVALCANTI, A. M.; OLIVEIRA, E. D.; COUTO, M. F. M. Histórias da arte em exposições. Rio de
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LEVY, C. R. M. O grupo Grimm. Rio de Janeiro: Edições Pinaktheke, 1980.

MATHIEU, M. Berthe Morisot en 15 questions. Saint-Just-la-Pendue: Hazan, 2019.

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PARIS CITY VISION. A história do cabaré Moulin Rouge. Consultado em meio eletrônico em: 20 ago. 2020.

PARREIRAS, A. História de um pintor contada por ele mesmo. Niterói: Niterói Livros, 1999.

PEREIRA, S. G. Arte brasileira no século XIX. Belo Horizonte: C/Arte, 2008.

POOL, P. Impressionism. New York: Thames and Hudson, 1994.

SCHAPIRO, M. Impressionismo: reflexões e percepções. São Paulo: Cosac & Naify, 2002.

EXPLORE+
Assista a esta série para saber mais sobre os impressionistas. Feita a partir de pesquisas em documentos, como cartas e entrevistas, ela traz informações bem fundamentadas e de
forma agradável:

The impressionists. Direção: Tim Dunn. Inglaterra: BBC, 2006.

Pesquise e leia os seguintes livros:

PARREIRAS, A. História de um pintor contada por ele mesmo. Niterói: Niterói Livros, 1999. Este autor se tornou uma referência do impressionismo francês.

PEDROSA. I. Da cor à cor inexistente. Rio de Janeiro: Léo Cristiano, 2002. Com ele, você vai se informar sobre a lei do contraste simultâneo das cores complementares.

SCHAPIRO, M. Impressionismo: reflexões e percepções. São Paulo: Cosac Naify, 2002. Esta obra vai lhe permitir saber mais sobre o movimento a partir de aspectos estéticos,
sociais, científicos, literários e
filosóficos.

Explore os sites dos grandes museus internacionais. Há neles informações detalhadas sobre as obras em destaque de suas coleções. Estes três permitem a visita virtual de suas
salas de exposição:

Museu d’Orsay;

The National Gallery;

The Metropolitan Museum of Art.

Consulte o site oficial do pintor Eliseu Visconti para estudar sua obra catalogada, além de um material precioso para estudiosos, como documentos, fotografias e trechos de críticas
sobre seu trabalho.

CONTEUDISTA
Ana Maria Tavares Cavalcanti

 CURRÍCULO LATTES

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