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FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS (ESUDA)

CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

KARCIANA MOURA DOS SANTOS

CASO BOATE KISS E AS NULIDADES PROCESSUAIS

Recife (PE)
2023
KARCIANA MOURA DOS SANTOS

CASO DA BOATE KISS E AS NULIDADES PROCESSUAIS

Projeto de Trabalho de Conclusão de


Curso (TCC) apresentado à professora
Maria Carmen Chaves da Faculdade
Ciências Humanas –Esuda - para
aprovação na disciplina Trabalho de
Conclusão de Curso

Recife (PE)
2023
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 03
1.1 Justificativa 03
1.2 Problema de Pesquisa 04
1.3 Objetivos 06
1.3.1 Objetivo Geral 06
1.3.2 Objetivo Específico 06
2 REFERENCIAL TEÓRICO 07
2.1 Nulidades apresentadas ao tribunal do júri no caso kiss 07
2.2 Atuação do juiz-presidente do Tribunal do Júri 09
3 METODOLOGIA 14
4 CRONOGRAMA 15
REFERÊNCIAS 16
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1 INTRODUÇÃO

1.1 Justificativa

A futura pesquisa pretende investigar se existe legitimidades nas decisões


judiciais no Tribunal do Júri da Boate Kiss e quanto a nulidade de uma garantia
constitucional e se ordenamento violam soluções em segurança jurídica dos direitos
fundamentais no Tribunal do Júri, arguição as normas constitucionais do Código de
Processo Penal, garantido a paridade de armas e um conselho de sentença fundante
e não contingencial.

E garantir que o réu tenha um julgamento justo em acordo as normas jurídicas


e as nulidades processuais, em Constituição Federal em seu Art. 5°, partindo da
premissa comprometida com a dignidade da pessoa humana e o Pacto São José da
Costa Rica como reconhecimento, se faz atribuir ao Tribunal do Júri da Boate Kiss se
o legislador atendeu as normas processuais (BRASIL, 1988).

A nulidade tem em seu caráter no Tribunal do Júri e a sua relevância em


respeitar as normas constitucionais, paridade de armas e o direito fundamental do réu,
no Caso da Boate Kiss e necessário que haja um julgamento imparcial respeitando as
regras em nossa constituição e o direito ao contraditório, a violação em respeito ao
Código de Processo Penal é previsto em lei e garanti que no caso de nulidade a
sentença retroage a data do nascimento e do ato viciado.

A Convenção de São José Costa Rica é uma garantia de que,


independentemente das normas processuais penais, se violadas, inclui o direito às
garantias judiciais e se tornou um dos pilares da proteção dos direitos fundamentais,
prevista no art. nosso território no Brasil, desde setembro de 1992. No dia 25, o
Decreto nº 678//1992 consagrou os direitos políticos, os direitos civis, a integridade
pessoal e a liberdade como tutela jurisdicional, sendo que ninguém pode privá-los
arbitrariamente. No caso da Boate Kiss houveram algumas violações jurídicas em
desarmonia em nosso instituto constitucional?
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1.2 Problema de Pesquisa

Para que as normas legais tenham caráter imperativo, é preciso uma


penalidade em caso descumprimentos das mesmas, pois ao contrário seria uma
simples recomendação. Nesse diapasão se apresentam as nulidades no processo
penal, as quais são espécies de sansões aplicadas ao ato processual defeituoso.

Dessa forma, uma vez observando um modelo típico ou mesmo um requisito


imprescindível para a prática de um ato, estará o mesmo acometido de ineficácia,
reconhecendo a sua nulidade absoluta ou relativa, porém enquanto tal nulidade não
for alegada, o ato é existente e produz efeitos no meio jurídico.

No rito do Tribunal do Júri várias fases podem estar investidas de nulidades,


seja na sentença de pronúncia, estando ela ausente ou incompleta é causa de
nulidade absoluta em ausência de intimação do acusado, por sua vez é causa de
nulidades relativa, dentre tantas outras causas das nulidades, as quais devem ser
alegadas no momento oportuno.

No caso da Boate Kiss, reforçou as garantidas, pela Constituição Federal e


Pacto São José da Costa Rica e o Processo Penal, sob a égide de uma reforma
processual. O voto do desembargador José Conrado Kurtz de Souza em sua
fundamentação em nosso ordenamento jurídico, sobre o sorteio dos jurados que em
10 dias de acordo com o código de processo penal foi realizado em 4 dias, violando
diretamente o Código de Processo Penal (CPP) art. 433, § 1º (BRASIL, 1988). O
sorteio será realizado entre o 15º (décimo quinto) e o 10º (décimo) dia útil antecedente
à instalação da reunião ao, realizar sorteio próximo impede que a defesa verifique se
tem algum jurado capaz ou não de compor o corpo de conselho de sentença, no caso
de impedimento ou ser parcial de acordo com o CPP em seu art. 448, apontou outra
nulidade processual de violação em reunião reservada entre presidente e jurados,
ocorrido quando a defesa realizava a sua sustentação da defesa, em acordo com não
permissão do ato constitui nulidade absoluta, incompatível com justo e devido
julgamento.

A violação da lei 11.689/2008, o acusado Mauro Hoffman foi pronunciado, em


materialidade do fato e indícios suficientes, nesse caso foi violado o princípio da
correlação entre a decisão e pronúncia e a sustentação da acusação, o senhor Mauro
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foi pronunciado por condutas comissivas (BRASIL, 2008), na réplica acusação inovou
a sua tese, relatando que a teoria da cegueira deliberada, e a acusação violou o
princípio da plenitude de defesa.

A evidência que o Ministério Público (MP), teve vantagem em verificar os


jurados com maior quantidade de tempo incluindo sigilos, ocorrência policial visita em
presídio no sistema federal, foi relatado que o MP, faz abordagem em amigos e visitas,
violando inclusive o devido acesso que é de competência dos agentes do estado. Os
demais desembargadores reconheceram a devida violação, ao princípio de paridade
de armas e plenitude de defesa.

De acordo com Carvalho (2013, p. 164):

Define postura disforme dos sujeitos processuais, estabelecendo


situação de crise através da ampliação da distância entre práticas
penais e a expectativa democrática da atividade jurisdicional. O reflexo
concreto é violação explícita ou inversão do sentido garantista de
interpretação e de aplicação das normas de direito de processo penal,
revigorando práticas autoritárias.

E a maquete que o MP realizou em programas exigindo qualidade de hardware,


cuja complexidade da (maquete virtual), afastando a defesa em tempo menor que
acusação, e utilizando o artigo 479 para fundamentar em seu prazo legal, gerando
efeito surpresa e violação de paridade de armas. E o ato que o magistrado (Juiz) na
condução do júri violando a premissa do contraditório e o desembargador Jayme
Weingartner Neto (2022) que reconheceu as cinco nulidades e fundamentando que
não temos dois CPP é obrigação constitucional e legal ao qual estamos plenamente
fundamentados (JUSBRASIL, 2019). Apesar que o relator voltou contra, não
reconheceu nenhumas de suas devidas nulidades arguidas.

O Pacto de São José da Costa Rica consagra direitos das garantias judiciais e
se tornou um dos pilares da proteção. No caso da Boate Kiss a ausência de nulidades
específicas é possível a garantia do contraditório e a violação dos direitos
fundamentais?
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1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo Geral

Examinar a legitimidade as nulidades processuais no Tribunal do Júri garantidas pelo


ordenamento jurídico no caso da Boate Kiss.

1.3.2 Objetivos Específicos

a) Analisar as nulidades e suas normas processuais no combate a insegurança


jurídica no tribunal do júri.

b) Investigar quais as nulidades são garantias do réu no tribunal do júri.

c) Levantar as normas e leis jurídicas do tribunal do júri de uma garantia processual


relevante.
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2 REFERENCIAL TEÓRICO

O caso na boate Kiss matou 242 pessoas e feriu pelo menos outras 680. Na
data do fato, 27 de janeiro de 2013, o incêndio começou na madrugada e teve início
com o acendimento de um artefato pirotécnico por integrantes da banda que se
apresentavam na boate. Foi a segunda pior tragédia do Brasil depois do Grande Circo
Norte-Americano de Niterói, no Rio de Janeiro, em 1961, que vitimou 503 pessoas.
Este fato é considerado o quinto pior desastre da história brasileira, o maior desastre
do estado do Rio Grande do Sul, o desastre mais mortal do Brasil nos últimos 50 anos
e o terceiro pior desastre de casa noturna do mundo.

Ameaçar a vida pelo Tribunal do Júri é um caso que merece mais atenção, pois
não se trata apenas da condenação do juiz, mas também dos jurados que estiveram
presentes. Em síntese, no presente trabalho, há claramente o pré-julgamento,
principalmente nos casos envolvendo júris, dada a enorme repercussão que tem
gerado (LOPES, 2022). Como resultado, algumas pessoas formam suas opiniões com
base na exposição na mídia, em vez de analisar os fatos específicos com base no que
aconteceu.

2.1 Nulidades apresentadas ao tribunal do júri no caso Kiss

No caso da Boate Kiss, uma das ineficácias apontadas pela defesa dos três réus
foi a falta de igualdade de armas no processo de seleção do júri. Defesa de um dos
réus havia alegado nulidade em empate ocorrido durante a solenidade de julgamento,
o que foi negado pelo desembargador presidente do júri, Orlando Fassineto, como
seguem os argumentos:

A Defesa do acusado ELISSANDRO informou não ter conseguido


registrar em ata a inconformidade defensiva quanto ao sorteio dos
jurados ocorrido dia 03 de novembro. Afirmou que, apesar de se tratar
de situação extraordinária, acarretou prejuízo à defesa, tornando-se
nulo. Ainda, revelou estar no aguardo da decisão acerca dos três
tópicos anteriormente requeridos (fls. 18863). Na data de ontem,
despachei a este respeito, resolvendo boa parte dos temas trazidos
pelo combativo defensor. A lista geral dos jurados para o ano de 2021,
publicada em outubro de 2020, trata-se de questão preclusa, que
ocorreu na exata forma que dispõe o Código de Processo Penal. Em
que pese haja decisão nos autos acerca de tais postulações, a fim de
evitar qualquer contratempo, certifique o cartório se os jurados
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impugnados pelo Ministério Público e aqueles que participaram de


júris em 2020 foram efetivamente excluídos da lista de jurados de 2021
e, caso positivo, em que momento a exclusão ocorreu. Nenhum jurado
que tenha servido no ano pretérito haverá, deveras, de atuar no
presente e a serventia judicial há de adotar as cautelas neste ponto.
Cumpre, contudo, uma consignação. O processo não está sendo
conduzido “fora dos parâmetros legais, com prejuízo para a defesa”,
no modo como, equivocadamente, assinalou o defensor do réu
Elissandro (FACCINI NETO, 2021).

Primeiramente, cabe recorrer a doutrina, acerca do entendimento do que é a


paridade de armas. A promotora Lúcia Helena Callegari (2021), representante do
ministério público, em sessão de julgamento ao tribunal do júri, teceu as seguintes
palavras, ao ser questionada a respeito da arguição de nulidade por uma das defesas.

Anualmente, quando nós temos a lista de jurados — até por isso que
estou me manifestando, porque sou titular nas varas do júri e diretora
da promotoria do júri —, o Ministério Público sempre apresenta
impugnações à lista de jurados, e verifica a situação se nós temos
jurados visitantes de apenados e se temos jurados com condenações
criminais, porque a lei fala em idoneidade, todos os jurados que aqui
então tem idoneidade, todos os jurados são verificados na questão da
idoneidade. Uma das formas de pesquisa diz respeito a gente olhar e
observar os sistemas que estão ao alcance do Ministério Público.
Então anualmente todos os jurados que vão compor a lista do ano
seguinte sempre são verificados para a observância desta idoneidade
no ano anterior, e são feitas as impugnações. No ano passado
inclusive foram excluídos diversos jurados porque tinham
condenações criminais, porque tinham processos criminais em curso,
e porque tinham visitas a apenados, ou porque já tinham sido presos,
e quando a lei fala em idoneidade nós temos que zelar enquanto
fiscais para que essa idoneidade não seja uma norma apenas escrita
na lei e sim que ela seja cumprida como de fato ela é cumprida, e essa
fiscalização é feita em todas as varas do júri da capital, de Porto
Alegre. Então com esta minha resposta eu digo que sim, todos os
jurados sempre são analisados anualmente (LIMA, 2021. online).

Os juristas Khalil Vieira Proença Aquim, Rodrigo Faucz Pereira e Silva e Denis
Sampaio (2021), sobre o tema específico, qual seja, o acesso antecipado do Ministério
Público ao sistema que disponibiliza informações dos jurados para análise e
impugnação final à lista anual de jurados, não concordo com isso Verifique a
legitimidade, como segue:

No entanto, para embasar e preparar suas recusas imotivadas (ou


peremptórias), também são relevantes os contatos e experiências
pretéritas dos jurados. Um jurado que se envolveu em acidente, ou
que foi vítima de crime, tem viés subjetivo potencialmente diferente
daquele que apenas ouviu casos assim pela televisão.
Nesse sentido, ainda que se possa arguir que o trabalho de pesquisa
e identificação do perfil de jurados seja de responsabilidade das
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partes, conferir acesso irrestrito ao órgão acusador a bancos de dados


sigilosos aos quais a defesa não poderá chegar de forma lícita é uma
forma de violação substancial à paridade de armas e ao efetivo
contraditório.
É dizer: o mais dedicado defensor, ainda que empenhe todos os
esforços possíveis, com acesso a plenos recursos, ainda teria
preparação aquém do agente ministerial que igualmente zelasse pela
busca, pelo fato de conseguir acesso a bancos de dados distintos
(AQUIM; FAUCZ; SAMPAIO, 2021. online).

Os juristas entendem que o acesso antecipado do parquet à lista anual do júri


custa à defesa uma perda em seu desempenho contra o órgão acusador e, portanto,
argumentam que tal acesso constitui um processo nulo (AQUIM; FAUCZ; SAMPAIO,
2021. online).

2.2 Atuação do juiz-presidente do Tribunal do Júri

O relator do caso reconheceu que a atuação do juiz-presidente do tribunal do


júri, não esteva de acordo “com o disposto na lei processual” (Des. MARTINES
LUCAS, AC 5123185-30.2020.8.21.0001/RS, 2022). O sorteio dos jurados é regulado
pelo Art. 433 e seus parágrafos, nos seguintes termos:

Art. 433. O sorteio, presidido pelo juiz, far-se-á a portas abertas,


cabendo-lhe retirar as cédulas até completar o número de 25 (vinte e
cinco) jurados, para a reunião periódica ou extraordinária. (Redação
dada pela Lei nº 11.689, de 2008). § 1o O sorteio será realizado entre
o 15o (décimo quinto) e o 10o (décimo) dia útil antecedente à
instalação da reunião.(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) (BRASIL,
1941).

O que aconteceu foi que dois empates dos juízes aconteceram fora dos prazos
estabelecidos pelo código. Conforme observou o relator, “Eis que os dois últimos
sorteios foram realizados fora do prazo estipulado” (Morador Martinez Lucas, AC
5123185-30.2020.8.21.0001/RS, 2022). Embora o magistrado tenha reconhecido a
discrepância entre os fatos e a lei, ele entendeu que a complexidade do caso permitia
tais ajustes legais. O advogado criminalista Felipe Maia Broeto interpretou o fato de o
Ministério Público ter tido acesso à lista do júri antecipadamente, contrariando a
posição relatada pelo Magistrado como segue:

Pense-se na seguinte hipótese: o Ministério Público passa cerca de


um ano investigando determinada pessoa; no decorrer das
investigações, conta com o auxílio de um delator/colaborador, que
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apresenta uma série de documentos e provas, de tamanho tal que


o conhecimento para manifestação defensiva posterior seja
impossível, mesmo em 20 (vinte) dias. Indaga-se: haverá, aqui, tão só
pelo elastério do prazo, concreta e efetiva paridade de armas entre o
Estado-Acusação e o Imputado? A resposta parece ser negativa
(BROETO, 2021).

O mesmo magistrado, após o breve relatório, apresentou um voto divergente


acerca do tema arguido, entendendo que os sorteios sucessivos e o alto volume de
jurados sorteados ferem os princípios da plenitude de defesa (conceito já apresentado
neste trabalho). Segue o voto:

Não há direito potestativo à cisão processual, que não é uma


ferramenta que faça parte do arsenal à disposição da plenitude de
defesa (a regra é a unicidade de julgamento, mais ainda na
complexidade deste caso e agregada consideração vitimológica).
Todavia, houve demasiada compressão do exercício das recusas, que
estão a serviço da garantia da imparcialidade do júri e, podem ser
cruciais na configuração de um Conselho de Sentença mais ou menos
empático às teses acusatórias ou defensivas. Poder influir na
formação do perfil subjetivo dos jurados (e ter tempo para ajustar a
estratégia jurídica e retórica) é fator relevante para a efetivação da
plenitude de defesa, pelo que as defesas não podem ser
surpreendidas – os prazos e regras formais visam a permitir, no ponto,
amplo e prévio escrutínio.
Concretamente, as defesas tiveram que lidar/preparar-se para um júri
composto, em vez dos 25 jurados, por um número de jurados
potencialmente doze (12) vezes superior ao determinado por lei [12,2
para ser exato] ou no mínimo seis vezes superior – e um número que
crescia progressivamente, em razão inversa ao tempo disponível para
a devida preparação: 150 a vinte dias úteis do júri; 238 a dez dias úteis
do júri; 305 a cinco dias úteis do júri (isso porque não há comprovação
de que as partes foram intimadas em tempo real das
isenções/dispensas). Para além da atipicidade imprimida ao feito, no
que concerne aos jurados, as defesas não tiveram a oportunidade
substancial de colaborar na preservação da garantia do juiz imparcial.
E, fundamentalmente, diante da progressiva e dinâmica formação
daquele concreto corpo de jurados – a nominata das listas era a única
informação disponível às partes, quando das respectivas “audiências
de sorteio”; as dispensas e as certidões dos oficiais de justiça foram
juntadas ao longo do mês de novembro, em autos apartados, as
últimas no dia 30/11/2021. Caso, na melhor hipótese, as partes
estivessem cientes em tempo real, dos 150 jurados, 67 foram
sorteados fora do prazo legal, é dizer, 44,6% dos jurados a serem
escrutinados, faltando quatro dias úteis para o júri.
Isso não se compagina com o exercício da plenitude de defesa. A
escala de tempo (exíguo) e do número de jurados (muito extenso)
acabou restringindo, às defesas, o pleno e estratégico exercício das
recusas, bem como de eventuais arguições de impedimentos,
suspeições e incompatibilidades, e até mesmo o ajuste mais perfeito
da abordagem em plenário. O quadro se agrava à luz da exigência de
paridade de armas (Porto Alegre, Tribunal de Justiça do Estado do Rio
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Grande do Sul, na Apelação Criminal n. 5123185-30.2020.8.21.0001,


Primeira Câmara Criminal, 26 de julho de 2022).

Ao final, em seu voto, o magistrado constatou que havia grande disparidade de


armas em respeito ao princípio da isonomia, pois o Ministério Público teve acesso a
um sistema de assessoria com ampla informação sobre as armas dos jurados.
Finalmente Des. José Conrado Kurtz de Sousa acompanhou o voto contrário ao
Relator por entender que houve nulidades processuais no sorteio, no acesso ao
sistema consultivo e no acesso antecipado à lista do júri.

O reconhecimento da violação do princípio da paridade de armas, por parte dos


magistrados gaúchos, corrobora com o entendimento dos juristas Khalil Vieira
Proença Aquim, Rodrigo Faucz Pereira e Silva e Denis Sampaio, que concluem:

a única maneira de resguardar o princípio do contraditório e a paridade


de armas no júri é propiciar que a defesa tenha acesso aos mesmo
dados que a acusação (e, lógico, que tais bancos de dados precisam
estar em conformidade com a legislação) (AQUIM; FAUCZ; SAMPAIO,
2021. online).

Com o segundo voto divergente ao relator, foi acolhida a arguição de nulidade


da sessão do Tribunal do Júri que condenou os réus do caso Kiss. Segue o texto que
proclamou a decisão contida no acórdão:

APELAÇÕES CRIMINAIS DEFENSIVAS. TRIBUNAL DO JÚRI.


INCÊNDIO DA BOATE KISS. PRELIMINARES ACOLHIDAS, POR
MAIORIA. NULIDADE DO JULGAMENTO PELO TRIBUNAL DO JÚRI
DECLARADA, POR MAIORIA.
– NULIDADE POSTERIOR À PRONÚNCIA. ART. 571, V, DO
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. REALIZAÇÃO DE TRÊS
SORTEIOS (UM PRINCIPAL E DOIS SUPLEMENTARES) DE
JURADOS PARA FORMAÇÃO DO TRIBUNAL DO JÚRI. NÚMERO
EXCESSIVO DE JURADOS – 305 (TREZENTOS E CINCO). NÃO
OBSERVÂNCIA DO PRAZO LEGAL PARA REALIZAÇÃO DO
SORTEIO. SUBSTITUIÇÃO PELO JUIZ PRESIDENTE DO
TRIBUNAL DO JÚRI, DE OFÍCIO, DA FÓRMULA EXPRESSA NO
ART. 433, § 1º, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL POR
PROCEDIMENTO OUTRO NÃO PREVISTO PELO LEGISLADOR.
VIOLAÇÃO DA PROVIDÊNCIA LEGAL QUE VISA A ASSEGURAR A
IMPARCIALIDADE OBJETIVA DO TRIBUNAL DO JÚRI EM FAVOR
DA IGUALDADE, PARIDADE DE ARMAS E PLENITUDE DE
DEFESA. OFENSA AO ARTIGO 5º, XXXVII DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. AUSÊNCIA DE PRECLUSÃO EM FACE DAS
SUCESSIVAS ARGUIÇÕES DE NULIDADE DEPOSITADAS
TEMPESTIVAMENTE PELA DEFESA DE ELISSANDRO SENDO
SEGUIDO PELAS DEFESAS DE MAURO E MARCELO. NULIDADE
DECLARADA, POR MAIORIA.
O legislador constituinte posicionou emblematicamente o Tribunal do
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Júri no capítulo dos Direitos e Garantias Individuais e Coletivas (Art.


5º, inciso XXXVII) da Constituição Federal, instituindo-o cláusula
pétrea, assegurando expressamente a plenitude de defesa, o sigilo
das votações e a soberania dos veredictos.
No Tribunal do Júri a forma, mais do que em qualquer outro rito de
natureza processual penal, tem marcada natureza constitutiva e
estrutural - forma dat esse rei –, considerando-se que o Conselho de
Sentença, diferentemente dos juízes togados, que, de regra, têm
jurisdição sempre e plena, é composto por julgadores leigos para o
ato, razão pela qual a forma constitui garantia da imparcialidade
objetiva do Jurado em favor da igualdade, da paridade de armas e da
plenitude de defesa, princípios insculpidos na Constituição Federal,
gerando, sua inobservância, nulidade absoluta.
O sorteio dos 25 (vinte e cinco) jurados que comporão o Tribunal do
Júri tem de ser obrigatoriamente realizado entre o 15º (décimo quinto)
e o 10º (décimo) dia útil antecedentes à instalação da reunião
periódica ou extraordinária, para que tanto a acusação quanto a
defesa possam proceder a uma investigação mais profunda dos
jurados, dentre os quais 07 (sete) comporão o Conselho de Sentença.
No caso em atenção a fórmula expressa no Art. 433, § 1º, do Código
de Processo Penal, que prevê o prazo de 10 (dez) a 15 (quinze) dias
úteis antes da sessão para o Ministério Público e a defesa
investigarem os 25 (vinte e cinco) cidadãos e cidadãs sorteados, foi
substituída, de ofício, pelo Juiz Presidente do Tribunal do Júri por
procedimento outro ao arrepio da lei. Defesas técnicas que tiveram,
respectivamente, 20 (vinte) dias úteis para investigar 150 (cento e
cinquenta) jurados, 10 (dez) dias úteis para investigar mais 88 (oitenta
e oito) jurados, e, ao fim, 05 (cinco) dias úteis para examinar mais 67
(sessenta e sete) jurados, aqui já sem obediência ao prazo legal
(somente metade do prazo legal), sendo que dos 25 (vinte e cinco)
jurados que compuseram o Tribunal do Júri, i. é, que tiveram seus
nomes colocados na urna, 13 (treze) deles foram oriundos do primeiro
sorteio (03/11/2021), 02 (dois) do segundo (17/11/2021) e 04 (quatro)
do último sorteio (24/11/2021), aqui flagrantemente fora do prazo legal.
O prazo exíguo e o elevadíssimo número de jurados (305) causou
prejuízo concreto às Defesas, impossibilitando-as de exercerem o
pleno exercício legal das recusas, bem como arguições de
impedimentos, suspeições e incompatibilidades, tendo a Defesa do
réu Elissandro se manifestado expressamente, por petições escritas e
tempestivas, contrariamente à realização dos sorteios na forma como
operados, fazendo-o em diversas oportunidades e muito antes da
realização do sorteio principal, o que afasta a preclusão, ainda que
não se tratasse de nulidade absoluta (Porto Alegre, Tribunal de Justiça
do Estado do Rio Grande do Sul, na Apelação Criminal n. 5123185-
.2020.8.21.0001, Primeira Câmara Criminal, 26 de julho de 2022).

Ainda que outras nulidades tenham sido reconhecidas nos acórdãos da


apelação criminal acima mencionados, elas não são aqui apresentadas pela inerente
complexidade do processo.

No entanto, a justiça deve ser estendida a todos aqueles que contribuíram para
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o trágico desfecho, pois houve outros atos e omissões graves que afetaram
diretamente o ocorrido. Compete à administração pública fiscalizar o desempenho das
empresas, cabendo ao município a fiscalização e o alvará da localização/ E atividade
dos estabelecimentos. Então a primeira falha encontrada estava aí, e apesar de todas
as irregularidades encontradas durante a fiscalização, a prefeitura emitiu o alvará de
funcionamento. Além disso, as licenças de proteção contra incêndio são emitidas pelo
Corpo de Bombeiros. Fica claro, portanto, que a negligência do município em relação
às infrações apuradas contribuiu para o ocorrido. Isso porque, se forem feitas as
verificações corretas, este local não funcionará.

O processo criminal termina com uma decisão final envolvendo a defesa, por
um lado, e a acusação, por outro. Portanto, de acordo com o ordenamento jurídico e
princípios norteadores do direito brasileiro, a relação entre os polos parece ocorrer de
forma equilibrada, observadas algumas formalidades previstas em lei. No entanto,
observou-se que essas formalidades nem sempre são respeitadas, levando à
ineficácia. A chamada nulidade absoluta surge quando as garantias constitucionais
individuais e/ou interesses públicos são violados (OLIVEIRA, 2016, p. 906-907). Ele
carrega essa definição porque entra em conflito com o devido processo legal, que é
essencial para o acesso justo à justiça. Assim, a referida nulidade parece afetar não
apenas os interesses das partes, mas os interesses da jurisdição como um todo.
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4 METODOLOGIA

O presente projeto visa utilizar a análise qualitativa de pesquisa e o método


hipotético dedutivo, definido por Karl Popper a partir de sua obra publicada em 1935:
“A lógica da investigação científica”. Segundo Popper (apud PRODANOV; FREITAS,
2013), o método hipotético – dedutivo consiste na existência de um problema,
passando pela formulação de hipóteses e por um processo indutivo, cujo objetivo é
testar ou falsear os fenômenos abrangidos na hipótese. Assim, esse método permite
utilizar-se de bases dedutíveis já existentes sobre o estudo, que possam colaborar ou
contrapor para a formulação do projeto.
A análise qualitativa de pesquisa é colocada por Prodanov e Freitas (2013)
como uma sequência de atividades, envolvendo a redução dos dados, sua
categorização, bem como sua interpretação (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 113).
Assim, o procedimento qualitativo contribuirá para o projeto de modo que se fará uma
análise do caso da Boate Kiss e as nulidades processuais.

Trata-se de uma revisão de literatura, através de pesquisa de natureza


qualitativa, de caráter exploratório e descritivo, utilizando-se de técnicas de pesquisa
bibliográfica e através de método técnico observacional com estudo de caso, tipo de
pesquisa: teórico. Usando o critério de inclusão: artigos completos, artigos que não
estão em duplicidade e resumos expandidos, publicadasentre 2016 a 2023, idioma de
publicação português Assim, apresenta-se levantamento bibliográfico e documental
acerca da temática, buscando-se contra por diferentes pontos de vista acerca de um
mesmo problema, com vistas a obter uma síntese qualificada dos resultados.
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4.CRONOGRAMA

MESES 2023

07/ julh 08/ ago 09/set 10/out 11/nov 12/dez

Levantamento de
Literatura
TX X X

Pesquisa de Campo/
Empírica/Teórica
X X X X

Digitação do texto X X

Revisão do Texto

Encontro com
orientador
X X X X X X

Entrega do Trabalho X
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REFERÊNCIAS

AQUIM, Khalil Vieira Proença; FAUCZ, Rodrigo Pereira e Silva; SAMPAIO, Denis.
'Caso Boate Kiss': idoneidade dos jurados e paridade de armas (Parte 1). Revista
Consultor Jurídico. São Paulo. 11 de dezembro de 2021. Disponível em: <https://
www.conjur.com.br/2021-dez-11/tribunal-juri-boate- kiss-idoneidade-jurados-
paridade-armas-parte#_ftn1>. Acesso em: 10 maio 2023.

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