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Vanessa Campos Santoro

O estranhamente infamiliar dos medos1


Vanessa Campos Santoro

Resumo
A autora compara a formação de sintomas na clínica psicanalítica da fobia com a verdadeira
irrupção do real vista em acontecimentos recentes, como no episódio da mina do Córrego do
Feijão em Brumadinho (MG). Lacan trata o Real pelo Simbólico, abordando o estranho familiar
[das Unheimliche] em cada um de nós. A capacidade de elaboração do estresse pós-traumático
pede não só a palavra que toca o corpo como letra de gozo, mas também a elucidação de pontos
da história de cada um que, de uma maneira estranhamente (in)familiar, se fixou em traumas
infantis. Esses pontos de real nos deixam agitados e aturdidos. E para eles faltam palavras.

Palavras-chave: Trauma, Formação de sintomas na fobia, Unheimliche, Retorno do recalcado,


Letra de gozo, Bordejamento do real pelo simbólico, Estresse pós-traumático.

A fobia é uma das manifestações sinto- No Seminário 4: a relação do objeto,


máticas mais frequentes na infância e Lacan ([1956-1957], 1995, p. 211) afir-
relaciona-se ao evitamento de um objeto ma:
susceptível de desencadear o medo. Reve-
la um modo intenso da perda do lugar que [...] convém separar corretamente a an-
o infantil sujeito ocupa naquele momento gústia da fobia. Se existem aí duas coisas
diante do Outro. que se sucedem, não é sem razão: uma
O não saber sobre seu corpo, seu gozo vem em socorro da outra, o objeto fóbico
e, principalmente, sobre a situação de vem preencher sua função sobre o fundo
desamparo diante do que o Outro quer de de angústia.
mim traz muita angústia, acompanhando
a irrupção do sexual. E Lacan ([1956-1957], 1995, p. 353)
Analisando os medos infantis, perce- continua:
bemos que eles surgem em situações como
o medo do escuro, o medo de ficar sozinho A angústia não é o medo de um objeto.
ou de se perder do outro primordial – a A angústia é o confronto do sujeito
mãe. Ou também na presença de objetos com a ausência de objeto, onde ele é
e coisas que cercam o familiar da criança, apanhado, onde se perde, e a que tudo
como medo de cachorro, de bicho de luz, é preferível, inclusive forjar, o mais es-
de galinha, de barata, podendo chegar a tranho e o menos objetal dos objetos,
um sintoma fóbico. o de uma fobia.
A fobia se manifesta num tempo de
estruturação do sujeito como resposta à Assim, o objeto fóbico se articula com
angústia de castração que emerge nesse a significação fálica, toma um valor signi-
momento da estrutura (fase fálica). Ela ficante. É a linguagem que o fornece. Às
pode aparecer ou não. O que é fundamen- vezes é o que está mais à mão, ou seja, o
tal nesse momento é a angústia. familiar, (in)familiar, o doméstico.

1. Trabalho apresentado no X Fórum Mineiro de Psicanálise. Divinópolis (MG), 12-13 jul. 2019.

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O estranhamente infamiliar dos medos

O infamiliar é o retorno de algo, prin- sim, como uma placa giratória [...] Ela
cipalmente de cunho sexual, que deveria gira mais do que comumente para as
ficar escondido e que volta a incomodar. duas grandes ordens de neurose, a his-
Da definição dos Irmãos Grimm, usa- teria e a neurose obsessiva, e também
da por Freud em O estranho ([1919] 1996), realiza a junção com a estrutura da
tiramos: heimliche é doméstico, familiar, perversão; [...] Ela é muito menos uma
caseiro, aconchegante, secreto, oculto, entidade clínica isolável do que uma
velado ao conhecimento de fora, relativo figura clinicamente ilustrada de ma-
à casa, ao lar. neira espetacular, sem dúvida, mas em
Unheimliche tem várias traduções: contextos infinitamente diversos (Lacan
estranhamento, sinistro (que ameaça), fu- [1968-1969] 2008, p. 298).
nesto (cheio de maus presságios), esquerdo
(algo que faz parte de nós, mas é visto O estresse pós-traumático
como um lado cego, reprimido) acidente O conceito de estresse pós-traumático
grave, catástrofe. é objeto de estudo tanto pela medicina
Tudo aquilo que era familiar à psi- quanto pela psicologia. Faz parte da DSM-
que foi reprimido e, ao retornar, é visto -IV (Diagnostic and Statistical Manual of
como estranhamente familiar. Freud dá Mental Disorders) e, pelo menos tempo-
o exemplo do trem, onde se assusta com rariamente, incapacita o indivíduo para
sua própria imagem no espelho da porta. exercer suas funções no trabalho (saúde
mental do trabalhador).
Assim como o retorno do totemismo na O recente episódio do rompimento da
infância origina fobias infantis e acentua barragem da mina Córrego do Feijão, da
o complexo paterno como um complexo mineradora Vale, em Brumadinho (MG),
de castração, o retorno do animismo na com quase trezentas mortes e destrui-
infância desenvolve a consciência moral, ção do Rio Paraopeba, em 25 de janeiro
a autocrítica e o sentido de auto-ob- de 2019, pôs em relevo a fragilidade e
servação. A gênese do Supereu parece a ineficácia de um sistema extrativista
depender nesse sentido, do cruzamento exercido amplamente nas Minas Gerais
entre o legado totemista e a superação e aterrorizou a todos pelas proporções do
do narcisismo animista (Dunker, 2019, acontecimento.
p. 210-211). Mais que o Schreck (susto), o tsunami
incontrolável de lama com resíduos tóxi-
A formação de sintomas fóbicos revela cos lavou parte de uma cidade, as depen-
uma enfermidade da metáfora paterna, dências da mineradora e o Rio Paraopeba,
isto é, a maneira pela qual o desejo da tornando-o impróprio à vida.
mãe não é, de forma alguma, portador do O que vimos foi uma verdadeira irrup-
valor simbólico do falo. O discurso da mãe ção do Real, ou seja, mortos, muitos deles
situa, apenas por sugestão, o lugar do pai esquartejados pela força de destruição do
como pai. Daí o sintoma fóbico ser uma rio de lama. Indizível. Faltam palavras. E
suplência da metáfora paterna. O modo quando elas vêm, também estão conta-
como o pai é falado pela mãe retira o peso minadas pela raiva, pela desorientação e
simbólico do pai na palavra da mãe. todo o imaginário fantasioso com o qual
No Seminário 16: de um Outro a outro, tentamos bordejar a pulsão de morte.
Lacan afirma: No resgate das vítimas e, trabalhando
incessantemente há quatro meses, esti-
A fobia não deve ser vista, de modo veram os bombeiros que recebem acom-
algum, como uma entidade clínica, mas panhamento médico e psicológico desde
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então. E muitos deles chegaram a nossos em que a pessoa foi confrontada com a
consultórios, na tentativa de pôr palavra morte ou grave ferimento em si, ou em
onde só havia destruição e morte. outras pessoas, com resposta de intenso
O trabalho de resgate de vítimas medo, impotência ou horror.
e de corpos foi intenso nos primeiros O evento traumático é revivido em
meses. No consultório, os bombeiros recordações aflitivas recorrentes e in-
atendidos relatavam minuciosamente trusivas, e em pesadelos. Um fenômeno
o vivido, repetindo as façanhas de sal- paradoxal é a reexposição compulsiva a
vamento e o horror das mortes. Corpos eventos potencialmente traumáticos.
despedaçados, casas, ponte, estrada, ci- A diferença principal entre o trata-
dade, tudo soterrado pelo mar de lama. mento psicanalítico e o cognitivo – com-
Tudo era falado exaustivamente. Eles portamental usado para o TEPT é o uso
estavam presos às cenas traumáticas e que se faz da linguagem. A proposta do
só falavam delas. segundo é que o estressado passe a falar
O drama dos familiares desapareci- imediatamente depois do ocorrido para
dos, a esperança de encontrar um parente ultrapassá-lo e se curar, restabelecendo
com vida, a luta para identificar corpos seu eu cognitivo.
e enterrar os mortos, tudo isso repetido Há novas pesquisas que apontam “post
inúmeras vezes por aqueles homens va- traumatic growth”.
lentes e acostumados com fogo, incêndio Na psicanálise, falar é muito impor-
e devastação. tante para conter o desamparo e o horror
Na escuta, além dos relatos, os psi- radical vivido no trauma. Mas é preciso
canalistas pinçaram pontos da história de tomar a fala pelos furos, e não pela clareza
cada sujeito. Relatos da infância, medos da comunicação. A psicanálise parte do
e outras situações traumáticas vividas pressuposto do impossível de dizer – o
começaram a aparecer e, de maneira Real. Falar do trauma é construir bordas
estranhamente (in)familiar, se fixar em em torno do impossível de dizer.
traumas infantis. O que é trauma para a psicanálise?
Esses pontos de Real retornavam O trauma é o encontro com o Real do
com força diante da catástrofe, muitos sexo e o Real da morte, ambas figuras do
deles como impressões, outros como impossível de representar no Simbólico.
traços. Todos indizíveis, trazendo muita O encontro com o Real da castração. O
angústia. À medida que se pôde pôr em trauma vem sempre a posteriori, quando,
palavras essa angústia tão antiga, houve numa repetição, já no Simbólico, a cena
uma melhora daqueles sujeitos. Passaram traumática é retomada e ressignificada,
a dormir, tranquilizavam uma agitação entrando na cadeia significante com seu
constante denominada por eles de “sempre peso de trauma, isto é, o que excede às
alerta”, diminuindo os sintomas corporais representações.
de cefaleia e dores estomacais. Para Freud, o traumático é não a cena,
Embora as buscas estejam no fim, tem mas a lembrança a posteriori da cena que
acontecido um fenômeno ainda por en- faz um efeito de gozo e da qual nos defen-
tender: muitos dos bombeiros se recusam demos fazendo sintoma.
a abandonar o local de trabalho e conti- O trauma se apresenta. O trauma
nuam a procurar na lama algum sinal de não se representa. O trauma é o que não
vida ou resgatar pedaços de corpos. pode ser ligado e integrado nos sistemas
Conforme o DSM-IV os transtornos mnêmicos. É o não representado ou o
do estresse pós-traumático (TEPT) se re- insuficientemente representado, que afeta
ferem à exposição a eventos traumáticos sempre o equilíbrio narcisista.
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Para Freud, o trauma é mobilizado ficando sempre no tempo presente, reatu-


pelo encontro com das Ding – a Coisa alizado compulsivamente.
externa ao corpo, que o leva a falar. Lacan trata das reminiscências como
Lacan retira daí outro conceito: o de letras, peças avulsas cheias de gozo, que
objeto a – resto inassimilável do encontro podem entrar no trabalho de rememora-
da carne com a linguagem. ção, abrindo novas vias de circulação para
O trauma é uma experiência de não o indizível, não tanto pelo que guardam
saber. O saber administra o gozo. Ao se de verdade, mas pelo gozo que escoam.
perder o saber, fica-se à mercê de uma Cada um responde aos novos desar-
experiência de gozo ameaçadora. Freud ranjos do real a partir de seu sinthome
abandona a teoria da sedução e investe muito mais do que aos acontecimentos
na fantasia. inesperados ou violentos.
E Lacan ([1967] 2003, p. 259), em Pensamos que o trauma reatualizado
Proposição de 9 de outubro de 1967, afirma no TEPT encontra dificuldades de ser sim-
que o fantasma é a janela para o Real. bolizado, mas é absorvido pelo fantasma
Fantasma fundamental é uma matriz do sujeito, fixando sua posição de gozo.
imaginária, na qual o sujeito se posiciona Temos, por um lado, a angústia diante
frente ao enigma do desejo do Outro e da intrusão do que se reproduz e, por ou-
dos gozos envolvidos, dando uma resposta tro, a fascinação pela cena traumática ini-
a esses enigmas, que vão coordenar sua cial, a fascinação pelo horror (facínora...).
construção da realidade e a formação de
seu mundo simbólico durante toda a vida. Conclusão
Notamos como a história de cada um Na definição de Unheimliche temos: sinis-
dos bombeiros influiu na elaboração do tro acidente grave, catástrofe. Aí pensa-
trauma. mos em trauma e no episódio de irrupção
Segundo Fernando del Guerra Prota, do Real, em Brumadinho, esse conto de
entender quão neurótico é um indivíduo terror dos tempos modernos.
tem relação ao quão pouco um indivíduo Outra definição de Unheimliche privi-
confia no seu fantasma como fonte de legia o estranhamento, o esquerdo, como
garantia para a constituição da realidade. algo que faz parte de nós, mas é recalcado,
No TEPT não há um movimento dia- podendo retornar via inconsciente nos
lético, uma significação de algo anterior. sintomas, como a fobia. No trauma, a an-
Há um transbordamento quantitativo, gústia é de morte e, na fobia, é angústia de
que fica além da realização simbólica do castração – dentro da cadeia significante
trauma. Simbólico/Imaginário. Para não desorgani-
Não há uma subjetivação da mesma zar o aparelho psíquico, fazemos sintoma.
situação, como ocorre nas lembranças Trauma está fora da cadeia significante,
encobridoras, quando uma cena infantil é invasão do Simbólico pelo Real.
retomada e vivida e não mais como apenas Depois do trauma não existe mais o
objeto de uma ação. sujeito não traumatizado, e ele tem que
É que no TEPT o indivíduo vive uma se posicionar no mundo a partir disso. Há
experiência intensa de ser colocado na uma posição de intensa fixação pulsional,
posição de objeto de gozo do Outro. de empuxo a gozar desses sujeitos e da
Então, além da insuficiência do sim- certeza da perversidade do Outro. Daí as
bólico para bordejar esse Real intrusivo, repetições que paralisam a vida do sujeito,
temos a própria realização fantasmática trazendo reações agudas ansiosas, crises de
radical, fixando um gozo mortífero, im- pânico e, no melhor dos casos, o estranha-
pedindo que o trauma se torne memória, mente infamiliar dos medos. j
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THE STRANGELY
(UN) FAMILIAR OF FEARS Referências
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Direção geral da tradução de Jayme Salomão.
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FREUD, S. O infamiliar (Das Unheimliche) se-


guido de O homem da Areia / E.T.A. Hoffmann
(1856-1930). Tradução de Ernani Chaves,
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LACAN, J. O seminário, livro 4: a relação de objeto


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Rio de Janeiro: Zahar, 1995. (Campo Freudiano
no Brasil).

LACAN, J. Proposição de 9 de outubro de 1967


sobre o psicanalista da escola. In: ______. Outros
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O estranhamente infamiliar dos medos

PROTA, F. G. Um olhar psicanalítico sobre o


transtorno de estresse pós-traumático. Disponível em:
<http://www.ebp.org.br/textos-online/um-olhar-
psicanalitico-sobre-o-transtorno-de-stress-pos-
traumatico>. Acesso em: 02 jun.2019.

Recebido em: 10/03/2020


Aprovado em: 03/04/2020

Sobre a autora

Vanessa Campos Santoro


Psicóloga.
Psicanalista.
Sócia do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais.

Endereço para correspondência


E-mail: vansantoro@uol.com.br

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