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1. Apresentação
Quanto à Região dos Lagos, a ocupação agressiva dos espaços econômicos e geográficos da
região, gerada a partir do desenvolvimento do turismo, que remonta às décadas de 60 e 70,
levou a conseqüências das mais danosas. Obviamente, esse afluxo tão significativo e tão
repentino de novos habitantes não foi precedido por qualquer espécie de planejamento e a
falta de infra-estrutura urbana, de saneamento básico, sobretudo, refletiu-se de modo claro na
degradação ambiental, que é o epicentro de muitos impasses. A Laguna de Araruama, ícone de
onde deriva a identidade da Região, é talvez um exemplo extremo, mas permite ilustrar esses
impasses: assoreada, poluída, já não desperta o interesse das classes média e alta que, num
passado recente, ocuparam suas margens de maneira tão irresponsável; a população que
restou ali, empobrecida, empregada principalmente no pequeno comércio, vê minguar o
mercado de trabalho para onde seus pais e avós se deslocaram, sem dispor de alternativas,
atualmente, para reverter esse processo de decadência; e as conseqüências sociais desse
deslocamento, desse empobrecimento, por seu turno, contribuem para que a revitalização do
turismo seja uma perspectiva ainda mais distante.
É, de fato, um exemplo extremo. Nem todos os municípios da região sofrem de maneira tão
aguda o impacto econômico e social desse quadro de degradação ambiental. Mas não há como
negar que, apesar de uma relativa imunidade, alguns municípios se encontram pressionados
pela decadência do entorno. E mesmo eles não se excluem a uma mesma formulação genérica
e paradoxal: por um lado, a população da Região dos Lagos foi como que vitimada pelo
turismo, uma vez que a expansão imobiliária levou à redução de espaços outrora ocupados por
outras atividades econômicas; por outro lado, porém, as alternativas mais viáveis para a
recuperação econômica da região encontram-se justamente na busca de medidas capazes de
dinamizar (ou mesmo reinventar, em alguns casos) seu potencial turístico.
Como parte do quadro de intervenção, em 2005, a Prefeitura Municipal de Cabo Frio e a UFRJ,
aproximadas pela realização, naquele ano, da primeira edição do Festival UFRJ-Mar em Cabo
Frio, deram início a uma agenda de discussões a respeito do estabelecimento de parcerias
entre ambas as instituições, tendo em vista: a elaboração e a implantação de projetos como a
criação de um novo colégio de pescadores, nos moldes do que o Núcleo Interdisciplinar UFRJ-
Mar coordenava no município de Macaé; a implantação de centros de formação e qualificação
profissional nas áreas da indústria náutica, da pesca e da aqüicultura; a criação de cursos de
qualificação e de atualização voltados para os professores da rede pública de ensino; e o
desenvolvimento de outras atividades pedagógicas voltadas para o turismo e a preservação do
meio ambiente.
Os primeiros frutos dessas discussões começaram a surgir no 2 o semestre letivo de 2007, com
programas voltados para a formação de professores. Todavia, a experiência que então já se
havia acumulado com o Colégio Municipal de Pescadores de Macaé forçava reconhecer alguns
limites que não poderia ser ultrapassado sem o enfrentamento de circunstâncias que se dava a
perceber como um entrave ao pleno desenvolvimento do modelo pedagógico que se tinha
como horizonte: a divisão da grade curricular, por exemplo, entre disciplinas do núcleo
comum, oferecidas pela Secretaria Municipal de Educação, e disciplinas específicas, oferecidas
pela UFRJ. Tal estrutura tinha por efeito conformar duas escolas sobrepostas que além de
interferir no processo de ensino-aprendizagem pela formulação de propostas de atividades e
definição de planos de conteúdos, comprometiam a integração entre os docentes de ambas as
partes. Além disso, diferentemente do que ocorreu no Colégio Municipal de Pescadores de
Macaé, que atuava apenas no segundo segmento do nível fundamental, tendo a cultura
marítima como eixo temático exclusivo, a parceria entre a UFRJ e a prefeitura de Cabo Frio
apontava avanços quanto ao campo de atuação. O aprofundamento da parceria construída
entre as instituições buscou expansão do foco de atuação para além do nível fundamental de
ensino e do terreno delimitado pela pesca artesanal profissional e a indústria náutica. Sendo
assim, formulou-se o projeto do Programa de Institutos Politécnicos da UFRJ, de inspiração
politécnica e tutorial, cuja primeira unidade foi inaugurada em Cabo Frio em 2008. Nessa
unidade, sem prejuízo do vínculo com a cultura marítima, buscou-se abranger os níveis da
educação básica, estendendo sua atuação também à orientação profissional em outras áreas
como a produção audiovisual e a química, cuja definição se verificou em função das indicações
das instituições de pesquisa locais a respeito dos investimentos considerados de maior valor
estratégico para o desenvolvimento regional. Os projetos de trabalho em desenvolvimento
abarcam as variadas demandas da região num esforço de fazer com que os alunos
compreendam os processos no qual estão inseridos, uma vez que apontam também para a
formulação de intervenção quando estiverem atuando na região. Portanto, as perspectivas são
de longa duração e requerem avaliação permanente.
Devido à necessidade de espaço apropriado para o desenvolvimento pleno das suas atividades,
a Prefeitura Municipal de Cabo Frio cedeu à UFRJ uma área com cerca de 6.000 m 2, vizinha ao
Parque Municipal Walter Bessa Teixeira – Dormitório das Garças, que, além de sediar a
unidade de Cabo Frio dos Institutos Politécnicos da UFRJ, sediará também outros cursos
oferecidos pelo NIDES na Região dos Lagos. O prédio se encontra em fase de construção dos
primeiros pavimentos que abrigarão os cursos de Ensino Fundamental e Técnico e o programa
de formação de professores.
Atualmente, o curso de audiovisual do Instituto Politécnico conta com 16/3 turmas que
abrigam entre 15 e 25 alunos tanto nos níveis de Ensino Fundamental e Ensino Técnico,
perfazendo um total de XXX. Atuantes na formulação de projetos pedagógicos e orientação
dos processos de ensino-aprendizagem, o IPUFRJ conta com aproximadamente 100
profissionais entre funcionários e professores com diferentes formações acadêmicas
distribuídos entre os campos de conhecimentos que estruturam a proposta pedagógica do
Instituto, a saber: Prática de Comunicação Social e Artes (PCSA), Relações Sociais (RS), Ciências
Ambientais (CA), Ciências da Natureza (CN) e Práticas Desportivas Aquáticas e Terrestres
(PDAT). Os projetos de trabalho, que possuem duração variada, com intuito de atender as
especificidades, articulam de forma integrada e equânime, os 5 campos de conhecimentos,
sejam eles tanto no nível do Ensino Fundamental como nos Cursos Técnicos de Audiovisual,
Cultura Marítima e Química.
O Curso de Audiovisual, passados 4 anos de seu funcionamento, pois teve início em março de
2008, prevê a formação da primeira turma em dezembro de 2011. O curso oferece ampla
formação com base nos pressupostos teóricos e metodológicos que fundamentam a pedagogia
do Instituto, primando pela formação integral de quadros profissionais com capacidade de
atuação crítica e formulação de propostas de intervenção na produção de imagem e som e que
problematize a produção contemporânea no campo do audiovisual. Portanto, o resultado do
trabalho desenvolvido pelo Instituto, está estritamente relacionado com o desenvolvimento
regional e numa perspectiva mais ampla contribui com as políticas de desenvolvimento do
país: são os quadros de profissionais técnicos que se formam como cidadão críticos sujeitos
dos processos de transformação e a produção de conhecimento.
Nessas perspectivas, o Programa de Institutos Politécnicos da UFRJ, Unidade Cabo Frio, através
de seus cursos de formação técnica projeta a exploração de vocações regionais e tradições
culturais locais como um terreno pedagógico de alcance às camadas populares objetivando a
promoção de alternativas econômicas que, ao mesmo tempo em que lhes dêem
sustentabilidade valorize suas tradições e respeite o meio ambiente. Tais alternativas intervêm
diretamente na promoção do bem estar da coletividade para que as riquezas produzidas na
região sejam distribuídas de forma mais equânime, sem prejuízos para as populações futuras
sejam elas oriundas da região ou de outras regiões do país. No âmbito propriamente dos
espaços de ensino-aprendizagem, busca-se tomar a instituição e sua ampla rede de atividades
como vetores de atração de crianças e jovens num ambiente escolar especialmente planejado
para valorizá-las, motivando-os a perseverar suas manifestações, costumes e “fazeres”
culturais. Além disso, busca-se introduzir outras linguagens no processo educativo que
estimule habilidades importantes como a melhora da fala, o discurso narrativo, a consciência
crítica, o trabalho coletivo que permitirão a construção de um pensamento capaz de selecionar
informações relevantes; de se apropriar dos avanços tecnológicos para o bem social; de
conhecer e preservar-se da influencia dos meios de comunicação e midiáticos como fontes de
poder; de analisar as desigualdades entre produtores e consumidores de informação; de tomar
decisões respeitando o seu caráter coletivo. Busca-se, sobretudo, propiciar uma aprendizagem
em que se entende a relação educativa como um processo de comunicação intra-subjetiva e
intersubjetiva.
Frente aos problemas contemporâneos que descortinam uma realidade em que,
simultaneamente, mostra os grandes avanços tecnológicos e as desigualdades, a pobreza, a
exclusão, o desencanto e as opressões sócias e econômicas alunos, pais e professores do
Instituto Politécnico de Cabo Frio buscam construir modelos alternativos de intervenção
educativa. Além disso, como posicionamento político do Instituto, busca-se envolver na
formulação de uma nova prática social que ajude o ser humano a inserir-se na sociedade de
maneira ativa e como elemento de transformação social.
7. Bibliografia