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Emoções e Disfarces

Ao contrário da imensa maioria dos animais, puramente instintivos, o ser humano é capaz de pensar sobre a sua
existência e manifestar suas emoções de forma coerente e adequada. Por isso, expressar sentimentos é estar em
contato com a própria essência e, consequentemente, vivo!
As emoções são classificadas como autênticas ou falsas (disfarces) de acordo com o grau de coerência que possuam
em relação ao estímulo recebido.
Assim, se alguém pisa no seu pé e você grita “ai”, a sua reação está absolutamente compatível com a ação sofrida.
Por outro lado, se durante uma discussão você dá um soco na mesa e leva um tapa no rosto, a parte oponente agiu de
forma incoerente e exagerada. Da mesma forma, se for xingado, xingue agora, porque deixar para agir depois é abrir
espaço para o disfarce.
Assim, as emoções autênticas, ao contrário dos disfarces, são aquelas que apresentam um perfil compatível com o
estímulo recebido, no exato momento em que ele acontece. A reação emocional de uma pessoa pode ser tanto física
quanto mental, porque a psique humana está interligada a todo o sistema corporal. Tudo que acontece no nível da
mente também afeta o corpo.
No contexto da Análise Transacional, estudamos as emoções autênticas como prazerosas e desprazerosas. Contudo,
existem basicamente cinco emoções autênticas:

– Medo: emoção desprazerosa, necessidade de proteção motivada por uma situação de perigo real para a integridade
física ou moral de uma pessoa. Os sinais mais comuns são taquicardia, sudorese, palidez e um ímpeto de fuga;

– Raiva: emoção desprazerosa, reação intempestiva motivada por um agente externo ou interno que se interpõe ou
impede a concretização de um desejo ou objetivo; como as outras emoções, está será autêntica quando corresponder
ao estímulo em intensidade, duração e proporcionalidade e que esteja relacionado com o tempo no aqui e agora.
Exemplo: Se você recebe um beliscão, devolva outro na mesma intensidade, com a mesma expressão, com o mesmo
tempo de duração e que o mal estar causado cesse também ao cessar o estímulo; isso guarda lugar para continuidade
do bem-estar na relação, não permitindo assim que você guarde nenhum saldo para cobrar depois.

– Tristeza: emoção desprazerosa, estado de profundo recolhimento motivado pela perda de algo ou alguém muito
estimado. Também se manifesta durante a recordação de situações difíceis do passado;

– Afeto: emoção prazerosa, uma das emoções mais ricas do ser humano. Está diretamente vinculado ao amor e à
capacidade humana de se entregar à promessa de vida que habita em todas as formas do universo;

– Alegria: emoção prazerosa, expansividade momentânea ou continuada, relacionada à simples conquista de um


objetivo imediato ou à satisfação dos desejos mais preciosos.
Algumas pessoas encontram-se tão presas à própria teia de disfarces, que ficam apavoradas quando se deparam com
um reação de extrema tristeza ou alegria. Na verdade, estes são os dois sentimentos humanos mais extremos e, por
isso mesmo, altamente transformadores. Quando alguém chora ou emite gargalhadas, o organismo empreende uma
série de reações bioquímicas, psicológicas e emocionais muito profundas e benéficas.
É muito difícil encontrarmos alguém que consiga vivenciar com absoluta fidelidade as cinco emoções autênticas.
Normalmente, em lugar de expressá-las, tendemos a suprimí-las em favor de emoções substitutas.
Pode-se dizer que existe um verdadeiro sistema de disfarces que engloba pensamentos, sentimentos e atitudes, criados
pelas pessoas e pelas próprias instituições sociais e culturais (família, escola, agremiações religiosas e políticas),
especialmente para manter sob um pretenso controle as mentes e os corações humanos. Esta é a razão pela qual, não
raro, ouvimos alguém dizer “Fulano tem um sorriso plástico” ou ainda “Sicrano me deu um abraço de deputado”.
Os sentimentos de disfarce, por serem substitutos, estão ligados a cada uma das emoções autênticas, com nome e
graus variados:
– Disfarces do medo: timidez, insegurança, confusão, culpa, ansiedade;
– Disfarces da Raiva: ciúme, ressentimento, vingatividade, sadismo, mágoa, triunfo maligno;
– Disfarces da Tristeza: solidão, angústia, depressão, desânimo;
– Disfarces do Afeto: “melosidade”, apego exagerado, obsessão, sentimento de posse;
– Disfarces da Alegria: “sorriso amarelo”, ironia, euforia súbita.
Você deve estar se perguntando: Por que em mim é mais frequente o desânimo e em outras pessoas a angústia?
Tudo depende dos modelos recebidos, sobretudo os parentais, os quais acabam funcionando como uma espécie de
moldura que nos acompanha a vida inteira. Assim como cada sistema familiar elege seus disfarces preferidos e às
vezes diferentes para sexos diferentes.
Extraído do Livro “Viver Vale a Pena do Dr. Gervásio Araújo”

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