Você está na página 1de 8

Artigo

Células Decoy: um Auxílio no


Diagnóstico da Infecção por Poliomavírus
Isabel Cristina Gurgel da Silva1, Liane Nanci Rotta2, José Antonio Tesser Poloni3
1 – Acadêmica do Curso de Biomedicina na Universidade Luterana do Brasil, Canoas, RS
2 – Professora do Curso de Biomedicina na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Porto Alegre, RS
3 – Farmacêutico-Bioquímico, responsável pelo setor de Uroanálise do Laboratório Central de Análises Clínicas
da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (ISCMPA)
Universidade Luterana do Brasil / ULBRA. Canoas, RS

Resumo Summary

Células decoy: um auxílio no diagnóstico da infecção Decoy cells: an aid in the diagnosis of polyomavirus
por poliomavírus infection
O poliomavírus BK tem sido associado à nefropatia pós-transplan- The BK polyomavirus has been associated with nephropathy
te renal. A nefropatia por poliomavírus tem apresentado prevalência after renal transplantation. The polyomavirus nephropathy has
elevada em receptores de transplante renal e pode levar à perda shown high prevalence in renal transplant recipients and may
do enxerto com grande morbi-mortalidade. Este trabalho objetiva lead to graft loss with high morbidity and mortality. This paper
realizar uma revisão bibliográfica sobre poliomavírus, em especial o aims to review literature on polyomaviruses, BK virus in particular,
vírus BK, sua associação à nefropatia e suas formas de diagnóstico its association with nephropathy and its forms of laboratory diag-
laboratorial. Atualmente, estão disponíveis para diagnóstico alguns nosis. Currently, there are few methods available for laboratory
métodos laboratoriais como histopatologia ou imunohistoquímica de diagnosis as histopathology or immunohistochemistry of kidney
biópsias renais, técnicas de biologia molecular, citologia urinária, biopsies, molecular biology techniques, urine cytology among
dentre outros. A detecção de células decoy, células tubulares renais others. The detection of decoy cells, renal tubular cells or urotelial
ou do urotélio liberadas na urina, com inclusões nucleares virais que cells released into urine, with nuclear viral inclusions that may
podem sinalizar uma possível nefropatia, é extremamente importante signal a possible kidney disease, is extremely important for early
para um diagnóstico precoce. O laboratório, nesse âmbito, é funda- diagnosis. The laboratory, in this context, it is essencial, and the
mental, e a detecção de células decoy torna-se de muito interesse na detection of decoy cells becomes of great interest in screening
triagem de transplantados com potencial risco de desenvolvimento potential transplant risk of developing the disease. Furthermore, it
da doença. Além disso, parece promissor ter a possibilidade de seems promising to be able to evaluate the polyomavirus infection
avaliação da infecção por poliomavírus através do EQU. by urinary sediment analysis.
Palavras-chave: Poliomavírus, vírus BK, nefropatia, células Keywords: Polyomavirus, BK virus, nephropathy, decoy cells
decoy

Introdução lhante, medindo 40 nm de diâmetro JCV, assim denominado por ter sido
e que possuem genoma circular de descoberto em paciente com estas

A
família Polyomaviridae é 5,1- kb (4), composto de DNA dupla iniciais em seus nomes (7), é um
constituída de 16 espécies fita (4,5). O SV40 (simian vacuolating importante causador de doença neu-
virais e oito espécies infec- virus) possui potencial patogênico rológica em pacientes infectados pelo
tam diferentes mamíferos (1). A fa- em macacos Rhesus e foi o primeiro vírus da imunodeficiência humana
mília inclui três membros: o JC Vírus vírus desta família a ser identificado (HIV), agente de leucoencefalopatia
(JCV), o Simian Virus 40 (SV40) e o BK como um contaminante das vacinas progressiva multifocal, uma desordem
Vírus (BKV) (2, 3). Tratam-se de vírus contra a poliomielite, sendo de pouco fatal do sistema nervoso central (4,
com estrutura molecular muito seme- significado em humanos (1, 4, 6). O 6). Diferentemente do BKV, nenhum

88 NewsLab - edição 118 - 2013


dos demais poliomavírus têm sido (BKN) é certamente a doença viral mais O curso típico da PVN é caracte-
associado de modo consistente com comum que afeta o parênquima do en- rizado por um período assintomático
nefropatia pós-transplante renal. xerto renal (8 a 20 vezes mais freqüente de virúria seguido, dentro de algumas
Os poliomavírus BK e JC foram que o citomegalovírus), podendo ser semanas, pelo desenvolvimento de
coincidentemente isolados em 1971 observada também em rins nativos de viremia no contexto da função renal
por dois grupos independentes: o BKV receptores de outros órgãos (1). estável (23). Nas células humanas
em urina de um paciente transplanta- susceptíveis, a expressão das prote-
do renal e o JCV do tecido cerebral de Vírus BK e nefropatia ínas do capsídeo viral é seguida pela
um paciente com linfoma de Hodking Classicamente, a infecção primária montagem do vírus no núcleo (1).
(8). O primeiro relato do isolamento por BKV acontece na infância, fato Quando o vírus BK latente é rea-
de BKV na urina de um receptor, cujas considerado muito comum, varian- tivado, ocorre uma infecção ascen-
iniciais do nome eram B e K, ocorreu do desde casos assintomáticos até dente via célula-célula (24-26). Sem
em 1971 (7, 9), mas apenas em 1995 sintomas sugestivos de um simples um controle imunológico apropriado,
foi descrito o primeiro caso de nefrite resfriado (6, 18, 19). A transmissão a infecção lítica progressiva segue
associada ao poliomavírus (10). ocorre primariamente por via oral ou (27), ou seja, cada acontecimento
respiratória, sendo também possível resulta eventualmente na lise da cé-
Epidemiologia adquirir o vírus através de transfusões lula hospedeira para a liberação do
A soroprevalência para o BKV e sanguíneas, transplantes ou mesmo produto infeccioso, caracterizando
para o JCV nos adultos é muito alta: por via transplacentária (20). Após o efeito citopático da replicação do
mais de 90% da população adulta é a infecção primária, em indivíduos BKV (1). Nesse momento, surgem
soropositiva para o BKV, enquanto que imunocompetentes, o vírus entra em as inclusões virais nucleares e peri-
50 a 80% dos adultos têm anticorpos um período de latência com tropismo nucleares nas células dos túbulos. A
para o JCV. Em indivíduos imuno- pelo trato urinário (células tubulares lise destas células infectadas resulta
competentes não causam patologia, renais, cápsula de Bowman e células em infiltração viral no lúmen dos tú-
porém, em indivíduos imunocompro- uroteliais) (5, 18, 19, 21). bulos e na urina, mas também para
metidos as poliomaviroses humanas A reativação tem sido observada o interstício e propagação de células
causam doença primária significante, em indivíduos com condições imunes vizinhas. A subsequente necrose das
permitindo a reativação de um esta- alteradas incluindo transplantados de células tubulares leva à desnudação
do subclínico persistente para uma órgãos sólidos, doenças autoimunes da membrana basal e a destruição da
infecção lítica, resultando em virúria como lúpus eritematoso sistêmico e parede dos capilares tubulares resulta
e viremia, potencialmente podendo pacientes com a síndrome da imu- em uma disseminação vascular do
conduzir à doença severa ou fatal (8). nodeficiência adquirida (SIDA) (8), vírus (28). A partir daí, a PVN pode
A prevalência de nefropatia as- mas o mais comum é a reativação se desenvolver dentro de meses e,
sociada ao BKV está em torno de em pacientes que receberam trans- consequentemente, levar à dete-
2-8% (11-15). Após o diagnóstico da plante de medula e em pacientes que rioração da função do enxerto (23).
nefropatia por poliomavírus (PVN), receberam transplante renal, onde Esta sequência de acontecimentos
cerca de 50% dos pacientes evoluem a infecção lítica do BKV resulta em não inclui hospedeiros imunocom-
para perda progressiva da função do cistite hemorrágica e em nefropatia petentes, onde a liberação do vírus
enxerto renal em dois anos (12, 14- por poliomavírus, respectivamente (5, e seus constituintes celulares ativa
16), com necessidade de retorno à 8). Indivíduos saudáveis podem ter uma reação inflamatória não espe-
terapia renal substitutiva (15). A ne- as células infectadas com o vírus es- cífica, seguida por respostas imunes
fropatia desenvolve-se, em geral, no poradicamente, por isso a reativação celulares e humorais específicas (1).
final do primeiro ano do transplante, assintomática do vírus BK também é A suspeita clínica de doença por
com média entre 10-16 meses (11, geralmente detectada nos receptores poliomavírus é estabelecida pela pre-
15, 17). Este período de risco deve de transplantes renais saudáveis. sença de deterioração da função renal
ser considerado no monitoramento Esses pacientes podem ou não de- com elevação dos níveis de creatinina
dos pacientes transplantados renais. senvolver a nefropatia causada pelo sem causa aparente, além de eventual
A nefropatia causada por vírus BK poliomavírus mais tarde (22). hematúria macroscópica e obstrução

NewsLab - edição 118 - 2013 89


do trato urinário (29). A elevação na pacientes com nefropatia por BKV nefropatia por BKV envolve o uso de
creatinina sérica e a diminuição da apresentavam sorologia positiva pré- drogas que reduzam a carga viral do
função renal, de uma forma geral, -transplante (11). BKV, inibindo a replicação do DNA do
podem ser devidas às complicações Um estudo afirmou que pacientes poliomavírus, como por exemplo: de-
cirúrgicas, urológicas, farmacológicas do sexo masculino com idade avan- rivados de ácido retinoico, inibidores
ou imunológicas, mas atualmente, çada apresentam maior incidência de da DNA girase, arabinoside citosine e
além de algumas causas usuais bem nefropatia por BKV (15), mas o que se o cidofovir (6). A utilização de imuno-
avaliadas de insuficiência renal aguda, tem relatado de forma mais frequente globulinas é outra possibilidade que
novos potenciais de causa tem emer- é que o aumento acentuado na inci- tem sido relatada como opção no
gido e a função das infecções virais é dência de PVN está claramente asso- tratamento de pacientes com BKN (1).
mais aparente (23). ciado à introdução de novas e mais
O poliomavírus BK tem também potentes drogas imunossupressoras, Diagnóstico laboratorial
um importante papel no desenvol- usadas com sucesso para a preven- Existem diversos métodos para
vimento de malignidade. Tumores ção e tratamento de rejeição aguda identificação de uma infecção por BKV,
renais e urogenitais são cada vez mais de transplante (8, 32). Isso indica seja ela latente ou ativa. Os diferen-
reconhecidos como complicações de uma relação entre o rompimento do tes testes podem ser aplicados em
nefropatia por poliomavírus BK (22). O sistema imune e a reativação do BKV. diversos materiais biológicos e cada
vírus BK codifica um antígeno T gran- Dentre os imunossupressores utiliza- um deles pode identificar estágios
de, também referido como LTag, para dos estão: micofenolato mofetil (MMF) diferentes de uma mesma infecção
induzir a divisão celular nas células e tracolimus (1, 23). Este último, um nos diversos sítios (7, 29). Além disso,
hospedeiras (1, 22, 30). O LTag só é potente inibidor da calcineurina, uti- por possuírem acurácia distinta, sua
expresso em abundância durante a lizado como profilaxia em tratamento informação, muitas vezes, dificulta a
fase inicial de replicação viral (30). O de episódios de rejeição aguda gra- interpretação clínica (7).
antígeno inativa as proteínas supres- ve, tem sido fortemente associado O padrão atual de diagnóstico da
soras tumorais p53 e pRb (proteína ao desenvolvimento de doença por BKN, apesar de depender de proce-
retinoblastoma), recrutando fatores poliomavírus, figurando no esquema dimento invasivo, inclui a análise de
para a replicação do DNA viral (1, 22). imunossupressor de até 70% dos ca- biópsias renais. Ela detecta mudanças
Quando o LTag inativa a proteína p53 e sos de pacientes com BKN (6). citopáticas como resultado de injúria
liga-se ao gene da proteína Rb, ocorre ou de lise das células epiteliais tubu-
hiperplasia celular progressiva e atipia Tratamento lares renais, e também a expressão
nuclear, que regride quando a função Atualmente não foram estabele- genética do vírus através de técnicas
da p53 é restaurada. No entanto, se cidas diretrizes para o tratamento de histopatológicas e imunohistoquími-
p53 permanecer inativa por um pe- BKN. Hoje em dia, o mais importante cas, respectivamente (8). Na histopa-
ríodo muito longo, essas mudanças passo parece ser a redução de tera- tologia, a detecção de inclusões virais
evoluem para tumores malignos ou pia de imunossupressão (23, 32-34). nas células epiteliais tubulares indica
persistem mesmo quando a atividade Alguns estudos defendem que recep- a presença de infecção viral ativa no
de p53 é restaurada (30). tores de transplante renal devem ser parênquima renal (29).
rastreados e os que apresentam risco Histologicamente, a replicação
Fatores predisponentes de desenvolver a BKN, definido por viral resulta no aumento do tama-
Os fatores de risco para desenvol- níveis elevados de viremia, devem nho da célula à custa de aumento do
vimento de infecção por BKV não são ter a sua imunossupressão reduzida volume nuclear onde o vírus está se
totalmente compreendidos. Enquanto preventivamente (35). multiplicando (7). Por isso a princi-
um estudo envolvendo crianças de- A substituição dos imunossupres- pal característica dessas células é a
monstrou maior risco de nefropatia sores de maior risco por sirolimus presença de núcleos ampliados, com
por BKV em receptores soronegati- também parece ser uma das alterna- inclusões basofílicas, que substituem
vos que receberam rins de doadores tivas, pois ele possui atividade anti- a cromatina nuclear. O interstício é
soropositivos (31), Hirsh e colabora- proliferativa, controlando a replicação geralmente infiltrado por leucócitos
dores demonstraram que 85% dos viral. O tratamento farmacológico da mononucleares, com tubulite ativa.

90 NewsLab - edição 118 - 2013


Todavia, essa apresentação sob a for- comum para JCV, BKV e SV40 (30, destacam-se os testes moleculares,
ma de nefrite túbulo-intersticial é se- 40). A coloração por imunoperoxidase que são cada vez mais aplicados para
melhante ao que caracteriza a rejeição permite detectar o LTag, a expressão diagnóstico e monitoramento do tra-
celular aguda (36). O diagnóstico ba- de antígeno nuclear de células em tamento de infecções virais devido à
seado somente na evidência anátomo- proliferação (PCNA) e os genes p53 e sua alta sensibilidade. Estes testes
-patológica pode ser difícil, uma vez pRb na biópsia renal (30). A coloração possibilitam o diagnóstico precoce
que ambos os achados característicos marrom indica sinais de que o núcleo da infecção, a avaliação da resposta
(células tubulares com inclusões virais da célula está infectado (23). Um fator a terapias antivirais e a monitoriza-
e infiltrado inflamatório intersticial) agravante da imunohistoquímica é ção de recidivas (7). Infelizmente os
podem ser falsamente interpretados que a pesquisa do antígeno viral não testes qualitativos baseados em DNA
como rejeição aguda (37), ou as célu- é sensível o suficiente para detectar são altamente susceptíveis a conta-
las com inclusões estarem infectadas infecção viral latente. Enfim, o estudo minações cruzadas (29) e acima disso
por outro vírus que não o BKV. histológico, seja anátomo-patológico não podem distinguir entre infecção
Os achados histológicos são clas- ou imunohistoquímica, deve sempre latente e reativação (45).
sificados em padrões A, B, B1, B2, B3 ser considerado juntamente com os Opondo-se a essa limitação, a re-
e C. O padrão A representa somente resultados de virúria e viremia, pois ação em cadeia da polimerase (PCR)
efeito citopático no parênquima re- o fragmento pode não ser represen- detecta o genoma viral e também
nal, semelhante ao normal. Não há tativo das áreas mais afetadas pela quantifica a liberação viral nas amos-
atrofia tubular, fibrose intersticial e infecção viral (7). tras de sangue, soro, plasma, urina
inflamação. O padrão B é constituído Com vistas à agregação na pesqui- ou biópsia renal (8, 7), permitindo
de combinação de efeito citopático sa laboratorial para chegar ao diag- diferenciar entre infecção latente e
e áreas focais/multifocais de atrofia nóstico, também é utilizada a avalia- reativação. As técnicas de PCR que
tubular/fibrose intersticial/inflama- ção da citologia urinária para detectar podem ser utilizadas neste processo
ção. Quando menos de 25% do corte a presença de células decoy, que são são a nested, a semi-nested-PCR e a
histológico apresenta atrofia tubular/ células epiteliais urinárias com corpos PCR em tempo real (46-49). A PCR é
fibrose intersticial/inflamação, o pa- de inclusão viral intranuclear (8). As baseada no seguinte: oligonucleotíde-
drão é considerado B1. O padrão B2 é células decoy são vistas em microscó- os complementares a determinadas
detectado quando essa porcentagem pio ótico quando a urina está corada regiões do DNA viral são usados para
está entre 26%-50%, e o padrão B3, pelo método de Papanicolaou (29), amplificar parte do genoma do polio-
acima de 50%. Finalmente o padrão ou em microscopia com contraste de mavírus. Existe também a possibilida-
C, estágio final da BKN, apresenta rara fase, com urina fresca (41). As células de de diagnosticar apenas infecções
alteração citopática em tecido renal decoy na urina podem indicar ativação em atividade quando se selecionam
difusamente lesado, com uma exten- de poliomavírus no trato urogenital, a mRNA de antígenos tardios do BKV
sa atrofia tubular/fibrose intersticial/ qual constitui um pré-requisito para a (VP1 e VP2), somente detectados em
inflamação envolvendo todo o tecido, doença viral parenquimatosa. Todos células infectadas com replicação viral
sem área residual livre de atrofia (7). os casos de BKN apresentam células (7). A determinação quantitativa de
Considerando a inespecificidade decoy na urina no momento do diag- BKV por técnicas de PCR é muito útil
dos achados histológicos, a detecção nóstico inicial e após a BKN ter sido no diagnóstico da infecção, preceden-
do antígeno ou do DNA do BKV no resolvida, as células decoy desapare- do a ocorrência de nefropatia associa-
parênquima renal, através da imu- cem do sedimento urinário (40). Mas da a esse vírus (3,20). Utilizando-se
nohistoquímica, é necessária para a é importante salientar que células um PCR quantitativo é possível esti-
definição do diagnóstico de BKN (38, epiteliais infectadas por vírus não são mar a carga viral de cada paciente,
39). A análise por imunohistoquímica exclusivas de infecção por poliomaví- identificando os que apresentam
pode ser realizada em secções de rus (42, 43). Também a identificação maior risco de BKN e monitorando a
tecido fixados em formalina e con- dessas células não permite distinguir resposta à terapia através do aumento
servados em parafina, usando anti- entre os membros JCV, BKV e SV40 da ou decréscimo da carga viral do BKV
corpos comercialmente disponíveis família dos poliomavírus (44). (7). Além disso, estudos indicam que
para detecção de antígenos T (LTag) Entre os métodos laboratoriais, a viremia costuma ser demonstrada

92 NewsLab - edição 118 - 2013


por PCR em 100% dos pacientes e do ducto coletor, especialmente) As células decoy, com corpos intra-
com diagnóstico de nefropatia por e do urotélio, e contêm partículas nucleares de inclusões virais, podem
BKV (11, 19, 20, 24). O problema é virais nucleares ou até mesmo todo ter diferentes fenótipos numerados
que ainda hoje, a PCR possui custo o capsídeo viral (1). A presença de de 1 a 4, dependendo do estado da
elevado para sua inserção em massa células decoy pode ser um importante replicação viral e maturação da célula,
como rotina diagnóstica na suspeita achado para indicar a reativação do bem como o seu estado de preserva-
de infecção por BKV. Mas a PCR e a poliomavírus. Usualmente as mesmas ção. As células decoy mais comuns,
citologia urinária são especialmente são identificadas por coloração de Pa- ou clássicas, são as de fenótipo 1, que
úteis para detectar os estágios iniciais panicolaou em urina fixada, tanto em apresentam um núcleo bem alargado,
de reativação e PVN, pois permitem esfregaços de amostra total quanto ocupado por uma inclusão basofílica
diagnóstico e intervenções rápidas, em amostras citocentrifugadas (13, rodeada por cromatina que a confere
com um consequente aumento da 41). Pela coloração de Papanicolaou, uma aparência vítrea ou gelatinosa. O
sobrevida do transplantado (8). muitas células decoy mostram um fenótipo 2 revela uma inclusão intra-
O teste sorológico foi a primeira núcleo aumentado, que é ocupado nuclear circundada por um halo claro,
ferramenta utilizada para avaliar a por uma inclusão viral basofílica (13, semelhantemente ao Citomegalovírus
prevalência do BKV na população 30, 41), rodeada pela cromatina, que (CMV). Células multinucleadas são as
humana (18). Mas hoje, devido à alta a confere uma aparência de campo de fenótipo 3. Quando apresentam
prevalência de sorologia positiva para vítreo ou gelatinosa. Algumas vezes núcleos vesiculares com cromatina
anticorpos IgG anti-BKV na população a inclusão tem um aspecto vesicular, agregada e nucléolos, são células
geral (superior a 80%), o uso de so- ou pode ser rodeada por um halo, e a decoy do fenótipo 4 (22).
rologia viral é de pouca utilidade na cromatina estar aderida a ele (13, 41). Uma atenção especial tem de ser
avaliação de risco de nefropatia por As células decoy são caracterizadas dada na distinção de células decoy e
BKV. Além disso, o estado de imunos- por grandes células atípicas, redondas células malignas (22, 30). Quando as
supressão profilática e/ou terapêutica ou alongadas, com uma razão núcleo/ células decoy derivam do uroepitélio,
compromete a identificação de IgM citoplasma elevada e de moderada a um núcleo muito aumentado e a for-
específica nos casos de primoinfecção abundante basofilia citoplasmática, ma irregular do corpo da célula podem
pós-transplante (29). podendo ser encontradas juntamen- mimetizar as mudanças observadas em
O isolamento do vírus em cultivo te com células inflamatórias. Podem células neoplásicas (13, 41). O fenótipos
celular in vitro não tem sido utilizado apresentar um halo condensado de 3 e 4 são especialmente propensos a se-
devido ao seu rendimento demasia- cromatina na periferia da membrana rem confundidos com células malignas
damente baixo, com perspectiva de celular (30). A mais típica mudança (22). As células decoy são encontradas
isolamento viral variando de 0 a 1% nuclear da maioria das células decoy isoladas e os núcleos são arredondados,
(7). A grande quantidade de resulta- mostra uma característica excêntrica em contraste com as células tumorais,
dos falso-negativos ocorre em função do citoplasma: uma forma de cometa que têm núcleos irregulares e podem
da neutralização viral por anticorpos ou gotícula (Figuras 1 e 2) (22). formar grupos com apinhamento ou
presentes na urina e porque algumas
formas variantes de regiões genô-
micas do BKV não são passíveis de
crescimento em cultivo celular empre-
gando os substratos tradicionais (18).

Células decoy
As células epiteliais renais e do
urotélio infectadas pelo BKV, que
após a ocorrência de apoptose celular
aparecem na urina, são chamadas
células decoy. Elas se originam de
células tubulares (do segmento distal Figuras 1 e 2: Células decoy indicadas por setas

NewsLab - edição 118 - 2013 93


sobreposição nuclear (22, 30). As transplantado. A prevalência de perda ano a Irmandade da Santa Casa de
células malignas possuem materiais do enxerto em pacientes com diagnós- Misericórdia de Porto Alegre (ISCMPA)
hipercromáticos escuros, grosseiros e tico de BKN varia de 45% a 70% (6). comprovou a possibilidade de identifi-
distribuídos aleatoriamente, com nuc- A análise de amostras de urina cação das células decoy no sedimento
léolo proeminente (22). parece ser o método de triagem mais urinário de amostras de pacientes que
Os efeitos citopáticos do vírus BK sensível e de melhor custo para infec- realizam exames no setor de Uroaná-
também podem ser difíceis de distin- ções por poliomavírus. Em pacientes lise do Laboratório Central de Análises
guir daqueles causados por outras in- transplantados renais, a aplicação da Clínicas, e isso foi feito através de mi-
fecções virais, como por exemplo, o ci- análise por imunohistoquímica para croscopia ótica convencional e com a
tomegalovírus (22). Células infectadas procurar genoma de poliomavírus deve utilização de uma ferramenta simples,
por CMV são geralmente menores, com ser feita somente após a detecção de como uma câmera digital comum (50).
inclusões basofílicas ou eosinofílicas células decoy na urina (30). Embora a Considerando o que foi discutido
rodeadas por um halo, mas além disso biópsia renal possua importância ine- acima, conclui-se que a análise do
contêm inclusões intracitoplasmáticas quívoca no diagnóstico da nefropatia sedimento urinário, importante ferra-
(7). Porém, na dúvida, técnicas auxi- por BKV, métodos não invasivos têm menta para o diagnóstico e tratamento
liares são necessárias para diferenciar sido buscados de modo crescente para de doenças renais e geniturinárias (51),
células decoy de fenótipo 2, de células este fim, no intuito de se obter um pode fornecer em poucos minutos uma
com inclusões de CMV (22). diagnóstico rápido, precoce e preciso pista importante sobre uma possível
desta condição e, desta forma, permitir reativação da infecção por poliomaví-
que intervenções terapêuticas possam rus na população de pacientes trans-
Discussão ser instituídas visando à manutenção plantados renais (50). A possibilidade
da função do enxerto. Neste contexto, de fornecer a informação da presença
A nefropatia por poliomavírus tem a sorologia para BKV é considerada um das células decoy em um exame sim-
se tornado um problema emergente método diagnóstico limitado, sendo ples, pouco oneroso financeiramente, e
na população de receptores de trans- pouco indicado em virtude da alta pre- com amostra de fácil obtenção faz com
plante renal. Com prevalência elevada valência de anticorpos contra o vírus que este novo parâmetro agregue um
(1) e sem tratamento específico (29), na população em geral (3). valor inestimável ao (E.Q.U.), um exa-
pode levar à perda precoce do enxerto A escolha dos testes diagnósticos me muito utilizado em todos os países
com grande morbidade e mortalidade, ainda deve contemplar a preocupa- para triagem de pacientes, mas, que é
fazendo com que o paciente retorne a ção com o risco e o custo-benefício muito subestimado quanto à relevância
programas de terapia de substituição com vistas à garantia da alta eficácia de seus resultados. Permite também
renal, o que eleva os custos do trata- diagnóstica e viabilidade econômica que se crie uma pesquisa específica
mento. Isto tem sido motivo de estudo em cada centro (6). Refletindo nessa para células decoy, se esta for a neces-
em centros transplantadores de todo ideia, Fogazzi mostrou em 2001 (41) sidade julgada pelo médico assistente.
o mundo (8). Por isso, métodos de a possibilidade das células decoy se- Devido à possibilidade de se conseguir
triagem para prevenir a doença têm rem identificadas por microscopia de um dado precoce sobre a infecção pelo
sido defendidos (35). contraste de fase sem necessidade de BKV, esta análise pode atuar como uma
A suspeita clínica e a possibilidade colorações. As imagens que o autor fonte de informação útil para auxiliar
de se realizar o diagnóstico definitivo e publicou haviam sido visualizadas na na prevenção do desenvolvimento da
precoce de uma infecção por polioma- urina de um paciente. Esse achado PVN, e em pacientes transplantados,
vírus é fundamental para definir a sua foi posteriormente confirmado por atuar precocemente na prevenção da
terapêutica e prognóstico. Pacientes biópsia renal e PCR. Na microscopia rejeição ao enxerto. Mas é necessário
diagnosticados em estágio precoce da por contraste de fase, foi visto célu- salientar a importância do conheci-
infecção e adequadamente maneja- las decoy que mostraram as mesmas mento das características morfológicas
dos resultam em boa recuperação da anomalias descritas nas amostras destas células e o desenvolvimento de
função do enxerto, porém, pacientes coradas (41). Com base nesse acha- habilidade visual do analista, que pode
diagnosticados tardiamente tem possi- do, pela primeira vez no Brasil e de ser adquirida através de treinamentos.
bilidade aumentada de perda do órgão maneira inédita na literatura, neste Em suma, o diagnóstico precoce da

94 NewsLab - edição 118 - 2013


nefropatia associada ao poliomavirus é A presença de células decoy não de outras técnicas auxiliares e confirma-
extremamente importante, visto que constitui um marcador específico de tórias. Quanto mais cedo o diagnóstico
possibilita um tratamento antes da BKN, já que o vírus pode estar presen- for estabelecido, maior a possibilidade
nefropatia se estabelecer. As células te no trato urinário sem causar dano de reversão do quadro de infecção,
decoy desempenham um papel impor- parenquimatoso, porém, possui valor trazendo benefícios tanto para o médico
tante nessa conclusão, pois podem ser preditivo negativo de 100% para o quanto para o paciente.
consideradas também como um auxílio dano renal irreversível e, uma vez es-
no diagnóstico da infecção, visto que o tabelecida, dificilmente a BKN poderá
local inicial da reativação viral é o tra- ser revertida com sucesso (29). A de- Correspondências para:
to urinário e a primeira manifestação tecção no sedimento de células decoy, Liane Nanci Rotta
clínica é a excreção assintomática do juntamente com o histórico clínico do lnrotta@ufcspa.edu.br
vírus na urina (29). paciente, pode direcionar a realização

Referências Bibliográficas
1. Ranzi AD. Infecção por poliomavírus em pacientes submetidos ao transplante renal: a contribuição da citologia no diagnóstico [dis-
sertação]. Porto Alegre: Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre; 2012.
2. Major EO, Ryschkewitsch C,Valsamakis A, Hou J. Human polyomaviruses. In: Murray PR, Baron EJ, Jorgensen JH, Landry ML, Pfaller MA,
editors. Manual of Clinical Microbiology, 9th ed.Washington DC: ASM Press. p. 1612-21; 2007.
3. Hariharan S. BK virus nephritis after renal transplantation. Kidney Internat. 69:655-62; 2006.
4. Pasqualoto AC, De Mattos AJ, Rocha MM. Progressive multifocal leukoencephalopathy confirmed by PCR for JC virus in L. Case report.
Arq Neuropsiquiatr. 2004;62:550-4.
5. Padova CD. Letters: stopping a medical research project for financial reasons. Nephrol Dial Transplant. 19: 1015-23; 2004.
6. Montagner JM, Michelon TF, Schroeder RB, Fontanelle BT, De Oliveira ATD, Silveira JG. Poliomavírus – um patógeno emergente para
receptores de transplantes. Einstein. 5(2): 184-9; 2007.
7. Montagner JM. Infecção por BKV na disfunção tardia do enxerto renal [dissertação]. Porto Alegre: Universidade Federal de Ciências
da Saúde Porto Alegre; 2010.
8. Jiang M, Abend JR, Johnson SF, Imperiale MJ.The role of polyomaviruses in human disease.Virology. 384:266-73; 2009.
9. Gardner SD, Field AM, Coleman DV, Hulme B. New human papovavirus (B.K.) isolated from urine after renal transplantation. Lancet.
19:1253-7; 1971.
10. Purighalla R, Shapiro R, McCauley J, Randhawa P. BK virus infection in a kidney allograft diagnosed by needle biopsy. Am J Kidney Dis.
26: 671-3; 1995.
11. Hirsch HH, Knowles W, Dickenmann M, Passweg J, Klimkait T, Mihatschi MJ et al. Prospective study of polyomavirus type BK replication
and nephropathy in renal-transplant recipients. N Eng J Med. 347:488-96; 2002.
12. Nickeleit V, Hirsch HH, Binet IF, Prince O, Dalquen P,Thiel G et al. Polyomavirus infection of renal allograft recipients: from latent infec-
tion from manifest disease. J Am soc Nephrol. 10(5):1080-9; 1999.
13. Drachemberg CB, Beskow CO, Cangro CB, Bourquin PM, Simsir A, Fink J et al. Human polyomavirus in renal allograft biopsies: morpho-
logical findings and correlation with urine cytology. Hum Pathol. 30:970-7; 1999.
14. Hirsch HH, Brennan DC, Drachemberg CB, Ginevri F, Gordon J, Limaye AP et al. Polyomavirus-associated nephropathy in renal trans-
plantation: interdisciplinary analyses and recommendations.Transplantation. 79(10):1270-86; 2005.
15. Ramos E, Drachemberg CB, Papadimitriou JC, Hamze O, Fink JC, Klassen DK et al. Clinical course of polyomavirus nephropathy in 67
renal transplant patients. J Am Soc Nephrol. 13:2145-51; 2002.
16. Drachenberg CB, Papadimitriou JC, Hirsch HH,Wali R, Crowder C, Nogueira J et al. Histological patterns of polyomavirus nephropathy:
correlation with graft outcome and viral load. Am J transplant. 4:2082-92; 2004.
17. Vasudev B, Hariharan S, Hussian SA, Zhu YR, Bresnahan BA, Cohen EP. BK virus nephritis: risk factors, timing and outcome in renal
transplant recipients. Kidney Int. 68:1834-9; 2005.
18. Randhawa P,Vats A, Shapiro,Weck k, Scantlebury V. BK virus: discovery, epidemiology and biology. Graft. 5:s19-27; 2002.
19. Xiaoli LP, Doucette K, LeBlanc, Cockfield SM, Preiksaitis JK. Monitoring of polyomavirus BK virus viruria and viremia in renal allograft
recipients by use of a quantitative real-time PCR assay: one year prospective study. J Clin Microbiol. 45: 3568-73; 2007.
20. Hirsh HH, Steijer J. Polyomavirus BK. Lancet Infect Dis. 2003;3(10):611-23.
21. Agha I, Brennan DC. BK virus and current imunossupressive therapy. Graft. 5:s65-72. 2002.

96 NewsLab - edição 118 - 2013


22. Placed IG, Ruvira LV. Decoy cells and malignant cells coexisting in the urine from a transplant recipient with BK virus nephropathy and
bladder adenocarcinoma. Diagnostic Cytopathology. 39:933-7; 2010.
23. Comai G, La Manna G, Liviano G, D’Arcangelo GL, Centofanti F,Valentini C et al. A very early and acute renal impairment due to poly-
omavirus allograft nephropathy.Transpl Infect Dis. 12:521-5. 2010.
24. Nickeleit V, Hirsch HH, Zeiler M, Gudat F, Prince O,Thiel G et al. BK-virus nephropathy in renal transplants-tubular necrosis, MHC-class
II expression and rejection in a puzzling game. Nephrol Dial Transplant. 15(3):324-32; 2000.
25. Drachenberg CB, Papadimitriou JC, Wali R, Cubitt CL, Ramos E. BK polyomavirus allograft nephropathy: ultrastructural features from
viral cell entry to lysis. Am J Transplant. 3:1383-92; 2003.
26. Meehan SM, Kraus MD, Kadambi PV, Chang A. Nephron segment localization of polyomavirus large T antigen in renal allografts. Hum
Pathol. 37:1400-6; 2006.
27. Low J, Humes HD, Szczypka M, Imperiale M. BKV and SV40 infection of human kidney tubular epithelial cells in vitro.Virology. 323:182-8; 2004.
28. Bohl DL, Brennan DC. BK virus nephropathy and kidney transplantation. Clin J Am Soc Nephrol. 2:36-46; 2007.
29. Schiavo TD. Decoy cells, virúria e viremia por BK vírus em doadores e receptores no pré-transplante renal intervivos [dissertação]. Porto
Alegre: Universidade Federal de Ciências da Saúde Porto Alegre; 2010.
30. Pillai KR, Jayasree K, Pisharody R, Abraham EK. Decoy cells in the urine cytology of a renal transplant recipient: an immunohistochemical
study. Indian Journal of Pathology & Microbiology. 53: 347-50; 2010.
31. Smith JM, Mcdonald RA, Finn Ls, Healey PJ, Davis CL, Limaye AP. Polyomavirus nephropathy in pediatric kidney transplant recipients.
Am J Transplant. 4: 2109-17; 2004.
32. Drachenberg CB, Hirsch HH, Ramos, Papadimitriou JC. Polyomavirus disease in renal transplantation. Review of pathological findings
and diagnostic methods. Human Pathology. 36:1245-55; 2005.
33. Beimler J, Sommerer C, Zeier M.The influence of immunosuppression on the development of BK virus nephropathy – does it matter?
Nephrol Dial Transplant. 22: 66-71; 2007.
34. Schaub S, Hirsch HH, Dickenmann M, Steiger J, Mihatsch J, Hopfer H et al. Reducing Immunosuppression preserves allograft function
in presumptive and definitive polyomavirus-associated nephropathy. American Journal of Transplantation. 10:2615-23; 2010.
35. Smith F, Panek R, Kiberd A. Screening to prevent polyomavirus nephropathy in kidney transplantation: a cost analysis. American Journal
Transplantation. 9 2177-9; 2009.
36. Cimbaluk D, Pitelka L, Kluskens L, Gattuso P. Update on human polyomavirus BK nephropathy. Diagn Cytopathol. 31(10):773-9; 2009.
37. Vera-Sempere FJ, Rubio L, Moreno-Baylach MJ, Garcia A, Prieto M, Camanãs A et al. Polymerase chain reaction detection of BK virus
and monitoring of BK nephropathy in renal transplant recipients at the University Hospital La Fe.Transplant Proc. 2005; 37:3770-3.
38. Fishaman JA. BK virus nephropathy – polyomavirus adding insult to injury. N Engl J Med. 347:527-30; 2002.
39. Splendiani G, Cipriane S, Condo S, Paba P, Ciotti M, Favallil C et al. Polyomavirus renal dysfunction in a transplanted population.Trans-
plant Proc. 2004;36:713-5.
40. Nickeleit V, Steiger J, Mihatsch MJ. BK virus infection after kidney transplantation. Graft. 46:S46-S57; 2002.
41. Fogazzi GB, Cantú M, Saglimbeni L.“Decoy cells” in the urine due to polyomavirus BK infection: easily seen by phase-contrast microscopy.
Nephrol Dial Transplant. 16:1496-8; 2001.
42. 42. Ahsan N, Shah KV. Polyomaviruses: an overview. Graft. 5:9-18; 2002.
43. 43. Gai M, Piccoli GB, Motta D, Giraud R, Gabrielli D, Messina M et al. Detecting “decoy cells” by phase-contrast microscopy. Nephrol
Dial Transplant. 19:1015-23; 2004.
44. 44. Kwak EJ,Vilchez RA, Randhawa P, Shapiro R, Butel JS, Kusne S. Pathogenesis and management of polyomavirus infection in transplant
recipients. Clin Infect Dis. 35:1081-7; 2002.
45. 45. Ding R, Medeiros M, Dadhania D, Muthukumar T, Kracker D, Kong JM et al. Noninvasive diagnosis of BK virus nephritis by measure-
ment of messenger RNA for BK virus VP1 in urine.Transplantation. 74:987-94; 2002.
46. Boldorini R,Veggiani C, Barco D, Monga G. Kidney and urinary tract polyomavirus infection and distribution: molecular biology investiga-
tion of 10 consecutive autopsies. Arch Pathol Lab Med. 129:69-73; 2004.
47. Nickeleit V, Klimkait T, Binet I, Isabelle F, Dalquen P, Del Zenero V et al. Testing for polyomavirus type BK DNA in plasma to identify
renal-allograft recipients with viral nephropathy. N Engl J Med. 342:1309-15; 2000.
48. Vats A, Shapiro R, Randhawa PS, Scantlebury V, Tuzuner A, Saxena M et al. Quantitative viral load monitoring and cidofovir therapy for
the management of BK virus-associated nephropathy in children and adults.Transplantation. 75:105-12; 2003.
49. Poduval RD, Meehan SM, Woodle ES, Thistlethwaite JR, Haas M, Cronin DC et al. Sucessful retransplantation after renal allograft loss
to polyomavirus interstitial nephritis.Transplantation. 73: 1166-9; 2002.
50. Poloni JAT, Bruno RM, Voegeli CF. Common digital camera and urinary sediment analysis: a tool to be explored. NDTplus. DOI 10.1093/
ndtplus/sfr155; 2011.
51. Fogazzi GB, Garigali G.The clinical art and science of urine microscopy. Curr Opin Nephrol Hypertens. 12:625-32; 2003.

98 NewsLab - edição 118 - 2013

Você também pode gostar