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Giovanna Arthur Ferreira
1- Explicar a carcinogênese pelos agentes biológicos
A carcinogênese biológica é o processo que transforma uma célula normal em neoplásica, mediante a
ação de diversos agentes biológicos que podem ser virais ou não virais. O processo de transformação
confere às células afetadas um conjunto de características que permitem a multiplicação descontrolada e
autônoma. Existem evidências acumuladas de que dezenas de vírus são etiologicamente associados a
diversos tipos de cânceres. Isto pode ser explicado, em parte, porque existem produtos de genes virais
que interferem nas vias essenciais de controle de proliferação celular ou de evasão à morte celular,
levando estas vias a alterarem-se e favorecerem o processo de malignidade da célula infectada.
Os vírus podem ser divididos em dois grandes grupos, de acordo com a composição de seu genoma: vírus
de RNA e de DNA.
Entre os tipos de vírus de RNA que podem induzir cânceres, destacam-se: vírus linfotrópico de células T
(HTLV-1), associado ao linfoma de células T; vírus da imunodeficiência humana 1 (VIH-1), associado a um
estado de imunodeficiência que predispõe ao desenvolvimento de lesões neoplásicas relacionadas a
infecções oportunistas; vírus da hepatite C (HCV), associado ao carcinoma hepático.
Entre os vírus de DNA que são capazes de induzir o desenvolvimento de câncer em humanos, estão: vírus
da hepatite B (HBV), associado ao hepatocarcinoma; papilomavírus humano (HPV), associado ao
desenvolvimento do câncer do colo de útero, vulvar, peniano, anal e oral, principalmente com a presença
dos tipos oncogênicos 16 e 18; vírus Epstein-Barr, associado ao carcinoma nasofaríngeo, linfoma de
Hodgkin e doenças imunoproliferativas em pacientes imunodeprimidos; vírus do sarcoma de Kaposi
(KSHV), associado ao sarcoma de Kaposi.
Apesar desta associação, os vírus não são agentes carcinogênicos completamente eficientes, uma vez que
a minoria dos indivíduos infectados desenvolve tumores associados. Portanto, a infecção viral é apenas
um dos elementos que compõem a promoção tumoral, sendo necessários vários fatores adicionais para o
desenvolvimento do câncer.
Assim, a bactéria Helicobacter pylori e os helmintos Clonorchis sinensis, Opisthorchis viverrini e
Schistosoma haematobium também fazem parte da lista de carcinógenos biológicos pela Agência
Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), pois geram infecção crônica fortemente associada ao
desenvolvimento de cânceres.
Foi provado que muitos vírus de RNA e DNA são oncogênicos em animais. Apesar de intensos estudos
detalhados, contudo, somente poucos vírus foram associados ao câncer humano.
● Vírus Epstein-Barr
- O EBV, um membro da família herpes, está envolvido na patogenia de diversos tumores humanos: a forma africana
do linfoma de Burkitt; os linfomas de células B em indivíduos imunossuprimidos (especialmente aqueles com
infecção por HIV ou sob terapia imunossupressora após transplante de órgãos); um subconjunto de linfomas de
Hodgkin; carcinoma nasofaríngeo e alguns carcinomas gástricos e formas raras de linfomas de células T e linfomas
de células natural killers.
- Com exceção do carcinoma nasofaríngeo, todos os outros são tumores de células B.
- Em resumo, no caso do linfoma de Burkitt, parece que o EBV não é diretamente oncogênico, mas ao agir como um
mitógeno policlonal das células B, ele dita estágio para a aquisição da translocação t(8;14) e de outras mutações,
que, em última análise, liberam as células da regulação normal do crescimento.
- Em indivíduos normais, a infecção por EBV é rapidamente controlada por respostas imunes efetivas dirigidas
contra antígenos virais expressos nas membranas celulares. Assim, a vasta maioria de indivíduos infectados
permanece assintomáticas ou desenvolve mononucleose infecciosa autolimitada. Em regiões da África onde o
linfoma de Burkitt é endêmico, cofatores pouco compreendidos (p. ex., malária crônica) podem favorecer a aquisição
de eventos genéticos (p. ex., a translocação t(8;14)) que levam à transformação.
● Helicobacter pylori
- Primeiramente incriminado como uma causa das úlceras pépticas, o H. pylori agora adquiriu a distinção duvidosa de
ser a primeira bactéria classificada como carcinogênica. De fato, a infecção por H. pylori está envolvida na gênese
tanto dos adenocarcinomas gástricos quanto dos linfomas gástricos.
- O cenário para o desenvolvimento do adenocarcinoma gástrico é similar ao do câncer de fígado induzido por HBV e
HCV. Ele envolve a proliferação aumentada de células epiteliais e um histórico de inflamação crônica. Como na
hepatite viral, o ambiente inflamatório contém numerosos agentes genotóxicos, tais como espécies reativas de
oxigênio. Há um desenvolvimento inicial da gastrite crônica, seguido por atrofia gástrica, metaplasia intestinal das
células do revestimento, displasia e câncer. Essa sequência leva décadas para se completar e ocorre em somente 3%
dos pacientes infectados.
- Como o HBV e o HCV, o genoma do H. pylori também contém genes diretamente implicados na oncogênese. Foi
demonstrado que cepas associadas ao adenocarcinoma gástrico contêm uma “ilha de patogenicidade” que abriga o
gene associado à citotoxina A (CagA). Apesar de o H. pylori não ser invasivo, o CagA penetra nas células epiteliais
gástricas, onde apresenta uma variedade de efeitos, incluindo a iniciação de uma cascata de sinalização que
mimetiza a estimulação desregulada de fatores de crescimento.
- Os linfomas gástricos possuem origem nas células B, e como os tumores lembram algumas das características das
placas de Peyer normais, frequentemente eles são chamados de linfomas da mucosa associada ao tecido linfoide,
ou MALTomas. Sua patogenia molecular não ainda não é completamente compreendida, mas parece envolver
fatores específicos de cepas do H. pylori, assim como fatores genéticos do hospedeiro, tais como polimorfismos nos
promotores de citocinas inflamatórias, como a IL-1 e o fator de necrose tumoral (TNF).
- Acredita-se que a infecção por H. pylori leve ao aparecimento de células T reativas ao H. pylori, que,
por sua vez, estimulam a proliferação policlonal de células B. Nas infecções crônicas, mutações
atualmente desconhecidas podem ser adquiridas, o que fornece às células individuais uma vantagem
de crescimento. Essas células crescem para formar um “MALToma” monoclonal que, não obstante,
permanece dependente do estímulo através das células T das vias de células B, que ativam o fator de
transcrição NF-κB.
Nesse estágio, a erradicação do H. pylori pela terapia antibiótica “cura” o linfoma através da remoção
dos estímulos antigênicos para células T. Em estágios posteriores, contudo, mutações adicionais podem
ser adquiridas, tais como uma translocação (11;18) que provoca a ativação constitutiva do NF-κB.
Nesse ponto, o MALToma não mais requer o estímulo antigênico da bactéria para seu crescimento e
sobrevivência, desenvolvendo a capacidade de se disseminar para outros tecidos, além do estômago.
Tratado:
- Epigenética refere-se à herança estável dos fenótipos em células e organismos que não decorrem de alterações
concomitantes na sequência ou no número de cópias da molécula de DNA. Segundo o conceito atual, epigenética é o
estudo das alterações hereditárias na expressão gênica que não são atribuídas às mudanças na sequência de bases
nitrogenadas do DNA.
- Em mamíferos, os mecanismos epigenéticos são essenciais para o desenvolvimento normal e a regulação da
expressão gênica, além de incluírem a metilação do DNA, as modificações das histonas, o remodelamento dos
nucleossomos e os micro-RNAs (miRNAs).
● Metilação do DNA:
- é a modificação epigenética melhor estudada e caracterizada até o momento, exercendo grande importância na
regulação da expressão gênica. Em geral, a metilação do DNA refere-se principalmente à ligação covalente de um
grupo metil no carbono da posição 5 da citosina seguida por uma guanina, formando um dinucleotídeo CpG. Como
a metilação do DNA é uma marca epigenética herdável, a manutenção e a transmissão precisa desses padrões às
células filhas são processos essenciais do ciclo celular.
- As enzimas responsáveis pela metilação do DNA nos dinucleotídeos CpG são membros de uma família de proteínas
denominada de DNA metiltransferases (DNMTs).
- Nas células tumorais, as alterações da metilação do DNA podem ser agrupadas em duas classes: a primeira
refere-se à hipometilação generalizada do genoma e, a segunda, à hipermetilação que se apresenta restrita a áreas
localizadas dentro da região promotora de genes, as ilhas CpG.
● ********Micro-RNAs: quanto mais micro rna menos expressão do gene. Ele degrada
- miRNAs são pequenos RNAs não codificadores que regulam a expressão gênica pelo silenciamento
pós-transcricional de genes-alvos. Constituem uma família de RNAs regulatórios não codificadores de
aproximadamente 22 nucleotídeos (~22nt), derivados de RNAs de dupla fita.
- Pequenos RNAs mediam o silenciamento gênico por meio de pelo menos quatro diferentes mecanismos: clivagem
endonucleolítica do mRNA de mesma origem pelo pareamento específico de bases com a molécula alvo; repressão
traducional; repressão transcricional por modificações no DNA e/ ou histonas e eliminação do DNA por
modificações de histonas.
- Os miRNA podem participar da transformação neoplásica, quer seja pelo aumento da expressão dos oncogenes ou
pela diminuição da expressão de genes supressores de tumor
Fatores Ambientais
Embora fatores genéticos e ambientais contribuam para o câncer, as influências ambientais parecem ser
os fatores de risco dominante para a maioria dos tipos de câncer. Evidências que apoiam um papel central
para os fatores ambientais podem ser encontradas na ampla variação geográfica que existe na incidência
de formas específicas de câncer. Por exemplo, a incidência de câncer de mama é geralmente muito maior
em mulheres nos países desenvolvidos do que em muitas partes dos países em desenvolvimento. Embora
predisposições raciais não possam ser descartadas, acredita-se que as influências ambientais, algumas
conhecidas e outras não, fundamentem a maioria dessas diferenças na incidência de câncer.
Entre os melhores fatores ambientais que afetam o risco de câncer estão os seguintes:
• Agentes infecciosos. Acredita-se que cerca de 15% de todos os cânceres no mundo sejam causados direta
ou indiretamente por agentes infecciosos. Por exemplo, o vírus do papiloma humano (HPV), é responsável
por uma grande maioria dos casos de carcinoma cervical e uma fração cada vez maior de câncer de cabeça
e pescoço.
• Tabagismo. O tabagismo é indicado como o fator ambiental isolado mais importante que contribui para
a morte. O fumo, principalmente de cigarros, tem sido apontado como causador das mortes por câncer de
boca, faringe, laringe, esôfago, pâncreas, bexiga e, mais significativamente, de cerca de 90% das mortes por
câncer de pulmão.
• Consumo de álcool. O abuso do álcool por si só aumenta o risco de carcinomas de orofaringe (excluindo
os lábios), laringe e esôfago e carcinoma hepatocelular (pelo desenvolvimento da cirrose). O álcool e o
tabaco, juntos, aumentam de forma si
nérgica o risco câncer nas vias aéreas superiores e no trato digestório.
• Dieta. Embora os fatores dietéticos precisos continuem a ser uma questão de debate, uma ampla
variação geográfica na incidência de carcinoma colorretal, carcinoma de próstata e câncer de mama é
atribuída a diferenças na dieta.
• Obesidade. No geral, os indivíduos mais obesos na população norte-americana apresentam aumento de
52% (homens) e 62% (mulheres) nas taxas de mortalidade por câncer em relação aos seus colegas mais
magros; como consequência aproximadamente 14% das mortes por câncer em homens e 20% em
mulheres podem ser atribuídas à obesidade.
• História reprodutiva/hormônios. Há fortes evidências de que a exposição acumulativa ao longo da vida
à estimulação por estrogênio, especialmente se não houver oposição pela progesterona, aumenta o risco
de câncer de mama e do endométrio, tecidos que são sensíveis a esses hormônios. De fato, acredita-se que
algumas das diferenças na incidência de câncer de mama que são observadas em todo o mundo estejam
relacionadas com os costumes culturais que afetam o momento e o número de gestações que uma mulher
tem durante sua vida.
• Carcinógenos ambientais. O que não faltam são carcinógenos ambientais bem caracterizados: eles se
escondem no meio ambiente, no local de trabalho, em alimentos e em práticas pessoais. Os indivíduos
podem ser expostos a fatores carcinogênicos quando estão em ambientes externos (p. ex., raios
ultravioleta [UV], poluição atmosférica), água de poço, certos medicamentos, trabalho, ou até mesmo
enquanto descansam em casa (p. ex., carne grelhada, dieta rica em gordura, álcool).
• Idade. A maioria dos carcinomas ocorre nos anos mais tardios da vida (>55 anos). A incidência crescente
de câncer com a idade pode ser explicada pelo acúmulo de mutações somáticas associadas ao surgimento
das neoplasias malignas. O declínio na imunocompetência, que acompanha o envelhecimento, também
pode ser um fator. Tragicamente, as crianças não são poupadas, mas os tipos de câncer que predominam
em crianças são significativamente diferentes daqueles vistos em adultos.
3- Descrever o mecanismo fisiopatológico da H.Pylori
- Helicobacter pylori
Incriminado como uma causa das úlceras pépticas, o H. pylori é a primeira bactéria classificada como
carcinogênica. De fato, a infecção por H. pylori está envolvida na gênese tanto dos adenocarcinomas
gástricos quanto dos linfomas gástricos. O cenário para o desenvolvimento do adenocarcinoma gástrico
envolve o aumento da proliferação de células epiteliais em um contexto de inflamação crônica, o
ambiente inflamatório contém numerosos agentes genotóxicos, tais como espécies reativas de oxigênio. Há
um desenvolvimento inicial da gastrite crônica, seguido por atrofia gástrica, metaplasia intestinal das
células do revestimento, displasia e câncer.
O genoma do H. pylori também contém genes diretamente implicados na oncogênese. Foi demonstrado
que cepas associadas ao adenocarcinoma gástrico contêm uma “ilha de patogenicidade” que abriga o
gene associado à citotoxina A(CagA). Apesar de o H. pylori não ser invasivo, o CagA penetra nas células
epiteliais gástricas, onde apresenta uma variedade de efeitos, incluindo a iniciação de uma cascata de
sinalização que mimetiza a estimulação desregulada de fatores de crescimento.
Linfoma e h pylori
- O H. pylori também está associado a um risco aumentado para o desenvolvimento de linfomas gástricos.
Os linfomas gástricos possuem origem nas células B, e como os tumores lembram algumas das
características das placas de Peyer normais, frequentemente eles são chamados de linfomas do tecido
linfoide associado a mucosas, ou MALTomas. Sua patogenia molecular ainda não é completamente
compreendida, mas parece envolver fatores de cepas específicas do H. pylori, assim como fatores
genéticos do hospedeiro, tais como polimorfismos nos promotores de citocinas inflamatórias, como a IL-1
e o fator de necrose tumoral (TNF).
Acredita-se que a infecção por H. pylori leve ao aparecimento de células T reativas ao H. pylori, que, por
sua vez, estimulam a proliferação policlonal de células B. Nas infecções crônicas, mutações podem ser
adquiridas, o que fornece às células individuais uma vantagem de crescimento. Essas células crescem para
formar um “MALToma” monoclonal que, não obstante, permanece dependente do estímulo através das
células T das vias de células B, que ativam o fator de transcrição NF-κB. Nesse estágio, a erradicação do H.
pylori pela terapia antibiótica “cura” o linfoma através da remoção dos estímulos antigênicos para células T.
Em estágios posteriores, contudo, mutações adicionais podem ser adquiridas, causando a ativação
constitutiva do NF-κB. Nesse ponto, o MALToma não mais requer o estímulo antigênico da bactéria para
seu crescimento e sobrevivência, desenvolvendo a capacidade de se disseminar para outros tecidos, além
do estômago.
1- Gastrite Crônica
A causa mais comum de gastrite crônica é a infecção com o bacilo H. pylori. No entanto, é importante
reconhecer que infecções duradouras por H. pylori também podem resultar em gastrite atrófica,
geralmente em um padrão multifocal em vez de um padrão difuso. (Causas menos comuns de gastrite
crônica incluem lesão por radiação, refluxo biliar crônico, lesão mecânica e envolvimento por doenças
sistêmicas, tais como a doença de Crohn, amiloidose ou doença do enxerto-versus-hospedeiro). Em
contraste à gastrite aguda, os sintomas associados à gastrite crônica são tipicamente menos graves,
porém mais persistentes. Náuseas e dores abdominais superiores são típicas, algumas vezes com vômito,
mas a hematêmese é incomum.
- H. pylori são bacilos em forma de espiral ou curva presentes em amostras de biópsia gástrica de quase
todos os pacientes com úlceras duodenais, úlceras gástricas ou gastrite crônica. A infecção por H. pylori
não produz sintomas suficientes para que haja um alerta para cuidados médicos, na maioria dos casos; é
a gastrite crônica que, por fim, faz com que o indivíduo busque tratamento.
Patogenia
A infecção por H. pylori apresenta-se como uma gastrite predominantemente antral, com produção de
ácido normal ou elevada. A produção de gastrina local pode ser aumentada, mas a hipergastrinemia
(aumento do nível sérico) é rara. Quando a inflamação permanece limitada ao antro, o aumento da
produção de ácido resulta em um risco maior de úlcera péptica duodenal. Em outros pacientes, a gastrite
progride para envolver o corpo gástrico e o fundo. Essa gastrite atrófica multifocal está associada a placas
de atrofia da mucosa, redução da massa de células parietais e da secreção de ácido, metaplasia intestinal
e risco aumentado de adenocarcinoma gástrico. Os organismos H. pylori se adaptaram ao nicho ecológico
fornecido pelo muco gástrico. Sua virulência está relacionada aos seguintes fatores:
• Flagelos, os quais permitem que a bactéria seja móvel no muco viscoso.
• Urease, que gera amônia da ureia endógena e assim eleva o pH gástrico local e aumenta a taxa de
sobrevivência bacteriana.
• Adesinas, que acentuam a aderência bacteriana à superfície das células foveolares.
• Toxinas, como o gene A associado à citotoxina (CagA), que pode estar envolvido na progressão da
doença.
A variação nestes fatores bacterianos está fortemente relacionada ao resultado. Por exemplo, o gene CagA
estão presentes em 50% de todos os isolados de H. pylori, mas 90% dos isolados de H. pylori são
encontrados em populações com risco de câncer gástrico elevado. Isso pode, em parte, ocorrer devido às
cepas expressando CagA, as quais podem efetivamente colonizar o corpo gástrico e causar a gastrite
atrófica multifocal.
Fatores do hospedeiro também têm um papel importante na infecção por H. pylori. Polimorfismos
genéticos, que resultam no aumento da expressão do fator de necrose tumoral (TNF), de citocinas
pró-inflamatórias e interleucina-1β (IL-1β), ou a queda de expressão da citocina anti-inflamatória
interleucina-10 (IL-10), estão associados ao desenvolvimento de pangastrite, atrofia e câncer gástrico.
A deficiência de ferro também pode ser um fator de risco para o câncer gástrico associado ao H. pylori. A
rota da gastrite por H. pylori é o resultado da interação entre as defesas das mucosas gastroduodenais,
respostas inflamatórias e fatores de virulência bacteriana.
Dentro do estômago, os H. pylori são geralmente encontrados no antro. Apesar de frequentemente haver
concordâncias entre a colonização do antro e cárdia, a infecção da cárdia ocorre em taxas mais baixas. O H.
pylori é menos comum na mucosa oxíntica do fundo e do corpo. Quando vista endoscopicamente, a
mucosa antral infectada por H. pylori é geralmente eritematosa e tem uma aparência grosseira ou mesmo
nodular. O infiltrado inflamatório inclui neutrófilos, contém um grande número plasmócitos, e número
aumentado de linfócitos e macrófagos. Quando intensos, os infiltrados inflamatórios podem criar pregas
rugosas espessadas, que mimetizam a aparência de cânceres em estágio inicial. Os agregados linfoides,
alguns com centros germinativos, estão frequentemente presentes e representam uma forma induzida de
tecido linfoide associado à mucosa, ou MALT, que tem um potencial de se transformar em linfoma.
4- Adenocarcinoma Gástrico
O adenocarcinoma é a malignidade mais comum do estômago, compreendendo mais de 90% de todos os
cânceres gástricos. O adenocarcinoma gástrico é separado morfologicamente em tipo intestinal, o qual
tende a formar massas volumosas, e tipo difuso, que se infiltra na parede difusamente, espessando-a, e
geralmente é composto por células em anel de sinete.
Os primeiros sintomas de ambos os tipos de adenocarcinoma gástrico são similares aos da gastrite
crônica e da doença ulcerosa péptica, incluindo dispepsia, disfagia e náusea. Como resultado, esses
tumores são frequentemente descobertos em estágios avançados, quando os sintomas, tais como perda
de peso, anorexia, plenitude gástrica, anemia e hemorragia, incitam avaliações diagnósticas adicionais.
O câncer gástrico familiar está fortemente associado a mutações de perda de função germinativa no gene
supressor de tumor CDH1, o qual codifica a proteína de adesão celular E-caderina. Logo, a perda da
função da caderina-E é um passo-chave no desenvolvimento do câncer gástrico difuso. As mutações do
CDH1 também são comuns nos carcinomas lobulares de mama, esporádicos e familiares, os quais, como o
câncer gástrico difuso tendem a se infiltrar como células isoladas, e indivíduos com mutações do BRCA2
estão sob maior risco de desenvolver câncer gástrico difuso.
A mutação do TP53 também é encontrada na maioria dos cânceres gástricos esporádicos, tanto no tipo
difuso quanto no tipo intestinal. Em contraste com os cânceres gástricos difusos, os do tipo intestinal
esporádico estão fortemente associados com mutações que resultam no aumento da via de sinalização
Wnt. Estas incluem as mutações de perda de função no gene supressor de tumores na polipose
adenomatosa coli (APC) e mutações de ganho de função no gene codificador da βcatenina. As mutações
de perda de função ou silenciamento de diversos outros genes supressores de tumores, incluindo TGFβ
(TGFβRII), regulação da apoptose (BAX) e controle do ciclo celular (CDKN2A), também são vistos.
As variantes genéticas de genes pró-inflamatórios e de resposta imune, incluindo os que codificam o
IL-1β, TNF, IL-10, IL-8 e o
receptor Toll-like 4
(TLR4), estão
associadas com o risco
elevado de câncer
gástrico, quando
acompanhadas pela
infecção por H. pylori.
Dessa forma, fica claro que a
inflamação crônica promove a neoplasia gástrica. Dessa forma, tanto o plano de fundo genético do
hospedeiro quanto os fatores ambientais afetam o risco.
5- Explicar pólipos neoplásicos e não neoplásicos (focar nos pólipos intestinais) e correlacionar com a
malignidade
- ADENOCARCINOMA DE COLON
Pólipos
Os pólipos são mais comuns na região colorretal, mas podem ocorrer no esôfago, estômago ou intestino
delgado. A maioria dos pólipos começa como pequenas elevações da mucosa. Estes são conhecidos com
sésseis, conforme os pólipos sésseis aumentam, a proliferação de células adjacentes à massa e os efeitos
da tração, na protrusão luminal, podem se combinar para criar um pedículo. Os pólipos com pedículos são
chamados de pedunculados (ou pediculados).
Os pólipos intestinais podem ser classificados, quanto à sua natureza, como não neoplásicos ou
neoplásicos. O pólipo neoplásico mais comum é o adenoma, o qual tem o potencial de evoluir para o
câncer. Os pólipos não neoplásicos podem ser adicionalmente classificados como inflamatórios,
hamartomatosos ou hiperplásicos.
Adenocarcinoma
O adenocarcinoma do cólon é a malignidade mais comum no trato GI e a principal causa de
morbimortalidade do mundo. Contrariamente, o intestino delgado é um local incomum para tumores.
Entre os pequenos tumores intestinais malignos, os adenocarcinomas e tumores neuroendócrinos bem
diferenciados (carcinoides) apresentam aproximadamente a mesma incidência, seguidos dos linfomas e
sarcomas.
Estudos da carcinogênese colorretal forneceram informações fundamentais nos mecanismos gerais da
evolução do câncer. A combinação de eventos moleculares que levam ao adenocarcinoma colônico é
heterogênea e inclui anormalidades genéticas e epigenéticas. Pelo menos duas vias genéticas foram
descritas. Em termos mais simples, estas são a
1via APC/β-catenina, que é ativada na sequência clássica adenoma-carcinoma; e a
2via de instabilidade microssatélite, que está associada aos defeitos no reparo de erros de pareamento
do DNA e à acumulação de mutações em regiões de repetição microssatélite do genoma. Ambas as vias
envolvem a acumulação gradual de mutações múltiplas, mas diferem nos genes envolvidos e nos
mecanismos pelos quais as mutações se
acumulam.
Eventos epigenéticos, o mais comum sendo o
silenciamento de genes induzido por
metilação, podem aumentar a progressão ao
longo de cada via.
• A sequência clássica adenoma-carcinoma é
responsável por até 80% dos tumores e
tipicamente inclui a mutação de APC no início
do processo neoplásico. Ambas as cópias do gene
APC devem estar inativas, tanto por
mutação quanto por eventos epigenéticos, para
que os adenomas se desenvolvam. O APC é um
regulador negativo fundamental da β-catenina, um componente da via de sinalização Wnt.
A proteína APC normalmente se liga à β-catenina e promove a sua degradação. Com a perda da função da
APC, a β-catenina se acumula e transloca-se para o núcleo, onde ela forma um complexo com o fator TCF
de ligação de DNA e ativa a transcrição de genes, incluindo a MYC e a ciclina D1, que promovem a
proliferação.
As mutações
adicionais se
acumulam,
incluindo as
mutações
ativadoras no
KRAS, que
promovem o
crescimento e
impedem a
apoptose. A
mutação de KRAS é um evento tardio no desenvolvimento de carcinoma.
A progressão neoplásica também está associada com as mutações em outros genes supressores de tumor,
tais como aqueles que codificam o SMAD2 e o SMAD4, os quais são efetores da sinalização de TGF-β.
Como a sinalização de TGF-β normalmente inibe o ciclo celular, a perda desses genes pode permitir o
crescimento celular descontrolado. (Beta catenina e regulada tanto apc tanto e caderina, e mutações
nessas duas fazem a b catenina ir no núcleo e incentivar a proliferação)
O gene TP53 supressor de tumor sofre mutação em 70% a 80% dos cânceres do cólon, mas é raramente
afetado nos adenomas, sugerindo que as mutações de TP53 também ocorrem nas fases posteriores da
progressão do tumor. A perda da função do gene TP53, e de outros genes supressores de tumor, é
frequentemente causada por deleções cromossômicas, apoiando a ideia de que a instabilidade
cromossômica é uma característica típica da via APC/β-catenina.
Alternativamente, os genes supressores de tumor podem ser silenciados por metilação de uma zona rica
em CpG, ou ilha de CpG, uma região 5’ de alguns genes que muitas vezes inclui o promotor e o local de
início da transcrição. A expressão de telomerase também aumenta conforme as lesões se tornam mais
avançadas.
• Em pacientes com deficiência de reparo de erros de pareamento do DNA, as mutações se acumulam nas
repetições de microssatélites, uma condição conhecida como instabilidade de microssatélites. Estes são
referidos como tumores de MSI alta, ou MSI-H. Algumas sequências de microssatélites estão localizadas
nas regiões de codificação, ou promotoras de genes, envolvidas na regulação do crescimento celular, tais
como aquelas que codificam o receptor de TGF-β tipo II e a proteína pró-apoptótica BAX. Como o TGF-β
inibe a proliferação de células epiteliais do cólon, as mutações do receptor de TGF-β tipo II podem
contribuir para o crescimento celular descontrolado, ao passo que a perda de BAX pode aumentar a
sobrevivência de clones geneticamente anormais.
• Um subconjunto de cânceres de
cólon microssatélite instáveis, sem
mutações em enzimas de reparo de
erros de pareamento do DNA,
demonstram o fenótipo de
hipermetilação da ilha de CpG (CIMP).
Nesses tumores, a região promotora
MLH1 é tipicamente hipermetilada,
reduzindo assim a expressão e função
de reparação da MLH1.
Mutações ativadoras no oncogene BRAF são comuns nesses tipos de câncer. Em contraste, o KRAS e o TP53
geralmente não sofrem mutação. Assim, a combinação da instabilidade de microssatélites, mutação de
BRAF e metilação de alvos específicos, como a MLH1, é a assinatura dessa via de carcinogênese.
• Um pequeno grupo de cânceres de cólon mostrou um aumento na metilação da ilha de CpG na ausência
de instabilidade de microssatélites. Muitos desses tumores abrigam mutações de KRAS, porém as
mutações de TP53 e BRAF são incomuns.
Embora a morfologia não consiga definir, com segurança, os eventos moleculares subjacentes que levam à
carcinogênese, certas correlações têm sido associadas com a deficiência de reparação da
incompatibilidade e a instabilidade de microssatélites. Estas alterações moleculares são comuns em
adenomas sésseis serrilhados e cânceres que surgem a partir delas. Além disso, carcinomas invasivos, com
instabilidade de microssatélites, frequentemente têm diferenciação mucinosa proeminente e infiltrados
linfocíticos peritumorais. Esses tumores, bem como aqueles com um fenótipo de hipermetilação da ilha de
CpG, são localizados com frequência no cólon direito. Tumores com instabilidade de microssatélites
podem ser reconhecidos pela ausência de coloração imunohistoquímica para proteínas de reparo de
erros de pareamento ou por análises genéticas moleculares de sequências de microssatélite.
Mdm2, apc, mlh1 (hereditário não polipose), kras, smad – genes usados no rastreio