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INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
À medida que o ônibus se arrastava pelo quadriculado traçado da cidade, porém, foi-se
dando uma lenta, ou melhor, uma mágica transformação. O motorista monologava
continuamente para nós um animado comentário sobre o cenário que passava à nossa volta:
havia uma liquidação sensacional naquela loja, uma exposição maravilhosa naquele museu,
já souberam do novo filme que acabou de estrear naquele cinema logo mais adiante na
quadra? O prazer dele com a riqueza de possibilidades que a cidade oferecia era
contagiante. Quando as pessoas desciam do ônibus, já se haviam livrado da concha de mau
humor com que tinham entrado, e, quando o motorista lhes dirigia um sonoro “Até logo,
tenha um ótimo dia!”, todas lhe davam uma resposta sorridente.
A lembrança desse encontro me acompanha há quase vinte anos. Quando viajei naquele
ônibus da avenida Madison, acabara de concluir meu doutorado em psicologia - mas pouca
atenção se dedicava na psicologia da época a exatamente como podia se dar tal
transformação. A ciência psicológica pouco ou nada conhecia dos mecanismos da emoção. E,
no entanto, ao imaginar a propagação do vírus do bem-estar que deve ter-se alastrado pela
cidade, começando pelos passageiros de seu ônibus, vi que aquele motorista era uma
espécie de pacificador urbano, uma espécie de feiticeiro, em seu poder de transmutar a
soturna irritabilidade que fervilhava nos passageiros, amolecer e abrir um pouco seus
corações.”
Salta aos olhos o contraste da violência que impera nas ruas das grandes metrópoles e
atitudes como as deste motorista. Para explicar como um motorista de ônibus pode superar
o caos do trânsito e, ainda, espalhar seu otimismo a todos os que estão a sua volta é
preciso recorrer ao que ele estava sentindo no momento, a sua maturidade emocional para
lidar com situações de stress, à sua motivação para estar de bem com a vida. Nesta
situação, percebe-se que sua formação acadêmica ou técnica pode torná-lo um bom
motorista mas, é ineficiente para explicar sua postura de pacificador urbano.
A inteligência emocional caracteriza a maneira como as pessoas lidam com suas emoções e
com as pessoas ao seu redor. Isto implica em autoconsciência, motivação, persistência,
empatia, entendimento e características sociais como persuasão, cooperação, negociações e
liderança. Arranjar um emprego, mantê-lo e conduzir uma carreira de sucesso é uma meta
que envolve muito mais do que um bom quociente de inteligência (QI) e preparo técnico.
Credita-se ao quociente emocional (QE) 80% da responsabilidade pela fama ou ruína de um
profissional.
De certa forma, podemos dizer que possuímos duas mentes e, conseqüentemente, dois tipos
de inteligência: racional e emocional. Nossa performance na vida é determinada não apenas
pelo QI mas, principalmente pela inteligência emocional. Na verdade, o intelecto não pode
dar o melhor de si sem a inteligência emocional - ambos são parceiros integrais na vida
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O churrasco de fim de semana, o coral da igreja, as festas com amigos, entram hoje como
pontos positivos na seleção, promoção e desenvolvimento da carreira de um profissional. O
trabalhador que faz sua vida entre o escritório e o quarto de dormir, sem tempo nem
imaginação para mais nada, é visto como mentalmente repetitivo. O que não significa que o
currículo formal tenha perdido seu valor mas, é apenas um ponto de partida para a sua
carreira profissional. As empresas, cada vez mais, avaliam e valorizam a capacidade de
adaptação emocional de seus funcionários.
Cada pessoa tem uma dose maior ou menor de cada uma dessas habilidades. O que pode
ser comprovado quando observamos pessoas do nosso convívio: algumas são otimistas,
outras não levam desaforo para casa, existem aquelas que ao menor sinal de perigo já estão
apavoradas ou as que estão sempre de mau humor.
Seja na seleção de pessoal, seja no desempenho de seus operários temos empresas que
começam a olhar seus funcionários não como seres “vazios”, mas um universo emocional
que trabalha juntamente com seu intelecto, seu físico e sua posição social.
Um exemplo é o “emocionômetro “ que surgiu em 1991 nas fábricas da Fiat, Minas Gerais.
Coordenadores de uma das usinas da Fiat perceberam, intuitivamente, que algumas peças
saíam da linha de montagem sem o padrão de qualidade desejado, por causa da distração
de um ou outro funcionário. Em vez de despedir o funcionário ou achar que estavam sendo
vítimas de sabotagem, os coordenadores observaram que, devido a problemas emocionais,
alguns funcionários não conseguiam se concentrar no trabalho. O “emocionômetro” é um
painel com fotos e nomes dos funcionários, onde cada um coloca um pino colorido conforme
seu estado de espírito no dia. Ao colocar o pino verde, fica patente que o funcionário está
bem; o pino é amarelo para os que estão mais ou menos; o pino vermelho é para os que
estão com algum problema. O pino vermelho, neste caso, permite que várias pessoas
tomem conhecimento do sofrimento ou angústia de um companheiro e possam demonstrar
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sua solidariedade e respeito. Essa demonstração de preocupação para com seus funcionários
pode ter sido a responsável pela baixa nos números de peças com defeito em várias fábricas
Fiat.
Através desse exemplo, fica evidenciado que empresas que promovem um clima favorável
ao aparecimento das emoções conduzem seus funcionários a trabalhar e desenvolver melhor
os projetos da empresa.
Empatia, capacidade de ouvir, saber negociar, cooperação são diferenciais que estão
presentes em maior ou menor quantidade nos membros de uma equipe. Pessoas
identificadas como talentosas e merecedoras de promoção mas, com dificuldades em
algumas dessas habilidades emocionais podem e devem ser encorajadas a desenvolvê-las.
A raiva, o medo, a ansiedade e mais uma dúzia de emoções tomam conta e deixam, às
vezes, alguém cego no decorrer de um dia de trabalho. Para entender porque é tão difícil
controlar as emoções, é necessário compreender o que elas produzem em nosso corpo. Ao
sentir raiva, o sangue corre para os braços, facilitando uma resposta vigorosa destes
membros como um murro, um tapa ou outra manifestação qualquer de raiva. Ao sentir
medo, o sangue corre para os músculos das pernas, possibilitando a fuga. São reações
automáticas, herdadas por todos os homens. Essas reações acontecem sem que a parte
posterior do cérebro, responsável pelo raciocínio, tenha tido tempo de perceber a situação e
comandar a reação. Assim, antes que se tenha tempo de pensar no que está fazendo, o
raivoso já explodiu e o medroso correu.
Podemos imaginar que o diretor de uma multinacional está para viajar e no momento de
embarcar, é informado que não há lugar para ele no vôo. Seu lugar havia sido cedido a um
político que queria viajar de última hora. Ao saber disso, o executivo se descontrola e
explode. Berra para que todos ouçam que aquela companhia é incompetente, que nunca
mais colocaria seus pés nela e chega a ameaçar fisicamente o funcionário que o atende. A
raiva é justificada mas, a explosão conseqüente não ajuda, de maneira alguma, resolver seu
problema de embarcar no avião. Como antídoto para a raiva e a indignação, podemos
sugerir a assertividade. Ser assertivo é colocar sua opinião, seus sentimentos de forma
firme, sem raiva ou passividade, reivindicando aquilo que considera justo para si.
A fuga é, para muitas pessoas, a única forma de viver o medo. Só de pensar em situações
de emergência que viveu ou que estão para acontecer, desencadeia-se uma reação de fuga
desenfreada, tornando-se quase impossível enfrentar os problemas. O latido do cachorro do
vizinho, a sirene de uma ambulância, o som do trovão vêm carregados de angústia e medo
para alguns de nós. Reaprender a enfrentá-los, distantes das lembranças tristes que podem
evocar, não é tarefa fácil. Lamentar os momentos difíceis que estão cristalizados nesses
fatores desencadeantes do medo ou procurar compartilhá-los com alguém que transmita
segurança podem reverter esse quadro ameaçador.
Diz a sabedoria popular que para se livrar da tristeza vale tudo: tomar um banho quente,
tomar sorvete, presentear-se, ir às compras. Mas, a emenda pode se tornar pior que o
soneto: comer demais, traz arrependimento; comprar demais, estoura a conta bancária;
beber demais, aumenta os efeitos da depressão. Todo mundo fica triste com o fim de um
relacionamento mas, autopiedade nessa hora só aumenta o desespero. Um método
construtivo para levantar o ânimo é armar um sucesso fácil: cumprir uma tarefa a muito
tempo adiada, buscar se ocupar mais de si mesmo. Da mesma forma é útil, nesses
momentos, recuar e pensar nos aspectos que levaram o relacionamento não ter sido tão
sensacional, que o fizeram infeliz. Isto é, ver a perda de um modo diferente, sob uma luz
positiva.
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Empatia é a habilidade de se colocar no lugar do outro, ver seus problemas a partir do seu
ponto de vista para compreendê-lo e conseguir influenciá-lo. Esta habilidade é fundamental
para que um consultor dê bons conselhos, um vendedor conquiste um cliente, um professor
dê uma boa aula, um escritor se torne um best-seller ou um líder tenha carisma.
Essa habilidade entra em jogo numa vasta gama de áreas das nossas vidas, desde vendas e
administração até namoro, paternidade e política. Mas é quando vamos criticar alguém que
se torna especialmente importante. Ao fazer uma crítica, a empatia permite fazê-la de
forma construtiva, abrindo caminho para uma correção sem respostas defensivas ou
ressentimentos. Ao receber uma crítica, a empatia, também é essencial, pois permite
diferenciar entre uma contribuição valiosa de um ataque pessoal camuflado de “boas
intenções”.
A inteligência emocional pode ser alcançada por meio de treinamento e persistência. Nunca
é tarde demais para se perceber qual aspecto emocional o impede ou entrava o seu
desempenho. Ao perceber que a timidez excessiva o impede de apresentar-se em público ou
reuniões, ou a insegurança e a centralização de informações o impede de levar avante um
novo projeto, ou o perfil descontrolado de seu funcionário o coloca sempre em problemas
com a chefia, ou a falta de tato de seu vendedor deixou o cliente furioso, você estará dando
o primeiro passo em direção a mudança.
“Torna uma obrigação conhecer-te a ti mesmo, a lição mais difícil deste mundo”.
Miguel de Cervantes
Referências bibliográficas :