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Isadora

Talison: Qual que é sua idade?


Isadora: 18
T: 18 anos, então já sei que não vou perguntar pra sua irmã a idade dela. Que curso que
você presta, mesmo?
I: Eu quero fazer arquitetura e urbanismo.
T: Arquitetura, perfeito. Seguinte: tem algumas perguntas, umas são mais pragmáticas,
outras são assim pra você dar sua opinião, você responde da maneira que você quiser,
não tem problema. Mais um conversa mesmo que a gente vai ter. É, qual sua
escolaridade?
I: Terminei o terceiro ano do ensino média e faço curso técnico.
T: Você faz curso técnico. Onde você faz?
I: No Bento Quirino.
T: No Bento... Tá, e dos seus pais, qual a escolaridade deles?
I: Meu paifez até ensino médio e minha mãe parou na 4ª série.
T: Tá. E, chutando assim mais ou menos, quanto você acha que é a renda de sua família
mensal ?
I: Vish... Acredito que deve ser em torno de uns 4 mil.
T: 4 mil. E qual que é a profissão dos seus pais?
I: Minha mãe é do lar e meu pai trabalha em uma empresa de... ai, agora eu não lembro,
é... ele é operador de máquina.
T: ah, tá. Uhum. Perfeito. É, a sua vida inteira, como foi sua trajetória escolar? Você
estudou em escola pública, em escola particular...?
I: Sempre em escola pública.
T: Sempre em escola pública. E como que você descreve pra mim sua experiência nas
escolas públicas? Eram escolas boas, ruins, eram escola centrais, periféricas, enfim?
I: As escolas, teve umas que eu estudei que foram bem ruins que era... tinha... num tinha
nenhuma supervisão, era uma coisa bem liberal, se quisesse você podia fazer, você
podia fumar o que você quisesse... Só que daí eu mudei de escola no terceiro ano, ai eu
fui pra uma escola que a princípio era muito boa, mas tinha algumas coisas que
deixavam a desejar, como matérias, umas coisas que, sabe, eles deixavam passar.
Assim, a escola era rígida, você não podia fazer nada, mas só que conteúdo mesmo não
tinha, sabe?
T: certo, você se sente defasada, assim, né? Nesse sentido...
I: Muito.
T: E, o que você entende por cursinho popular? O que é um cursinho popular pra você?
I: Ah, acho que é mais uma oportunidade, porque, assim, falando por mim, eu não teria
condição de estar pagando um pré-vestibular, e tbm não teria condição de sozinha, pelo
o que eu passei nas minhas escolas, eu tbm não teria condição de entrar, por exemplo,
eu quero entrar aqui na unicamp. Eu acho que eu não teria base suficiente para entrar.
Então, acho que é uma... uma... uma porta bem, sabe, pra gente conseguir ter o acesso
ao estudo e se aprofundar pra conseguir alcançar o que a gente quer.
T: Perfeito. Muito bom. Eu esqueci de pergutnar antes, você trabalha?
I: Eu não, só estudo.
T: Como que você conheceu o cursinho?
I: Através do professor, o Eric. Ele foi meu professor de sociologia do terceiro ano. Ai,
ele, no último dia de aula ele falou pra mim e ai no dia em que começou as inscrições eu
já me inscrevi e...
T: Legal. E como que você descreve tua experiência até agora aqui?
I: Ah, tá sendo muito boa. Eu, muita coisa que eu nunca tinha nem visto, nem citado
nome pra mim e eu tive contato com várias coisas que eu nem tinha passado ainda.
T: Certo. Como que é teu convívio com os colegas e com os professores? Sociabilidade,
mesmo fora de sala de aula, como é?
I: Ah, acho que é boa. Tenho contato com bastante gente ali que eu converso, que
estudou comigo tbm no ensino médio, tenho batsnate contato.
T: Conversa mais com as pessoas que estudaram com você do que com as outras?
I: Acho que nem muito. É, acho que bem dividido.
T: Certo.
I: As pessoa que eu conheci aqui tbm converso, e as epssoas que eu já conheci tbm
converso todo mundo junto.
T: E com os professores Tá sempre trocando uma ideia, assim, como?
I: Sim, acho que mais com o Eric eu converso bastante, por...
T: Por já ter conhecido.
I: Por conhecer, mas tbm, se tem algumas dúvidas assim eu pergunto.
T: Certo. E tua vida fora daqui? Como que é, assim, o seu dia-a-dia e tbm como, nos
aspectos socioculturais, no acesso à cultura da cidade? Acesso a teatro, cinema,
frequência em idas a teatro, cinema, shows, como é?
I: Ah, onde eu moro é bem... tem bastante coisa, por ter o centro cultural lá, então, eu
vivi minha vida inteira no centor cultural, porque eu fiz dança, então eu sempre tive
contato. Sempre ia em peças de teatro, porque eu tinha vários amigos do teatro, então eu
tava sempre indo e sempre show tbm, sempre tive bastante contato, mais ainda com o
teatro e peças assim que eu gostava bastante. Fiz um pouco de teatro, então eu tinha
bastante contato.
T: Legal. Bacana. E quais são as suas expectativas pro seu futuro e como que você acha
que o Emancipa influencia nessas expectativas e nessas decisões que você toma hoje?
I: Que, o princípio é entrar mesmo na faculdade que eu quero alcançar objetivo,
terminar a faculdade, acho que é o meu principal no momento. Entrar e conseguir me
manter e terminar a faculdade.
T: Certo. E antes, que você faz o curso aqui dentro, né. Antes de você entrar aqui, vir
aqui, vir todo dia, frequentar e todo mais, você tinah conhecimento do que era a
universidade pública, de tudo isso, enfim?
I: Não, eu nunca tive contato nenhum, nunca fui, nunca tinha entrado em uma faculdade
antes, assim, ainda mais desse tamanho. As únicas faculdades eram as particulares que
tenho parentes que... na verdade, a minha famiulia inteira é professor, então fui em
algumas mas nunca a parte publica assim, desse tamanho.
T: E você sempre soube que a Unicamp era uma universidade paga, desculpa, pública?
J: De graça.
T: Sempre soube que era de graça, pública no sentido de de graça?
I: Sim.
T: Perfeito. É isso.

Gabriel Silva
T:
G: 18
T:
G: Sim. Prestar cinema.
T: Nossa, cara, até a oitava série eu morria de vontade de prestar cinema. Ai um dia eu
desisti.
G: Esperando por esse dia.
T: Pragmáticas...
G: Ensino médio completo

G: Ensino fundamental.
T:
G: Juntando tudo? 3000.
T:
G: Meu pai é mestre de obras e minha mãe dona de casa.
T: Você sempre estudou em escola pública?
G: Sim.
T:
G: Na minha primeira escola que eu estudei foi horrível, fiquei três meses lá, nunca
estudei no meu bairro porque minha mãe nunca quis, pela fama das escolas de lá. Aí eu
sempre estudei em escolas longe, mas que eram de nível consideravelmente bom, a
nível público. Então nunca tive do que reclamar. Principalmente da minha última escola
que foi, que eu fiquei da quinta até o terceiro ano.
T: Qual foi?
G: Foi a Maria Julieta.
T: Você trabalha?
G: Sim. Sou auxiliar comercial, vendas.
T:
G: Cursinho popular eu entendo como se fosse um pré-vestibular, com a diferença que é
pra pessoas mais com a mente aberta e também que não tem tantas condições
financeiras de prestar um Objetivo da vida ou algo assim.
T:
G: Por um amigo. Eu não ia fazer nada esse ano. Eu achei que ia pro exército, ai eu não
fui convocado uma semana antes de vir pro cursinho. E ai eu, na aula inaugural eu vim
por “ah, eu vou ir lá”.
T: Vou lá, não tenho nada pra fazer.
G: Ai eu acabei entrando, meu amigo não, mas...
T: Foi seu amigo que não entrou que te indicou?
G: Exatamente.
T:
G: Melhor do que eu imaginava. Em relação aos estudos, é um estudo que eu nunca
tive. Em relação a estudar, não só vir no cursinho. Que não tem aquela coisa de “ah, vou
ir no cursinho só pra garantir presença”. Normalmente quando vem é pra estudar. E tbm
em relação às pessoas. Qdo eu entrei no cursinho da unicamp eu sabia como seria o
ambiente da unicamp. Eu nunca pensei em fazer um outro cursinho pago por achar o
ambiente muito diferente, em relação às pessoas. De personalidade, etc. Então, pra mim
tá sendo ótimo.
T:
G: Os professores é mais dentro da sala de aula, em relação à matéria. Com os colegas...
dentro da sala de aula, como aluno e também fora como, realmente, o Gabriel fora, não
sendo estudante. Então eu só conheço a maioria das pessoas eu convivo muito bem e
conheço os dois lados da pessoa, como estudante e também não como estudante.
T:
G: Bom, a rotina é trabalho, período manhã-tarde; estudo assim que eu saio do trabalho
e depois venho pra cá, durante... de segunda a sexta. Em relação ao futuro, eu gosto
bastante de cinema, né. A área que eu quero seguir. Teatro também. Em relação a
música, muito. Só que eu não vou muito em evento, assim, mais em relação a preço, a
tempo, oportunidade, mas é algo que eu gosto bastante. Se eu tivesse mais oportunidade
eu iria.
T:
G: Meu foco atualmente, assim, qualquer outro, é entrar na Ufscar, fazer Imagem e
Som. E eu sei que eu preciso do ENEM. Então, o Emancipa é uma ponte entre eu e a
Ufscar, que eu preciso muito. Eu já... muita gente, eu ouço gente do cursinho que não
quer sair de campinas. Eu já penso ao contrário, eu nunca pensei em ficar em Campinas,
porque eu sou uma pessoa muito aventureira. Entãoi, o mais pettyo pra mim seria
Ufscar e eu pensei realmente em fazer a faculdade de Cinema no nordeste, que não tem
por aqui. Entao, Emancipa é, tipo, sabe quando você vê, vopcê fala, aquilo ali vai ser o
que vai fazer eu alcançar meu objetivo? Então, de início, é só isso que eu tenho como
objetivo. De resto eu tenho como objetivo sair de casa bem depois.
T:
G: Pouco. Nunca tinah vindo na Unicamp. Já tive oportunidades mas, pra mim, em
relação, tenho alguns amigos que fazem faculdade pública, família nenhum, e eu só
sabia mais mesmo o que as pessoas falavam.
T: Você tinha noção disso tudo?
G: Não.
T:
G: Sim, isso sim. Isso eu sabia, era meio ignorante ao assunto há algum tempo, achava
que eu iria fazer faculdade na Unicamp até eu começar a procurar saber quais eram os
cursos tal da Unicamp pra entender qual era o conceito que diferencia a faculdade
pública da faculdade particular e eu realmente percebi que não era uma opção pra minha
vida fazer uma faculdade particular, como ainda não é. Então, quando eu comecei a
saber, procurar saber, e dps que eu entrei aqui eu tive a total certeza.

Tuani
T:
Tu: Eu tenho 21.
T:
Tu: Queria prestar serviço social ou ciências sociais, tô em dúvida.
T:
Tu: Terminei o ensino médio ano retrasado, pelo EJA.
T:
Tu: Meus pais tem a escolaridade... eles nem começaram o ensino médio. Pararam no
fundamental.
T:
Tu: Então, é que hoje eu não moro com os meus pais. Só que eu moro com meu
namorado. Mas é... um pouco mais que um salário, sabe? Não chega a ser dois salários,
assim.
T:
Tu: Esse ano não estou trabalhando, porque ano passado eu trabalhava e estudava.
Então, pra mim, foi muito complicado mesmo vir e eu não conseguia vir nos plantões e
nada. Aí esse ano eu estou fazendo sorvete caseiro pra vender na minha casa e to
vendendo e to conseguindo pagar a passagem e vir pra cá. Sorvete de massa, é muito
legal.
T:
Tu: O meu pai é caminhoneiro. A minha mãe, ela... nunca teve uma profissão assim, ela
trabalhava às vezes limpando a casa das pessoas, como diarista. E ela também
costurava, Costura. E eles são separados.
T:
Tu: Estudei sempre em escola pública. Só que... Eu posso assim, falar? É uma longa
história.
T: É minha próxima pergunta. Eu queria que você falasse um pouco sobre a sua
trajetória escolar mesmo. Como que é. Se as escolas eram boas, ruins, centrais,
periféricas. Enfim, fala um pouco sobre a sua trajetória.
Tu: É que é bem complicado. Quando eu era criança eu nasci no Mato Grosso, em Alta
Floresta, divisa com o Pará. E lá eu morava num assentamento. E nesse assentamento
não tinha ônibus rural pra eu poder ir pra escola. Eu morava num lugar ponde não
tinha... Era uma coisa bem precária mesmo, assim. Eu morei lá até os 10, 11 anos. E,
assim, não tinha saneamento básico, morava num lugar, por incrível que apreça, gente,
que tinha... a casa, tipo, era de bambu assim, e tinha uma lona por cima e a gente ficava
no chão batido, assim. E... eu não gosto de falar muito nisso que eu nunca falei isso pras
pessoas.
T: Pode falar, se não quiser falar não tem problema.
Tu: E o banheiro era um... (choro) um buraco, assim no chão onde as pessoas iam e
tinha um coisinho de madeira... E era muito complicado, porque a gente não tinha
nada... Desculpa, gente, eu nunca conto isso pra ninguém. As pessoas não sabem porque
eu não fico falando essas coisas. Eu fui mudar pra cidade quando minha mãe
engravidado da minha irmã mais nova porque ela não tinha condições mesmo de uma
mulher grávida ficar lá. Ai a gente foi morar com meus avós que ficavam na cidade,
mas era uma cidade que não chegava... não tinha nem 10 mil habitantes, era Alta
Floresta mesmo. E lá comecei a estudar, num colégio. Comecei as estudar muito velhas
e tinha quase 12 anos, e aí...
T: Foi quando você começou a estudar?
Tu: Foi quando eu comecei a estudar. Aí eu fiquei fazendo, ah, tinha o prézinho naquela
época ainda. Aí eu fiz em seis meses, aí eu fiz a primeira seria em seis meses também, e
foi assim. Meu pai era caminhoneiro e ia aonde tinha trabalho. E ficava sempre se
mudando. Morei em Curitiba, depois de... fiquei estudando lá em Alta Floresta, depois
aos 13 anos morei em Curitiba. Ai em Curitiba eu também fiz a quinta e a sexta SÉRIE
completa. Aí eu parei de estudar de novo porque meu pai ficou se mudando, aí ele veio
pra cá. Eu cheguei aqui em campinas eu tinha quase 18 anos e eu tinha só sexta série do
ensino médio completo [deve ter se confundido]. Aí eu terminei... eu fiz, em dois anos e
meio, fiz a sétima e oitava, primeiro, segundo e terceiro, num colégio aqui. Foi quando
eu, tipo... antes de... não sei se to falando muito rápido...
T: Não, não...
Tu: Quando eu vim pra cá e me matriculei no EJA e isso eu fui morar com meu
namorado. Eu me matriculei no EJA já tava com ele. Foi quando eu tive um pouco mais
de estabilidade pra poder estudar. Foi quando eu fui morar com meu namorado. Porque
não tinha, com meus pais, não tinha, assim, tipo... eles ficavam se mudando, não tinha
estabilidade nenhuma. E ai eu consegui terminar, os professores sempre me ajudaram
muito, assim. Eu admiro muito o trabalho dos professores por, por essa ajuda que eles
me deram. Porque eu, na minha vida, sempre... foi uma recuperação. Eu fui pro EJA pra
me recuperar daquele ensino fundamental, assim, terrível que eu tive. Depois eu vim pro
cursinho pra me recuperar do EJA que eu fiz, assim, sétima, oitava, primeiro, segundo e
terceiro em dois anos e meio. Então, a minha vida, assim, na escola, é sempre de muita
recuperação. Foi muito triste, por isso que eu quero fazer ciências sociais ou ao menos
serviço social pra poder ajudar mesmo, sabe? Pra poder ajudar as pessoas que
precisaram de ajuda, como eu, como eu precisei. Gente, é muito difícil. Tem pessoas
que não têm acesso mesmo a... básico, sabe? Acho que... eu admiro muito o trabalho
que vocês fazem aqui no Emancipa. Acho que, todo mundo, assim, a gente devia lutar
pela democratização do ensino mesmo. Se eu conseguir me formar eu vou fazer isso,
sabe? Eu vou tentar ajudar, porque... eu não falo isso pras pessoas porque eu não fico
me vitimizando, sabe? Eu sou capaz quanto qualquer outra pessoa daqui. Mas, mas é
muito complicado.
T:
Tu: Olha... pra mim, o ensino popular... o cursinho popular ele muda a vida das pessoas.
Eu nunca pensei que eu ia fazer faculdade. Hoje eu já to no segundo ano e já... eu até
fico... (chora)... é que foi muito complicado, gente... Eu nunca falei isso pra ninguém. É
que... vocês, vocês fazem tipo, tudo, sabe? Porque eu não ia ter condições nenhuma de...
de pagar um cursinho pré-vestibular.
T:
Tu: A Bruna e a Fernanda me deram aula no EJA. E eu ficava, eu fazia redações e
levava pra professora lá e tava sempre por ali. E aí eu comecei a conversar com elas,
porque eu sempre me interessei, assim. Mesmo não tendo oportunidade eu sempre tava
pegando um livro, fazendo alguma coisa, sabe? Na época que eu conheci a Bruna e a
Fer eu tava, eu fui puxar conversa com elas porque eu tava olhando A Origem das
Espécies e não tava entendendo muito bem, ai eu fui conversar com elas, elas tavam
fazendo um estágio supervisionado lá, no Coreolano Monteiro. Que fica lá perto do
Carlos Lourenço, sabe? E aí elas me falaram e ai eu já vim rpa cá, fiquei super ansiosa,
sabe? E consegui a vaga e... ano passado foi complicado, porque eu tava trabalhando.
Mas esse ano eu dei um jeito de poder tá sempre aqui, estudar mais e eu acho que vai,
acho que eu vou conseguir.
T:
Tu: ah, é muito tranquilo. Eles em ajudam bastante. Me ajudam muito, assim. Nos
plantões, eu venho de sábado também, tipo, eles têm uma... ai, eu não sei... eles tratam o
aluno com tanto respeito e tanto... tanta atenção que eu nunca tinha visto em lugar
nenhum, sabe?
T: E entre os colegas, é a mesma coisa?
Tu: É a mesma coisa. De coletividade e eles não se veem como concorrentes. Que
talvez em outro cursinho eles veriam, assim, aqui é muito tipo, tá precisando de ajuda
em biologia, ah não sei quem vai prestar biologia, ela sabe. Tá precisando de ajuda com
química? A Isa, por exemplo, vai prestar química ela me ajuda com química. Então é
muito show de bola, mesmo, assim. Quando, e se eu conseguir me formar, eu quero
fazer parte disso, que vocês fazem. Porque, gente, mudam vidas mesmo, é uma coisa
impressionante. Eu não to, assim, eu to sendo muito honesta com vocês, de verdade.
T:
Tu: então, não muito, assim. Quando tem alguma coisa na Estação Cultura eu vou.
Porque, normalmente, quando tem alguma coisa lá é gratuita e tal, e eu gosto bastante.
Mas, cinema, assim, também, eu vou só de vez em quando, também. Por causa do custo,
muito por causa do custo. E show, assim, eu não costumo ir muito então, eu não
costumo sair assim bastante. Eu fico mais em casa. Só quando tem alguma coisa aqui, é
muito raro eu vir pra cá. Acho que ano passado em vim duas vezes aqui nos eventos
quer tem na Unicamp à noite. Porque é muito longe, acesso também é complicado.
T: “Sobre a Unicamp”
Tu: Não, eu sabia que a Unicamp era gratuita, só que eu sempre fiquei com aquele
vestibular impossível, sabe? Que não, que a pessoa tipo de baixa renda assim tem que
dar um jeito de conseguir ganhar, não sei, conseguir aquele... aquela bolsa em faculdade
particular, Unip... Prouni ou Fies eu acho. Conseguir pagar alguma coisa. Eu até tentei
mas, tipo, é uma coisa, é complicado de pagar também aquilo lá depois. E eu sempre
pensava nisso, mas sempre via o vestibular da Unicamp como impossível, assim. Não
pra... pra mim, não. Era isso o que eu pensava. Eu nunca tinha vindo aqui na Unicamp.
Só vim depois na aula mesmo, e eu achei isso super legal. Só que, pra mim, era
impossível antes de conhecer o cursinho. Sério mesmo.

Leniá(?)
T:
L: 19 anos.
T:
L: Fono.
T:
L: Ensino médio completo.
T: E da sua mãe?
L: Ela terminou pelo EJA.
T:
L: Três mil?
T:
L: Ela trabalha na Listel, telemarketing.
T:
L: Escola pública.
T:
L: Foi sempre em escolas centrais, só que eu chegava sete horas e ia embora sete e dez
porque não tinha professor pra dar aula. Perdi muita aula mesmo, acho que a única
escola que eu fui aprender foi na de bairro, que quando eu estudei na primeira série eu
estudei aqui no centro, só que eu não aprendia nada. Fui aprender lá pra terceira série,
que foi na escola de bairro. Depois eu fiquei mais um ano na escola de bairro e depois
fui pra escola central, e não tinha professor pra dar aula.
T: Se sente defasada por isso?
L: Muito. Muito. Muitas coisas que hoje eu vejo no cursinho eu não tinha visto na
escola.
T:
L: É um cursinho onde as pessoas têm um só objetivo, que é passar na faculdade. Tipo,
elas estão se esforçando mesmo, porque eu vejo, pelo menos o cursinho particular, os
pais querem que o pessoal passe na faculdade. Cursinho popular não, você vê cada
pessoa que o pai não quer, quer que a pessoa trabalhe. Ou tem várias outras implicações
que a pessoa não tem como pagar ou é o único, tipo, a única coisa que ela tem é esse
cursinho. Então eu vejo que é uma coisa, tipo, com um objetivo só, sabe? Pessoal
lutando pela mesma coisa.
T:
L: Uma amiga minha, Gabi.
T:
L: Acho uma experiência incrível, porque você conhece várias pessoas diferentes. Não é
a mesma coisa de um professor da escola que não pode dar opinião dele sobre política
ou não pode conversar com você. É, tipo, um... eu vejo mais como um amigo me
ensinando do que um professor mesmo, aquele professor de escola que eu, tipo, se não
aprendeu esse ano aprende ano que vem. Meus professores falavam. Se não entendeu
agora você aprende ano que vem. E aqui não, se você não entendeu, vamos lá, professor
chega a desenhar na lousa pra você entender. Acho muito incrível, sabe? A relação que
tem. Não fica aquela coisa tipo, aula pesada, ai, vou ter aula. Não, é tipo, ai que legal, os
professores sempre descontraem, sempre tem uma piada na aula, não importa qual.
Acho muito, muito legal.
T: ~sociabilidade~
L: Acho boa. Tem algumas que a gente não gosta e tal, mas de boa.
T: ~trabalho~
L: Não.
T:
L: Show só se for, tipo, Arautos da paz, assim. Teatro não vou. Cinema muito, muito
difícil. E, tipo, fora daqui, cursinho... faço trabalhos voluntários, o que eu mais gosto de
fazer.
T: ~motivo da pouca frequência~
L: Falta de dinheiro.
T:
L: Acho que o cursinho faz a gente acreditar na gente mesmo. Tipo, vão, gente, vocês
conseguem, tal. Você tá meio na bad o professor vem e conversa com você. Eles falam
das experiências dele, a gente troca experiência, sabe? E, tipo, você vê que eles são que
nem você, sabe? Não é uma pessoa a mais, são pessoas tipo, super... a pessoa que você
acha , tipo super poderosa, nariz empinado e tal.
T: Não há uma hierarquia.
L: É! Eu sou tipo que nem você, sabe? Posso passar pelas mesmas dificuldades, só que
agora ele só tem mais experiências e sabe das coisas, das expectativas você fala em
relação da faculdade assim?
T: Isso, a faculdade e tudo mais...
L: A eu espero muito passar na faculdade de fono e pra cuidar das criancinhas, seilá
fazer pesquisas pra ver sobre as cordas vocais se ter alguma forma de estimular elas
mais
T: E antes você faz o cursinho aqui dentro da faculdade, antes de você entrar na
faculdade...
L: Não, não eu nem me imaginava na UNICAMP, tipo era uma coisa que não me
imaginava. O que eu ia fazer da minha vida? Tipo eu queria a UNICAMP, mas nunca
tinha entrado na UNICAMP, não tinha visto a faculdade, não sabia de nada. Era
totalmente tipo só naquele lugar saber, tipo escola e não falava muitas coisas assim
sabe, mas era totalmente não me imaginava nessa imensidão.
T:
L: Sim, isso eu sabia. Mas em questão de como é a UNICAMP as coisas que ela dá, a
prova como é, eu nunca soube.

Eduardo Grimoni Junior


T:
E: 23
T:
E: A então, eu não...
T: Se você não souber não tem problema.
E: Tipo eu to pensando em prestar ciência da computação, mas eu não tenho certeza
ainda até o final do ano pode ser que mude.
T:
E: Tipo eu tenho ensino médio, mas eu tive que largar o ensino médio para trabalhar,
tinha tipo 14 anos e daí eu voltei a estudar ano retrasado. Então tipo eu fiz o ENEM e
com o ENEM eles te dão o certificado do ensino médio
T:
E: A minha mãe ela é superior incompleto e o meu pai é ensino médio completo.
T:
E: Então, mora só minha mãe, eu, meu irmão e a renda deve ser tipo bruto ou liquido?
T:
E: Deve dar uns dois mil e seiscentos, por aí.
T:
E: Minha mãe trabalhar aqui na UNICAMP, ela é técnica administrativa e meu pai
trabalhava na UNICAMP também, só que agora ele ta aposentado, trabalhava também
na área administrativa
T:
E: Então, eu to desempregado
T:
E: Sim, eu estudava no COTIL quando eu parei de... na verdade eu tive que parar o
COTIL e tinha que pagar o ônibus né, minha vó pagava, mas daí meu vô ficou doente e
tive que parar de pagar. E daí eu fui fazer de noite só que daí eu tive que trabalhar de
noite e larguei a escola pública.
T:
E: Mais periféricas e tipo, a questão de ser boa, os professores eram bons só que tinha
muita troca de professores, muita lavada e as vezes não tinha muito controle, não sei se
era por parte da equipe da escola mesmo, mas não tinha muito controle dos alunos tipo
direto rolava algum incidente que atrapalhava bastante na aula, mas eu tive... muitos
professores, principalmente de matemática muito bons, de educação física também
muito bons.
T:
E: Ah! Tipo pra mim é uma organização onde a galera se organiza pra tentar fornecer
tipo acesso a universidade pública por pessoas que são da escola pública, que vieram da
escola pública, pra mim é uma organização de uma galera que quer fazer uma coisa
legal.
T:
E: Então eu fazia exato aqui na UNICAMP também e uma amiga minha disse que tava
interessada em fazer por que ela tinha uma, a Lenia fazia e uma amiga dela e ela falou
“vai, vamos fazer”, mas eu falei que não sabia por que queria muito ficar na exata e não
conhecia o EMANCIPA, não sabia como era o esquema, daí ela começou a me explicar
e eu achei interessante. Daí eu vim na aula inaugural lá e gostei muito do que a galera
falou e falei “não eu vou fazer”, daí eu passei na seleção lá, no sorteio e minhas amigas
não passaram infelizmente e eu falei “não, eu vou fazer”, vou largar a exata e vou fazer.
T:
E: Então, eu gostei bastante principalmente por que eu não tinha, eu não tenho noção de
bastante coisa de ensino médio, tipo biologia eu nunca tinha tido uma aula, química só
estudei no exato, física também só estudei no exato. Então eu não sabia nada, eu vim
mesmo pra aprender a matéria, não pra reforçar ou pra estudar pro vestibular, eu vim
pra aprender mesmo por que eu queria pelo conteúdo. Única coisa que tava me
prejudicando um pouco é a questão do passe, por que tipo eu não tenho, eu não to com
uma passe, então quando dá minha mae me dá, mas quando não tem eu não tenho o que
fazer e daí tipo eu to faltando bastante por causa disso. Então tipo isso tá impedindo eu
de aprender mais do que eu deveria, mas eu to gostando bastante, principalmente dos
professores, tipo a cabeça da galera é tipo, bem diferente do que eu vi em outros lugares
sabe. Por que a galera meio que tipo, a gente... vocês se importam bastante com a gente
não é só tipo “a eu tenho que ensinar, quem quiser aprender, vocês tão procurando que a
galera aprenda mesmo, que a gente consiga melhorar de verdade”
T:
E: Então, eu sou bem tímido tá ligado, eu não converso muito, mas acabou que a galera
me acolheu então tipo, eu chego quietão sem falar nada daí a galera já puxa assunto, já
pergunta as coisas pra mim que eu não... eu não me coloquei a disposição de falar, mas
a galera pergunta mesmo assim daí eu começo a conversar e fazer amizade e gostei,
gostei muito disso. E os professores são muito legais, é diferente o jeito que vocês falam
com a gente, tipo, vocês fala meio que se importando de verdade em conhecer a gente
sabe é eu acho muito legal, eu to gostando.
T:
E: Então, teatro eu não vou muito, eu queria ir, mas é tipo uma coisa meio complicada
pra mim por que tipo a galera que vai que eu conheço que vai em teatro e tals, eles tem
outra rotina totalmente diferente da minha, então eu converso mais por internet, falo
com ele e tals e falam que vão e tals, tenho interesse, mas não tive oportunidade de
conciliar de ir junto. Show eu vou esporadicamente, tipo não é uma coisa que eu faço
muito, não por que eu não queira, mas por que normalmente os shows que a galera me
chama tem que pagar alguma coisa tals, quando não paga seilá, doze reais a entrada eu
vou, e quando chama eu vou. Mas eu to priorizando bastante estudar esse ano, então eu
to largando bastante role assim tipo, eu to priorizando muito estudar, bastante...
T:
E: Então, eu não tinha muita noção disso do que era feito nesse sentido de ajudar
mesmo a galera que ta saindo de escola pública, eu não sabia que tinha esse trabalho, eu
não conhecia isso, até eu conhecer o exata e o EMANCIPA e isso mudou bastante da
minha visão de futuro, o meu objetivo antes era simplesmente tentar fazer alguma coisa
muito legal, tipo sempre fui isso, eu nunca tinha objetivo de ter dinheiro, casa, essas
coisas, meu objetivo sempre foi tentar fazer uma coisa minha que fosse muito legal,
hoje eu penso diferente eu quero participar de alguma coisa muito legal, por que eu acho
que você sozinho, você não vai conseguir fazer, é muito diferente pra mim o objetivo de
fazer uma coisa sozinha e dum grupo que nem o EMANCIPA e pra mim é... isso é meu
objetivo futuro, e foi isso o EMANCIPA e o exata influenciou eu mudar esse
pensamento.
T: O EXATA é aqui dentro também então?
E: Sim
T: Então aqui você ta fazendo o EMANCIPA e antes de você entrar aqui como era seu
conhecimento sobre universidade pública, você tinha...
E: Então, sim, por que minha mãe e meu pai trabalhava aqui e eu estudei aqui lá no
Sergio Porto e daí estudava lá e eu conhecia, só que eu conhecia mais a área da parte da
saúde assim, por que minha mãe trabalhava no HC e eu não tinha muita noção da parte
da universidade mesmo assim, eu conhecia mais o HC, conhecia o Sergio Porto, a
galera que ficava [?] e tals que é a galera que cuida assim dos adolescentes lá que são
filhos de funcionário e eu não conhecia muito a universidade não, eu comecei a
conhecer a partir dos meus amigos que começavam a fazer, então tipo eu tenho uma
amiga que faz PROFIS aqui, meu amigo é formado e eles começaram a me contar como
era a UNICAMP e foi ai que eu comecei a conhecer mais assim de como era a
UNICAMP.

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