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O Que é Autoridade Espiritual?

 Daniel Conegero
4 anos atrás
A Bíblia fala de autoridade espiritual primeiramente apontando para o senhorio de Deus. Somente
Deus é quem possui autoridade absoluta sobre todas as coisas. Ele é a própria fonte da
autoridade, de modo que qualquer autoridade exercida por suas criaturas é derivada dele e
subordinada a Ele.
Então qualquer conceito de autoridade espiritual inerente à própria criatura é equivocado. No
Novo Testamento a palavra básica para autoridade é o grego exousia que transmite o significado
de poder, direito legítimo e liberdade para agir, controlar, possuir e usar. Há também a aplicação
da palavra dynamis, mas seu significado denota especialmente habilidade ou força física.
Nenhuma palavra hebraica semelhante ao grego exousia é usada no Antigo Testamento com
relação à autoridade divina. Mas isso não significa que a autoridade de Deus não é anunciada no
Antigo Testamento. Muito pelo contrário! A autoridade de Deus como Senhor Soberano de todo
universo é claramente ensinada. Ele é o Juiz de toda a terra (Gênesis 18:25; cf. Salmos 66:7;
Daniel 4:17; etc.).
A autoridade delegada por Deus
Em certa medida Deus exerce sua autoridade por intermédio de suas criaturas. Nos tempos do
Antigo Testamento, por exemplo, Deus levantou e estabeleceu líderes sobre seu povo. Então Ele
exercia Sua autoridade na nação de Israel através dos sacerdotes, reis, juízes, anciãos e profetas.
Essas pessoas eram capacitadas pelo Espírito Santo de Deus e com sabedoria deviam liderar os
israelitas de acordo com a vontade divina. Por serem representantes de Deus diante do povo,
esperava-se que essas pessoas fossem respeitadas.
A autoridade de Deus no governo civil dos homens não estava somente limitada ao povo da
Aliança. O profeta Daniel diz que Deus muda as épocas e as estações; Ele estabelece e destrona
reis (Daniel 2:21).
No Novo Testamento o apóstolo Paulo aprofunda esse conceito. Ele chama os governadores civis
do Império Romano de exousiai, e explica que eles eram autoridades a serviço de Deus para
promover a justiça punindo os malfeitores (Romanos 13:1-7). Isso significa que os cristãos devem
se sujeitar às autoridades civis (Tito 3:1; 1 Pedro 3:13-17); mas claro, desde que elas não exijam
algo incompatível com os mandamentos de Deus (Atos 4:19; 5:29).
Dentro da unidade familiar Deus também delegou Sua autoridade. Os homens foram chamados
para exercerem a liderança sobre o lar, e as mulheres para serem suas adjutoras (1 Coríntios
11:3; Efésios 5:22,23; 1 Timóteo 2:12; 1 Pedro 3:1-16). Dessa forma os filhos também devem se
sujeitar a autoridade dos pais (Efésios 6:1-3; Colossenses 3:20; 1 Timóteo 3:4-12).
A autoridade espiritual exercida pelos anjos também é derivada da autoridade de Deus (cf. Efésios
1:21). Por exemplo: quando Satanás confrontou o arcanjo Miguel, o líder do exército do Senhor
deixou claro que não tinha qualquer autoridade espiritual de si mesmo, e apelou para a autoridade
divina (Judas 9).
Mesmo a autoridade espiritual de Satanás e de seus demônios não existe à parte da autoridade
de Deus. Satanás é um usurpador que se opõem a Deus e ao Seu povo. Porém, ele só possui a
autoridade que lhe foi entregue; ele só age dentro dos limites permitidos por Deus (Lucas 4:6; cf.
Jó 1:12; Apocalipse 2:10; 13:5-15).
A autoridade espiritual na Igreja
Jesus declarou que lhe foi dado todo o poder no céu e na terra e delegou autoridade para que
seus discípulos pudessem cumprir a grande comissão. Então todo cristão verdadeiro possui
autoridade espiritual dada por Cristo para anunciar o Evangelho e trabalhar eficazmente em prol
do Reino de Deus (Mateus 28:18-20). Portanto, mediante a obra redentora de Cristo todos os
crentes são sacerdotes reais que proclamam as grandezas de Deus (1 Pedro 2:9; Apocalipse
5:10).
Também é verdade que Deus designou algumas pessoas para servirem como líderes de sua
Igreja na terra. Primeiramente ele estabeleceu o colégio apostólico. Os apóstolos eram
testemunhas comissionadas pessoalmente pelo próprio Cristo para serem seus representantes.
Por isso eles receberam autoridade espiritual singular para lançar os fundamentos da Igreja e
regular sua doutrina (cf. Mateus 16:18,19; Efésios 2:20). Essa autoridade espiritual apostólica
ficou restrita apenas aos doze apóstolos e a Paulo, e nesse sentido eles não tiveram substitutos.
Além disso, pelo poder do Espírito Santo alguns apóstolos e pessoas como Lucas, Tiago, Judas e
o escritor de Hebreus, produziram Escritura que deve ser recebida por todos os crentes como
Palavra de Deus infalível, inerrante e autoritativa (cf. 1 Coríntios 2:9-13; 5:4; 14:37; 2 Coríntios
10:8; 13:10; Gálatas 2:7; 2 Tessalonicenses 2:13; 3:6; 1 Timóteo 3:16; 5:18; 2 Pedro 3:15-17;
etc.).
Mas para a sequência da história da Igreja na terra, o Senhor também tem designado pessoas
para exercerem ofícios de liderança. Essas pessoas recebem autoridade espiritual da parte de
Deus para prezar pela conduta e organização de Seu povo à luz de Seus mandamentos revelados
nas Escrituras. Desde seus primeiros anos a Igreja Cristã tem contato com a liderança local de
pessoas chamadas por Deus ao exercício do ministério (cf. Atos 14:23; 20:28; Efésios 4:11; 1
Tessalonicenses 5:12; Tito 1:5-7; etc.).
O que a autoridade espiritual não significa?
Infelizmente tem se tornado cada vez mais comum a distorção do conceito bíblico de autoridade
espiritual. Falsos líderes reivindicam uma suposta autoridade espiritual que lhes confere o direito
de dominar sobre os crentes.
Em certas comunidades os fieis chegam ao ponto de depender da aprovação desses líderes
aproveitadores para toda tomada de decisão em suas vidas diárias. Além disso, qualquer pessoa
que se levanta para confrontar suas práticas, rapidamente esses líderes as amaldiçoam alegando
que elas estão se levantando contra a autoridade espiritual.
Na verdade esses falsos líderes defendem um tipo de autoridade espiritual interior que chega ao
ponto de colocar Deus na figura de um servo pronto a atender os caprichos que eles “decretam” e
“determinam”. Mas é claro que isso está errado! O que acontece é que essas pessoas tentam
usurpar a autoridade de Deus.
Mas veja o que o apóstolo Pedro escreve aos verdadeiros líderes das comunidades
cristãs: “Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas
espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como
dominadores dos que foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho” (1 Pedro 5:2,3).
Além disso, todos os líderes estão subordinados ao Supremo Pastor (1 Pedro 5:4).
Os líderes cristãos jamais devem ser vistos como pessoas que experimentam um contado
superior com Deus; jamais devem ser vistos como super-crentes intocáveis e perfeitos; bem como
a autoridade espiritual que possuem nunca deve ser confundida com um tipo de poder místico que
pode abençoar ou amaldiçoar alguém.
Os líderes instituídos por Deus à Igreja são simplesmente tutores locais que com bom exemplo
devem guiar e cuidar do rebanho do Senhor na terra através do ensino genuíno das Escrituras e
de sua aplicação na vida prática cristã. Então a congregação deve respeitar e reconhecer a
autoridade espiritual que Deus confiou a essas pessoas, valorizando a exposição das Escrituras
através delas e orando ao Senhor para que Ele lhes conceda sabedoria no pastoreio de Seu povo
(Hebreus 13:17).
Quem é o Arcanjo Miguel na Bíblia?

 Daniel Conegero
O arcanjo Miguel é o líder dos santos anjos de Deus. Miguel também é citado nas Escrituras como
o defensor do povo escolhido do Senhor. A Bíblia não dá muitos detalhes sobre quem é o arcanjo
Miguel, mas destaca claramente sua posição de autoridade e seu caráter guerreiro.
A palavra arcanjo significa “anjo principal”. Essa palavra ocorre apenas duas vezes no texto
bíblico do Novo Testamento (1 Tessalonicenses 4:16,17). Já o nome Miguel significa “quem é
como Deus?”.
O arcanjo Miguel na Bíblia
Miguel é mencionado pela primeira vez no livro de Daniel. Quando o príncipe da Pérsia fez
oposição ao anjo enviado pelo Senhor para dar uma resposta ao profeta Daniel, Miguel foi quem
lhe ajudou (Daniel 10:13). Nesse mesmo texto é enfatizada a posição proeminente do arcanjo
Miguel no exército celestial. Ele é designado pelo outro anjo como sendo “um dos primeiros
príncipes”.
Depois, o anjo também indicou uma conexão entre Miguel e o povo de Israel. Ele disse a Daniel
que Miguel era o “vosso príncipe” (Daniel 10:20,21). Mas na sequência do texto de Daniel essa
posição protetora de Miguel ganha uma proporção maior. Numa visão escatológica que culmina
no dia do juízo de Deus, o arcanjo Miguel foi identificado como “o grande príncipe que se levanta a
favor dos filhos do teu povo” (Daniel 12:1).
Então é o Novo Testamento que lança luz sobre essa designação. O livro do Apocalipse registra
uma grande batalha em que o arcanjo Miguel liderou o exército dos anjos de Deus contra Satanás
e seus anjos (Apocalipse 12:7-9).
O mesmo arcanjo Miguel que no Antigo Testamento é citado como aquele que foi designado a ser
o guardião do povo de Israel, no Novo Testamento é citado como o defensor da Igreja de Cristo.
Isso também se harmoniza com o modo como possivelmente ele é citado relacionado ao dia do
retorno do Senhor Jesus (1 Tessalonicenses 4:16,17).
O arcanjo Miguel também é mencionado na Carta de Judas. O escritor bíblico fala sobre um
episódio em que o arcanjo Miguel contendeu com Satanás acerca do corpo de Moisés (Judas 9).
Parece que Deus encarregou Miguel de sepultar o corpo de Moisés, e em algum
momento Satanás lhe fez oposição. O autor bíblico destaca que Miguel se limitou a dizer: “O
Senhor te repreenda”.
Esse episódio não está registrado no Antigo Testamento, mas apenas num livro apócrifo chamado
Ascensão de Moisés. Mas o fato de ter sido citado por Judas, significa que obviamente esse caso
específico aconteceu; então o Espírito Santo de Deus achou por bem registrá-lo no Cânon bíblico
através da Epístola de Judas.
Qual é a função do arcanjo Miguel?
É possível entender algumas das principais funções do arcanjo Miguel com base nos textos
bíblicos em que ele é mencionado.
O arcanjo Miguel é um líder entre os santos anjos de Deus. Portanto, pode ser concluído que o
arcanjo Miguel é um anjo valente e guerreiro.
No tempo do Antigo Testamento, o arcanjo Miguel desempenhou o papel de guardião dos
israelitas designado por Deus.
No Novo Testamento, a função de Miguel como anjo protetor a frente das hostes angelicais
continuou; mas agora essa função protetora foi estendida a toda a Igreja do Senhor na terra.
Nesse sentido, o arcanjo Miguel faz batalha contra Satanás e seu exército maligno que tenta fazer
oposição à obra de Deus.
O arcanjo Miguel esteve envolvido na ocasião da morte e sepultamento de Moisés; muito
provavelmente numa função extraordinária.
Miguel também estará envolvido nos eventos da consumação do século. Embora o apóstolo
Paulo não mencione seu nome, provavelmente seja sua voz que é citada em 1 Tessalonicenses
4:16. Além disso, a forma com que o texto grego é construído parece indicar que também será o
arcanjo quem tocará a trombeta de Deus.

Miguel é o único arcanjo?


Miguel é o único arcanjo mencionado nominalmente na Bíblia. Além disso, nunca a palavra
“arcanjo” é empregada no plural. Portanto, é possível que Miguel seja o único arcanjo.
Mas por outro lado, também é possível que ele seja um dos arcanjos, talvez o principal entre eles.
Daniel 10:13 diz que Miguel é “um dos principais príncipes”. Essa expressão pode fornecer algum
apoio para a possibilidade de haver mais arcanjos. Também quando Paulo utiliza a palavra
“arcanjo”, ele não emprega o artigo definido. A ausência do artigo definido pode favorecer a
tradução “um arcanjo”.
Algumas tradições judaicas também sugerem que existem outros arcanjos além de Miguel. Mas
considerando tudo isso, a melhor opção é admitir que a Bíblia não esclarece essa questão de
forma conclusiva. Seja como for, ainda que existam outros arcanjos, sem dúvida Miguel parece
ser o mais proeminente.
O arcanjo Miguel é Jesus?
Alguns estudiosos argumentam que Miguel deve ser identificado como sendo uma referência a
Cristo. Eles alegam que é atribuída uma posição muito exaltada ao arcanjo Miguel na Bíblia para
que ele seja simplesmente um anjo.
Mas a Bíblia nunca diz que Miguel é um designativo da Segunda Pessoa da Trindade. Assim, a
identificação de Miguel com Cristo não passa de uma conjectura sem um fundamento sólido.
Na verdade, a Bíblia fornece muito mais indícios de que o arcanjo Miguel jamais deva ser
confundido com o Filho de Deus. Por mais que os anjos sejam seres poderosos, a Bíblia afirma a
superioridade de Cristo sobre todos os anjos. Os anjos são identificados na Bíblia como servos,
enquanto Cristo sempre é identificado como o Filho de Deus (Hebreus 1:4-14).
Jesus é Deus, e não há uma única referência sobre o arcanjo Miguel tomando para si a posição
que só pertence a Deus. A autoridade que Miguel possui não vem de si mesmo, mas é concedida
por seu Criador. Isto fica claro no episódio registrado por Judas. Apesar de Miguel ser um anjo
muito poderoso, ele não ousou pronunciar juízo sobre Satanás por sua própria autoridade, mas
recorreu à autoridade do Senhor.
O Que Significa Satanás? Quem é Satanás?

Satanás significa “adversário”. Esse é o nome grego atribuído ao príncipe do mal, que também é
chamado de Satan no hebraico. Portanto, o significado do nome Satanás refere-se à oposição
desse ser maligno a Deus e a seu povo.
Quem é Satanás e qual o seu significado na Bíblia?
Satanás é o maioral dos demônios, isto é, ele é o chefe dos anjos caídos. Sua ação é claramente
percebida no Antigo Testamento, mas é o Novo Testamento que fornece maiores detalhes sobre
sua pessoa e os seus propósitos.
Ele aparece no Antigo Testamento como o acusador do povo de Deus. Na história de Jó, lemos
sobre como Satanás agiu como um intruso no tribunal celestial. Assim que teve oportunidade, ele
rapidamente começou a fazer falsas acusações sobre o servo do Senhor (Jó 1-2).
Mais tarde ele aparece fazendo oposição ao povo de Deus e incitando o rei Davi a pecar (1
Crônicas 21:1). Em Zacarias 3:2, mais uma vez Satanás é apresentado como opositor, e assim é
repreendido pelo Senhor.
A Bíblia não entra em detalhes sobre a origem de Satanás. Sabe-se apenas que ele caiu de sua
posição original em que foi criado por Deus devido ao seu orgulho (1 Timóteo 3:6). Ele e outros
anjos fizeram uso de seu livre-arbítrio e se rebelaram contra Deus, transgredindo sua lei moral (cf.
Judas 6). Saiba mais sobre a origem do Diabo.
No jardim do Éden Satanás já aparece na figura do tentador instigando o pecado do homem. Isso
indica que ele teve participação direta na Queda da humanidade (Gênesis 3). Por este motivo ele
é chamado no Apocalipse de “a antiga serpente” (Apocalipse 12:9; 20:2).
Satanás é mencionado diversas vezes em todo o Novo Testamento. Logo no início do ministério
terreno de Jesus, Satanás aparece como aquele que tentou o Filho de Deus no deserto (Mateus
4:1-11). Saiba mais sobre a vida de Jesus.
No Novo Testamento ele é designado por diversos títulos diferentes. Por exemplo: ele é chamado
de diabo, que significa “acusador” (cf. Apocalipse 12:9-12); Apoliom, que significa “destruidor”
(Apocalipse 9:11); maligno (1 João 5:18,19); tentador (1 Tessalonicenses 3:5); dragão (Apocalipse
12:9); etc.
O que Satanás faz?
Os títulos e nomes atribuídos a Satanás na Bíblia indicam muito claramente sua ação e seus
objetivos. Ele incita o pecado, age como tentador e faz falsas acusações. Jesus explica que ele é
assassino deste o princípio. Além disso, ele está por detrás de todo engano, falsidade e mentira.
Ele foi o primeiro mentiroso, e por isto é chamado de “o pai da mentira” (João 8:44).
Satanás também é aquele que influencia todo poder corrupto e maligno da sociedade decaída (cf.
Daniel 10:13,20). Ele age diretamente no estilo de vida pecaminoso da humanidade. Por isso ele é
descrito como sendo “o deus deste século”, “o príncipe deste mundo” e “o príncipe da potestade
do ar” (João 12:31; 2 Coríntios 4:4; Efésios 2:2). Tudo isso indica que seu grande objetivo é fazer
oposição a Deus. Ele age contra a Palavra do Senhor e contra o seu povo escolhido.
O apóstolo Paulo ressalta que Satanás se transforma até mesmo num anjo de luz para atingir
seus propósitos de enganação. Isso significa que ele faz de tudo para apresentar o mal como bem
(2 Coríntios 11:14).

Satanás é poderoso?
Sim, Satanás é um ser poderoso. Por isso a Bíblia diz que as ações malignas de Satanás não
devem ser menosprezadas pelos cristãos. Na verdade os seguidores de Cristo devem saber que
constantemente lutam contra ele (2 Coríntios 2:11; Efésios 6:16).
Essa oposição satânica definitivamente não é brincadeira. Por isso o apóstolo Pedro escreve que
Satanás é como um leão que ruge (1 Pedro 5:8). Ao confrontar os cristãos, ele sempre tentará
identificar suas fraquezas, atacar sua fé e distorcer a verdade da Palavra de Deus (cf. 2 Coríntios
2:11; Efésios 6:16).
Mas os cristãos não devem dar a ele uma posição que ele não possui, nem colocá-lo num lugar
em que ele não está. É verdade que Satanás é mais poderoso do que os seres humanos, mas ele
não é divino. Infelizmente algumas pessoas pensam que Satanás é um rival à altura de Deus,
como se ele fosse um outro deus. Isso resulta numa visão dualista em que o mal se equipara ao
bem num combate acirrado.
Mas esse tipo de entendimento é completamente equivocado. Satanás é uma criatura de Deus e
seu poder é limitado. Por ser mais antigo que os homens, ele observou toda a História humana.
Isso indica que ele é um ser que possui muito conhecimento. Mas ele não é onisciente, ou seja,
ele não possui o conhecimento de todas as coisas.
Como um anjo caído que é, Satanás realmente possui grande poder. Porém, ele também não é
onipotente. Ele só pode fazer aquilo que Deus permitir que ele faça (cf. Apocalipse 13). É por isso
que Lutero falava de Satanás como um cachorro na coleira de Deus. Além disso, Satanás também
não é onipresente. Ele não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Ele só pode ir até
onde Deus permitir que ele vá.
Satanás é um inimigo derrotado
Em sua obra redentora, Cristo venceu a Satanás definitivamente. A Bíblia fala dele como um
“valente amarrado” (Mateus 12:25-29). Isso significa que ele se tornou impotente diante da
proclamação do Evangelho de Cristo (cf. Hebreus 2:14).
Ele ainda atua em oposição ao povo de Deus, mas os redimidos são capacitados pelo Senhor a
resisti-lo e vencê-lo em suas batalhas diárias (Efésios 6:10-18). Tiago aconselha os cristãos a se
sujeitar a Deus e resistir ao diabo, e o resultado será que ele fugirá (Tiago 4:7).
Finalmente a Bíblia também dá a certeza de que o destino certo de Satanás é a condenação
eterna no lago de fogo e enxofre (Apocalipse 20:10). Ali ele jamais poderá fazer qualquer
oposição a Deus e ao seu povo que habitará para sempre o novo céu e nova terra.
A História de Jó na Bíblia

 Daniel Conegero
A história de Jó é uma das mais conhecidas da Bíblia, e está registrada no livro do Antigo
Testamento que traz seu nome. Algumas questões sobre quem foi Jó causam muita
curiosidade nas pessoas, especialmente com relação à data em que ele viveu e a cidade onde
morava. Neste texto, conheceremos o que a Bíblia nos informa sobre a biografia de Jó.
Quem foi Jó?
Jó foi um homem muito rico que viveu na terra de Uz. A localização dessa cidade é incerta,
porém uma das possibilidades mais aceitas entre os estudiosos é a de que Uz ficava em uma
região a leste de Judá e, talvez, fronteiriça com o deserto, porém era uma terra propícia para a
criação de gado e agricultura (Jó 1:3,14).
A Bíblia nos diz que Jó era íntegro, reto e temente a Deus. A prova da fidelidade de Jó pode
ser vista na afirmação de que ele “desviava-se do mal” (Jó 1:1). O próprio Deus testemunhou
que Jó era o homem mais piedoso e correto que viveu na terra em sua geração.
Jó, inicialmente, tinha sete filhos e três filhas, porém no total ele foi pai de vinte filhos, pois os
primeiros dez filhos morreram durante o período de intenso sofrimento a qual ele foi submetido,
mas depois Deus lhe concedeu que fosse pai de outros dez filhos.
Jó era casado, apesar da Bíblia não revelar o nome de sua esposa. Segundo o texto bíblico, a
família de Jó provavelmente era bastante unida, pois seus filhos visitavam uns aos outros em suas
casas e faziam banquetes onde se confraternizavam (Jó 1:4).
Jó era um pai que se preocupava com o bem-estar dos seus filhos, e continuamente buscava e
orava a Deus de madrugada, consagrando seus filhos ao Senhor e oferecendo sacrifícios em
nome deles (Jó 1:5).
Em que época ocorreu a história de Jó?
Essa pergunta é muito difícil de responder, pois não há como determinar com certeza quem foi o
autor do livro que traz seu nome, nem mesmo a data em que foi escrito. Existe uma referência a
Jó no livro do profeta Ezequiel, onde ele o menciona ao lado de Daniel e Noé.
Existe alguma possibilidade do Daniel mencionado por Ezequiel não ser o profeta Daniel, mas sim
um heroico rei mencionado num texto ugarítico que viveu numa época muito remota. Se for este o
caso, então Jó viveu em uma data tão recuada quanto os outros dois personagens.
A melhor probabilidade é a de que Jó tenha vivido na era patriarcal, pelo menos é isto o que
alguns detalhes biográficos sobre ele parecem sugerir, como por exemplo, o fato d’ele ter vivido
cerca de dois séculos (Jó 42:16) e o papel que desempenhava semelhante ao de Abraão como
sacerdote da família (Jó 1:5; cf. Gn 15:9,10).
A riqueza de Jó
Jó possuía grande riqueza, e desfrutava de alta posição social. Algumas lendas antigas
sugerem que Jó tenha sido um rei, porém não existe qualquer fundamentação para tal sugestão e
devemos rejeitá-la. Além do mais, se Jó fosse um rei provavelmente o relato bíblico nos
informaria, visto que o texto se preocupou em fornecer detalhes acerca da riqueza que Jó
possuía.
A Bíblia nos diz que Jó era proprietário de sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas
juntas de bois e quinhentas jumentas. Uma quantidade tão grande de gado na época em Jó
viveu, certamente representava um imponente patrimônio.
Para cuidar de tantas propriedades, Jó contava com um número muito grande de servos a seu
serviço, de modo que, somando tudo, Jó era o homem mais rico do oriente (Jó 1:3).
O sofrimento e a paciência de Jó 
Segundo o texto bíblico, num certo dia houve uma reunião nas regiões celestiais, e os filhos de
Deus foram se apresentar perante o Senhor. A melhor interpretação sobre a expressão “filhos de
Deus” nesse texto é a de que se trata dos anjos.
No entanto, no meio deles também estava Satanás, que havia vindo “de rodear a terra e passear
por ela” (Jó 1:7). Então Deus perguntou se Satanás havia observado Jó. Perceba que foi Deus
quem iniciou a conversa sobre Jó, ou seja, não foi Satanás que escolheu Jó para o teste de
sofrimento a qual foi submetido, mas o próprio Deus.
Diante do testemunho dado por Deus da fidelidade de Jó, Satanás sugere que toda sua
integridade se devia ao fato de Jó ser abençoado por Deus e possuir tantos bens quanto
desejava.
Em outras palavras, Satanás estava acusando Jó de ser uma pessoa interesseira, de modo que
sua fidelidade estava condicionada aos bens que Deus havia lhe concedido possuir, e que se
caso tudo aquilo lhe fosse tirado, certamente Jó blasfemaria contra Deus.
Então o Senhor permitiu que Satanás submetesse Jó a um teste, podendo tocar em tudo o
que possuía, exceto em sua vida (Jó 1:12).
Com a permissão de Deus, Jó perdeu todos os seus gados, e seus servos foram mortos a fio de
espada (Jó 1:13-17). Como se não bastasse tudo isso, seus filhos que estavam todos reunidos na
casa de seu primogênito morreram, quando um grande vento soprou sobre a casa em que
estavam e a casa caiu sobre eles.
Diante de tanto sofrimento, Jó rasgou suas vestes, rapou sua cabeça, lançou-se sobre a terra
e adorou. É nessa hora que ele diz as conhecidas palavras “Nu sai do ventre de minha mãe e nu
voltarei; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1:21).
A doença de Jó
Mais uma vez os filhos de Deus se apresentaram perante Deus, e no meio deles estava Satanás.
Novamente o Senhor perguntou a ele sobre Jó, e dessa vez ele afirmou que Jó não havia
blasfemado contra Deus, pois ainda desfrutava de saúde. Então, Deus permitiu que Satanás
tocasse na saúde de Jó, de forma que só não poderia matá-lo (Jó 2:1-6).
Assim, Jó foi acometido de uma terrível enfermidade. Não é possível sabermos que tipo de
doença castigou Jó. Alguns estudiosos sugerem a elefantíase, eritema e varíola. A grande
dificuldade em determinar o tipo da doença se dá pelo fato de que a descrição dos sintomas é
apresentada em um texto poético.
Seja como for, o que sabemos é que Jó foi ferido com “feridas malignas desde a planta do pé ao
alto da cabeça” (Jó 2:7), apesar de essa descrição poder representar apenas um estágio da
doença. A Bíblia também nos diz que Jó usava cacos para poder se raspar.

O comportamento da mulher de Jó
Ao ver o marido imerso em tanto sofrimento, a mulher de Jó o aconselhou a apressar o fim
inevitável e a amaldiçoar a Deus. Obviamente ela não sabia que a vida de Jó estava preservada
por Deus, e fatalmente compartilhava da opinião comum de que tudo aquilo era um castigo divino.
A resposta de Jó para sua mulher foi que a de que ela estava falando como “qualquer doida”. O
termo hebraico traduzido como “doida” possui um sentido de infidelidade e apostasia, ou seja, Jó
lhe disse que ela estava falando como uma pessoa infiel diante de um Deus que, assim como
derramou sobre eles o bem, também poderia derramar aquele mal temporal sem com isto ser
injusto.
Os amigos de Jó
Segundo o texto bíblico, Jó foi visitado por três amigos, Elifaz, Bildade e Zofar. Estes amigos
também eram sábios e ricos, e pertenciam a uma posição social semelhante à de Jó. Os três
homens foram ter com Jó para consolá-lo.
A situação de Jó era tão complicada que num primeiro momento seus amigos não o
reconheceram de longe. Então eles se compadeceram e choraram, rasgaram cada um o seu
manto, e lançaram pó sobre a cabeça. Eles ficaram com Jó durante sete dias e sete noites
sem dizer uma única palavra, tamanho era o sofrimento.
Depois que o silêncio foi rompido por Jó (Jó 3), iniciou-se uma longa e formal discussão entre ele
seus amigos. Com base nessa discussão, podemos perceber que os amigos de Jó começaram a
estabelecer uma sequência de discursos com o raciocínio de causa e efeito, onde basicamente
acusaram Jó de ser o culpado por todo aquele sofrimento.
Assim, em poucas palavras, podemos dizer que os amigos de Jó o acusaram ser um adúltero,
ladrão, alguém sem hospitalidade e louco. Por fim, eles o exortaram a se arrepender. Nos
discursos dos amigos de Jó podemos perceber toda a insensatez da sabedoria humana (Jó
4-31).
Após as acusações dos amigos de Jó e de sua tentativa de justificar-se, um jovem chamado Eliú,
nome comum aos hebreus, chamou a atenção para o papel disciplinador do sofrimento (Jó 32-37),
de modo que o homem não é capaz de compreender tudo o que Deus faz.
Deus responde a Jó
Depois da grande discussão de Jó com seus amigos, o Senhor, do meio de um redemoinho, falou
com Jó. Deus não respondeu as indagações feitas por Jó enquanto debatia com seus amigos, ao
contrário, Deus lhe fez setenta perguntas retóricas, onde toda Sua sabedoria e soberania fizeram
com que Jó percebesse sua ignorância.
Jó então entendeu que lhe bastava apenas confiar em Deus, pois Ele tudo pode, e “nenhum
de Seus planos pode ser frustrado” (Jó 42:2). Deus é o Senhor de tudo, Ele governa o universo e
não necessita que ninguém lhe aconselhe de nada. Tudo o que Ele faz é mediante a Sua
soberana vontade.
Deus também repreendeu os três amigos de Jó, dizendo que eles agiram com loucura, e o que
tinham falado durante a discussão com Jó não havia sido reto. Então o Senhor ordenou que eles
fossem ter com Jó e oferecesse holocausto, e que pela oração de Jó eles não seriam castigados
pela loucura que demonstraram (Jó 42:7-9).
Deus restaura Jó
A Bíblia diz que quando Jó orava por seus amigos, o Senhor mudou a sua sorte, e lhe deu o
dobro de tudo o que antes havia possuído. Assim, Jó veio a ter quatorze mil ovelhas, seis mil
camelos, mil juntas de bois e mil jumentas.
Jó também teve outros dez filhos, sendo sete homens e três mulheres. As filhas de Jó se
chamavam Jemima, Quezia e Quéren-Hapuque, e foram as mais formosas mulheres em
todo o Oriente.
Depois de tudo o que ocorreu, Jó viveu 140 anos, e viu até sua quarta geração (Jó 42:16). Muito
abençoado por Deus, Jó morreu com uma idade muito avançada. Tiago, em sua epístola, se
referiu a Jó como um exemplo de paciência em suportar as aflições que lhe atingiram (Tg 5:11).
Qual a Origem do Diabo? Quando Foi a Queda de Satanás?

 Daniel Conegero
A Bíblia não fornece informações diretas sobre a origem do diabo. Tudo o que sabemos é que
Deus é o único criador de todas as coisas (Gênesis 1). Isso significa que o diabo é uma criatura
de Deus. Consequentemente, também não há detalhes sobre como e quando aconteceu a queda
de Satanás.
O fato de a Bíblia não explicar a origem do diabo está relacionado ao fato de que ela não
descreve detalhadamente a criação dos seres celestiais. Eles foram criados por Deus, mas as
Escrituras não esclarecem quando isso exatamente ocorreu.
Deus criou o diabo mau?
A Bíblia diz que Deus é santo e justo, e dele não pode provir o mal moral (Tiago 1:13). Portanto,
isso significa que apesar de a Bíblia não relatar a origem do diabo, ela nos indica claramente que
Deus não o criou mau.
Quando alguma passagem bíblica diz que Deus cria o mal, a referência é ao mal temporal, e não
ao mal moral. O mal temporal é o castigo enviado por Deus por causa do pecado. Já o mal moral
é o próprio pecado em si. Se Deus tivesse criado o diabo originalmente corrompido moralmente,
isso faria d’Ele o próprio autor do pecado. Saiba mais sobre como o pecado surgiu.
Além disso, o mal moral é a transgressão da Lei de Deus. Essa Lei é a expressão da natureza e
do caráter divino. Portanto, é impossível que Deus seja o autor do mal filosófico, pois isso
implicaria num ato contrário à sua própria natureza. Isso significa que devemos entender o mal
moral como aquilo que é oposto a Deus. Quando certas criaturas de Deus resolveram
desobedecê-lo, esse mal se tornou experiencial.
Logo, a melhor interpretação é a de que o diabo foi criado por Deus como uma criatura boa, assim
como os demais anjos. Sendo um ser racional, ele recebeu de Deus a capacidade de tomar
decisões morais e ser responsável por elas. Então por conta própria, fazendo uso de seu livre-
arbítrio, num determinado momento ele resolveu transgredir a Lei de Deus.
Quando ocorreu a queda de Satanás?
A Bíblia também não informa quando ocorreu a queda de Satanás. Sabemos apenas que quando
Adão e Eva pecaram, Satanás agiu como o tentador. Isso indica que naquele momento ele já
havia pecado contra Deus (Gênesis 3). A antiguidade dessa rebelião de Satanás está de acordo
com a informação do próprio Jesus, ao dizer que o diabo “foi homicida desde o princípio, e não se
firmou na verdade” (João 8:44).
A história da queda de Satanás conforme é conhecida pelos cristãos, é muito mais fundamentada
em narrativas inventadas do imaginário popular, do que na própria Bíblia. Essas narrativas
ganharam projeção especialmente a partir do século 4 d.C. e permanecem até hoje.
A informação bíblica mais clara acerca da queda de Satanás foi dada pelo apóstolo Paulo. Ele
simplesmente informa que Satanás caiu por causa de seu orgulho (1 Timóteo 3:6). Mas o apóstolo
não desenvolve essa ideia e nem explica sua afirmação.
O livro do Apocalipse se refere a uma expulsão de Satanás e seus anjos do céu (Apocalipse 12:7-
12). Mas esse texto não se refere à queda inicial de Satanás, e sim à sua derrota esmagadora por
ocasião da morte e ressurreição de Cristo (cf. João 12:31; Colossenses 2:15). Nesse momento ele
caiu de sua posição de acusador dos filhos de Deus (Apocalipse 12:10; cf. Jó 1).
A Bíblia fala do diabo quando ele era um anjo de Deus?
Desde muito cedo na História da Igreja, alguns intérpretes começaram a reconhecer em alguns
textos bíblicos uma possível referência à origem e queda do diabo. Os três principais textos nesse
sentido são: Isaías 14:4; Ezequiel 28:13-15 e Lucas 10:8. Vejamos rapidamente cada um destes
textos.
Isaías 14:4 descreve a queda de Satanás?
Isaías 14:4 é uma profecia de Isaías contra o rei da Babilônia (Isaías 14:4). Em sua profecia, o
profeta aplicou ao rei orgulhoso o título de “estrela da alva”, e falou sobre como ele “caiu do céu”.
A expressão hebraica para “estrela da alva” foi traduzida pela palavra latina lucifer, que significa
“portador da luz”. Como essa antiga interpretação vê nessa passagem uma referência oculta a
Satanás, então daí veio a tradição popular de atribuir ao diabo o nome de Lúcifer. Leia mais
sobre o significado de Lúcifer.
Mas essa aplicação é completamente errada. Lúcifer é um substantivo masculino utilizado na
tradução da Bíblia em latim. Esse mesmo substantivo é aplicado na tradução do Novo Testamento
para se referir a Cristo (cf. 2 Pedro 2:19). Considerando o contexto da profecia de Isaías e o estilo
literário de seu texto, não há qualquer evidência realmente irrefutável de que o profeta se refere
veladamente à queda de Satanás.
É claro que a Bíblia diz que Satanás é a influência por detrás do poder corrupto e ganancioso do
homem (Daniel 10:13,20). Mas nessa passagem de Isaías é bem provável que as palavras
poéticas de escárnio sejam dirigidas diretamente ao governante humano.
Os estudiosos têm se divido sobre a identificação desse rei. Na época do profeta Isaías a
Babilônia era uma cidade importante, mas ainda não havia se tornado uma superpotência. O
império dominante da época era o assírio, que inclusive regia sobre a Babilônia. Somente mais
tarde a própria Babilônia acabou derrotando os assírios e se tornando o maior império que o
mundo havia visto até então, especialmente sob o governo do rei Nabucodonosor.
Então alguns estudiosos acreditam que Isaías estava profetizando exatamente a ascensão e
queda da Babilônia como império. Mas o contexto parece favorecer muito mais a interpretação de
que Isaías profetizou a queda do próprio Império Assírio. Não há qualquer contradição no fato de
ele se referir ao rei assírio como rei da Babilônia. Naquele tempo a Babilônia fazia parte das
possessões assírias, e os reis assírios também eram chamados de reis da Babilônia.
Ezequiel 28:13-15 fala da origem do diabo?
Ezequiel 28:13-15 traz uma profecia e lamentação contra a cidade e o rei de Tiro. Nesse texto
alguns intérpretes também enxergam uma possível referência à origem do diabo. Isso porque o
profeta fala do governante de Tiro como um sábio querubim ungido. Mas possivelmente o texto de
Ezequiel segue o mesmo princípio do texto de Isaías.
O profeta Ezequiel usa um recurso literário para ilustrar toda a importância da cidade de Tiro e a
soberba de seu rei. Esse estilo literário é muito utilizado em textos proféticos. No próprio livro de
Ezequiel essa característica se repete. No capítulo 32, por exemplo, o Egito é descrito e
comparado aos elementos do Éden.
Analisando à luz de seus contextos imediato e amplo, parece que nos textos de Isaías e Ezequiel,
os profetas dirigem suas palavras proféticas aos monarcas e seus reinos. Eles falam de toda
importância que esses reis conseguiram naquele momento da História. Deus fez com que eles
prosperassem, mas quando a soberba cresceu em seus corações, o próprio Deus os abateu. O
orgulho humano pode alcançar proporções gigantescas, mas ainda assim é humano, e não
angélico.
Lucas 10:18 fala sobre Satanás caindo do céu?
O capítulo 10 do Evangelho de Lucas descreve uma missão em que Jesus enviou setenta
discípulos para pregar o Evangelho. Conforme a mensagem de Cristo era pregada, enfermos
eram curados e demônios expulsos.
Esses discípulos retornaram comemorando os resultados obtidos na missão (Lucas 10:17). Foi
então que Jesus disse a eles que “via Satanás, como raio, cair do céu”. Em outras palavras, Jesus
disse que naqueles eventos era possível contemplar Satanás sendo derrotado. Era o reino de
Deus sendo estabelecido e impondo uma derrota aos propósitos do diabo.
A cada enfermo curado, a cada pessoa que ouvia as boas novas da salvação e a cada demônio
expulso, o reino do mal ruía. Portanto, de acordo com esse contexto, não faria qualquer sentido
Jesus fazer uma referência à origem do diabo e sua queda inicial.
A origem do diabo não é importante?
Por algum motivo, Deus, em sua sabedoria, não considerou importante nos revelar detalhes sobre
a origem do diabo e sua consequente queda. É interessante notar que o livro de Gênesis, onde os
atos criativos de Deus são descritos, simplesmente não faz qualquer referência sobre esse
assunto.
Mas se por um lado a Bíblia se cala sobre a origem do diabo, por outro ela nos informa
perfeitamente o seu destino final. Se não temos os detalhes sobre como foi a queda de Satanás
no princípio, temos detalhes suficientes sobre como será sua condenação certa na consumação
dos séculos. Quando Cristo voltar, Ele trará a plenitude de seu reino, e Satanás e seus agentes
serão lançados no lago de fogo. Ali eles serão atormentados por toda a eternidade (Apocalipse
20:10).
A Queda do Homem

 Daniel Conegero
A Queda do Homem é o momento registrado na Bíblia Sagrada em que Adão e Eva
desobedeceram a Deus. Esse terrível ato do primeiro casal também é chamado de Pecado
Original, visto que foi nesse momento que o pecado contaminou a humanidade e causou a
separação entre Deus e o homem.
Entender o que é a Queda do Homem é algo fundamental para a compreensão do restante das
Escrituras, sobretudo o plano de redenção com o sacrifício de Jesus no Calvário. Além disso, a a
Queda do Homem também explica perfeitamente a situação atual em que a humanidade se
encontra.
A Queda do Homem foi um evento histórico?
A Queda do Homem foi um evento histórico, e não existe espaço na Bíblia para outro tipo de
interpretação. Algumas pessoas insistem em tentar interpretar a história da Queda do Homem
como uma alegoria ou um mito. Mas a Bíblia é clara ao afirmar a historicidade desse evento.
Qualquer interpretação que desconsidera essa realidade contradiz as Escrituras.
Para os que defendem uma conciliação entre o evolucionismo e o criacionismo, a Queda do
Homem foi o momento do “despertar da autoconsciência” e da personalidade do homem. Mas
esta é uma interpretação totalmente contrária ao relato bíblico dos primeiros capítulos do livro de
Gênesis.
A verdadeira doutrina bíblica é a que Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança. O
homem foi dotado de intelecto, capacidade de governo, tomada de decisão e responsabilidade
moral. Se tirarmos ou ignorarmos a historicidade da Queda do Homem, então será impossível
interpretar a Bíblia.
A Queda do Homem no Novo Testamento
O Novo Testamento reafirma a posição histórica deste evento e detalha a relação entre a queda
de Adão com os acontecimentos atuais. O apóstolo Paulo faz uma explanação tão especifica
entre Adão e Cristo que, se alguém interpretar Adão como um mito, então fatalmente Cristo
também deverá ser interpretado como um mito (Rm 5:12; 1Co 15; 1Tm 2:14).
Também é no Novo Testamento que vemos que o primeiro Adão introduziu o pecado no mundo.
Mas Cristo, o segundo Adão, veio para reverter as obras do primeiro Adão, provendo uma solução
para o pecado.
Como aconteceu a Queda do Homem?
A Bíblia nos diz claramente como ocorreu a Queda do Homem. Satanás utilizou a serpente para
se aproximar de Eva. Ao invés de confrontar Adão, a serpente então tentou a mulher. É
interessante notar no relato bíblico que Eva havia recebido apenas indiretamente o mandamento
de Deus em relação a árvore do conhecimento.
O relato bíblico descreve em detalhes o processo do pecado da seguinte forma:
Primeiramente veio a sugestão para duvidar da Palavra de Deus.
Depois aconteceu o famoso “isto não tem problema”, onde a Palavra de Deus foi desacreditada.
Como consequência, a autossuficiência tomou o coração do homem, resultando, por último, na
desobediência.
Perceba que a sequencia da tentação foi basicamente a mesma de qualquer pecado que é
cometido atualmente. Sob esse aspecto, é fácil perceber que o pecado já havia dominado Eva
antes mesmo de ela comer o fruto. Ao estender as mãos em direção ao fruto, com a intenção que
havia em seu coração, Eva, naquele momento, já era uma pecadora. Ao comer o fruto, o pecado
foi apenas consumado.
Eva não resistiu a tentação da serpente. Ela comeu do fruto da árvore do conhecimento. Por fim,
Eva também deu do fruto a seu marido. Logo os olhos de Adão e Eva foram abertos e eles se
esconderam, pois descobriram que não estavam vestidos.
Questionado por Deus, o comportamento do primeiro casal caracterizou o típico comportamento
do pecador. Adão tentou colocar a culpa no próprio Deus, e, consequentemente, na mulher. Ele
disse: “foi a mulher que Tu me destes”. Eva, por sua vez, jogou a culpa na serpente. Esse
comportamento ainda continua o mesmo, pois sempre tentamos buscar justificativas para nossos
erros. Precisamos aprender que Deus perdoa pecados e não justificativas.
Qual era o fruto da árvore do conhecimento?
Definitivamente a Bíblia não explica ou específica qual era o fruto da árvore do conhecimento que
Adão e Eva comeram. Mas seja como for, ele é uma ilustração para o conhecimento ilimitado que
o homem desejou adquirir através de sua desobediência.
Popularmente esse fruto passou a ser representado pela maçã. No entanto, isso é apenas um
simbolismo amplamente usado em encenações sobre a Queda do Homem, a qual exigem um
fruto para atuação. De fato a Bíblia não dá nenhum indício de qual fruto esteve envolvido na
Queda do Homem.

A sentença após a Queda do Homem


Logo após a Queda, Adão e Eva foram tomados por um sentimento de culpa. Rapidamente eles
foram avisados da separação que o pecado causou entre eles e Deus. O próprio ato imediato de o
casal ter se escondido, aponta para essa realidade. Ao se encontrarem com Deus, Adão e Eva
receberam a seguinte sentença:
A morte seria uma realidade a partir daquele momento.
Haveria dores tanto para o homem quanto para mulher (principalmente no parto).
O suor seria constante na sobrevivência humana.
Eles seriam banidos da presença de Deus.
É importante entender que Deus criou o homem como um ser pessoal, moral e com capacidade
intelectual e de discernimento. Isto significa que ao mesmo tempo em que o homem era inocente
por conta de sua natureza que não havia sido contaminada pelo pecado, ele também era capaz
de fazer escolhas livremente. Ele estava apto a julgar o que era bom e o que era mau.
A diferença é que Adão e Eva conheciam o mal de uma maneira bem diferente antes da Queda.
Podemos dizer que eles conheciam o mal como algo que fosse contrário a Deus e Suas ordens.
Era um tipo de conhecimento por contraste. Qualquer coisa ou situação que se encaixasse nessa
descrição, seria o mal. Após o Pecado Original, o homem passou a conhecer o mal de forma
experimental.
Ainda sobre a sentença dada por Deus em decorrência da Queda do Homem, é interessante
destacarmos alguns pontos conforme veremos a seguir.
A sentença sobre a mulher após a Queda do Homem
Deus disse que multiplicaria as dores de parto da mulher. Isto significa que sem o pecado o parto
seria um processo natural e sem complicações. Algumas pessoas tentam sugerir que, pelo fato de
Deus ter falado que aumentaria as dores de parto, Eva talvez tivesse tido alguma experiência de
parto anterior à Queda do Homem. Mas este tipo de interpretação é uma heresia e contradiz
completamente as Escrituras. A doutrina bíblica aponta para a verdade de que Adão e Eva não
tiveram filhos antes do pecado.
Deus também falou que a mulher seria dominada pelo homem. Todavia, devemos perceber que
antes mesmo da Queda a mulher já era auxiliadora do homem. Antes do pecado Adão já era o
líder natural. Ele foi criado primeiro e designado por Deus para essa função.
Logo, é preciso entender que quando Deus disse que a mulher seria “dominada pelo homem”,
aquela submissão que antes era natural agora seria um tipo de obrigação, um castigo; também
pelo fato de que a liderança do homem não seria mais a mesma. Antes da Queda o homem
exercia uma liderança perfeita, santa e sem maldade. Já depois do pecado, essa liderança
foi corrompida com o machismo, a violência, o autoritarismo, a corrupção etc. Em outras palavras,
após a Queda do Homem o que era “liderança” passou a ser “domínio”.
A sentença sobre o homem e a natureza após a Queda
Por causa do pecado de Adão, líder da criação de Deus, a terra foi feita maldita e a natureza se
tornou hostil ao homem. A Queda também é a origem dos desastres naturais e de qualquer
distúrbios da natureza. Aqui também entendemos como a grande maioria dos animais não aceita
a presença do homem. Isso é muito triste, pois aquele que antes deu nome a cada um dos
animais, após a Queda passou a ser identificado por eles como um inimigo.
O homem também foi sentenciado a se sustentar com o suor de seu trabalho. Ao contrário do que
alguns pensam, antes da Queda o homem já desempenhava um trabalho. No entanto as tarefas já
existentes antes do pecado seriam transformadas em algo penoso e muitas vezes desagradável.
O trabalhado que antes era algo natural e satisfatório, passou a ser um castigo. Além disso, as
condições também mudaram, pois a terra passou a não produzir mais com tanta facilidade. Em
vez de dar apenas bons frutos, a terra começou a produzir espinhos e cardos para dificultar o
trabalho e o sustento do homem. Por fim, após a Queda do Homem Deus também avisou Adão
que a partir daquele momento ele conheceria algo até então desconhecido: a morte.
A sentença sobre a serpente após a Queda do Homem
Sabemos que a serpente, um disfarce para Satanás no momento da Queda do Homem, também
foi penalizada por Deus. A sentença mais significativa e emblemática foi a inimizade entre a
semente da serpente e a semente da mulher. Isso significa que a partir da Queda do Homem, a
humanidade está dividida entre aqueles que são fiéis e amam a Deus, e aqueles que são
conduzidos à rebelião contra Deus e amam a si mesmos.
Essa sentença engloba tanto o sentido coletivo, conforme foi citado acima, quanto o sentido
individual, se referindo ao descendente da mulher que esmaga a cabeça da serpente. Isto foi
cumprido na batalha decisiva ganha por Jesus na cruz ao aplicar o golpe fatal sobre Satanás.
Realmente existe alguma dificuldade em se interpretar a sentença sobre a serpente como espécie
que serviu de personificação para Satanás na ocasião da Queda do Homem. Isto acontece por
conta do duplo sentido com referência ao próprio Satanás.
Alguns intérpretes consideram que as expressões “rastejaras sobre o teu ventre” e “comerás pó
todos os dias” são aplicadas diretamente a serpente; embora se admita que o pó é um símbolo de
humilhação infame e que, nesse caso, também faz referência a humilhação de Satanás.
Com base nessas expressões, os estudiosos tentam especular como era a serpente,
como espécie, antes do castigo. Alguns acreditam que ela possuía pernas, enquanto outros
defendem que ela tinha asas. Por último, há quem defenda que ela sempre rastejou, mas que
após a Queda do Homem sua forma de se locomover se tornou um sinal de humilhação. Tais
teorias são apenas especulações, pois a Bíblia não esclarece esse detalhe.
A Queda do homem e os efeitos para toda humanidade
No último versículo do capítulo 3 de Gênesis, lemos que Adão e Eva foram expulsos do jardim do
Éden. Eles também foram impedidos de se aproximarem novamente da árvore da vida. A partir
dali, as consequências da desobediência não ficariam isoladas ao primeiro casal. A sentença
proferida por Deus atingiu toda a humanidade! O pecado se tornou universal, e todos foram
separados de Deus.
Na Queda do Homem com Adão, todos pecam. O apóstolo Paulo escreveu que “todos morrem em
Adão” (1 Coríntios 15:22; Romanos 5:12-19). Isto significa que o homem já nasce contaminado
pelo pecado. É exatamente esse conceito que alguns estudiosos chamam de “Pecado Original”,
porque é derivado da raiz da humanidade. Todo indivíduo já nasce com ele, e,
consequentemente, esse primeiro pecado é a origem de todos os outros pecados cometidos pelos
homens. O salmista também observou isto:
E não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não se achará justo nenhum vivente.
(Salmos 143:2)
Quando assumimos a verdadeira doutrina bíblica sobre a Queda do Homem, percebemos então
que todo homem é culpado e merecedor do castigo divino. A punição pelo pecado não é uma
injustiça por parte de Deus, ao contrário, é justiça. Em outras palavras, a injustiça do homem é
causa da justiça de Deus.
Algumas pessoas questionam se isso não parece injusto, já que toda a humanidade herdou o
pecado de um só homem. Sobre isto, é preciso perceber que Adão foi criado como líder e
representante de toda a raça humana. Ele não possuía pecado, foi criado pessoalmente por Deus
e seu código genético era perfeito. Com certeza ele era o mais bem preparado entre todos os
homens para representar a humanidade.
Adão tinha tudo o que precisava, mas não foi o suficiente para ele. O triste nessa história é que
nenhum de nós, no lugar dele, teria feito melhor.
A Queda e a depravação humana
Tudo isto significa que o homem, criado à imagem e semelhança de Deus, com capacidade de
governo e livre decisão, isto é, apto ao livre arbítrio, agora se encontra incapaz de decidir pelo
bem em relação a Deus, pois não possui mais a bondade original com a qual foi criado. A imagem
de Deus foi distorcida no pecador. Com seu entendimento cegado, o homem é controlado em
todos os aspectos pela perversidade. Naturalmente, agora ele vive em completa rebelião contra
Deus.
Essa condição não significa que o homem é tão mal quanto possa ser; nem mesmo que o homem
seja incapaz de pensar ou realizar alguma coisa boa. A imagem de Deus no homem não foi
completamente perdida. Além disso, o próprio Deus, por sua infinita misericórdia, derrama sobre
todos a Graça Comum.
O que aconteceu foi que, após a Queda, o homem passou a ser portador de uma natureza
corrupta que impossibilita a realização de qualquer bem espiritual. Isto significa que em relação a
Deus, o homem, por si só, é incapaz de fazer algo bom.
Este ponto enfatiza a verdade bíblica de que se não for pela Graça Salvadora, o homem nunca
escolherá Deus. A única maneira de o homem seguir os mandamentos do Senhor e ter uma
conduta de vida que agrada a Deus, é se o próprio Deus intervir.
Os efeitos da Queda do Homem também atingiram a terra física e toda a criação (Gênesis 3:17;
Romanos 8:20-22). O homem, a coroa da criação, caiu, e sua desobediência trouxe
consequências terríveis para toda a terra. Tais consequências só serão aniquiladas no novo céu e
nova terra.
A Queda do Homem e a providência Divina
Por fim, diante desse evento tão triste e em meio às sentenças de Deus em relação à
desobediência do homem, temos notícias de que a Queda não pegou Deus de surpresa. O próprio
Deus revelou no episódio da Queda do Homem que ainda havia esperança; uma esperança
decretada por Ele ainda antes da fundação do mundo (Efésios 1:4) e anunciada em Gênesis 3:15.
Ali, o Evangelho foi anunciado pela primeira vez, apontando para o mistério revelado plenamente
no Novo Testamento, onde a antiga serpente feriu o calcanhar do Filho de Deus, porém teve sua
cabeça esmagada, sendo derrotada de forma irreversível.
Sobre isto, o apóstolo Pedro escreveu que a redenção veio pelo “precioso sangue de Cristo, como
de um cordeiro imaculado e incontaminado; o qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido,
ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós” (1
Pedro 1:19,20).
Agora fica mais fácil percebermos que no versículo 24 do capítulo 3 de Gênesis, a expulsão do
homem do jardim e a proibição à árvore da vida foi, na verdade, uma benção para a humanidade.
Isto porque sabemos que quando nossa vida terrena chegar ao fim, então, finalmente, mais uma
vez estaremos com Deus. Portanto, nesse aspecto a morte é uma providência Divina.
As doutrinas sobre a Queda do Homem
Ao longo da história do cristianismo, ensinos contrários à verdade bíblica de que o pecado atingiu
todas as áreas do homem, foram introduzidos na Igreja.
Geralmente tais doutrinas possuem raízes nos ensinos de Pelágio, que, de forma resumida,
ensinava que o pecado de Adão atingiu somente a ele mesmo. Sendo assim, as demais pessoas
pecam devido aos exemplos ruins. Em outras palavras, o Pelagianismo ensina que todos nascem
sem pecado e aprendem a pecar por convivência.
Essa doutrina adquiriu novas roupagens e sofreu muitas modificações no decorrer dos tempos.
Um exemplo disto é o Semipelagianismo, que infelizmente é defendido por muitos crentes que
não conhecem as Escrituras. Todavia, todas as ramificações dessa doutrina herética basicamente
afirmam que o homem, mesmo sem ser regenerado, ainda possui capacidade de realizar obras ou
escolhas que o façam alcançar a salvação.
Depois da Queda do Homem, a Bíblia ensina muito claramente que o que se segue é um estado
de depravação total da humanidade (João 5:42; Romanos 3:10-12, 23; 7:18,23; Efésios 4:18; 2
Timóteo 3:2-4; Tito 1:15;). Assim, não há qualquer chance de justificação à parte dos méritos de
Cristo.
Qual a Origem do Pecado? Quando o Pecado Surgiu?

 Daniel Conegero
A Bíblia não explica em detalhes a origem do pecado, mas nos informa como ele entrou na
humanidade e nos fornece alguns detalhes importantes acerca de sua existência antes de atingir
o homem. Quando Adão e Eva pecaram no Éden, o pecado já existia, ou seja, a Queda do
homem não marcou o início da existência do pecado no Universo, mas apenas sua entrada no
mundo físico com sua origem na humanidade.
Deus não é o autor do pecado
Obviamente que quando se fala na origem do pecado, naturalmente se está discutindo a própria
origem do mal filosófico, isto é, o mal moral. Logo, a primeira coisa que precisamos considerar
quando falamos sobre a origem do pecado é que Deus não é o seu autor. A Bíblia é muito clara
ao afirmar que Deus não tenta a ninguém para fazer o mal (Tiago 1:13).
Deus é plenamente santo e justo (Deuteronômio 32:4; Salmo 92:16; Isaías 6:3), e com toda sua
retidão Ele odeia o pecado (Deuteronômio 25:16; Salmos 5:4; 11:5; Zacarias 8:17; Lucas 16:15).
No livro de Jó lemos a declaração: “Longe de Deus esteja o praticar a maldade e do Todo-
Poderoso o cometer a perversidade!” (Jó 34:10).
É verdade que no Antigo Testamento encontramos passagens que parecem atribuir o mal a Deus,
como por exemplo, quando o próprio Deus diz através da profecia do profeta Isaías: “Eu formo a
luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas”  (Isaías
45:7).
No entanto, é preciso observar que tais passagens não se referem ao mal moral que implica no
pecado, mas ao mal temporal, isto é, calamidades e desgraças físicas, como por exemplo, o
castigo que Deus enviava contra o povo de Israel devido ao pecado que cometiam. O cativeiro na
Babilônia é um exemplo disso.
Também é verdade que a origem do pecado não pegou Deus de surpresa. Ainda na eternidade,
antes de criar todas as coisas, Ele já sabia que suas criaturas lhe desobedeceriam. Assim, sob
esse aspecto, o decreto eterno de Deus evidentemente considerou a origem do pecado entre suas
criaturas, mas é preciso sempre lembrar que a raiz do pecado é o orgulho e a rebelião contra o
próprio Deus, o que torna completamente ilógica qualquer hipótese que atribua a Deus a autoria
ou a responsabilidade pelo pecado.
Além disso, diante das afirmações explicitas das Escrituras acerca da perfeita santidade e justiça
de Deus, afirmar que Deus é o autor do pecado evidentemente implica numa blasfêmia contra sua
natureza e seu caráter.
A origem do pecado e os anjos
Diante da verdade bíblica de que o mal não pode proceder de Deus, naturalmente devemos
concluir que tudo o que Ele criou era inicialmente bom (Gênesis 1:31). Assim, todos os anjos
também foram criados bons, mas algo aconteceu entre eles que fez com que muitos se
rebelassem contra o Criador.
A Bíblia não explica quando ocorreu essa queda entre os anjos, apenas nos informa que ela
realmente ocorreu e que isso se deu antes da Queda do homem, visto que o pecado do primeiro
casal foi motivado por um tentador (Gênesis 3).
Alguns estudiosos entendem que a profecia do profeta Isaías contra a Babilônia e a profecia do
profeta Ezequiel contra o governante de Tiro, são indicativos da origem do pecado e da
consequente queda angelical, mas isso é difícil saber, pois ambas as passagens não são tão
claras nesse aspecto.
No entanto, o Novo Testamento lança luz sobre essa questão. O apóstolo Paulo, escrevendo a
Timóteo, indica que o orgulho de Satanás o precipitou em condenação (1 Timóteo 3:6).
Obviamente sua soberba foi em tentar ser como Deus, e com a mesma oferta ele seduziu o
primeiro casal (Gênesis 3:5).
O próprio Jesus afirmou que Satanás “foi homicida desde o princípio, não se firmou na verdade,
porque não há verdade nele” (João 8:44). Judas também escreve acerca dos anjos que “não
guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu próprio domicilio” (Judas 6), e o
apóstolo Pedro fala sobre o castigo de Deus sobre os anjos que pecaram (2 Pedro 2:4).

A origem do pecado na humanidade


A Bíblia é bastante clara com relação a origem do pecado na humanidade. O capítulo 3 do livro de
Gênesis descreve em detalhes como se deu a Queda do homem. Adão e Eva sucumbiram à
tentação, e se colocaram em oposição à Deus.
Eles cobiçaram ser como Deus, se rebelaram contra sua autoridade, desacreditaram de sua
palavra, desobedeceram a sua ordem, transgrediram sua lei e tentaram furtar sua glória. Quando
comeram do fruto da árvore do conhecimento eles concretizaram sua condição de inimigos de
Deus e merecedores de sua ira.
Como Adão estava na posição de pai, representante e chefe da raça humana, seu pecado lançou
toda a humanidade nesse estado de inimizade contra Deus, ou seja, o efeito e a culpa do pecado
de Adão atingiram a todos os seus descendentes, isto é, todos pecam em Adão.
É por isso que o apóstolo Paulo escreve dizendo que “assim como por um homem entrou o
pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens,
porque todos pecaram” (Romanos 5:12).
Como resultado da origem do pecado na humanidade, o homem e toda criação terrena ficou
debaixo do juízo de Deus. A terra foi amaldiçoada (Gênesis 3:17), e o homem foi condenado à
morte (Gênesis 2:17). Essa morte implica tanto a morte física quanto, principalmente, a morte
espiritual que resulta na morte eterna (Apocalipse 20:14).
O primeiro casal foi criado por Deus completamente bom, com toda sua capacidade moral na mais
pura integridade, à imagem e semelhança deDeus, porém utilizou seu arbítrio para ceder a
tentação, e sua concupiscência em querer usurpar para si os atributos divinos, deu origem ao
pecado na humanidade.
A partir dali, o pecado deformou a imagem de Deus impressa no homem, corrompendo todas as
suas faculdades, de modo que toda a humanidade está inclinada ao mal, ou seja, devido a sua
completa depravação, por sua própria natureza, o homem é incapaz de fazer qualquer bem em
relação a Deus (Romanos 3).
A boa notícia é que da mesma forma que a Bíblia afirma a origem do pecado na humanidade, ela
também afirma que o próprio Deus planejou salvar o homem do pecado, mediante a obra
redentora de Jesus Cristo, que mesmo sendo perfeito homem, assim como nós, não foi achado
nele pecado algum, mas Ele ocupou o lugar de pecadores, levando sobre si todas as suas
iniquidades, fazendo a propiciação dos pecados de seu povo, e provendo a reconciliação e o
perdão dos redimidos diante de Deus (Hebreus 2:17).
Também vale lembrar que se as Escrituras não fornecem tantos detalhes sobre a origem do
pecado antes de entrar na humanidade, elas nos informam de forma extremamente clara acerca
do fim definitivo do pecado, quando Deus fará nova todas as coisas, e seu povo nunca mais
estará sujeito a qualquer tipo de tentação (Apocalipse 21).
O Que é Livre-Arbítrio? A Bíblia Diz Que Somos Livres?

 Daniel Conegero
Basicamente o livre-arbítrio é um conceito que afirma a liberdade absoluta da vontade do homem.
A palavra “livre-arbítrio” não aparece na Bíblia, mas é tema de intensos debates entre os cristãos.
Alguns defendem que o homem tem livre-arbítrio, outros afirmam que ele não tem.
A discussão sobre o livre-arbítrio não se resume apenas ao Cristianismo, na verdade nem teve
origem nele. O problema da absoluta liberdade da vontade é discutido principalmente pela
teologia, filosofia, psicologia e ciência.
O que é o livre-arbítrio
De forma bem resumida, podemos dizer que o livre-arbítrio é a capacidade de decisão sem
qualquer tipo de influência ou condicionamento. Como foi dito, o livro-arbítrio é a expressão de
liberdade da vontade humana em seu sentido mais absoluto.
A palavra “arbítrio” transmite o sentido de “decisão” ou “julgamento”. Um exemplo raso do
significado de livre-arbítrio pode ser percebido na ação de um juiz esportivo. Ele não pode pender
seu arbítrio para qualquer um dos lados. Ele precisa ser completamente neutro. É por isto que um
juiz não pode apitar uma partida da seleção de seu país, pois acredita-se que seu arbítrio estaria
prejudicado.
Muitos ensaios teológicos, filosóficos e científicos já foram desenvolvidos para tentar lidar com
esse problema. Na filosofia destacam-se as teorias deterministas, indeterministas e
compatibilistas.
Boa parte dos filósofos chega a conclusão sobre a inexistência do livre-arbítrio, pelo menos em
seu sentido mais original. Uma parte importante da academia cientifica também adota a mesma
conclusão. Há uma série de fatores que influenciam a vontade humana, como: fatores genéticos,
químicos, físicos, geográficos, ambientais, culturais, educacionais etc. Segundo eles, em muitas
vezes essa influência é irresistível.
O livre-arbítrio na teologia cristã
Na teologia, a discussão sobre a existência do livre arbítrio vem desde os primeiros anos da
História da Igreja. Dois embates ficaram muito conhecidos: entre Pelágio e Agostinho; e entre
Erasmo de Roterdã e Martinho Lutero.
Dentre todas as linhas teológicas, o Pelagianismo é aquela que defende a existência do livre-
arbítrio em seu sentido pleno. Pelágio negou o pecado original, e afirmou que todos os homens
nascem num estado de completa inocência. Assim, sua vontade é igualmente livre tanto para o
bem quanto para o mal. Saiba o que é o pecado original.
A heresia do Pelagianismo implica que a salvação é possível mesmo sem a graça de Deus. Já o
Semipelagianismo assume que a vontade do homem depois da Queda de Adão se tornou
enfraquecida. Contudo, ainda ela é capaz de fazer escolhas e cooperar com a graça divina. Saiba
mais sobre a doutrina do Semipelagianismo.
O Arminianismo, pelo menos em sua forma clássica, nega o livre-arbítrio após a Queda. Tanto
para Jacó Armínio como para arminianos como John Wesley, o livre-arbítrio do homem caído está
destruído. A menos que seja assistida pela graça divina, a vontade do homem é livre apenas para
o mal. Claro que esse tipo de Arminianismo difere-se bastante da forma de Arminianismo mais
propagada na atualidade.
O Calvinismo também nega o livre-arbítrio depois da Queda do homem. Essa visão entende que o
homem natural é livre apenas para escolher o mal. Sua vontade é escrava do pecado, e por isso é
incapaz de fazer o bem espiritual e inclinar-se na direção de Deus. Nesse caso, a menos que o
Espírito Santo opere a regeneração no pecador, ele jamais poderá desejar e amar as coisas de
Deus.
O livre-arbítrio na Bíblia
Como já foi dito, a palavra livre-arbítrio não aparece na Bíblia. Todavia, sem dúvida a Bíblia
mostra o homem sendo convidado a fazer escolhas. Isso está de acordo com o que o homem é.
Ele é um ser originalmente criado à imagem e semelhança de Deus, e moralmente responsável
(Gênesis 1:27-31).
Mas por outro lado, a Bíblia também mostra o homem num estado de completa inimizade para
com Deus. Isto aconteceu depois que Adão transgrediu a lei de Deus. Antes de desobedecer à
ordem do Senhor, Adão e Eva desfrutavam de um estado de completa inocência. Isto significa que
eles eram capazes de obedecer à lei de Deus, pois não possuíam sua natureza inclinada ao mal
(Eclesiastes 7:29).
Mas depois que o primeiro casal escolheu transgredir a lei de Deus, a natureza humana tornou-se
corrompida pelo pecado. Adão era o representante da humanidade, e quando ele falhou, toda a
humanidade falhou nele. Isto significa que o homem já nasce em pecado (Salmo 51:5). Negar isto
é negar o ensino bíblico e abraçar a heresia do Pelagianismo.
O resultado é o que podemos ler nas Escrituras. Somos informados de que todos os homens
pecaram e que não há um justo se quer. Segunda a Bíblia, não há ninguém que busque a Deus
(Romanos 3:10-23; cf. Gênesis 6:5). Se o homem tivesse realmente o livre-arbítrio, ele seria
pecador porque pratica o pecado. Mas o ensino bíblico é o de que o homem pratica o pecado
porque ele é pecador. Saiba qual é o significado de pecado na Bíblia.
Um arbítrio escravo
O apóstolo Paulo define que o homem natural é escravo do pecado (Romanos 6; cf. João 8:34).
Ser escravo implica exatamente em ser privado de liberdade. O mesmo apóstolo também deixa
bem claro a deficiência da vontade humana. Ele diz não ser capaz de fazer o bem que prefere,
mas o mal que não quer, esse ele faz (Romanos 7:19). O profeta Jeremias escreve que o coração
do homem é enganoso, mais do que todas as coisas, e também perverso (Jeremias 17:9).
A Bíblia também descarta a possibilidade de o homem, sozinho, ser capaz de uma escolha
espiritualmente boa. O próprio Deus responde que é impossível que o homem mau faça o bem,
assim como também é impossível que o etíope mude a cor de sua pele, e o leopardo as suas
manchas (Jeremias 13:23).
Além disso, a Bíblia não mostra a vontade do homem apenas doente e debilitada, como defende o
Semipelagianismo. As Escrituras afirmam que a vontade do homem caído é morta. Ele está morto
em delitos e pecados. A menos que o homem seja vivificado por Deus, ele não fará o bem
espiritual, nem mesmo se inclinará à vontade santa e justa do Senhor (Efésios 2:1-4).
Temos livre-arbítrio?
Como vimos, essa pergunta só poderá ser respondida desde que seja definido o que se entende
sobre livre-arbítrio. Se livre-arbítrio for definido como sendo uma capacidade de escolher aquilo
que sua natureza lhe possibilita escolher, então sim, o homem tem livre-arbítrio.
Porém, se livre-arbítrio for definido no seu sentido técnico, implicando uma absoluta autonomia da
vontade humana, então não, o homem não tem livre-arbítrio.
A questão é que quando alguém escuta que o homem não tem livre-arbítrio, isto parece soar
estranho e contraditório, afinal, fazemos escolhas todos os dias. Além disso, logo as pessoas
pensam que negar o livre-arbítrio é o mesmo que afirmar que somos robôs programados para
fazer determinadas coisas.
Claro que isto não é verdade. Nós tomamos decisões, fazemos escolhas e somos
moralmente responsáveis por elas. Isso indica que as escolhas que fazemos são realmente
nossas escolhas. Porém, isso não significa que nossa vontade é completamente livre de qualquer
influência ou que não conheça limites. Aqui é importante dizer que não estamos resumindo essa
questão às escolhas do nosso cotidiano. Não estamos falando de escolher a cor de uma camisa
ou o sabor de um sorvete. Estamos falando da capacidade de escolher livremente entre o bem
espiritual e o mal moral.
Livre-arbítrio e livre-agência
A teologia explica isso no conceito de livre-agencia. A livre-agencia significa que somos agentes
livres de acordo com nossa natureza. Em outras palavras, somos plenamente livres dentro dos
limites de liberdade que possuímos. Assim, nós escolhemos, decidimos e fazemos.
Por exemplo, antes da Queda, como agente livre, Adão podia escolher entre o bem e o mal, pois
tinha o livre-arbítrio. Depois da Queda, com sua natureza corrompida, o homem natural ainda faz
escolhas, mas suas escolhas são inclinadas ao mal. Ele não é capaz de escolher o bem porque
sua natureza está limitada nesse sentido. Ele não tem mais o livre-arbítrio, mas ainda é livre-
agente. Cada vez que ele toma uma ação, tal ação é livre de acordo com a vontade de sua
natureza.
O livre-arbítrio e o cristão
Isso explica o porquê da necessidade do novo nascimento. É no novo nascimento (ou
regeneração) que o Espírito Santo muda a inclinação do nosso coração. Ele nos faz novas
criaturas, e nos capacita a escolher aquilo que é espiritualmente bom. A imagem de Deus que foi
desfigurada pelo pecado, através da ação do Espírito Santo começa a ser reconstruída. Dia após
dia vamos sendo moldados à semelhança de Cristo.
Alguns cristãos acreditam que após a regeneração, o homem passa a ser dotado do livre-arbítrio
novamente. Porém, mesmo depois da regeneração, a Bíblia não dá indícios de que recuperamos
a capacidade de nosso livre-arbítrio.
Se isso fosse verdade, seríamos capazes de escolher nunca mais pecar. Mas a Bíblia diz que
durante toda nossa vida terrena, ainda precisamos lutar contra nossa velha natureza pecaminosa
com o auxílio do Espírito Santo. Esse processo é chamado de santificação, e dura a vida inteira.
Por isto, toda escolha espiritualmente boa que fazemos, apesar de sermos realmente nós que
escolhemos voluntariamente, os méritos não são nossos.
Com relação a nossa vida futura, a Bíblia também não indica a existência do livre-arbítrio, pelo
menos não no sentido de fazer escolhas entre o bem e o mal moral. No novo céu e nova terra, o
mal moral (pecado) não mais existirá. Logo, não teremos o livre-arbítrio de se rebelar contra Deus
na eternidade. É por isto que nossa vida futura será muito superior ao que foi a vida de Adão no
paraíso. Para Adão e Eva no Éden, o mal moral era uma possibilidade real. Para nós no novo céu
e nova terra, essa possibilidade não mais existirá. Porém, ainda seremos livres-agentes.
A irracionalidade do livre-arbítrio
Neste texto não abordamos a questão da providência divina. Aqui nós não adicionamos ao nosso
debate a doutrina sobre a forma com que Deus governa todas as coisas. Trataremos desde tema
num outro texto. Nele, falaremos sobre a soberania de Deus e a responsabilidade humana.
Mas apenas para pontuar essa questão do livre-arbítrio, os cristãos genuínos afirmam a
onisciência de Deus. Tanto calvinistas quanto arminianos concordam que Deus é onisciente e
conhece exaustivamente todas as coisas (passado, presente e futuro).
Portanto, a partir do momento em que se assume que um Ser conhece o futuro, torna-se
logicamente incoerente defender uma ideia de livre-arbítrio pleno. Para Deus, cada acontecimento
do futuro já é um fato consumado. Calvinistas e arminianos podem debater sobre como isto
acontece, mas não podem negar essa verdade.
Isso significa que nada do que Ele conhece pode ser alterado, a menos que Ele esteja errado.
Outra alternativa seria negar que Deus é onisciente, assim como Teísmo Aberto faz. Logo, Deus
deixaria de lado um de seus atributos para tornar o homem realmente livre. Creio que pareça
óbvio que essa doutrina é uma heresia perigosa.
Também é importante que fique claro que este não deve ser um tema que cause divisão entre os
cristãos. Sobre o livre-arbítrio na Bíblia, certamente a melhor posição é ir até onde as Escrituras
nos permitem ir. O homem é livre para fazer suas próprias escolhas, e é responsável por cada
uma delas. Ele realmente escolhe voluntariamente de acordo com sua natureza. Isso acontece de
uma forma que não conflita com a soberania divina. Isso também não significa que sua vontade é
absolutamente livre para escolher entre o bem espiritual e o mal moral.
Na Bíblia temos vários exemplos de homens sendo expostos a uma escolha diante de Deus. No
entanto, não temos nenhum exemplo de alguém que tenha escolhido o bem espiritual unicamente
pela força de sua própria vontade.
Para quem quiser provar a existência do livre-arbítrio em seu sentido pleno, basta escolher nunca
mais pecar. Se conseguir, então além do livre-arbítrio existir, a Bíblia estará errada.
Particularmente, “escolho” ficar com as Escrituras.
 transgredir a Lei de Deus. O Que é a Lei de Deus?

 Daniel Conegero
A lei de Deus pode ser definida como uma expressão de seu caráter justo e santo. Deus criou o
homem para viver sob a sua lei. Isso significa que o homem não foi criado para viver segundo o
seu próprio padrão moral, mas segundo o padrão moral exigido por Deus.
Essa lei moral de Deus é comunicada ao homem de várias formas. Ela está impressa na
consciência do homem, na obra da criação e, especialmente, nas Escrituras. Ninguém pode
alegar desconhecer a lei de Deus, pois em menor ou maior grau, todos recebem conhecimento
sobre sua vontade.
A transgressão da lei de Deus
Logo que criou Adão e Eva, Deus deu instruções específicas sobre como eles deveriam viver.
Eles receberam de Deus informações sobre o que podiam e não podiam fazer. A mensagem era
muito clara: obedecer significaria viver e desobedecer significaria morrer (Gênesis 2:17; 3:3).
Isso não significava uma privação do homem como agente livre, mas uma preservação. Ao
cumprir a lei de Deus, o homem desfrutaria da mais plena alegria e Deus seria glorificado.
O primeiro casal tinha condições de poder cumprir a lei de Deus. Sua vida dependia simplesmente
de sua obediência à lei do Senhor. Eles foram criados absolutamente livres no sentido de poder
fazer escolhas que agradavam a Deus. Mas eles desobedeceram, transgrediram a lei de Deus e
por isso a morte entrou no mundo. A Bíblia chama essa transgressão da lei de Deus de “pecado”.
Adão era o cabeça da raça humana diante de Deus, isto é, ele era o representante da
humanidade. Quando ele quebrou a lei de Deus, toda a humanidade também quebrou com ele.
Quando Adão caiu, toda sua descendência caiu junto com ele. Assim, a natureza humana foi
corrompida pelo pecado. Saiba o que significa pecado na Bíblia.
Aquela capacidade natural de poder obedecer à lei de Deus foi perdida. O coração do homem
passou a ser inclinado ao mal. Por causa do pecado, o homem passou a odiar as coisas de Deus,
e em sentir prazer em ofendê-lo. Por sua própria natureza, ninguém é capaz de fazer o bem
diante de Deus.
A lei de Deus ao longo da História
No decorrer do tempo, Deus foi revelando sua lei de forma especial. Por exemplo, Ele comunicou
sua vontade a Noé e aos patriarcas do povo de Israel. Essa revelação da vontade Deus foi sendo
feita de forma progressiva na História.
Já nos dias de Moisés, Deus deu instruções bastante especificas e detalhadas ao seu povo.
Essas ordenanças foram codificadas, e estavam em harmonia com o estágio da história da
redenção naquele momento. Essa descrição da lei de Deus é chamada também de lei mosaica.
Saiba quem foi Moisés.
A lei mosaica é bastante ampla e complexa, e abrange vários aspectos. Normalmente esses
aspectos são classificados em três tipos na teologia:
Lei Moral: indica o comportamento que Deus exige ao homem, e proíbe aquilo que lhe
desagrada. A lei moral é sintetizada nos Dez Mandamentos.
Lei Cerimonial: se refere a todo sistema religioso praticado no Antigo Testamento (cultos, rituais,
etc.).
Lei Civil: tinha o objetivo de regular a vida em sociedade da nação de Israel (regras sociais e
criminais).
A vigência da lei de Deus
Engana-se quem pensa que a lei de Deus não é mais vigente. Na verdade, são os aspectos
cerimoniais e civis da lei que não são mais aplicados a nós. O aspecto cerimonial da lei regulava o
culto no Antigo Testamento, a adoração no Tabernáculo e no Templo. Já o aspecto civil da lei,
servia para conduzir judicialmente a nação de Israel como o povo de Deus.
Tanto o aspecto cerimonial como o civil apontavam diretamente para Cristo. Eles tinham
propósitos específicos e limitados, de acordo com as circunstâncias da época. Os rituais,
cerimônias, sacrifícios e símbolos, eram temporários e foram cumpridos plenamente em Cristo.
No entanto, o aspecto moral da lei de Deus, que inclusive serviu de fundamento para os aspectos
cerimonial e judicial, continua vigente. O padrão moral exigido por Deus não foi alterado e jamais
será, pois seu caráter é imutável.
Essas ordenanças do Senhor são aplicáveis a todas as pessoas, em todos os lugares e épocas. A
lei moral de Deus está expressa nas Escrituras, ela é sua Palavra que jamais passa. O que era
pecado diante de Deus no tempo do Antigo Testamento continua sendo nos dias de hoje.

As funções da lei
A teologia reformada aponta três funções principais da lei de Deus. Em primeiro lugar, ela revela
a justiça de Deus e aponta a pecaminosidade humana. A lei de Deus realça o pecado do
homem, visto que ela expressa seu padrão moral. Por isso Paulo escreve que quando veio a lei o
pecado aumentou (Romanos 5:20).
Aqui entendemos que o problema não é a lei, mas o pecado. A lei, em si, é boa, pois expressa a
vontade de Deus e revela sua perfeição. Mas por causa do pecado, todos se tornaram
transgressores dessa lei, e por ser uma lei, ela cumpre sua função: condenar o transgressor.
Assim, a lei que foi dada para a vida, se torna ocasião de morte.
Em segundo lugar, a lei cumpre a função de refrear o mal moral. Ao mesmo tempo em que a lei
aponta o erro, ela também traz ameaças de julgamento. Em certo sentido, ela acaba inibindo que
a pecaminosidade do homem se agrave ainda mais. Isso não significa que a lei muda o coração
do homem, pois isto ela é incapaz de fazer. O que a lei faz é coagir o homem, e causar-lhe certo
temor do castigo.
Em terceiro lugar, a lei de Deus serve de orientação e exortação para o cristão. Ela ensina
qual é a vontade de Deus para sua vida, e o adverte acerca do pecado. Assim, capacitado pelo
Espírito Santo, aquele que foi regenerado procura guardar com zelo a lei de Deus (Salmo 19:7-
14).
O cristão guarda a lei de Deus
O cristão verdadeiro não deseja guardar a lei de Deus por obrigação, mas como expressão de sua
gratidão. Deus o salvou, o ressuscitou dos mortos, e agora ele sente prazer em agradá-la. Então
ele se pergunta: “Como agradar a Deus?” Nesse sentido, a própria lei de Deus responde esta
pergunta, e o Espírito Santo faz com que o regenerado compreenda sua resposta.
Uma função que a lei não possui é a de salvar. Ela aponta o pecado, mas não confere ao pecador
o poder de cumprir suas exigências. Como ninguém é capaz de cumpri-la, ninguém pode ser
salvo por ela (Gálatas 2:16). É por isto que a letra mata, mas o Espírito vivifica (2 Coríntios 3:6).
Portanto, a salvação é pela graça, mediante a fé em Jesus Cristo (Efésios 2:8).
Deus aplicou a maldição da lei à pessoa de seu Filho Unigênito. Ele se fez maldito em lugar de
seu povo. Os redimidos são justificados pelos méritos de Cristo, e não por suas boas obras e
obediência à lei de Deus.
Mas como já foi dito, aquele que nasceu de novo agora possui uma nova natureza. Essa nova
natureza deseja e ama as coisas do Senhor. Jesus disse que o amor de seus discípulos por Ele é
provado pela obediência de seus mandamentos (João 14:15). Assim, os cristãos não estão sob a
maldição da lei, mas estão sob a lei de Cristo, e tem nela sua regra de vida. A lei de Cristo é a
mesma lei de Deus interpretada e aplicada pelo próprio Cristo (1 Coríntios 9:21).
O Que Significa Nascer de Novo? O Que é o Novo Nascimento ou Regeneração?

 Daniel Conegero
Novo nascimento é um ato exclusivo de Deus na vida do homem, transformando sua inclinação ao
mal em uma disposição para fazer o bem, capacitando-o através do Espírito Santo a fazer aquilo
que é correto diante dele. A verdade de que o homem precisa nascer de novo, isto é, a
necessidade da regeneração, é um dos pontos centrais da teologia cristã.
Infelizmente muitos cristãos não entendem corretamente o que é a regeneração ou o novo
nascimento, e assim não percebem seu significado fundamental conforme exposto nas
Escrituras. A pergunta de Nicodemos sobre como é possível o homem nascer de novo ainda
permanece sendo a pergunta de muita gente (João 3:4).
Existe diferença entre regeneração e novo nascimento?
A Bíblia utiliza tanto o temo “regeneração” como a expressão “novo nascimento” como sinônimos
para se referir a transformação radical operada pelo Espírito Santo na vida dos redimidos.
A palavra “regeneração” traduz o termo grego palingenesia no Novo Testamento. Esse termo é
aplicado duas vezes. A primeira está no Evangelho de Mateus e refere à
restauração escatológica (Mateus 19:28), enquanto que a segunda está na Epístola de Paulo a
Tito, onde o apóstolo a utilizou no contexto da salvação do homem (Tito 3:5).
A expressão “novo nascimento” e outras correlatas a ela, como, “ser vivificado”, “nascido de Deus”
etc., são também utilizadas no Novo Testamento para transmitir a mesma verdade, e servem
perfeitamente ao objetivo de indicar uma mudança drástica na vida do individuo.
O novo nascimento na Bíblia
A doutrina acerca do novo nascimento é apresentada ao longo de toda a Bíblia. Mesmo no Antigo
Testamento, as Escrituras apontam para a necessidade de o homem nascer de novo. Por
exemplo, no salmo 51 encontramos o salmista Davi falando da condição natural do homem como
pecador, ao dizer: “Eu nasci na iniquidade, e em pecado concebeu minha mãe” (Salmos 51:5).
Nesse salmo Davi está apontando para o pecado original que significa o pecado derivado de
nossa origem, no sentido de que a pecaminosidade marca a todos os homens sem exceção
desde o nascimento, fazendo com que seus corações sejam inclinados ao mal antes mesmo de
cometerem algum tipo de pecado.
Logo em seguida, ao reconhecer a total depravação do homem, o salmista entende que apenas
uma intervenção divina é capaz de capacitar o homem a fazer o que é correto diante de Deus,
através de um novo coração puro e a renovação de um espírito reto (Salmos 51:10).
Na profecia do profeta Isaías lemos que Deus é aquele que vivifica o espírito dos abatidos e o
coração dos contritos (Isaías 57:15). O mesmo também foi profetizado através do profeta
Ezequiel, quando Deus diz: “Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito
novo” (Ezequiel 36:26).
Já no Novo Testamento, a doutrina da regeneração se torna ainda mais clara. O próprio Jesus
falou sobre ela em sua conversa com o fariseu Nicodemos, advertindo-o sobre a necessidade de
o homem nascer de novo (João 3). Os apóstolos também escreveram detalhadamente sobre esse
tema (2 Coríntios 5:17; Efésios 2:5; 4:24; Colossenses 2:13; Tito 3:5; 1 Pedro 1:3,23).
O que significa nascer de novo?
Nascer de novo significa “nascer do alto” (João 3:3), isto é, ser nascido de Deus (João 1:13), ser
gerado de Deus (1 Pedro 1:3), ser vivificado por Ele (Efésios 2:1-5), ser de novo gerado da
semente incorruptível por Sua Palavra (1 Pedro 1:23). O significado do novo nascimento é tão
profundo e seu efeito tão radical, que o homem que nasce de novo é feito uma nova criatura (2
Coríntios 5:17).
A expressão “nascer de novo” é utilizada para traduzir uma colocação grega no diálogo entre
Jesus e Nicodemos registrado no Evangelho de João. O termo grego original traduzido em muitas
versões como “nascer de novo”, pode ter tanto o sentido de “nascer de cima” ou “nascer do alto”,
sendo que esse sentido é o mais usual, como também pode ter o sentido de “nascer de novo” ou
“nascer mais uma vez”.
No presente contexto, obviamente “nascer de novo” é “nascer do alto”, mas de qualquer forma,
embora o texto original tenha sido registrado em grego, muito provavelmente o diálogo entre
Jesus e Nicodemos se desenvolveu em aramaico e ele literalmente entendeu algo como “nascer
de novo”, o que pode explicar sua reação ao questionar: “Como pode um homem nascer sendo
velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?” (João 3:4).
Como o homem pode nascer de novo? Quem opera a regeneração?
Jesus não utilizou a figura do novo nascimento sem motivo, ao contrário, ao utilizá-la Ele também
estava apelando para a verdade de que ninguém é capaz de fazer qualquer coisa em relação ao
próprio nascimento. Por isso, o homem jamais poderá por sua própria ação e obra nascer de
novo, isto é, se autorregenerar.
Devemos lembrar aqui que Nicodemos era um fariseu zeloso, e com toda sua religiosidade ele
estava familiarizado com a ideia de que a salvação era obtida pelo esforço humano, pelas boas
obras na observância da Lei de Moisés. No entanto, o ensino de Jesus confronta esse conceito
equivocado, mostrando que a salvação é um dom de Deus.
Para deixar isso ainda mais claro, Jesus ilustra a incapacidade humana no novo nascimento
fazendo referência ao vento que sopra onde quer, e mesmo que possamos ouvi-lo, não podemos
controlá-lo. Dessa mesma forma, conclui Jesus, “é todo aquele que é nascido do Espírito” (João
3:8).
Ao dizer isso, Jesus estava simplesmente ensinando que da mesma forma que ninguém pode
controlar onde o vento sopra na Terra, assim também o Espírito é completamente soberano na
regeneração, e sua ação incompreensível e misteriosa é completamente livre e independente.
Por que Deus opera no homem o novo nascimento?
Aqui é importante entender que Deus não tem qualquer obrigação de regenerar o homem que
está morto em seus delitos e pecados. Por sua própria natureza pecaminosa, o homem é
merecedor da ira de Deus, recebendo sobre si o justo castigo por seus pecados.
No entanto, a Bíblia diz que Deus, pelo beneplácito de sua vontade, separou e vivificou para si um
povo, o qual foi feito filho de adoção por Jesus Cristo (Efésios 5:1). É nesse ponto que podemos
entender por que Deus regenera o homem pecador.
O apóstolo Paulo explica que Deus, “que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com
que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com
Cristo” (Efésios 2:4,5).
O apóstolo Pedro também falou sobre isso, ao bendizer “o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela
ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1 Pedro 1:3).
Isso significa que o novo nascimento é fruto da riquíssima misericórdia de Deus, e de seu
incalculável amor, e toda essa obra da salvação é para o louvor da sua glória (Efésios 1:6,12,14).
Por que é preciso nascer de novo? Qual a importância da regeneração?
Após a Queda do homem e a consequente origem do pecado na humanidade, o homem foi
separado de Deus, tornando-se morto espiritualmente. Daí vem a importância fundamental da
regeneração, pois no novo nascimento o homem é ressuscitado espiritualmente, torna-se morto
para o pecado e passa a viver para Deus.
Jesus é bastante claro ao dizer que se o homem não nascer de novo ele não poderá entrar no
reino de Deus, isso porque sem o novo nascimento o homem nem mesmo pode crer no Filho de
Deus e ser justificado mediante sua obra redentora.
Algumas linhas teológicas afirmam que a fé precede a regeneração, mas essa afirmação contradiz
o ensino bíblico. É verdade que a fé e a regeneração estão intimamente ligadas, de modo que
uma não ocorre sem a outra (Efésios 2:8), todavia a fé não é causa da regeneração, mas sim seu
fruto, pois a regeneração, como vimos, é uma obra soberana, imediata, exclusiva e sobrenatural
do Espírito Santo, ressuscitando o homem de seu estado de morte espiritual para a plena vida em
Cristo, mudando assim a disposição de sua alma em fazer o mal e inclinando o seu coração para
Deus, o tornado nova criatura.
Numa ordem lógica e não temporal, o homem só poderá crer após ter sido ressuscitado, e é isso o
que a Bíblia ensina. O apóstolo João escreve: “Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, é
nascido de Deus” (João 5:1). Perceba que ele não diz que o individuo se torna filho de Deus
porque crê que Jesus é o Cristo, mas diz que porque o individuo é nascido de Deus é que ele crê
em seu Filho Unigênito.
Isso também implica na verdade de que qualquer suposta regeneração que não resulta na
imediata e inseparável fé em Cristo como seu Salvador, de fato não é um novo nascimento
genuíno (João 3:16,36; 5:24).

Quais os efeitos do novo nascimento?


Podemos mencionar, de forma bastante resumida, os principais efeitos da regeneração:
1) Ao nascer de novo, o homem deixa de estar morto espiritualmente, preso em seus delitos e
pecados e por natureza filho da ira. Tendo sido vivificado, ele passa a crer que Jesus Cristo é o
seu Salvador, se arrepende de seus pecados, é declarado justo por Deus pelos méritos de Cristo
e é adotado na família de Deus. Isso significa basicamente que ele sai da sepultura para se
assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus (Efésios 2:6).
2) Ao nascer de novo, o homem é capacitado a se submeter à vontade de Deus e viver uma vida
que o agrade. Ele passa a aceitar e compreender a mensagem do Evangelho, pois tem agora a
mente de Cristo e consegue discernir o que antes era loucura para ele (1 Coríntios 2:14-16).
Assim, ele não está mais entre aqueles que amam mais as trevas do que a luz (João 3:19,20).
3) Ao nascer de novo, o homem fica livre da culpa e do domínio do pecado. Isso significa que ele
não é mais escravo do pecado, mas escravo de Deus. O resultado disso, é que ao invés de ele
receber o merecido salário do pecado que é a morte, ele recebe o imerecido presente da vida
eterna (Romanos 6:17-23).
4) Ao nascer de novo, o homem desfruta de uma viva esperança, tornando-se herdeiro em Cristo
Jesus de uma herança incorruptível guardada nos céus (1 Pedro 1:3,4). O regenerado possui o
Espírito Santo como o selo, o penhor, a garantia da glorificação que ocorrerá no dia vindouro,
onde estará por toda a eternidade junto de Deus.
5) Ao nascer de novo, o homem nunca mais será o mesmo. Aquele que foi verdadeiramente
regenerado pelo Espírito Santo, feito ovelha do Bom Pastor, repousa no conforto das palavras do
Mestre: “E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha
mão” (João 10:28). Isso não implica jamais em comodismo, ao contrário, reflete a mais elevada
devoção através da santificação, um processo que dura toda sua vida.
Dessa forma, ao invés das obras da carne ele demonstra em sua vida as evidências do fruto do
Espírito. Ele agora é cidadão do céu, e tem uma vida condizente com a sua nova natureza. Aquele
que é regenerado é descritos na Bíblia como sendo misericordioso, manso, pacificador, pobre de
espírito, limpo de coração e que têm fome de justiça.
Logo, somente com o novo nascimento, somente sendo regenerado, o homem, que por natureza
é filho da ira, pode ser transformado em cidadão dos céus, feito filho de Deus por meio de Jesus
Cristo.
A Letra Mata Mas o Espírito Vivifica

 Daniel Conegero
“A letra mata mas o Espírito vivifica” é uma frase muito conhecida entre os cristãos. Ela é extraída
de um texto escrito pelo apóstolo Paulo registrado em 2 Coríntios 3:6. Curiosamente muitas
pessoas utilizam essa frase de forma completamente equivocada, especialmente para rejeitar o
estudo teológico.
Mas o que significa “a letra mata”? O que Paulo quis dizer com “a letra mata mas o Espírito
vivifica”? Neste texto, entenderemos qual a interpretação correta desse versículo.
O contexto da frase “a letra mata mas o Espírito vivifica” (2 Coríntios 3:6)
Para entendermos corretamente o significado da frase “a letra mata mas o Espírito
vivifica”, precisamos primeiramente saber em qual contexto o apóstolo Paulo escreveu essas
palavras. O capítulo 3 de 2 Coríntios está dentro de uma seção da carta do apóstolo aonde ele faz
uma reflexão sobre a importância do ministério apostólico (2Co 2:14-7:4).
No capítulo 3 de Coríntios, Paulo escreve dizendo que os cristãos convertidos ao Evangelho são
cartas vivas (2 Coríntios 3:1-3). Com isso, o apóstolo estava se referindo ao fato de que pessoas
inimigas do verdadeiro Evangelho e opositores de seu ministério, estavam utilizando cartas de
recomendação fraudulentas para atestar a própria causa.
Por outro lado, Paulo argumenta que os próprios cristãos de Corinto, que tiveram suas vidas
transformadas pelo Evangelho, eram cartas vivas que comprovavam a legitimidade de seu
ministério. Ele estava dizendo que os cristãos genuínos são “manifestos como carta de Cristo” que
é lida por todos os homens. Essa carta não era escrita com tinta, “mas pelo Espírito do Deus vivo,
não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, o coração” (2 Coríntios 3:2,3).
Quando o apóstolo utilizou as expressões “tábuas de pedra” e “tábuas de carne”, ele estava
estabelecendo um contraste entre a Lei do Antigo Testamento e a Lei do Novo Testamento, entre
o ministério de Moisés e o ministério apostólico instituído por Cristo. Moisés deu aos israelitas a
Lei em tábuas de pedra, e estes foram incapazes de guardá-la no coração conforme o Senhor
ordenou (Deuteronômio 6:6; 9:10). Por isso os israelitas foram punidos com o Exílio.
No entanto, os profetas, especialmente o profeta Jeremias e o profeta Ezequiel, falaram que
haveria um tempo em que finalmente o povo de Deus obedeceria a seus mandamentos em justiça
e santidade (Jeremias 31:22-34; Ezequiel 11:19; 36:26). Paulo então identificou que essa
promessa já havia começado a se cumprir durante o seu ministério. Os verdadeiros seguidores de
Cristo, capacitados pelo Espírito Santo, agora podem viver uma vida que agrada a Deus.
Assim como Deus designou Moisés para ser o profeta da antiga aliança em Israel, Paulo foi
escolhido por Deus para ser exercer seu ministério como ministro da nova aliança. É justamente
baseado nesse contexto, onde o apóstolo falou sobre a nova e gloriosa aliança, que ele escreveu
a frase “a letra mata mas o Espírito vivifica”.

O que significa “a letra mata mas o Espírito vivifica”?


Com base no contexto descrito acima, é fácil entender o verdadeiro significado de “a letra mata
mas o Espírito vivifica”. Nessa frase, a “letra” que o apóstolo se referiu significa a Lei Mosaica, que
mostrava a incapacidade humana em obedecê-la. A Lei apontava a desobediência dos homens
para com os mandamentos de Deus.
Os religiosos judeus entenderam essa Lei como um tipo de código externo, e com seu legalismo
achavam-se cumpridores da Lei. Mas na verdade, eles estavam sendo condenados por ela. É por
isso que “a letra mata”.
Por outro lado, quando o apóstolo disse que “o Espírito vivifica”, isso significa que é o Espírito
Santo quem escreve a Lei de Deus no coração do homem. Ele é quem o capacita a viver de uma
forma coerente com os padrões morais de Deus, obedecendo a seus mandamentos.
Aqui e importante enfatizar que Paulo não estava dizendo que a obra do Espírito Santo na vida
dos redimidos por Cristo é separada dos padrões morais da Lei. Ele não estava dizendo que o
Espírito é oposto a Lei. Ao contrário disso, ele estava dizendo que a tentativa dos legalistas em
tentar cumprir a Lei à parte da obra de Cristo, sem o poder vivificador do Espírito Santo, é
completamente frustrada e resulta em morte.
Não há qualquer mérito em nós mesmos. Jamais poderemos agradar a Deus com base em nossa
própria justiça. É por isso que somos justificados pelos méritos de Cristo!
Portanto, quando o apóstolo escreveu que “a letra mata mas o Espírito vivifica”, ele estava
simplesmente dizendo que a prática de alguém observar a Lei externamente, mas ignorá-la em
seu interior, justamente por não ter o Espírito que o capacita a cumpri-la verdadeiramente, não
traz vida.
Em outras palavras, a letra mata mas o Espírito vivifica porque não é a letra que muda o coração
da pessoa, mas, sim, o Espírito Santo. Sem Ele, o homem só poderá obedecer a Lei
superficialmente e exteriormente. Mas com o Espírito, o homem é capacitado a cumpri-la em uma
genuína obediência interior.
“A letra mata” não se refere à teologia?
Obviamente a expressão “a letra mata” não significa uma proibição ao estudo
teológico. Infelizmente muitos grupos ao longo do tempo, na tentativa de priorizar o caráter
espiritual das Escrituras, acabaram condenando o estudo teológico.
Quem defende esse tipo de postura acaba enfatizando um significado místico e oculto na Bíblia.
Segundo quem pensa assim, essa “espiritualidade” é negligenciada por quem se empenha em
estudar a Palavra de Deus. Para eles, alguém que preza por uma boa interpretação bíblica é uma
pessoa “carnal” que não consegue entender os mistérios que são revelados apenas aos
“espirituais”.
Todavia, a frase “a letra mata mas o Espírito vivifica”, como pudemos ver, em nada sustenta esse
pensamento equivocado. É claro que precisamos sempre orar para que o Espírito Santo ilumine o
nosso entendimento a fim de que possamos compreender as verdades das Escrituras. Mas ao
mesmo tempo, devemos estudá-la e examiná-la diligentemente.
Agrada-te do Senhor
PUBLICADO EM 20/03/2010
Agrada-te do Senhor
 Uma vez eu ouvi uma pessoa dizer:
“Agrada o Senhor que Ele satisfará o desejo do teu coração…”
E então eu fui procurar esse versículo na Bíblia, e me surpreendi ao descobrir que aquela pessoa
havia distorcido o significado do versículo.
Percebi que na verdade, não estava escrito “agrada o Senhor”, ao invés disso estava escrito:
“Agrada-te do Senhor…”.
Muitas pessoas passam desapercebidas por esse detalhe nesse versículo de Salmos 37, isso
porque é muito mais cômodo para a nossa alma acreditar numa (falsa) interpretação que nos
beneficie a todo custo.
Porém, na verdade não é bem isso que está escrito.
Outro dia eu estava orando em pensamento assim:
“Ah Senhor, eu queria tanto que o meu escolhido fosse um homem assim e assim… Mas tu sabes
Senhor, eu abro mão desse meu desejo, abro mão disso por Ti, abro mão dessa minha vontade
para fazer a Tua vontade. Que seja feita a Tua vontade. Se esse desejo que eu tenho for da tua
vontade, então ótimo. Mas se não for, eu não quero.
Prefiro abrir mão da minha vontade (que comparada a vontade de Deus é imperfeita) para viver a
vontade de Deus para mim, que é perfeita (além de boa e agradável).”
E então, mais uma vez, o Espírito Santo trouxe a minha memória o pensamento:
“…Ao abrir mão da sua vontade, é possível que você receba a realização dela.”
Porque? Porque é justamente quando abrimos mão do que tanto queremos, que aquilo se realiza?
Porque esse é um princípio espiritual, ele está escrito na Palavra.
E se está escrito, podemos viver isso.
Vamos analisar o que diz em Salmos 37.4:
” Agrada-te do SENHOR, e ele satisfará os desejos do teu coração.”
Esse versículo quer dizer o seguinte:
Agrada-te do SENHOR (que o seu maior “agrado” e prazer, seja o Senhor. Agrade a você com as
coisas do Senhor) , e ele satisfará os desejos do teu coração (e então, como conseqüência disso,
Ele satisfará os desejos do teu coração. Ou seja, Ele satisfará os desejos da tua alma, das tuas
vontades. Ele vai te dar o que você deseja, o que você pensa e tem vontade).
Imagine viver isso…
Imagine Deus, o Senhor do Universo, olhando para dentro do seu coração, vendo o que você
deseja, e satisfazendo a sua vontade…
Não é um sonho?
Não é o que todos gostariam de viver?
Pois é, está na Palavra de Deus esta promessa, está escrito que podemos viver isso.
Mas o que muitos esquecem é de observar que, para viver isso, há uma condição, uma condição
que não é tão fácil como parece.
A condição está descrita no próprio versículo. Você precisa:
Agradar-se do SENHOR… em primeiro lugar.
Traduzindo:
Para viver isso, o seu maior “agrado” e prazer na vida precisa ser o Senhor.
Para poder viver isso, você precisa agradar a si mesmo (ter prazer) nas coisas DO Senhor
(Agrada-te do), precisa ter prazer em fazer as coisas (a vontade) DO Senhor, e não ter prazer em
fazer as suas próprias vontades.
Para viver isso, você precisa agradar-se mais (Agrada-te) com as coisas do Senhor do que com
as suas próprias coisas, e do que com as coisas que este mundo oferece.
Simplificando: Para viver isso é necessário fazer a VONTADE DE DEUS.
E não a sua vontade.
É necessário que a vontade de Deus seja o seu maior prazer na vida, e quando isso acontecer…
A conseqüência disso será o seguinte:
…Ele satisfará os desejos do teu coração.
É assim que funciona esse princípio.
Deus é muito inteligente, não é?
As coisas não são do nosso jeito, são do jeito dEle.
Alguém poderia tentar manipular a Palavra de Deus e tentar driblar esse princípio dizendo (da
boca pra fora) que “Deus é o seu maior agrado e prazer na vida…”.
Porém, não há como enganarmos a Deus. Ele sabe se isso é verdade ou não dentro de nós. Ele
vê bem lá no fundo do nosso coração.
Durante muito tempo na minha caminhada Cristã eu tentei driblar esse princípio (risos). Me lembro
que eu orava e dizia ao Senhor:
“Pai, Tu sabes que hoje em dia Tu és o mais importante na minha vida, e etc…”
Mas na verdade, no fundo no fundo… ainda não era.
E o Espírito Santo suavemente me dizia:
“E quanto a tal e tal coisa que você ainda não abriu mão?”
“E quanto aquilo e aquilo outro que Eu já te mostrei que você tem que mudar?”
“Como você pode dizer que Eu sou o mais importante, ou que Estou em primeiro lugar no seu
coração, se você ainda não consegue abrir mão de certas coisas por Mim?”
E então eu me quebrantava e chorava na presença de Deus… Pedia a Ele que me transformasse
mais e mais… E foi o que Ele fez.
Deus é tão sábio, tão Maravilhoso que estabeleceu regras perfeitas para que nós pudéssemos
experimentar a boa, perfeita e agradável vontade dEle.
Hoje em dia eu realmente vivo isso. Realmente amo o Senhor acima de todas as coisas em minha
vida. E como é bom viver “nesse lugar” em Deus. Um “lugar” onde nada nem ninguém pode nos
atingir, nem nos fazer desistir, porque a nossa motivação não está em coisas passageiras, visíveis
e corruptíveis… Mas está na eternidade ao lado dEle.
Hoje em dia eu tenho muitos testemunhos para contar que comprovam esse versículo de Salmos
37, poderia contar muitas historias vividas nesses anos, onde vi os desejos do meu coração
serem realizados. Algumas vezes eu somente pensei, nem cheguei a orar… E Deus
simplesmente realizou aquele desejo ao ouvir meu pensamento… Não é incrível?
Você quer viver isso?
Então faça o que diz em Salmos 37.4, agrade a si mesmo com as coisas do Senhor, faça a
vontade dEle. Pois o que mais agrada a Deus é isso, fazer a vontade dEle. E a maior vontade dele
é que Ele seja o centro no seu coração.
Quando Ele ocupar o primeiro lugar no seu coração, nas suas vontades, nos seus pensamentos…
Aí sim, Ele satisfará os desejos do seu coração.
Ele não abre mão do lugar dEle dentro de você:
O primeiro lugar no seu coração pertence a Ele.
Ele tem que ser o seu maior agrado, o seu maior prazer nesta vida.
“Agrade a você mesmo com as coisas do Senhor, e aí Ele satisfará seus desejos e vontades…”
O cuidado divino

Que maravilha ler o Salmo 37 e perceber a promessa do cuidado divino em todos detalhes da
nossa vida. Nós só precisamos conjugar espiritualmente os verbos: descansar, confiar, deleitar,
agradar, entregar e esperar. Só que não é algo muito fácil para fazer, mas é a única forma de
vivermos sem medo, sem angustiar o coração.
Viver sabendo que Deus cuida de tudo! Confiar no caráter dele nos faz descansar e dormir sem
medo do que acontecerá amanhã, porque há a certeza de que Deus está no controle absoluto da
nossa vida!
O texto sagrado afirma: Confia no Senhor e faze o bem; habita na terra e alimenta-te da verdade.
Agrada-te do Senhor , e ele satisfará os desejos do teu coração. Entrega o teu caminho ao Senhor
, confia nele, e o mais ele fará. Fará sobressair a tua justiça como a luz e o teu direito, como o sol
ao meio-dia. Descansa no Senhor e espera nele, não te irrites por causa do homem que prospera
em seu caminho, por causa do que leva a cabo os seus maus desígnios.
Que Deus nos ajude a depender dele em todos os processos da vida.
O Que Significa “Entrega o Teu Caminho ao Senhor”?

 Daniel Conegero
“Entrega o teu caminho ao Senhor” significa transferir todas as suas preocupações para Deus.
Esse é o conselho dado pelo salmista ao conectar a confiança no Senhor com a certeza da
providência divina. Por isso ele diz: “Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e ele o
fará” (Salmo 37:5).
Sem dúvida a declaração “entrega o teu caminho ao Senhor” é uma das mais conhecidas da
Bíblia. Mas apesar de ela poder ser aplicada de uma forma muito abrangente, essa declaração
também precisa ser considerada à luz de seu contexto.
Essa declaração foi feita pelo salmista Davi num salmo onde ele reflete acerca da diferença que
há entre o justo e o ímpio. Ele admite que de fato muitas vezes, aos olhos humanos, os ímpios
parecem usufruir de uma prosperidade inabalável. Mas ele adverte que os justos não devem ficar
inquietos por causa disso, pois a felicidade do ímpio é passageira.
O justo, por sua vez, possui um conforto que o ímpio não pode compreender. O justo pode
descansar no Senhor. Enquanto o ímpio tenta agir por sua própria força, o justo é encorajado a
entregar o seu caminho ao Senhor e confiar n’Ele, pois Ele o fará. Leia também um estudo bíblico
sobre o Salmo 37.
Entrega o teu caminho ao Senhor
É muito interessante a forma como que a declaração “entrega o teu caminho ao Senhor” é
construída. A palavra “entrega” traduz no original um verbo empregado pelo salmista que
literalmente significa “rolar”, no sentido de se ver livre de um peso. Então isso significa que a
palavra “entrega” aqui, basicamente quer dizer “deixe seu fardo”.
Em outras palavras, o salmista incentiva o crente a deixar o seu fardo sobre o Senhor. A
ordem “entrega o teu caminho ao Senhor” inclui todas as nossas atividades e negócios. Isto está
totalmente de acordo com o ensino geral das Escrituras. O apóstolo Pedro escreve que devemos
lançar sobre Deus toda a nossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de nós (1 Pedro 5:7).
Além disso, é claro que esse princípio nos traz à memória as conhecidas palavras do nosso
Senhor Jesus Cristo. Ele diz: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos
aliviarei” (Mateus 11:28).
Mas essa verdade bíblica também merece uma atenção especial. W. W. Wiersbe diz que Deus
não carrega os nossos fardos para que nos tornemos irresponsáveis, mas para que possamos lhe
servir melhor. Não devemos permitir jamais que a ausência de preocupação porventura venha nos
tornar descuidados.
Confia nele
A declaração “entrega o teu caminho ao Senhor” é seguida pela expressão “confia nele”. Isso nos
ensina que devemos ter em Deus o nosso guia. M. Henry dá um conselho prático sobre isso
dizendo que pelas orações devemos derramar a nossa situação e todas as nossas preocupações
diante do Senhor e confiar nele. Devemos sempre estar completamente satisfeitos de que tudo o
que Deus faz é bom.
Por isso devemos lançar para longe de nós toda nossa inquietude. Devemos confiar que Deus
está no controle de todas as coisas. Ele é quem governa a história, sua providência alcança cada
molécula desse universo e Ele sabe encaminhar todas as coisas de acordo com conselho de sua
perfeita e sábia vontade.
Ele o fará
Após dizer “entrega o teu caminho ao Senhor e confia nele”, o salmista Davi afirma que Deus
agirá. A atuação da providência divina é uma realidade inviolável; é uma certeza insuperável; é
um fato irrevogável. Quer a prosperidade quer a adversidade, nada está além das mãos de Deus
e a parte de sua santa vontade.
Quando achamos ser capazes de tomar sobre nós o governo de nossas próprias vidas, só nos
resta uma profunda decepção. João Calvino diz que o único antídoto contra esse comportamento
fracassado consiste em fixarmos nossos olhos na providência divina e extrairmos dela consolação
em todas as nossas angústias.
Por isso a declaração “entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e ele o fará” é um conselho
indispensável. Esse conselho tem implicações presentes, aqui e agora, mas também aponta para
uma maravilhosa realidade futura construída sob a base da justificação provida por Deus. Por isso
o salmista completa: “Ele fará sobressair a tua justiça como a luz, e o teu juízo como o sol do
meio-dia” (Salmo 37:6). Entenda também o que significa o versículo “Deleita-te no Senhor, e Ele
concederá os desejos do teu coração“.
Deleita-te no Senhor e Ele Concederá os Desejos do Teu Coração

 Daniel Conegero
A declaração “Deleita-te no Senhor, e Ele concederá os desejos do teu coração” significa que
Deus cuida daqueles que encontram nele satisfação e contentamento (Salmo 37:4). O redimido
pode regozijar-se no Senhor sabendo que nada poderá frustrar os propósitos Daquele que o
chamou.
Mas é verdade que o versículo “Deleita-te no Senhor, e Ele concederá os desejos do teu
coração” frequentemente é mal interpretado por muita gente. Normalmente essas pessoas
colocam uma ênfase equivocada na parte final da sentença: “e Ele concederá o desejo do teu
coração”.
De forma isolada, ao lermos esse versículo, à primeira vista parece até que Deus promete em
atender todos os nos desejos. Por isso esse versículo tem sido utilizado em muitas pregações e
campanhas sobre prosperidade. Usam esse verso como uma formula infalível, afinal, a frase é
clara: “Deleita-te no Senhor, e Ele concederá os desejos do teu coração”. Mas a questão é: Quais
desejos do coração são esses que o Senhor concede quando nos deleitamos nele?
Deleita-te no Senhor
Deleitar-se significa “ter prazer”, “satisfação” e “contentamento”. Quando o salmista diz “Deleita-te
no Senhor” isso implica, em primeiro lugar, reconhecê-lo como único e verdadeiro Deus. Somente
pode se deleitar no Senhor aquele que realmente compreende seu senhorio. Ele é o Deus criador
e sustentador de todas as coisas. Ele governa a história segundo os seus propósitos soberanos.
Em segundo lugar, deleitar-se no Senhor implica em adorá-lo e glorificá-lo da forma apropriada.
Isso inclui crer nele, meditar nele, lembrar-se dele, honrá-lo, amá-lo, desejá-lo e apreciá-lo sobre
todas as coisas. Aquele que se deleita no Senhor tem zelo por Ele. Essa pessoa se entrega em
total obediência e submissão à vontade do Senhor. Quem se deleita no Senhor confia e espera
nele em tudo, e jamais sente prazer naquilo que ofende e transgride a sua Palavra.

Ele concederá o desejo do teu coração


O salmista Davi diz que o Senhor concede os desejos do coração daquele que se deleita nele.
Mas engana-se quem pensa que isso significa qualquer tipo de desejo. Por isso o salmista
primeiro diz: “Deleita-te no Senhor”. Esses desejos são desejos de um coração regenerado,
submisso à vontade de Deus, esquadrinhado pela Palavra da Verdade, preocupado com a causa
do reino de Deus e completamente devotado a Ele.
A declaração “Deleita-te no Senhor, e Ele concederá os desejos do teu coração” faz parte de um
salmo que tem implicações escatológicas. Nele o salmista reflete sobre a sabedoria e faz um
contraste entre o justo e o ímpio. O salmista percebe que a felicidade do ímpio é temporária.
Apesar de o homem perverso prosperar nesta terra, ele não desfrutará das bênçãos vindouras
reservadas para os justos. Muitas vezes o povo de Deus é oprimido pelos ímpios (Salmo 37:12-
15). Mas diferentemente do ímpio, aquele que se deleita no Senhor receberá uma bênção eterna
(Salmo 37:18). É nisto que consiste os desejos de seu coração.
Portanto, a declaração “Deleita-te no Senhor, e Ele concederá os desejos do teu coração” nada
tem a ver com prosperidade terrena. Na verdade uma interpretação materialista da
declaração “Ele concederá os desejos do teu coração” é insignificante comparada à verdadeira
promessa feita nesse verso.
Os desejos do coração que se deleita no Senhor
Os desejos do coração do justo não são terrenos; não são supérfluos e muito menos passageiros;
não são como os desejos do coração do ímpio. Os desejos do coração do justo são muito mais
excelentes e elevados. Os desejos do coração daqueles que se deleitam no Senhor se resumem
a uma única esperança. Eles aguardam ansiosamente pelo Dia do Senhor! Nesse dia os ímpios
receberão o pagamento pelas suas injustiças, e os justos serão declarados inocentes pelos
méritos de Cristo (cf. Tito 3:7).
Por isso o salmista diz: “Ele deixará claro como a alvorada que você é justo, e como o sol do
meio-dia que você é inocente” (Salmo 37:6). Somente pela obra de Jesus Cristo pecadores
podem ser declarados justos. Aqueles que foram perseguidos e oprimidos pelos ímpios nesta
terra, e sofreram grande tribulação como se tudo fosse ficar impune, terão seus desejos
atendidos. Isso porque esses desejos refletem o propósito soberano de Deus.
Os justos que se deleitaram no Senhor enquanto perseguidos neste mundo, tão logo continuarão,
glorificados, a se deleitarem n’Ele por toda a eternidade no novo céu e nova terra. Por causa do
extraordinário dom da graça de Deus, a declaração “Deleita-te no Senhor, e Ele concederá os
desejos do teu coração” é uma promessa maravilhosa e real.
O Que é a Providência de Deus?

 Daniel Conegero
A providência de Deus é a doutrina de que Deus é soberano sobre tudo o que acontece no
mundo. Não há na Bíblia algum termo hebraico ou grego que isoladamente expresse de forma
plena o conceito dessa doutrina. A teologia então adotou a palavra providência para este fim.
No entanto, não devemos apenas nos restringir ao significado dessa palavra. A providência de
Deus é mais do que uma simples ideia de prevenção e prudência. A providência de Deus significa
que Ele governa todas as coisas, de modo que nada acontece por acontecer, e nada foge do
seu controle. Portanto, ideias como o acaso ou a sorte são equivocadas (Mateus 10:29,30). Leia
também o que significa a doutrina da predestinação.
Conceitos errados sobre a providência de Deus
A providência de Deus tem sido mal interpretada ao longo do tempo. Isso deu origem a diversas
doutrinas erradas sobre a relação de Deus com sua criação. As principais são:
Deísmo: esta visão entende que Deus criou o mundo e se afastou dele. A analogia usada por
esta teoria é a de que Deus é como um relojoeiro. Ele criou o mundo e deu corda nele, como um
relógio. Assim, o mundo funciona como uma máquina, e tudo o que acontece está de acordo com
as causas secundárias já incorporadas nele. Logo, Deus é um observador do universo, mas nunca
interfere nele.
Dualismo: entende que o mundo é governado por dois poderes, um bom e outro mau. Deus seria
o poder bom que divide o controle do universo com o poder do mau.
Panteísmo: esta visão absorve o mundo em Deus. Isso significa que a criação participa e
constitui o Ser do próprio Deus.
Indeterminismo: afirma que o mundo não está sujeito a qualquer controle. Nada do que acontece
é planejado ou controlado por um poder.
Determinismo: entende que existe um poder superior que exerce um controle que destrói a
responsabilidade e a liberdade das criaturas. Esta teoria defende que não há nenhuma causa
secundária neste mundo. Isso significa que Deus determina e causa de forma imediata e absoluta
tudo o que acontece. Neste caso, a liberdade das criaturas é uma plena ilusão. O homem pensa
que é responsável, mas na verdade não é.
Casualidade: entende que qualquer poder controlador do universo é irracional.
Destino ou azar: essa doutrina afirma que os acontecimentos são incontroláveis, e neles não há
qualquer propósito benévolo.
Todas as teorias acima devem ser rejeitadas, pois não refletem a verdadeira doutrina bíblica sobre
a providência de Deus.
O que a Bíblia diz sobre a providência de Deus?
A Bíblia afirma que Deus criou todas as coisas e sustenta sua criação (Colossenses 1:17;
Hebreus 1:3 cf. Neemias 9:6). Ele é quem governa todo o universo! Ele governa as nações e os
próprios indivíduos (1 Samuel 2:6-9; Salmo 47:7; Daniel 2:21; 4:25; Isaías 10:5-7; 45:5). Nem
mesmo a liberdade de suas criaturas está à parte de seu governo (Provérbios 16:1-9; 21:1).
Porém, Deus exerce esse governo de tal forma que Ele não pode ser responsabilizado pelo mal
moral (Ele não é o autor do pecado), e nem viola a vontade e responsabilidade de suas criaturas
como agentes livres. Isso significa que as criaturas racionais podem agir por sua própria
capacidade de escolha. Elas podem tomar decisões e assumir atitudes de acordo com sua própria
vontade. Elas são livres conforme sua natureza lhes permite ser. Saiba também o que é o livre-
arbítrio.
Esta perspectiva é chamada de causalidade secundária. Mas sempre que exercemos nossa
liberdade, assumimos nossa responsabilidade, e as causas secundárias acontecem, Deus
permanece soberano. Em nenhum aspecto a providência de Deus é enfraquecida.
De acordo com sua vontade, para cumprir o seu propósito, Deus trabalha tanto através das
causas secundárias quanto sem elas. Isso significa que em algumas ocasiões Ele usa nossas
decisões e ações para cumprir seu propósito soberano. Em outras vezes Ele interfere diretamente
na história sem usar as causas secundárias.
De qualquer forma, não há uma única coisa, uma única decisão, uma única atitude ou uma única
molécula neste universo que não esteja submetida ao controle de Deus.
Nós não sabemos como isso acontece de fato. Devemos nos lembrar de que a vontade de Deus é
absolutamente livre, mas ela está sempre sujeita ao seu caráter. Isso significa que a providência
de Deus jamais deve ser vista como arbitrária, mas como perfeita e sagrada.

As implicações da providência de Deus


A doutrina da providência de Deus é um grande conforto para os redimidos. É a certeza de que
nada poderá frustrar os planos d’Aquele que os redimiu (Jó 42:2). Nós podemos descansar
sabendo que somos sustentados pela mão do Deus Todo-Poderoso.
O apóstolo Paulo estava falando da providência de Deus quando escreveu que “todas as coisas
cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu
propósito” (Romanos 8:28).
O importante é saber que a providência de Deus sobre a criação expressa seu poder, sabedoria e
glória (Salmo 8:1; 19:1-6; Atos 14:17; Romanos 1:19). O governo providencial de Deus é tão claro,
que ninguém poderá alegar não ter ciência dele (Romanos 1:20).
Sem dúvida a doutrina da providência de Deus é motivo de alegria e segurança para os salvos.
Porém, por outro lado ela é motivo de terror para os incrédulos. Os ímpios vivem suas vidas como
se nunca terão de prestar contas a alguém. Mas por mais que pensem o contrário, eles nunca
conseguirão escapar das mãos de Deus (Apocalipse 6:15-17).
Predestinação e Eleição: O Que Significa Predestinação na Bíblia?

 Daniel Conegero
A predestinação é uma doutrina bíblica que se refere ao propósito soberano de Deus em relação a
suas criaturas. A predestinação está diretamente ligada à doutrina da eleição e, juntas, eleição e
predestinação devem ser abordas à luz do estudo bíblico acerca da providência de Deus – a
doutrina que afirma a soberania divina no governo de tudo o que acontece.
Mas eleição e predestinação são temas sempre muito debatidos entre os cristãos. Inclusive,
infelizmente algumas pessoas tentam negar que eleição e predestinação sejam conceitos bíblicos.
Mas ainda que alguém se sinta ofendido, é inegável que a Bíblia realmente fala em eleição e
predestinação.
Por isso, todos os cristãos genuínos reconhecem a predestinação como legítima e a eleição como
um ato de Deus, embora discordem sobre como tudo isso acontece. Esse debate sobre eleição e
predestinação é representado na atualidade especialmente por dois grupos: calvinistas e
arminianos.
O primeiro grupo crê que a eleição e a predestinação são incondicionais; enquanto o segundo
grupo crê que são condicionais. Então tanto o Calvinismo quando o Arminianismo defendem que a
Bíblia ensina a eleição e a predestinação. Também é verdade que o Calvinismo não se resume
apenas a essa questão. Porém, todos os que defendem uma predestinação incondicional são
popularmente apelidados de “calvinistas”.
Neste estudo bíblico conheceremos o que a Bíblia diz sobre predestinação e eleição. Também
abordaremos da forma mais objetiva possível as duas principais interpretações cristãs sobre esse
assunto. Mas não será nosso objetivo aqui defender uma ou outra posição.
O significado de predestinação
A palavra “predestinação” traduz o termo grego proorizo, que significa “pré-determinado”,
“destinado de antemão” ou “previamente decidido”. Esse termo aparece seis vezes no Novo
Testamento. Em algumas referências bíblicas ele se refere à predeterminação por parte de Deus
dos acontecimentos da história do mundo (Atos 4:28; 1 Coríntios 2:7).
Em outras referências, esse termo fala da predestinação acerca do destino final dos indivíduos,
especialmente com relação à salvação (Romanos 8:29-30; Efésios 1:5,11). Por isso a teologia
estabelece uma diferença entre predestinação e predeterminação – ambas dentro dos decretos de
Deus.
A predestinação está relacionada ao destino eterno dos indivíduos (salvação e reprovação). Já a
predeterminação trata acerca de todos os outros acontecimentos da história mundial.
Eleição, predestinação, reprovação e presciência
Não tem como falar de predestinação sem falar de eleição. E além de “eleição” e “predestinação”,
um terceiro vocábulo teológico também precisa ser considerado: “presciência”. Então definindo os
termos, a eleição indica o ato de Deus separar alguns indivíduos de entre a raça humana caída
para a salvação. A eleição desses indivíduos ocorreu antes da fundação do mundo (Efésios 1:1-
13).
Mas a palavra “eleição” aparece na Bíblia em diferentes sentidos. A Bíblia fala da eleição de Israel
como um povo separado para um serviço especial (Deuteronômio 4:37; Oséias 13:5). Também
fala de alguns indivíduos que foram eleitos para desempenharem um determinado ofício ou
serviço (Deuteronômio 18:5; 1 Samuel 10:24; Jeremias 1:5; Atos 9:16). E por fim, de fato a Bíblia
fala sobre a eleição de indivíduos para serem recebidos como filhos de Deus através da obra
redentora de Cristo (Mateus 22:14; Atos 13:48; Romanos 1:5; Efésios 1:4).
Já a predestinação, quando relacionada à eleição, deve ser entendida como sendo o destino dado
por Deus aos eleitos. Essa destinação ocorreu também na eternidade. Por isso é usado o termo
“predestinação”.
Os não-eleitos recebem a reprovação por parte de Deus por causa de seus pecados. Isso significa
que a reprovação é o oposto da eleição. Os que não são eleitos e predestinados à vida eterna,
são naturalmente destinados à condenação. Essa reprovação é o ato da justiça divina punindo os
pecadores por seus próprios pecados.
Já a palavra “presciência”, basicamente indica a realidade de que Deus conhece todas as coisas
antes que elas aconteçam. Saiba o que é a presciência de Deus.
Os objetos da eleição e predestinação
Num certo sentido, eleição e predestinação abrangem todas as criaturas racionais. Isso significa
que a predestinação inclui não apenas os homens, mas também os anjos. O Novo Testamento
fala acerca de anjos eleitos – o que naturalmente resulta na existência de anjos não-eleitos (1
Timóteo 5:21).
No caso dos anjos, eleição e predestinação devem ser entendidas não da mesma forma da
eleição e predestinação dos homens. Pode-se entender que os anjos eleitos são aqueles que,
pela graça soberana de Deus, perseveraram em santidade. Diferentemente de outros, eles
guardaram seu primeiro estado (2 Pedro 2:4; Judas 6).
A Bíblia também ensina que o próprio Cristo, como o Mediador, também foi objeto da
predestinação de Deus (Atos 2:23; 1 Pedro 1:20; 2:4). Desde a eternidade o Filho de Deus foi
escolhido para redimir pecadores.
A base da eleição e predestinação
Aqui é onde começa os debates acerca da eleição e predestinação. Alguns entendem que a
eleição e predestinação configuram um ato soberano de Deus com base em sua livre vontade.
Assim, os critérios pelos quais Deus elegeu e predestinou aqueles que fariam parte de seu povo,
são desconhecidos do homem. Tudo o que se sabe é que essa escolha e predestinação não tem
sua origem e causa no próprio eleito e predestinado.
Quem pensa assim, também crê que a eleição e a predestinação tratam de indivíduos. Isso
significa que Deus escolheu e predestinou pessoas em particular para a salvação em seu Filho,
Jesus.
Outros entendem que a base da eleição e predestinação é a presciência divina acerca da fé. Isso
significa que Deus sabia antecipadamente que algumas pessoas iriam crer em Cristo por sua livre
vontade, aceitando-o como Salvador. Deus então elegeu e predestinou essas pessoas com base
no que Ele viu antecipadamente.
A primeira interpretação é comum ao Calvinismo, e a segunda interpretação é comum ao
Arminianismo. Para que isso fique mais claro, a seguir veremos os pontos básicos acerca da
eleição e predestinação nessas duas linhas de interpretação.
Eleição e predestinação no Arminianismo
Ao contrário do que alguns pensam, o Arminianismo também crê na eleição e predestinação. Mas
na perspectiva arminiana, eleição e predestinação são condicionais. O significado disso é que
antes da fundação do mundo Deus elegeu e predestinou certos indivíduos para a salvação.
Porém, essa eleição e predestinação foram baseadas no conhecimento antecipado do Senhor.
Então para o Arminianismo, Deus previu a fé de certas pessoas em Cristo, e a estas Ele elegeu.
Então na eternidade Deus observou pelo corredor do tempo quais escolhas suas criaturas fariam
no exercício de seu livre-arbítrio. Assim, Ele previu aqueles que responderiam favoravelmente ao
Evangelho de Cristo, e elegeu e predestinou essas pessoas. Saiba o que a Bíblia diz sobre o livre-
arbítrio.
Dentro do Arminianismo também há uma discussão acerca dos objetos da eleição e
predestinação. Alguns entendem que a eleição e predestinação se referem especialmente a
indivíduos. Outros sugerem uma eleição e predestinação coletivas.
Aqueles que defendem a eleição e predestinação coletivas, dizem que Deus elegeu um grupo
para a salvação: a Igreja. Então todos aqueles que fazem parte desse grupo eleito estão
predestinados à salvação. Mas se porventura o indivíduo deixar o grupo eleito, ele também
deixará de ser predestinado à salvação. Assim, a pessoa pode livremente optar por não pertencer
ou não pertencer ao grupo eleito.
Mas muitos arminianos reprovam essa posição e defendem que a eleição e predestinação divinas
aplicam-se a indivíduos e, por isso, ocorrem sob a base da presciência.
A predestinação é pela fé prevista
A visão arminiana clássica enfatiza que a Bíblia ensina que a eleição e predestinação ocorrem
pela presciência de Deus. Os textos mais utilizados são Romanos 8:29 e 1 Pedro 1:2. Assim, essa
interpretação defende que Deus viu quem iria crer e aceitar a Cristo atendendo o chamado do
Evangelho.
A salvação é unicamente pela graça de Deus e não considera os méritos humanos. Porém, a
disposição em crer, bem como a própria fé, dependem da vontade humana. Portanto, aqui há a
defesa de um sinergismo entre a graça de Deus e o arbítrio humano.
Em várias passagens a Bíblia convida o homem a tomar uma decisão (Apocalipse 3:20). Então na
eternidade Deus viu e considerou a decisão de cada um. Além disso, a Bíblia mostra que cada
pessoa precisa perseverar até o fim para ser salvo. Isto mostra a condicionalidade da fé para a
eleição e predestinação (Mateus 10:22; 24:13). Por tudo isso os arminianos clássicos defendem
que a predestinação é pela presciência.
Principais argumentações da predestinação no Arminianismo
Nem todos os Arminianos assumem tais argumentações. Mas no geral, as argumentações abaixo
são as mais populares entre os que defendem a predestinação na visão arminiana e contestam a
predestinação na visão calvinista.
1. Se Deus predestinou alguns e reprovou outros simplesmente com base em sua vontade, então
Ele foi arbitrário. Nesse caso, Ele agiu com injustiça quando resolveu conceder apenas a algumas
pessoas o dom da salvação. Um Deus que é amor, e que ama o mundo, não poderia deixar suas
criaturas à perdição eterna sem considerar a decisão de cada uma delas (João 3:16).
2. Se a eleição e predestinação não fossem pela presciência divina, então os homens seriam
seres autômatos. Em outras palavras, as pessoas seriam como robôs pré-programados, e não
amariam a Deus de forma espontânea e livre.
3. Se a eleição e predestinação fossem de forma incondicional, um indivíduo não-eleito, mesmo
querendo ser salvo e crendo em Jesus, seria condenado por não ser eleito.
4. Deus quer que todos os homens venham a arrepender-se. Ele deseja que todos sejam salvos
(1 Timóteo 2:4; 2 Pedro 3:9). Além disso, Deus não faz a acepção de pessoas (Atos 10:34; 2:11).
A eleição e predestinação no formato incondicional contradizem tais verdades bíblicas.
5. Se Deus predestinou o homem de forma incondicional, então não há necessidade de
evangelizar. O evangelismo é inútil porque todos os eleitos e predestinados necessariamente
serão salvos.
6. A predestinação incondicional pode levar alguém a viver uma vida de pecado. Isso porque,
eleito e predestinado, o crente não corre o risco de perder sua salvação.
7. A predestinação incondicional causa dúvida nos crentes. Eles não conseguem ter a certeza da
salvação, pois não sabem se são ou não são predestinados à salvação.
Eleição e predestinação no Calvinismo
Se a eleição e predestinação no Arminianismo é condicional, no Calvinismo é incondicional. Deus,
na eternidade, escolheu e predestinou alguns indivíduos para salvação através de seu Filho.
Essa eleição e predestinação tiveram como base o seu santo, justo e soberano conselho. Foi pelo
beneplácito de sua vontade que Ele dispensou sua graça salvadora aos eleitos (Efésios 1). O
critério, causa e razão das escolhas de Deus são misteriosos aos homens. Tudo o que sabemos é
que a eleição e predestinação não implicam numa injustiça da parte de Deus.
A posição calvinista lembra que quando Deus elegeu e predestinou àqueles que seriam seus, sua
bondade, justiça, integridade, imparcialidade, santidade e sabedoria estavam envolvidas.
Certamente o Deus que é infinitamente santo, justo, sábio e misericordioso soube escolher melhor
do que os homens escolheriam.
Na verdade é preciso admitir a nossa limitação diante dos inescrutáveis decretos de Deus. Ele
predeterminou todas as coisas de um modo que Ele não é o autor do mal moral, e nem de um
modo que viola a vontade de suas criaturas e a responsabilidade delas.
Dentro do Calvinismo há ainda uma discussão com relação à reprovação dos não-eleitos. Alguns
estudiosos sugerem uma dupla predestinação, isto é, uma predestinação à salvação e outra à
perdição. Outros estudiosos simplesmente falam sobre a predestinação dos eleitos e adotam a
indiferença quanto aos reprovados.
Dessa forma, Deus predestinou os eleitos à salvação, e simplesmente deixou os demais
indivíduos entregues a suas próprias concupiscências. Não haveria necessidade de predestiná-los
à perdição, pois os reprovados são condenados com base em sua própria culpa.
A predestinação não é pela fé prevista
O Calvinismo rejeita a eleição e predestinação com base na fé prevista. O argumento é que em
nenhum lugar na Bíblia a presciência de Deus é aplicada à fé, escolhas ou ações dos homens.
Nos textos bíblicos Deus sempre prevê pessoas. A Bíblia diz que Deus conheceu pessoas de
antemão, e não suas ações. Claro que Deus conhece suas ações, obras e decisões, mas o foco
está nas pessoas. Além disso, a presciência de Deus não é simplesmente uma mera previsão ou
apenas uma cognição prévia.
Quando a palavra “presciência” é aplicada a Deus no Novo Testamento, ela também implica na
ideia de relacionamento especial. Na Bíblia, quando Deus conhece alguém isso indica um ato de
favor e consideração afetuosa (Êxodo 33:17; Amós 3:2; João 10:14). A presciência trata desse
conhecimento que indica relacionamento.
Assim, o texto de 1 Pedro 1:2, por exemplo, que diz: “eleitos segundo a presciência de Deus Pai”,
deve ser interpretado como: “escolhidos antecipadamente segundo o propósito de Deus”.
Algumas traduções bíblicas revisadas já adotam essa tradução que se harmoniza melhor ao
contexto da passagem.
A questão é que no mesmo capítulo o apóstolo usa o mesmo termo grego, prognosko, para se
referir à escolha de Cristo como redentor (1 Pedro 1:20). Isso significa que se a presciência no
versículo 2 for meramente uma previsão, o mesmo também deverá ocorrer no versículo 20. O
resultado então seria afirmar que Deus apenas previu a pessoa de seu Filho. Consequentemente,
a obra da redenção não teria sido um plano eterno, mas uma simples previsão.
Romanos 8:28 e 29 também ajuda a entender que a presciência da fé não é a base da eleição.
Paulo fala que aqueles a quem Deus conheceu de antemão, a estes Ele predestinou. Se o texto
for isolado neste ponto, realmente a presciência parece ser a base da predestinação.
Porém no versículo anterior, o apóstolo esclarece que aqueles a quem Deus conheceu de
antemão são aqueles que o amam. Daí alguém pode questionar acerca de quem são aqueles que
amam a Deus. Mas o mesmo apóstolo responde: “aqueles que são chamados segundo o seu
decreto”. Portanto, a base de tudo é o decreto de Deus (cf. Salmo 2:7).
Além disso, se a eleição e predestinação fossem com base na fé prevista, então elas não seriam
eleição e predestinação, mas simplesmente uma constatação. Em outras palavras, Deus apenas
teria constatado aqueles que, por livre vontade, iriam escolher a salvação. Em ultima instância,
isso não seria uma predestinação divina, mas uma auto-predestinação humana. Na verdade a
escolha do homem é que contaria, e não a escolha de Deus. A vontade do homem prevaleceria
sobre a vontade de Deus.
Então o cenário seria o seguinte: Deus desejou salvar o homem e providenciou um plano para
isto. Mas no final das contas, o homem é quem decidirá se irá querer ou não ser salvo e se
frustrará ou não o plano de Deus. Se isso fosse verdade, o resultado seria que Deus não
providenciou a salvação, mas apenas ofereceu ao homem uma possibilidade de salvação. Mas
sobre isso, o apóstolo Paulo escreve que a escolha de Deus “não depende do que quer, nem do
que corre, mas de Deus, que se compadece” (Romanos 9:16).
Dentro do Calvisnismo também nem há a discussão sobre uma forma coletiva de eleição e
predestinação. Os calvisnistas entendem que dizer que Deus predestina um grupo, mas não
predestina os integrantes desse grupo, é um argumento ilógico, visto que um grupo é formado por
indivíduos. Além disso, não há base bíblica para defender essa tese. A Bíblia fala da eleição da
Igreja enquanto a comunidade dos fiéis, bem como a eleição de indivíduos que formam essa
comunidade. Neste ponto, muitos arminianos também concordam.

Argumentações acerca da predestinação no Calvinismo


Historicamente os argumentos acerca da predestinação na visão calvinista geralmente se
apresentam como contra-argumentos das objeções arminianas. Seguiremos esse padrão aqui.
1. Deus foi injusto ao escolher alguns e reprovar outros? Não. A Bíblia diz que todos os homens
pecaram contra Deus (Romanos 3:9-23). Isso significa que não existem inocentes de entre a raça
humana (Salmo 143:2). Deus jamais esteve em divida para com o homem, portanto, se
soberanamente Ele decidiu salvar alguns, isto não é nenhuma injustiça.
Se Deus tivesse resolvido que toda a humanidade deveria ser condenada ao inferno, Ele ainda
assim seria totalmente justo. Ele elegeu e predestinou indivíduos de entre uma raça caída e não
de entre uma raça justa e íntegra. Em nenhum momento o caráter amoroso de Deus é colocado à
prova por causa de sua soberania na eleição e predestinação incondicionais.
Os pecadores que são condenados à destruição eterna, o são por causa de seu próprio pecado.
Deus é justo e não condenará nenhum inocente ao inferno. Paulo anteviu que esse tipo de
argumentação iria surgir, e por isso fez questão de afirmar a soberania e a justiça de Deus diante
de suas criaturas insatisfeitas (Romanos 9:14). O mesmo apóstolo fala que a eleição é da graça
(Romanos 11:5). Isso significa que nenhum indivíduo teria o direito de ser eleito. Graça é favor
imerecido.
2. A eleição e predestinação incondicionais transformam os homens e robôs? Não. A eleição e
predestinação pela vontade soberana e incondicional de Deus não anulam a liberdade e a
responsabilidade do homem. Deus também executa seus planos soberanos através da vontade
de suas criaturas (Filipenses 2:12,13).
A predestinação não faz de ninguém um robô pré-programado. O homem é um agente livre, capaz
de escolher e decidir. Essas decisões e escolhas são importantes e possuem grandes
implicações. O que a Bíblia diz é que por causa da corrupção de sua própria natureza, o homem
caído é incapaz de escolher e se decidir pelas coisas de Deus.
É blasfemo inferir que o homem peca porque Deus o obriga a pecar (Tiago 1:13). O homem peca
e se deleita em seu pecado. A perversidade satisfaz a natureza caída e pecaminosa do homem.
Desde a Queda, os homens amaram mais as trevas do que a luz (João 3:19).
Porém, quando o Espírito Santo regenera o pecador, é o próprio pecador que responde
voluntariamente, de acordo com sua nova natureza, com fé e arrependimento ao chamado do
Evangelho. A fé é um dom de Deus, e o Espírito Santo é quem convence o homem de seu
pecado. No entanto, não é Deus quem crê ou se arrepende pelo homem. É o homem quem crê, e
é o homem quem se arrepende. Nesse sentido, Deus opera através da vontade do homem, e não
contra ela. Nenhum cristão verdadeiro, seja ele calvinista ou arminiano, ousará dizer que o amor
que sentem pelo Senhor é forçado e lhes priva de sua liberdade.
3. A eleição e predestinação incondicionais condenam pessoas que queriam ser salvas, mas não
foram eleitas? A Bíblia não fala de ninguém que quer ser salvo, mas não consegue porque não foi
eleito e predestinado. Jesus prometeu que jamais lançaria fora alguém que fosse até Ele. Porém,
Ele também disse que só poderiam ir até Ele aqueles a quem o Pai enviasse (João 6:37-44).
A Bíblia fala que todos pecaram, que não há um justo se quer diante de Deus. O estado do
homem caído é tão deplorável, que ele é retratado como um cadáver (Efésios 2:1-10). Um morto
não pode crer em Jesus, nem mesmo desejar ser salvo. Ele precisa ser ressuscitado primeiro. É
por isso que o apóstolo Paulo escreve que ninguém pode confessar que Jesus é o Cristo se não
for pelo Espírito Santo (Coríntios 12:3).
4. A eleição e predestinação incondicionais significam que Deus fez acepção de pessoas e
anulam o ensino bíblico de que Deus quer que todos sejam salvos? A eleição e predestinação
incondicionais não contradizem as verdades bíblicas de que Deus quer que todos os homens
venham a arrepender-se; e muito menos apresentam Deus como Aquele que faz acepção de
pessoas. Em primeiro lugar, na maioria dos textos em que a palavra “todos” é aplicada com
relação à salvação, ela não implica na ideia de todos os homens em particular. Os próprios textos
indicam que se trata de uma referência a todas as classes de pessoas.
Porém, existem textos que realmente indicam o amor de Deus por todos os homens. Ele é o Deus
que não sente prazer na morte do ímpio (Jeremias 33;11). Sob esse aspecto, sim, Ele deseja que
todos os homens se arrependam. Aqui então precisamos saber diferenciar a vontade preceptiva
de Deus de sua vontade decretiva.
A vontade preceptiva reflete o padrão moral de Deus expressando seus preceitos. Já a vontade
decretiva de Deus é expressa em seus decretos e certamente será cumprida. A questão é que
nem tudo o que Deus desejou em sua vontade preceptiva, Ele decretou em sua vontade decretiva.
Em segundo lugar, não há como dizer que a eleição e predestinação incondicionais resultam
numa acepção de pessoas. A palavra “incondicional” aponta justamente para isso. Ao eleger e
predestinar pessoas incondicionalmente, Deus o fez sem se basear em nada que poderia haver
no homem. A acepção de pessoas só se configura quando há uma aceitação, favorecimento ou
rejeição com base em qualidades e características das próprias pessoas.
Se a causa da eleição e predestinação não está na pessoa que é objeto delas, mas em Deus que
é quem elege e predestina, jamais isto seria uma acepção. Na verdade, é a ideia de eleição e
predestinação condicionais que configura acepção de pessoas. Se a eleição e predestinação são
baseadas na fé prevista, então Deus fez acepção de pessoas, pois Ele sabia que nem todos
teriam as mesmas oportunidades de crer.
Muitas pessoas passaram por este mundo sem nunca ouvir o Evangelho. Sim, Deus revela sua
vontade através das obras da criação e sua lei está impressa na consciência de todas as pessoas.
Porém, é através das Escrituras que sua vontade é revelada ao homem de forma especial. Sob
esse aspecto, é inegável que uma pessoa que nasceu na Inglaterra no século 18 nos dias em que
John Wesley pregava, teve mais oportunidades de crer no Evangelho do que uma pessoa nascida
no Império Asteca.
Portanto, se a eleição e predestinação são baseadas na fé prevista – e nem todos tiveram a
mesma oportunidade de crer –, então sim, Deus fez acepção de pessoas. Mas se crermos que
Deus elegeu e predestinou aqueles que são seus de forma incondicional e soberana, então temos
a certeza de que Ele garantirá que, de alguma forma, o chamado eficaz de sua graça alcance a
todos os eleitos, onde quer que estejam.
5. A eleição e predestinação incondicionais tornam a evangelização inútil e desnecessária? A
eleição e predestinação não é uma ameaça à evangelização, ao contrário, é a garantia de sua
eficácia. Ao saber que Deus elegeu e predestinou os que são seus, certamente a pregação do
Evangelho trará resultados.
Além disso, é através da pregação do Evangelho que Deus determinou que seus eleitos fossem
chamados. O Evangelho é o poder de Deus para a salvação de seu povo (Romanos 1:16; 1
Coríntios 1:18,24; 2:4; 1 Tessalonicenses 2;13; Hebreus 4;12; Tiago 1:18; 1 Pedro 1:3,23).
Por isso é preciso evangelizar, sabendo que Deus se encarregará dos resultados. Em Atos 13:48
lemos exatamente sobre isto. Após a pregação do Evangelho entre os gentios, “creram todos
quantos estavam ordenados para a vida eterna”.
Independentemente de qualquer coisa, nosso dever é pregar o Evangelho a todos os homens,
sem distinção, sabendo que Deus conhece aqueles que são seus (Mateus 28:18-20; Atos 1:8; 1
Coríntios 2:1-5; 2 Timóteo 2:19).
6. A eleição e predestinação incondicionais significam que o crente pode viver no pecado já que
foi eleito? Ninguém que foi eleito e predestinado por Deus viverá uma vida de pecado após ser
regenerado pelo Espírito Santo. Isso é incompatível com sua nova natureza. Após nascer de
novo, aquele a quem Deus elegeu e predestinou vive uma vida de obediência e santificação (1
Pedro 1:2). Se alguém diz ser predestinado e anda segundo o curso deste mundo, ele jamais
conheceu a Deus (1 João 3:1-10).
7. A eleição e predestinação incondicionais acabam com a segurança da salvação, já que manter-
se salvo não depende do crente? A doutrina bíblica da predestinação serve exatamente para
trazer segurança da salvação aos crentes. Eles podem descansar sabendo que sua salvação não
foi confiada ao enganoso coração do homem (Jeremias 17:9; Tito 1;15,16).
A salvação é um plano eterno de Deus, e somente estando nas mãos de Deus é que o crente
pode ter certeza dela (João 10:14,27; Romanos 8:30-39; 1 Pedro 1:1,5). Deus é quem preserva e
mantém o seu povo firme até o fim (1 Coríntios 1:8).
Conclusão sobre a eleição e predestinação
É necessário muito cuidado quando falamos sobre a doutrina bíblica da eleição e predestinação. É
preciso se ter em mente que estamos falando dos decretos de Deus, e seus desígnios são
insondáveis para nós.
Portanto, é importante saber se calar onde as Escrituras se calam; ou seja, não podemos ir além
do que a Palavra de Deus nos leva. Não há ninguém, nem o mais capacitado estudioso do
Arminianismo ou do Calvinismo, que consiga explicar totalmente os mistérios de Deus na eleição
e predestinação.
Por fim, a doutrina da eleição e predestinação não deve ser motivo de tristeza, desespero ou
descontentamento. Nem mesmo deve servir de motivo para causar divisão entre o povo de Deus.
A doutrina da eleição e predestinação é uma gloriosa verdade que deve servir de conforto para
todo cristão genuíno.
Mas realmente somente Deus conhece o destino final de cada um de nós. Enquanto isso, a Bíblia
nos encoraja a assegurar nossa chamada e eleição (2 Pedro 1:10). Porém, não é para Deus que
precisamos confirmar nossa eleição, mas para nós mesmos. Isso é possível através de uma vida
de santificação em conformidade com a vontade do Senhor.
“Agrada-te do SENHOR, e ele satisfará os desejos do teu coração.”(Sl 37.4)
Publicado em julho 5, 2011 por analudocarmosousa
Há algum tempo atrás acordei na madrugada, liguei a TV e ouvi um Pastor fazer uma breve
Reflexão dos primeiros versículos do Salmo 37 e fiquei a Meditar no restante do dia. Hoje não
recordo as palavras utilizadas por ele para falar ao coração de quem estava como eu ouvindo,
mas recordo que ele foi usado para encher meu coração de Paz!
Antes ficava pensando como é que “euzinha” “tão pequena” poderia Agradar ao Senhor? Sim,
porque a ordem é clara: Primeiro você faz a sua parte: “Agrada-te do SENHOR” e depois o
Senhor faz o que compete somente a Ele fazer: “e ele satisfará os desejos do teu coração.” Toda
ação produz uma reação. Hoje esse Salmo me inspira além de PAZ muita CONFIANÇA “Mas os
mansos herdarão a terra e se deleitarão na abundância de paz” e DIREÇÃO “Espera no
SENHOR, segue o seu caminho, e ele te exaltará para possuíres a terra…”
 O justo (pessoa justificada no sangue do Cordeiro) em qualquer circunstância é amparado por
Deus justamente porque Ele procura viver o que está escrito na Bíblia o tempo inteiro e o tempo
inteiro é cercado pelas ternas misericórdias e provisão divina: “Fui moço e já, agora, sou velho,
porém jamais vi o justo desamparado, nem a sua descendência a mendigar o pão.” O ímpio
(pessoa impiedosa, sem piedade, que não foi justificado pelo sangue do Cordeiro) põe a sua
confiança em Deus e em qualquer coisa que o faça se sentir seguro, inclusive nele mesmo. “Vi um
ímpio prepotente a expandir-se qual cedro do Líbano. Passei, e eis que desaparecera; procurei-o,
e já não foi encontrado.”
 Quem é filho de Deus ENTREGA o seu caminho nas mãos dEle confiante que o mais Ele fará.
Quem é filho CONFIA e essa confiança estabelecida o levará a fazer o bem e enquanto na terra
habitar será ALIMENTADO pela Palavra de Deus. Descanse! Espere! Não tenha medo dos que se
apressam a fazer temporariamente o mal! Confie! E não se Conforme com esse século! Quem
tem Promessa de Deus é protegido pela Palavra que sai da Sua boca! “Buscai, pois, em primeiro
lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33)AMÉM!
Bíblico do Salmo 18

 Daniel Conegero
18 minutos atrás
O Salmo 18 é um cântico de ação de graças, atribuído ao Rei Davi. O estudo bíblico do Salmo 18
mostra que nesse salmo o salmista agradeceu a Deus por um grande livramento concedido, ao
mesmo tempo em que ele fez uma declaração de amor e confiança no Senhor. Nesse salmo, a
presença protetora de Deus é exaltada.
O título histórico do Salmo 18 esclarece o contexto em que ele foi escrito. Davi dirigiu esse salmo
ao Senhor no dia em que ele foi livrado dos seus inimigos e das mãos do rei Saul. O esboço do
Salmo 18 pode ser organizado em cinco partes principais:
Louvor a Deus como refúgio (Salmo 18:1-3).
Os atos redentores de Deus (Salmo 18:4-19).
Gratidão pelo livramento (Salmo 18:20-30).
O poder capacitador de Deus (Salmo 18:31-45).
Agradecimento a Deus por sua misericórdia e fidelidade (Salmo 18:46-50).
Louvor a Deus como refúgio (Salmo 18:1-3)
O salmista Davi começou o Salmo 18 fazendo uma declaração de amor e dependência a Deus
como sua fortaleza e refúgio (Salmo 18:1). Nesse verso inicial, Davi se comprometeu a amar a
Deus, sua fonte de força e segurança. Inclusive, ao falar do seu amor a Deus, Davi usou uma
palavra hebraica que enfatiza uma relação de intimidade. Em outras palavras, Davi expressou sua
devoção pessoal e compromisso com o Senhor.
Em seguida, Davi usou o pronome possessivo “meu” para descrever o Senhor como o seu
rochedo, lugar forte, libertador, fortaleza e refúgio alto, escudo, salvação e o único alvo de seu
amor e confiança (Salmo 18:2). Na Bíblia, a figura da rocha frequentemente é usada para
destacar a proteção de Deus.
Com isso, o salmista deixou claro que tudo o que ele mais precisava na vida era a presença de
Deus. Na verdade, os crentes podem descansar na certeza de que Deus é o rochedo que não se
move, o lugar forte que é seguro, o libertador que liberta da opressão, o escudo que protege da
adversidade e o refúgio alto que é inacessível aos inimigos.
Consequentemente, no verso seguinte o salmista chegou à conclusão de que o Senhor é digno de
louvor, e está atendo para livrar o crente que invoca o seu nome (Salmo 18:3).
Os atos redentores de Deus (Salmo 18:4-19)
Apesar de sua confiança em Deus, o salmista reconheceu que em sua volta havia muita tristeza,
impiedade e morte por todos os lados, e que ele estava sendo afligido por essas coisas (Salmo
18:4,5). Porém, mais uma vez o salmista clamou ao Senhor e obteve resposta na hora de sua
angústia (Salmo 18:6).
No verso seguinte, o salmista apresentou um quadro de Deus se levantando com juízo em
resposta ao clamor do seu servo. O salmista usou a linguagem figurada para falar do poder e da
ira de Deus contra a impiedade. Por isso, o salmista disse que a terra foi abalada, os fundamentos
dos montes se moveram, e da boca do Senhor saiu fogo consumidor (Salmo 18:7-9). Em várias
passagens bíblicas os montem são usados como símbolos de estabilidade, mas diante do poder
de Deus, até mesmo os montes se abalam.
Davi também retratou Deus montado num querubim, e voando sobre as asas do vento. Essa
imagem evoca a ideia de Deus como um guerreiro divino que vem em socorro do salmista (Salmo
18:10). Os querubins são apresentados na Bíblia como guardiões da santidade de Deus.
Em seguida, através da linguagem figurada o salmista continuou mostrando a imagem de Deus
lutando contra os seus inimigos impiedosos. Palavras como “nuvens”, “saraiva”, “brasas de fogo”,
“trovões” e “relâmpagos”, combinadas à ideia de que as profundezas das águas foram reveladas e
os fundamentos do mundo foram descobertos, comunicam o caráter inescapável do juízo de Deus
que põe ordem ao caos (Salmo 18:11-15).
Como resultado, Davi afirmou que Deus estendeu sua mão forte e o tirou das muitas águas, e o
livrou dos seus poderosos inimigos. Tudo isso sugere que o salmista estava em uma situação de
grande perigo e vulnerabilidade, mas o Senhor não o abandonou (Salmo 18:16-18). Ao invés
disso, o Senhor livrou o salmista e o colocou num lugar espaçoso.
Gratidão pelo livramento (Salmo 18:20-30)
O salmista continuou com o tema da justiça de Deus, enfatizando a recompensa que Deus dá aos
justos e o castigo que ele dá aos ímpios. O salmista disse que Deus recompensou-o por sua
justiça e fidelidade à lei pactual, e lhe deu a vitória sobre seus inimigos (Salmo 18:20-24).
Nos versos 25 e 26, o salmista afirmou que Deus é misericordioso para com os que são
misericordiosos, trata com retidão os que são retos, revela sua pureza aos que são puros, e se
mostra inflexível com os perversos. Estes versos enfatizam a importância da justiça e
da misericórdia de Deus como qualidades divinas fundamentais (Salmo 18:25,26). O salmista
também destacou a fidelidade de Deus e sua proteção aos humildes (Salmo 18:27).
Depois, o salmista afirmou que Deus iluminou a sua lâmpada, e clareou as suas trevas.
Consequentemente, pela ação divina, o salmista pôde enfrentar exércitos e derrotar os seus
inimigos. Davi expressou a suficiência protetora que ele encontrou em Deus dizendo que o Senhor
o fazia saltar sobre muralhas (Salmo 18:28,29).
No verso 30, o salmista declarou que Deus é perfeito em todas as suas obras; Ele é fiel à sua
Palavra e um escudo para todos os que nele confiam. Mais uma vez neste verso o salmista
enfatizou sua confiança em Deus como protetor e defensor.
O poder capacitador de Deus (Salmo 18:31-45)
Os versos 31 a 45 continuam a destacar a ação salvadora de Deus em favor do salmista,
capacitando-o para todas as situações. No verso 31, o salmista fez uma pergunta retórica com o
objetivo de afirmar que não há Deus senão o Senhor, enfatizando a singularidade e supremacia
do Deus verdadeiro (Salmo 18:31).
No verso 32, o salmista declarou que Deus o fortaleceu e o orientou em seu caminho (Salmo
18:32). Em seguida, o salmista comparou seus pés com os das corças, simbolizando a rapidez e
agilidade que Deus lhe concedeu para alcançar lugares altos e difíceis (Salmo 18:33).
O salmista ainda reconheceu que Deus o treinou para a batalha, dando-lhe habilidade para usar
armas mais fortes, como, por exemplo, vergar um arco de cobre com seus braços. Naquele
tempo, os arcos geralmente eram fabricados de madeira, mas algumas vezes eram reforçados
com algum metal (Salmo 18:34).
No verso 35, o salmista expressou sua gratidão por Deus ter-lhe dado o escudo da salvação e por
tê-lo sustentado poderosamente. Davi também reconheceu que o motivo da sua prosperidade era
o cuidado do Senhor (Salmo 18:35).
No verso 36, o salmista destacou a forma como Deus o ajudou a caminhar sem vacilar, alargando
seus passos. Provavelmente Davi tinha em mente as estreitas veredas em Israel que seguiam por
terrenos rochosos. Nesses caminhos, os soldados podiam escorregar ou tropeçar, mas Deus
havia firmado os passos de Davi (Salmo 18:36). Essa descrição também pode ser vista como um
tipo de ilustração a respeito de como Deus manteve firme a fé do salmista.
Entre os versos 37 e 40, o salmista testemunhou como Deus o ajudou a vencer seus inimigos.
Davi disse ter perseguido e derrotado todos os seus inimigos através da ajuda divina. Nesse
ponto, ele falou de seus inimigos como que caídos sob seus pés, uma cena que era muito comum
no antigo Oriente Próximo. Ele também deixou claro que foi o Senhor quem entregou seus
inimigos em suas mãos (Salmo 18:37-40).
Na sequência, o salmista também testemunhou como seus inimigos clamaram por ajuda, mas
Deus os deixou ser esmagados como o pó diante do vento. Curiosamente, Davi falou de seus
inimigos clamando ao Senhor. Isso quer dizer que os inimigos que tinham se levantado contra ele
pertenciam ao próprio povo de Israel (Salmo 18:41,42).
No verso 43, o salmista reconheceu como Deus o livrou das contendas do povo e o fez líder de
nações. Até mesmo povos que ele não conhecia, tiveram que reconhecer sua liderança (Salmo
18:43). Então, diante desse cenário, o salmista afirmou que as nações ouviram a sua voz e
obedeceram a ele, enquanto seus inimigos foram derrotados e ficaram amedrontados (Salmo
18:44,45).
Agradecimento a Deus por sua misericórdia e fidelidade (Salmo 18:46-50)
Na parte final do Salmo 18, Davi novamente apresentou um louvor a Deus por ser o seu rochedo.
O salmista agradeceu ao Senhor por livrá-lo dos seus inimigos e exaltá-lo acima dos homens
violentos (Salmo 18:46-48).
Nos versos 49 e 50, o salmista concluiu o seu cântico mostrando uma cena em que Deus é
louvado entre os gentios, e usa de benignidade com o seu ungido. No Novo Testamento,
o apóstolo Paulo aplicou esses versos finais a Cristo, em quem esse salmo encontra o seu
cumprimento final (cf. Romanos 15:9).
Conclusão do Salmo 18
A mensagem do Salmo 18 é atemporal. Ainda hoje, muitos cristãos enfrentam desafios e
dificuldades em suas vidas, e precisam confiar em Deus para encontrar força e proteção. Então,
devemos saber que, assim como Davi, podemos confiar em Deus como nossa rocha, nossa
fortaleza e nosso libertador. Podemos clamar a Ele por ajuda, sabendo que Ele ouvirá nossas
orações e virá em nosso socorro.
Além disso, o Salmo 18 também nos lembra da importância de seguir os mandamentos de Deus e
de viver de acordo com sua palavra. Davi reconheceu que Deus era a lâmpada que iluminava
seus caminhos, e que sua palavra é perfeita e verdadeira. Podemos seguir esse exemplo,
buscando diariamente a orientação do Senhor através de sua Palavra.
Agrada-te do Senhor...

"Agrada-te do Senhor, e ele satisfará os desejos do teu coração. Entrega o teu caminho ao
Senhor, confia nele, e o mais ele fará" (Sl 37.4-5).
Dois dos versículos mais conhecidos do livro bíblico dos Salmos, estas poucas palavras foram
escritas pelo rei Davi num salmo que objetiva fazer um paralelo entre a frágil felicidade superficial
dos ímpios, que firma-se na abundância dos prazeres deste mundo, e a felicidade dos justos, dos
servos de Deus, que finca os pés na providência divina e no Seu cuidado. Leia o salmo todo
observando a riqueza de sabedoria e a monumental habilidade de Davi com sua pena.
Estes dois pequeninos versos são muito citados pelos crentes para lembrar da promessa de
Deus, e isso é muito bom. É motivo de alegria ver os crentes invocando os textos bíblicos para
trazer à memória o que dá esperança, e nada dá mais esperança do que lembrar que Aquele que
não pode mentir fez promessas ao Seu povo (Lm 3.21; Tt 1.2).
Mas, o que seria agradar-se do Senhor? O que Ele quis dizer quando prometeu satisfazer os
desejos do coração? O que é esse "mais" que Ele prometeu fazer se entregarmos nosso caminho
a Ele? Perguntas interessantes, não é mesmo? Vejamos...
O verso 4 é uma promessa que Deus fez baseado na lógica tautológica[1], ou seja, as duas partes
do verso dizem a mesma coisa de formas diferentes. Quando o texto diz "deleita-te no Senhor" diz
que devemos aprender a ter prazer em Deus, nos alegrar Nele, e com Ele. Desejá-lo
ardentemente, ansiar pela Sua presença, importar-se com Seus mandamentos e buscá-lo de todo
o coração. Elifaz, um dos amigos de Jó compreendia isso (Jó 22.26). O profeta Isaías também
descobriu o prazer em Deus e fez a ligação entre a santidade e o prazer em Deus (Is 58.13-14).
Outro grande profeta, Jeremias, também participou dessa verdade (Jr 29.13-14). O salmo 119
também previu bem-aventurança para os que o buscam dessa forma (Sl 119.2, 34, 145). Ora, a
conclusão é óbvia. Se o nosso coração deseja, acima de tudo, a presença de Deus, Deus
satisfará o desejo do nosso coração, pois o que desejamos é Ele mesmo! Deus promete satisfazer
o desejo de todo coração que deseja Ele mesmo. O texto não é uma promessa de que Deus
satisfará o desejo de um carro, de uma moto, de um casamento, ou qualquer outra coisa, ainda
que haja outros textos que possam registrar promessas de Deus em outras áreas da vida
humana. Aqui, no texto em questão, Ele promete a Si mesmo a todo aquele que o buscar de todo
o coração.
O verso 5 tem uma interpretação muitíssimo semelhante ao seu anterior. O salmista Davi está
dizendo que se entregar o nosso "caminho" ao Senhor, ou seja, os rumos da nossa vida e nosso
proceder cotidiano, decidindo e agindo sob a tutela do Senhor e confiando Nele, então o mais Ele
fará. Mas é claro! Viver em submissão e obediência ao Senhor é tudo o que tenho para oferecer-
Lhe; não há nada que eu possa dar a Deus além do meu "caminho", pois é só o que eu tenho. O
que o texto quer dizer é que você e eu devemos entregar ao Senhor tudo o que temos e somos,
então Ele cuidará do restante, daquilo que não está ao nosso alcance, daquilo que não nos
compete decidir ou fazer. Por isso é tão grande o número de pessoas que vivem sem propósito,
sem um senso de completude na vida, porque lhes falta algo, algo essencial. Falta-lhes Deus!
Falta-lhes o conforto e a alegria sem preço e insuperável que só o Criador pode conceder à
criatura (Jo 14.27). Confira essa mesma verdade dita em outras palavras:

"Que darei ao Senhor por todos os seus benefícios para comigo? Tomarei o cálice da salvação e
invocarei o nome do Senhor. Cumprirei os meus votos ao Senhor, na presença de todo o seu
povo" (Sl 116.12-14).
"Confia os teus cuidados ao Senhor, e ele te susterá; jamais permitirá que o justo seja abalado"
(Sl 55.22).
"Confia ao Senhor as tuas obras, e os teus desígnios serão estabelecidos" (Pv 16.3).
"Dá-me, filho meu, o teu coração, e os teus olhos se agradem dos meus caminhos" (Pv 23.26).
"buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão
acrescentadas" (Mt 6.33).

Como conforta nosso coração saber que servimos a um Deus tão cuidador, tão suficiente, tão
provedor! Que aprendamos, verdadeiramente, a nos deleitar no Senhor e entreguemos, sem
reservas, nosso caminho Àquele que nos preencherá e suprirá todas as nossas carências e
necessidades.
Agrada-te do Senhor
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O Salmo 37 é de autoria do rei Davi e seu tema central é a confiança em Deus por parte do justo
traduzida nesse contentamento Nele. Por isso, Davi afirma: “Agrada-te do Senhor, e ele satisfará
os desejos do teu coração” (Salmos 37.4).

A ideia por trás dessa expressão e colocação é a do deleite. Algumas traduções trazem essa
expressão deleita-te ao invés de agrada-te. E o que é o deleite? É a satisfação interior plena, o
prazer, o contentamento. Isso fala também de descanso, paz e refrigério. Agradar a Deus é
deleitar-se Nele. É tê-lo como a fonte única e máxima de satisfação, realização, prazer,
contentamento interior.

E como se faz tão necessária essa aprendizagem, pois à medida que essa situação de crise
parece se estender a cada dia, trazendo tantas situações, a tendência é não confiarmos em Deus,
descansarmos Nele, acreditando que Ele perdeu o controle de tudo. É quando surge a
murmuração. E como é delicado a murmuração!

Muitas são ou podem ser as maneiras pelas quais podemos agradar a Deus, mas o que é mais
importante é que haja essa compreensão no seu coração quanto ao chamado de Deus para as
nossas vidas, que é o de agradá-lo, fazendo sempre a Sua vontade. Mesmo em meio a tantas
situações decorrentes desses dias difíceis, é possível agradarmos ao Senhor, quando há essa
disposição.

Meu desejo e minha oração se dão nesse sentido, que você possa ser tocado, a ponto de sua
vida ser transformada, a fim de que aprenda a deleitar-se Nele, como o apóstolo Paulo, nessa
proclamação de fé e em fé: “Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar
humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência,
tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que
me fortalece” (Filipenses 4.11-13.).

Não faria sentido algum se Paulo estivesse escrito essa carta aos irmãos da igreja da cidade de
Filipos, portanto, aos irmãos filipenses, num período de bonança, quem sabe em algum lugar
paradisíaco à sua época. Mas não! Ele a escreveu quando estava preso em Roma por causa de
sua pregação do evangelho. E as prisões à sua época eram terríveis. Elas eram escavadas e
estabelecidas em meio às rochas, portanto, um lugar isolado e frio. Paulo, de fato, havia
aprendido a viver contente em toda e qualquer situação, pois àquela altura de sua vida, ele já
havia passado por tantos desafios.

Portanto, meu irmão (a): "Agrada-te do Senhor...". Esse é o imperativo bíblico. E podemos vivê-lo,
mesmo em tempos como esse. Tome o exemplo de Paulo como combustível para aumentar a sua
fé e tornar possível seu deleite nos braços do Pai.
Ter Bom Ânimo e Ser Fiel nas Adversidades
Élder Adhemar Damiani
Of the Second Quorum of the Seventy
O Evangelho de Jesus Cristo nos dá a força e a perspectiva eterna para enfrentar com bom ânimo
o que virá pela frente.
Como podemos encontrar paz neste mundo? Como podemos perseverar até o fim? Como
podemos superar as dificuldades e provações que estamos enfrentando?
O Salvador Jesus Cristo disse: “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo
tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”.1
Como parte de nossa provação nesta vida mortal, passamos por aflições, dores e
desapontamentos. Somente em Jesus Cristo podemos encontrar a paz. Ele pode nos ajudar a ter
bom ânimo e a vencer todos os desafios desta vida.
O que significa ter bom ânimo? Significa ter esperança, não desanimar, não perder a fé, e viver a
vida com alegria: “Os homens existem para que tenham alegria”. 2 Significa encarar a vida com
confiança.
O evangelho de Jesus Cristo nos dá a força e a perspectiva eterna para enfrentar com bom ânimo
o que virá pela frente. Todavia, não devemos subestimar as dificuldades profetizadas para nossos
dias.
Quais são algumas dessas dificuldades? Como podemos enfrentá-las?
Algumas dificuldades são: falta de esperança, falta de amor e falta de paz.
O profeta Morôni ensinou: “E se não tendes esperança, deveis estar em desespero; e o desespero
vem por causa da iniqüidade”.3 Para muitos, os próximos anos poderão ser anos de desespero.
Quanto maior a iniqüidade, maior será o desespero.
O Salvador disse: “E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará”. 4 Na medida em
que a iniqüidade aumentar, o verdadeiro amor desaparece. Como resultado, o medo, a
insegurança e o desespero crescem!
Ao Profeta Joseph Smith o Senhor disse: “(…) desejo que todos os homens saibam que o dia
rapidamente se aproxima; (…) em que a paz será retirada da Terra e o diabo terá poder sobre seu
próprio domínio. E também o Senhor terá poder sobre seus santos e reinará em seu meio
(…)”.5 Vivemos numa época em que a paz foi tirada da Terra.
Por outro lado, vivemos numa época gloriosa na qual o Senhor restaurou Seu sacerdócio. O
verdadeiro evangelho foi restaurado. A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é o
reino de Deus na Terra! Nós estamos ajudando a preparar a Terra para quando o Senhor Jesus
Cristo vier e reinar pessoalmente sobre ela.
Por que precisamos passar por provações nesta vida?
O Senhor não faz segredo de que provará a nossa fé e a nossa obediência. “E assim os
provaremos para ver se farão todas as coisas que o Senhor seu Deus lhes ordenar”.6
Aprendemos no Livro de Eclesiastes: “Tudo sucede igualmente a todos; o mesmo sucede ao justo
e ao ímpio; ao bom e ao puro, como ao impuro; assim ao que sacrifica como ao que não sacrifica;
assim ao bom como ao pecador (…) a todos sucede o mesmo”.7 As tempestades podem ocorrer
na vida do homem prudente, que edificou a sua vida sobre a rocha do evangelho, como também
na vida do imprudente, que edificou a vida sobre as coisas deste mundo.8
Qual deveria ser a nossa reação diante das provações?
O Senhor disse: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz,
e siga-me”.9 Precisamos tomar a nossa cruz a cada dia e seguir em frente — e não nos deixarmos
ficar à margem da nossa jornada eterna.
Como podemos saber se estamos sendo provados ou se estamos sendo castigados pelo Senhor?
As provações são oportunidades para o nosso crescimento. O Senhor disse: “Meu povo deve ser
provado em todas as coisas a fim de preparar-se para receber a glória que tenho para ele, sim, a
glória de Sião; e quem não suporta correção não é digno do meu reino”.10
Quando estivermos sendo provados, devemos ponderar e perguntar: “O que o Senhor quer que
eu faça nesta situação?”
Ao profeta Joseph Smith o Senhor disse estas palavras consoladoras: “Sabe, meu filho, que todas
essas coisas te servirão de experiência e serão para o teu bem. O Filho do Homem desceu abaixo
de todas elas. És tu maior que ele?”11 Precisamos ver cada provação como uma oportunidade
para crescer. Algum dia iremos compreender o porquê delas.
O Senhor disse: “E a quem amo também castigo, para que seus pecados sejam perdoados, pois
com o castigo preparo um meio para livrá-los (…)”. 12 O Senhor ama cada um de nós. Ele deseja
que nós sejamos felizes. Essa felicidade vem pela nossa fé em Jesus Cristo, pelo nosso
arrependimento sincero e verdadeiro, pela nossa obediência aos Seus mandamentos e pela
nossa perseverança até o fim.
Algumas vezes podemos pensar que o Senhor não está ouvindo e respondendo a nossas
orações. Nesses momentos precisamos parar e ponderar sobre o que temos feito ao longo de
nossa vida. Se necessário, coloquemos nossa vida em harmonia com os princípios do evangelho
de Jesus Cristo. Através do Profeta Joseph Smith o Senhor revelou:
“Eu, o Senhor, permiti que lhes sobreviessem aflições que os afligiram em conseqüência de suas
transgressões. (…) [Eles] foram vagarosos em atender à voz do Senhor seu Deus; portanto o
Senhor seu Deus é vagaroso em atender a suas orações, em responder-lhes no dia de suas
tribulações.
No dia de sua paz, trataram com leviandade meus conselhos; mas, no dia de suas tribulações,
buscaram-me por necessidade”.13
Quando temos o desejo sincero de colocar nossa vida em harmonia com a vontade do Senhor,
Ele estará sempre pronto para ajudar a aliviar nossos fardos.
O que destrói o nosso bom ânimo e a nossa esperança?
Jesus Cristo explicou aos Seus Doze Apóstolos quais são algumas das coisas que podem destruir
a nossa esperança e nos fazer desistir: deixar-se cair em tentação; não resistir às angústias e
tribulações; não suportar as perseguições; temer os “cuidados” do mundo; buscar as riquezas
materiais em primeiro lugar; desistir em lugar de perseverar até o fim; e deixar-se enganar por
falsos profetas.14
O que nos dá ânimo e esperança?
O convite do Salvador a cada um de nós é: “vinde a mim, todos os que estais cansados e
oprimidos, e eu vos aliviarei”. 15 Jesus Cristo tem o poder de aliviar nossas dores e nossos
sofrimentos.
O profeta Mórmon ensinou:
“Portanto, se um homem tem fé, ele tem que ter esperança; porque sem fé não pode haver
qualquer esperança (…) e se um homem é humilde e brando de coração e confessa, pelo poder
do Espírito Santo, que Jesus é o Cristo, ele precisa ter caridade (…)”.16
Se, diariamente, exercitarmos a fé, a mansidão, a caridade, a brandura de coração, confessando
que Jesus é o Cristo e aceitando Sua Expiação, seremos abençoados com a força e a esperança
para enfrentar e superar as provações e dores desta vida.
Quais são algumas das promessas do Senhor a cada um de nós?
“Tende bom ânimo, filhinhos; pois estou no vosso meio, e não vos desamparei”.17
“Tende bom ânimo, porque eu vos guiarei. Vosso é o reino e são vossas as suas bênçãos e são
vossas as riquezas da eternidade.”18
Citando as palavras do profeta Éter: “Portanto todos os que crêem em Deus podem, com
segurança, esperar por um mundo melhor, sim, até mesmo um lugar à mão direita de Deus,
esperança essa que vem pela fé e é uma âncora para a alma dos homens (…)”.19
Deus é nosso Pai. Nós somos Seus filhos. Ele nos ama. Ele deseja nossa felicidade aqui, nesta
vida, e por toda a eternidade. Somos hoje guiados por um verdadeiro profeta de Deus. Jesus é o
Cristo. Através Dele nós podemos encontrar a verdadeira paz neste mundo, e ter vida em
abundância. Em nome de Jesus Cristo. Amém.
O Que Significa “Seja Forte e Corajoso”?

 Daniel Conegero
Seja forte e corajoso foi a declaração de encorajamento que Josué escutou do próprio Deus. Ao
dizer que Josué devia ser forte e corajoso, Deus estava animando e fortalecendo o líder hebreu
que havia recebido a responsabilidade de conduzir o povo de Israel na conquista da Terra
Prometida.
Esse encorajamento é tão importante e emblemático que Deus o repete três vezes seguidas a
Josué (Josué 1:6-9). De fato essas palavras certamente foram muito significativas a Josué. Deus
lhe falou que ele deveria ser forte e corajoso num momento decisivo de sua vida.
Moisés, o homem que havia sido usado por Deus como instrumento para libertar o seu povo do
Egito, havia morrido. A situação realmente era complicada, pois aos olhos humanos Israel tinha
ficado sem liderança justamente na ocasião que deveria ser o clímax de uma história de quatro
décadas de peregrinação.
Se a vida no deserto tinha sido difícil, o desafio em Canaã parecia ser ainda mais complicado.
Como uma caravana que era basicamente nômade, poderia tomar as equipadas e protegidas
cidades cananitas? E pior, tendo acabado de lamentar a morte de sua maior referência? Foi nesse
contexto que Deus levantou Josué como instrumento para fazer o seu povo herdar a terra que Ele
havia prometido a Abraão. Por isso a exortação “seja forte e corajoso” foi muito apropriada.
Vejamos neste estudo três lições principais que podemos aprender com as três vezes em que
Deus exortou Josué a ser forte e corajoso.
Seja forte e corajoso para cumprir sua missão
Deus disse a Josué: “Sê forte e corajoso, porque tu farás este povo herdar a terra que, sob
juramento, prometi dar a seus pais” (Josué 1:6). Deus encorajou Josué a cumprir sua tarefa futura.
A missão que Josué havia recebido do Senhor não era fácil. Ele foi comissionado pelo Senhor a
conduzir Israel a usufruir da promessa divina feita aos seus antepassados; e isso incluía entrar na
terra, derrotar os inimigos que ocupavam aquele território e se apossar da herança prometida por
Deus.
Definitivamente ser escolhido do Senhor não significa ter uma vida fácil, tranquila e ociosa.
Desfrutar da bênção do Senhor e se deleitar na certeza de suas promessas não implica
necessariamente uma vida de passividade.
A soberania divina não substitui a responsabilidade humana. Sim, Deus é fiel à sua Palavra e
cumpre sua promessa apesar da debilidade humana; mas ao mesmo tempo, em sua providência,
Ele também usa o serviço dos homens como um meio através do qual seus propósitos soberanos
são cumpridos.
Por isso que diante das promessas do Senhor, Josué precisou ouvir que ele deveria ser forte e
corajoso. Charles Spurgeon diz que Josué jamais deveria usar a promessa como um sofá sobre o
qual poderia se espalhar em indolência; mas ele deveria usar a promessa como um cinturão para
fortalecer seus ombros ao preparar-se para o trabalho que se encontrava diante dele.
Como explica W. W. Wiersbe, antes que Deus pudesse cumprir suas promessas, porém, foi
preciso que Josué exercitasse sua fé e que fosse “forte e corajoso”. Nesse sentido, a promessa do
Senhor deve ser um estimulo a uma vida de trabalho, não um motivo para uma vida desocupada.
Em Cristo, Deus nos deu toda sorte de bênçãos espirituais; mas devemos, com força e coragem,
nos apropriar dessas bênçãos pela fé. Como ainda observa Wiersbe, o Senhor colocou uma porta
aberta diante da Igreja (Apocalipse 3:8); agora cabe nós o dever de passar por essa porta pela fé
e se apossar de novos territórios para o Senhor.
Seja forte e corajoso, zelando pela Palavra de Deus
Deus também disse a Josué: “Tão somente sê forte e mui corajoso para teres o cuidado de fazer
segundo toda a Lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita
nem para a esquerda; para que sejas bem-sucedido por onde quer que andares. Não cesses de
falar deste Livro da Lei; antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo
tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido” (Josué
1:7,8).
Força e coragem à parte da Palavra de Deus não passam de esforço tolo e atitude inconsequente.
Josué devia ser forte e corajoso ao passo que estivesse agindo rigorosamente conforme toda a
Lei de Deus. Marten H. Woudstra explica que a Lei de Deus é a sua palavra revelada, entretecida
na história da salvação e impregnada com atos redentores de Deus em favor do seu povo.
O servo de Deus só pode ser eficazmente forte e corajoso se sua vida estiver alicerçada na
Palavra de Deus; se nela ele meditar dia e noite e não se desviar de seus mandamentos de forma
alguma. W. W. Wiersbe ainda diz que a força e a coragem de Josué foram resultado de meditar
na Palavra de Deus; de crer nas suas promessas e cumprir os seus mandamentos.
O salmista expõe essa mesma verdade quando escreve que bem-aventurado é aquele que tem
sua satisfação na Lei do Senhor, e nela medita dia e noite. Diferentemente do ímpio que é como
uma palha frágil que o vento leva embora, o homem justo é como uma árvore forte, imponente e
vistosa plantada à beira de águas correntes (Salmo 1).
Não te mandei eu? Seja forte e corajoso!
Por fim, o Senhor disse a Josué: “Não to mandei eu? Seja forte e corajoso! Não temas, nem te
espantes, porque o Senhor, teu Deus, é contigo por onde quer que andares” (Josué 1:9). Aqui
está a grande explicação sobre como alguém pode cumprir essa exortação divina e ser forte e
corajoso nesta vida.
Isso quer dizer que Deus não ordena que o crente seja forte e corajoso e depois o abandona a
sua própria sorte. Ele não apenas diz: “Seja forte e corajoso”; mas também diz: “Não temas, nem
te espantes; porque o Senhor, teu Deus, é contigo por onde quer que andares”.
Podermos ser fortes e corajosos porque o próprio Deus é quem nos capacita, nos fortalece e nos
guia. Ele é quem habilitada o seu povo a cumprir os seus preceitos. Bem lemos no livro de
Neemias que a alegria do Senhor é a nossa força” (Neemias 8:10).
Além disso, a Bíblia revela claramente o motivo pelo qual nossa força não se desfalece, e nossa
coragem não esmorece: “Ele [o Senhor] os manterá firmes até o fim; de modo que vocês serão
irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é Deus, o qual os chamou à comunhão
com seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1 Coríntios 1:8,9). Portanto, sejamos fortes e
corajosos!
O Que Significa “Esforça-te e Tem Bom Ânimo”?

 Daniel Conegero
Esforça-te e tem bom ânimo! Esta é uma recomendação bíblica relevante para todos os cristãos
verdadeiros de todas as épocas e lugares. A vida cristã não é uma vida de ociosidade, mas de
serviço árduo, especialmente na obra de Deus.
Embora saibamos que nossa salvação não é garantida pelos nossos esforços e disposição, tais
características devem ser comuns aos servos do Senhor. Somos salvos pela graça mediante a fé
em Jesus Cristo. Então, como uma resposta de gratidão, nos empenhamos em agradar ao Senhor
em todas as áreas de nossas vidas, com vigor e coragem. Por isso é tão reconfortante quando
ouvimos Deus falar conosco através de sua santa Palavra dizendo: “Esforça-te e tem bom
ânimo!”.
Esforça-te
Quando Josué foi chamado por Deus para ser o líder que haveria de conduzir Israel na conquista
da Terra Prometida, ele foi encorajado pelo Senhor a se esforçar e ter bom ânimo. Ele tinha
servido durante os últimos anos como auxiliar de Moisés; mas agora Moisés estava morto e havia
chegado o momento de ele desempenhar o propósito para o qual Deus o chamou.
A tarefa não seria nada fácil. Cabia a ele o dever de completar a missão de Moisés à frente de
Israel. Porém, isso seria possível porque Deus estava com ele (Josué 1:5). Anteriormente Josué já
havia sido fortalecido e animado por Moisés, mas naquela ocasião foi o próprio Deus quem o
fortaleceu e o encorajou (cf. Deuteronômio 1:38; 3:28; 31:7).
Josué já havia demonstrado ser uma pessoa corajosa e resoluta. Ele já tinha provado seu valor
servindo a Moisés. Seu papel na batalha contra Amaleque é a uma prova disso. Mas como diz
John Wesley, ele ainda precisava dessa exortação, pois seu trabalho seria difícil, longo e muito
importante.
Qualquer dúvida ou sentimento de temor que Josué pudesse ter, certamente foi superado pelas
palavras do Senhor: “Esforça-te e tem bom ânimo, porque tu farás a este povo herdar a terra que
jurei a seus pais lhes daria. Tão somente esforça-te e tem mui bom ânimo para teres o cuidado de
fazer conforme toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a
direita nem para a esquerda, para que prudentemente te conduzas por onde quer que
andares” (Josué 1:6,7).
O verbo esforçar traduz uma raiz hebraica que significa “ser forte”, “fortalecer”, “prevalecer”, “ser
firme” e “ser persistente”. Esse era exatamente o comportamento esperado de Josué naquela
situação; bem como também é o comportamento esperado de todos os filhos de Deus neste
mundo, seja qual for a circunstância.

E tem bom ânimo


A expressão “tem bom ânimo” traduz um vocábulo que transmite a ideia de ser corajoso, bravo,
resoluto, sólido ou audacioso. Certamente a frase: “Esforça-te e tem bom ânimo” é uma repetição
proposital. Com isso podemos aprender que a menos que empreguemos nossos maiores
esforços, não estaremos assumindo a postura correta diante dos desafios e tarefas que nos são
propostos.
Em nossa própria natureza, nós somos tão falhos e fracos. Por outro lado, a todo
tempo Satanás procura nos atacar ferozmente. Concordo com João Calvino quando diz que não
há nada com que estejamos mais inclinados do que a relaxar os nossos esforços. Além disso,
muitos direcionam seus esforços a coisas sem propósito.
Por isso que a única maneira de cumprir a exortação: “Esforça-te e tem bom ânimo”, é estando
sob a orientação constante da Palavra de Deus. Tornamos-nos verdadeiramente invencíveis
quando nos esforçamos em obedecer ao Senhor fielmente.
Jamais devemos nos esquecer que a garantia de que podemos enfrentar qualquer situação a qual
formos submetidos, vem do triunfo de Cristo. Foi o próprio Senhor Jesus quem disse: “Tenho-vos
dito isso, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci
o mundo” (João 16:33).
John Gill explica que assim como o trabalho de Josué na luta contra os cananeus e na conquista
de Canaã, o trabalho de Cristo na redenção de seu povo e na subjugação de seus inimigos exigiu
força e coragem; e de fato Ele foi muito forte e corajoso. Sobre isso Matthew Henry diz que nosso
Senhor Jesus, assim como Josué, foi sustentado em seus sofrimentos por considerar a vontade
de Deus e o mandamento de seu Pai.
Portanto, embora existam tantas coisas que tentam nos levar à fraqueza e ao desânimo no
ministério cristão, há muito mais motivos para sermos esforçados, corajosos e audaciosos. Não
apenas pelo exemplo de Cristo, mas pela eficácia de sua obra e pelas bênçãos resultantes dela,
sabemos que podemos cumprir essa exortação divina. Portanto, essa exortação serve para todos
nós. Esforça-te e tem bom ânimo!
A Salvação Pela Graça Mediante a Fé

 Daniel Conegero
A salvação pela graça é uma doutrina central da Fé Cristã. Ela indica que a salvação é um dom
gratuito de Deus, e não está fundamentada nas obras humanas. A Bíblia é clara ao afirmar que
somos salvos pela graça mediante a fé em Cristo Jesus.
A corrupção do homem
A Bíblia diz que todas as pessoas, sem exceção, são pecadoras (Romanos 3:23). Isto significa
que todos necessitam da salvação. Ninguém é capaz de se justificar diante de Deus por seus
próprios méritos.
O problema é que o pecado corrompeu a natureza humana de uma forma devastadora. Deus
criou o homem bom, íntegro, dotado de responsabilidade moral e livre escolha. Mas quando o
pecado entrou na humanidade através da desobediência de Adão, isto mudou. Saiba como o
pecado entrou no mundo.
O coração do homem tornou-se irresistivelmente inclinado ao mal. A prova disto é que ninguém
consegue optar a nunca mais pecar nessa vida. O homem não é pecador porque peca, mas ele
peca porque é pecador.
Por sua própria vontade, o homem não consegue amar as coisas de Deus. Ele simplesmente é
incapaz de desejar aquilo que é espiritualmente bom. Por causa do pecado, o pecador sente
prazer em ofender ao Senhor. Ele prefere as trevas ao invés da luz (João 3:19). A corrupção do
homem nos mostra a profundidade da salvação pela graça.
Condenados pela Lei
Vimos que todos os homens são pecadores, então não há ninguém que possa salvar-se a si
mesmo. O pecado pode ser definido como a quebra da Lei de Deus. Essa Lei basicamente proíbe
aquilo que ofende a Deus, e ordena o aquilo que lhe agrada. Entenda o que significa o pecado.
A Lei de Deus reflete seu caráter santo, e comunica ao homem o seu propósito. Essa Lei pode ser
percebida nas obras da criação, está impressa na consciência de cada pessoa, e é revelada de
forma especial nas Escrituras.
O problema é que ninguém consegue cumprir integralmente a Lei de Deus. Mas se há Lei, e se há
um Juiz, então é justo que alguma penalidade seja aplicada. É por isso que o apóstolo Paulo
escreve que a Lei traz o conhecimento do pecado (Romanos 3:20).
Isso significa que a Lei faz a brilhar a justiça de Deus em contraste com nossa própria
pecaminosidade. Algumas pessoas dizem que Deus é injusto ao castigar o homem, mas é
exatamente o contrário. Deus seria injusto se não castigasse aqueles que quebraram sua Lei. Se
o homem é condenado ao inferno, a culpa é inteiramente sua!
A graça que salva condenados
A Bíblia indica que a Lei não pode servir como instrumento de salvação, visto que ninguém é
capaz de cumpri-la. Se ninguém consegue viver de acordo com o padrão que Deus exige, como
alguém pode ser salvo? A resposta para esta pergunta é a salvação pela graça mediante a fé.
Deus enviou seu Filho Unigênito ao mundo, a fim de salvar o homem que quebrou sua Lei.
Diferentemente de Adão, em Cristo não se achou pecado. Jesus fez certo o que Adão fez errado.
Ele obedeceu onde Adão desobedeceu, Ele resistiu onde Adão cedeu e Ele venceu onde Adão foi
derrotado.
Ele foi o único capaz de cumprir plenamente a Lei de Deus. Não houve qualquer aspecto da Lei
que Cristo deixou de cumprir, seja ele moral, civil ou cerimonial. Com isso, Ele carregou sobre si a
maldição da Lei. Jesus recebeu todo o peso da ira divina em lugar do seu povo. É por isso que no
aspecto legal, o pecador é justificado mediante os méritos de Cristo.
O que significa ser salvo pela graça?
Ser salvo pela graça significa exatamente o oposto de ser salvo pelas obras. A salvação pela
graça indica que o fundamento de nossa salvação está em Deus e não em nós. Sem Cristo, o
homem é espiritualmente morto. Ele não está doente precisando de tratamento, ele está
completamente morto! Apenas Deus pode ressuscitá-lo (Efésios 2).
Paulo escreve que a salvação é pela graça, mediante a fé, e isto não vem de nós mesmos, mas é
dom de Deus. Isso significa que não há um único sentido em que a graça de Deus não esteja
presente na obra da salvação. Aqui não há espaço para os méritos e esforços humanos. Por isto,
ninguém tem o direito de se gloriar (Efésios 2:8-10). Um morto não pode ressuscitar a si mesmo!
O preço da salvação custou a morte de Cristo. Como nenhum homem poderia pagar tal preço, a
salvação então é um dom gratuito dado por Deus. Mediante a fé em Jesus Cristo, o pecador tem
seus pecados perdoados, e é aceito como filho por Deus. Quando Deus olha para o redimido, ele
não enxerga mais os seus delitos, mas enxerga a justiça de Cristo.

O resultado da salvação pela graça na vida do cristão


Quando o homem, morto em seus delitos e pecados, é vivificado, ele passa a ser uma nova
criatura. Esse processo é tão profundo e singular, que Jesus o chamou de novo nascimento (João
3). Essa obra é operada pelo Espírito Santo. Saiba o que é nascer de novo.
Regenerado, o homem é capacitado pelo Espírito Santo a viver uma vida que agrada a Deus.
Assim, o cristão tem prazer em cumprir a Lei de Deus, e ela lhe serve como orientação. Para o
cristão, a Lei não é mais regra de condenação, mas regra de gratidão.
Claro que os aspectos cerimonial e civil da Lei não se aplicam mais a nós. Todos os rituais e
símbolos exigidos na Lei apontavam para Cristo, e ele cumpriu todos eles. Hoje o Evangelho é
anunciado a todos os povos, e não precisamos mais de sacrifícios, rituais e intermediários. O
sacrifício de Cristo é suficiente, e através de sua obra, aplicada pelo Espírito Santo, temos acesso
a Deus.
Porém, a Lei moral continua vigente. Deus é imutável, e o padrão de santidade exigido por Ele
continua o mesmo. É por isto que aqueles que foram salvos pela graça descobrem que amam a
Lei e desejam guardá-la.
O Espírito Santo conduz o redimido a uma obediência tão grande, que ele se deleita na Lei do
Senhor. Sua declaração é a mesma do salmista: “Como eu amo a tua lei! Medito nela o dia inteiro”
(Salmos 119:97).
Paulo escreve que todos aqueles que são salvos pela graça também são educados por ela (Tito
2:11,12). A graça salvadora nos ensina a renunciar a impiedade e viver uma vida que agrada a
Deus.
O mesmo apóstolo também ensina que o propósito da salvação pela graça não está no homem,
mas em Deus. O alvo principal de Deus ao salvar seu povo, é sua própria glória por toda a
eternidade (Efésios 2:7).
Jesus Desceu ao Inferno e Pregou aos Mortos?

 Daniel Conegero
A Bíblia não diz que Jesus desceu ao inferno e pregou aos mortos. Na verdade essa ideia de que
Jesus desceu ao inferno é resultado de uma linha de interpretação de alguns textos bíblicos
difíceis.
Como qualquer outro texto da Bíblia que oferece alguma dificuldade de interpretação, existem
diversas interpretações defendidas pelos teólogos. Porém, devido a algumas interpretações
equivocadas sobre este tema, muitas heresias foram ensinadas ao longo da História da igreja.
Antes de entender se Jesus desceu ao inferno ou não, é preciso saber como a palavra “inferno” é
aplicada nos textos bíblicos. Essa palavra é utilizada para traduzir alguns termos originais
hebraicos e gregos. São eles: Sheol, Hades, Gehenna e Tártaro.
A palavra grega Tártaro é utilizada apenas uma vez em 2 Pedro 2:4. Sheol é uma palavra
hebraica utilizada com certa frequência no Antigo Testamento. O grego Hades traduz o hebraico
Sheol na Septuaginta (versão grega do Antigo Testamento). Hades também é utilizado no Novo
Testamento de forma praticamente equivalente ao Sheol no Antigo Testamento.
Tanto Sheol quanto Hades podem assumir significados diferentes dependendo do contexto. Os
três principais significados são: sepultura; esfera dos mortos (estado desencarnado); lugar de
punição dos ímpios após a morte (o inferno em seu estado intermediário).
Já o termo Gehenna é uma adaptação grega de uma palavra hebraica. Gehenna é utilizado no
Novo Testamento para se referir ao inferno em seu estado final. Esse será o lugar de condenação
dos ímpios e de Satanás e seus anjos após o juízo final (o lago de fogo). Saiba mais sobre o que
significam Hades, Sheol, Gehenna e Tártaro.
Neste estudo bíblico nós iremos falar sobre o estado intermediário dos mortos. O estado
intermediário é o período de existência da alma separada do corpo enquanto aguarda a
ressurreição para comparecer ao julgamento final. Portanto, quando utilizarmos a palavra “inferno”
neste estudo não estaremos nos referindo ao inferno em seu estado final. Entenda o que é o
inferno segundo a Bíblia.
Basicamente os principais textos bíblicos utilizados para defender que Jesus desceu ao inferno
são os seguintes:
Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a
Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito;
No qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão;
Os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de
Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água.
(1 Pedro 3:18-20)
Porque por isto foi pregado o evangelho também aos mortos, para que, na verdade, fossem
julgados segundo os homens na carne, mas vivessem segundo Deus em espírito.
(1 Pedro 4:6)
É com base nestes versículos que todo debate acerca de Jesus ter descido ao inferno acontece.
Vejamos a seguir como as pessoas têm interpretado estes versículos ao longo da História do
Cristianismo.
Jesus desceu ao inferno para pregar aos mortos
De forma geral, esta interpretação defende que Jesus, entre sua morte e ressurreição, desceu ao
inferno para pregar aos mortos. Dentro desta visão, existem diferentes interpretações em relação
à natureza dessa pregação de Jesus e a identidade desses mortos. São elas:
Jesus desceu ao inferno para pregar aos mortos que foram vitimas do Dilúvio. Essas pessoas
supostamente teriam se arrependido antes de morrerem. Nesse caso Jesus teria descido ao
inferno para pregar uma mensagem de salvação a essas pessoas.
Jesus desceu ao inferno para pregar aos mortos que morreram antes de seu ministério, dando-
lhes oportunidade para arrependimento. Então a pregação de Jesus teria levado salvação aos
arrependidos e juízo aos impenitentes.
Jesus desceu ao inferno para pregar aos mortos que morreram no dilúvio e não creram na
pregação de Noé. Nesse caso a pregação de Jesus teria sido de juízo sobre os mortos.
Qualquer uma destas três interpretações acima não encontra base Bíblica. Mas sem dúvida as
interpretações que afirmam que Jesus desceu ao inferno para pregar uma mensagem de salvação
aos mortos são as piores. Todo ensino que defende uma segunda chance após a morte é herético
e deve ser rejeitado. A Bíblia Sagrada claramente ensina que após a morte só resta ao homem o
juízo.
E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo.
(Hebreus 9:27)
Jesus desceu ao inferno para libertar os santos do Antigo Testamento
Nesta interpretação Jesus teria ido ao inferno pregar o Evangelho e libertar aos santos do Antigo
Testamento. Esses homens piedosos supostamente estariam esperando a consumação da
redenção por Jesus para serem levados ao paraíso.
Em outras palavras, os santos do Antigo Testamento morreram na promessa, e Jesus precisou
aparecer a eles para que a promessa fosse cumprida. Outros textos bíblicos também são usados
para defender essa posição (ex. Salmos 16:10; Mateus 12:40; Efésios 4:8,9).
Essa é a interpretação mais conhecida entre os cristãos. Inclusive, ela já foi defendida em algum
momento até por Lutero. Com algumas pequenas diferenças, esta teoria também é a posição do
catecismo Católico.
O problema com esta interpretação é que a Bíblia é bastante clara ao afirmar que os santos do
Antigo Testamento em nenhum momento foram para um lugar de espera. Eles não ficaram
esperando um tipo de consumação da salvação, mas foram estar com Deus (Gênesis 5:24; 2 Reis
2:11; Salmos 73:23). Os santos do Antigo Testamento também foram justificados pelos méritos de
Cristo (Romanos 4:3; Hebreus 11:5). Eles creram fielmente no Messias que haveria de vir.
Jesus desceu ao inferno pregar aos anjos caídos
Esta interpretação acredita que Jesus desceu ao inferno para pregar aos anjos caídos. Essa
pregação não teria sido uma evangelização, mas uma proclamação de sua vitória na cruz e um
anúncio vindicativo. Os textos de Judas 1:6 e 2 Pedro 2:4, combinados com 1 Pedro 3:18-20, são
os mais utilizados na defesa desta interpretação.
Mas a questão é que em nenhum lugar da Bíblia encontramos alguma referência sobre Jesus
descendo ao inferno para pregar aos anjos caídos. Utilizar as referências de Judas e das epístolas
de Pedro para defender esta ideia é forçar bastante os textos.
A referência de 1 Pedro, por exemplo, a todo momento está se referindo a pessoas e não a
espíritos malignos, anjos caídos ou demônios. Portanto, o que poderia justificar uma mudança tão
radical do foco da escrita no meio do texto? Se tivesse sido esse o caso, o texto teria sido
praticamente impossível de ser interpretado por seus destinatários primários.
Jesus desceu ao inferno para tomar as chaves de Satanás
Esta interpretação é bastante semelhante a anterior. Ela diz que Jesus desceu ao inferno para
proclamar sua vitória sobre Satanás e tomar as chaves da morte e do inferno. Esta ideia também
tem raízes em uma interpretação sobre o resgate pago a Satanás na expiação de Cristo.
Essa é uma das interpretações mais absurdas que encontramos por aí. Em primeiro lugar,
nenhum resgate foi pago a Satanás. Jesus pagou o resgate a Deus! O pecado do homem foi
contra Deus, e é a justiça Divina que exige tal pagamento.
Em segundo lugar, Apocalipse 1:18 realmente diz que Cristo tem a chave da morte e do Hades. O
termo “Hades” nesse versículo é aplicado como uma referência ao estado de existência
desencarnada. O foco está n momento em que a alma se separa do corpo, e o corpo é conduzido
à sepultura.
Dizer que Jesus tem as chaves da morte e do Hades significa que Ele tem autoridade e poder
sobre a morte. Por causa de sua obra redentora, a morte não é mais um motivo de dano aos
salvos. O próprio Jesus é quem recebe a alma dos redimidos no céu após a morte. Além disso,
em sua segunda vinda Ele ressuscitará os mortos. Então estes deixarão o estado de existência
desencarnada (no contexto o Hades) para receberem corpos ressuscitados.
O texto de fato não fala que Jesus desceu a um lugar em que Satanás habita e lhe tomou as
chaves de sua mão. Sem dúvida a referência é a obra de Cristo na cruz, onde, por sua morte, Ele
destruiu aquele que utilizava a morte como uma arma contra nós (Hebreus 2:14).
Satanás sempre desejou a morte do homem, tanto a morte física como a morte espiritual. Ele até
se apresentava diante de Deus para acusar os justos (Apocalipse 12:10; cf. Zacarias 3:1,2). Mas
apesar do Diabo cumprir o papel de acusador, ele jamais foi o responsável pela sentença. A
sentença de morte contra o homem foi pronunciada por Deus quando Adão e Eva caíram no
pecado. Mas na cruz Jesus experimentou todo peso da ira de Deus pelos pecados de seu povo.
Ali Ele deu sua vida para libertar os redimidos da maldição da morte.
Considerando o contexto histórico da passagem de Apocalipse, a declaração de que Jesus é
quem possui as chaves da morte e do Hades representou um grande conforto para aos cristãos
que receberam esse livro no século 1 d.C. Diariamente eles eram expostos ao martírio por causa
do Evangelho.
Ao saber que o controle sobre a morte está nas mãos de Cristo, eles entendiam que não era
preciso temer a morte. Eles sabiam que se seus corpos caíssem aqui na terra, suas almas
estariam de pé com Cristo no céu. No lar celestial eles aguardariam o dia em que seus corpos
seriam ressuscitados assim como Cristo ressuscitou.
Cristo pregou aos mortos enquanto eles ainda estavam vivos
Esta interpretação defende que o Espírito de Cristo, através da vida de Noé e de outros profetas,
pregou aos mortos enquanto estes ainda estavam vivos. Então esta interpretação não exige uma
suposta descida de Jesus ao inferno. Por meio do ministério dos profetas, Deus anunciou aos
homens a justiça e o arrependimento. No entanto, muitos deles rejeitaram a revelação de Deus
através de sua Palavra.

Então Jesus não desceu ao inferno?


Biblicamente não há nada que possa afirmar que Jesus desceu ao inferno. A Bíblia apresenta
uma estrutura perfeita. Por isto um texto bíblico jamais deve ser interpretado fora de seu contexto
ou de forma isolada e incoerente com o restante das Escrituras.
Portanto, das interpretações acima a mais coerente à luz da Palavra de Deus é aquela que diz
que Cristo pregou aos mortos quando estes ainda estavam vivos na terra. É fácil perceber isto em
1 Pedro 1. O apóstolo afirma que categoricamente que o Espírito de Cristo é quem conduzia os
profetas em suas pregações.
Da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que
vos foi dada,
Indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava,
anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia
de seguir.
(1 Pedro 1:10,11)
Aplicando esse texto ao capítulo 3:18-20 da mesma epístola, podemos entender sem dificuldade
que Cristo, através de Noé, pregou às pessoas que desobedeceram naquele tempo e que agora
são “espíritos em prisão”, ou seja, essas pessoas estão condenadas ao juízo eterno. Essas
pessoas ouviram a pregação e a rejeitaram, ainda em vida. Como resultado, agora elas estão em
condenação eterna.
Sobre o texto de 1 Pedro 4:6, o mesmo princípio é válido. Isso significa que o Evangelho foi
pregado também aos mortos quando eles ainda estavam vivos.
Atos 2:31 é outro texto bastante utilizado para defender que literalmente Jesus desceu ao inferno.
O texto registra a pregação do apóstolo Pedro no Pentecostes. Em sua pregação o apóstolo diz
que a alma de Jesus “não foi deixada no inferno, nem seu corpo viu corrupção”. Mas a palavra
“inferno” traduz novamente o grego Hades, que nesse contexto originalmente se refere à
sepultura. Em outras palavras, o apóstolo fala que Jesus não foi deixado no “estado de
sepultado”.
Vale saber também que nesse texto o apóstolo Pedro está citando o Salmo 16:8-11. Então ele
interpreta a profecia de Davi acerca da ressurreição do Messias. Ao fazer isto, ele aponta para o
contraste entre o tumulo de Davi em Jerusalém, e o tumulo de Cristo, que está vazio, porque Deus
o ressuscitou dos mortos.
Quanto ao texto de Efésios 4:9, usa-lo para defender uma descida literal de Jesus ao inferno é
forçar muito a estrutura do próprio texto. Uma interpretação assim desconsidera totalmente o
contexto e o objetivo da mensagem transmitida pelo apóstolo Paulo. No texto o apóstolo se refere
ao ministério de Cristo na terra, ao plano de salvação e à unidade e organização da igreja como
corpo de Cristo.
Também não existe uma possibilidade biblicamente aceitável de que Jesus desceu ao inferno
para pregar o Evangelho para quem viveu nos tempos do Antigo Testamento, para que eles
tivessem uma chance de crer. Afirmar isto é a mesma coisa de considerar inúteis todos os
profetas levantados por Deus no Antigo Testamento. Do próprio Noé, por exemplo, o Novo
Testamento testifica que ele foi o “pregoeiro da justiça” (2 Pedro 2:5). Assim, a melhor alternativa
é concordar com Pedro e afirmar que Cristo pregou através do ministério dos profetas.
Alguns alegam que Jesus precisou libertar e alocar os santos do Antigo Testamento. Mas isto não
tem qualquer fundamentação bíblica. Sobre isto podemos recorrer às histórias de Enoque e
o profeta Elias. Estes dois homens foram levados por Deus da terra sem passar pela morte. Então
por que Deus tomaria ambos para si, se não fosse para que eles estivessem com Ele? Será que
Deus os arrebataria para deixá-los num tipo de sala de espera, ou pior, no inferno, enquanto
aguardavam uma consumação da redenção?
Mas a Bíblia é muito clara ao dizer que eles foram estar com Deus! Na transfiguração, pelo estado
descrito de Moisés e do próprio Elias, não me parece que eles estavam em qualquer outro lugar a
não ser com o próprio Deus. Eles estavam no paraíso, isto é, no céu, o terceiro céu do qual
escreve o apóstolo Paulo em 2 Coríntios 12:2-4.
Também é importante saber que não existe na Bíblia, com referência a Jesus Cristo, a
expressão “desceu ao inferno/hades”. Essa expressão passou a ser utilizada na Confissão de Fé
Apostólica, talvez por volta do século 4 d. C., já que em suas formas mais primitivas essa
expressão não era encontrada.
Na verdade essa frase foi utilizada originalmente para substituir a expressão “crucificado, morto e
sepultado”, o que também estaria correto. Mas quando as duas expressões começaram a
aparecer juntas no Credo Apostólico por volta do século 7 d.C., logo começaram as confusões
teológicas.
Outra coisa que vale ser lembrada é que o conceito de um lugar comum dividido em dois setores
para onde iam todos os mortos, encontra sua origem na doutrina grega do Hades. No paganismo
grego, todos os mortos ficavam em um lugar chamado Hades. Dentro do Hades havia duas alas:
o Tártaro, onde ficavam todos os maus, e o Elísios, onde ficavam todos os bons.
Como a palavra “inferno” é uma das traduções para tártaro, e paraíso é uma das traduções
para elísios, então já dá para saber a origem de alguns erros de interpretação que originaram
doutrinas estranhas ao ensino Bíblico. A Bíblia claramente ensina que quando o ímpio morre, ele
fica em tormento enquanto aguarda a condenação eterna no Juízo Final (2 Pedro 2:9). Mas
quando o salvo morre, ele é recebido por Deus. Ao lado do Senhor ele aguarda a ressurreição em
corpo glorioso na segunda vinda de Cristo (Filipenses 1:23).
Mas onde Jesus estava entre sua morte e ressurreição?
A Bíblia não fornece muitos detalhes sobre o que Jesus fez entre sua morte e ressurreição. Mas
sabemos com certeza que Ele foi ao céu. A Bíblia diz muito claramente que antes de morrer Jesus
entregou seu espírito ao Pai. Ele fez isto quando tudo já estava consumado. Isso significa que a
expiação de Cristo foi concluída na cruz, e não ficou nenhuma etapa para ser concluída no inferno
ou em qualquer outro lugar.
E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.
(Lucas 23:43)
E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o
espírito.
(João 19:30)
E, clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo
dito isto, expirou.
(Lucas 23:46)
Até podemos dizer que Jesus desceu ao inferno, desde que entendamos que foi no Calvário que
Ele experimentou todo o horror do inferno ao tomar o cálice amargo da justiça de Deus em nosso
lugar. Após a cruz, nós sabemos o que realmente importa: Ele ressuscitou!
O Que Significa “Esforça-te e Tem Bom Ânimo”?

 Daniel Conegero
Esforça-te e tem bom ânimo! Esta é uma recomendação bíblica relevante para todos os cristãos
verdadeiros de todas as épocas e lugares. A vida cristã não é uma vida de ociosidade, mas de
serviço árduo, especialmente na obra de Deus.
Embora saibamos que nossa salvação não é garantida pelos nossos esforços e disposição, tais
características devem ser comuns aos servos do Senhor. Somos salvos pela graça mediante a fé
em Jesus Cristo. Então, como uma resposta de gratidão, nos empenhamos em agradar ao Senhor
em todas as áreas de nossas vidas, com vigor e coragem. Por isso é tão reconfortante quando
ouvimos Deus falar conosco através de sua santa Palavra dizendo: “Esforça-te e tem bom
ânimo!”.
Esforça-te
Quando Josué foi chamado por Deus para ser o líder que haveria de conduzir Israel na conquista
da Terra Prometida, ele foi encorajado pelo Senhor a se esforçar e ter bom ânimo. Ele tinha
servido durante os últimos anos como auxiliar de Moisés; mas agora Moisés estava morto e havia
chegado o momento de ele desempenhar o propósito para o qual Deus o chamou.
A tarefa não seria nada fácil. Cabia a ele o dever de completar a missão de Moisés à frente de
Israel. Porém, isso seria possível porque Deus estava com ele (Josué 1:5). Anteriormente Josué já
havia sido fortalecido e animado por Moisés, mas naquela ocasião foi o próprio Deus quem o
fortaleceu e o encorajou (cf. Deuteronômio 1:38; 3:28; 31:7).
Josué já havia demonstrado ser uma pessoa corajosa e resoluta. Ele já tinha provado seu valor
servindo a Moisés. Seu papel na batalha contra Amaleque é a uma prova disso. Mas como diz
John Wesley, ele ainda precisava dessa exortação, pois seu trabalho seria difícil, longo e muito
importante.
Qualquer dúvida ou sentimento de temor que Josué pudesse ter, certamente foi superado pelas
palavras do Senhor: “Esforça-te e tem bom ânimo, porque tu farás a este povo herdar a terra que
jurei a seus pais lhes daria. Tão somente esforça-te e tem mui bom ânimo para teres o cuidado de
fazer conforme toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a
direita nem para a esquerda, para que prudentemente te conduzas por onde quer que
andares” (Josué 1:6,7).
O verbo esforçar traduz uma raiz hebraica que significa “ser forte”, “fortalecer”, “prevalecer”, “ser
firme” e “ser persistente”. Esse era exatamente o comportamento esperado de Josué naquela
situação; bem como também é o comportamento esperado de todos os filhos de Deus neste
mundo, seja qual for a circunstância.

E tem bom ânimo


A expressão “tem bom ânimo” traduz um vocábulo que transmite a ideia de ser corajoso, bravo,
resoluto, sólido ou audacioso. Certamente a frase: “Esforça-te e tem bom ânimo” é uma repetição
proposital. Com isso podemos aprender que a menos que empreguemos nossos maiores
esforços, não estaremos assumindo a postura correta diante dos desafios e tarefas que nos são
propostos.
Em nossa própria natureza, nós somos tão falhos e fracos. Por outro lado, a todo
tempo Satanás procura nos atacar ferozmente. Concordo com João Calvino quando diz que não
há nada com que estejamos mais inclinados do que a relaxar os nossos esforços. Além disso,
muitos direcionam seus esforços a coisas sem propósito.
Por isso que a única maneira de cumprir a exortação: “Esforça-te e tem bom ânimo”, é estando
sob a orientação constante da Palavra de Deus. Tornamos-nos verdadeiramente invencíveis
quando nos esforçamos em obedecer ao Senhor fielmente.
Jamais devemos nos esquecer que a garantia de que podemos enfrentar qualquer situação a qual
formos submetidos, vem do triunfo de Cristo. Foi o próprio Senhor Jesus quem disse: “Tenho-vos
dito isso, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci
o mundo” (João 16:33).
John Gill explica que assim como o trabalho de Josué na luta contra os cananeus e na conquista
de Canaã, o trabalho de Cristo na redenção de seu povo e na subjugação de seus inimigos exigiu
força e coragem; e de fato Ele foi muito forte e corajoso. Sobre isso Matthew Henry diz que nosso
Senhor Jesus, assim como Josué, foi sustentado em seus sofrimentos por considerar a vontade
de Deus e o mandamento de seu Pai.
Portanto, embora existam tantas coisas que tentam nos levar à fraqueza e ao desânimo no
ministério cristão, há muito mais motivos para sermos esforçados, corajosos e audaciosos. Não
apenas pelo exemplo de Cristo, mas pela eficácia de sua obra e pelas bênçãos resultantes dela,
sabemos que podemos cumprir essa exortação divina. Portanto, essa exortação serve para todos
nós. Esforça-te e tem bom ânimo!
181 A ressurreição de Lázaro (Jo 11,1-46): Da doença à morte. Da morte à vida Bernardo Corrêa
d’Almeida* O texto de Jo 11,1-46 11 1 Estava doente um certo homem, Lázaro, de Betânia,
povoação de Maria e de sua irmã Marta. 2 Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com
perfume e lhe tinha enxugado os pés com os cabelos; seu irmão Lázaro estava doente. 3 As suas
irmãs mandaram dizer-lhe: “Senhor, aquele de quem gostas está doente.” 4 Ouvindo isto, Jesus
disse: “Essa doença não é para a morte, mas para a glória de Deus, para que o Filho de Deus
seja glorificado por meio dela.” 5 Jesus amava Marta, sua irmã e Lázaro. 6 Quando ouviu dizer
que estava doente, permaneceu ainda dois dias no lugar onde se encontrava. 7 Depois disto,
disse aos discípulos: “Vamos de novo à Judeia.” 8 Os discípulos perguntaram-lhe: “Rabi, ainda
agora os judeus procuravam lapidar-te e vais para lá outra vez?” 9 Jesus respondeu-lhes: “Não
são doze as horas do dia? Se alguém caminha de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo;
10 mas se alguém caminha de noite, tropeça, porque a luz não está nele.” 11 Tendo dito *
Professor da UCP Porto. }1.9 Humanística e Teologia. 33:2 (2012) 181-194 182 HUMANÍSTICA E
TEOLOGIA isto, acrescentou: “O nosso amigo Lázaro adormeceu, mas vou despertá-lo.” 12 Os
discípulos exclamaram: “Senhor, se adormeceu, salvar-se-á!” 13 Porém, Jesus falara da sua
morte e eles supuseram que tinha falado do repouso do sono. 14 Então, Jesus disse-lhes
abertamente: “Lázaro morreu. 15 E alegro-me por vós de não ter estado lá, para que venhais a
acreditar. Mas vamos ter com ele!” 16 Então, Tomé, chamado Dídimo, disse aos condiscípulos:
“Vamos nós também para morrermos com ele.” 17 Quando Jesus chegou, encontrou-o sepultado
havia já quatro dias. 18 Betânia estava perto de Jerusalém, a uns quinze estádios. 19 Muitos
judeus tinham vindo ter com Marta e Maria para as consolar pelo irmão. 20 Quando Marta ouviu
dizer que Jesus vinha, foi ao seu encontro. Maria ficou sentada em casa. 21 Então, Marta disse a
Jesus: “Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. 22 Mas também agora sei que
tudo quanto pedires a Deus, ele to dará.” 23 Jesus afirmou-lhe: “Teu irmão ressuscitará.” 24 Marta
respondeu-lhe: “Sei que ressuscitará na ressurreição no último dia!” 25 Jesus declarou-lhe: “Eu
sou a Ressurreição e a Vida. Quem acredita em mim, ainda que morra, viverá. 26 E todo aquele
que vive e acredita em mim nunca morrerá. Acreditas nisso?” 27 Ela respondeu-lhe: “Sim, Senhor,
eu acredito que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que vem ao mundo.” 28 Tendo dito isto, foi e
chamou Maria, sua irmã, dizendo-lhe baixinho: “O Mestre está cá e chama-te.” 29 Assim que ela
ouviu isto, levantou-se rapidamente e foi ter com ele. 30 Jesus não tinha chegado à povoação,
estava ainda no lugar onde Marta lhe viera ao encontro. 31 Quando os judeus, que estavam em
casa com ela, consolando-a, viram Maria levantar-se rapidamente e sair, seguiram-na, supondo
que fosse ao sepulcro para aí chorar. 32 Quando Maria chegou ao lugar onde Jesus estava,
vendo-o, prostrou-se a seus pés e disse-lhe: “Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria
morrido.” 33 Quando Jesus a viu chorar e aos judeus que a acompanharam a chorar também,
comoveu-se interiormente e perturbou-se. 34 E perguntou: “Onde o colocaram?”
Responderam-lhe: “Senhor, vem e vê.” 35 Jesus chorou. 36 Os judeus, então, exclamaram: “Vede
como gostava dele!” 37 Alguns deles perguntaram: “Não podia este, que abriu os olhos ao cego,
fazer também com que ele não morresse?” 38 Jesus, de novo, comoveu-se interiormente e veio
ao sepulcro: era uma gruta, e tinha uma pedra colocada sobre ela. 39 Jesus disse: “Retirai a
pedra.” Marta, a irmã do morto, disse-lhe: “Senhor, já cheira mal: é o quarto dia!” Jesus
perguntou-lhe: 40 “Não te disse que, se acreditares, verás a glória de Deus?” 41 Então retiraram a
pedra. Jesus levantou os olhos ao alto e disse: “Pai, dou-te graças por me teres ouvido. 42 Eu
sabia que me ouves sempre, mas disse-o pela multidão que me rodeia, para que acreditem que tu
me enviaste.” 43 Tendo 183 dito isso, bradou em alta voz: “Lázaro, vem para fora.” 44 O morto
saiu com as mãos e os pés ligados com vendas e com o rosto envolto num sudário. Jesus
disse-lhe: “Libertai-o e deixai-o andar.” 45 Então muitos dos judeus que tinham vindo ter com
Maria, vendo o que ele fizera, acreditaram nele. 46 Alguns deles, porém, dirigiram-se aos fariseus
e disseram-lhes aquilo que Jesus fizera. Enquadramento de Jo 11,1-46 no quarto Evangelho A
estrutura basilar do testemunho joanino é bastante simples: Introdução (1,1-51) I – A vida pública
de Jesus (2,1-12,50) II – A última ceia (13,1-17,26) III – A glorificação do Rei dos Judeus (18,1-
19,42) Conclusão (20,1-21,25) O texto do quarto Evangelho começa com uma magistral
introdução composta por um prólogo poético (cf. 1,1-18) e um prólogo narrativo (cf. 1,19-51). A
introdução serve de abertura, de resumo e de chave de leitura do Evangelho. A vida pública de
Jesus decorre ao longo dos capítulos 2-12 em três principais etapas, onde, resumidamente, o
Unigénito de Deus: 1) chama o povo à unidade em Deus para salvar o mundo (cf. 2,1-4,54); 2)
revela a vida do Pai (cf. 5,1-8,59); 3) manifesta a vida do Pai (cf. 9,1-12,50). A Última Ceia descrita
em cinco capítulos (13,1-17,26), praticamente uma quarta parte do testemunho joanino, é uma
autêntica comunicação da vida de Jesus àqueles que o escutam feita através de dois discursos e
de uma oração dirigida ao Pai pela unidade dos seus discípulos. A glorificação do Rei dos Judeus
é testemunhada em 18,1-19,42. Depois de Jesus se entregar ao seu povo (cf. 18,1-14) e de
enfrentar Anás, enquanto Pedro o nega por três vezes (cf. 18,15-27), o Senhor é entregue por
Pilatos aos judeus como Rei (cf. 18,28-19,16). Então, em 19,17-42, consuma-se o Evangelho
joanino com a glorificação do Salvador do mundo. O Evangelho termina com a conclusão em
20,1-21,25, composta por dois epílogos. Em síntese, no primeiro epílogo, o capítulo 20, o autor
testemunha a manifestação do Senhor Jesus glorificado na unidade dos discípulos. No segundo
epílogo, o capítulo 21, o Senhor manifesta-se nos discípulos, atraindo o mundo inteiro à sua vida
em Deus. A RESSURREIÇÃO DE LÁZARO (JO 11,1-46): DA DOENÇA À MORTE. DA MORTE À
VIDA 184 HUMANÍSTICA E TEOLOGIA O quarto Evangelho 1,1-51 1,1-18 1,19-51 2,1-12,50 2,1-
4,54 5,1-8,59 9,1-12,50 13,1-17,26 13,1-35 13,36-14,31 15,1-16,33 17,1-26 18,1-19,42 18,1-19,16
19,17-42 20,1-21,25 20,1-31 21,1-25 Introdução Prólogo poético Prólogo narrativo I – A vida
pública de Jesus Jesus chama o povo à unidade em Deus para salvar o mundo Jesus revela a
vida do Pai Jesus manifesta a vida do Pai II – A última Ceia O Senhor quer levar os discípulos ao
Pai Primeiro discurso de Jesus Segundo discurso de Jesus A oração do Filho ao Pai pela unidade
dos seus III – A glorificação do Rei dos Judeus O caminho para a glória do Filho de Deus A
glorificação do Rei dos Judeus Conclusão Jesus manifesta-se na unidade dos discípulos (1.º
epílogo) O Senhor manifesta-se ao mundo na unidade dos seus (2.º epílogo) Enquadramento de
Jo 11,1-46 em 9,1-12,50 No seguimento da grande revelação de Jesus (cf. 5,1-8,59), nos
capítulos 9-12, o Unigénito de Deus manifesta a vida do Pai naqueles que acolhem a sua palavra.
Esta nova etapa da vida do Filho de Deus entende-se à luz de uma verdade vital: Jesus é o lugar
de encontro do povo com Deus, pois ele e o Pai são ‘um’ (cf. 8,58; 10,22-39). Assim sendo,
naqueles que, como o cego de nascença (cf. 9,1-41) e Lázaro (cf. 11,1-46), acolhem a palavra de
Jesus, é manifestada a vida de Deus; e naqueles que, como alguns líderes judeus (cf. 10,1-6),
não acolhem a palavra 185 de Jesus, são manifestadas as obras de satanás e, por isso, são
contra o Bom Pastor, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Portanto, os capítulos 9, 10
e 11 formam uma unidade literária centrada na manifestação do Filho de Deus. Cada um dos
capítulos é marcado por uma significativa oposição: ver e não ver (cap. 9); reunir e dispersar (cap.
10); viver e morrer (cap. 11). No capítulo 12, chegada a hora do Senhor, completa-se a sua vida
pública e prepara-se a sua glorificação. No capítulo 9, onde realiza o sexto sinal, Jesus começa
por abrir os olhos a um cego e por revelar o pecado naqueles que veem. Desse modo, aquele que
disse ser a Luz do mundo (cf. 8,12) marca como ponto de partida da sua manifestação a
necessidade de o povo ver como ele vê Deus. No capítulo 10, Jesus manifesta ser o lugar onde o
povo encontra Deus, pois ele e o Pai são ‘um’. Por isso, diz-nos o Unigénito, ele é a Porta das
ovelhas, é o Bom Pastor, e quem se apascenta a si mesmo é ladrão e dispersor. No capítulo 11, o
Senhor manifesta a sua glória, ressuscitando Lázaro (cf. 11,1-46), o sétimo e derradeiro sinal do
Filho de Deus. Em seguida, o sinédrio decide matá-lo (cf. 11,47-53) e ele retira-se para Efraim (cf.
11,54-57). O capítulo 12 confirma-nos que Jesus vai a caminho da sua hora: 1) a comunidade em
Betânia unge-o como Senhor (cf. 12,1-11); 2) o povo em Jerusalém acolhe-o como Rei (cf. 12,12-
19); 3) o mundo procura-o como Salvador (cf. 12,20-36). No auge da descrença da multidão e do
medo dos chefes dos judeus em confessar a fé (cf. 12,37-43), Jesus chama todos a acreditar na
sua palavra (cf. 12,44-50). A ressurreição de Lázaro (11,1-46) Depois de manifestar em quem
acolhe a sua palavra o poder de ver Deus como ele o vê (cf. 9,1ss) e de manifestar a sua vida no
Pai como o lugar de unidade do povo (cf. 10,1ss), no capítulo 11, Jesus manifesta em Lázaro a
vida de Deus (cf. 11,1-44). Como resposta ao sétimo e derradeiro sinal do Senhor, muitos judeus,
vendo o que ele fazia, acreditaram; outros, porém, dirigiram- -se aos fariseus (cf. 11,45-46). Então,
o sinédrio reúne-se para decidir a sua morte (cf. 11,47-53) e, depois, Jesus retira-se para
completar a sua missão (cf. 11,54-57). A RESSURREIÇÃO DE LÁZARO (JO 11,1-46): DA
DOENÇA À MORTE. DA MORTE À VIDA 186 HUMANÍSTICA E TEOLOGIA A ressurreição de
Lázaro (11,1-46) 11,1-6: 11,7-16: 11,17-27: 11,28-32: 11,33-37: 11,38-44: 11,45-46: A doença de
Lázaro Jesus vai com os discípulos a Betânia Marta e a Ressurreição e a Vida Maria conduz os
judeus a Jesus Maria, os judeus e Jesus choram Jesus ressuscita Lázaro Muitos acreditam,
alguns dirigem-se aos fariseus A doença de Lázaro (11,1-6) O autor joanino começa por
apresentar-nos Lázaro, em torno de quem se desenrola a ação até 12,11. Lázaro estava doente
(cf. 11,1) e a sua doença já desperta o nosso olhar para a unção, que uma das suas irmãs, Maria,
fez (fará) a Jesus (cf. 12,1-11). O pedido das irmãs de Lázaro enviado a Jesus (“Senhor, aquele
de quem gostas está doente.” – 11,3), introduz três elementos vitais no texto: 1) Jesus é o Senhor;
2) o amor é o elo que une Jesus e Lázaro; 3) Lázaro está doente e, como veremos, a sua doença
levá-lo-á à morte e, depois, à vida. No versículo 5, o autor insiste em colocar o evento no domínio
do amor: Jesus amava Marta, sua irmã e Lázaro (11,5). Efetivamente, de acordo com o quarto
Evangelho, o poder (ou o conteúdo da vida) de Jesus é o amor do Pai (o autêntico amor
recíproco), que se realiza em quem o recebe como vida, e essa é a glória de Deus (cf. 11,4.40).
Na realidade, Lázaro prepara a aparição do discípulo amado, aquele que, como o irmão de Maria
e de Marta, recebe a vida de Jesus e vive sempre em relação com o Unigénito. Como é
característico no quarto Evangelho, para melhor avaliarmos o sentido do nosso texto, importa
atender ao sentido binário das oposições, dos simbolismos, das ironias e dos mal-entendidos que
o atravessam para alcançarmos o poder da palavra que nos é dada. Esse ritmo semântico binário,
que se expressa de diversas maneiras, além de constituir uma característica do autor, baseia-se
na compreensão diferenciada que as diversas personagens e o autor joanino têm de Jesus. Para
o autor joanino, os sinais de Jesus manifestam a glória do Pai e do Filho em quem acredita. Para
aqueles que não reconhecem o Unigénito de Deus e que, por isso, o menosprezam, os sinais do
Filho tornam-se um drama, 187 porque o seu pensar leva-os ao medo e o medo destes leva-os a
quererem eliminar o Salvador do mundo (cf. 4,42). Não obstante, Jesus assegura-nos a
Ressurreição e a Vida; porém, para a termos, é necessário morrer, morrer das doenças deste
mundo. Por isso, Jesus permanece dois dias onde estava (cf. 11,6) para no terceiro dia manifestar
a Ressurreição e a Vida em Lázaro (cf. 11,17ss; 20,1ss). Desse modo, o autor joanino confirma
que Jesus é Senhor da história que os líderes judeus pensavam orquestrar (cf. 10,39-42; 11,47-
53) e Senhor da história que a família de Betânia vivia (cf. 11,1-12,11). Portanto, o texto convida-
nos, desde o início, a fazer uma opção entre a história pensada pelos homens (e a história
eventualmente por nós pensada) e a história da salvação recriada pela ação da palavra de Jesus.
Nesse sentido, como será evidente ao longo de toda a ação, os versículos 1-46 não nos dão
apenas a conhecer Lázaro, que Jesus, no decorrer da sua vida pública, ressuscitou dos mortos. A
verdadeira cura e a autêntica ressurreição de Lázaro brotam da glorificação de Jesus. Tanto
assim que, relendo a experiência de Lázaro, esta é-nos dada como testemunho de vida para que,
acreditando, vivamos curados e tenhamos a vida (cf. 20,30-31). Para o autor joanino, em Jesus
glorificado encontra-se a totalidade da vida, sem a qual nada existe (cf. 1,1-5; 1Cor 8,5-6; Cl 1,15-
17). O Senhor, o Logos feito carne ressuscitado, é o único vivente absolutamente vivo e, por isso,
vivificante de todo o ser (cf. Gn 2,7.9). A Palavra viva de Jesus é a plenitude de vida de tudo
aquilo que existe. No princípio tudo era bom e o homem muito bom (cf. Gn 1,4ss); em Cristo, o ser
humano encontra e vive a sua plenitude, viver como filho de Deus1 . De facto, a glorificação de
Jesus (cf. 19,17-42), segundo o autor joanino, é um eterno e vivo evento comunicativo para todos
aqueles que se dispõem a escutá-lo. Da glória de Jesus, brotam três frutos vitais: 1) o Rei dos
Judeus venceu o dominador do mundo (satánas) que perdeu o seu poder e que ficou manietado,
lutando contra si mesmo; 2) o Salvador do mundo concedeu ao género humano o poder de ser
filho de Deus, atraindo-o à sua vida no Pai; 3) aqueles que acolhem a vida comunicada pelo
Senhor vivem como filhos de Deus. Por isso, a partir do momento em que recebe a vida do
Unigénito, Lázaro passa a ser apresentado como aquele que Jesus ressuscitou dos mortos (cf.
12,1.9). Aliás, o irmão de Maria e de Marta nunca fala no Evangelho e surge sempre em relação
com Jesus. 1 Cf. G. Theissen, Die Religion der ersten Christen. Eine Theorie des Urchristentums
(Gütersloh 2000) 56ss. A RESSURREIÇÃO DE LÁZARO (JO 11,1-46): DA DOENÇA À MORTE.
DA MORTE À VIDA 188 HUMANÍSTICA E TEOLOGIA O silêncio de Lázaro é, por um lado, o
lugar onde a palavra de vida eterna do Senhor encontra morada para o ressuscitar e para lhe dar
a vida, e, por outro, o seu silêncio, mais do que qualquer outra palavra, fala-nos na própria vida de
Lázaro, sinal vivo da palavra de Deus recebida. Efetivamente, para o autor joanino, assim como
para ‘ver’ é necessário ‘ser cego’ (cf. 9,1ss) e para ‘viver’ é preciso ‘morrer’ (cf. 11,1ss), assim,
para ‘acolher a palavra’, é preciso ‘silenciar as palavras deste mundo’. Em verdade, Lázaro
aparece particularmente unido à vitória de Jesus, pois foi o único, entre aqueles que caminharam
com o Senhor, que foi ressuscitado pelo poder de Deus e que foi condenado à morte pelas
autoridades. A experiência de Lázaro confirma ainda as palavras de Jesus: “Chegará a hora em
que aquele que vos matar pensa que oferece culto a Deus” (16,2). Jesus vai com os discípulos a
Betânia (11,7-16) Os versículos 7-16 começam com o desejo inicial de Jesus: “Vamos de novo à
Judeia” (11,7), e terminam com o desejo de Tomé: “Vamos nós também para morrermos com ele”
(11,16). Importa, por isso, atendermos à sucessão dos verbos de movimento nos versículos 7-16:
– “Vamos de novo à Judeia.” (11,7) g “… e vais para lá outra vez?” (11,8) g “Se alguém caminha
de dia, não tropeça…” (11,9) g “… mas se alguém caminha de noite, tropeça…” (11,10) g “… mas
vou despertá-lo.” (11,11) g “Mas vamos ter com ele!” (11,15) g “Então, Tomé, chamado Dídimo,
disse aos condiscípulos: ‘Vamos nós também para morrermos com ele.’” (11,16). Mesmo sendo
perseguido, como lhe lembram os discípulos (cf. 11,8), o Salvador do mundo (cf. 4,42) deseja
regressar à Judeia para cumprir a sua missão. Como recorda Jesus, quem caminha com ele tem a
luz e não teme, pois ele é a Luz do mundo (cf. 11,10; 8,12; 9,4ss). Assim, o Unigénito revela, uma
vez mais, o seu poder e o seu desejo de nos dar a vida no Pai. Em verdade, Jesus é a luz do ser
humano (cf. 8,12);ou seja, a vida dada por Jesus, toda contida e inesgotável na sua Palavra, o
princípio de todas as criaturas (cf. Sl 119,105), é para nós, ela mesma, o conteúdo realizador da
nossa existência (cf. Pr 8,22-31; Sb 6-9). A palavra de Jesus ressuscitado sacia, realiza, ilumina,
conduz, pois é a vida das nossas vidas (cf. 4,1ss; 6,1ss). Sabendo da morte de Lázaro, Jesus
refere-se a ela como a um sono, pois sabia que iria acordá-lo, ou seja, levá-lo à vida (cf. 11,11;
4,15; At 7,60; 13,36; Ef 5,14). Porque o Logos feito carne é a vida dos homens (cf. 1,1-5), Jesus
refere- -se ainda à sua alegria, não por Lázaro, mas por poder levar a humanidade a acreditar (cf.
11,15). De tal modo que o texto fala-nos da morte de Jesus (cf. 189 11,8), da morte de Lázaro (cf.
11,11-14) e da morte dos discípulos (cf. 11,16) em vista da vida de todos em Deus2 . O Bom
Pastor designa Lázaro como “o nosso amigo” (11,11), pois quer inserir os seus discípulos no seu
domínio de amor (cf. 13,1ss; 21,15-19). Num nós coral, após a sua indecisão inicial (cf. 11,8),
Tomé dispõe-se a seguir o Bom Pastor (cf. 11,16), sem perceber que Jesus ia para a vida e não
para a morte. Tomé vai a caminho da autêntica confissão de fé, pois a sua intervenção no
versículo 16 antecede: 1) o seu desejo de conhecer o caminho de Jesus (cf. 14,4-6); 2) a sua
dispersão da comunidade (cf. 20,19-24); 3) o seu não acreditar na palavra dos discípulos (cf.
20,25); 4) o seu desejo de tocar o ressuscitado (cf. 20,25-27); 5) a sua confissão: “Meu Senhor e
meu Deus” (20,28); 6) a sua nomeação entre os que estão com Pedro na barca (cf. 21,2).
Resumindo, Tomé será de tal modo iluminado, que a ele Jesus dirá: “Felizes os que acreditaram
sem terem visto” (20,28), pois vivem iluminados. Jesus e o Pai são ‘um’ (cf. 10,22-39) e Tomé
unir-se-á a Jesus (cf. 20,28), e essa é a verdadeira iluminação. Assim, torna-se claro como a ação
testemunhada em 11,1ss quer-nos guiar para a hora da glorificação do Senhor: os discípulos
temiam ir à Judeia; Tomé pensa que vai para a morte; Jesus vai conduzir os discípulos à vida;
Lázaro é testemunha excelente para todos aqueles que vivem de Jesus glorificado. Marta e a
Ressurreição e a Vida (11,17-27) Jesus aproximou-se de Lázaro, que se encontrava havia quatro
dias no sepulcro, ou seja, realmente no domínio da morte. O autor joanino anuncia-nos aquilo que
a própria irmã do morto nos dirá no versículo 39: “Senhor, já cheira mal: é o quarto dia!” Os quinze
estádios (três quilómetros) entre Betânia e Jerusalém e os muitos judeus que vieram consolar
Marta e Maria (cf. 16,22) não só colocam Jerusalém em relação com Betânia, como permitem ao
autor apresentar-nos o movimento de muitos judeus que vêm da primeira para a segunda cidade. .
Marta ouviu que Jesus vinha e foi ao seu encontro, enquanto Maria ficou sentada em casa (cf.
11,20). Marta chama Jesus de Senhor e confia-lhe tudo: 1) antes podia ter evitado que o irmão
morresse; 2) agora podia fazer o que quisesse (cf. 11,21-22). Marta está totalmente aberta para
acreditar e percebe que Jesus deseja apenas realizar a vontade de Deus (cf. 11,22). 2 Cf. G.
Ferraro, La Gioia di Cristo (Vaticano 2000) 67ss. A RESSURREIÇÃO DE LÁZARO (JO 11,1-46):
DA DOENÇA À MORTE. DA MORTE À VIDA 190 HUMANÍSTICA E TEOLOGIA O Senhor diz-lhe:
“Teu irmão ressuscitará” (11,23). Ela acredita na ressurreição no último dia (cf. v. 24; 6,39ss; Mc
12,18ss). Porém, Jesus acrescenta: “Eu sou a Ressurreição e a Vida” (11,25). Marta acreditava na
ressurreição futura (cf. 11,24), mas o Unigénito fala-nos da Ressurreição presente na sua vida:
quem acredita nele, mesmo se morre, vive. O discípulo amado entende o acreditar (cf. 11,25) e o
viver (cf. 11,26) no ser presente, que Marta encontra no Filho de Deus. O “Eu sou” (11,25) é a
fórmula de revelação, que evoca o nome de Deus, dada a Moisés (cf. Ex 3,14). Assim, unida às
restantes seis autoproclamações do Senhor (cf. 6,35; 8,12; 10,9.11; 14,6; 15,1), o Filho assume
ser a Ressurreição e a Vida. O Unigénito do Pai (cf. 1,14c) vem e vive de Deus comunicando o
que é: a sua unidade de vida em Deus. O discípulo amado insiste de diversos modos que quem
vê o Filho vê o Pai, que as obras do Filho são as do Pai, que as palavras do Filho são as do Pai,
que a glória do Filho é a do Pai, para que nessa sua perfeita relação de unidade em Deus
sejamos nós3 . O Logos feito carne comunica-se em quem acredita como fonte jorrando para a
vida (cf. 4,14.46-52), como revela no seu primeiro sinal (cf. 2,1-12), no decorrer da sua vida (cf.
5,20ss; 6,22ss; 10,1ss) e no seu sinal culminante (cf. 11,1ss). O Filho, nosso irmão, fala-nos da
sua relação no Pai, perfeitamente manifestada na sua hora (cf. 19,17-42). Então, a glória de Jesus
habita em nós na medida em que a acolhemos. Pois acolher a Palavra faz-nos ser como ela é,
vida em Deus, filhos amados, irmãos que se amam reciprocamente. Jesus pergunta a Marta:
“Acreditas nisso?” (11,26). Marta acredita de tal modo, que, parecendo esquecida do que tinha
pedido a Jesus, tudo o que pudesse desejar encontra nele: o Senhor, o Cristo, o Filho de Deus, o
Enviado, a Ressurreição e a Vida (cf. 11,27; 20,31). Marta encontra a Ressurreição e a Vida
diante do seu olhar, no tempo presente, como a realidade mais evidente e segura da sua
existência. O autor recorda que a salvação não é, essencialmente, um acontecimento do passado
nem uma expectativa do futuro, mas sim, sobretudo, uma experiência salvífica que se realiza no
encontro real e presente com a palavra de Jesus, a Ressurreição e a Vida. Em verdade, a Palavra
viva do Senhor é o conteúdo unificante de todo o quarto Evangelho, de tal modo que o texto
joanino foi concebido como um ventre (kolpos – 1,18; 13,23; 19,35) onde são gerados aqueles
que vivem do alto (cf. 1,13; 3,1ss; 16,21; 20,31). A Palavra que Jesus nos dá é a vida do Pai, pois
ele é o seu Filho Unigénito. O Filho nunca é só, age sempre em comunhão com o Pai (cf. 8,29) e
assim manifesta a plenitude da condição humana: viver em unidade com Deus. 3 Cf. C. V.
Malzoni, «Moi, Je suis la résurrection», RB 106 (1999) 421-440. 191 Maria conduz os judeus a
Jesus (11,28-32) Marta chamou a sua irmã Maria em segredo (cf. 11,28). A intimidade e a atração
de amor entre Jesus e aquela família são evidentes. O autor confirma-o ao descrever, por duas
vezes, a prontidão de Maria ao levantar-se para ir ao encontro de Jesus (cf. 11,29.31) e, depois,
quando faz referência à prostração de Maria diante do Senhor (cf. 11,32). Não obstante Jesus ter
caminhado dois dias, não obstante a multidão encontrar-se em casa e Lázaro estar morto no
sepulcro, Maria encontrou o Senhor no lugar onde Marta estivera. Maria conduz a esse lugar os
judeus. Seguiam-na para a consolar, veriam o Consolador em Cristo (cf. 11,43-44; 9,1ss;
14,16.26; 15,26; 16,7). Aqueles judeus pensavam que Jesus ia ao sepulcro para chorar a morte
do amigo. Na realidade, verão a Ressurreição e a Vida manifestar-se em Lázaro. Tendo chegado
a Jesus, vendo-o, Maria caiu a seus pés, repetiu parte das palavras da irmã (cf. 11,21), e as
outras expressou-as na sua atração de amor ao Senhor. Assim sendo, o encontro anterior entre
Marta e Jesus manifestou o poder de o Logos feito carne ser e o de dar a Ressurreição e a Vida
quando a sua palavra é acolhida (cf. 11,17-27). O encontro entre Maria e Jesus manifesta como o
acolhimento do Logos feito carne atrai outros ao Filho, aquele que é o lugar por excelência de
encontro da humanidade com Deus, aquele que é a Ressurreição e a Vida. Desse modo, o autor
esclarece-nos que Jesus Cristo é a verdadeira fonte de Água viva (cf. 4,1ss), a autêntica Videira
(cf. 15,1ss) que jorra em todos aqueles que se dispõem a acolher a vida de Deus que ele
comunica plenamente. Na realidade, sem essa tomada de consciência, ou melhor, sem uma
disposição a viver da Água viva, que corre dentro do ser humano, recorda-nos o texto, a doença
de Lázaro não morreria e Lázaro não ressuscitaria. Por outras palavras, sem bebermos a Água
viva, as nossas doenças não serão saradas e a nossa morte não é ressuscitada nem vivificada.
Maria, os judeus e Jesus choram (11,33-37) No versículo 33, o autor diz-nos que Jesus se
comoveu interiormente (embrimaomai), ou seja, o Senhor tremeu dentro de si contra a morte que
dominava a humanidade. Jesus tremeu pela humanidade inteira e contra o mal que a subjugava.
O verbo embrimaomai (11,33.38) – que podemos traduzir por comover, irar, tremer – exprime
indignação interior. O Filho de Deus, revela-nos ainda o autor, perturbou-se (tarássu – 11,33). O
Unigénito voltar-se-á a perturbar (tarássu) com a chegada da hora (cf. 12,27) A RESSURREIÇÃO
DE LÁZARO (JO 11,1-46): DA DOENÇA À MORTE. DA MORTE À VIDA 192 HUMANÍSTICA E
TEOLOGIA e com o anúncio de que um dos discípulos o entregaria (cf. 13,21). Com efeito, o autor
confirma que Jesus estava em confronto com satanás. O Bom Pastor perguntou onde tinham
colocado Lázaro. Eles responderam-lhe: “Senhor, vem e vê” (11,34). O primeiro desejo
apresentado aos discípulos pelo Mestre no testemunho tinha sido: “Vinde e vede” (1,39). Agora, o
Filho corresponde à chamada dos seus amigos para nos dar a vida, indicando- -nos o caminho a
seguir para o Pai4 . Jesus chorou por saber que o amor venceu a morte e, sobretudo, chorou por
ver os amigos impotentes diante da morte. Nesse sentido, alguns confirmam o amor de Jesus por
Lázaro e outros asseguram que ele estava morto: “Não podia este, que abriu os olhos ao cego,
fazer também com que ele não morresse?” (11,37; cf. Mt 27,42). O autor utiliza dois verbos
distintos: um para definir o choro de Maria e dos judeus (klaió – 11,31.33); outro para apresentar o
choro de Jesus (dakruó – 11,35). O verbo klaió surge diversas vezes no quarto Evangelho (cf.
11,31.33; 16,20; 20,11ss) e no NT (cf. Mc 5,38; Rm 12,15; Ap 18,15). O verbo dakruó no NT só
aparece no versículo 35, descrevendo o chorar de Jesus. Maria e os judeus choram de tristeza e
por se verem impotentes diante da morte, Jesus chora de amor e porque enfrenta a morte. Jesus
ressuscita Lázaro (11,38-44) A caminho do sepulcro, Jesus comoveu-se de novo interiormente (cf.
11,33.38). Efetivamente, o Bom Pastor vai ao encontro de Lázaro para lhe falar e ao encontro da
morte para a vencer. Por isso, ao chegar ao sepulcro, ordenou: “Retirai a pedra.” (11,39). Marta
confirma a morte de Lázaro: “Senhor, já cheira mal: é o quarto dia!” (11,39). O irmão estava, de
facto, sob o domínio da morte. As palavras de Marta, que então o autor designa como a irmã do
morto (11,39), colocam-nos no meio da semana de luto e diante do facto da morte de Lázaro.
Entre os rabinos cria-se que a alma rondava o corpo morto durante três dias e que, passado esse
tempo, não haveria humanamente mais esperança de vida; ou seja, que ao terceiro dia o corpo se
corrompia e a alma entrava definitivamente no reino dos mortos5 . Sempre no lugar da fé, isto é,
na relação de escuta, Jesus diz-lhe: “Não te disse que, se acreditares, verás a glória de Deus?” (v.
40). Contudo, Marta 4 Cf. G. R. O’Day – S.E. Hylen, John (Louisville, 2006) 112ss. 5 Cf. H. L.
Strack – P. Billerbeck, Kommentar, II, 544. 193 ainda não acreditava no poder de Jesus de
manifestar a glória de Deus, ou seja, de levar o seu irmão à vida6 . As três referências à pedra do
sepulcro (11,38.39.41) confirmam a situação de Lázaro no domínio dos mortos (cf. 11,39) e
preparam a vitória de Jesus sobre a morte. Tirada a pedra, enquanto choravam, o Unigénito
levantou os olhos ao céu, como sinal da sua unidade ao Pai, para que a multidão acreditasse que
o Pai o enviara e tomasse parte da sua vida em Deus (cf. 11,41-42). Na realidade, a oração de
Jesus não é de petição. Aquele que convidou a família de Betânia e os judeus a escutarem a sua
palavra (cf. 11,17-32) dá graças (eucharisteó – 11,41) ao Pai por sempre o ouvir. A única
repetição do verbo dar graças (eucharisteó) no Evangelho surge no sinal dos pães e dos peixes
(cf. 6,11.23). O Pai e o Filho vivem em perfeita comunhão e Jesus dá graças ao Pai para que
acreditem nele como o Enviado de Deus (cf. 11,42), pois o seu desejo é comunicar à humanidade
inteira (ao ‘ser’ do ser humano) a sua filiação divina. Então, o movimento, o sentimento, a
perturbação e o choro de Jesus culminam no grito joanino descrito de forma mais intensa, maior
que o grito da multidão em Jerusalém (cf. 12,12) e maior que o grito dos líderes no pretório (cf.
18,40ss): “Tendo dito isso, bradou em alta voz (eipōn phōnē megalē ekraugasen): ‘Lázaro, vem
para fora’” (11,43). De facto, Jesus enfrenta diretamente a morte e vai vencê-la. Ainda descrito
como o morto, de imediato, Lázaro saiu com os pés, as mãos e o rosto cobertos. O Senhor disse
ainda: “Libertai-o e deixai-o andar” (11,44; cf. 9,7). O Mestre comunica a sua vida pelo poder do
seu Logos sem nunca tocar em Lázaro senão pela sua palavra e pela ação da sua palavra
naqueles que o escutam, de tal modo, que: 1) removem a pedra; 2) libertam Lázaro; 3) deixam-no
andar. Desse modo, o Senhor manifesta o seu poder vitorioso sobre a morte e, ao mesmo tempo,
o seu poder de atrair à vida de Deus aqueles que vivem da sua palavra7 . Na verdade, este sinal
de Jesus une-se especialmente à sua manifestação gloriosa nos discípulos (cf. 20,1ss): em 11,1-
44, ao ser acolhida, a palavra de Jesus abre a porta do sepulcro, liberta o morto das cobertas da
morte e permite ao que estava morto caminhar; no capítulo 20, Maria encontra a porta do sepulcro
aberta, dois discípulos encontram as faixas no chão e o sudário à parte, Maria é enviada aos
irmãos e estes chegam à fé, reconhecendo a palavra de Jesus. 6 Cf. K. Wengst, Il Vangelo di
Giovanni (Brescia 2005) 450ss. 7 Cf. M. W. G. Stibbe, «A Tomb with a View: John 11,1-44», NTS
40 (1994) 38-54. A RESSURREIÇÃO DE LÁZARO (JO 11,1-46): DA DOENÇA À MORTE. DA
MORTE À VIDA 194 HUMANÍSTICA E TEOLOGIA Muitos acreditam, alguns dirigem-se aos
fariseus (11,45-46) Muitos dos judeus que tinham vindo consolar a família de Betânia (cf. 11,28-
32), e que experimentaram o sinal de Jesus, acreditaram nele. Outros, porém, dirigiram-se aos
fariseus e contaram-lhes aquilo que Jesus tinha feito (cf. 11,45-46). Em suma, o poder do
Unigénito de ser e de dar a Ressurreição e a Vida e a opção de o acolher, ou não, confirmam-se
como duas realidades vitais no quarto Evangelho. Assim, depois de o Bom Pastor ter manifestado
o seu amor indo ao encontro do amigo, chamando-o pelo nome, conduzindo- -o para fora,
libertando-o e deixando-o andar (cf. 11,1-46), vai ao sinédrio e prepara-se para vencer a morte e
reunir os filhos de Deus (cf. 11,47-53). A vontade de Jesus é que os discípulos sejam na sua
compreensão, na sua unidade, na sua vida em Deus (cf. 20,31). Nesse sentido, o discípulo amado
procura, ao longo de todo o seu testemunho, o encontro do desejo do Unigénito de dar a sua vida
e o desejo que todos a desejem como sua. O próprio Jesus diz: “Quem é de Deus, ouve as
palavras de Deus” (8,47). Em síntese, na medida em que o homem fizer silêncio e acolher a
palavra do Senhor ressuscitado, assim ressuscitará e viverá, tanto assim, que a própria
humanidade, como a família de Lázaro, é chamada a ser motivo para que outros ressuscitem e
vivam segundo a palavra do Senhor. Como nos diz o próprio texto, o quarto Evangelho é um
testemunho de vida recebida: Um dos soldados trespassou-lhe o peito com uma lança, e logo saiu
sangue e água. Aquele que viu dá testemunho e o seu testemunho é verdadeiro; e ele sabe que
diz a verdade, para que também vós acrediteis (19,34-35). Tendo Jesus vencido o mal e
regressado ao Pai, o Filho deu-nos a conhecer a sua vida gloriosa em Deus (cf. 19,17-42). A
revelação de Jesus, que é a sua vida no Pai, é o testemunho do quarto Evangelho (cf. 1,18; 17,3).
Em verdade, o Evangelho nasce, é e finda no domínio da perfeita unidade do Pai e do Filho, fora
da qual não o compreendemos. Assim, o quarto Evangelho é, por um lado, um contínuo
testemunho da relação de Jesus em Deus e, por outro, uma constante chamada a sermos nessa
vida testemunhada8 . Com efeito, de acordo com o Evangelho joanino, as doenças que levam o
homem à morte, as quais nascem (e se desenvolvem) dos pensamentos humanos errados,
morrerão, e a humanidade será curada pelo poder da palavra do Senhor, que nos recria como
filhos de Deus e que nos quer como seus irmãos. Para tal, é necessário experimentar, agora e
sempre, o poder da palavra daquele que é a Ressurreição e a Vida.
Todos São Filhos de Deus? Quem São
os Filhos de Deus?

 Daniel Conegero

Existe uma crença popular de que todos são filhos de Deus. Segundo essa crença, Deus é o
Pai amoroso de todos os homens. Mas a Bíblia diz algo completamente oposto a isto. De
forma bem clara e direta, a Bíblia revela que nem todas as pessoas são filhas de Deus.

Nem todos são filhos de Deus


Sem dúvida todos os seres humanos foram criados por Deus. Sob esse aspecto, eles
possuem uma filiação apenas por criação. Isso significa que por natureza os seres humanos
não são filhos espirituais de Deus, porque essa filiação espiritual foi perdida por causa da
Queda (Gênesis 3). Saiba o que é a Queda do homem.
O homem caído é chamado nas Escrituras de “filhos da ira de Deus” (Efésios 2:3). O fato de o
homem caído não ser filho de Deus, não significa que ele é um órfão espiritual. É neste ponto
que a Bíblia revela uma verdade que ofende o mundo. Aqueles que não são filhos de Deus
são, na verdade, filhos de Satanás.

Não existem órfãos espirituais


Na Parábola do Joio e do Trigo, Jesus disse que o joio representa os filhos do Maligno (Mateus
13:38). Certa vez alguns judeus também tentaram dizer a Jesus que todos eles eram filhos de
Deus. Mas a resposta de Jesus foi muito clara: “Se Deus fosse o vosso Pai, certamente me
amaríeis… Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai” (João 8:42-
44).
Durante uma de suas viagens missionárias, o apóstolo Paulo não hesitou em declarar que um
homem contrário à pregação do Evangelho era um filho do diabo (Atos 13:10). O apóstolo
João também escreveu que aquele que vive na pratica do pecado é filho do diabo (1 João 3:8-
12).

Quem são os filhos de Deus?


A Bíblia diz que os filhos de Deus são todos aqueles que nasceram de novo, foram justificados
e adotados por Deus à sua família por intermédio de Cristo (João 1:12; 3:5-8; 11:52; Romanos
8:16; 1 João 3:1-10). Isso significa que ninguém nasce como filho de Deus. Como vimos, todos
os homens nascem em pecado, e são inimigos de Deus, servos e filhos de Satanás.

Mas Deus, com seu infinito amor e misericórdia, derrama sua graça sobre pecadores
miseráveis que merecem o inferno. Através da obra de Cristo, esses pecadores são redimidos
de seus pecados. O Espírito Santo opera neles o novo nascimento, e eles são ressuscitados de
seu estado de morte espiritual. Então Deus declara que esses pecadores são justos diante dele,
não por seus méritos pessoais, mas pelos méritos de Cristo. Entenda o que é a doutrina da
justificação pela fé.
Finalmente, a estes que foram ressuscitados, perdoados e justificados, Deus os recebe em sua
família como seus filhos queridos. Essa é a doutrina da adoção, uma grandiosa bênção
resultante da justificação. Isso significa que os crentes não são filhos de Deus por natureza,
mas por adoção. Isso também implica que nossa adoção não está baseada em nosso próprio
merecimento. Deus não nos adota porque viu algo de bom em nós. Na verdade Ele nos adota
pela sua soberana vontade por intermédio de nossa união com Cristo através de sua obra
redentora (Efésios 1:4-6).
O apóstolo João ficou maravilhado diante dessa verdade extraordinária e declarou: “Vejam
como é grande o amor que o Pai nos concedeu: que fôssemos chamados filhos de Deus, o que de
fato somos!” (1 João 3:1).

A diferença entre a filiação dos filhos de Deus e a


filiação de Cristo
É importante conhecer a diferença entre a filiação dos filhos adotados por Deus, e da filiação
de Cristo. Cristo é gerado eternamente do Pai, ou seja, Ele não foi criado e adotado como nós
somos, nem mesmo nasceu como um dia nós também nascemos. Ele é eterno assim como o
Pai, e compartilha de todos os atributos divinos da Trindade. Entenda o que é a Trindade.
Nunca houve um momento em que o Pai não fosse o Pai do Filho, e que o Filho não fosse o
Filho do Pai. A Bíblia diz que Jesus é o Unigênito de Deus, e possui um lugar único e um
relacionamento eterno e singular com Ele (João 3:16-18). Como Filho Deus, sendo também
plenamente Deus, Ele é a imagem do Deus invisível. Ele é Aquele que revela o Pai, e possui
proeminência entre toda criação (Colossenses 1:15; cf. Lucas 10:22; João 14:9). Saiba por que
Jesus é Deus.
Como saber se somos filhos de Deus?
O apóstolo Paulo explica que o Espírito Santo testifica com nosso espírito que somos
filhos de Deus (Romanos 8:16). Isso acontece porque é o próprio Espírito quem guia aqueles
que são filhos de Deus (Romanos 8:14).
O resultado disso é que os filhos de Deus sempre estão dispostos, sem hesitação, a sofrer pela
causa de Cristo (cf. Mateus 5:11,12; 10:22,39; 24:9; Marcos 8:35; 13:13; 1 Pedro 4:16). Os filhos
de Deus se tornam participantes do sofrimento de Cristo (2 Coríntios 1:5; Filipenses 3:10; 1
Pedro 4:16).

Isso não quer dizer que acrescentamos algo ao sofrimento redentivo do Senhor, mas que nos
aproximamos ainda mais dele em amor e devoção. João completa dizendo que os filhos de
Deus não vivem na prática do pecado, mas praticam a justiça, assim como Deus é justo (1 João
3:7-10).

Os filhos de Deus recebem o Espírito de adoção, e possuem livre acesso ao trono da graça,
podendo clamar a Deus dizendo: Aba, Pai! Os filhos de Deus são por Ele guardados e
protegidos. É claro que todo esse cuidado também inclui correção e repreensão. O autor de
Hebreus interpreta Provérbios 3:12 dizendo: “Pois o Senhor disciplina a quem ama, e castiga
todo aquele a quem aceita como filho” (Hebreus 12:6).

Os filhos de Deus são seus herdeiros


A Bíblia diz que se somos filhos de Deus, logo também somos seus herdeiros, e co-
herdeiros com Cristo (Romanos 8:17; Gálatas 4:6-7). Os filhos de Deus têm direito a uma
herança por causa de sua união com Cristo. Essa herança nunca se perderá, nunca se acabará.
Ele é inalienável! (1 Pedro 1:4).  Em certo aspecto, já no presente os filhos de Deus desfrutam
dessa herança através das bênçãos de sua comunhão com Cristo.
Mas a Bíblia muito claramente afirma que os filhos de Deus receberão a plenitude dessa
herança no futuro. O apóstolo João escreve que já agora somos filhos de Deus, mas ainda não
é manifestado o que havemos de ser. Ele próprio explica o que isto significa ao dizer: “Mas
sabemos que quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele; porque assim como Ele é o
veremos” (1 João 3:2).
Essa herança maravilhosa não apenas estará restrita à nossa alma, mas também abrangerá o
nosso corpo. Quando Cristo voltar, seremos glorificados junto d’Ele. Nossos corpos também
serão redimidos e o que é corrutível (Romanos 8:23; 1 Coríntios 15:53).

Com Cristo herdaremos um novo nome (Apocalipse 3:12), nos assentaremos ao lado dele sem
seu trono (Apocalipse 3:21) e com Ele reinaremos (Apocalipse 20:4). Os filhos de Deus
possuem direito legal sobre essa herança eterna. Com tudo, o mais importante é entender que
esse direito foi conquistado e estabelecido não por nós, mas por Cristo.
A Salvação Pela Graça Mediante a Fé

 Daniel Conegero

A salvação pela graça é uma doutrina central da Fé Cristã. Ela indica que a salvação é um dom
gratuito de Deus, e não está fundamentada nas obras humanas. A Bíblia é clara ao afirmar que
somos salvos pela graça mediante a fé em Cristo Jesus.

A corrupção do homem
A Bíblia diz que todas as pessoas, sem exceção, são pecadoras (Romanos 3:23). Isto significa
que todos necessitam da salvação. Ninguém é capaz de se justificar diante de Deus por
seus próprios méritos.
O problema é que o pecado corrompeu a natureza humana de uma forma devastadora. Deus
criou o homem bom, íntegro, dotado de responsabilidade moral e livre escolha. Mas quando o
pecado entrou na humanidade através da desobediência de Adão, isto mudou. Saiba como o
pecado entrou no mundo.
O coração do homem tornou-se irresistivelmente inclinado ao mal. A prova disto é que
ninguém consegue optar a nunca mais pecar nessa vida. O homem não é pecador porque
peca, mas ele peca porque é pecador.

Por sua própria vontade, o homem não consegue amar as coisas de Deus. Ele simplesmente é
incapaz de desejar aquilo que é espiritualmente bom. Por causa do pecado, o pecador sente
prazer em ofender ao Senhor. Ele prefere as trevas ao invés da luz (João 3:19). A corrupção do
homem nos mostra a profundidade da salvação pela graça.

Condenados pela Lei


Vimos que todos os homens são pecadores, então não há ninguém que possa salvar-se a si
mesmo. O pecado pode ser definido como a quebra da Lei de Deus. Essa Lei basicamente
proíbe aquilo que ofende a Deus, e ordena o aquilo que lhe agrada. Entenda o que significa o
pecado.
A Lei de Deus reflete seu caráter santo, e comunica ao homem o seu propósito. Essa Lei pode
ser percebida nas obras da criação, está impressa na consciência de cada pessoa, e é revelada
de forma especial nas Escrituras.
O problema é que ninguém consegue cumprir integralmente a Lei de Deus. Mas se há Lei, e se
há um Juiz, então é justo que alguma penalidade seja aplicada. É por isso que o apóstolo Paulo
escreve que a Lei traz o conhecimento do pecado (Romanos 3:20).

Isso significa que a Lei faz a brilhar a justiça de Deus em contraste com nossa própria
pecaminosidade. Algumas pessoas dizem que Deus é injusto ao castigar o homem, mas é
exatamente o contrário. Deus seria injusto se não castigasse aqueles que quebraram sua Lei.
Se o homem é condenado ao inferno, a culpa é inteiramente sua!

A graça que salva condenados


A Bíblia indica que a Lei não pode servir como instrumento de salvação, visto que ninguém é
capaz de cumpri-la. Se ninguém consegue viver de acordo com o padrão que Deus exige,
como alguém pode ser salvo? A resposta para esta pergunta é a salvação pela graça mediante
a fé.

Deus enviou seu Filho Unigênito ao mundo, a fim de salvar o homem que quebrou sua Lei.
Diferentemente de Adão, em Cristo não se achou pecado. Jesus fez certo o que Adão fez
errado. Ele obedeceu onde Adão desobedeceu, Ele resistiu onde Adão cedeu e Ele venceu
onde Adão foi derrotado.

Ele foi o único capaz de cumprir plenamente a Lei de Deus. Não houve qualquer aspecto da
Lei que Cristo deixou de cumprir, seja ele moral, civil ou cerimonial. Com isso, Ele carregou
sobre si a maldição da Lei. Jesus recebeu todo o peso da ira divina em lugar do seu povo. É
por isso que no aspecto legal, o pecador é justificado mediante os méritos de Cristo.

O que significa ser salvo pela graça?


Ser salvo pela graça significa exatamente o oposto de ser salvo pelas obras. A salvação pela
graça indica que o fundamento de nossa salvação está em Deus e não em nós. Sem Cristo, o
homem é espiritualmente morto. Ele não está doente precisando de tratamento, ele está
completamente morto! Apenas Deus pode ressuscitá-lo (Efésios 2).

Paulo escreve que a salvação é pela graça, mediante a fé, e isto não vem de nós mesmos,
mas é dom de Deus. Isso significa que não há um único sentido em que a graça de Deus não
esteja presente na obra da salvação. Aqui não há espaço para os méritos e esforços humanos.
Por isto, ninguém tem o direito de se gloriar (Efésios 2:8-10). Um morto não pode ressuscitar a
si mesmo!
O preço da salvação custou a morte de Cristo. Como nenhum homem poderia pagar tal preço,
a salvação então é um dom gratuito dado por Deus. Mediante a fé em Jesus Cristo, o pecador
tem seus pecados perdoados, e é aceito como filho por Deus. Quando Deus olha para o
redimido, ele não enxerga mais os seus delitos, mas enxerga a justiça de Cristo.

O resultado da salvação pela graça na vida do


cristão
Quando o homem, morto em seus delitos e pecados, é vivificado, ele passa a ser uma nova
criatura. Esse processo é tão profundo e singular, que Jesus o chamou de novo nascimento
(João 3). Essa obra é operada pelo Espírito Santo. Saiba o que é nascer de novo.
Regenerado, o homem é capacitado pelo Espírito Santo a viver uma vida que agrada a Deus.
Assim, o cristão tem prazer em cumprir a Lei de Deus, e ela lhe serve como orientação. Para o
cristão, a Lei não é mais regra de condenação, mas regra de gratidão.

Claro que os aspectos cerimonial e civil da Lei não se aplicam mais a nós. Todos os rituais e
símbolos exigidos na Lei apontavam para Cristo, e ele cumpriu todos eles. Hoje o Evangelho é
anunciado a todos os povos, e não precisamos mais de sacrifícios, rituais e intermediários. O
sacrifício de Cristo é suficiente, e através de sua obra, aplicada pelo Espírito Santo, temos
acesso a Deus.

Porém, a Lei moral continua vigente. Deus é imutável, e o padrão de santidade exigido por Ele
continua o mesmo. É por isto que aqueles que foram salvos pela graça descobrem que amam
a Lei e desejam guardá-la.

O Espírito Santo conduz o redimido a uma obediência tão grande, que ele se deleita na Lei do
Senhor. Sua declaração é a mesma do salmista: “Como eu amo a tua lei! Medito nela o dia
inteiro” (Salmos 119:97).
Paulo escreve que todos aqueles que são salvos pela graça também são educados por ela (Tito
2:11,12). A graça salvadora nos ensina a renunciar a impiedade e viver uma vida que agrada a
Deus.

O mesmo apóstolo também ensina que o propósito da salvação pela graça não está no
homem, mas em Deus. O alvo principal de Deus ao salvar seu povo, é sua própria glória por
toda a eternidade (Efésios 2:7).
Qual o significado da pedra do túmulo de Lázaro?

O vocábulo pedra assim aparece na narrativa da ressurreição de Lázaro: Jo 11,38-39


De novo Jesus comoveu-se e dirigiu-se ao sepulcro. Era uma gruta, com  uma pedra sobre posta.
39Disse Jesus; Retirai a pedra Marta, a irmã do morto, disse-lhe: Senhor, já cheira mal, é o quarto
dia! (João 11,38-39) Bíblia de Jerusalém.
Está pedra que fecha a passagem de entrada do sepulcro tem o significado que a morte é
definitiva. A pedra está separando dois mundos, o mundo que pertence aos mortos e o mundo
que pertence os vivos. O autor expressa o pensamento judaico sobre a morte, lançando a
ressurreição dos mortos para o último dia, conforme também se expressa Maria na conversa com
Jesus.
- Podemos considerar a pedra uma lembrança das tábuas da lei. Consideradas um agente de
morte, pois estavam gravadas na pedra e não no coração dos homens
 
Imagem da entrada do  Túmulo de Lázaro.

Imagem: A pedra na entrada do túmulo.

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