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A IGREJA NO PLANO REDENTIVO DE DEUS

Rev. José Alves da Silva*

I – O conceito bíblico – histórico

Introdução: A história e a ação de Deus neste mundo não começa com a


Igreja. Jesus nasceu no tempo exato que Deus estabeleceu, e no meio de um
povo preparado por Deus. A Igreja deve proclamar esta mensagem redentiva
de Deus na história.

1. Deus e a criação: De acordo com Gênesis 1.1, Deus é antes de tudo e tudo
começa com Deus. Embora suficiente em si, e por si, Ele criou o homem à
sua imagem e semelhança. O homem deve oferecer a Deus:
a) Adoração – que reconhece o senhorio de Deus sobre o universo;
b) Comunhão – com Deus e com os homens – harmoniosa e
construtiva;
c) Domínio sobre a natureza – para a manutenção da vida.

2. Deus escolhe um povo: Deus chamou Abraão para ser uma bênção para
toda a Terra (Gn 12.1-3). Dele nasceria o povo de Israel. Pela promessa,
Deus tiraria força da sua fraqueza e abençoaria toda a humanidade caída.
Moisés é encarregado da libertação do povo do Egito e da condução pelo
deserto.
Israel, depois de instalado em Canaã, fecha-se no orgulho e auto-
suficiência, e deixa de ser uma bênção.
Depois do exílio punidor, um remanescente fiel espera a libertação de Deus,
através do Messias.
Deste povo fraco, Deus levanta o Messias para cumprir suas promessas.

3. A vinda do Messias: Jesus apresentou em Nazaré seu programa messiânico


profetizado em Isaías 61.1,2. E aos discípulos de João Batista, Ele
apresentou os sinais do reino messiânico. (Lc 7.21,22).
O Messias de Deus vem libertar os escravos do diabo.
Ao contrário dos messias políticos da expectativa popular, Jesus ofereceu o
“pão do céu” e a “água da vida”.
Ele oferece aos homens a oportunidade para que ingressem no “novo
tempo”, em que Deus é Senhor.
Sua estratégia consiste em escolher doze homens como semente da
comunidade messiânica, onde Cristo ocupa o lugar principal, ou central.
Foram transformados em “pescadores de homens” para a obediência ao
pai, pelo treinamento, e enviados a pregar e a expelir demônios (Mc
3.14,15).
Depois de consumar a obra redentora na cruz e ser exaltado na
ressurreição, ordenou que ensinassem todas as coisas que Ele lhes
ensinara.
4. Igreja – Nova comunidade de promessa : Jesus chama sua Igreja para uma
mudança radical de vida.
Ele é o iniciador da nova comunidade da Salvação, herdeira das promessas
de Deus.
A Igreja não é um grupo étnico, como o povo de Israel. Ela é o
“remanescente fiel”, a “família de Deus”, o “novo Israel”.
As bênçãos prometidas aos homens, em Abraão, cumprem-se nos que
crêem em Jesus Cristo.

Aplicação: A Igreja, basicamente, significa “assembléia”, “congregação”,


“ajuntamento”.
A Igreja de Cristo é a congregação das pessoas chamadas por Deus, no
Espírito, e o termo “Igreja” não deve ser confundido com o templo ou os seus
dirigentes. Cada um de nós foi chamado para fazer parte dela.
A história da atividade redentora de Deus continua pelo Espírito Santo, através
da comunidade da nova aliança, a Igreja.

II. A Igreja, o corpo vivo de Cristo

Introdução: O Novo Testamento usa mais de cento e vinte figuras diferentes


para descrever a natureza da Igreja. Quase todas enfatizam o aspecto de
coletividade ou comunidade.

1. Descrição da comunidade cristã


A Igreja é uma casa espiritual e os crentes são pedras vivas (I Pe 2.5).
Cada cidadão de Esparta era um tijolo de suas muralhas. O valor de um
tijolo está no seu uso como parte de um edifício.
Jesus chama sua Igreja de rebanho (João 10). Ovelha é um animal gregário
e indefeso. Ele é o bom pastor, cabeça da Igreja. A finalidade da salvação é
ser achado pelo único pastor e reunido ao único rebanho. Fazer parte desse
rebanho que dizer vitória sobre a solidão e a desorientação.
Povo é a figura apostólica equivalente a rebanho. A Igreja é uma grandeza
puramente religiosa que ignora diferenças raciais, sociais ou de sexo, cuja
unidade se expressa na Ceia do Senhor.
A videira enfatiza a necessidade de a Igreja estar em Cristo para cumprir
uma missão no mundo (Jo 15). Permanecer nEle eqüivale a guardar os
mandamentos do Senhor e dar frutos.
O Corpo de Cristo é a figura mais forte, empregada por Paulo. Significa
organismo, não organização ou instituição; não é mera sociedade de
homens. (Rm 12.5; I Co 10.26).

2. Características do corpo de Cristo


Unidade (1 Co 12.12) – As atividades da Igreja não cabem a membros
isolados, mas a todos, a cada um cumprindo o seu papel, o seu Dom. E
Cristo é a cabeça do corpo; dEle procedem todas as instruções. Você entrou
no Corpo de Cristo no momento do salvação, pela ação do Espírito Santo (1
Co 12.13). A unidade se baseia na humildade, conforme o exemplo de
Jesus (Fp 2.2-8), e a marca de nossa unidade é o amor. (Jo 13.14). Você
realmente ama como Cristo amou, ou vive protegendo seu ego?
Diversidade (1 Co 12.14) – Cada um membro do Corpo recebeu Dom ou
dons de Deus (1 Pe 4.10; 1 Co 12.11-18). Cada Dom (ou tarefa) recebida
de Deus visa suprir as necessidades e finalidades do corpo. Os membros
têm tarefas diferentes. Embora um só Corpo, cada um coopera nele de
maneira funcional. Se você não estiver usando o seu Dom, saiba que
alguém estará sendo privado das bênçãos de Deus. Mas, atenção: há dois
inimigos da diversidade  a inferioridade e a superioridade.
Mutualidade (1 Co 12.26) – Enfatiza a interdependência e a harmonia dos
diferentes membros do único corpo. O Novo Testamento expressa a
importância da mutualidade através das expressões “uns aos outros” ou
“mutuamente”.

a) Jo 15.12  Amando uns aos outros


b) Ef 4.2  Suportando-vos uns aos outros
c) Gl 5.13  Servindo uns aos outros
d) Cl 3.16  Ensinando uns aos outros
e) 2 Co 1.4  Confortando uns aos outros
f) Tg 5.13  Orando uns pelos outros
g) Rm 15.15  Exortando uns aos outros
h) 1 Pe 4.10  Completando-nos mutuamente
i) 1 Jo 1.3  Mantendo comunhão uns com os outros
j) Gl 6.1,2; 2 Co 2.7,11  Restaurando uns aos outros
k) Ef 5.1; 1 Pe 5.5  Sujeitando-vos uns aos outros
l) Ef 4.29; 1 Ts 5.11  Edificando-vos uns aos outros
m) Ef 4.32  Perdoando-vos uns aos outros
n) Ef 5.19  Falando entre vós
o) Rm 12.10  Preferindo-vos uns aos outros
p) Fp 2.2,4  Considerando-vos uns aos outros
q) Rm 15.7  Acolhendo-vos uns aos outros
r) Rm 15.26; 2 Co 9.3,7,13  Doando-vos uns aos outros
s) Rm 16.16; 2 Co 13.12  Saudando-vos uns aos outros
t) 2 Co 1.7; 1 Co 12.25  Sofrendo uns com os outros
u) Tg 4.11  Não falando mal uns dos outros
v) Tg 5.9  Não vos queixando uns dos outros
w) 1 Pe 4.9; Rm 12.13  Sendo mutuamente hospitaleiros
x) 1 Ts 5.13  Vivendo em paz com os outros
y) Ef 4.12; 2 Co 13.11  Aperfeiçoando-vos uns aos outros

Nenhum cristão poderá alcançar maturidade vivendo isolado da comunhão


com os outros crentes.
Para sermos corpo saudável, precisamos estar ligados a Cristo, o cabeça, e
uns aos outros, em serviço humilde. Assim sendo, o mundo crerá que
Jesus é real – pelo nosso amor.

3. Instrumentos na comunhão do Corpo


Oração (Mt 18.19,20) – Na oração, os crente se sentem unidos na petição e
expectativa: pedindo, buscando e batendo, até encontrar a harmonia
Cristocêntrica. 1 Jo 3.22; 5.14
Adoração (1 Pe 2.5) – Em que todos os crente participam como sacerdotes.
O sacerdote é um homem que tem acesso direto a Deus, e tem a tarefa de
levar outros a Deus. O crente oferece a sua própria vida como oferta ao
Senhor (Rm 12.1), e cresce em comunhão.
Disciplina (Hb 12.5-11) – Como pode a disciplina produzir comunhão?
Porque é a certeza do amor e produz segurança. Deve ser motivada pelo
interesse sincero de restauração ou cura do irmão momentaneamente em
dificuldades. Como sabemos que a Igreja é um Corpo, e a saúde de cada
membro é indispensável à saúde do corpo, a disciplina é um remédio (para
os doentes ou enfraquecidos). Jó 5.17; Pv 3.11

Aplicação: Como você está no Corpo de Cristo? Está consciente de que à sua
vocação corresponde uma grande missão? Tenha isso como um privilégio.

III – A Igreja peregrina – No mundo, mas não do mundo

Introdução: Na sua oração sacerdotal, o Senhor Jesus Cristo disse: Assim


como tu me enviaste ao mundo, também eu os envio ao mundo (Jo 17.18). A
Igreja já não faz parte do mundo rebelado, mas deve viver no mundo. Seu
estilo de vida deve ser compatível com sua vocação.

1. Jesus, o Mestre peregrino: O Senhor Jesus foi peregrino no nascimento e


ministério (Lc 2.1-7; Mt 9.35). Andou pelas aldeias ao encontro das
pessoas, tendo como púlpito um morro ou barquinho. Ensinou a vida por fé
e procurou ter contato com os mais diversos grupos de pessoas.

2. A Igreja peregrina – o Novo Testamento: Jesus ressurrecto deu a missão de


testemunhar aos discípulos (At 1.8).
- O sucesso quantitativo e qualitativo do Evangelho de Jerusalém era
notório (At 2-7). Sua conseqüência negativa foi a acomodação da
Igreja na cidade dos judeus.
- Depois do martírio de Estêvão, os cristãos foram dispersos por toda a
parte pregando a Palavra de Deus (At 8.4). Filipe evangelizou os
samaritanos, e o Espírito Santo foi derramado sobre eles; Pedro e
João testemunharam isso.
- Em Antioquia, a Igreja não se acomodou: enviou ajuda aos irmãos
em Jerusalém (At 11.27-30) e enviou Barnabé e Saulo, como
missionários, peregrinando pela Ásia Menor (At 13.1-3). Eles foram
de cidade em cidade, na Ásia e na Europa.

3. As marcas da peregrinação: Fomos escolhidos por Deus para sermos


cidadãos do Reino de Deus e seus embaixadores neste mundo rebelado. As
conseqüências da cidadania celestial são:
- Santidade cristã: pertencer a Deus e obedecer a ele em tudo;
- Perseguição: por parte do mundo que não conhece a Cristo;
- Estratégia cristã: seguir os passos de Jesus no mundo (1 Pe 2.21).
Aplicação: Você é um peregrino. A Igreja local é seu quartel. Que tipo de
santidade é a sua ou a de sua congregação? O nosso amor em Jesus Cristo se
mostra nas coisas concretas que fazemos neste mundo (1 Pe 2.21).

IV – A Missão da Igreja – Ser Cristo para o Mundo

Introdução: Presença, persuasão e proclamação: Assim como o Pai me enviou,


eu vos envio (João 20.21). Não somos salvadores, mas podemos servir, como
o Senhor Jesus serviu (Lc 22.27).

1. Cristo, o modelo: O ministério de Cristo teve três aspectos: ensinar,


proclamar e curar (Mt 9.35). Proclamar é conclamar o ouvinte a uma
decisão e ensinar refere-se ao decidido.
- Ensinar: O cristão deve viver em submissão e obediência ao Pai. O
Senhor Jesus muito falou sobre o reino de Deus – a soberania de
Deus. A igreja deve ensinar aos discípulos a guardar tudo quanto o
Senhor mandou (Mt 28.18-20).
- Proclamar: A mensagem de Jesus conclamou os homens a se
decidirem, a tomarem uma posição diante dEle, em arrependimento
e fé. É uma decisão para toda a vida. O Senhor Jesus exige uma
tomada de posição absoluta diante dEle, para guardar tudo quanto
Ele tem mandado.
- Curar: O Senhor Jesus procurou resolver as necessidades dos
homens do seu tempo, demonstrando interesse pelo homem inteiro.
É impossível separar, no seu ministério, suas obras de suas palavras.

2. A Igreja, a seguidora: O corpo de Cristo, a Igreja, precisa: proclamar o


Evangelho, ensinar aos que vêm a Cristo, integrá-los no corpo, cuidar de
suas necessidades. Semelhante a Jesus, a Igreja precisa tomar a forma de
servo (Fp 2.5-8).
Proclamar o Evangelho a quem não nasceu de novo.
O ensino deve concentrar-se na pessoa de Cristo e nos mandamentos do
reino.
O serviço cristão deve ser motivado pelo amor e compaixão do Senhor
Jesus.
Paulo declara que precisava completar o que faltava do sofrimento de Cristo
(Cl 1.24). “Quem não está pronto para sofrer (morrer) pela sua fé não está
pronto para viver por ela.”

3. As fronteiras da missão: O corpo de Cristo, hoje, está presente em quase


todos os países do mundo. É preciso que todos conheçam o Evangelho.

V – A Igreja, Comunidade Discipuladora


Introdução: Sem fazer novos discípulos (de Cristo), a Igreja não subsiste na
história. Em Mateus 28.19,20 e em Lucas 14.25-33, o Senhor Jesus ordena
fazer discípulos, e diz quem pode e não pode ser.

1. O que é um discípulo?
Seguidor: “vier após mim”. Todo seguidor ou acompanhante é discípulo?
(Lucas 14.25). Em João 6.60-66, muitos acompanhantes o abandonaram.
Aluno ou estudante: Mas não devem ser teóricos da religião. Mas nem todo
aluno é discípulo. (Mt 4.16,17; 1 Co 13.2; Tg 3.13,18).
Aprendiz: aquele que imita seu mestre na vida prática. Somente o que sabe
fazer pode ensinar a outro, pela demonstração. (Mc 13.15-15).

2. Quem é discípulo de Cristo?


De acordo com os Evangelhos, são homens humildes, que reconhecem suas
limitações, e desejam aprender (Lc 5.1-11 e João 13.16).
De acordo com os requisitos de Jesus, devem Ter: amor (Jo 13.35); fruto
do Espírito (Jo 15.8); permanência em Cristo (Jo 8.31); e não olhar para
trás (Lc 9.62).

3. O que é discipular?
Seguindo o exemplo de Jesus: seleção (Lc 6.12); convivência (Jo 15.27);
instrução (Mt 11.1); demonstração (Jo 13.15; 1 Pe 2.21); supervisão,
reprodução e delegação (Mt 19 e Lc 12).
Discipulado feito pelos discípulos (At 2.40-47): Exemplos de Paulo,
Barnabé, João Marcos, Timóteo e outros companheiros (At 20.4; 2 Tm
2.1,2).
Você e o discipulado: fazer discípulo é função de todo discípulo habilitado.
Não há regras infalíveis; somente princípios:
- Obediência à voz de Jesus e atenção à voz de Deus;
- Abertura e disponibilidade às pessoas;
- Começar do ponto onde estiver a pessoa e respeitar seu ritmo de
crescimento;
- Dosar os encontros conforme suas necessidades e disponibilidades;
- Autenticidade no seu relacionamento e nas atividades cristãs;
- Você mesmo deve estar sujeito à autoridade do Corpo de Cristo.

4. O papel da Igreja no discipulado


Saber que a ordem foi dada por Jesus;
Os ministérios específicos “equipam” os cristãos mais maduros para serem
modelos de fé para os novos discípulos, para que ambos lutem juntos pela
fé, e cresçam juntos.
A qualidade do discipulado será condicionada pela qualidade de vida e
obediência da comunidade.
O amor é o único clima que permitirá a cada discípulo exercer sua função
no Corpo. Impedirá a formação de subgrupos de interesses que
escandalizam e marginalizam os novos discípulos.
Uma comunidade que discipula desperta aos discípulos o “espírito de
batalha” e é renovada pela liberdade que o Espírito Santo lhe traz.
Conclusão: Você está desafiado a participar da vida e da história do Reino de
Deus. Você está empenhado em contribuir para a saúde do Corpo, amando,
trabalhando e aconselhando? Você está integrando novos discípulos, sendo um
exemplo de fé?

À época em que este texto foi escrito (desconhecida para mim), o Rev. José Alves da Silva era
pastor da Igreja Presbiteriana de Campina Grande – PB.
Av. Floriano Peixoto, 359, Prata – Campina Grande - Paraíba

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