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RESUMO
ou comunidade com base na avaliação individual não sugere, necessariamente, uma relação de
do estado de saúde de cada um dos membros do causalidade, ou causa e efeito 4.
grupo, e também determinar indicadores globais de Pode-se destacar como vantagens para este
saúde para o grupo investigado2. tipo de estudo o baixo custo, simplicidade analítica,
A condução de um estudo transversal envolve alto potencial descritivo e rapidez de coleta acom-
como características essencialmente, as seguintes panhada de facilidade na representatividade de
etapas 3: uma população. Porém existem limitações, onde a
–– Definição de uma população de interesse; associação entre a exposição da doença não seja a
–– Estudo da população por meio da realização de mesma detectada referente à época de realização
censo ou amostragem de parte dela; e do estudo e também não é um levantamento que
–– Determinação da presença ou ausência do abrange a incidência, assim, não determina risco
desfecho e da exposição para cada um dos indi- absoluto e duração da doença 2 (Tabela 2).
víduos estudados. Ainda como desvantagem do delineamento
Os indivíduos podem ser dispostos em quatro epidemiológico transversal pode-se destacar a
situações diferentes 4-6 que podem ser organizados coleta do dado não estar concomitante sobre a
em uma tabela de contingência (Tabela 1). Entre- exposição e desfecho em um único momento no
tanto, vale lembrar que uma relação de associação tempo.
Desfecho
Exposição
Sim Não
A = indivíduos expostos, que apresentam o B = indivíduos expostos, que não
Sim
desfecho apresentam o desfecho
C = indivíduos não expostos, que D = indivíduos não expostos, que não
Não
apresentam o desfecho apresentam o desfecho
Estudo Transversal
Vantagem Desvantagem
Dificuldade para investigar condições de baixa
Baixo Custo
prevalência
Não associa exposição de doença e período de
Facilidade de Realização
investigação
Rapidez de coleta Não determina risco absoluto
Objetividade na coleta dos dados Não determina duração da doença
uma busca bibliográfica na base de dados Pubmed Os critérios de inclusão foram artigos inde-
com as palavras-chaves: “aphasia” (afasia), “middle xados nos últimos 10 anos. Dessa maneira apenas
aged” (adulto), “stroke” (AVC) e “cross-sectional 14 artigos foram selecionados. Como descrito na
studies” (estudo transversal) sendo encontrados 14 Figura 2, podemos encontrar tipos diferentes de
artigos referentes a estes descritores. indivíduos dentro da amostragem. E destacamos
Nesta pesquisa foi observado o público adulto analisar os comprometimentos comunicativos pelo
em diferentes características a serem analisadas fator de exposição de lesão cerebral por meio de
por categorias: um AVC, bem como artigos especificamente corres-
Indivíduo exposto ao AVC que apresenta afasia;
pondentes a categoria 1.
Indivíduo exposto ao AVC que não apresenta
afasia; Para os indivíduos que foram lesionados cere-
Indivíduo não exposto ao AVC que apresenta brais e não apresentam afasia (referente à categoria
afasia, ou seja, caso correspondente à demência; 2), ou os indivíduos que não foram lesionados cere-
Tendo conhecido a situação dos participantes de brais e apresentam afasia (referente à categoria
cada estudo com relação à presença do desfecho 3), foram considerados como critérios de exclusão.
(afasia) e da exposição (AVC), podemos observar Além de também serem excluídos outros tipos de
as possíveis situações encontradas (Figura 2): estudo que não eram de caráter transversal.
Estudo transversal
AVC Afasia
em adulto
n = 1670 n = 19
n = 62356
Figura 2 – Identificação dos artigos encontrados pela busca de indivíduos com comprometimento
da comunicação
Local da
Artigos Referências Nº de casos Fatores analisados
pesquisa
1 Long, Hesketh, 58 cuidadores Inglaterra Aplicação do questionário COAST
Bowen, 200919 dos pacientes para avaliar a eficiência de
afásicos com comunicação dos Afásicos.
AVC
2 Roger, Johnson- 67 afásicos com Baltimor Aplicação de um protocolo de
Greene, 200920 AVC avaliação de depressão
(funcionamento cognitivo e
emocional) CES-D
3 Sène et. al., 55 afásicos com Dacar Descrição dos aspectos clínicos,
200821 AVC epidemiológicos e evolutivos dos
AVC e afasia.
4 Long et. al., 102 afásicos Inglaterra Aplicação do questionário COAST
200822 com AVC para avaliar a eficiência de
comunicação dos Afásicos.
5 Aben et. al., 17 afásicos do Rotterdan, países Investigação da auto-eficácia de
200823 gênero baixos. memória dos afásicos relacionada
masculino e 6 do a fatores psicoemocionais.
feminino com
AVC
6 Haque, Nasreen, 48 afásicos com Mymensingh Revelação de fatores de risco e
200824 AVC outras informações relevantes
sobre doentes com AVC.
25
7 Owolabi, 2008 100 afásicos Nigéria Identificação dos fatores que
com AVC influenciam a qualidade de vida por
meio da aplicação do questionário
QVRS
8 Hilari, Owen, 50 afásicos com Londres Conhecimento do nível de
Farrelly, 200726 AVC e seus concordância entre as pessoas
cuidadores com afasia e seus cuidadores pela
escala SAQOL-39.
9 Bakas et. al., 147 cuidadores Indianápolis (EUA) Realização de teste psicométrico
200627 dos pacientes com 15 questões sobre impacto
afásicos com social, emocional e de saúde.
AVC
10 Choi-Kwon et. al., 147 cuidadores Coréia do Sul Análise dos fatores que afetam a
200528 dos pacientes carga de cuidadores de pacientes
afásicos com afásicos.
AVC
11 Zwinkels et. al., 100 afásicos Maastricht, países Avaliação da confiabilidade inter-
200429 com AVC baixos avaliadores de um teste de apraxia.
12 Sveen, et. al., 82 afásicos com Oslo, Noruega Exploração da relação entre bem-
200430 AVC estar e acometimento cerebral
vascular.
13 Hilari, et. al., 95 afásicos com Londres Avaliação da aceitabilidade,
200331 AVC confiabilidade e validade dos
testes psicométricos SAQOL e
SAQOL-39
14 Srikanth, et al., 99 afásicos com Austrália Administrada uma bateria de testes
200332 AVC neuropsicológicos para
conhecimento de dados cognitivos
do paciente.
arterial e 10% não têm idéia. Sessenta por cento fator de risco e um agravo à saúde, disposto em
(60%) tiveram o hábito de fumar, 40% não tinham uma seqüência de tempo, permite inferir sobre a
hábito de fumar. 21% dos pacientes têm história presença de associação entre os achados2.
familiar de diabetes, 48% não têm história familiar O comprometimento motor é um fator obser-
de diabetes e 31% não têm nenhuma idéia sobre vado nos pacientes lesionados cerebrais em sua
a história familiar de diabetes. Complicações entre grande maioria com achados de hemiplegia, para-
os pacientes da pesquisa são 51% têm Hemiplegia, plegia e paresias8. Os transtornos motores, como
10% têm Paraplegia, 23% têm Paresia, 10% têm a hemiplegia, constituem uma alteração de intensi-
Afasia e 6% têm complicações outros24. dade variável, sendo observado aproximadamente
E vindo a complementar o estudo descritivo em 80% dos afásicos não-fluentes e em 20% dos
transversal no Departamento de Neurologia em afásicos fluentes8.
Dacar, delineou os aspectos clínicos, epidemioló- Essas alterações além de afetar a condição
gicos e evolutivos das afasias vasculares. Todos corporal do indivíduo, afetam também a face, fato
os pacientes, no período de 22 meses, foram que vem colaborar para o desempenho ruim da
submetidos a um exame da linguagem que permite comunicação do afásico. Embora a manifestação
confirmar o diagnóstico de afasia e determinação do mais frequente seja a dificuldade para encontrar
tipo. Mostrou-se resultados de 55 casos de afasia as palavras na linguagem expressiva20, outras
registrados em 170 casos de acidente vascular manifestações são encontradas em consequência
cerebral (freqüência: 32,35%). A idade média foi ao comprometimento motor, como por exemplo,
56,8 (28 a 86 anos) com uma razão sexual de a dificuldade ao nível da combinação dos movi-
0.61. Com 76.36% dos pacientes sem saber ler e mentos articulatórios para produzir os sons da
escrever. A natureza do acidente vascular cerebral fala33.
isquêmico foi de 73,7% e hemorrágico em 26,3%. Como a linguagem é um meio de comunicação
As afasias com distúrbio de linguagem expres- privilegiado, a perda desse instrumento torna-se,
siva foram observadas em 96,4% contra 3,6% dos para o afásico, uma fonte de isolamento, de solidão.
casos de afasias com distúrbio de linguagem abran- A tristeza, a frustração, o desespero frequente-
gente. A evolução da afasia foi correlacionada com mente fazem parte da vida do afásico pela sua
o déficit motor. Fatores como idade, baixo nível incapacidade de se exteriorizar e mesmo de se
educacional, acidente vascular cerebral isquêmico expressar 33,34. Além dessa depressão também
constituem fatores de mau prognóstico e causam pode estar associada com o aumento de morbidade
incômodos sociais, profissionais e de reinserção e mortalidade deste grupo de indivíduos afetados
familiar 21. pela lesão e sua recorrência 20.
É importante convergir o comprometimento
DISCUSSÃO motor com o surgimento de repercussões impor-
tantes na autonomia e nas relações interpes-
Apesar de estudos epidemiológicos de caráter soais, desencadeando muitas vezes reações
transversal poderem informar casos existentes com emocionais8.
imagens distorcidas da realidade da população, Indivíduos com comprometimento por uma ou
pode-se observar que a afasia, por ser um agravo à diversas lesões cerebrais sofrem tanto na reabi-
saúde de longa duração como descrito nos estudos litação da saúde quanto na interação com o meio
analisados. que o cerca. Como são observadas diversas mani-
As pesquisas evidenciam meios de buscar festações clínicas, o conhecimento sobre as bases
compreender como esta modificação de saúde biológicas de recuperação e da reabilitação das
abrange os sinais e sintomas relacionados. Porém, afasias são relativamente escassos, o que não
vale ressaltar que o investigado (doente com contribui para a recuperação em logo prazo.
acometimento cerebral) passa por mudanças de Estudos epidemiológicos de caráter trans-
adaptação e reabilitação com o passar do tempo, versal permitiram verificar indivíduos afásicos com
mostrando neste método de avaliação seccional maiores chances de se beneficiar com este tipo de
limitações para esclarecer e descrever a relação pesquisa, pelo tempo de latência até a reabilitação
temporal com o ataque cerebral. resultando em casos mais facilmente recrutados
O importante é entender que os fatores de risco para investigação. Portanto, estudos nesta área
encontrados na investigação antecedente ao acon- são importantes para se ter um traçado epidemioló-
tecimento podem mostrar que alguns indicadores gico sobre os aspetos das lesões cerebrais.
como a hipertensão, o uso de fumo e a diabetes Apesar de a afasia poder desaparecer com a
devem ser observados com enfoque preventivo ao reabilitação, o afásico ainda assim permanece.
acidente vascular cerebral. A comparação de um Destaca-se que a inclusão social é fundamental para
ABSTRACT
Background: one of the most widely delineations used in epidemiological research is the cross-sectional
study. It consists of a very useful tool for describing characteristics of the population and identifying
risk groups. Considering aphasia as a disintegration of language, it is necessary to understand the
dissociations and relevant commitments. Purpose: to analyze epidemiological studies that analyzed
cross-sectional changes in adult aphasic patients in order to investigate their main manifestations.
Conclusion: the cross-sectional studies show ways to understand how this change in health covers
signs and symptoms. Whereas the language, for being a privileged mean of communication for
the aphasic people, the loss of this instrument becomes a source of isolation and loneliness. Thus,
the identification of individuals with aphasia may contribute to accurate diagnosis, confirming the
understanding of speech pathology findings on language and assisting in the rehabilitation. But, these
scientific evidences should be effected at all longitudinal studies in order to support the creation of new
techniques and strategies for recovering the injured brain, favoring the improvement of communication
and in consequence the interactivity.
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M. Nagamine Hori. São Paulo: Santos,1995; 255p.
Endereço para correspondência 34. Michelini CRS, Caldana ML. Grupo de orientação
Sílvia Helena de Carvalho Sales Peres fonoaudiológica aos familiares de lesionados
Faculdade de Odontologia de Bauru – USP cerebrais adultos. Rev CEFAC. 2005;7(2):137-48.
Departamento de Saúde Coletiva
Al. Dr. Octávio Pinheiro Brisolla, 9-75
Bauru – SP
CEP: 17012-901
E-mail: shcperes@usp.br