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Revista dos Historiadores da Contabilidade

Volume 26
Edição 2 de Artigo 6
dezembro1999

1999

Evolução da estrutura conceitual para empresas nos Estados


Unidos
Stephen A. Zeff

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em:https://egrove.olemiss.edu/aah_journal Parte deContabilidade Comum,


e aTributação Comum

Citação recomendada
Zeff, Stephen A. (1999) "Evolução da estrutura conceitual para empresas emEstados Unidos," Accounting
Historians Journal: Vol. 26: Iss. 2, Artigo 6.
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Zeff: Evolução da estrutura conceitual para empresas nos Estados Unidos

Zeff:
Revista dos Estrutura Conceitual
Historiadores para Negó ciosEmpresas89
da Contabilidade
Vol. 26, nº 2
dezembro de 1999

Stephen A. Zeff
UNIVERSIDADE DE RICE

A EVOLUÇÃO DA ESTRUTURA CONCEITUAL PARA EMPRESAS COMERCIAIS


NOS ESTADOS UNIDOS

Abstrato:Os esforços institucionais nos Estados Unidos para desenvolver uma estrutura conceitual para empresas podem ser rastreados até a
monogra ia de Paton e Littleton em 1940 e, posteriormente, aos dois Accounting Research Studies de Moonitz e Sprouse em 1962-1963. Um
comitê da American Accounting Association emitiu um relató rio in luente no qual defendia uma abordagem de “utilidade de decisã o” em
1966, que foi levada adiante em 1973 pelo relató rio do Comitê Trueblood do American Institute of CPAs. Tudo isso lançou as bases para o
projeto de estrutura conceitual do Financial Accounting Standards Board (FASB), que publicou seis declaraçõ es de conceitos entre 1978 e
1985. Uma sé tima declaraçã o de conceitos provavelmente será publicada em 2000. Ainda é nã o está claro como a estrutura conceitual do
FASB in luenciou o estabelecimento de normas contá beis,

O INICIO1
As primeiras tentativas de desenvolver uma “estrutura conceitual” na literatura contá bil dos Estados Unidos for
feitas por William A. Paton e John B. Canning. Em sua Accounting Theory [1922], Paton apresentou “uma reformulaçã o
teoria da contabilidade consistente com as condiçõ es e necessidades da empresa por excelê ncia, a grande corporaçã o” [
Jornal dos Historiadores da Contabilidade, vol. 26 [1999],
ss. 2, art. 6
2 Revista dos Historiadores da
Contabilidade,dezembro de 1999
iii-iv], e no inal

Agradecimentos: O escritor agradece a Allister Wilson, Tom Dyckman, Larry Revsine, Chuck Horngren, Denny Beresford e Jim Leisenring p
comentá rios sobre um rascunho anterior. A responsabilidade pelo que resta é exclusivamente do escritor. Uma versã o semelhante do artigo foi originalme
publicada em espanhol no vol. 28, nº 100 (1999) da Revista Españ ola de Financiació n y Contabilidad. O editor agradece ao professor Zeff por permitir que
publicasse o artigo em inglê s.

1
Para uma revisã o dos primeiros esforços da American Accounting Association e do American Institute of (Certi ied Public Accountants), ver Sto
[1964] e Zeff [1972, pp. 129-178; 1984].
Zeff: Evolução da estrutura conceitual para empresas nos Estados Unidos

No capı́tulo, ele discutiu uma sé rie de suposiçõ es bá sicas, ou


“postulados”, que sustentam a estrutura da contabilidade
moderna. Em The Economics of Accountancy [1929], Canning
foi o primeiro a desenvolver e apresentar uma estrutura
conceitual para avaliaçã o e mensuraçã o de ativos fundada
explicitamente em expectativas futuras. O livro de Paton foi
uma expansã o de sua dissertaçã o de doutorado feita na
Universidade de Michigan, e o de Canning foi sua dissertaçã o de
doutorado aceita pela Universidade de Chicago. Por meio dessas
obras, Paton e Canning in luenciaram muitos outros escritores
ao longo dos anos [para Canning, ver Zeff, 2000].
Provavelmente, a primeira tentativa institucional de
estabelecer as bases de uma estrutura conceitual foi a “Declaraçã o
Provisó ria dos Princı́pios Contá beis que Afetam os Relató rios
Corporativos”, emitida em 1936 pelo comitê executivo da
American Accounting Association (AAA) e publicada na The
Accounting Review. 2 A principal razã o para preparar a
“Declaraçã o Provisó ria”, um hino à contabilidade de custos
histó ricos, foi fornecer orientaçã o o icial à recé m-criada Comissã o
de Valores Mobiliá rios (SEC). De fato, a equipe de contabilidade da
SEC freqü entemente citava favoravelmente a “Declaraçã o
Provisó ria”, bem como suas revisõ es emitidas em 1941 e 1948 e as
oito declaraçõ es suplementares emitidas entre 1950 e 1954. A
revisã o inal da Declaraçã o, emitida em 1957,
Um desdobramento da “Declaraçã o Provisó ria” de 1936 da
AAA foi talvez a monogra ia mais in luente na literatura contá bil
dos Estados Unidos, An Introduction to Corporate Accounting
Standards, escrita por Paton e AC Littleton, dois dos mais
importantes acadê micos de contabilidade de sua é poca, e
publicada em 1940 pela AAA. Acima de tudo, foi uma elegante
explicaçã o e racionalizaçã o do modelo histó rico de
contabilidade de custos que já era amplamente aceito nos
Estados Unidos. Recebeu aclamaçã o geral e foi usado por
muitos anos em cursos de contabilidade em todo o paı́s. A
monogra ia de Paton e Littleton, como icou conhecida,
provavelmente fez tanto quanto qualquer outra publicaçã o para
perpetuar

2
A mais abrangente revisã o e aná lise da evoluçã o dos esforços para formular
uma estrutura conceitual nos Estados Unidos é The Framework of Financial
Accounting Concepts and Standards [1998], de Storey e Storey, que deve ser
consultado por qualquer estudante sé rio do assunto. Reed K. Storey, o autor sê nior
deste estudo, foi membro de longa data da equipe de pesquisa do FASB e foi um dos
principais contribuintes para o projeto de estrutura conceitual do conselho. Para
uma visã o cé tica de projetos de estruturas conceituais, consulte Macve [1997].

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comerciais
o uso da contabilidade de custos histó ricos nos Estados Unidos
Sua monogra ia també m popularizou o uso de custos e receitas
“matching”, amplamente conhecido como convençã o de
matching. Reed K. Storey [1981, p. 90], que dedicou a maior
parte de sua carreira pro issional a orientar a pesquisa para o
Accounting Principles Board e o Financial Accounting Standards
Board, escreveu:
A monogra ia [de Paton e Littleton] foi uma exceçã o
surpreendente à proposiçã o geral de que a escrita
acadê mica teve pouco efeito na prá tica contá bil. . . .
Geraçõ es de contadores aprenderam a usá -lo como
escritura. . . .
Durante os 40 anos desde a monogra ia de Paton e
Littleton, a prá tica contá bil desenvolveu-se
substancialmente ao longo das linhas especi icadas na
monogra ia, e a racionalizaçã o e a teoria consistentes
com a monogra ia foram amplamente utilizadas e tê m
sido comuns em pronunciamentos o iciais.
Dois anos antes do surgimento da monogra ia de Paton e
Littleton, o American Institute of Accountants (AIA) publicou A
Statement of Accounting Principles, de Thomas H. Sanders, Henry
Rand Hat ield e Underhill Moore — dois acadê micos de
contabilidade e um acadê mico de direito — que foi, em grande
medida, uma defesa da prá tica aceita. A monogra ia havia sido
encomendada em 1935 pela Fundaçã o Haskins & Sells para que a
incipiente SEC, que havia declarado interesse em prescrever a
forma e o conteú do das demonstraçõ es inanceiras em declaraçõ es
de registro, pudesse receber algumas informaçõ es o iciais.
orientaçã o sobre as melhores prá ticas contá beis. Em 1938-1939, o
AIA tornou-se ainda mais ativo no fornecimento de orientaçõ es à
SEC quando autorizou seu Comitê de Procedimentos Contá beis
(CAP) a emitir Boletins de Pesquisa Contá bil. Em uma de suas
primeiras decisõ es, o comitê rejeitou a opçã o de desenvolver uma
declaraçã o abrangente de princı́pios contá beis — uma espé cie de
“quadro conceitual” — porque o projeto levaria talvez cinco anos
para ser concluı́do, perı́odo durante o qual o A SEC pode perder a
paciê ncia com o comitê e, em vez disso, começar a fazer suas
pró prias regras contá beis [Zeff, 1972, p. 137]. Vá rias vezes, nas
dé cadas de 1940 e 1950, durante o mandato do CAP, foram
expressas propostas para desenvolver um conjunto de conceitos
bá sicos de contabilidade e, na dé cada de 1940, o departamento de
pesquisa do Instituto publicou uma revisã o de oito pá ginas dos
princı́pios bá sicos de contabilidade [AIA, 1945] . No entanto,
nenhuma dessas iniciativas foi adotada pelo comitê como parte de
seu programa de trabalho [Zeff, 1972, pp. 141-143]. o comitê
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Jornal dos Historiadores da Contabilidade, vol. 26 [1999],
ss. 2, art. 6
4 Revista dos Historiadores da
rejeitou a opçã o de desenvolver uma declaraçã
Contabilidade,dezembro o abrangente de
de 1999
princı́pios contá beis — uma espé cie de “estrutura conceitual” —
porque o projeto levaria talvez cinco anos para ser concluı́do,
perı́odo durante o qual a SEC poderia perder a paciê ncia com o
comitê e, em vez disso, começar a fazer suas pró prias regras de
contabilidade [Zeff, 1972, p. 137]. Vá rias vezes, nas dé cadas de
1940 e 1950, durante o mandato do CAP, foram expressas
propostas para desenvolver um conjunto de conceitos bá sicos de
contabilidade e, na dé cada de 1940, o departamento de pesquisa
do Instituto publicou uma revisã o de oito pá ginas dos princı́pios
bá sicos de contabilidade [AIA, 1945] . No entanto, nenhuma dessas
iniciativas foi adotada pelo comitê como parte de seu programa de
trabalho [Zeff, 1972, pp. 141-143]. o comitê rejeitou a opçã o de
desenvolver uma declaraçã o abrangente de princı́pios contá beis —
uma espé cie de “estrutura conceitual” — porque o projeto levaria
talvez cinco anos para ser concluı́do, perı́odo durante o qual a SEC
poderia perder a paciê ncia com o comitê e, em vez disso, começar a
fazer suas pró prias regras de contabilidade [Zeff, 1972, p. 137].
Vá rias vezes, nas dé cadas de 1940 e 1950, durante o mandato do
CAP, foram expressas propostas para desenvolver um conjunto de
conceitos bá sicos de contabilidade e, na dé cada de 1940, o
departamento de pesquisa do Instituto publicou uma revisã o de
oito pá ginas dos princı́pios bá sicos de contabilidade [AIA, 1945] .
No entanto, nenhuma dessas iniciativas foi adotada pelo comitê
como parte de seu programa de trabalho [Zeff, 1972, pp. 141-143].
durante o qual a SEC pode perder a paciê ncia com o comitê e, em
vez disso, começar a fazer suas pró prias regras contá beis [Zeff,
1972, p. 137]. Vá rias vezes, nas dé cadas de 1940 e 1950, durante o
mandato do CAP, foram expressas propostas para desenvolver um
conjunto de conceitos bá sicos de contabilidade e, na dé cada de
1940, o departamento de pesquisa do Instituto publicou uma
revisã o de oito pá ginas dos princı́pios bá sicos de contabilidade
[AIA, 1945] . No entanto, nenhuma dessas iniciativas foi adotada
pelo comitê como parte de seu programa de trabalho [Zeff, 1972,
pp. 141-143]. durante o qual a SEC pode perder a paciê ncia com o
comitê e, em vez disso, começar a fazer suas pró prias regras
contá beis [Zeff, 1972, p. 137]. Vá rias vezes, nas dé cadas de 1940 e
1950, durante o mandato do CAP, foram expressas propostas para
desenvolver um conjunto de conceitos bá sicos de contabilidade e,
na dé cada de 1940, o departamento de pesquisa do Instituto
publicou uma revisã o de oito pá ginas dos princı́pios bá sicos de
contabilidade [AIA, 1945] . No entanto, nenhuma dessas iniciativas
foi adotada pelo comitê como parte de seu programa de trabalho
[Zeff, 1972, pp. 141-143]. e na dé cada de 1940 o departamento de
pesquisa do Instituto realmente publicou uma revisã o de oito
pá ginas dos princı́pios contá beis bá sicos [AIA, 1945]. No entanto,
nenhuma dessas iniciativas foi adotada pelo comitê como parte de
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seu programa de trabalho [Zeff, 1972, pp. 141-143]. e na dé cada de
comerciais
1940 o departamento de pesquisa do Instituto realmente publicou
uma revisã o de oito pá ginas dos princı́pios contá beis bá sicos [AIA,
1945]. No entanto, nenhuma dessas iniciativas foi adotada pelo
comitê como parte de seu programa de trabalho [Zeff, 1972, pp.
141-143].

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ss. 2, art. 6
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També m durante as dé cadas de 1940 e 1950, tanto dentro
do comitê do Instituto quanto entre o comitê e a equipe de
contabilidade da SEC, uma frustraçã o acumulada surgiu de
desacordos sobre uma sé rie de questõ es controversas de
contabilidade, incluindo contabilidade de impostos diferidos,
custo histó rico vs. valor, a adequaçã o dos ajustes gerais de nı́vel
de preço e o tratamento de itens incomuns na demonstraçã o de
resultados. Representantes no comitê das principais empresas
de contabilidade pú blica diferiram iloso icamente sobre a
questã o generalizada de impor um maior grau de uniformidade
ou permitir lexibilidade na escolha dos mé todos contá beis [ver
Zeff, 1984, pp. 458-459 ]. Essa discó rdia contı́nua re letiu
desfavoravelmente no trabalho do comitê . Acreditando que um
componente de pesquisa mais forte era necessá rio para apoiar
as deliberaçõ es do comitê , o novo presidente do Instituto, Alvin
R. Jennings [1958, p. 32], propô s o estabelecimento de uma
fundaçã o de pesquisa que “realizaria exame e reexame
contı́nuos de suposiçõ es contá beis bá sicas e desenvolveria
declaraçõ es autorizadas para a orientaçã o da indú stria e de
nossa pro issã o”. Ao mesmo tempo, Leonard Spacek [1957, p.
21], o combativo só cio-gerente da Arthur Andersen & Co.,
criticava publicamente a pro issã o contá bil por nã o estabelecer
as premissas e os princı́pios da contabilidade. A pressã o
começou a aumentar para uma abordagem melhor para
estabelecer “princı́pios contá beis geralmente aceitos” (GAAP)
do que estava sendo feito caso a caso pelo CAP. Esperava-se que
um programa de pesquisa fundamental pudesse permitir que o
comitê resolvesse algumas de suas divergê ncias profundas e
també m persuadisse a SEC do mé rito de novas abordagens.
Jennings entã o estabeleceu um Comitê Especial sobre o
Programa de Pesquisa para estudar e fazer recomendaçõ es
sobre o papel do Instituto no estabelecimento de princı́pios
contá beis, incluindo especialmente o componente de pesquisa.

ERA DO CONSELHO DE PRINCIPIOS CONTABEIS


O Comitê Especial do Programa de Pesquisa do Instituto era
composto por iguras importantes das categorias de auditores,
preparadores e acadê micos, e també m incluı́a o contador-chefe
da SEC. Em seu relató rio pioneiro publicado em 1958, o comitê
propô s o estabelecimento de um Conselho de Princı́pios
Contá beis (APB) para substituir o CAP e uma divisã o de
pesquisa contá bil para apoiar o APB. O comitê identi icou
quatro nı́veis amplos nos quais a contabilidade inanceira deve
ser abordada: postulados, princı́pios, regras ou outros guias
para o
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aplicaçã o de princı́pios a situaçõ es especı́ icas e pesquisa
[Report to Council of the Special Committee on Research
Program, 1958, p. 63]. O termo “postulados” havia sido pouco
utilizado na literatura contá bil. O comitê a irmou que os
postulados “sã o poucos em nú mero e sã o os pressupostos
bá sicos sobre os quais repousam os princı́pios. Elas sã o
necessariamente derivadas do ambiente econô mico e polı́tico e
dos modos de pensamento e costumes de todos os segmentos
da comunidade empresarial” [p. 63]. Acrescentou que “um
conjunto bastante amplo de princı́pios contá beis coordenados
deve ser formulado com base nos postulados” [p. 63]. A
primeira prioridade da divisã o de pesquisa era encomendar
estudos sobre os postulados contá beis e princı́pios gerais de
contabilidade. O comitê disse que “os resultados desses
[estudos], conforme adotado pelo Conselho de [Princı́pios
Contá beis], deve servir de base para todo o corpo de futuros
pronunciamentos do Instituto sobre assuntos contá beis, aos
quais cada novo lançamento deve estar relacionado” [p. 67].
Assim nasceu o primeiro programa institucional para
estabelecer uma estrutura conceitual – com princı́pios baseados
em postulados – embora o pró prio termo “estrutura conceitual”
nã o tenha entrado em voga até a dé cada de 1970.
O Instituto aceitou as recomendaçõ es do comitê e, em 1959,
a APB sucedeu a CAP. Um professor de contabilidade da
Universidade da Califó rnia em Berkeley, Maurice Moonitz, foi
nomeado diretor de pesquisa contá bil em tempo integral e
passou a encomendar os estudos de pesquisa sobre postulados
e princı́pios gerais. Moonitz atribuiu a si mesmo o projeto sobre
postulados e colaborou com seu colega de Berkeley, Robert T.
Sprouse, no estudo de pesquisa que trata de princı́pios gerais.
The Basic Postulates of Accounting, de Moonitz, Estudo de
pesquisa contá bil nº 1, foi publicado em 1961 e consistia em uma
exposiçã o e explicaçã o de trê s nı́veis de postulados contá beis,
tratando do meio ambiente, do campo da contabilidade e dos
imperativos (como ir preocupaçã o, objetividade, consistê ncia,
unidade monetá ria, materialidade e conservadorismo e
divulgaçã o). Nã o icou claro no estudo de Moonitz se ele favorecia
a contabilidade de custos histó ricos ou uma versã o da
contabilidade de valor atual; assim, muitos leitores acharam seu
estudo muito abstrato e geral para envolver seu interesse e
pensamento crı́tico. O estudo subsequente de Sprouse e Moonitz, A
Tentative Set of Broad Accounting Principles for Business
Enterprises, Accounting Research Study No. 3, publicado em 1962,
nã o evidenciou tal neutralidade.

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os autores argumentaram que menos con iança deveria ser
colocada no conceito de realizaçã o “como uma caracterı́stica
essencial da contabilidade” [p. 15] e que o uso de valores atuais
deveria ser expandido, o que, em vista da antipatia de longa
data da SEC para desvios da contabilidade de custos histó ricos,
imediatamente se tornou controverso, se nã o censurá vel.
Sprouse e Moonitz defenderam o uso de custos correntes de
reposiçã o para estoques de mercadorias e para instalaçõ es e
equipamentos, bem como o uso de valores presentes
descontados para contas a receber e contas a pagar a serem
liquidadas em dinheiro. No inı́cio da dé cada de 1960, o uso de
valores presentes de recebimentos de caixa futuros esperados
era praticamente desconhecido nos relató rios inanceiros dos
Estados Unidos, e os valores atuais (exceto em “menor de custo
ou mercado”) di icilmente eram encontrados. Sprouse e
Moonitz també m recomendaram que o ganho ou perda da
reavaliaçã o dos estoques deveria ser contabilizado como lucro
[p. 30]. Nove dos 12 membros dos comitê s consultivos do
projeto para os estudos de postulados e princı́pios comentaram
as recomendaçõ es de Sprouse e Moonitz em uma seçã o anexada
ao seu estudo, e as reaçõ es de oito dos nove variaram de
mornas a desdenhosas. Trê s dos crı́ticos mais severos foram o
contador-chefe da SEC e dois contadores-chefe anteriores da
SEC. A pró pria APB, que foi encarregada de decidir se adotaria
ou nã o os dois estudos de pesquisa, emitiu uma declaraçã o
famosa na qual descartava os dois estudos como “muito
radicalmente diferentes dos atuais princı́pios contá beis
geralmente aceitos para serem aceitos neste momento” [ APB,
1962]. Nove dos 12 membros dos comitê s consultivos do
projeto para os estudos de postulados e princı́pios comentaram
as recomendaçõ es de Sprouse e Moonitz em uma seçã o anexada
ao seu estudo, e as reaçõ es de oito dos nove variaram de
mornas a desdenhosas. Trê s dos crı́ticos mais severos foram o
contador-chefe da SEC e dois contadores-chefe anteriores da
SEC. A pró pria APB, que foi encarregada de decidir se adotaria
ou nã o os dois estudos de pesquisa, emitiu uma declaraçã o
famosa na qual descartava os dois estudos como “muito
radicalmente diferentes dos atuais princı́pios contá beis
geralmente aceitos para serem aceitos neste momento” [ APB,
1962]. Nove dos 12 membros dos comitê s consultivos do
projeto para os estudos de postulados e princı́pios comentaram
as recomendaçõ es de Sprouse e Moonitz em uma seçã o anexada
ao seu estudo, e as reaçõ es de oito dos nove variaram de
mornas a desdenhosas. Trê s dos crı́ticos mais severos foram o
contador-chefe da SEC e dois contadores-chefe anteriores da

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SEC. A pró pria APB, que foi encarregada de decidir se adotaria
comerciais
ou nã o os dois estudos de pesquisa, emitiu uma declaraçã o
famosa na qual descartava os dois estudos como “muito
radicalmente diferentes dos atuais princı́pios contá beis
geralmente aceitos para serem aceitos neste momento” [ APB,
1962]. e as reaçõ es de oito dos nove variaram de mornas a
desdenhosas. Trê s dos crı́ticos mais severos foram o contador-
chefe da SEC e dois contadores-chefe anteriores da SEC. A
pró pria APB, que foi encarregada de decidir se adotaria ou nã o
os dois estudos de pesquisa, emitiu uma declaraçã o famosa na
qual descartava os dois estudos como “muito radicalmente
diferentes dos atuais princı́pios contá beis geralmente aceitos
para serem aceitos neste momento” [ APB, 1962]. e as reaçõ es
de oito dos nove variaram de mornas a desdenhosas. Trê s dos
crı́ticos mais severos foram o contador-chefe da SEC e dois
contadores-chefe anteriores da SEC. A pró pria APB, que foi
encarregada de decidir se adotaria ou nã o os dois estudos de
pesquisa, emitiu uma declaraçã o famosa na qual descartava os
dois estudos como “muito radicalmente diferentes dos atuais
princı́pios contá beis geralmente aceitos para serem aceitos
neste momento” [ APB, 1962].
Moonitz e Sprouse pensaram que sua tarefa era
desenvolver um argumento racional para uma abordagem
só lida para relató rios inanceiros. A maioria dos membros da
APB e outros lı́deres da pro issã o contá bil, por outro lado, viam
a pesquisa bá sica como um instrumento para racionalizar o
status quo (na tradiçã o da monogra ia de Paton e Littleton), ao
invé s de um argumento normativo para a defesa fundamental.
alteraçã o na contabilidade. Acima de tudo, a SEC era naquela
é poca um regulador conservador, que considerava os desvios
da “objetividade” da contabilidade de custos histó ricos como
possuindo o potencial de enganar os leitores das
demonstraçõ es inanceiras. Na dé cada de 1960, a SEC viu sua
missã o principalmente como uma proteçã o contra
demonstraçõ es inanceiras enganosas, em vez de melhorar o
conteú do das informaçõ es das demonstraçõ es.

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Contabilidade,dezembro de 1999
sem um corpo de conceitos subjacentes em que se basear.
Um dos membros do comitê consultivo do projeto, Paul
Grady, só cio aposentado da Price Waterhouse & Co. e protegido
do ex-decano da pro issã o contá bil, George O. May, argumentou
que um resumo dos GAAP seria oportuno. Ele acreditava, assim
como seu mentor acadê mico, AC Littleton, que as explicaçõ es
teó ricas deveriam ser derivadas indutivamente da prá tica. A
APB contratou Grady para realizar tal estudo e, em 1965, o
Instituto publicou seu Inventá rio de Princı́pios Contá beis
Geralmente Aceitos para Empresas (Estudo de Pesquisa
Contá bil nº 5), que, ele esperava, seria mantido atualizado. por
suplementos perió dicos. O estudo teve grande demanda no
exterior, pois foi visto como uma compilaçã o autorizada da
prá tica americana aceita. Embora o estudo de Grady tenha se
empenhado em identi icar conceitos bá sicos, objetivos, e
princı́pios implı́citos nos pronunciamentos atuais, oferecia
pouco para pressagiar uma melhoria na prá tica. No mı́nimo, seu
estudo pretendia mostrar que a contabilidade se baseava em
conceitos, objetivos e princı́pios bá sicos, ao contrá rio da visã o
sustentada pelos cé ticos.
Em meados da dé cada de 1960, a APB respondeu à
recomendaçã o
çã o de um comitê especial para que o conselho “enumere e
descreva os conceitos bá sicos aos quais os princı́pios contá beis
devem ser orientados” e “de ina os princı́pios contá beis aos
quais as prá ticas e procedimentos devem estar em
conformidade” [ê nfase fornecida; Zeff, 1972, pá g. 196]. Isso foi,
por im, uma cobrança de que o conselho deveria adotar uma
postura normativa em relaçã o ao desenvolvimento de conceitos
bá sicos, e nã o apenas sintetizar a prá tica aceita. Pretendia-se
que o produto inal fosse um Parecer do colegiado, com status
de pronunciamento obrigató rio. A diretoria e uma de suas
comissõ es trabalharam por cinco anos, durante os quais seus
membros tiveram grande di iculdade em chegar a um acordo
sobre as proposiçõ es normativas. No inal, foi mais fá cil chegar
a um acordo sobre uma declaraçã o principalmente descritiva,
que foi publicada como Declaraçã o No. 4 em 1970 sob o
tı́tulo,Princípios Básicos Subjacentes às Demonstrações
Financeiras de Empreendimentos Comerciais. Como Declaraçã o,
ao invé s de Parecer, o documento nã o era obrigató rio e seu
conteú do poderia ser ignorado. A emissã o de uma declaraçã o
principalmente descritiva decepcionou muito aqueles que
esperavam que o conselho inalmente fornecesse um plano para

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a melhoria dos princı́pios nos relató rios inanceiros. Um
comerciais
membro da APB, George R. Catlett da Arthur Andersen & Co.,
discordou da Declaraçã o “porque, em sua opiniã o, ela falha em
fornecer o que pretende ser 'uma base para orientar o futuro
desenvolvimento da contabilidade inanceira'” [APB, 1970, p.
105]. No entanto, mesmo como uma declaraçã o descritiva, o
documento foi abrangente, perspicaz e profundamente
analı́tico, e seu conteú do foi frequentemente citado quando se
discutiam percepçõ es sobre a prá tica existente.

AAA'S UMA DECLARAÇAO DA TEORIA BASICA DA


CONTABILIDADE
Enquanto o CAP e o APB, que eram compostos
principalmente por praticantes de contabilidade, eram
incapazes ou relutantes em desenvolver um conjunto normativo
de conceitos subjacentes e princı́pios bá sicos, os comitê s de
acadê micos de contabilidade nã o tinham essa relutâ ncia. Em
1966, um comitê da American Accounting Association publicou
uma monogra ia pioneira, intitulada A Statement of Basic
Accounting Theory (ASOBAT), que desviou a atençã o das
virtudes inerentes dos modelos de avaliaçã o de ativos para a
“utilidade de decisã o” de demonstraçõ es inanceiras.3 De iniu a
contabilidade como “o processo de identi icaçã o, mensuraçã o e
comunicaçã o de informaçõ es econô micas para permitir
julgamentos e decisõ es informados pelos usuá rios da
informaçã o” [AAA, 1966, p. 1]. Embora essa de iniçã o
di icilmente seria excepcional hoje, na dé cada de 1960, quando
os teó ricos estavam debatendo ativamente a superioridade dos
modelos alternativos de avaliaçã o de ativos [ver, por exemplo,
Nelson, 1973; Henderson e Peirson, 1983, caps. 8 e 9; Lee,
1996], uma orientaçã o explı́cita para os usuá rios da informaçã o
foi uma lufada de ar fresco. O comitê [AAA, 1966, pp. 23-24]
també m enfatizou a futuridade:
O comitê sugere que a informaçã o contá bil para usuá rios
externos re lita suas necessidades, relatando mediçõ es e
formulaçõ es consideradas relevantes para a realizaçã o de
previsõ es, sem implicar que a informaçã o fornecida seja
totalmente adequada para tal previsã o.
Quase todos os usuá rios externos de informaçõ es
inanceiras relatadas por uma empresa orientada para o
lucro estã o envolvidos em esforços para prever os lucros
da empresa para algum perı́odo futuro. Tais previsõ es sã o
mais cruciais no caso de investidores em açõ es atuais e
potenciais e seus representantes – considerados por

Publicado por eGrove, 1999 13


Jornal dos Historiadores da Contabilidade, vol. 26 [1999],
ss. 2, art. 6
12 Revista dos Historiadores da
muitos como o mais importante dos grupos
Contabilidade,dezembro de usuá rios.
de 1999
Os ganhos anteriores do

3
Para uma discussã o sobre a abordagem da “utilidade da decisã o”, consulte
a Declaraçã o da AAA sobre a Teoria da Contabilidade e a Aceitaçã o da Teoria
[AAA, 1977, pp. 10-21]; uma cobertura muito mais completa aparece em
Staubus [no prelo].

empresa sã o considerados o item de informaçã o mais


importante e relevante para a previsã o de ganhos
futuros. Segue-se disso que os ganhos passados devem
ser medidos e divulgados de maneira a dar ao usuá rio o
má ximo de ajuda possı́vel nos esforços para fazer essa
previsã o com um mı́nimo de incerteza [pp. 23-24].4
O comitê identi icou e elaborou “quatro padrõ es bá sicos
para informaçõ es contá beis . . . que fornecem crité rios a serem
usados na avaliaçã o de informaçõ es contá beis potenciais”:
relevâ ncia, veri icabilidade, ausê ncia de vié s e
quanti icabilidade [p. 8]. Em seguida, julgou uma sé rie de á reas
problemá ticas de contabilidade em relaçã o a esses padrõ es [pp.
27-36]. Em um de seus julgamentos mais importantes, sobre
custo histó rico x valor atual, o comitê [pp. 30-31] concluiu, apó s
ponderar a veri icabilidade contra a relevâ ncia, que os
relató rios inanceiros deveriam exibir informaçõ es extraı́das de
ambos os modelos (o que era uma recomendaçã o radical na
é poca):
A apresentaçã o de informaçõ es histó ricas [baseadas
em transaçõ es] por si só exclui o impacto total do
ambiente na empresa; a apresentaçã o de informaçõ es
de custo corrente por si só obscurece o registro de
transaçõ es de mercado consumadas. O comitê
recomenda que ambos os tipos de informaçã o sejam
apresentados em um relató rio multivalorado, no qual
os dois tipos de informaçã o apareçam em colunas
adjacentes.
Em uma seçã o pouco notada do relató rio, o comitê [p.
29] sugeriu que “os contadores geralmente exigem uma visã o
muito estreita de conformidade com o padrã o de
quanti icabilidade” e que, à luz da incerteza em torno das
mediçõ es contá beis, “nã o há razã o convincente para que o
contador nã o deva relatar em termos de estimativas de
intervalo ou distribuiçõ es de probabilidade”.
Robert R. Sterling [1967a, pp. 99-100], um importante
teó rico da contabilidade da é poca, avaliou o ASOBAT da
seguinte forma:

https://egrove.olemiss.edu/aah_journal/vol26/iss2/6 12
Zeff: Evolução da estrutura conceitual para empresas nos Estados Unidos

Zeff: Estrutura conceitual para empreendimentos 13


O comitê nos convidou a ver a contabilidade
comerciais como
um sistema de informaçã o de mediçã o. Essa nova visã o
exclui algumas questõ es, mas coloca outras. Em sua
referê ncia

4
Em 1969, outro comitê da AAA emitiu um importante relató rio sobre até que
ponto as prá ticas atuais de relató rios inanceiros satisfazem as necessidades dos
investidores e credores à luz dos padrõ es sugeridos pela ASOBAT para informaçõ es
contá beis [AAA, 1969].

Nesse contexto, nã o é mais apropriado discutir sobre qual


convençã o ou suposiçã o se aproxima mais do custo ou
receita 'real'; nã o é apropriado supor que, se
descrevermos cuidadosamente (divulgarmos
completamente) os mé todos usados, os nú meros serã o
signi icativos, ou que apenas os custos investidos ou os
dados da transaçã o sejam objeto de contabilidade ou que
por seu pró prio nome ing re lete os custos. Sob a nova
visã o, as mediçõ es em contabilidade sã o uma funçã o de
algum im.
Esta é uma mudança na 'visã o de mundo' e é o
material de que as revoluçõ es sã o feitas [nota de
rodapé omitida].

UMA GRANDE OITO EMPRESA ANUNCIA


SUA PROPRIA DECLARAÇAO DE
OBJETIVOS
Em 1972, a irma Big Eight da Arthur Andersen & Co. (AA)
publicou um livreto de 130 pá ginas intitulado Objetivos das
Demonstraçõ es Financeiras para Empresas. O desenvolvimento
desta publicaçã o ú nica surgiu da frustraçã o da empresa com o
fracasso da APB em concordar com uma declaraçã o normativa de
conceitos e princı́pios em sua Declaraçã o No. 4 em 1970 [Wyatt,
1999, p. 161]. A empresa concentrou-se em “objetivos” porque o
Trueblood Committee do Institute estava envolvido em um grande
estudo dos objetivos das demonstraçõ es inanceiras (ver a pró xima
seçã o). O livreto de AA criticava a prá tica contá bil existente,
especialmente sua ê nfase no conservadorismo e no custo histó rico
como uma meta em vez de um mé todo em direçã o a uma meta [pp.
34-38]. Em vez disso, enfatizou que “as demonstraçõ es inanceiras
devem ser justas para todos os usuá rios e devem fornecer a base
para resolver [seus] interesses con litantes…” [p. 8], uma visã o que
o ex-só cio-gerente e presidente da empresa, Leonard Spacek, vinha
defendendo em discursos desde a dé cada de 1950 [ver A Search for

Publicado por eGrove, 1999 13


Jornal dos Historiadores da Contabilidade, vol. 26 [1999],
ss. 2, art. 6
14 Revista dos Historiadores da
Fairness..., 1969]. A empresa [pá g. 116] concluiu
Contabilidade,dezembro que o propó sito
de 1999
geral das demonstraçõ es inanceiras:
. . . é comunicar informaçõ es sobre a natureza e o valor
dos recursos econô micos de uma empresa, os
interesses dos credores e o patrimô nio dos
proprietá rios nos recursos econô micos e as mudanças
na natureza e no valor desses recursos de perı́odo para
perı́odo.
Uma implicaçã o desse objetivo era que os ativos deveriam ser
medidos pelo valor atual, e a empresa recomendou que os
ganhos e perdas nã o realizados fossem divulgados na
demonstraçã o do resultado [caps. 7 e 8].

A proposta da AA foi ousada, e foi a ú nica empresa de


contabilidade a emitir uma declaraçã o tã o elaborada de seus
pontos de vista.

O RELATORIO TRUEBLOOD:
OBJETIVOS DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS
A abordagem da utilidade da decisã o que encontrou aceitaçã o
na ASOBAT foi levada adiante em um importante relató rio
publicado em 1973 por um comitê especial do Instituto Americano
de Contadores Pú blicos Certi icados (AICPA)5 sobre os objetivos
das demonstraçõ es inanceiras. O comitê foi formado em 1971,
depois que trê s das Oito Grandes empresas (incluindo AA) deram a
conhecer suas preocupaçõ es sobre a ine icá cia do APB, incluindo
sua incapacidade de resistir a pressõ es de interesses especiais,
especialmente preparadores [ver Zeff, 1984, pp. 463-464]. O AICPA
formou dois comitê s especiais neste cená rio de crise. O primeiro,
conhecido como Grupo de Estudos sobre o Estabelecimento de
Princı́pios Contá beis, ou Comitê do Trigo, reuniu-se para
recomendar melhorias no processo de estabelecimento desses
princı́pios. Em seu relató rio [Establishing Financial Accounting
Standards, 1972], o comitê propô s um ó rgã o independente e em
tempo integral, conhecido como Conselho de Normas de
Contabilidade Financeira (FASB), sob a tutela de uma nova
Fundaçã o de Contabilidade Financeira. O AICPA aprovou
prontamente o relató rio do Comitê do Trigo e criou o FASB para
suceder o APB em julho de 1973. O segundo comitê especial, o
Grupo de Estudo sobre os Objetivos das Demonstraçõ es
Financeiras, ou Comitê Trueblood, era composto por pro issionais
lı́deres, acadê micos e usuá rios da informaçã o contá bil, e foi

https://egrove.olemiss.edu/aah_journal/vol26/iss2/6 14
Zeff: Evolução da estrutura conceitual para empresas nos Estados Unidos

Zeff: Estrutura conceitual para empreendimentos 15


incumbido
comerciais de propor os objetivos fundamentais das
demonstraçõ es inanceiras para orientar a melhoria dos relató rios
inanceiros. Era para produzir uma declaraçã o normativa, nã o uma
inferê ncia extraı́da da prá tica. E importante ressaltar que o diretor
de pesquisa do Comitê Trueblood, George H. Sorter, professor de
contabilidade da Universidade de Chicago,

5
Em 1957, o American Institute of Accountants mudou seu nome para
American Institute of Certi ied Public Accountants.
6
Entrevista por telefone com Charles T. Zlatkovich, presidente da ASOBAT
Comitê , 3 de abril de 1999.
7
Entrevista por telefone com Oscar S. Gellein, membro do Comitê
Trueblood, 19 de março de 1999. Ver Sorter [1973] para uma discussã o dos
pontos principais do relató rio Trueblood e da abordagem usada pelo comitê .

O relató rio do Trueblood Committee, Objectives of Financial


Statements, publicado em outubro de 1973, adotou a abordagem
de utilidade de decisã o da ASOBAT e se concentrou ainda mais
especi icamente nos luxos de caixa futuros [p. 20]:
Um objetivo das demonstraçõ es inanceiras é fornecer
informaçõ es ú teis aos investidores e credores para
prever, comparar e avaliar os luxos de caixa potenciais
para eles em termos de valor, tempo e incerteza
relacionada.
O comitê disse que as demonstraçõ es inanceiras devem
“servir principalmente aos usuá rios que tê m autoridade,
habilidade ou recursos limitados para obter informaçõ es e que
dependem das demonstraçõ es inanceiras como sua principal fonte
de informaçã o sobre as atividades econô micas de uma empresa”
[p. 17]. Embora o comitê tenha dedicado atençã o primá ria a
investidores e credores, ele també m considerou gerentes e
funcioná rios como pertencentes ao conjunto de usuá rios de
demonstraçõ es inanceiras e concluiu: “Embora os usuá rios
possam diferir, suas decisõ es econô micas sã o semelhantes. Cada
usuá rio mede sacrifı́cios e benefı́cios em termos de desembolso ou
recebimento de dinheiro real ou futuro” [p. 18].
Seguindo os passos da ASOBAT, o comitê achou desejá vel
enumerar vá rias “caracterı́sticas qualitativas do relató rio”:
relevâ ncia e materialidade, forma e substâ ncia, con iabilidade,
liberdade de vié s, comparabilidade, consistê ncia e compreensã o
[cap. 10]. O comitê concluiu, assim como o comitê da AAA que
preparou o ASOBAT, que “os objetivos das demonstraçõ es
inanceiras nã o podem ser melhor atendidos pelo uso exclusivo
de uma ú nica base de avaliaçã o” [p. 41]. O Comitê Trueblood

Publicado por eGrove, 1999 13


Jornal dos Historiadores da Contabilidade, vol. 26 [1999],
ss. 2, art. 6
16 Revista dos Historiadores da
considerou uma gama ainda mais ampla de bases
Contabilidade,dezembro de 1999 de avaliaçã o
do que o comitê AAA: custo histó rico, valores de saı́da, custo de
reposiçã o atual e luxos de caixa descontados, e aconselhou que
“a combinaçã o especı́ ica de bases de avaliaçã o a serem usadas
é uma questã o de implementaçã o ” [pá g. 42].
Em duas seçõ es do relató rio Trueblood que muitas vezes
sã o negligenciadas, o comitê comentou sobre a falibilidade de
nú meros ú nicos nas demonstraçõ es inanceiras, bem como sobre o
uso de demonstraçõ es inanceiras para ajudar a atingir metas
sociais. Quanto ao primeiro, o comitê seguiu a ASOBAT ao observar
que “as mediçõ es em termos de nú meros ú nicos que nã o indicam
possı́veis intervalos e dispersõ es apresentam problemas na
descriçã o de eventos sujeitos à incerteza” [p. 39]. Este é um ponto
que tem

raramente foi levantada explicitamente em cı́rculos de


formulaçã o de polı́ticas. O comitê concluiu sugerindo [p. 40]:
Para satisfazer as preferê ncias individuais dos usuá rios
para prever e controlar o impacto dos eventos atuais
no poder aquisitivo da empresa, algumas
quanti icaçõ es aparentemente simples devem ser
suplementadas para representar suas complexidades
reais, revelando faixas de precisã o, con iabilidade e
incerteza.
Em um contexto social mais amplo, o Comitê Trueblood a irmou
que os objetivos sociais da empresa nã o sã o menos importantes
do que os objetivos econô micos. Citando a poluiçã o como
exemplo, o comitê chamou a atençã o para “aquelas atividades
empresariais que exigem sacrifı́cios daqueles que nã o se
bene iciam” [p. 54]. Concluiu que [pá g. 55]:
Um objetivo das demonstraçõ es inanceiras é relatar as
atividades da empresa que afetam a sociedade e que
podem ser determinadas, descritas ou mensuradas e
que sã o importantes para o papel da empresa em seu
ambiente social.
O relató rio Trueblood foi notá vel pelo frescor de sua
abordagem. Contribuiu muito para reorientar as discussõ es na
arena da polı́tica contá bil, desde relató rios de administraçã o até
o fornecimento de informaçõ es ú teis para os tomadores de
decisã o. O relató rio tornou-se uma espé cie de modelo para o
projeto de estrutura conceitual que o recé m-criado FASB estava
apenas começando.8

https://egrove.olemiss.edu/aah_journal/vol26/iss2/6 16
Zeff: Evolução da estrutura conceitual para empresas nos Estados Unidos

Zeff: Estrutura conceitual para empreendimentos 17


comerciaisERA DO FASB: DESENVOLVIMENTOS INICIAIS
O Comitê do Trigo, em seu relató rio que recomendou o
estabelecimento do FASB, nã o previu que o conselho se
comprometesse a desenvolver uma estrutura conceitual. Em seu
relató rio, o comitê [1972, pp. 19, 78] escreveu o seguinte:
A necessidade de uma base conceitual fundamental
tem sido muito debatida nos cı́rculos contá beis por
muitos anos. Acreditamos que este debate pode ter
produzido mais calor do que luz. A contabilidade
inanceira e os relató rios sã o

8
A transcriçã o dos procedimentos da audiê ncia pú blica do Comitê Trueblood
realizada em maio de 1972 foi publicada em dois volumes datilografados. Alé m
disso, pesquisas signi icativas, referê ncias e materiais de recursos que foram
considerados pelo Trueblood Committee durante o desenvolvimento de seu
relató rio foram reproduzidos em Objectives of Financial Statements: Selected
Papers [1974]. Para uma discussã o sobre o relató rio Trueblood, ver “Studies on
Financial Accounting Objectives: 1974” [1974].

nã o fundamentada em leis naturais como sã o as


ciê ncias fı́sicas, mas deve repousar em um conjunto de
convençõ es ou padrõ es projetados para atingir o que é
percebido como os objetivos desejados da
contabilidade e relató rios inanceiros. Entendemos que
o trabalho principal do [Comitê True-blood] é o
desenvolvimento de tais objetivos e algumas diretrizes
para sua realizaçã o.
O trabalho do ó rgã o normalizador em andamento deve
ser o de desenvolver padrõ es para a preparaçã o de
informaçõ es contá beis inanceiras que sejam consistentes
com esses objetivos.
e

Nã o acreditamos que se deva esperar que a equipe


[do FASB] conduza um programa de pesquisa amplo e
fundamental lidando com conceitos bá sicos de forma
contı́nua, pois acreditamos que esse tipo de pesquisa é
melhor deixar para aqueles no campo acadê mico.

Publicado por eGrove, 1999 13


Zeff: Evolução da estrutura conceitual para empresas nos Estados Unidos

Zeff: Estrutura conceitual para empreendimentos 15


comerciais
No entanto, em novembro de 1973, cinco meses depois de seu
primeiro ano de operaçã o como sucessor do APB, o FASB
["Board Meets with Trueblood Study Group", 1973] informou
que abordaria "toda a hierarquia da teoria da contabilidade
inanceira", começando com o relató rio Trueblood:
Uma vez acordados os objetivos, o Conselho pretende
abordar toda a hierarquia da teoria da contabilidade
inanceira, incluindo as caracterı́sticas qualitativas, os
tipos de informaçã o necessá rios aos usuá rios das
demonstraçõ es inanceiras e os conceitos bá sicos de
contabilidade.
Um mê s depois, em dezembro de 1973, o conselho
anunciou que seu projeto sobre “Padrõ es qualitativos amplos
para relató rios inanceiros”, de inido em abril anterior, estava
sendo ampliado sob um tı́tulo novo e mais impressionante,
“Estrutura conceitual para contabilidade e relató rios : Objetivos,
Caracterı́sticas Qualitativas e Informaçõ es” [“Força-Tarefa
Nomeada,” 1973, p. 1]. Portanto, nã o havia dú vida de que o
conselho pretendia desenvolver uma estrutura conceitual
completa, e o termo do conselho, “estrutura conceitual”, passou
a ser amplamente utilizado para tal empreendimento.9

9
Gore [1992] forneceu uma aná lise crı́tica do desenvolvimento do projeto
de estrutura conceitual do conselho. Ver Agrawal [1987] para uma aná lise da
estrutura ló gica da estrutura conceitual. Para obter informaçõ es sobre a
dinâ mica dentro do conselho e a polı́tica que afeta suas decisõ es sobre a
estrutura conceitual, consulte Miller et al. [1998, cap. 4].

Robert T. Sprouse, um membro original do conselho que


atuou como vice-presidente de 1975 a 1985, disse que dois
fatores levaram o conselho a embarcar em uma estrutura
conceitual. Primeiro, o conselho se sentiu obrigado a continuar
o trabalho do Trueblood Committee [Sprouse, 1988, p. 124]. Em
segundo lugar, o conselho exigia uma estrutura de conceitos
para ajudá -lo a abordar os seis projetos té cnicos de sua agenda
inicial: pesquisa e desenvolvimento, contingê ncias,
arrendamentos, conversã o de moeda estrangeira, segmentos de
negó cios e materialidade. Sprouse [1984/85, p. 25]10 escreveu:
Quase imediatamente, o conselho reconheceu a
necessidade de desenvolver certos conceitos
fundamentais que poderiam servir de orientaçã o
racional e consistente na aná lise e resoluçã o de
problemas. A ausê ncia de um conceito estabelecido de
algo tã o bá sico quanto um ativo foi uma desvantagem
na abordagem da contabilizaçã o dos custos de pesquisa

Publicado por eGrove, 1999 15


Jornal dos Historiadores da Contabilidade, vol. 26 [1999],
ss. 2, art. 6
16 Revista dos Historiadores da
e desenvolvimento; Contabilidade,dezembro
a ausê ncia de deum1999 conceito
estabelecido de algo tã o bá sico quanto um passivo
tornava mais difı́cil a resoluçã o dos problemas na
contabilizaçã o de contingê ncias. Essas primeiras
experiê ncias fortaleceram o reconhecimento da nova
diretoria sobre a importâ ncia de estabelecer uma
estrutura conceitual para analisar questõ es e
relacionar suas decisõ es a essa estrutura.
No ano seguinte, em junho de 1974, o conselho emitiu seu
primeiro memorando de discussã o no projeto “Conceptual
Framework for Accounting and Reporting”, tratando dos
objetivos e caracterı́sticas qualitativas recomendados pelo
Trueblood Committee [FASB, 1974]. Os memorandos de
discussã o sã o aná lises objetivas de questõ es enfrentadas pelo
conselho, sem qualquer indicaçã o das opiniõ es ou preferê ncias
do conselho. O conselho realizou uma audiê ncia pú blica sobre o
memorando de discussã o em setembro de 1974.
Em dezembro de 1976, o conselho emitiu dois documentos
importantes relacionados ao projeto da estrutura conceitual.
Um deles foi Conclusõ es Provisó rias sobre os Objetivos das
Demonstraçõ es Financeiras de Empresas [FASB, 1976], com
base em uma aná lise dos comentá rios escritos recebidos e
depoimentos orais na audiê ncia pú blica realizada no
memorando de discussã o de junho de 1974. O outro documento
era um memorando de discussã o de 360 pá ginas sub-intitulado
Elementos das Demonstraçõ es Financeiras e Sua Mensuraçã o. O
memorando de discussã o sobre elementos també m incluiu um
tratamento extensivo tanto das caracterı́sticas qualitativas de

10
Ver també m Kirk [1989, pp. 89-90].

https://egrove.olemiss.edu/aah_journal/vol26/iss2/6 16
Zeff: Evolução da estrutura conceitual para empresas nos Estados Unidos

Zeff: Estrutura conceitual para empreendimentos 17


comerciais
informaçõ es inanceiras e a mensuraçã o dos elementos. Tanto
as conclusõ es provisó rias do conselho sobre os objetivos
quanto o conteú do de seu longo memorando de discussã o sobre
o restante da estrutura conceitual foram objeto de uma
audiê ncia pú blica marcada para junho de 1977.
As conclusõ es preliminares do conselho sobre os objetivos
foram dignas de nota pela inclusã o de um apê ndice sobre a teoria
moderna do mercado de capitais, que representou o primeiro
reconhecimento por um
De inidor de padrõ es dos EUA desse importante luxo de
pesquisa na literatura inanceira. O memorando de discussã o de
dezembro de 1976 dedicou uma seçã o importante à escolha a
ser feita entre a “visã o de ativos e passivos” e a mais tradicional
“visã o de receitas e despesas” (associada à monogra ia de Paton
e Littleton) para de inir ganhos [pars. 32-70 e cap. 5]. Sob a
“visã o de ativos e passivos”, que o conselho acabou por
favorecer, a de iniçã o de lucros depende das de iniçõ es de
ativos e passivos, de modo que um teste de balanço deve ser
invocado para validar a existê ncia de lucros, receitas, e
despesas.11 O memorando de discussã o també m continha um
capı́tulo sobre a importante distinçã o entre “manutençã o do
capital inanceiro” e “manutençã o do capital fı́sico” [cap. 6],
literatura contá bil norte-americana. També m apresentou uma
extensa discussã o sobre os “atributos dos ativos”: custo
histó rico, custo atual, valor de saı́da e valor presente [cap. 8].
Entre 1974 e 1985, o FASB emitiu 30 publicaçõ es (oito
memorandos de discussã o, sete relató rios de pesquisa, oito
rascunhos de exposiçã o, um convite para comentá rios e seis
declaraçõ es de conceitos) em seu enorme projeto de estrutura
conceitual, totalizando mais de 3.000 pá ginas.12 Alé m disso, a
diretoria recebeu mais

11
Storey e Storey [1998] escreveram que a adoçã o pelo conselho da primazia da
visã o de ativos e passivos “ainda é , sem dú vida, o conceito mais controverso, e o
mais incompreendido e deturpado em toda a estrutura conceitual” [p. 76],
principalmente porque a visã o de ativos e passivos foi vista por muitos como um
dispositivo para “impor algum tipo de contabilidade de valor atual em um mundo
relutante” [p. 83]. Eles discutiram a contrové rsia por algum tempo [pp. 47-66, 76-
85].
Robert T. Sprouse acreditava que a visã o de ativos e passivos livraria os
balanços de “o que você pode chamar”, que eram os resı́duos ininteligı́veis
produzidos pela convençã o de correspondê ncia [Sprouse, 1966]. Ver també m
Sprouse [1977, pp. 12-13; 1988, pp. 126-127].
12
Para obter uma lista completa das publicaçõ es, consulte Gore [1992,
Apê ndice 2]. Um memorando de discussã o, dois relató rios de pesquisa, duas
minutas de exposiçã o e duas declaraçõ es de conceitos (4 e 6) constituı́ram a
adaptaçã o da estrutura conceitual para entidades nã o comerciais, que nã o é
discutida neste artigo. Dois
Publicado por eGrove, 1999 17
Jornal dos Historiadores da Contabilidade, vol. 26 [1999],
ss. 2, art. 6
18 Revista dos Historiadores da
Contabilidade,dezembro de 1999
mais de 1.000 cartas de comentá rios em resposta aos seus
memorandos de discussã o e rascunhos de exposiçã o, e realizou
oito audiê ncias pú blicas abrangendo 20 dias de depoimentos orais,
que foram transcritos e colocados em registro pú blico. O registro
escrito e a quantidade de tempo dos conselheiros e funcioná rios
dedicados ao projeto foram imensos. Estima-se que, no inı́cio da
dé cada de 1980, o projeto da estrutura conceitual representava até
40% do tempo da equipe té cnica do conselho [Van Riper, 1994, p.
81].

ERA DO FASB: AS DECLARAÇOES DOS CONCEITOS 13


O FASB emitiu seis Demonstraçõ es de Conceitos de
Contabilidade Financeira, conhecidas como declaraçõ es de
conceitos, das quais duas (Nos. 4 e 6) representaram
adaptaçõ es para entidades nã o comerciais. O FASB [Declaraçã o
de Conceitos 2, pp. i-ii] declarou o propó sito das declaraçõ es de
conceitos da seguinte forma:
As declaraçõ es da sé rie destinam-se a estabelecer
objetivos e fundamentos que serã o a base para o
desenvolvimento de padrõ es de contabilidade e
relató rios inanceiros. . . .
A estrutura conceitual é um sistema coerente de
objetivos e fundamentos inter-relacionados do qual se
espera que leve a padrõ es consistentes e que prescreva
a natureza, funçã o e limites da contabilidade e
relató rios inanceiros. Espera-se que atenda ao
interesse pú blico, fornecendo estrutura e direçã o à
contabilidade e relató rios inanceiros para facilitar o
fornecimento de informaçõ es inanceiras e
relacionadas que sejam ú teis para ajudar o capital e
outros mercados a funcionar com e iciê ncia na alocaçã o
de recursos escassos na economia. . . .

memorandos de discussã o e convite para comentá rios, que tratavam de


questõ es de exibiçã o de informaçõ es contá beis, tratavam de assuntos que foram
incluı́dos na minuta de exposiçã o intitulada Reporting Income, Cash Flows, and
Financial Position of Business Enterprises [FASB, 1981], mas que acabou nã o
amadurecendo em uma declaraçã o de conceito. Incluı́do na enumeraçã o acima
de documentos do FASB está o memorando de discussã o sobre Crité rios para
Determinar Materialidade, emitido em 21 de março de 1975, que nã o fazia parte
formalmente do projeto de estrutura conceitual. No entanto, os aspectos
conceituais do projeto de materialidade foram incorporados ao projeto de
caracterı́sticas qualitativas em 1978.
13
Para uma discussã o mais extensa das declaraçõ es conceituais do conselho,
consulte
Davies et ai. [1997, pp. 46-63], Pacter [1983], Solomons [1986], Wolk et al.

https://egrove.olemiss.edu/aah_journal/vol26/iss2/6 18
Zeff: Evolução da estrutura conceitual para empresas nos Estados Unidos

Zeff: Estrutura conceitual para empreendimentos 19


[1992, cap. 6], e Miller et al. [1998, pp. 105-115].
comerciais

As Declaraçõ es de Conceitos de Contabilidade


Financeira nã o estabelecem normas que prescrevem
procedimentos contá beis ou prá ticas de divulgaçã o
para itens ou eventos especı́ icos, que sã o emitidas pelo
Conselho como Declaraçõ es de Normas de
Contabilidade Financeira. Em vez disso, as
Demonstraçõ es desta sé rie descrevem conceitos e
relaçõ es que fundamentarã o futuras normas e prá ticas
de contabilidade inanceira e, no devido tempo,
servirã o como base para avaliar as normas e prá ticas
existentes.

Objetivos.Os comentá rios recebidos sobre o memorando de


discussã o dos objetivos serviram de aprendizado para os
conselheiros. Em 1975, o conselho realizou uma pesquisa de
opiniã o sobre as recomendaçõ es Trueblood. Marshall S. Armstrong
[1977, p. 77], o presidente do conselho, relatou uma descoberta
que o perturbou:
Em nosso primeiro memorando de discussã o sobre a
estrutura conceitual da contabilidade, o projeto mais
importante em nossa agenda, buscamos a opiniã o dos
respondentes sobre o seguinte como objetivo bá sico
das demonstraçõ es inanceiras; é retirado diretamente
do relató rio Trueblood:
'O objetivo bá sico das demonstraçõ es inanceiras é
fornecer informaçõ es ú teis para a tomada de decisõ es
econô micas.'
Poderia haver desacordo com uma declaraçã o como
esta? Tenho certeza de que você icará surpreso ao
saber que apenas 37% dos entrevistados foram
capazes de recomendar a adoçã o desse objetivo. Vinte e
dois por cento recomendaram que fosse rejeitado
imediatamente; e 10 por cento insistiram que precisava
de um estudo mais aprofundado. E difı́cil acreditar que
apenas 37% concordam que o objetivo bá sico das
demonstraçõ es inanceiras é fornecer informaçõ es
ú teis para a tomada de decisõ es econô micas. Acho que
isso sugere o problema com bastante clareza.
Aqueles que discordaram assumiram a posiçã o de
que a funçã o bá sica das demonstraçõ es inanceiras era
relatar a administraçã o dos ativos corporativos pela
administraçã o e que as necessidades informacionais
dos leitores eram de importâ ncia secundá ria. Segue-se
dessa linha de pensamento que a administraçã o pode
determinar melhor os princı́pios a serem empregados
Publicado por eGrove, 1999 19
Jornal dos Historiadores da Contabilidade, vol. 26 [1999],
ss. 2, art. 6
20 Revista dos Historiadores da
na elaboraçã o de relató rios sobre suas empresas,
Contabilidade,dezembro de 1999 e que
os padrõ es – quase todos os tipos – podem apenas
impedir a administraçã o em seu esforço para cumprir
essa responsabilidade. .

Dois acadê micos de contabilidade observaram que os


respondentes da pesquisa do FASB provavelmente pensaram em
promover seus pró prios interesses pessoais em vez de promover
os interesses dos leitores em geral. Re letindo sobre a expressã o de
preocupaçã o de Armstrong, Dopuch e Sunder [1980, p. 13]14
escreveu:
Por que deverı́amos acreditar que todos os grupos de
partes interessadas adotariam o fornecimento de
informaçõ es ú teis para a tomada de decisõ es
econô micas como motivaçã o para se envolver no
processo de relató rios inanceiros? Por exemplo, nã o
devemos nos surpreender se os auditores, como todo
mundo, procuram maximizar sua pró pria riqueza por
meio da participaçã o no processo contá bil. Se o
fornecimento de informaçõ es economicamente ú teis
implicar em maior exposiçã o ao risco de processos
judiciais sem os correspondentes benefı́cios de maior
remuneraçã o, eles nã o verã o o fornecimento de
informaçõ es economicamente ú teis (qualquer que seja
sua de iniçã o) como objetivo da contabilidade
inanceira. processo.
Pode-se acrescentar que a maioria dos auditores provavelmente
foi educada para acreditar que a contabilidade serve
principalmente como uma funçã o administrativa, e que eles
achariam um tanto ameaçador contemplar que a contabilidade
deveria ter uma funçã o mais ativista na sociedade econô mica.
Tais preconceitos e predisposiçõ es tornaram difı́cil para o
conselho impor um objetivo de utilidade de decisã o a uma
pro issã o que estava acostumada a ver a contabilidade
basicamente como uma atividade passiva de manutençã o de
registros.
A Declaraçã o de Conceitos 1, Objetivos de Relató rios
Financeiros por Empresas Comerciais, emitida em novembro de
1978, seguiu de perto a ê nfase de Trueblood no futuro, conforme
indicado pela seguinte passagem chave [para. 37]:
Os relató rios inanceiros devem fornecer informaçõ es
para ajudar os investidores e credores atuais e
potenciais e outros usuá rios a avaliar os valores, o
momento e a incerteza dos recebimentos de caixa
futuros de dividendos ou juros e os resultados da
venda, resgate ou vencimento de tı́tulos ou
https://egrove.olemiss.edu/aah_journal/vol26/iss2/6 20
Zeff: Evolução da estrutura conceitual para empresas nos Estados Unidos

Zeff: Estrutura conceitual para empreendimentos 21


empré stimos. .
comerciais

Na Declaraçã o 1, o conselho preferiu o termo mais amplo,


relató rios inanceiros, em vez do termo mais restrito,
demonstraçõ es inanceiras,

Para uma discussã o mais aprofundada sobre a “polı́tica” do


14

desenvolvimento de uma estrutura conceitual, consulte Rappaport [1977],


Horngren [1981], Miller [1990] e Van Riper [1994, pp. 20-22, 75-82].

usado no relató rio Trueblood. Donald J. Kirk [1988, pá g. 13], o


presidente do FASB quando todas as declaraçõ es de conceitos
foram aprovadas, explicou mais tarde como essa decisã o
“embotou” parte da oposiçã o à estrutura conceitual em
evoluçã o, que parecia para muitos levantar o espectro da
contabilidade de valor atual:
Pensou-se com essa ampliaçã o que, assim como nas leis
de valores mobiliá rios, as necessidades dos usuá rios
poderiam ser satisfeitas por meio de divulgaçõ es,
possivelmente até separadas das demonstraçõ es
inanceiras, e, portanto, nã o exigir o tipo de mudança
de mensuraçã o de receita que os oponentes temiam [ou
seja , contabilidade de valor atual].
David Solomons, professor de contabilidade da Universidade
da Pensilvâ nia e principal redator do relató rio Wheat, escreveu
uma crı́tica das Declaraçõ es de Conceitos 1-4 do conselho, na qual
atribuiu à declaraçã o de objetivos uma nota C, porque, ele disse,
“os propó sitos que o conselho de iniu para relató rios inanceiros
sã o excessivamente limitados” [Solomons, 1986, p. 118]. Ele
escreveu [pá g. 118]:
. . . Embora o relató rio Trueblood reconheça, ainda que
brevemente, que as empresas tê m uma responsabilidade
para com a sociedade e nã o apenas para com seus
acionistas, a declaraçã o de objetivos do conselho limita
substancialmente sua atençã o à s necessidades de
investidores e credores, mal reconhecendo as
necessidades de gestores, e ignora completamente os
interesses de outros grupos interessados na
produtividade empresarial, como os trabalhadores e as
autoridades iscais.
Para este escritor, a avaliaçã o geral de Solomons da declaraçã o
parece ser mais crı́tica do que o necessá rio.

Características qualitativas:A Declaraçã o de Conceitos 2,


Caracterı́sticas Qualitativas da Informaçã o Contá bil, foi emitida em
Publicado por eGrove, 1999 21
Jornal dos Historiadores da Contabilidade, vol. 26 [1999],
ss. 2, art. 6
22 Revista dos Historiadores da
maio de 1980.15Donald KirkContabilidade,dezembro
[1988, p.13] escreveu que “de inir as
de 1999
caracterı́sticas da informaçã o inanceira ú til foi o menos
controverso dos projetos de estrutura conceitual, em parte porque
os leitores nã o viram as implicaçõ es que pressagiavam a
contabilidade de valor atual”.
A declaraçã o 2 seguiu a tradiçã o do ASOBAT e do relató rio
Trueblood e, no modo de utilidade da decisã o,

Para uma aná lise da Declaraçã o 2, consulte Storey e Storey [1998, pp. 98-
15

119].

enumerou e explicou uma hierarquia de qualidades da


informaçã o contá bil. David Solomons, que redigiu a declaraçã o a
convite do conselho, corrigiu a ê nfase exagerada nos
investidores e credores na Declaraçã o 1 [ver pará grafo. 26 da
Declaraçã o 2], que ele mais tarde criticaria. “Relevâ ncia” e
“con iabilidade” eram os dois pilares, e em vá rios lugares foram
discutidas as inevitá veis compensaçõ es entre os dois. A
“con iabilidade” foi apoiada pela “ idelidade representacional”
(um termo cunhado por Solomons) e pela “veri icabilidade”.
Fidelidade representacional, que foi de inida como
“correspondê ncia ou concordâ ncia entre uma medida ou
descriçã o e o fenô meno que ela pretende representar” [par. 63],
era um conceito mais elegante e abrangente do que “liberdade
de vié s” no ASOBAT e no relató rio Trueblood. Na discussã o da
veri icabilidade, o termo “objetividade” nã o foi encontrado em
nenhum lugar, provavelmente para permitir a admissibilidade
de desvios da contabilidade de custos histó ricos. A
“objetividade” també m estava ausente no ASOBAT e no
relató rio Trueblood. “Veri icabilidade”, a irmava-se, “implica
consenso. A veri icabilidade pode ser medida observando a
dispersã o de um nú mero de mediçõ es independentes de algum
fenô meno particular” [para. 84].
Em contraste com a ASOBAT e o relató rio Trueblood, o
conselho imaginou um papel para o “conservadorismo”, embora
restrito: “Há um lugar para uma convençã o como o
conservadorismo – signi icando prudê ncia – na contabilidade e
relató rios inanceiros, porque os negó cios e as atividades
econô micas estã o pela incerteza, mas precisa ser aplicado com
cuidado” [para. 92]. Mas o conselho deixou claro que “o
conservadorismo nos relató rios inanceiros nã o deve mais
conotar uma subavaliaçã o deliberada e consistente de ativos
lı́quidos e lucros” [pará grafo. 93].16 O conselho limitou
cuidadosamente o uso do conservadorismo como segue [para.

https://egrove.olemiss.edu/aah_journal/vol26/iss2/6 22
Zeff: Evolução da estrutura conceitual para empresas nos Estados Unidos

Zeff: Estrutura conceitual para empreendimentos 23


95]:
comerciais

O conservadorismo é uma reaçã o prudente à incerteza


para tentar garantir que as incertezas e os riscos
inerentes à s situaçõ es de negó cios sejam considerados
adequadamente. Assim, se duas estimativas de valores a
serem recebidos ou pagos no futuro forem igualmente
prová veis, o conservadorismo dita usar a estimativa
menos otimista; no entanto, se duas quantias nã o forem
igualmente prová veis, o conservadorismo nã o dita
necessariamente o uso da quantia mais pessimista em vez
da mais prová vel.

16
Sterling [1967b] relatou encontrar apoio considerá vel para a hipó tese de que
o conservadorismo é o princı́pio fundamental da avaliaçã o na contabilidade
tradicional.

A discussã o do conselho sobre “neutralidade” seguiu muito


de Solomons [1978] e alertou os leitores sobre a postura
adequada do criador de padrõ es em um mundo politizado [ver
Kirk, 1988, pp. 13-14]. A posiçã o essencial estabelecida na
declaraçã o foi [para. 106]:
Embora rejeite a visã o de que os padrõ es de
contabilidade inanceira devam ser distorcidos por
motivos polı́ticos ou para favorecer um ou outro interesse
econô mico, o Conselho reconhece que uma autoridade
que estabelece padrõ es deve estar atenta ao impacto
econô mico dos padrõ es que promulga.
Finalmente, a “comparabilidade” foi introduzida como um
desiderato [pars. 111-122], e foi declarado que as decisõ es
contá beis devem satisfazer uma tela ou limite de materialidade
[pars. 123-132]. Invocando uma variante de uma passagem que
tem sido usada desde a dé cada de 1960 para caracterizar a
“comparabilidade”, o conselho a irmou que maior
comparabilidade “nã o deve ser alcançada fazendo coisas
diferentes parecerem iguais, nem fazendo coisas semelhantes
parecerem diferentes” [pará grafo. 119].
A declaraçã o 2 é talvez a mais admirada e mais imitada das
declaraçõ es conceituais do conselho. A aná lise é ló gica e
sensatamente ordenada, é bem explicada (re letindo a
tendê ncia de Solomons para metá foras) e os termos sã o
cuidadosamente de inidos. Miller e outros. [1998, p. 110]
escreveram que a Declaraçã o 2 “fornece um conjunto de
de iniçõ es que o Conselho e seus constituintes podem e usam
para se comunicar uns com os outros. As de iniçõ es trazem mais
rigor ao devido processo e, possivelmente, aos processos de

Publicado por eGrove, 1999 23


Jornal dos Historiadores da Contabilidade, vol. 26 [1999],
ss. 2, art. 6
24 Revista dos Historiadores da
pensamento dos participantes.” O ex-presidente
Contabilidade,dezembro Kirk [1988, p.
de 1999
13] escreveu que a Declaraçã o 2 “contribuiu muito para a
compreensã o da necessidade e propó sito dos padrõ es”. Davies
et ai. [1997, p. 63], trê s só cios da empresa britâ nica Ernst &
Young que estudaram a fundo a estrutura conceitual do FASB,
Um estudo empı́rico das opiniõ es de 26 ex-membros da
APB e do FASB, no entanto, produziu uma conclusã o oposta. Os
sujeitos foram testados quanto à s suas opiniõ es sobre se as 11
caracterı́sticas qualitativas eram operacionais, abrangentes e
parcimoniosas (ou seja, livres de redundâ ncias signi icativas de
signi icado). Os pesquisadores [Joyce et al., 1982, p. 670]
concluiu o seguinte:
Muitos dos resultados relatados aqui nã o sã o favorá veis
à Declaraçã o. Nove das 11 caracterı́sticas qualitativas

tiques falham claramente nos testes de


operacionalidade. Nã o só existe um desacordo
considerá vel entre formuladores de polı́ticas
experientes sobre o que signi icam as caracterı́sticas
qualitativas no contexto de questõ es especı́ icas de
polı́tica contá bil, como també m existe um desacordo
considerá vel sobre sua importâ ncia relativa. Embora as
caracterı́sticas qualitativas pareçam compreender um
conjunto abrangente para escolher entre alternativas
contá beis, o conjunto nã o é parcimonioso. Assim, a
Declaraçã o nã o atende a dois dos trê s crité rios
desejados.
Isso lança dú vidas sobre a capacidade das
caracterı́sticas qualitativas de inidas na Declaraçã o
para facilitar a formulaçã o de polı́ticas contá beis.

Elementos:A Declaraçã o de Conceitos 3, Elementos das


Demonstraçõ es Financeiras para Empreendimentos Comerciais, foi
emitida em dezembro de 1980, sete meses apó s a Declaraçã o 2. Ela
estabelece as de iniçõ es de ativos, passivos, patrimô nio lı́quido,
investimentos e distribuiçõ es aos proprietá rios, e receita
abrangente e seus componentes (receitas, despesas, ganhos e
perdas) que sã o coletivamente os “elementos” das demonstraçõ es
inanceiras. Como motivaçã o, o ex-presidente do conselho Kirk
[1988, p. 15] escreveu que a necessidade de de iniçõ es viá veis de
ativos e passivos em projetos como custos de pesquisa e
desenvolvimento e contabilizaçã o de contingê ncias, ambos os
quais estavam na agenda inicial do conselho, “serviram como um
catalisador” para o projeto de elementos.
Esta é a declaraçã o em que o conselho deu a conhecer a sua
preferê ncia pela “visã o de ativos e passivos” em detrimento da
https://egrove.olemiss.edu/aah_journal/vol26/iss2/6 24
Zeff: Evolução da estrutura conceitual para empresas nos Estados Unidos

Zeff: Estrutura conceitual para empreendimentos 25


“visã o de receitas e despesas” para a de iniçã o de ganhos.
comerciais
Embora o conselho nã o tenha discutido de fato as duas visõ es
na declaraçã o, nota-se que receitas, despesas e ganhos e perdas
foram de inidos em termos de ativos e passivos. Assim, as
receitas foram de inidas como “entradas ou outras melhorias de
ativos de uma entidade ou liquidaçõ es de seus passivos (ou uma
combinaçã o de ambos) durante um perı́odo de entrega ou
produçã o de bens, prestaçã o de serviços ou outras atividades
que constituam o luxo contı́nuo da entidade. operaçõ es
principais ou centrais” [ê nfase fornecida, nota de rodapé
omitida; pá ra. 63]. Por outro lado, a de iniçã o de receita
proposta 25 anos antes no Boletim de Terminologia Contá bil do
Instituto No. 2 re letia a tradicional “visã o de receita e despesa”,
sem referê ncia a ativos ou passivos. Era: “A receita resulta da
venda de bens e da prestaçã o de serviços e é medida pela
cobrança feita a clientes, clientes ou locatá rios por bens e
serviços a eles fornecidos” [Proceeds,

Receita, Rendas, Lucros e Ganhos, 1955, p. 34].


Foi nessa declaraçã o (prevista na minuta de exposiçã o de 28
de dezembro de 1979) que o conselho revelou sua nova
terminologia, “resultado abrangente”, para descrever “a mudança
no patrimô nio lı́quido (ativos lı́quidos) de uma entidade durante
um perı́odo de transaçõ es e outros eventos e circunstâ ncias de
fontes nã o proprietá rias” [pará grafo 56]. No contexto da escolha
entre a manutençã o do capital inanceiro e a manutençã o do
capital fı́sico, sobre a qual o conselho adiou uma decisã o até uma
declaraçã o posterior, o resultado abrangente foi visto como “um
retorno sobre o capital inanceiro” [pará grafo. 58].17 O resultado
abrangente incluiria, portanto, ganhos e perdas de detençã o nã o
realizados, se fossem considerados provisõ es reconhecı́veis.
Duas facetas da Declaraçã o 3 causaram apreensã o,
especialmente entre pro issionais e executivos inanceiros - que a
adoçã o pelo conselho da "visã o de ativos e passivos", juntamente
com sua proposta de receita abrangente, levaria inevitavelmente a
alguma forma de contabilidade de valor atual [ver, por exemplo,
Way, 1977, pp. 40-41; Schuetze, 1983, pá g. 260; Beresford, 1983, p.
67; Pacter, 1983,
pá g. 84; Gore, 1992, pp. 94-95; Van Riper, 1994, pá g. 75].18
Expressõ es emanadas do conselho e de outros lugares de que
essa implicaçã o era infundada podem nã o ter dissipado muitos
temores. E uma declaraçã o direta de Reed K. Storey [1981, pp.
94-96], um membro sê nior da equipe de pesquisa do FASB,
pode ter aumentado a ansiedade:
Eu acho que a caligra ia já está na parede para o
modelo atual (que muitas vezes é erroneamente
Publicado por eGrove, 1999 25
Jornal dos Historiadores da Contabilidade, vol. 26 [1999],
ss. 2, art. 6
26 Revista dos Historiadores da
rotulado como 'contabilidade de custo
Contabilidade,dezembro histó rico')
de 1999
porque, entre outras coisas, ele nã o pode lidar com as
complicaçõ es cotidianas, como mudanças de preços e
lutuaçõ es nas taxas de câ mbio. . . .
Aqueles que se sentem ameaçados pela estrutura
conceitual ou esperam que ela mantenha o status quo
icarã o desapontados. A mudança está chegando,
mesmo que o conceito

17
Para um tratamento extensivo da manutençã o do capital inanceiro
versus fı́sico, consulte Sterling e Lemke [1982].
18
Na verdade, já em 1977, uma das Oito Grandes irmas de contabilidade, a
Ernst & Ernst, estava alarmada com o fato de que a “visã o de ativos e passivos”
levaria inevitavelmente à contabilidade de valor corrente, à qual ela se opunha.
Sua preocupaçã o de que o conselho nã o havia explicado claramente as
implicaçõ es de seu pensamento levou a empresa “a montar uma campanha para
educar os executivos inanceiros sobre a estrutura conceitual e os perigos
potenciais que ela apresentava” [Beresford, 1983, p. 66]. Em julho daquele ano,
a empresa apresentou mais de 50 seminá rios de estrutura conceitual em todo o
paı́s para mais de 5.000 pessoas [Ernst & Ernst, 1977, p. 1].

A estrutura contá bil nunca é adotada devido a


de iciê ncias no modelo contá bil existente.
Solomons, em sua crı́tica das declaraçõ es conceituais, deu
à Declaraçã o 3 um B-. Embora ele considerasse as de iniçõ es do
conselho como “uma melhoria distinta nas de iniçõ es anteriores da
Declaraçã o APB no. 4” [1986, p. 120], ele, no entanto, acreditava
que as de iniçõ es nã o eram su icientemente robustas para lidar
com os problemas contá beis mais difı́ceis. Ele ilustrou esse ponto
tentando aplicar a de iniçã o de responsabilidades à s pensõ es, e
achou isso insatisfató rio. No entanto, Solomons, que era um
defensor da “visã o de ativos e passivos”, observou com satisfaçã o
que “as de iniçõ es foram formuladas de forma a nã o deixar espaço
para dú vidas razoá veis sobre a primazia de ativos e passivos e a
dependê ncia dos outros elementos nesses dois” [pp. 120-121].
E interessante que Dennis R. Beresford, que se tornaria
presidente do FASB em 1987, escreveu em 1981, quando ainda
era só cio da Ernst & Whinney (e presidente do Comitê
Executivo de Normas Contá beis do Instituto), que encontrou
Declaraçõ es 1, 2 e 3 (e 4) como “declaraçõ es ou propostas
amplas e abstratas que, em minha opiniã o, forneceram pouca ou
nenhuma ajuda na decisã o das questõ es contá beis do dia”
[Beresford, 1981, p. 66]. Descreveu-se como um pragmatista e,
desde o inı́cio, foi cé tico em relaçã o ao projeto da estrutura
conceitual [ver Beresford, 1983].

https://egrove.olemiss.edu/aah_journal/vol26/iss2/6 26
Zeff: Evolução da estrutura conceitual para empresas nos Estados Unidos

Zeff: Estrutura conceitual para empreendimentos 27


comerciais
Reconhecimento e Medição:Em dezembro de 1984, quatro anos
completos apó s a emissã o da declaraçã o sobre elementos,19 o
conselho emitiu a Declaraçã o de Conceitos 5 sobre
Reconhecimento e Mensuraçã o em Demonstraçõ es Financeiras de
Empresas.20 Essa era a declaraçã o há muito esperada que
anunciaria a decisã o do conselho posiçã o sobre as questõ es mais
controversas no projeto da estrutura conceitual, incluindo sua
visã o sobre qual(is) atributo(s) de mediçã o seriam centrais para a
estrutura. Nesta declaraçã o, o conselho se equivocou, o que levou
Solomons [1986, p. 124] para dar-lhe uma nota F e “exigir que o
conselho repita o curso – isto é , para descartar a declaraçã o e
começar de novo”. Foi també m a primeira declaraçã o de conceito
em que um membro do conselho discordou.
19
Miller [1990] e Gore [1992, pp. 105-109] explicaram o atraso: o conselho
estava dividido tanto sobre como proceder quanto sobre o que concluir.
20
Para uma aná lise da Declaraçã o 5, ver Storey e Storey [1988, pp. 145-160].

No inı́cio da declaraçã o, o conselho noti icou que nã o estaria


avançando na literatura de forma a alterar a prá tica [para. 2]:
Os crité rios de reconhecimento e orientaçõ es nesta
Declaraçã o sã o geralmente consistentes com a prá tica
atual e nã o implicam em mudanças radicais. També m
nã o excluem a possibilidade de mudanças futuras na
prá tica. O Conselho pretende que as mudanças futuras
ocorram da maneira gradual e evolutiva que
caracterizou as mudanças passadas.
A maior decepçã o para muitos leitores foi a falta de
inclinaçã o do conselho na Declaraçã o 5 para tomar uma decisã o
sobre o atributo de mediçã o preferido. O conselho enumerou os
atributos que sã o “usados na prá tica atual”: custo histó rico,
custo atual, valor atual de mercado, valor realizá vel lı́quido e
valor presente de luxos de caixa futuros [pará grafo. 67], mas só
pô de concluir o seguinte [pará grafo 70]:
Em vez de tentar selecionar um ú nico atributo e forçar
mudanças na prá tica para que todas as classes de ativos
e passivos usem esse atributo, esta Declaraçã o de
conceitos sugere que o uso de diferentes atributos
continuará e discute como o Conselho pode selecionar
o ap - atributo apropriado em casos particulares [nota
de rodapé omitida].
O relató rio Trueblood pelo menos se comprometeu a sugerir como
diferentes atributos de mediçã o podem ser mais ou menos ú teis no
cumprimento de certos requisitos de informaçã o [Objectives of
Financial Statements, 1973, cap. 6]. Mas o conselho, depois de dez
anos de trabalho incansá vel no projeto de estrutura conceitual, nã o

Publicado por eGrove, 1999 27


Jornal dos Historiadores da Contabilidade, vol. 26 [1999],
ss. 2, art. 6
28 Revista dos Historiadores da
conseguiu tanto em atributos de mediçã o dequanto
Contabilidade,dezembro 1999 o Comitê
Trueblood de meio perı́odo havia feito em 30 meses.
No reconhecimento, o conselho estava claramente relutante
em inovar. Nã o se comprometeu, por exemplo, a discutir o
reconhecimento dos compromissos “ irmes” decorrentes de
contratos totalmente executó rios, ou seja, aqueles em que
nenhuma das partes ainda cumpriu qualquer de suas promessas
[par. 107]. Yuji Ijiri [1980] argumentou o caso eloquentemente
em um relató rio de pesquisa escrito a convite do conselho, e o
assunto foi novamente tratado em outro relató rio de pesquisa
por L. Todd Johnson e Reed K. Storey [1982, cap. 11].
Na seçã o sobre reconhecimento, a Declaraçã o 5 continha
uma proposiçã o cuidadosamente redigida de que “informaçõ es
baseadas em preços atuais devem ser reconhecidas se forem
su icientemente relevantes e con iá veis para justi icar os custos
envolvidos e mais relevantes do que informaçõ es alternativas”
[pará grafo. 90], que Storey e Storey

[1998, p. 159] criticado como “orientaçã o extremamente fraca”.


Miller e outros. [1998, p. 115] reclamou que os crité rios de
“relevante” e “con iá vel” nesta proposiçã o “sã o muito amplos para
fornecer orientaçã o ú til tanto para os normatizadores quanto para
os contadores individuais que estã o tentando resolver um novo
problema”. David Mosso [1998, p. 7], um membro do conselho de
1978 a 1987 que continuou como membro da equipe sê nior do
conselho até 1996, disse que essa proposiçã o “pode soar como um
endosso fraco, mas na é poca era extremamente controversa e um
grande concessã o aos membros do Conselho que favoreceram uma
contabilidade de valor de mercado.” Acrescentou que “é o conceito
que está na base do progresso que se tem feito na marcaçã o de
instrumentos inanceiros ao mercado”. Como Kirk apontou, o
consentimento do conselho até mesmo a essa proposiçã o,
protegido como era, dependia de como os ganhos e perdas de
detençã o nã o realizados deveriam ser relatados. Os preparadores
sentiram fortemente que quaisquer ganhos e perdas de
participaçã o nã o realizados nã o deveriam afetar os ganhos. No
inal, o conselho chegou a uma apresentaçã o de compromisso pela
qual tanto o lucro lı́quido convencional (renomeado como “lucro”
na Demonstraçã o 5) quanto o resultado abrangente, que
consistiria essencialmente em ganhos mais ou menos ganhos e
perdas de participaçã o nã o realizados, deveriam ser relatados .
Como a escolha do atributo de mediçã o nã o pode ser desvinculada
das implicaçõ es de relató rios de renda de ganhos e perdas nã o
realizados, esse compromisso foi necessá rio para a Declaraçã o 5
sobreviver [Kirk, 1989, pp. 100-103]. Os preparadores sentiram

https://egrove.olemiss.edu/aah_journal/vol26/iss2/6 28
Zeff: Evolução da estrutura conceitual para empresas nos Estados Unidos

Zeff: Estrutura conceitual para empreendimentos 29


fortemente
comerciais que quaisquer ganhos e perdas de participaçã o nã o
realizados nã o deveriam afetar os ganhos. No inal, o conselho
chegou a uma apresentaçã o de compromisso pela qual tanto o
lucro lı́quido convencional (renomeado como “lucro” na
Demonstraçã o 5) quanto o resultado abrangente, que consistiria
essencialmente em ganhos mais ou menos ganhos e perdas de
participaçã o nã o realizados, deveriam ser relatados . Como a
escolha do atributo de mediçã o nã o pode ser desvinculada das
implicaçõ es de relató rios de renda de ganhos e perdas nã o
realizados, esse compromisso foi necessá rio para a Declaraçã o 5
sobreviver [Kirk, 1989, pp. 100-103]. Os preparadores sentiram
fortemente que quaisquer ganhos e perdas de participaçã o nã o
realizados nã o deveriam afetar os ganhos. No inal, o conselho
chegou a uma apresentaçã o de compromisso pela qual tanto o
lucro lı́quido convencional (renomeado como “lucro” na
Demonstraçã o 5) quanto o resultado abrangente, que consistiria
essencialmente em ganhos mais ou menos ganhos e perdas de
participaçã o nã o realizados, deveriam ser relatados . Como a
escolha do atributo de mediçã o nã o pode ser desvinculada das
implicaçõ es de relató rios de renda de ganhos e perdas nã o
realizados, esse compromisso foi necessá rio para a Declaraçã o 5
sobreviver [Kirk, 1989, pp. 100-103]. que consistiria
essencialmente em ganhos mais ou menos ganhos e perdas de
detençã o nã o realizados, devem ser relatados. Como a escolha do
atributo de mediçã o nã o pode ser desvinculada das implicaçõ es de
relató rios de renda de ganhos e perdas nã o realizados, esse
compromisso foi necessá rio para a Declaraçã o 5 sobreviver [Kirk,
1989, pp. 100-103]. que consistiria essencialmente em ganhos
mais ou menos ganhos e perdas de detençã o nã o realizados, devem
ser relatados. Como a escolha do atributo de mediçã o nã o pode ser
desvinculada das implicaçõ es de relató rios de renda de ganhos e
perdas nã o realizados, esse compromisso foi necessá rio para a
Declaraçã o 5 sobreviver [Kirk, 1989, pp. 100-103].
Como veremos, um avanço que teve rami icaçõ es futuras foi o
foco do conselho no resultado abrangente. Na Declaraçã o 5, o
conselho propô s a preparaçã o tanto de uma demonstraçã o de
resultados quanto de uma demonstraçã o de resultado abrangente,
e disse que “o conjunto completo de demonstraçõ es inanceiras
articuladas discutidas nesta Declaraçã o é baseado no conceito de
capital inanceiro manutençã o” [par. 45]. Desta forma um tanto
indireta, signi icava que a manutençã o do capital inanceiro havia
conquistado seu favor.21 O dissidente da Declaraçã o 5, John W.
March, que foi um ex-só cio da Arthur Andersen, opô s-se à renda
abrangente “como um conceito de renda porque inclui todas as
mudanças reconhecidas (incluindo mudanças de preço) em ativos
e passivos. . . ” [pá g. 32]. March era partidá rio do conceito de
manutençã o do capital fı́sico [pp. 32-33].
Publicado por eGrove, 1999 29
Jornal dos Historiadores da Contabilidade, vol. 26 [1999],
ss. 2, art. 6
30 Revista dos Historiadores da
Contabilidade,dezembro de 1999
21
Robert T. Sprouse [1988, p. 126], o vice-presidente do conselho, escreveu
mais tarde que a Declaraçã o de Conceitos 5 “ ica solidamente do lado da
manutençã o do capital inanceiro”.

Embora o conselho nã o estivesse preparado na dé cada de


1980 para emitir uma norma exigindo que o resultado abrangente
fosse relatado nas demonstraçõ es inanceiras bá sicas, ele voltou ao
assunto vigorosamente em meados da dé cada de 1990. Foi entã o
que o conselho baseou-se na de iniçã o de resultado abrangente na
Declaraçã o 3 e nos pará grafos 13 e 39-44 da Declaraçã o 5 para
emitir uma minuta de exposiçã o propondo a exigê ncia de que o
lucro lı́quido e o resultado abrangente recebam igual destaque em
qualquer um deles. ou duas demonstraçõ es de desempenho
inanceiro [FASB, 1996]. Mas a forte resistê ncia dos preparadores
forçou o conselho a aceitar um compromisso, permitindo uma
terceira opçã o — exibir o resultado abrangente na demonstraçã o
das mutaçõ es do patrimô nio lı́quido [FASB, 1997]. Por isso,
Em vá rios lugares na Declaraçã o 5, incluindo dois citados
acima, o conselho deixou a mudança para um processo de
evoluçã o [ver també m para. 35]. Salomã o [1986, pá g. 122], em
sua crı́tica, espetou essa abordagem:
Esses apelos à evoluçã o devem ser vistos como o que
sã o - uma fuga. Se tudo o que é necessá rio para melhorar
nosso modelo contá bil é a con iança na evoluçã o e na
seleçã o natural que resulta do desenvolvimento de
padrõ es, por que um projeto de estrutura conceitual caro
e demorado foi necessá rio em primeiro lugar? Nem é
preciso dizer que conceitos e prá ticas devem evoluir à
medida que as condiçõ es mudam. Mas se a estrutura
conceitual nã o pode fazer mais do que apontar isso, quem
precisa dela? E, aliá s, se o progresso é apenas uma
questã o de esperar pela evoluçã o, quem precisa do FASB?
Salomã o [pá g. 193] reclamou que a lista sem compromisso do
conselho de atributos de mediçã o na Declaraçã o 5 mostrou que
nã o havia progredido alé m de seu memorando de discussã o de
2 de dezembro de 1976, que havia feito o mesmo.
Oscar S. Gellein [1986, p. 14], que atuou no conselho de
1975 a 1978, també m criticou a falha do conselho em fornecer
orientaçã o conceitual, sem a qual, disse ele, “existe o risco de
reversã o para regras ad hoc na determinaçã o de mé todos
contá beis”. Wolk e outros. [1992, p. 177] escreveu que a
Declaraçã o 5

https://egrove.olemiss.edu/aah_journal/vol26/iss2/6 30
Zeff: Evolução da estrutura conceitual para empresas nos Estados Unidos

Zeff: Estrutura conceitual para empreendimentos 31


22
Para uma discussã o mais aprofundada sobre resultados abrangentes,
comerciais
consulte Johnson e Reither [1995].

“deve ser considerado uma decepçã o distinta, se nã o um


fracasso total.”
Storey e Storey [1998, p. 159], que tê m sido irmes defensores
da abordagem da estrutura conceitual, criticaram o conselho por
abdicar de sua responsabilidade na Declaraçã o 5:
Considerando que uma exposiçã o neutra de
alternativas era apropriada para um Memorando de
Discussã o, uma litania de prá ticas de mediçã o atuais
sem aná lise conceitual ou avaliaçã o, nem orientaçã o
para fazer escolhas nã o era adequada para uma
Declaraçã o de Conceitos.
Ao simplesmente descrever a prá tica atual, a
Declaraçã o de Conceitos 5 é um retrocesso à s declaraçõ es
de princı́pios contá beis produzidos pela escola de
pensamento da 'destilaçã o da experiê ncia' [por exemplo, a
abordagem de Paul Grady no Estudo de Pesquisa Contá bil
No. 5 da APB] - um essencialmente prá tico, nã o um
esforço conceitual. Suas prescriçõ es para melhorar a
prá tica sã o reminiscentes daquelas do Comitê de
Procedimentos Contá beis ou do Conselho de Princı́pios
Contá beis; os problemas de mediçã o serã o resolvidos
caso a caso. Infelizmente, essa abordagem funcionou
apenas marginalmente bem para aqueles corpos agora
extintos.
Um observador atento do conselho escreveu que a decisã o do
conselho de nã o perturbar o status quo no reconhecimento e
mediçã o “foi liderada por representantes do constituinte
preparador, particularmente membros do Financial Executives
Institute, e foi apoiada por trê s membros do Conselho [incluindo
March]” [Miller, 1990, p. 28].

Função da Declaração 33:Nenhuma referê ncia foi feita


anteriormente à Declaraçã o de Padrõ es de Contabilidade
Financeira 33 do conselho, Relató rios Financeiros e Mudança de
Preços, emitida em setembro de 1979, que exigia que mais de
1.300 grandes corporaçõ es divulgassem em uma nota suplementar
nã o auditada certas informaçõ es gerais de nı́vel de preço e custo
atual informaçõ es contá beis.23 No entanto, é impossı́vel discutir o
reconhecimento do conselho

23
A parte da contabilidade de custo corrente da Declaraçã o 33 re letiu a
in luê ncia do relató rio do Comitê Sandilands [1975, cap. 12] no Reino Unido,
que deu destaque à abordagem de “valor para o negó cio” (ou “valor privado”)
Publicado por eGrove, 1999 31
Jornal dos Historiadores da Contabilidade, vol. 26 [1999],
ss. 2, art. 6
32 Revista dos Historiadores da
para a contabilidade de valor Contabilidade,dezembro
atual. Para uma revisã deo1999
desta e de outras
in luê ncias intelectuais no pensamento do conselho, incluindo a interaçã o entre
a Declaraçã o 33 e o projeto de estrutura conceitual do conselho, ver Tweedie e
Whittington [1984, cap. 7 e entradas em seu ı́ndice de assunto sob FAS33].

e projeto de mediçã o sem levar em conta o impacto no conselho de


preparadores e reaçõ es dos usuá rios à Declaraçã o 33. Como ex-
presidente do conselho Kirk [1988, p. 16], que anteriormente era
só cio de auditoria da Price Waterhouse, escreveu:
Embora nã o seja formalmente parte do projeto de
estrutura conceitual sobre reconhecimento e mediçã o,
o Statement 33 foi o laborató rio para o projeto
conceitual. Foi o campo de teste para a aplicaçã o do
sistema de custo atual ao mais difı́cil dos problemas de
avaliaçã o — ativos ixos — e o campo de teste para a
validade e utilidade do conceito de capital fı́sico, em vez
de capital inanceiro.
. . . a experiê ncia com a Declaraçã o 33 na é poca em que
está vamos debatendo a Declaraçã o de Conceitos nº 5 me
disse que o uso das informaçõ es de custo atuais era muito
limitado e que havia sé rias dú vidas sobre sua
con iabilidade. Eu poderia encontrar poucas razõ es para
endossar em um nı́vel conceitual um valor atual ou
sistema de mediçã o de custo atual para padrõ es futuros
quando parecia que a utilidade de tal sistema na
Declaraçã o 33 seria seriamente desa iada.
Em agosto de 1984, quando a diretoria estava concluindo o
trabalho na Declaraçã o 5, foi divulgado no Relató rio de Situaçã o
da diretoria que:
. . . estudos de pesquisa e respostas ao Convite para
Comentá rios [intitulado Divulgaçõ es Suplementares
sobre os Efeitos da Mudança de Preços (FASB, 1983)]
indicam que as informaçõ es da Declaraçã o 33 nã o
foram amplamente utilizadas. Tanto o nú mero de
usuá rios quanto a extensã o do uso foram limitados. Um
grande nú mero de respostas ao Convite para
Comentá rio indica que os custos de preparaçã o das
divulgaçõ es superaram os benefı́cios até o momento
[“Relató rio Financeiro e Mudança de Preços”, 1984].
Em novembro de 1984, o conselho emitiu a Declaraçã o de
Normas de Contabilidade Financeira nº 82, na qual eliminou a
exigê ncia de divulgaçã o suplementar das informaçõ es contá beis da
in laçã o e, dois anos depois, em dezembro de 1986, emitiu a
Demonstraçã o de Contabilidade Financeira Normas nº 89, na qual
eliminou por completo a exigê ncia de divulgaçã o suplementar
sobre a variaçã o de preços.

https://egrove.olemiss.edu/aah_journal/vol26/iss2/6 32
Zeff: Evolução da estrutura conceitual para empresas nos Estados Unidos

Zeff: Estrutura conceitual para empreendimentos 33


comerciais
Valor presente:No inal da dé cada de 1980, o conselho, ciente da
importâ ncia crescente do valor presente como ferramenta de
tomada de decisã o e sensı́vel à s abordagens amplamente
divergentes adotadas ao longo do

anos pelo FASB e outros normatizadores dos EUA para a


implementaçã o de mensuraçõ es baseadas no valor presente,
começou a desenvolver uma estrutura comum para usar o valor
presente e estimativas de luxos de caixa futuros na mensuraçã o
contá bil.24 Emitiu um memorando de discussã o em 1990
[ Current Value-Based Measurements in Accounting], realizou
uma audiê ncia pú blica em 1991, publicou um relató rio especial
[Upton, 1996] e emitiu uma minuta de exposiçã o para uma
proposta de declaraçã o de padrõ es [1997]. No inal, o conselho
concluiu que o assunto deveria fazer parte do projeto de
estrutura conceitual e procedeu à emissã o de uma minuta de
exposiçã o de uma declaraçã o de conceitos propostos [1999]. A
declaraçã o proposta nã o tratará da questã o mais ampla de
reconhecimento, mas, em vez disso, fornecerá “uma estrutura
para usar luxos de caixa futuros como base para uma
mensuraçã o contá bil” [projeto de exposiçã o do FASB, 1999,
para. 10]. A publicaçã o da declaraçã o de conceitos está
planejada para o inı́cio do ano 2000.

Uma avaliação:As muitas decepçõ es expressas sobre a declaraçã o


de conceitos sobre reconhecimento e mediçã o signi icaram que o
projeto da estrutura conceitual do conselho terminou com uma
nota “para baixo”. A esperança, talvez ingê nua, de que a estrutura
pudesse apontar um caminho claro para a melhoria dos relató rios
inanceiros nã o se concretizou.
Richard Macve, um acadê mico de contabilidade britâ nico
que estudou atentamente a estrutura conceitual do FASB, tem
sido cé tico em relaçã o a tais a irmaçõ es. Macve [1997, pá g. xxii]
escreveu:
Dadas as limitaçõ es conceituais inerentes à
mensuraçã o de 'receita' e 'valor', permanece irreal
esperar que tentativas o iciais de desenvolver
'estruturas conceituais' para contabilidade e relató rios
inanceiros sejam capazes de fornecer uma base
coerente para a resoluçã o de questõ es contá beis.
problemas. . . . Alé m disso, os principais problemas dos
normalizadores sã o mais freqü entemente polı́ticos.
Uma estrutura, por mais tecnicamente correta que seja,
nã o pode resolver os problemas polı́ticos de diferentes

Publicado por eGrove, 1999 33


Jornal dos Historiadores da Contabilidade, vol. 26 [1999],
ss. 2, art. 6
34 Revista dos Historiadores da
interesses e necessidades no nı́vel dede
Contabilidade,dezembro 1999 padrõ es
individuais [nota de rodapé omitida].
Os comentaristas geralmente fazem uma avaliaçã o negativa
da estrutura conceitual do conselho. Salomã o [1986, pá g. 122],
que era um fervoroso defensor do projeto do conselho,
lamentou

Miller e Bahnson [1996, pp. 94, 96, 98] citaram defeitos na aplicaçã o do
24

valor presente em sete pronunciamentos anteriores.

concluiu plenamente que “meu julgamento do projeto como um


todo deve ser que ele falhou”. Em particular, ele considerou a
Declaraçã o
5 como um “fracasso sombrio” [p. 118]. Miller e outros. [1998, p.
105], no entanto, viu um lado positivo nas nuvens escuras:
Embora seja provavelmente um exagero chamar o
projeto de fracasso total, é certamente uma decepçã o.
Por outro lado, faz uma contribuiçã o signi icativa para
a literatura contá bil ao estabelecer que o atendimento
à s necessidades do usuá rio é o objetivo primordial da
contabilidade inanceira. També m contribuiu para a
e iciê ncia dos procedimentos de devido processo
de inindo uma sé rie de termos-chave que sã o de fato
usados pelo Conselho e seus constituintes. Essas
conquistas podem trazer mais rigor e e iciê ncia à s
deliberaçõ es do Conselho, mas essa conclusã o só pode
ser alcançada com segurança no longo prazo.
Em relaçã o à s necessidades dos usuá rios, pode-se argumentar que
a literatura já foi enriquecida pelo relató rio Trueblood.
Kenneth Most [1993, pp. 107, 109] viu o projeto como
“seriamente falho” e registrou sua “grande surpresa. . . que a
estrutura conceitual do FASB foi imitada em outros paı́ses”. Davies
et ai. [1997, p. 63] opinou que a fraqueza do projeto de estrutura
conceitual do conselho foi provavelmente mais atribuı́da à “falha
do conselho em lidar com as questõ es fundamentais de
reconhecimento e mediçã o”. Archer [1993, pá g. 113] escreveu que
“a tentativa do FASB envolveu um esforço maciço; mas, em termos
de transmitir um maior grau de autoridade intelectual ou
institucional sobre o processo de estabelecimento de padrõ es, as
montanhas evidentemente produziram um rato.”
Uma revisã o favorá vel foi feita por Kevin Stevenson [1987,
p. 49], diretor da Australian Accounting Research Foundation,
que disse: “Devo dizer que considero o trabalho do FASB em sua
estrutura conceitual extremamente valioso”. Seu
desapontamento com a Declaraçã o 5 foi que “ela nã o forneceu
https://egrove.olemiss.edu/aah_journal/vol26/iss2/6 34
Zeff: Evolução da estrutura conceitual para empresas nos Estados Unidos

Zeff: Estrutura conceitual para empreendimentos 35


uma aná lise completa das questõ es” [p. 51].
comerciais
No inal de 1984, a Arthur Andersen, depois de ter visto a
minuta de exposiçã o do conselho [1983] sobre reconhecimento
e mensuraçã o, publicou uma segunda ediçã o de seus Objetivos
das Demonstraçõ es Financeiras para Empresas, na qual
rea irmou a importâ ncia que atribuı́a ao valor. A irma
diferenciou claramente a referê ncia a “recursos econô micos”
em seu objetivo geral (veja acima) da do conselho,
argumentando que há uma “grande diferença . . . uma vez que
pedimos especi icamente a 'natureza e valor' dos recursos
econô micos, enquanto o FASB apenas pede informaçõ es sobre

eles” [1984, pá g. 8n]. A empresa reiterou seu apoio à


manutençã o do capital inanceiro e ampliou sua cobertura
recomendada de contabilidade de valor atual para incluir
passivos. Como contribuiçã o ao diá logo, o livreto revisado da
empresa constituiu uma crı́tica implı́cita à posiçã o
descompromissada do conselho com relaçã o à mensuraçã o.
A reaçã o à estrutura conceitual do conselho dependia
necessariamente das expectativas de cada um. Em um extremo,
Sterling [1982,
pá g. 106] argumentou o seguinte:
Na minha opiniã o, o pró ximo passo essencial [depois
das Declaraçõ es de Conceitos 1-3] é exibir conexõ es
ló gicas replicá veis entre os conceitos e as conclusõ es
sobre prá ticas especı́ icas. E prová vel que a provisã o de
tais conexõ es exija o aprimoramento dos conceitos
para torná -los logicamente fé rteis. se os conceitos nã o
sã o a inados para o
No ponto em que as conexõ es ló gicas sã o pelo menos
plausı́veis, de preferê ncia replicá veis, a estrutura
provavelmente será , na melhor das hipó teses, inú til e, na
pior, usada para racionalizar posiçõ es pré -concebidas que
provavelmente serã o contraditó rias.
No outro extremo, Peasnell [1982, p. 255] sugeriu que a estrutura
conceitual:
. . . poderia ter a intençã o de nã o fazer mais do que
fornecer objetivos gerais muito amplos para relató rios
inanceiros aos quais ningué m poderia fazer sé rias
objeçõ es; o objetivo seria “elevar o tom moral” da
pro issã o.
Talvez o encerramento de normas contá beis especı́ icas fosse
esperar demais de uma estrutura conceitual.
Em 1977, um comitê da AAA composto por nove
acadê micos concluiu pessimista, apó s trê s anos de estudo, que

Publicado por eGrove, 1999 35


Jornal dos Historiadores da Contabilidade, vol. 26 [1999],
ss. 2, art. 6
36 Revista dos Historiadores da
“o fechamento da teoria nã o pode ser ditado”
Contabilidade,dezembro e que “todas as
de 1999
abordagens teó ricas sã o falhas quando vistas da perspectiva de
alguma abordagem alternativa” [AAA, 1977, pp. 49, 50]. Cada
estrutura conceitual, acrescentou, “incorpora implicitamente
crenças e premissas individuais que nã o podem ser provadas ou
refutadas em um sentido ló gico” [p. 48]; portanto, o comitê
concluiu que nã o pode ser demonstrado que uma estrutura é
superior a todas as outras.25
Dopuch e Sunder [1980] foram igualmente pessimistas em
relaçã o a qualquer tentativa de impor uma estrutura conceitual
normativa sobre

25
Lawrence Revsine era o presidente do comitê . Para suas opiniõ es sobre a
implicaçã o do relató rio para o desenvolvimento de uma estrutura conceitual,
consulte Revsine [1977, pp. 35-39].

sociedade, pois os grupos e indivı́duos que se preocupam com


relató rios inanceiros possuem seus pró prios motivos e
objetivos privados. No inal, eles argumentaram, os padrõ es
serã o inevitavelmente compromissos para apaziguar esses
interesses con litantes.
Storey e Storey [1998, p. 161], na pá gina inal de seu estudo
abrangente, preferiram enfatizar as conquistas da estrutura
conceitual do conselho:
O FASB usou as partes completas da estrutura com
sucesso considerá vel. Os constituintes do Conselho
també m aprenderam a usar a estrutura, pelo menos em
parte porque descobriram que é mais prová vel que
in luenciem o Conselho se o izerem. Tanto a Diretoria
quanto os constituintes també m descobriram que à s
vezes os conceitos parecem funcionar melhor do que em
outras e, sem dú vida, à s vezes eles poderiam ter sido
aplicados de maneira mais só lida. algumas partes do
conceito
ainda sã o controversos, em parte, pelo menos, porque as
visõ es de longa data sã o difı́ceis de morrer. A estrutura
continua inacabada, embora a Diretoria nã o dê sinais de
completá -la em um futuro pró ximo.
Apesar do fato de que o Conselho o deixou
incompleto, a estrutura conceitual do FASB
• E o primeiro esforço razoavelmente bem-sucedido de
um ó rgã o de de iniçã o de padrõ es para formular e
usar um conjunto integrado de conceitos de
contabilidade inanceira
• Mudou fundamentalmente a forma como os

https://egrove.olemiss.edu/aah_journal/vol26/iss2/6 36
Zeff: Evolução da estrutura conceitual para empresas nos Estados Unidos

Zeff: Estrutura conceitual para empreendimentos 37


comerciais padrõ es de contabilidade inanceira sã o de inidos
nos Estados Unidos
• Forneceu um modelo para o International
Accounting Standards Committee e vá rios ó rgã os
nacionais de de iniçã o de padrõ es em outros paı́ses
de lı́ngua inglesa, que nã o apenas estabeleceram seus
pró prios conceitos, mas també m foram claramente
in luenciados pelas Declaraçõ es de Conceitos do
FASB , à s vezes a ponto de adotar o mesmo ou
praticamente o mesmo conjunto de conceitos.
Este escritor interporia trê s reaçõ es à s opiniõ es expressas por
Storey e Storey. (1) Sem dú vida, o conselho demonstrou que
pode concluir um imenso projeto desse tipo, mas se o esforço
foi “razoavelmente bem-sucedido” ainda é uma questã o em
aberto. (2) Duvida-se que a abordagem do conselho para
estabelecer padrõ es tenha sido “fundamentalmente alterada”
pela estrutura conceitual – alterada, sim, mas nã o
fundamentalmente. (3) E verdade que a estrutura conceitual do
conselho
o trabalho foi imitado em outros paı́ses e pelo International
Accounting Standards Committee (IASC). Mas a estrutura do
IASC nã o é mais ú til na mediçã o do que a Declaraçã o 5 do FASB.
O Conselho de Normas Contá beis do Reino Unido (ASB), na
reformulaçã o de 1999 de sua Declaraçã o de Princı́pios, també m
se recusou a escolher entre o custo histó rico e o valor atual
como base de mediçã o [pá ra. 6.4]. E o ASB, ao contrá rio do
FASB, nã o é limitado por uma comissã o de valores mobiliá rios
conservadora ou por uma tradiçã o arraigada de contabilidade
de custos histó ricos. A Australian Accounting Research
Foundation, que iniciou a pesquisa para sua estrutura
conceitual na dé cada de 1970, ainda nã o emitiu nem mesmo
uma minuta de exposiçã o para uma declaraçã o de conceitos
sobre reconhecimento e mensuraçã o. Assim, a exportaçã o da
estrutura conceitual do conselho nã o levou a um sucesso
marcante no exterior.
Ao julgar o produto geral da estrutura conceitual do FASB,
pode-se justi icadamente culpar o conselho por nã o ter escolhido,
por uma questã o de princı́pio, o atributo ou atributos de mediçã o
relevantes que deveriam reger a preparaçã o das demonstraçõ es
inanceiras. Essa foi, a inal, a raison d'ê tre de todo o exercı́cio -
tudo apontava para esse im. Que razõ es servem para explicar a
indecisã o do conselho? A resistê ncia à mudança — de
preparadores, pro issionais e da SEC, bem como dentro do
conselho — juntamente com uma indiferença, na melhor das
hipó teses, por parte dos usuá rios constituiu uma grande barreira a
ser superada pelo conselho. A conhecida antipatia da SEC em
Publicado por eGrove, 1999 37
Jornal dos Historiadores da Contabilidade, vol. 26 [1999],
ss. 2, art. 6
38 Revista dos Historiadores da
relaçã o aos desvios da contabilidade de custos
Contabilidade,dezembro histó ricos nas
de 1999
demonstraçõ es inanceiras pode ter sido vista por alguns membros
do conselho como um obstá culo a uma escolha baseada em
princı́pios. Ainda estavam frescas as memó rias da condenaçã o pela
APB (e pelo contador-chefe da SEC) da defesa de Sprouse e
Moonitz da contabilidade de valor atual em seu estudo de pesquisa
contá bil publicado em 1962, resultando na decisã o da APB de
descartar tanto os postulados quanto os princı́pios estudos ao
esquecimento. Alguns membros do FASB podem nã o querer correr
o risco de ter a estrutura conceitual do conselho igualmente
marginalizada como “radicalmente diferente”. Alé m disso, os
desvios da contabilidade de custos histó ricos representaram uma
ameaça potencial nã o apenas para a comunidade de preparadores,
mas també m para os praticantes da contabilidade [ver Revsine,
1991]. Para os preparadores, o uso do valor atual levantou o
espectro de incluir ganhos e perdas nã o realizados potencialmente
volá teis na demonstraçã o de resultados. Quanto aos praticantes,

usufruı́do nos Estados Unidos Os praticantes podem ter temido


que seus conhecimentos se tornassem obsoletos pela imposiçã o
de um sistema de contabilidade desconhecido. Macve [1997,
pá g. xxii] caracterizou essas fontes de resistê ncia como “os
problemas polı́ticos de diferentes interesses e necessidades”.
Mesmo dentro do conselho, os membros diferiam intelectual e
emocionalmente na escolha do atributo de mediçã o – re letindo
o que Horngren [1981, p. 90] chamou suas “estruturas
conceituais individuais”. Essa resistê ncia embutida à mudança
de tantos lados deve ter sido uma onipresença taciturna nas
deliberaçõ es do conselho.
Qual tem sido o efeito prá tico da estrutura conceitual do
conselho? A menos que algué m esteja por dentro e ouça as
deliberaçõ es do conselho - ou, como pesquisador, entreviste os
diretores e examine as atas e arquivos do conselho - é difı́cil
saber se a estrutura conceitual em evoluçã o realmente mudou
de ideia ou foi citada em padrõ es subsequentes - mentos para
reforçar uma visã o preconcebida. Para ter certeza, Arthur R.
Wyatt [1987, p. 46], que ingressou no conselho logo apó s a
emissã o da Declaraçã o 5, disse que “os atuais membros e
funcioná rios do FASB referem-se constantemente à estrutura”,
especialmente as caracterı́sticas qualitativas e as de iniçõ es dos
elementos. Avançar, ele disse que “os constituintes se referem
particularmente à estrutura conceitual quando nã o concordam
com uma conclusã o provisó ria a que chegamos sobre uma
questã o prá tica e argumentam que é inapropriada porque nã o
decorre logicamente da estrutura conceitual”. Mas seria ú til ter
os resultados de um estudo de pesquisa empı́rica.

https://egrove.olemiss.edu/aah_journal/vol26/iss2/6 38
Zeff: Evolução da estrutura conceitual para empresas nos Estados Unidos

Zeff: Estrutura conceitual para empreendimentos 39


O ex-conselheiro Mosso [1998, p. 7] disse que a “Declaraçã o de
comerciais
Conceitos 5 lançou as bases” para a decisã o do conselho em 1987
(Declaraçã o 95) de substituir a demonstraçã o de fundos pela
demonstraçã o de luxos de caixa “desenvolvendo ainda mais a
ê nfase da Declaraçã o de Conceito 1 nos luxos de caixa como uma
ferramenta de tomada de decisã o de investimento”.
Para demonstrar o impacto, Miller [1990, p. 27] a irmou que
trê s declaraçõ es de padrõ es subsequentes incorporam a
preferê ncia do conselho pela “visã o de ativos e passivos”:
Declaraçã o 76, sobre revogaçã o em substâ ncia [1983]; Declaraçã o
87, sobre pensõ es [1985]; e Declaraçã o 96, sobre imposto diferido
[1987]. Ele observou també m que trê s das primeiras declaraçõ es
de padrõ es do conselho, emitidas entre 1974 e 1976, també m
adotavam a “visã o de ativos e passivos” [Miller, 1990, p. 27].
Evidentemente, o conselho nã o exigiu uma declaraçã o de conceitos
para adotar essa premissa em suas normas.
Como parte de seu estudo principal da estrutura conceitual

projeto, Gore procurou discernir o impacto da estrutura conceitual


concluı́da em trê s declaraçõ es de padrõ es: Declaraçã o 87, sobre
pensõ es [1985]; Declaraçã o 95, sobre demonstraçõ es de luxo de
caixa [1987]; e Declaraçã o 96, sobre imposto diferido [1987]. Gore
[1992, p. 124] concluiu que a estrutura conceitual do conselho
“pode reivindicar pouco efeito sobre os vá rios resultados”.
No entanto, Daley e Tranter [1990, p. 15] argumentaram
que é inú til tentar julgar padrõ es contá beis especı́ icos em
termos de uma estrutura conceitual que inclua a neutralidade
como uma caracterı́stica desejada de con iabilidade. Eles
argumentaram que “o papel signi icativo que as pressõ es
econô micas e polı́ticas desempenham no desenvolvimento de
normas contá beis” deve ser considerado na estrutura conceitual
e, portanto, em qualquer aná lise da conformidade das normas a
uma estrutura.
Até que ponto os membros que ingressaram no conselho
depois que a estrutura conceitual foi concluı́da em 1985
“assinaram” a estrutura conceitual? No inal de 1986, apenas 12
meses apó s a emissã o da Declaraçã o 6, o Presidente Kirk [1986, p.
8] escreveu: “Já notei que os membros do conselho que nã o
estiveram envolvidos nos longos debates anteriores [aos seis]
Declaraçõ es de Conceitos, especialmente o nº 5 sobre
reconhecimento e mediçã o, tê m menos apego ou interesse de
propriedade neles”. Em 1993, todos os membros que votaram na
Declaraçã o 5 deixaram o conselho. Em um ó rgã o de de iniçã o de
padrõ es com membros rotativos, por quanto tempo uma estrutura
conceitual aprovada manterá sua autoridade dentro do ó rgã o?
Para seu cré dito, o conselho tomou medidas para manter a

Publicado por eGrove, 1999 39


Jornal dos Historiadores da Contabilidade, vol. 26 [1999],
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40 Revista dos Historiadores da
estrutura conceitual sobreContabilidade,dezembro
a mesa. Em algumas das sessõ es de
de 1999
desenvolvimento pro issional do conselho, realizadas para
benefı́cio dos membros e da equipe de pesquisa, questõ es
relacionadas à estrutura conceitual sã o periodicamente agendadas
para discussã o. Alé m disso, vá rios projetos de agenda recentes,
especialmente o atual sobre valor presente, levaram o conselho a
revisitar as declaraçõ es de conceitos anteriores. Por im, a
avaliaçã o anual de desempenho dos conselheiros pode apontar
desconhecimento das declaraçõ es de conceitos. Mas a questã o
permanece: até que ponto os atuais membros do conselho
concordam com a estrutura conceitual? levou o conselho a
revisitar as declaraçõ es de conceitos anteriores. Por im, a
avaliaçã o anual de desempenho dos conselheiros pode apontar
desconhecimento das declaraçõ es de conceitos. Mas a questã o
permanece: até que ponto os atuais membros do conselho
concordam com a estrutura conceitual? levou o conselho a
revisitar as declaraçõ es de conceitos anteriores. Por im, a
avaliaçã o anual de desempenho dos conselheiros pode apontar
desconhecimento das declaraçõ es de conceitos. Mas a questã o
permanece: até que ponto os atuais membros do conselho
concordam com a estrutura conceitual?
Estas sã o questõ es interessantes sobre as quais, espera-se,
pesquisas empı́ricas serã o conduzidas. Até entã o, vivemos com
opiniõ es.

REFERENCIAS
Uma busca por justiça nos relatórios financeiros para o público(1969), endereços
selecionados por Leonard Spacek (Chicago, IL: Arthur Andersen & Co.).

https://egrove.olemiss.edu/aah_journal/vol26/iss2/6 40

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