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Erasmo Mezenga, primo de Bru-

AP/JORNAL DO BRASIL

no Mezenga, o Rei do Gado, está


famoso. Rico e estudante univer-
sitário, Erasmo fazia picolé para
vender na praia e, com isso, la-
var o dinheiro da família. Um dia,
Erasmo Mezenga misturou man-
ga com leite. Imediatamente, a mis-
tura ferveu. Mezenga colocou en-
tão a gororoba no congelador da
geladeira do laboratório de Física
da faculdade. Três horas depois,
ele descobriu que tudo que estava
na geladeira também havia fervi-
do, em evidente desacordo com a
Lei da Frescura, do Niltão, o xerife
da região. Mezenga virou inventor,
sendo hoje respeitado pela comu-
nidade científica. Direto do Reci-
fe, no meio do Bloco Galo da Ma-
drugada, nosso correspondente
Alexandre Medeiros revela como
As meninas da UFF falaram tão O professor Luiz Ferraz, de Bar- Mezenga conseguiu convencer o
bonito no número anterior, que a retos, ensina como domar uma professor Esbórnia de que o leite
entrevista delas está dando o que fa- vassoura, sem rodeios. A cola- não estava estragado e de que a
lar. O Folhetim publica a segunda boração do mestre Léo foi cita- manga, apesar de fresca, era es-
parte do bate-papo - Página 11 da até no editorial - Página 6 pada. Cientistas renomados
acreditam que o fenômeno seja
um sinal de que o mundo já aca-
bou há um tempão. Visto por ou-
tro ângulo, o fim do mundo pode
ser confundido com um eclipse,
o que você vai encontrar em ou-
AP/JORNAL DO BRASIL

tra matéria, em outra página.


Desculpe a confusão. Na foto, al-
guns carecas experimentam a úl-
tima invenção de Mezenga, os ócu-
los para ver se na lua tem cabelo.
(Brincadeiras à parte, não deixe de
Deu no jornal. Uns disseram que foi eclipse. Outros, que o Sol assumiu o seu conferir a bela lição educacional
lado oculto. O Folhetim conta tudo e faz um teste com você - Página 8 do mestre Medeiros) - Página 2
E
Ufa, que já era tempo! Com m 1969 a então recente- mais rapidamente que o outro com
este número, o Folhetim deixa mente criada revista inglesa uma temperatura inicial mais baixa.
Physics Education publicou Exemplificando: um copo de água a
“oficialmente” de ser um produ- um artigo que viria a tornar-se um 90oC e outro com idêntica massa de
to exclusivamente niteroiense clássico da Educação em Física. O água a 40oC. Colocados a resfriar,
para ganhar ares de Brasil. Re- artigo era assinado por Denis o copo originalmente a 90oC conge-
cife e Barretos se fazem presen- Osborne e Erasto Mpemba e trata- la antes que aquele que estava ini-
tes através das colaborações dos va de um fenômeno físico parado- cialmente a 40oC.
xal relacionado com o resfriamento Parece absurdo?
professores Alexandre Medeiros
dos líquidos. Nos anos que se se- Claro, parece sim, mas o fenô-
e Luiz Ferraz (o Léo). E você, guiram houve um intenso debate meno realmente ocorre e colocado
quando nos manda a sua? Ou vai provocado pelo referido texto, tanto numa perspectiva histórica já havia
deixar sua cidade de fora deste pelos aspectos físicos inusitados por sido observado por Aristóteles,
(epa!) “hebdomadário de perio- ele levantados, quanto pelas lições Francis Bacon, Descartes e outros
dicidade mensal”? de educação para as ciências que mais. Em sua Meteorologia, por
dele poderiam ser retiradas. John exemplo, Aristóteles já ensinava que:
Sempre é bom lembrar que Lewis retomou a discussão desse “muitas pessoas, quando querem
este número só foi possível por- artigo no seu influente livro congelar a água rapidamente, co-
que Nostradamus desta vez deu “Teaching School Physics”, publica- meçam colocando-a ao Sol”. En-
mole. O mundo não acabou, do sob os auspícios da UNESCO tretanto, a explicação para tal fenô-
FHC continua fazendo das suas, (Lewis, 1972), adicionando comen- meno é coisa recente, como discu-
ACM é quem define o que vai tários pedagógicos muito pertinen- tiremos mais à frente. Newton ig-
tes que reproduzimos neste presen- norou o mesmo, talvez intencional-
acontecer, a oposição continua te artigo. Passados longos anos des- mente, atendo-se ao estudo dos cor-
buscando seu rumo e o eclipse de a publicação original do artigo e pos que obedeciam à sua famosa lei
solar nos permitiu mais uma ma- dos comentários de Lewis surpre- do resfriamento, deixando de lado
téria sobre como aplicar a Físi- endemo-nos ainda com a atualida- com isso os efeitos da evaporação.
ca a uma situação concreta. de e a complexidade dos temas ne- De toda forma, contudo, a dis-
les contidos. cussão sobre o assunto parece ter
Confira, e não deixe de ler a se-
Neste presente trabalho tentamos sido revigorada a partir da publica-
gunda parte da entrevista com recuperar a essência daquele artigo ção do artigo acima mencionado.
“as meninas da UFF”. e do texto de Lewis sobre três dis- Reproduzimos abaixo um longo tre-
Ah, sim. Estamos lançando a tintos aspectos: em primeiro lugar, cho do referido artigo com a inten-
campanha “FAÇA UMA ASSI- tentando colocar os problemas físi- ção de discutirmos suas conseqüên-
NATURA DO FOLHETIM PARA cos despertados num certo contex- cias educacionais assim como as
to histórico; em segundo lugar, ten- possíveis explicações físicas para o
O SEU MELHOR AMIGO PRO- tando traçar um quadro dos vários fenômeno descrito.
FESSOR DE FÍSICA”. Ela cus- fatores físicos envolvidos que po-
tará apenas a metade do valor Resgatando o Texto Original
dem auxiliar na construção de uma
de Mpemba e Osborne
que você paga por sua assinatu- explicação para o fenômeno em
ra, ou seja, absolutamente na- causa; e por último, rediscutindo as “Meu nome é Erasto Mpemba.
amplas implicações educacionais Quando eu estava na terceira sé-
da!!! Recorte o cupom e entregue que dele podem ser retiradas à luz rie do curso secundário na esco-
para ele preencher. Se ainda as- da explicação física apresentada. la em Magamba (Tanzânia), cos-
sim o seu amigo ficar com pre- O fenômeno tratava-se do mis- tumava fazer sorvetes. Os garo-
guiça de colocar o envelope no terioso resfriamento de dois copos tos na escola faziam isso ferven-
correio, ou de se cadastrar pela originalmente com uma mesma mas- do o leite, misturando-o com açú-
sa de um certo líquido, porém a di- car e pondo-o na câmara frigorí-
Internet, faça esse “sacrifício”
ferentes temperaturas iniciais. O as- fica do refrigerador, após o mes-
por ele. Fique certo de que terá pecto paradoxal, quase absurdo, era mo ter arrefecido até aproxima-
uma pessoa que lhe será grata a constatação de que o copo origi- damente a temperatura ambiente.
para sempre. nalmente mais quente congelava Um dia um outro garoto cor-
reu para o refrigerador quando qual eu havia colocado inicial- te no recipiente no qual havíamos
me viu fervendo o meu leite e ra- mente água quente que no que colocado o leite quente. Esses três
pidamente misturou o seu leite com havia colocado água fria. Isso garotos riram bastante e começa-
açúcar colocando-o na caçamba não era, no entanto, realmente ram a contar para toda a escola
de gelo sem fervê-lo. Sabendo conclusivo. Deste modo, eu pla- que eu estava certo, mas que eles
que se eu esperasse que o meu nejei tentar novamente assim que mal podiam acreditar. Alguns dis-
leite fervido resfriasse, antes de tivesse uma chance. seram que era impossível. Eu dis-
pô-lo no refrigerador, perderia a Quando o Dr. Osborne visitou se ao chefe do departamento de
última caçamba de gelo disponí- a nossa escola este ano, nos foi física na minha escola que o ex-
vel, eu decidi correr o risco de permitido fazer a ele algumas per- perimento havia dado certo; ele
arruinar o refrigerador pondo o guntas, principalmente sobre fí- então disse: ‘não deveria ter
meu leite ainda quente no conge- sica. Eu perguntei: ‘se você toma dado, eu darei uma olhada nele
lador. Eu e o outro garoto volta- dois recipientes semelhantes com esta tarde’. Mais tarde, no entan-
mos uma hora e meia depois e en- iguais volumes de água, um deles to, ele encontrou o mesmo resul-
contramos que minha caçamba de a 35oC e o outro a 100 oC, e os tado” (Lewis, 1972).
leite havia congelado enquanto a coloca num refrigerador, aquele A seqüência dessa história nos é
dele estava ainda na forma de um que estava inicialmente a 100oC contada pelo Professor Denis
líquido espesso, mas não conge- congela primeiro. Por que?’. Ele Osborne, que era àquela época che-
lado. primeiramente sorriu e pediu-me fe do departamento de física da
Eu perguntei ao meu professor para repetir a pergunta. Após eu Universidade de Dar es Salaam:
de física porque o leite que esta- haver repetido ele disse: ‘é ver- “Na Universidade de Dar es
va inicialmente mais quente ha- dade que você observou isso?’ Eu Salaam eu pedi a um técnico do
via congelado primeiro e a res- respondi que sim. Então ele dis- laboratório para testar aqueles
posta que ele me deu foi: ‘você se: ‘não sei, mas eu lhe prometo fatos. O técnico registrou que a
confundiu-se, isso não pode testar esse experimento quando água inicialmente mais quente, de
acontecer’. voltar à Universidade de Dar es fato congelara em primeiro lugar
Após prestar os exames do cur- Salaam’. e acrescentou num momento de
so secundário eu fui estudar no No dia seguinte meus colegas entusiasmo não científico: ‘Mas
colégio Mkwawa. Um dia o nos- disseram-me que eu os havia en- eu continuarei a repetir o experi-
so professor estava ensinando a vergonhado ao perguntar aque- mento até obter o resultado cor-
lei do resfriamento de Newton e la questão a qual o Dr. Osborne reto’” (Lewis, 1972).
eu fiz a seguinte pergunta: ‘Por não havia se mostrado apto a res-
Algumas Lições Pedagógicas
favor senhor, por que é que quan- ponder. Alguns chegaram a dizer-
do se coloca leite quente e leite me: ‘mas Mpemba, você não com- Como ressaltou Lewis (1972),
frio num refrigerador ao mesmo preendeu o capítulo sobre a lei do existe muito a ser aprendido dessa
tempo, o leite quente congela pri- resfriamento de Newton?’ Eu dis- história: em primeiro lugar, os riscos
meiro?’. O professor respondeu: se a eles: ‘a teoria difere do ex- da abordagem dogmática do primei-
‘eu não acho que isso acontece, perimento’. Alguns responderam- ro professor; em segundo, as conse-
Mpemba’. ‘É verdade, senhor, eu me: ‘nós não nos admiramos, pois qüências negativas do sarcasmo no
mesmo observei isso’. A resposta essa é a física de Mpemba’. ensino; terceiro, a atitude do Pro-
que ele me deu foi: ‘bem, tudo que Eu pedi à chefe da cozinha da fessor Osborne ao pedir ao estudan-
eu posso dizer é que essa é a físi- escola para permitir que eu utili- te para repetir a pergunta, dando-
ca de Mpemba e não a física uni- zasse um refrigerador para fazer lhe, assim, o tempo de pensar; quar-
versal’. aquele experimento. Ela permitiu- to, a sua forma de conduzir a situa-
Então numa certa tarde eu en- me o uso de um refrigerador in- ção evitando desencorajar uma ati-
contrei o laboratório de biologia teiro por uma semana. Primeiro eu tude científica crítica. E, por último,
aberto, sem professor. Peguei mesmo fiz o experimento, porque a cooperação da cozinheira permi-
dois pequenos beackers de 50cm3 eu estava temeroso que se falhas- tindo a utilização de um refrigera-
enchendo um deles com água fria se qualquer um poderia contar a dor para as investigações - Temos
da torneira e o outro com água toda a escola que eu era apenas aqui ótimos exemplos do que pode
quente do aquecedor e rapida- um estúpido. Mas meus resulta- ser positivo e do que pode ser nega-
mente coloquei-os na câmara dos foram os mesmos. No dia se- tivo no ensino. E existe ainda a ob-
frigorífica do refrigerador do la- guinte eu levei três colegas comi- servar a afirmação feita pelo técni-
boratório. Após uma hora eu vol- go, incluindo aquele que havia co prometendo “continuar a repe-
tei para dar uma olhada e encon- zombado da minha pergunta, e tir o experimento até conseguir a
trei que nem toda a água havia realizamos juntos o experimento. resposta correta!”
transformado-se em gelo, mas Nós encontramos que o gelo co- Tudo isso põe em relevo os peri-
havia mais gelo no beacker no meçava a formar-se primeiramen- gos de uma abordagem autoritária
e dogmática no ensino da física, as- damos ao trabalho de questioná-los sua importância na lei de Dalton
sim como nos revela distintas pos- e que, apesar disso, estão longe de para a evaporação. Se massas iguais
turas quanto à produção do conhe- serem óbvios. O que está por trás, de água são tomadas a temperatu-
cimento científico e à educação nas por exemplo, da convicção genera- ras iniciais diferentes, a evaporação
ciências. Estas questões, no entan- lizada de que a água quente após mais rápida da água inicialmente
to, podem ser retomadas de forma atingir a temperatura da água fria mais quente provoca uma diminui-
ainda mais incisiva se o fizermos seguirá arrefecendo do mesmo mo- ção de sua massa que acelera a
após uma discussão da Física conti- do que aquela? queda da temperatura tendendo a
da no chamado efeito Mpemba. Para começar, é geralmente to- compensar o maior intervalo de tem-
Uma análise da mesma nos permi- mado como óbvio que quando a água peraturas a ser percorrido para atin-
tirá fazer novas observações de cu- quente atingir a temperatura da água gir o congelamento. Em um experi-
nho educacional. fria, a quantidade de água quente, mento, segundo relato de Mathews
que originalmente era idêntica a da (1996), a água ao ser resfriada de
A Física do Fenômeno de
água fria, será ainda a mesma. Isso, 100oC a 0oC chegou a perder 16%
Mpemba
no entanto, está longe de ser verda- de sua massa original. Esse efeito
Você põe dois recipientes com deiro. Na verdade a enorme evapo- tem dois lados a serem considera-
água num congelador; um deles a ração da água quente faz com que dos: em primeiro lugar, a massa é
95oC e outro com a mesma quanti- a quantidade da mesma seja sensi- reduzida de tal forma que menos
dade de água a 50oC. Qual deles velmente reduzida. Ao atingir a tem- massa precisa ser resfriada em di-
congela primeiro? peratura da água fria, a água quen- reção ao congelamento, reduzindo
A água quente congela primeiro. te, portanto, terá já a sua massa bas- assim o tempo de resfriamento ne-
Por que? tante reduzida e será essa massa cessário; em segundo lugar, a tem-
Há muitos fatores em jogo. Con- menor que continuará a resfriar-se peratura é reduzida igualmente pela
sideraremos aqui apenas os princi- até atingir o congelamento. Como perda de calor pelo líquido necessá-
pais deles, para simplificar a discus- uma conseqüência imediata da equa- ria à mudança de fase causada pela
são, mas isso já deverá ser o sufici- ção fundamental da calorimetria, passagem da água para o estado de
ente para revelar alguns aspectos Q  m.c., sendo a massa de água vapor.
essenciais, comumente negligenci- quente menor que a de água fria, Um outro fator que joga um pa-
ados numa primeira análise. ela gastará menos tempo que aque- pel importante no fenômeno em dis-
À primeira vista o fenômeno des- la para baixar de temperatura a par- cussão é a sobrefusão ou o super-
crito parece mesmo um absurdo, tir do momento que atingir a tempe- resfriamento. Quando a água res-
pois normalmente costuma-se argu- ratura que originalmente estava a fria-se abaixo de 0oC ela não ne-
mentar que a água quente gastará água fria. cessariamente congela. Em algumas
um certo tempo para atingir a tem- No entanto, poder-se-ia argu- ocasiões ela pode permanecer no
peratura da água fria e a partir de mentar que ainda que isso pudesse estado líquido a temperaturas bem
então seguirá a mesma curva de ser aceito haveria ainda o tempo abaixo de 0oC, podendo permane-
arrefecimento da temperatura. Des- gasto pela água quente para atingir cer líquida em temperaturas tão bai-
te modo, parece, à primeira vista, inicialmente a temperatura da água xas quanto cerca de 20oC. A ra-
difícil, senão impossível, de acredi- fria. Considere-se, porém, que a zão para isso é que a formação dos
tar que a água quente congele pri- uma temperatura inicial mais eleva- cristais de gelo necessita de pontos
meiro. Ela gastaria um tempo total da a taxa de evaporação da água de nucleamento, como bolhas de gás
de congelamento igual ao tempo ini- quente é bem maior que a da água ou partículas de impurezas ou mes-
cial de atingir a temperatura da água fria e isso faz com que baixe a sua mo uma superfície rugosa. Se pon-
fria mais o tempo, a partir de então, temperatura de maneira muito mais tos de nucleamento não estiverem
supostamente igual ao gasto pela rápida. Deste modo, o resfriamento presentes no líquido teremos as con-
água fria para congelar. Assim sen- da água é parcialmente Newtoniano dições para que o mesmo entre em
do, parece óbvio que a água quente e parcialmente devido à evaporação sobrefusão até que a temperatura
deva gastar mais tempo que a água do líquido. Aqui evidencia-se já um baixe a ponto dos cristais de gelo
fria para congelar. Não é isso, no primeiro equívoco comumente assu- formarem-se espontaneamente.
entanto, o que ocorre e o fenômeno mido como uma obviedade, qual seja Uma vez iniciado o processo de for-
de Mpemba é real, podendo ser tes- o de supor, sem uma análise mais mação de cristais num líquido em
tado por tantos quantos duvidem do acurada, que o resfriamento seria sobrefusão eles crescerão rapida-
mesmo. Mas, afinal, o que há então completamente Newtoniano. Assi- mente formando algo como uma
de errado no raciocínio acima des- nale-se ainda que a evaporação é pasta que posteriormente se conver-
crito? Tal raciocínio parece certa- tanto mais importante quanto mais terá em gelo sólido. Este fenômeno
mente óbvio, mas esta obviedade elevada for a temperatura. da sobrefusão é importante na aná-
está calcada em alguns pressupos- Considere-se ainda a área livre lise do nosso fenômeno em estudo.
tos tão elementares que nunca nos acima da superfície do líquido e a Em primeiro lugar, vale ressaltar, a
sobrefusão ocorrerá mais facilmente líquido finalmente congela, muito nos. Em tais casos o calor do vaso
na água que estava inicialmente mais calor terá sido perdido e mais aquecido pode fundir o gelo fazen-
mais quente. O aquecimento remo- gelo terá se formado que no outro do com que o recipiente fique en-
ve os gases dissolvidos na água, os recipiente originalmente com água crustado na superfície de gelo so-
quais poderiam formar bolhas e as- mais fria. Considerável suporte ex- bre a qual tenha sido colocado. Isso
sim servir como pontos de nuclea- perimental tem sido fornecido sobre cria uma boa conexão térmica en-
mento quando o líquido resfriasse. o significado da sobrefusão no fe- tre o recipiente e a superfície exter-
Mas por que a sobrefusão sendo nômeno de Mpemba. na o que facilita a condução do ca-
mais fácil no líquido inicialmente Um outro fator importante no es- lor aumentando a taxa de transfe-
mais aquecido contribui para que tudo do efeito Mpemba é a convec- rência e acelerando o congelamen-
este congele mais rapidamente? ção. Supondo que um dos recipien- to, diferentemente do recipiente
Até parece um paradoxo adicio- tes colocados no congelador esteja originalmente mais frio que repousa
nal, pois se é verdade que a água inicialmente com água a 4oC, a su- sobre a superfície de gelo sem um
inicialmente mais quente poderá fa- perfície congelará rapidamente. contato tão eficiente. Outros fato-
cilmente entrar em sobrefusão, se- Como dissemos acima, esta fina ca- res mais poderiam ser mencionados
ria de se esperar que tivesse de con- mada de gelo é menos densa que a sem que esgotássemos as possibili-
gelar a temperaturas mais baixas o água abaixo dela que permanece a dades explicativas para a constru-
que, à primeira vista, pareceria im- 4oC. Tal camada atua como um iso- ção de um bom modelo para o efei-
plicar no aumento do tempo neces- lante térmico fazendo com que a to Mpemba. De toda forma, os bre-
sário para o referido congelamento. taxa de resfriamento da água res- ve comentários explicativos acima
Aí está o equívoco. O fato do líqui- tante seja muito reduzida, supondo traçados já nos podem fornecer um
do congelar a uma temperatura que o recipiente seja feito de um quadro da complexidade do fenôme-
abaixo de 0oC não acarreta logica- material que seja igualmente um iso- no e dos muitos pressupostos em-
mente, como pode parecer, que ve- lante térmico. No caso, porém, do butidos na aparente e enganosa sim-
nha a gastar mais tempo que a água vaso com água inicialmente quente plicidade do mesmo. O aspecto pa-
inicialmente mais fria e que conge- a coisa é um tanto diferente. A su- radoxal do efeito Mpemba advém
laria a 0oC. A questão é que, ape- perfície da água resfria-se bem mais principalmente do fato de comu-
sar de congelar, possivelmente, a rapidamente devido à evaporação, mente negligenciarmos uma tal com-
uma temperatura mais baixa a per- como dito acima, e à grande dife- plexidade e assumirmos com um
da de calor dá-se com uma veloci- rença de temperaturas. Contudo, a dado uma série de pressupostos que
dade muito maior. água resfriada é agora mais densa quando analisados cuidadosamente
Por que? que a água mais aquecida abaixo revelam-se difíceis de serem susten-
Considere primeiramente a água dela e afunda empurrando por con- tados, como o caso de imaginarmos
que inicialmente estava mais fria e vecção mais água quente para a que o resfriamento seria rigorosa-
que não entrará em sobrefusão. superfície. Correntes de convecção mente Newtoniano.
Neste caso, uma fina camada de significativas são postas em jogo pelo
resfriamento da água na superfície Uma Última Consideração
gelo tende a formar-se na superfí-
do líquido garantindo assim que a Educacional
cie da água. Tal camada forma-se
inicialmente na superfície devida à temperatura caia mais rapidamente. Para além das lições pedagógi-
dilatação irregular da água e o seu Os fatores acima mencionados cas acima mencionadas, que pode-
efeito é o de atuar como um isola- são apenas alguns dos que interfe- riam ser tiradas deste caso, resta
mento térmico entre a água ainda rem no processo de congelamento ainda uma outra reflexão educacio-
líquida e o ar mais frio do congela- do efeito Mpemba. Embora sejam nal oriunda da análise da própria fí-
dor impedindo assim a continuação esses fatores os mais relevantes, eles sica da situação: a importância de
da evaporação. Em conseqüência, não correspondem à totalidade das explicitarmos e analisarmos com
a taxa de formação de cristais de variáveis envolvidas no fenômeno. mais cuidado os pressupostos pre-
gelo, após a formação desta cama- Um estudo mais pormenorizado, sentes nos fenômenos físicos exem-
da isolante é consideravelmente re- fora do alcance do presente traba- plificados, caso estejamos efetiva-
duzida. No caso, no entanto, da água lho, deveria levar em conta igual- mente empenhados na construção
inicialmente mais quente, e que en- mente a influência exercida pelos de um ensino para a compreensão.
tra em sobrefusão, o líquido não dis- gases dissolvidos não apenas sobre A trivialização da complexidade das
põe da camada isolante de gelo. Em- o nucleamento de cristais, mas igual- situações apresentadas é uma ca-
bora congele a temperaturas mais mente sobre a alteração do ponto racterística de um ensino autoritá-
baixas esta água o faz a taxas de de congelamento dos líquidos. Do rio no qual a dúvida e a discussão
perda de calor bem maiores devido mesmo modo, a condução do calor dificilmente podem ter um lugar.
à contínua exposição de sua super- deveria ser considerada, principal- Num tal modo de ensinar, os pres-
fície livre ao ar do congelador. mente nos casos dos líquidos esta- supostos presentes nas situações fí-
Quando a sobrefusão termina e o rem contidos em recipientes peque- sicas analisadas permanecem ocul-
tos e as afirmações feitas pelo pro-
fessor ganham a aparência de uma
mera retórica de conclusões na qual
os limites e os contextos de valida- Discutir uma vassoura leva o peso do pedaço de cabo e P2,
de de tais afirmações nunca são uma aula inteira ou mais. E é ób- o da parte que contém a vassou-
colocados em cheque. vio que isso vale a pena. ra, como indicado na figura 2).
Por outro lado, o questionamento
dos pressupostos contidos nas for-
De início ela é palco para a de-
mulações e nas teorias apresenta- terminação do CG de um corpo
antigo CG
das, assim como a exploração dos extenso heterogêneo. A técnica
limites de validades das explicações habilidosamente descrita no Fo-
desenvolvidas, carregam a possibi- lhetim número 4 deixa claro que
lidade de levantar questionamentos X1 X2
o CG pode ser determinado “ci- P1
que podem, não apenas, contribuir
para elucidar os fenômenos em es-
entificamente” e não no tradicio- P2
tudo, mas também para proporcio- nal “na base da tentativa”. Com-
Figura 2
nar uma idéia da natureza da ciên- plementando:
cia mais em sintonia com a comple- 1) Obtida a posição do CG (bem Em relação ao antigo CG, es-
xidade das atividades de pesquisa. marcadinho com o giz) podemos ses pesos (P1 e P2) têm momentos
Se estivermos, empenhados, de continuar a explorar o senso co-
fato, na construção de um saber (torques) iguais (P1 . x1 = P2 . x2)
interpretativo e transformador da re- mum dos alunos. Propomos: “Va- mas, como x1 é maior que x2, tere-
alidade que nos cerca, não podere- mos cortar o cabo da vassoura mos P1 menor que P2. A balança,
mos contentar-nos, enquanto educa- bem na marca do CG obtendo que compara pesos (criteriosamen-
dores, com um ensino não questiona- dois pedaços; um que é só pe- te, massas) e não momentos, pen-
dor, inserido numa cultura repressi- daço do cabo e outro com um derá para o lado de P2 (vassoura).
va. Precisaremos deixar bem claro pedacinho do cabo e a vassoura
que a ciência não é isso, que o fazer Os alunos, sem dúvida, apreci-
e o ensinar a ciência é um eterno propriamente dita” (figura 1). arão essa observação ... e diga-se
questionar. Alexandre Medeiros de passagem, já foi questão de
(med@hotlink.com.br) vestibular.
O prof. Alexandre Medeiros, PhD, CG 2) Continuemos com a vassou-
trabalha no Departamento de Fí- ra (íntegra) e peçamos uma cadei-
sica da Universidade Federal Ru-
ral de Pernambuco. ra emprestada (professor não usa
serrar aqui!
cadeira!). Agora vamos colocar na
Bibliografia
Auerbach, D. (1995). Supercooling and the cabeça dos meninos a idéia de cen-
Figura 1
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Physics, vol. 63, No 10.
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Cold Water. American Journal of Physics, será colocada nos pratos de uma pois descobrirão cientificamente
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Knight, C. (1995). The Final Word. New balança de braços iguais. Para “onde sentar” e “onde apoiar as
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Freezing Times of Hot and Cold Water.
o lado que contém o pedaço de
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Snippets, N o 14, Institute of Physics,
London. O “bom senso” dos alunos po- bruxas), dê uma batida com a ponta
Lewis, J. (1972). Teaching School Physics. derá falhar. A resposta (prová- da vassoura (ponta do cabo) no
UNESCO. Paris.
Popay, I. et al (1997). Hot Stuff: Is it True vel) será: - “Não pende para lado encosto da cadeira (ou outro obs-
that Hot Water Placed in a Freezer Freezes nenhum, a balança permanecerá táculo rígido), como sugere a figu-
Faster than Cold Water? And If So Why
Does it Happen? New Scientist, http:// em equilíbrio pois a vassoura foi ra 3.
global.newscientist.com/laastword/answers/ cortada justamente no CG”. Ao fazer isso, observe com a
lwa197.html.
Mathews, R. (1996). Hot Water Freezes
Isso não é verdade: a balança vassoura “treme” toda, a piaçaba
Faster than Cold. Unpublished paper. penderá para o lado que contém trepida, o braço treme e a manga
Walker, J. (1977). Hot Water Freezes Faster a vassoura. Cada parte, após o da camisa pula. O sistema todo vi-
than Cold Water. Why Does It Do So?
Scientific American, vol. 237, No 3. corte, tem seu próprio peso (P1, bra ... pois a pancada foi dada fora
do centro de percussão. Vá dan- mãos sobre o CP. Desse modo a digo: 2, 3 ou 4. Dependendo ex-
do pancadinhas a partir da extre- vassoura desliza suave sobre o clusivamente de como toca o solo.
midade do cabo da vassoura, indo chão, sem trepidar. O mesmo Fiz essa pergunta a um cole-
para o CG. Logo obterá um local acontece com o rodo. Se empu- ga, professor de química. Não sa-
onde a pancada é “seca”, firme, nhado fora do CP, ele trepidará bendo responder em quantas par-
nada trepida ... é o local do CP. deixando marcas d'água conse- tes o giz iria quebrar-se respon-
cutivas no chão, que é o que di: em três partes. De propósito
segurar aqui acontece quando empunhado por abandonei o giz para que que-
bater aqui brasse em 3 partes. E justifiquei
uma criança que não alcança co-
locar uma das mãos sobre o CP. assim: - “Ele é feito de carbona-
Em tempo: ao visitar alguém, re- to de cálcio (CaCO3)”.
Como ele não entendeu, deta-
pare na vassoura lá encostada em
lhei: “CaCO, três; três cacos.
seu lugar de repouso. Observe
Aahhhnnn.....”
como tem uma marca “encardida”
A bem da ciência, é só verificar
no local do CP. É lá que vai a mão
as forças que agem nele ao tocar o
dia a dia......... solo.
Figura 3 As bruxas sentam-se sobre o a) se cair exatamente na vertical (de
CG e colocam as mãos sobre o pé), quebra em 2;
É um ponto importante dos CP ... e deslizam suaves pelos b) se cair inclinado (o mais prová-
corpos rígidos, é o local onde se céus afora! Luiz Ferraz Netto vel), quebra em três e,
pode bater com vontade sem que (leo@barretos.com.br) c) se cair de “chapa” (toda sua ex-
haja qualquer vibração. No taco O prof. Luiz Ferraz é Mestre em tensão toca o solo ao mesmo tem-
de basebol (um jogo onde os Ciências e, entre outros cargos, po), quebra em 4.
americanos batem na bola com exerce a Coordenação do Cen- Por enquanto é só!
um pauzinho) esse ponto é pri- tro de Pesquisa e Tecnologia do Luiz Ferraz Netto
mordial. Tacos de principiantes Colégio e Curso Objetivo. (leo@barretos.com.br)
têm uma marca para que o bate-
dor tenha uma noção onde a bola
deve atingir.
Os martelos têm cabos com
formato especial; há um rebaixo
adequado onde ele deve ser em- No Folhetim 3 o professor William
punhado. Pegando-se o martelo Scaramella pediu a ajuda da ga-
pelo local certo, o CP recai jus- lera da Física para encontrar a
solução para a dúvida de uma
tamente onde ele bate no prego.
aluna: por que um giz sempre
A pancada é seca, o prego e
quebra em 3 pedaços se jogado


martelo não oscilam. O prego
de uma certa altura? O profes-
não entorta. Marceneiros expe- sor Luiz Ferraz Netto termina o
Um professor deve
rientes colocam um prego na ma- artigo sobre a vassoura dando a transmitir aos jovens
deira com uma única pancada; as sua interpretação do fenômeno. não o saber em si e o co-
“companheiras de trabalho” do
Silvio Santos não conseguem isso
Se você não concorda com ele, nhecimento, mas a sede
mande a sua solução, que a gen- de saber e de conhecer,
nem com três batidas sobre o pre- te publica também.
go, pois empunham o martelo A vassoura (íntegra) caiu do 20o assim como o respeito
muito próximo à sua cabeça (do andar. Um giz caiu da mão do pro- pelos valores do espíri-
martelo). fessor. A vassoura, assim como o to, quer sejam de ordem

Quando a dona de casa em- giz (pelo seu formato tronco côni- artística, científica ou
punha uma vassoura para a tare- co), têm CG e CP. Em quantas par-
fa do dia-a-dia, ela, pela prática tes quebrará o giz (ou a vassoura)?
moral.
de anos a fio, coloca uma das De Verdade em Verdade vos Albert Einstein
DEU NOS JORNAIS

Na quarta-feira, 11 de agosto de 1999, ocorreu o mais badalado eclipse


solar total de todos os tempos. Como não podia deixar de ser, o fato foi
noticiado e comentado em todos os jornais do Brasil e do mundo. E, como
não podia também deixar de ser, o Folhetim traz partes de duas dessas notí-
cias para serem analisadas por nossos alunos.
O GLOBO, 08/08/99
Um grande espetáculo da natureza
Um eclipse solar é fruto de são da Lua pode bloquear a do
uma coincidência cósmica: Sol, formando um eclipse. O
visto da Terra, o tamanho eclipse total do Sol acontece
aparente da Lua é quase o quando a Lua passa entre a Ter-
mesmo do do Sol. Obvia- ra e o Sol lançando uma sombra
mente, o Sol é muito maior sobre certos pontos do planeta.
do que a Lua - 400 vezes A distância entre a Lua e a Terra
maior, mas também 400 ve- determina se a visão de um
zes mais longe. Por isso, eclipse será total ou parcial.
quando suas posições no céu são coincidentes, a vi- Quanto maior a distância, menos espetacular o eclipse.
JORNAL DO BRASIL, 08/08/99
Na sombra da Lua
1. A Lua se desloca no espaço com a por baixo da Terra.
velocidade de lkm/s ou 3.600km/h. A 4. A sombra da Lua, por sua vez, divi-
terra gira, de oeste de-se em duas partes: a
para leste, à veloci- umbra, o cone menor de
dade de 500km/s ou sombra, dentro do qual
1,8 milhão km/h. é visível o eclipse solar;
2. O eclipse total do e a penumbra, um cone
Sol só acontece mais amplo de sombra,
quando a fase da da qual o eclipse parcial
Lua é nova e ela se é visto.
interpõe entre o Sol 5. A faixa da superfície
e a Terra. terrestre na qual o eclip-
3. Embora haja uma se total do Sol é visível
Lua nova a cada 29 não tem mais de 112
dias e meio, os quilômetros de largura e
eclipses são mais ra- cerca de 14.000 quilô-
ros porque o satéli- metros de comprimento.
te tem uma inclina- 6. A órbita da Lua em
ção de 5 graus em torno da Terra é uma
relação ao movi- elipse e como tal a dis-
mento de translação tância entre o satélite e
(a órbita elíptica do o planeta varia de 354
planeta em volta do mil quilômetros a pouco
Sol). Desta forma, mais de 400 mil quilô-
na maioria das vezes metros. Se a Lua, às
a sombra da Lua vezes, parece maior no
passa por cima ou céu é porque está mais
perto da Terra, no perigeu. Se um do JB, determine: esta é a velocidade da Lua em re-
eclipse solar ocorre em uma ocasião a) A ordem de grandeza, na unidade lação à Terra, ou seja, levando em
dessas, será total. Mas se a Lua es- SI, da área da superfície terrestre que conta apenas a sua translação em
tiver no ponto mais distante de sua viu o eclipse total do Sol. Ela vale: torno da Terra (em relação ao Sol
órbita (afélio), ela parecerá menor, A) 106 ela teria outro valor, em relação ao
não conseguirá tapar o Sol comple- B) 109 centro da galáxia outro e assim por
tamente e o eclipse será anular. C) 1012 diante). A partir desse valor, e con-
Aplique seus conhecimentos D) 1015 siderando que a trajetória da Lua
1. Há um erro em comum nas figu- E) 1018 em torno da Terra seja circular de
ras que ilustram ambas as notícias. b) O valor encontrado em (a) raio 3,8 . 105 km, calcule, em dias,
Você seria capaz de apontá-lo? corresponde aproximadamente a o período desse movimento.
(Dica: você viu o eclipse?) que fração da superfície terrestre 8. Ainda no JB: “a terra gira, de
2. Diz O Globo que “visto da Terra, (considere o raio da Terra igual a oeste para leste, à velocidade de
o tamanho aparente da Lua é quase 6,4 . 106 km)? 500km/s ou 1,8 milhão km/h”.
o mesmo do do Sol”. Isto é realmente A) 101 Tudo indica que o jornal esteja se
uma bela “coincidência cósmica”. B) 102 referindo ao movimento de rotação
a) O que se entende por tamanho C) 103 da Terra em torno do seu eixo. Se
aparente (também conhecido por D) 104 for assim:
diâmetro aparente ou ângulo visu- E) 105 a) Por que está errado falar numa
al) de um objeto? 5. Diz o JB que “o eclipse total do velocidade (v) de rotação da Terra?
b) Sendo conhecidos: Sol só acontece quando a fase da b) Calcule a velocidade linear de
Raio do Sol: 7,0 . 105 km Lua é nova e ela se interpõe entre um ponto na linha do equador da
Distância Terra-Sol: 1,5 . 108 km o Sol e a Terra”. Terra, em virtude de sua rotação di-
determine o diâmetro aparente do Sol, a) Quando é lua nova no Brasil, ária. Ela realmente vale 500km/s?
visto por um observador na Terra. qual a fase da Lua no Japão? Respostas:
c) Júpiter encontra-se cerca de cin- b) Em que fase(s) da Lua ocorrem 1. Pelas duas figuras, o eclipse (ao
co vezes mais longe do Sol do que os eclipses da Lua? menos parcial) teria sido visto em
a Terra. Qual o diâmetro aparente c) Imagine que, por uma “coinci- toda a superfície da Terra.
do Sol, visto por um observador dência cósmica”, o movimento da 2. a) É a razão entre o tamanho (real)
em Júpiter? Lua em torno da Terra tivesse o e a distância da qual é observado.
d) Considerando a afirmativa da re- mesmo período que o da Terra em b) 9,4 . 103 rad (cerca de 0,5o)
portagem de O Globo: “Obviamen- torno do Sol. Em que isso afetaria c) Cinco vezes menor do que o di-
te, o Sol é muito maior do que a as fases lunares? âmetro em relação à Terra.
Lua - 400 vezes maior, mas tam- d) Por que motivo a Lua mantém d) Raio = 1,8 . 103 km (ou seja,
bém 400 vezes mais longe”, e utili- sempre a mesma face voltada para cerca de 3,6 vezes menor do que
zando os valores apresentados no a Terra? a Terra); distância: 3,75 . 105 km
item (b), determine o raio da Lua e 6. O item (6) do JB afirma que “se (esse é o valor médio do raio da
sua distância à Terra. Compare este a Lua estiver no ponto mais dis- órbita, uma vez que, segundo o JB,
último com o valor apresentado tante de sua órbita (afélio), ela pa- o raio varia entre 350 e 400 mil
pelo Jornal do Brasil, no item (6) recerá menor, não conseguirá ta- quilômetros).
da notícia. Eles são coerentes? par o Sol completamente e o eclip- e) 4,7m
e) A que distância máxima de seu se será anular”. Faça um esquema 3. Apesar de ser verdade que Sol
olho uma moeda de 10 centavos para esta situação. Indique no es- e Lua possuem o mesmo tamanho
(diâmetro de 2,2cm) cobre com- quema a região da Terra na qual o aparente, não é por isso que se for-
pletamente o Sol? eclipse anular é observado. mam os eclipses. Mesmo que os
3. A reportagem de O Globo assi- 7. Diz o JB: “A Lua se desloca no tamanhos aparentes fossem dife-
nala que “um eclipse solar é fruto de espaço com a velocidade de lkm/s rentes, ocorreriam eclipses solares
uma coincidência cósmica: visto da ou 3.600km/h. A terra gira, de oes- (totais, se o diâmetro aparente da
Terra, o tamanho aparente da Lua é te para leste, à velocidade de Lua fosse maior que o do Sol, par-
quase o mesmo do do Sol”. Está 500km/s ou 1,8 milhão km/h”. ciais ou anulares se fosse menor).
correta esta afirmação, ou seja, é a) Verifique se estão corretas as 4. a) opção C
mesmo verdade que o eclipse solar conversões de km/s para km/h. b) opção C
só acontece porque Sol e Lua pos- b) Não está correto dizer que a Lua 5. a) Também lua nova
suem o mesmo tamanho aparente? se desloca no espaço com a velo- b) Na lua cheia.
4. Utilizando os dados do item (5) cidade de 1km/s. Na realidade, c) A Lua não apresentaria fases.
Dependendo da posição relativa do disposição. Quanto ao bairris-
Sol, da Terra e da Lua, seria sem- mo, não foi nossa intenção (já
pre Lua cheia, nova, crescente ou nos chamam de machistas, será
minguante.
que estamos virando também
d) Porque o período de translação
em torno da Terra é igual ao perío- bairristas?).
do de rotação em torno de seu ... e estou lendo tudo que já pu- Um forte abraço,
eixo. blicaram. Preciso estar por den- Luiz e Marcelo
6. região que vê o tro da coisa para participar dela. ***
eclipse anular Até o momento vocês estão de Parabéns para todo o pessoal do
parabéns, apreciei muito. Sem Folhetim. Sobretudo para equipe
dúvida vou entrar nessa. En- do Física para o 2o grau. Os 5
TERRA

SOL LUA quanto leio calmamente, já pas- números têm sido um ótimo ma-
sei pela aula da vassoura. Em terial de apoio ao livro texto.
anexo segue complementação. Estou usando o material desde
Vejam se é aproveitável. 98 (Colégio Pedro II) e apesar da
Tenho um primeiro comentário resistência inicial dos alunos (pre-
7. a) Estão corretas, pois 1,0km/s relativo ao pouco que já li: o Fo- cisam ler e pensar!!) o resultado
= 3,6.103 km/h tem sido melhor que os textos uti-
b) 28 dias (ou seja, uma semana lhetim entra na WWW e abrange
todo território nacional (onde lizados anteriormente. Fico tor-
para cada fase lunar).
com certeza será mais lido) en- cendo para que este espaço se
8. a) Porque cada ponto de um
corpo que gira tem uma velocida- frentando os “bairrismos”. As- torne o mais rápido possível uma
de linear (v) diferente. O correto sim sendo, deve-se evitar citar referência no ensino de física (se
seria falar na velocidade angular () nomes de coisas típicas do RJ (Av. já não é...).
da Terra. Brasil etc.) e temas locais. O Fo- Abraços,
b) Não. Vale cerca de 500m/s (ou lhetim deve ser visto como Naci- Sérgio Ferreira de Lima
seja, “apenas” 1000 vezes menor oigres_lima@uol.com.br
onal e não Carioca!. Com certe-
do que fala a notícia). oigresf@hotmail.com
Luiz Alberto Guimarães za há muita gente que não topa
(f2g@cen.g12.br) o RJ, outros que não topam SP e
muitos de SP que não topam os Alô, Sérgio!
“baianos” etc. Não devemos dar Ficamos SUPERsatisfeitos em
margens a bairrismos, preconcei- ver o Folhetim cumprindo seu
Esta é uma publicação mensal da tos, raças, cor, religião, política objetivo de apoio ao livro texto.
Galera Hipermídia etc. A neutralidade deve ser re- Quanto à resistência inicial dos
Jornalista Responsável: comendada. alunos, também a observamos
Sandra Filippo - DRT /BA-739 em algumas turmas. No entan-
... Aguardem um relato geral e
Redação: to, quando nos damos conta de
Luiz Alberto Guimarães, Marcelo minhas sugestões ... e vão pre-
Fonte Boa, Mauro Santos Ferreira parando espaço e gente para tra- que o contraponto de “ler e pen-
e Sandra Filippo sar” é “copiar e memorizar”,
Desenvolvimento de software:
balhar. Gostei muito da coisa.
Thiago Guimarães Abraço, Léo não temos a menor dúvida de
Ilustração: Luiz Ferraz Netto que vale a pena!! Se quiser tro-
Marcelo Pamplona leo@barretos.com.br car idéias, mande-nos um e-
Diagramação: mail. E obrigado pela torcida.
Ovidio Brito
Folhetim é distribuído gratuitamente. A
Prezado Léo, Um forte abraço,
autoria das colaborações é identificada Você já entrou nessa!! Publica- Luiz e Marcelo
no final de cada artigo e as opiniões
pessoais emitidas são de responsabili- mos neste número a comple- ***
dade dos seus autores, não refletindo,
necessariamente, a opinião da direção mentação que nos mandou so- Olá, pessoal! Meu nome é Lucia-
do jornal. Ao remeter uma colabora-
ção, seu autor concorda que seja publi- bre a vassoura, bem como a sua no e eu sou coordenador de Físi-
cada, sem nenhum ônus, de qualquer
espécie, para o Folhetim.
bem-humorada resposta ao pro- ca da Escola Técnica Estadual
blema do giz. O espaço está à República, do CEI de Quintino.
Gostei muito do trabalho feito no Quando eles fazem esses projetos
jornal Folhetim, que me foi apre- maravilhosos, muitos deles não che-
sentado pelo prof. João Montei- gam a produzir os efeitos espera-
ro, da escola Henrique Lage, dos. Gastam muito dinheiro e a res-
onde é coordenador de Física. posta é baixa. Eles ficam se per-
guntando por que a resposta foi
Gostaria de fazer uma assinatu-
A gente prometeu e aí está a baixa se o produto era bom. O
ra do mesmo, em meu nome,
segunda parte do bate-papo PSSC era um projeto muito inte-
para a equipe de Física da mi- ressante, só que não chegou a pro-
nha escola. Peço que a entrega com o pessoal do grupo de
pesquisa em ensino de Física duzir os resultados. Então, centra-
seja feita no endereço abaixo e se não mais na produção de mate-
que sejam enviados 11(onze) da Universidade Federal
rial institucional e sim no pensamen-
exemplares, um para cada pro- Fluminense, formado pelas to do aluno. Hoje em dia a pesqui-
fessor da equipe. professoras Lúcia Almeida, sa enfoca muito mais a relação pro-
Luciano da Costa Pires
Coordenadora do Curso de fessor/aluno.
Graduação em Física, Isa
batis@rj.sol.com.br Lúcia: O professor está ensinan-
Costa, Vice-coordenadora do
curso de Graduação em Físi- do Física para quem? A gente tem
Prezado Luciano, se perguntado muito sobre isso. Ele
ca, Sônia Krapas Teixeira,
Seu cadastro está feito e você está ensinando Física para físicos,
membro da Diretoria do Es-
já deve estar recebendo o Fo- para alguém que vai seguir a car-
paço UFF de Ciências e Mar-
lhetim em casa. Quanto aos ou- reira das áreas técnico-científicas
li da Silva Santos, Coordena- ou está ensinando Física para al-
tros professores, peça que cada dora do Curso de Pós-gradu-
um deles se cadastre para re- guém cujo curso de nível médio
ação Lato Sensu em Ensino pode ser terminal? Ter essa cons-
ceber o seu. O sistema que ado- de Ciências. O endereço de- ciência passa pela compreensão de
tamos nos Correios faz com que las é: ensino@if.uff.br. que a Física também tem partici-
só possamos enviar um número pação na formação do cidadão.
em cada impresso. Folhetim: Pode-se dizer que a Antigamente esse papel era atribu-
Um forte abraço, pesquisa em ensino de Física ído somente às ciências humanas.
Luiz e Marcelo nasceu do desinteresse do alu- Além de discutir o como ensinar e
*** no por uma ciência que se trans- o que ensinar, temos que discutir
Achei muito boa a iniciativa des- formou num “monte fórmulas” para quem ensinar.
te Jornal. para decorar, por culpa de mui-
to professor? Isa: As próprias diretrizes cur-
Marcos Otaviano da Silva riculares do ensino médio indicam
Sônia: Acho que não. Eu diria que
marcos@if.ufrj.br essa formação científica como uma
a pesquisa em ensino de Física veio
Professor do Estado do avanço tecnológico soviético. formação para a cidadania e para
Os Estados Unidos levam o maior o trabalho. Essa parte da Física
susto na hora em que descobrem moderna e contemporânea aponta
Se você tem alguma idéia, algo que os soviéticos estão colocando para a formação do cidadão. As
que deu certo em sala, que mo- um satélite em órbita. Aí começam, pessoas, no seu cotidiano, têm con-
tivou os alunos, mande para nos Estados Unidos, e nas potên- tato com vários dispositivos, apa-
nós. Teremos o maior prazer em cias de primeiro mundo, grandes relhos eletrodomésticos, eletrôni-
divulgar para os outros profes- projetos de ensino com pesquisa- cos. Para muitos, tais equipamen-
sores. Você pode enviar a cola- dores de ponta. A pesquisa nas- tos são “mágicos”. Para eles terem
boração, de preferência, em ar- ceu daí, uma resposta ao avanço participação mais consciente na
quivo .doc, na fonte Times New tecnológico soviético. sociedade precisam ter um mínimo
Roman, corpo 12. Endereços: Eu ainda acho que os Estados de noção de como isso tudo acon-
Unidos definem muito o tipo de tece: de como a ciência chega à
Virtual: f2g@cen.g12.br
pesquisa que a gente faz. As difi- tecnologia, de como se dá o tra-
Postal: Rua Macaé, 12 - Pé Peque-
no Santa Rosa - Niterói - RJ culdades do aluno em aprender balho do cientista.
Cep: 24240-080 Física vêm depois dessa questão. Luiz: Por que vocês não publicam
uma seção mensal no Folhetim? Outra iniciativa interessante é erradas que o filme demonstra, tra-
Uma idéia nossa é, justamente, fa- que, para as pessoas que fazem li- balhamos em sala de aula. O embrião
lar sobre esses aparelhos usados cenciatura, existem possibilidades dessa linha nasceu nas disciplinas de
no cotidiano para que eles deixem de pós-graduação. A gente traba- Instrumentação e Prática de Ensino.
de ser meras caixas pretas. lha aqui com uma disciplina - a de Nós estamos dando continuidade a
Evolução de Conceitos - que pode esse trabalho com um professor que
Isa: O que não nos falta é ma-
levar muitos alunos a fazerem pós- não faz parte do Grupo de Pesquisa
terial.
graduação. Já temos um aluno na em Ensino de Física, que é o José
Lúcia: Eu quero falar o quanto o COPPE. Estamos exportando alu- Antônio Souza.
Folhetim está sendo importante. nos por conta dessa disciplina que Uma outra linha de atuação é
Na minha disciplina de Instrumen- foi introduzida na grade curricular a da história da ciência. Nós a
tação ele já foi incorporado ao ma- como uma grande inovação. enfocamos utilizando partes de
terial bibliográfico. Os meus alunos Há, também, a possibilidade do obras originais de cientistas,
estão cadastrados e recebendo o aluno fazer aqui na UFF, no como instrumento e recurso di-
material produzido no Folhetim. mestrado de Educação, um traba- dático. Seja para levantar a con-
Enquanto todo mundo fica falan- lho na área do ensino de ciências. cepção dos alunos, seja para in-
do em espaços não formais ou in- Na Educação tem um campo de troduzir novos conceitos.
formais de educação, vocês co- confluência: ciência/sociedade/edu-
meçaram a ter um veículo alter- cação onde o aluno de licenciatura Isa: Um outro trabalho interessante
nativo para a formação do pro- pode continuar no mestrado ou é sobre concepção de avaliação. A
fessor. Até então, tínhamos revis- doutorado. Eu estou orientando lá, avaliação é prova, seminário, pales-
tas científicas, livros didáticos, na Educação, juntamente com as tra, participação em sala de aula ou
participação em congressos. professoras Dominique e Sandra. auto-avaliação? Os próprios alunos
Mas o Folhetim é mensal e vol- Outra parceria interessante é de licenciatura se interessaram em
tado diretamente para o trabalho com o Museu de Astronomia. Eles realizar essa pesquisa. Além de fazer
do professor em sala de aula. estão trabalhando com educação a ligação entre o ensino e a pesquisa,
não formal que é algo muito inte- o trabalho aponta para a nossa for-
Luiz: O trabalho que vocês fazem ressante. Temos uma parceria mação de professor de Física, como
aqui na UFF para a formação do institucional com o Projeto FINEP sendo um pesquisador dentro do
professor só tem a contribuir. e um convênio internacional com próprio ensino.
Vocês precisam rodar esse Brasil uma universidade inglesa, onde o
para verem como o pessoal está Museu de Astronomia, a PUC do
carente. Vocês já têm toda uma Seja assinante do
Rio e outras universidades do país
produção de Física Moderna e estão envolvidas. O Instituto de
Contemporânea pronta para o Fo- Física transcende, ele sai daqui.
lhetim.
Folhetim: Tem mais algum re-
Sônia: Toda a nossa conversa fi- cado, que vocês gostariam da
cou muito no reduto do Instituto de mandar pelo Folhetim?
Física. Eu gostaria de falar um pou- Lúcia: Quero lembrar que faz parte
co das coisas que são feitas fora, do grupo o professor Antônio Car-
mas a partir daqui. Uma delas é o los, que não pôde participar.
Espaço UFF de Ciências. Ele foi Nós temos trabalhado com a
fundado em 1991 e sua primeira questão do humor na pesquisa vol-
diretora foi a professora Glória tada para o ensino de Física. Uma
Queiróz. O Instituto de Física tem linha que o Folhetim também muito
colaborado sempre com esse es- utiliza. Um dos trabalhos que numa
paço visando a formação continu- primeira fase já conseguimos con-
ada do professor na área de ciên- cluir emprega o desenho animado,
cias. Nós participamos do Pró-Ci- o filme de desenho animado, para
ências e têm sempre muitos cursos o ensino de conceitos de Física.
oferecidos por lá. Partindo de acertos ou concepções

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