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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE DE EDUCAÇÃO
Aluna: Mariane Conceição Gomes da Silva (Turma 4)

Relatório com base na experiência de pesquisa

Rio de Janeiro
2023
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................................ 3

1 EXPERIÊNCIA DA PESQUISA......................................................................................... 4

2 ANÁLISE TEÓRICA DAS ENTREVISTAS......................................................................4

CONCLUSÃO.......................................................................................................................... 5

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................... 6
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INTRODUÇÃO

Este relatório consiste em analisar as reflexões tecidas com base nas impressões das
crianças, particularmente cinco, sobre questões ligadas ao Recreio Escolar, nos Anos Iniciais
do Ensino Fundamental. Para isso, cabe destacar que, a partir da prática de pesquisa com este
grupo de crianças, foi possível identificar diferentes mecanismos instituídos pelos adultos, em
uma clara (seja ela consciente ou inconsciente) tentativa de coibir e podar a produção e
experiências infantis. Além disso, identificou-se outros fatores ligados à temática do recreio,
como a delimitação do tempo, a inexistência de espaços destinados ao brincar e os sentidos
atribuídos ao mesmo, esse cenário, ainda recorrente na educação escolar, remete-nos a
práticas históricas em que o docente incumbia-se de toda centralidade do processo de ensino
e aprendizagem, além de práticas voltadas ao mecanicismo, desconexas e principalmente, em
que o brincar habitava um papel secundário na educação. No entanto, também houveram
elementos ligados à reelaboração de outras formas do brincar, do uso de criatividade e do
pensamento crítico as condições impostas.
Dessa forma, partindo das colocações de alguns educandos, é válido estabelecer um
aprofundamento nas seguintes indagações iniciais: a existência do recreio escolar na
unidade; o espaço em que ocorre; Como ele acontece; Quais são as brincadeiras realizadas;
O que fazer na inexistência do recreio; O tempo extra destinado a brincadeira; O tempo de
duração. Assim, o discurso deste pequeno grupo, nos mostra que, para além de pesquisar as
crianças, cabe pesquisar com as crianças, para que possamos compreender os sentidos dados
ao brincar/brinquedo/brincadeira, ao tempo livre e a importância concedida a estas práticas.
Sendo assim, vale elencar alguns estudos, em diálogo com as entrevistas feitas, para
estabelecimento de uma análise teórica da conversa, entre eles estão, “O ócio criativo”, em
particular, a questão da criatividade, vista em De Masi (2001); os apontamentos feitos por
Pimenta (1993), principalmente no que toca a relevância e características do brincar e criar;
e por fim, o vislumbre de algumas observações de Winnicott (1975), a respeito do “Por que
as crianças brincam?” Para mais, também é necessário promover uma descrição da
experiência de pesquisa, sob as diferentes óticas adotadas para compreender o universo,
desdobramento, elaborações e reelaborações infantil, quanto ao recreio escolar,
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I - EXPERIÊNCIA DA PESQUISA

Totalizando cinco participantes, sendo eles duas meninas e três meninos, entre 7 e 10
anos, as entrevistas ocorreram de maneira descontraída, porém timidamente no início.
Somadas as pesquisas feitas pelo restante do grupo, pudemos construir um grande contexto
de respostas para discussões. Dessa forma, não apenas a experiência em pesquisar junto às
crianças foi relevante, porém, a possibilidade em destinar certo tempo a discutir as questões
coletadas com outras educadoras, também mostrou-se essencial, considerando a relevância do
compartilhamento de conhecimentos e impressões dialógicas entre as experiências. No
decorrer das discussões, as crianças mostraram-se mais participativas, e principalmente,
queixosas quanto ao fator tempo de recreio. Sobre isso, foi unânime quanto ao curto período
destinado ao mesmo, variando entre 20 min e 30 min, em um intervalo de 4h30min de turno
escolar, as crianças apontaram que o tempo de recreio é pouco/curto. Duas crianças,
evidenciaram a inexistência do recreio, neste caso, devido a junção de duas unidades
escolares públicas da Zona Oeste, em um único CIEP, os dois segmentos do ensino
fundamental, desdobram-se para realizar as atividades diárias, ocasionando na defasagem do
recreio de algumas turmas, no horário da educação física, lanche e merenda.
Discutir a questão do recreio com as crianças, acarretou ainda na identificação do
sentido atribuído ao mesmo. Com isso, cabe dizer que dentro deste intervalo de 20min a
30min, ocorre em paralelo o almoço escolar, portanto, o pouco tempo destinado ao brincar é
reduzido drasticamente, dessa forma, as crianças passam a considerar o recreio como uma
“pausa” destinada a alimentação e a ida ao banheiro. Outro ponto relevante, diz respeito às
atividades realizadas durante o recreio, um ponto de impacto, está na semelhança de resposta
entre duas crianças, quando perguntadas “o que você faz no recreio?” ambas responderam
“nada”.
Ora, do que é possível brincar, com liberdade, em cerca de 10min? Qual é a
relevância desta delimitação? O que esta visão dada pelas crianças têm a dizer aos
educadores? Todos esses questionamentos foram pensadas partindo de minhas percepções do
discurso infantil, quanto as constantes atribuições dadas à infância por parte dos adultos, ou
seja, as convenções adultas são impostas às crianças constantemente, em que, elas,
necessitam criar alternativas criativas de brincadeiras, capazes de subverter essas imposições
relacionadas a um comportamento “adequado”, além da necessidade em dedicar-se
exclusivamente aos estudos, somadas ao tempo curto que habita o brincar, têm-se na verdade,
um confinamento das crianças no ambiente escolar.
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II - ANÁLISE TEÓRICA DAS ENTREVISTAS

Embasar teoricamente as entrevistas, é considerar um conglomerado de fatores,


especialmente o brincar como uma experiência criativa (PIMENTA, 1993, p.49). Esta
experiência criativa, ou criatividade, é vista em De Masi (2001) partindo da concepção de
uma união de diferentes indivíduos, pensando na criação de grupos criativos, para uma
posterior junção de indivíduos sonhadores e concretos. Partindo disso, destaca-se que,
durante a entrevista de um dos participantes, um menino de 9 anos, relatou uma atividade de
caça ao tesouro pela escola. Meio relutante no início com a proposta, o menino descreve que
a professora os dividiu em grupos de cinco crianças, em que deveriam seguir as instruções
dadas pelo mapa. Relatando mais a fundo sobre esta experiência, foi possível notar nessa
brincadeira, as crianças puderam reconhecer as suas próprias fantasias subjetivas nos outros,
além de identificar uma experiência comum entre os membros do nosso grupo (PIMENTA,
1993, p.50).
Outro ponto relevante, é considerar que as crianças brincam porque simplesmente
gostam de o fazer, como visto em Winnicott (1975). É partindo disso que pode-se pensar o
papel do educador nesta área como a figura mediadora que irá fornecer ideais e materiais para
que os educandos criem. Atrelado a isso também está a necessidade em permitir que as
crianças estabeleçam suas próprias experiências com o brincar, que inventem novas
alternativas, critérios e regras, assim como determinem os objetos necessários. É no entanto,
visto na constatação da Nicole, de 8 anos, que passa cerca de 6h no turno semi-integral
escolar, da inexistência do recreio escolar, que conseguimos inferir mais alguns
questionamentos, como por exemplo: onde habita o prazer da criação infantil nesse espaço de
ausência? Considerando que a brincadeira é, visto em Winnicott, uma grande parcela da vida
infantil, quais são as defasagens acarretadas ao desenvolvimento? E principalmente, porque
as crianças não podem brincar?
Posto isso, devemos considerar que, de forma plural e diversa, as infâncias buscam
suas próprias brincadeiras capazes de aliviar as angústias da vida cotidiana. Não distante, está
a frustração apresentada por três participantes do grupo, quanto a possibilidade de ausência
do recreio. Eles afirmam que, se não houvesse, “iriam embora”, “chorariam”, “voltavam para
sala para estudar” e “ficariam tristes”. Em alguns momentos, cheguei a conclusão de que falta
compreensão dos adultos quanto ao universo infantil, compreensão esta que estende-se aos
educadores.
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CONCLUSÃO

Cabe relacionar nesta etapa final, algumas trocas pertinentes durante as aulas e
reuniões do grupo, em diálogo com as discussões, não apenas das cinco entrevistas, mas das
20 crianças participantes do quadro geral. Os espaços destinados destinados ao recreio
existem, em sua maioria, é no entanto, pertinente dizer que alguns destes não são
aproveitados, por motivos diversos, sejam devido o alto número de estudantes na unidade
escolar ou até mesmo da invisiibilidade na proposta da escola.
Em diversos casos, as crianças demonstraram-se extremamente participativas nas
discussões, sugeriram brincadeiras, até então desconhecidas pelo grupo e mostraram
posicionamentos de reinvindicações dos espaços de brincadeira. O enstusiamos foi geral em
determinadas entrevistas, ao ponto de mais de cinco alunos pedirem para serem entrevistas,
isso nos mostrou o quanto as crianças gostam de ser ouvidas e levadas em consideração,
como curiosamente, estas gostam de ser inseridas nos debates.
Para além disso, vale dizer a construção teórica do semestre, em ponte com
experiência de pesquisa, mostraram a necessidade em se quebrar uma educação voltada ao
mando e servidão, descolada de uma concepção de eficicência de produção e em prol da
manutenção de um bem estar social, neste caso, dissonante da realidade. Faz-se relevante na
verdade, compreender o meio social vivenciado por nossos educandos, torna-lo centro no
processo de criação e conceder ferramentas para que se crie de maneira ousada e deslocada
das expectativas adultas.

brincar é fazer (PIMENTA, 1993, p.48)


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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

WINNICOTT, D.W. A criança e o seu mundo. Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1975.

PIMENTA, Arlindo C. Sonhar, Criar, Brincar, Interpretar. São Paulo: Ática, 1993. 28-68 p.

DE MASI, Domenico. O Ócio Criativo. Editora Sextante, 2001.

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