1) O artigo analisa os conceitos de "civilização" e "Kultur" desenvolvidos por Norbert Elias e como eles surgiram historicamente.
2) Elias argumenta que esses conceitos evoluíram ao longo do tempo em diferentes sociedades de acordo com fatores sociais e políticos.
3) O conceito de "civilização" foi usado para distinguir sociedades europeias de outras consideradas "bárbaras", mas cada sociedade tem seu próprio nível de civilização.
1) O artigo analisa os conceitos de "civilização" e "Kultur" desenvolvidos por Norbert Elias e como eles surgiram historicamente.
2) Elias argumenta que esses conceitos evoluíram ao longo do tempo em diferentes sociedades de acordo com fatores sociais e políticos.
3) O conceito de "civilização" foi usado para distinguir sociedades europeias de outras consideradas "bárbaras", mas cada sociedade tem seu próprio nível de civilização.
1) O artigo analisa os conceitos de "civilização" e "Kultur" desenvolvidos por Norbert Elias e como eles surgiram historicamente.
2) Elias argumenta que esses conceitos evoluíram ao longo do tempo em diferentes sociedades de acordo com fatores sociais e políticos.
3) O conceito de "civilização" foi usado para distinguir sociedades europeias de outras consideradas "bárbaras", mas cada sociedade tem seu próprio nível de civilização.
Arqueologia – Bacharelado 10299 - Sociedades Pré-Coloniais Americanas II – 2/2022 Prof. Dr. Alex da Silva Martire - alexmartire@furg.br Acadêmico: Luciano de Mello Silva / Matrícula: 151601
Resenha crítica do artigo “Considerações Sobre o Conceito de Civilização em Norbert Elias” de
Sílvia Lima de Aquino. Referência da obra: Aquino, S. Lima. “Considerações sobre o conceito de civilização em Norbert Elias”. Revista Espaço Acadêmico. Nº.138 (2012). 138-148p. Silvia Lima de Aquino é socióloga e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tornou-se Doutora nos anos de 2009 a 2013 realizando parte de seu doutorado no Centro de Investigação em Ciências Sociais da Universidade do Minho (Portugal), tornou-se Mestra nos anos de 2006 a 2008, ambos os títulos obtidos na área de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade na UFRJ. Em ambos trabalhos tratou sobre temáticas associadas a reforma agrária, abordando o uso de agrotóxicos e produção em escala de eucaliptos. Sua principal área temática é reforma agrária e agricultura familiar, mas os artigos de Aquino abordam outras temáticas sociais como o trabalho doméstico, migração entre área rural e urbana, inserção de trabalhadores na produção de celulose, desenvolvimento rural, agroecologia e ecologia política. Aquino se especializou em Literatura, Memória Cultural e Sociedade pelo Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense, sendo graduada em Geografia pelo mesmo instituto onde se especializou. Entre os anos 2009 e 2013, Aquino publicou capítulos de livros relacionados ao trabalho da mulher do campo, tais como “Sociabilidade e Gênero: notas a partir de um grupo produtivo de mulheres assentadas” (Bruno, et al., 2009); “Organizações produtivas das mulheres assentadas da reforma agrária” (Bruno, et al., 2011); “Razões da participação de mulheres rurais em grupos produtivos” (Bruno, et al., 2013). Entre os anos de 2018 e 2019, produziu capítulos de livros relacionados ao desenvolvimento agrário, publicando “Políticas públicas para o campo: da abordagem setorial à abordagem territorial” (Aquino & Mengel, 2018); “Dinâmicas regionais, atores, instituições: interfaces do debate sobre o desenvolvimento” (Mengel, et al., 2019). Mais recentemente, Aquino tem produzido capítulos relacionados a Reforma Agrária e Agricultura Familiar, publicando os capítulos “O papel dos agricultores familiares na produção de soluções tecnológicas para a agricultura familiar” (Mengel et al., 2021) e “Atores locais como criadores de conhecimento: um método para reconhecer soluções tecnológicas criadas na agricultura familiar” (Mengel & Aquino, 2021). O artigo “Considerações Sobre o Conceito de Civilização em Norbert Elias” possui um Resumo, uma Introdução, e os subtítulos “Como Surgem os Conceitos”, “O Conceito de Civilização”, “Civilização versus Kultur”e “Considerações Finais”. Neste artigo, Aquino trata dos conceitos desenvolvidos por Norbert Elias sobre “civilização” e suas delimitações, em suas publicações em dois volumes sobre “O Processo Civilizador” e “Escritos e Ensaios 1 – Estado, Processo e Opinião Pública”. Para a autora, é importante observar a perspectiva de Norbert Elias de longo prazo das transformações que ocorrem na sociedade, mas também na personalidade dos indivíduos, apontando para o fato de que Elias inclui o conceito de processo em suas teorias sociológicas, método pelo qual Aquino busca analisar em suas reflexões. Em sua análise, Aquino aponta o método processual aplicado à análise sociológica de Elias, que se distancia na busca de definir o conceito de civilização em uma trajetória que o leva à sua gênese, evocando o conceito de Kultur alemão, comparando ao longo do processo histórico o significado que estes conceitos tiveram em países como França/Inglaterra e Alemanha, correlacionando com a ascensão burguesa e a substituição da aristocracia de corte. Norbert Elias busca, segundo a autora, sua sociogênese e a compreensão dos fenômenos e processos sociais que decorrem ao longo do desenvolvimento histórico. Assim, a autora apresenta o foco de Elias no processo contínuo e histórico, inicialmente definindo de onde surgem os conceitos na sociedade, apontando que estes são frutos de uma experiência prolongada e assimilada pelos indivíduos, uma identificação social com a “cristalização de experiências” que passam a fazer sentido. Portanto, Aquino aponta que para Elias, o conceito de civilização pode estar relacionado ao conceito de cultura, no sentido de que “estruturas de personalidade e da sociedade evoluem em uma interrelação indissolúvel”, e trata de um conjunto de valores de um determinado povo que, embora para Elias haja a possibilidade de se encontrar povos mais ou menos civilizados que outros, não há um juízo de valor que defina isso como um fato positivo ou negativo, embora para ele este conceito seja particular e inerente à sociedades ocidentais e sua percepção de si própria, “expressando tudo que estas sociedades nos últimos dois ou três séculos julgam ter de superior à sociedades mais antigas ou contemporâneas consideradas mais primitivas.” Para entender a sociogênese e psicogênese dessa construção do conceito de civilização, Aquino aponta que Elias busca aprofundar o olhar sobre as sociedades de três nações europeias: Alemanha por um lado e França e Inglaterra por outro, num recorte temporal a partir do século XVIII, onde a passagem da Prússia ao Estado Nação Alemanha culmina com a transição e a necessidade de aceitação da burguesia ascendente pautada em aspectos considerados constitutivos da sociedade alemã, em substituição à aristocracia de corte espelhada nas práticas das sociedades francesas e inglesas que denotavam orgulho e importância de suas contribuições enquanto nação ao progresso do Ocidente e da humanidade como um todo. Segundo Aquino, Norbert Elias ressalta que para esta classe alemã o conceito de civilização denotava um valor de segunda categoria, associado apenas a aparência externa dos indivíduos como expressão de sua contraposição à sociedade de corte. Os alemães buscaram no conceito de Kultur a afirmação de seus valores de classe pautados em fatos intelectuais, artísticos e religiosos alemães, enfatizando as diferenças nacionais e as identidades particulares de seus grupos, no processo de ascensão da classe burguesa e em substituição aos valores da aristocracia de corte que imitava os manuais de etiqueta ingleses, hábitos e língua franceses. Observando o recorte histórico situado no contexto francês, Aquino aponta que Elias adentra a sociogênese do conceito de civilização para a burguesia francesa, que foi incorporada aos meios cortesãos, acreditando que os conceitos que antecedem o sentido de civilização são courtoisie (cortesia) e civilité (civilidade), conceitos que transitaram de cortesia na Idade Média para civilidade nos séculos XVI e XVII, atingindo seu desuso no século XVIII e dando lugar ao conceito de civilização, mas nesse período, utilizado como modo de distinção entre o civilizado e a barbárie, sendo assimilado pela burguesia, ao mesmo tempo em que há um refinamento do comportamento por parte dos cortesãos, acompanhado pela mimese burguesa. Este refinamento comportamental está relacionado a uma série de mudanças de hábitos assimilados pela sociedade como por exemplo com relação ao corpo e aos impulsos instintivos, no sentido de maior controle dos impulsos corporais e aperfeiçoamento dos hábitos e gestos de forma ritualística. Aquino aponta que para Elias não se pode afirmar que uma sociedade ou indivíduo seja civilizada, mas sim vislumbrar o nível de civilização de cada sociedade, uma vez que o recorte apresentado demonstra que o conceito foi criado dentro de uma sociedade cujos valores estabelecidos serviram de parâmetro comparativo para afirmar suas posições em relação a outras sociedades consideradas menos civilizadas. Assim, reconhece que condições de aprendizado em sociedade são os fatores que impulsionam nossa disposição para nos tornarmos civilizados, dentro dos parâmetros aos quais cada sociedade se inclui, tanto na esfera individual, quanto na esfera de grupo. Nesse sentido, aponto que, na minha opinião, os conceitos apresentados de civilização, sua sociogênese e psicogênese, nesse recorte específico, traz consigo a origem dos equívocos relacionados às sociedades originárias em sua categorização como bárbaros ou pouco civilizados à época da colonização. A perspectiva Ocidental claramente impõe o modelo de civilização ao qual outros grupos, considerados bárbaros ou pouco civilizados, devem se submeter, e embora Aquino aponte a relativização feita por Elias onde o conceito de civilização deva ser empregado ressalvando o nível de civilização de cada sociedade, ainda assim, afirma que existe um nível de civilização a ser considerado, relativo aos hábitos de cada sociedade especificamente. Nesse sentido, sociedades complexas, diversas, não europeias, de culturas e hábitos peculiares poderiam ser consideradas civilizadas dentro de seus próprios critérios de civilização. Transpondo o recorte territorial e histórico à realidade dos povos americanos, aponto que, segundo Andrade Lima (1995, 1996, 1997) os hábitos da sociedade burguesa brasileira acompanhou, a partir dos séculos XVII, XVIII e XIX os mesmos parâmetros europeus e modelos de civilização, sendo imposto à sociedade escravista, uma transição para hábitos considerados corteses e civilizados de controle dos impulsos instintivos por meio das praticas corporais de saúde, por meio de mudanças sucessivas de hábitos e materiais de consumo e também por meio da implementação de rituais que, para sociedades europeias faziam sentido, mas que para o nosso contexto tropical não seriam adequados. A imposição de tais hábitos acompanhadas de artefatos cada vez mais complexos, na verdade buscava a criação de novos mercados de consumo à recente industrialização europeia que buscava o domínio e controle das colônias no processo imperialista de expansão de mercados. A relativização de Boas (1922) sobre antropólogos como Spencer, Tylor e Fraser, no intuito de desmascarar o conceito racista e evolucionista de visão eurocêntrica (Castro, 2009; Rocha, 1991) que se apresentava no trato com os povos nativos, também cabe, de uma maneira mais contundente que a relativização de Norbert Elias, uma vez que o conceito de civilização foi amplamente utilizado para classificar povos originários como bárbaros ou selvagens. Referências Bibliográficas ANDRADE LIMA, T. Pratos e mais pratos: louças domésticas, divisões culturais e limites sociais no Rio de Janeiro, século XIX. Anais do Museu Paulista, Nova Série, História e Cultura Material. 1995. Vol. 3: 129-191p. ANDRADE LIMA, T. Humores e Odores: ordem corporal e ordem social no Rio de Janeiro, século XIX. História, ciência, saúde – Manguinhos. 1996. vol. 2, nº 3, 4-96p. ANDRADE LIMA, T. Chá e simpatia: Uma estratégia de gênero no Rio de Janeiro oitocentista. Anais do Museu Paulista, Nova Série, História e Cultura Material. 1997. Vol. 5: 93-127p. AQUINO, S. L.; MENGEL, A, A. . Políticas públicas para o campo: da abordagem setorial à abordagem territorial. In: ARNALDO PROVASI LANZARA; FLAVIO GAITÁN. (Org.). olíticas Sociais e Desenvolvimento na América Latina: Paradigmas e Tendências. 1ed.Curitiba: Appris, 2018, v. 1, p. 1-20. BOAS, F. Mind of Primitive Man. New York. The Macmillan Company.1911. 294p. BRUNO, R. A. L.; JUNIOR, V. J. W. ; BORDALO, C. A. ; AQUINO, S. L. ; JALIL, L. Razões da participação de mulheres rurais em grupos produtivos. Mulheres Camponesas: trabalho produtivo e engajamentos políticos. 1ed.Niterói: Alternativa, 2013, v. 1, p. 1-431. BRUNO, R. A. L. ; AQUINO, S. L. ; JUNIOR, V. J. W. ; BORDALO, C. A. ; JALIL, L. . Organizações produtivas das mulheres assentadas da reforma agrária. In: ANDREA BUTTO; ISOLDA DANTAS. (Org.). Autonomia e cidadania: políticas de organização produtiva para as mulheres no meio rural.. 1ed.Brasília: MDA, 2011, v. 1, p. 55-86. BRUNO, R. A. L. ; BORDALO, C. A. ; AQUINO, S. L. . Sociabilidade e Gênero: notas a partir de um grupo produtivo de mulheres assentadas. In: REGINA BRUNO. (Org.). Um Brasil Ambivalente: agronegócio, ruralismo e relações de poder. 231ed.Rio de Janeiro: Mauad X, EDUR UFRRJ, 2009, v. , p. 7-284. CASTRO, C. Evolucionismo cultural. Textos de Morgan, Tylor e Frazer. 2ª ed. Rio de Janeiro Zahar, 2009. 86p. MENGEL, A, A. ; AQUINO, S. L. . Atores locais como criadores de conhecimento: um método para reconhecer soluções tecnológicas criadas na agricultura familiar. In: CELSO A. S. ALVEAR; CRISTIANO C. CRUZ; JOHN B. KLEBA. (Org.). Engenharias e outras práticas técnicas engajadas: volume 1: redes e movimentos. 1ed.João Pessoa: EDUEPB, 2021, v. 1, p. 323-354. MENGEL, A, A. ; AQUINO, S. L. ; DEPONTI, C. M. . 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