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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
HIS 461 - ESTÁGIO SUPERVISIONADO

RELATÓRIO FINAL ESTÁGIO SUPERVISIONADO

Orientador: Thiago Mota

Coordenador da disciplina: Thiago Mota

Álvaro José Feijó Neto - 90543

MIRACEMA
RIO DE JANEIRO
15/05/2021
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SUMÁRIO

1 RELATÓRIO 1 ................................................................. 02
1.1 Introdução .............................................................. 03
1.2 Perfil institucional ............................................................ 04

1.3 Proposta de desenvolvimento do estágio ............................. 06

2.0 Relatório 2 ........................................................... 10


2.1 Análise do material didático usado na escola .................... 10

2.2 Plano de aula ....................................................................... 17

3 A Aula .................................................................................. 19

4 A avaliação ...................................................................................... 19

5 Conclusão ..................................................................................... 26
REFERÊNCIAS ................................................................. 30
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Relatório 01

Introdução

Pensarmos no estágio é pensarmos no principal contato com o universo escolar, sendo


professores, que nós - estudantes de licenciatura- temos através da faculdade. É um momento
determinante da formação docente, onde nos é possível percebermos alguns dos meandros da
profissão e termos um contato maior com nosso público alvo, os alunos. Ao menos seria assim
se estivéssemos vivendo em condições normais sociais e sanitárias. Entretanto, em meio a uma
pandemia sem precedentes na história de nosso país todas as relações humanas foram
modificadas e o universo educacional foi um dos que mais sofreu com essa distância. A perda
do contato direto com os alunos e com o próprio universo escolar nos impõem novos desafios
para pensarmos o estágio e também nos limita o acesso a questões do dia a dia escolar, quando
em funcionamento normal.

Nessa perspectiva, não podemos perder de vista tais obstáculos, tais limites e também
as novas formas de se fazer educação que nos foram apresentadas nesse momento tão triste e
particular que vivemos. Sendo assim, a partir de agora irei discorrer sobre o andamento do meu
estágio e as decisões que foram tomadas em conjunto com o professor responsável pela
disciplina. Este relatório irá abarcar o perfil institucional da escola onde o estágio foi feito,
analisando o quadro profissional, o quadro de alunos, as condições físicas da escola e as
relações sociais que nela acontecem. Aqui também será exposto a proposta de desenvolvimento
do estágio onde irei discorrer acerca das experiencias em sala de aula, o contato com os alunos,
o contato com o professor responsável e também quais as funções pude exercer durante esse
período.

Em um segundo momento será apresentada o material didático trabalhado na disciplina


e uma análise acerca de seus prós e contras e de seu funcionamento e utilização pelo professor
responsável pela disciplina. Aqui também serão apresentadas as duas atividades realizadas por
mim enquanto estagiando, a ministração de uma aula de 50 minutos com a temática da
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contrarreforma da Igreja Católica e a correção de uma atividade realizada pelos alunos, vale
ressaltar que em todos os momentos do presente trabalho irei buscar dialogar com as
experiencias com bibliografias que já tive contato no decorrer da graduação.

Perfil institucional

O primeiro passo em um processo de estágio é a escolha da instituição de ensino em


que iremos estagiar, no meu caso, por conta da pandemia e por eu estar em minha cidade natal,
Miracema – RJ, a minha escolha foi a escola onde estudei por toda minha vida como aluno, o
Centro Educacional São José, uma escola privada e tradicional em minha cidade.

A escola antes da pandemia contava com cerca de 500 alunos, entretanto com esse
período de pandemia e as incertezas que ela carrega o número de alunos diminuiu para
aproximadamente 380 alunos, vale aqui ressaltar que a direção da cidade autorizou e suspendeu
as atividades escolares por diversas vezes durante o ano de 2021 aumentando ainda mais a
sensação de incertezas que já era um sentimento muito forte desde o ano de 2020. A escola é
localizada na principal rua da cidade, bem no centro. É uma escola que já possui 21 anos de
existência e a pelo menos uma década figura no posto de principal escola do município, com
uma grande taxa de aprovação nos vestibulares e com um quadro profissional muito capacitado,
contando com mestres e doutores.

A escola é localizada em um antigo hotel no centro da cidade e possui três andares. O


primeiro é destinado aos anos iniciais da educação básica e conta com um amplo espaço de
recreação para os mais jovens, possuindo brinquedoteca, um parque na areia e um campo de
futebol em espaço reduzido. O segundo andar possui 5 salas de aula, uma cantina, uma quadra
que serve de espaço de recreação durante o intervalo das aulas e uma cantina. O terceiro andar
possui 7 salas amplas e um laboratório de informática. A escola possui 6 banheiros e 4
bebedouros espalhados pelos andares. Todas as salas são equipadas com ar condicionado,
projetor de slides e nesse período de ensino hibrido, provocado pela pandemia, foi instalado
uma televisão em cada sala, onde a aula transmitida via google Meet fica passando nessa
televisão para que os alunos que optaram por continuar assistindo as aulas de forma remota
tenham uma maior aproximação do universo escolar e participem juntos com os alunos que
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optaram pelo ensino presencial. A escola funciona em dois turnos, o da manhã e o da tarde, e
as turmas não possuem mais que 35 alunos cada.

A disciplina de história nessa instituição é dividida em História Geral e História do


Brasil, onde o professor responsável pela supervisão do meu estágio é titular da disciplina de
História Geral.

Como falado anteriormente a instituição escolhida é uma instituição privada e com uma
mensalidade que gira em torno de quinhentos reais para o ensino fundamental e seiscentos e
cinquenta reais para o ensino médio. – Esse valor é passível de questionamento haja vista que
a escola é situada em um pequeno município no interior do estado do Rio de Janeiro. Logo
podemos deduzir que em sua grande maioria, os alunos veem de famílias de classe média ou
alta. A política de bolsas não é muito bem explicita, sendo uma negociação pessoal entre futuro
aluno e direção, a única política de bolsas explicitadas é para no caso de irmãos, onde a cada
irmão matriculado é recebido um desconto de dez por cento da mensalidade. Problemas como
falta de materiais eletrônicos para estudo ou falta de internet não foram relatados por esses
alunos, o que contrasta com grande parte da realidade brasileira.

Podemos assim deduzir que os alunos dessa escola, em sua grande maioria, estão em
uma posição muito mais privilegiada do que a grande maioria dos estudantes brasileiros. A
escola conta com reforços escolares a tarde e pré-vestibular gratuito, na parte da tarde, para os
alunos matriculados no terceiro ano do ensino médio. O material didático utilizado pela escola
é o sistema ph de ensino, apostilas essas que precisam ser compradas individualmente pelos
alunos, por um preço bem elevado, entre 1200 e 1500 reais anuais pagos em apostilas, além de
uma lista de materiais que é entregue pela escola aos pais no momento de matrícula do aluno.
Aqui deixo minha opinião acerca do material didático adotado e da política educacional da
escola, tanto o material quanto a política educacional são voltados única e exclusivamente para
o ingresso em universidades, são materiais tecnicistas e práticas educacionais que visam única
e exclusivamente a aprovação dos alunos no ENEM, para levantar o nome da escola. Uma vez
que por ser uma cidade pequena, existe publicação em jornais e faixas nas ruas com os nomes
dos aprovados em cada escola particular, em uma espécie de competição por mais aprovações.
Sendo assim, a formação do senso crítico, a formação de cidadãos atuantes fica para segundo
plano, não quer dizer que essas ideias não estão lá, mas não são o foco da formação, o foco é a
aprovação para fazer o nome da instituição na cidade e na região. O ensino médio como dito
acima, possui dois professores de história, um responsável pela História Geral e outro
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exclusivamente para a história do Brasil, o que também é passível de críticas uma vez que essa
divisão pode reforçar uma ideia de que essas histórias são coisas distintas e separadas, causando
um certo distanciamento dos alunos da compreensão e da ligação entre os conteúdos ensinados.

Os alunos em sua grande maioria são oriundos da própria cidade, Miracema, mas a
escola também possui muitos alunos de cidades vizinhas, ainda menores e com menos
condições educacionais. É de se deduzir que a grande maioria dos alunos possuem alguma
condição financeira, uma vez que tudo é pago nessa instituição e não é por um valor barato,
sendo assim, salvo os alunos que possuem bolsa, que são bem poucos e são bolsas de
percentuais muito pequenos de desconto, podemos dizer que as famílias são ao menos de classe
média para cima e podemos também, ao explorarmos a questão do perfil dos alunos da
instituição, entrarmos em um debate ainda mais profundo, pois se compararmos o número de
estudantes brancos e o número de estudantes pretos fica gritante o grau de desigualdade social
e racional presente na cidade.

Nessa perspectiva, o que podemos concluir sobre a instituição de ensino escolhida é


que ela possui estruturas físicas e de pessoal muito bem preparadas para receber os alunos e
lhes fornecer uma boa preparação, entretanto traz consigo diversos problemas por ser uma
instituição privada e tudo que isso implica em questões de desigualdades sociais, raciais e até
mesmo de acesso a uma educação de qualidade que é o que todos merecem.

Propostas de desenvolvimento do estágio

A turma designada para o acompanhamento do estágio foi o primeiro ano do ensino


médio, acompanhando o professor de História Geral. O material didático utilizado na
instituição é o Sistema PH de Ensino, uma apostila muito bem conceituada no ramo
educacional, principalmente com o foco na preparação para os vestibulares, e segue os
cronogramas da BNCC, já divididas de acordo com novo ensino médio e suas divisões. Os
assuntos tratados nessa etapa do ensino médio são: Idade Antiga: Grécia e Roma, Idade Média,
Europa Moderna: Absolutismo, Mercantilismo e Expansão Marítima, Humanismo e
Renascimento, as Reformas e Sistema Colonial: América espanhola e América Inglesa. O
interessante aqui é analisarmos as temáticas em conjunto com o material didático e as
abordagens do professor. Qual referencial teórico ele usa, qual a concepção de educação vai
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ser empregada no decorrer da aula, como as relações aluno-professor são construídas dentro
desse espaço e como é a relação dos alunos com a questões das atividades.

Pude perceber que a escola e os professores estão se esforçando muito para tornar essa
nova forma de educação, online e a distância, mais interessante e fortuita para os alunos, através
de atividades e dinâmicas que incentivam os alunos a participar e a buscar informações.
Infelizmente como já apontado a cima, o principal objetivo da escola é a aprovação no
vestibular, logo a disciplina de história fica muito presa aos métodos tradicionais e o foco
principal é a resolução de questões que já caíram em vestibulares como forma de preparação.
É perceptível um esforço por parte do professor para trazer as novas ideais sobre história para
dentro da sala de aula, uma nova visão sobre fontes históricas, sobre a própria noção de
acontecimento histórico e a forma como a história é encarada na sociedade foram temáticas
que já surgiram nas falas desse professor no decorrer das aulas, entretanto ele fica um pouco
engessado para aprofundar mais essas questões pela necessidade de seguimento do livro
didático e pela necessidade de preparação excessiva através de questões para os vestibulares.

Aqui abro um parêntese para a explicação de como está sendo a relação de diálogo com
a escola e com o professor responsável, como já informado em e-mail e aqui mesmo nesse
relatório minha cidade está um caos em relação a covid e a escola optou por fazer um ensino
hibrido no começo do semestre letivo, entretanto diversas vezes as atividades foram
interrompidas e depois autorizadas novamente e logo em seguida interrompidas novamente,
nesse sentido tudo ficou atrasado e em diversos momentos a comunicação com o professor e
ou a escola foi impossibilitada.

Nesse sentido ainda não ficou totalmente decidido quais serão os caminhos que irei
seguir dentro do estágio, no que diz respeito às atividades por mim ministradas. O que ficou
mais ou menos conversado é que seria disponibilizado um tempo, mais ao final do estágio
(onde eu já estaria mais acostumado tanto ao ambiente, tanto aos alunos quanto à prática
docente propriamente dita) para que seja por mim ministrada uma aula. E eu também conversei
com o professor e solicitei a possibilidade de corrigir algumas atividades feitas pelos alunos,
uma vez que eu nunca tive contato com essa parte da prática docente dentro da universidade e
acredito que seria de extrema valia para minha formação profissional. Mas como dito, não
existe nada ainda totalmente combinado e isso está sendo analisado e estou procurando de todas
as formas um posicionamento mais efetivo por parte da instituição e do professor.
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A ideia aqui seria ministrar uma aula de 50 minutos, onde a temática central seria ou o
renascimento italiano ou a reforma protestante e também a correção de um bloco de avaliações
da turma (eles fazem 3 avaliações e um simulado com todas as disciplinas por bimestre) em
conjunto com o acompanhamento via Meet das aulas ministradas pelo professor titular. Na
realização da minha aula irei procurar desenvolver um caminho que supere essas questões
postas aqui por mim, de superação da narrativa tradicional, de superação de uma mecanicidade
de resolução de questões, talvez aproveitar a finalização do assunto e dar uma aula passando
pelos pontos gerais e trazendo algumas ideias e conceitos que não foram trabalhadas, trazendo
historias ignoradas pelo consenso do livro didático, sempre pautado em uma teoria crítica,
pensando bastante o lado político dos processos e preparando os alunos para uma atuação mais
ativa fora do universo escolar.

“É possível constatar, que quando o ensino de História é apresentado com reflexão em


sala de aula, a aprendizagem dos estudantes torna-se mais significativa, sendo capaz de romper
com os padrões tradicionais da aprendizagem neutra, passiva e fragmentada, ainda presente em
alguns contextos educacionais.”¹ 1 É nesse sentido de entendimento do ensino de história que
tenho por objetivo trabalhar, indo além do livro ou principalmente confrontado o livro didático,
uma vez que sabemos que os alunos têm mais fé no livro do que no professor, muitas vezes.

Minha outra proposta é a correção de atividades feitas pelos alunos, atividades aqui
encaradas como uma ferramenta de orientação da aprendizagem e não como uma medição do
que foi apreendido ou medição da capacidade do aluno. A ideia seria através da análise dessas
avaliações tecer comentários individuais acerca dos pontos que foram acertados pelos alunos e
direcionar ou orientar aqueles pontos em que não houve acertos, sem julgar ou diminuir o
aluno, pelo contrário, buscando através desses comentários incentivar esses alunos a chegarem
ainda mais longe, reconhecendo seus esforços e suas lutas individuais (que não podem ser
ignoradas em momento nenhum, mas principalmente no caos que vivemos hoje no brasil).

No geral, sei que o relatório não está muito completo e não atinge todos os objetivos
propostos na apresentação da atividade, entretanto ele serve como um aporte geral do andar do
estágio e uma projeção do que espero ainda conseguir fazer dentro desse processo. De qualquer
forma, já está sendo uma experiencia muito enriquecedora (mesmo com todos esses percalços

1
OLIVEIRA, Rosane Machado de. História: A Necessidade de Repensar o Ensino
de História no Âmbito Educacional e Social. Revista Científica Multidisciplinar
Núcleo do Conhecimento. Edição 05. Ano 02, Vol. 01. P. 02
, Julho de 2017
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no caminho) e tem tudo pra ser ainda mais proveitoso daqui pra frente, com uma maior
participação, maior analise e maior diálogo entre estagiando, professor e instituição.

Nessa primeira parte do trabalho, ainda de desenvolvimentos iniciais, questionamentos


e pensamentos do que fazer uma bibliografia em especifico muito me auxiliou. O texto
“História: A Necessidade de Repensar o Ensino de História no Âmbito Educacional e social”
de Rosane Machado de Oliveira. Onde a autora discute a necessidade de se repensar o ensino
de história, defendendo que por muitas vezes o conhecimento histórico não é interpretado e
consequentemente discutido de forma correta pelos professores. O objetivo central do texto é
compreender o processe de fragmentação do ensino de história e o despreparado de professores
para lidar com tais desafios, em consequência busca indicar caminhos para que tais dificuldades
sejam superadas. A principal dificuldade encontra-se na distância entre a teoria e a prática
docente, algo que muitas vezes foi discutido nas salas de aula de nossa universidade. Nessa
perspectiva “Há uma dificuldade em compreender a história e sua finalidade na escola, pois o
ensino, na maioria das vezes, não é crítico, não cativa, em muitos casos, não é comparado com
a vida dos estudantes.” ²2

“É possível constatar, que quando o ensino de História é apresentado com reflexão em


sala de aula, a aprendizagem dos estudantes torna-se mais significativa, sendo capaz de romper
com os padrões tradicionais da aprendizagem neutra, passiva e fragmentada, ainda presente em
alguns contextos educacionais.” ³3 é com base nessa noção que guiei minha análise e busquei
pensar minhas práticas docentes dentro do estágio.

A autora postula que o estudo da história analisa e estuda o passado na tentativa de


dialogar com o presente e que o ensino de história deve desenvolver-se em prol da realidade
local dos alunos, ou seja, fazer o uso do cotidiano dos alunos como ponto de partida para as
discussões históricas, numa tentativa de aproximação entre aluno e objeto de conhecimento.

Nessa perspectiva “é necessário que o docente desenvolva propostas pedagógicas


articuladas entre o fazer História e o fazer pedagógico, tendo por objetivo, a construção do
saber histórico, buscando a participação ativa dos estudantes, e oferecendo condições aos
alunos de fazer e construir História nos diversos espaços.” 4

2
Idem.

3
Idem.

4
Ibidem. P.22
10

Assim sendo, esse texto contribuiu para uma maior reflexão a cerca o ensino da história
dentro do universo das escolas e quais as maiores dificuldades encontradas pelos professores
para realizar tais tarefas, a autora também aponta caminhos para que se consiga superar tais
barreiras e em meu ponto de vista, suas posições são muito válidas para colocar em prática um
ensino de história que cative os alunos, que os formem criticamente e que dialogue com o
presente, formando assim pessoas capazes de agir no meio e se referenciarem com
conhecimentos já passados.

Relatório 02

O segundo momento de desenvolvimento do relatório será focado em pensar o livro


didático trabalhado dentro de sala de aula com a turma do primeiro ano do ensino médio, da
escola Centro Educacional São José. A análise irá pautar-se em uma descrição dos conteúdos
apresentados dentro do livro em conjunto com um resumo do que foi entendido como sendo o
foco do ensino de cada etapa, as atividades propostas no livro também serão analisadas e será
utilizada uma bibliografia de apoio para pensar qual o real papel do livro didático dentro do
processo de ensino e aprendizagem e qual é o papel que a escola em questão coloca para esse
livro. Em um segundo momento serão apresentadas as duas atividades que foram por mim
desenvolvidas dentro do estágio, que foram a aula de cinquenta minutos com a temática da
contrarreforma Católica e a correção de um bloco de atividades da turma em questão.

Análise do material didático usado na escola

Como já mencionado no primeiro relatório a escola trabalha com as apostilas do


Sistema PH de ensino. São quatro cadernos, divididos de forma bimestral, para cada turma. O
professor também possui quatro cadernos, esses contendo as respostas das atividades dos
cadernos e algumas dicas de materiais extracurriculares para complementação das aulas. A
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analise presente nesse trabalho será do Caderno 1, do primeiro ano do ensino médio,
correspondente ao primeiro bimestre escolar – que compreende o período de estágio.

Vale aqui ressaltar que existe um ambiente online, muito bem organizado, pelo sistema
PH que fica disponível tanto para professores, quanto para alunos. Onde são encontrados os
cadernos didáticos, um banco de questões com mais de quinze mil questões, locais para envio
de provas e atividades, entre outras funcionalidades. Ou seja, existe um ambiente escolar
completo, de forma online dentro dessa plataforma. A plataforma chama-se PLURALL. É
através dela que estou tendo acesso aos cadernos didáticos e as atividades feitas pelos alunos.

O caderno didático logo em seu início possui uma relação de todas as competências e
habilidades que se espera serem desenvolvidas no decorrer do bimestre, seguindo o indicado
na BNCC. São seis módulos que compõem o primeiro caderno. Sendo eles Idade Antiga:
Grécia e Roma, Idade Média, Europa Moderna: Absolutismo, Mercantilismo e Expansão
Marítima, Humanismo e Renascimento, as Reformas e Sistema Colonial: América espanhola
e América Inglesa. Esses assuntos estão divididos ao longo de 121 páginas. Divididos de forma
mais ou menos iguais. Os assuntos são rapidamente explanados em poucas páginas, na
sequencia existe uma apresentação de dois ou três pequenos textos que relacionam o tema com
assuntos atuais e na sequencia uma grande quantidade de questões, todas de bancas
universitárias, o que vai de encontro ao exposto no primeiro relatório sobre a questão do foco
quase total em preparação para vestibulares através da repetição excessiva de questões.

No primeiro módulo acompanhamos as civilizações clássicas, a origem da Grécia


Antiga, o nascimento da Democracia ateniense, o lugar dos cidadãos na sociedade grega, o
lugar das mulheres na sociedade e o lugar dos escravos na sociedade. Passamos então para
Roma antiga, a origem, a república romana, o império romano, a romanização do mundo
antigo, a queda do império do ocidente a difusão do cristianismo e as invasões barbaras são os
assuntos abordados dentro desse primeiro módulo. O foco principal dentro desses assuntos é
compreender o surgimento e a consolidação de algumas práticas políticas em que as bases
foram herdadas pelo ocidente dessas civilizações. Após a explanação desses assuntos são
apresentadas aos alunos três situações problemas que relacionam o conteúdo apresentado a
questões atuais e em sequência vem a lista de exercícios, composta por questões discursivas e
questões de múltipla escolha.

O segundo módulo é sobre a Idade Média e de cara já me chamou a atenção uma citação
de Le Goff, bem na página introdutória ao módulo. Uma citação que quebra o senso comum
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da idade média como uma idade das trevas e ressalta diversos pontos que se desenvolveram na
Idade Média e que são de extrema importância para a sociedade até os dias de hoje. Os assuntos
tratados são o surgimento do feudalismo, a descentralização política nesse período, o conceito
de servidão (que é central para entendermos a Idade Média e o próprio feudalismo), a sociedade
feudal, a influência da Igreja durante o período, as Cruzadas, a relação entre Igreja e cultura
medieval, a baixa Idade Média com seu crescimento demográfico e o ressurgimento das
cidades e do comercio e a crise do século XIV. O ponto central que o módulo se propõe é a
quebra do paradigma de que a Idade Média foi um período de trevas, demonstrando que esse
senso comum foi algo construído posteriormente pelo renascimento e pelo iluminismo,
demonstrando que diversas instituições, práticas e costumes da Idade Média ainda hoje se
fazem presentes e são importantes dentro da sociedade, como as universidades. Segue-se a
mesma configuração do módulo um no sentido de uma lista de exercícios extensa e composta
por questões discursivas e de múltipla escolha.

O terceiro modulo trata da Europa moderna, os assuntos tratados são o Estado moderno,
o Absolutismo e poder dos reis, o mercantilismo e a expansão marítima e comercial. Após essa
explanação é apresentada ao aluno uma situação problema relacionando esses assuntos às
atualidades e em sequência vem a lista de questões, na mesma forma que nos módulos
anteriores. O foco aqui é o entendimento das relações entre a expansão comercial e marítima
e a formação do estado moderno, contribuindo para a transformação da Europa no “centro do
mundo” nas palavras do próprio caderno didático.

O quarto módulo trata do Humanismo e do Renascimento, onde o foco central de


entendimento é o papel desenvolvido por essas correntes no papel de contestação ao
teocentrismo medieval. Destacando a falta de uniformidade dentro do movimento humanista
onde o foco central era um novo entendimento acerca das escrituras e a valorização da arte
greco romana, demonstrando que o renascimento é o resultado do florescimento dessas ideias,
que contou com o auxílio da propagação da imprensa e das novas rotas de comercio formadas.
A situação problema apresentada busca relacionar tais assuntos ao surgimento das novas mídias
sociais e as novas formas de transmissão de informações. A lista de exercícios apresentada
segue o mesmo padrão das anteriores.

O quinto módulo é intitulado as reformas, e trata da crise da igreja católica, da reforma


luterana, da reforma calvinista, da reforma anglicana e da reação da igreja a essas reformas, ou
seja, a contra reforma, ao fim do módulo é apresentado um texto em que são demonstrados
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diversos pontos de vista acerca das reformas e em sequência é apresentada a situação problema
em que o assunto é relacionado a atualidade através de um texto que trata da adequação das
igrejas ao mercado. O ponto central aqui é entender como as transformações passadas pela
Europa entre Idade Média e Idade Moderna impactar a até então mais importante instituição
do mundo ocidental e como essas transformações causaram uma ruptura com o pensamento
medieval, até então dominante no seio da igreja católica. A lista de exercícios, mais uma vez,
segue o mesmo padrão das anteriores.

O sexto módulo trata sobre os sistemas coloniais da américa inglesa e da américa


espanhola. Buscando entender os desdobramentos da expansão marítima e comercial, o choque
cultural causado pelo contato entre europeus e nativos americanos, a inserção do novo mundo
na lógica mercantilista e as práticas do colonialismo inglês e espanhol. A situação problema
apresentada relaciona esses assuntos à atualidade, tratando sobre a reforma agrária boliviana e
a redistribuição de terras aos indígenas e um outro texto tratando sobre a compra de uma rede
de restaurantes e cassinos por parte de uma tribo indígena américa. A lista de exercícios
apresentada segue a lógicas das anteriores.

Uma bibliografia interessante para relacionar com o assunto tratado é o texto de


Christian Laville, a guerra das narrativas. Onde o autor discorre acerca dos objetivos da
disciplina de história dentro do processo de ensino e aprendizagem em diversas épocas e as
mudanças que este vem sofrendo. Onde o principal questionamento que fica é o de que para
que serve a história ensinada. E as mudanças que essa perspectiva veio sofrendo com o passar
do tempo. Onde a principal narrativa histórica, com ampla divulgação, encontra-se no livro
didático, faz-se super necessário pensarmos essa guerra de narrativos no processo de ensino e
de aprendizagem.

Em um primeiro momento o ensino de história nas escolas não tinha outro papel que
não o de educação cívica, uma educação que buscava formar os sentimentos nacionais e criar
cidadãos- súditos. Com o fim da segunda guerra mundial e a consequente vitória da
Democracia, o ensino de história muda de direção, visando agora a formação de cidadãos
participantes e não mais cidadãos súditos. Nessa perspectiva a ideia de educação para a
instrução nacional é substituída pela educação para a cidadania.

De maneira geral, desse ponto em diante era preciso tornar os jovens capazes de
participar democraticamente da sociedade e desenvolver neles as capacidades intelectuais e
afetivas necessárias para tal. Os conteúdos fatuais passavam a ser menos determinados de
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antemão, abrindo-se à variedade e ao relativo. Nessa perspectiva, o mais importante é que,


como o desenvolvimento das capacidades se dá com a prática, a pedagogia da história passava
de uma pedagogia centrada no ensino para uma pedagogia centrada nas aprendizagens dos
alunos.

O autor destaca que mesmo tendo a maioria dos países ocidentais seguido esse caminho,
as guerras de narrativas agora encontram-se centradas nos conteúdos factuais ensinados, em
uma guerra de o que deve ser ensinado e o que deve ser silenciado. O autor também destaca
que mesmo tendo sido superado a ideia de história como auxiliar na formação da identidade
nacional, sempre que o questionamento acerca da disciplina volta ao jogo dos debates é nessa
ideia que sempre é evocado.

O autor nos apresenta cinco situações em que esse paradoxo é encontrado: para lutar
contra estados, para manter a ordem estabelecida, quando os estados se reconstituem, e para
definir uma identidade supranacional.

O segundo paradoxo apresentado pelo autor é o da crença em um ensino de história


fechado que fomente o sentimento de identidade nacional, citando o exemplo do Quebec que
por mais de meio século foi ensinado através da história a se sentir pertencente e a amar o
Canadá, mas mesmo assim formou-se um movimento separatista. O autor também cita o
exemplo da União Soviética, entre alguns outros exemplos utilizados pelo autor.

Por fim, o autor destaca que essa noção de a narrativa histórica controlar os sentimentos
e as noções de identidade, nos dias de hoje, pode não passar de uma ilusão, tendo os meios de
comunicação, a família e as relações sociais muito mais poder do que o próprio ensino da
história.

Entretanto o autor destaca que não podemos perder de vista a ideia de uma história que
busque formar indivíduos autônomos e críticos e levá-los a desenvolver as capacidades
intelectuais e afetivas adequadas, fazendo com que trabalhem com conteúdos históricos abertos
e variados, e não com conteúdos fechados e determinados como ainda são com frequência as
narrativas que provocam disputas.

Esse texto é muito interessante para pensarmos a produção dos materiais didáticos, que
são, em via de regra, o maior difusor das narrativas históricas e serve como uma base para
trabalharmos com os alunos dentro de sala de aula a ideia de que o que está ali no livro didático
não é uma verdade absoluta, mas sim uma visão, selecionada e escrita por uma pessoa ou
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empresa específica que possui objetivos e ideias para com a finalidade desse escrito. É nessa
perspectiva que busquei trabalhar a minha aula dentro desse estágio e irei buscar trabalhar
sempre enquanto docente.

É interessante pensarmos esse ponto, uma vez que como já mencionado tanto o livro
didático quanto a forma de guiar a aula são totalmente focados no Enem e demais processos
seletivos universitários, nesse sentido não existe muito espaço para a problematização dos
conteúdos e discussões de demais pontos de vistas acerca dos assuntos tratados, o foco aqui é
somente a preparação e a repetição através de exercícios, para uma melhor preparação visando
única e exclusivamente a aprovação. Questões como a formação de cidadãos ativos e
conscientes do processo de produção historiográfica e ou conscientes de outras formas de
enxergar um mesmo assunto passam batidos.

Um outro texto que me ajudou a pensar as questões do material didático da escola em


questão foi o texto recomendado na bibliografia complementar da disciplina de Laboratório de
ensino de história 1, um texto de Circe Bittencourt intitulado Livros didáticos entre textos e
imagens, contido no livro O saber histórico na sala de aula.

A autora inicia o texto nos dizendo que a Educação é um processo pelo qual a cultura
se perpetua nas gerações futuras, porque a cultura tem um caráter conservador e a educação
também, e que por isso os livros didáticos são instrumentos da efetivação deste processo. E
assim, como todos os instrumentos da cultura, os livros didáticos não estão isentos de
intencionalidade; eles não são, nem poderiam ser, intrinsecamente imparciais.

O texto nos apresenta o processo capitalista que domina e interfere na produção do livro
didático. Isso se aguça no texto quando nos é apresentado o livro didático como um produto e
também um reprodutor cultural complexo, que mobiliza diversos setores da sociedade,
abrigando e reproduzindo todas as contradições da classe dominante, instrumento que permite
ao poder se manter mesmo nas gerações futuras, por meio do currículo e do professor.

Em relação à questão da formulação dos livros, Bittencourt identifica que os seus usos
pelos professores podem servir para transformá-lo em ferramenta a serviço de uma educação
autônoma e não como ferramenta de manutenção do status quo como muitas vezes é feito. Aqui
entrando em outra questão bastante discutida no texto, que fala sobre os usos da iconografia
dentro dos livros didáticos e quais os papéis que ela pode trazer para a criação de uma educação
mais libertadora. Destacando que as imagens não podem ser vistas como concorrentes dos
textos, mas como complementares ou então como uma forma de questionamento ao discurso
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dominante. As imagens permitem aos alunos que não têm tanta facilidade com a leitura ter,
eles também, algum contato com a História. Diversificar o quanto possível as formas de
compreensão da realidade significa garantir que uma quantidade maior de alunos se conectará
com os conteúdos que o professor que abordar. As imagens não são inimigas do livro didático,
nem da educação, elas são instrumento da educação. Elas se tornam problemas quando são
reduzidas à categoria de exemplificadoras do texto. Mas ao serem abordadas como gatilhos
para questões, elas são sim capazes de mobilizar o interesse, a criatividade e a curiosidade dos
alunos, fazendo uma espécie de aproximação entre aluno e objeto de ensino.

Essas imagens abrem a possibilidade de o professor trabalhar em diversas frentes de


questões e ou teorias, podem ser analisadas histórica, filosófica ou sociologicamente por
exemplo. Um outro ponto que me chamou bastante atenção no texto foi o questionamento que
a autora trás em relação aos usos indiscriminados das figuras dos heróis nacionais, por
exemplo. Uma vez que elas não podem servir somente como a reprodução do discurso
dominante e a fixação dos ideais que essas imagens carregam consigo, o que acontece em
grandes partes dos livros didáticos. Essas figuras são de grande valia, mas quando trabalhadas
sendo problematizadas, questionando por exemplo, o por que essa pessoa foi escolhida como
herói e não outra que também teve um papel importante em determinado momento histórico.
Questionar quais os interesses por trás dos grupos que colocaram essas figuras como heroínas
nacionais. E também pensar o por que a permanências dessas figuras durante tanto tempo, são
alguns dos caminhos que podem ser tomados por professores ao utilizar tais recursos que
sempre estão presentes nos livros didáticos.

Nessa perspectiva, de acordo com o que foi apresentado acerca do material didático do
primeiro ano do ensino médio da escola Centro Educacional São José, o texto de Circe nos
ajuda a pensar a produção do livro didático e nos ajuda a pensar a quais interesses esse livro
didático totalmente voltado para a aprovação em vestibulares responde e a quais tipos de alunos
esse livro pretende formar. Como dito anteriormente o livro utilizado da escola é composto por
uma breve apresentação das temáticas exigidas pela BNCC, e é composto por uma ampla gama
de questões, todas de bancas de vestibulares federais, com um foco totalmente voltado para a
resolução de questões e a preparação para a aprovação nos mais variados processos seletivos.
A questão da utilização de iconografias complementares, também trata por Bittencourt, está
presente no material didático, mas falta uma proposta de problematização dessas imagens
dentro do livro didático, ficando esse papel a cargo do professor, que por muitas vezes,
conforme acompanhei as aulas não foi feita.
17

Agora será apresentado o escopo do plano de aula elaborado e que foi buscado colocar
em prática no momento da aula ministrada durante o estágio. Em sequência seguirá um relato
de como se deu realmente a aula, com todas as dificuldades e experiencias vivenciadas.

Plano de aula

O guia central das temáticas abordadas será o livro didático, mas em hipótese nenhuma,
a aula será exclusivamente pautada por ele. . A ideia é para além dos conteúdos centrais,
apresentar aos alunos os livros Elogio da Loucura, de Erasmo de Roterdan e Queijos e Vermes
de Carlo Guinzburg, visando através da apresentação dessas obras aguçar o interesse dos alunos
para além do livro didático e também e principalmente através do livro de Carlo Guinzburg
trabalhar a temática pautando-se na experiencia individual de Menocchio. Uma vez que
entendo ser uma ferramenta de maior aproximação entre o assunto tratado e que sirva muito
bem de ilustração para mostrar aos alunos como se dava o processo inquisitório. A ideia aqui
era a apresentação de literatura complementar também buscando aguçar aos alunos o gosto
tanto pela historiografia como pela literatura em geral. Entretanto com a pouca experiencia em
sala que ainda possuo, percebi que é uma tarefa mais difícil do que a imaginada, essa questão
de tratar a temática central e também uma literatura que acrescenta ao assunto central. O tempo
foi pouco para que todas as ideias ficassem amarradas e a comunicação com os alunos não foi
a melhor possível, julgo muito que pela falta de experiencia e também pela condição específica
que vivemos agora de ter que ser uma aula remota.

Público alvo:

1º ano do ensino médio

Aula ministrada de forma remota

Ferramentas utilizadas:

Slide, Google Meet e imagens e bibliografia complementar.

Tema:

A contrarreforma católica
18

Material de Apoio utilizado:

Livro Didático, Queijos e vermes e Elogio da Loucura.

Objetivos:

Entender o contexto em que se deu a contra reforma, o que foi a contra reforma e quais
as medidas adotadas pela Igreja Católica dentro desse processo de contra reforma. Buscar
demonstrar as torturas dirigidas pela Igreja Católica e a perseguição imposta aos supostos
hereges. Sempre pensando em trazer a discussão para a atualidade, fazendo um paralelo com o
que hoje é ser herege e quais os grupos ainda hoje são perseguidos, mesmo que de forma
mascarada, pela Igreja.

Metodologia:

Através da exibição de slides, contendo um resumo dos principais pontos sobre a contra
reforma, trabalhar o tema e buscar a participação dos alunos no processo. Dentro dos slides
estarão imagens que retratem a época e a exibição de uma bibliografia/ filmografia para os
alunos buscarem outros conhecimentos fora da sala de aula. (levando em consideração o
contexto da escola em questão, pode se julgar que esse exercício é mais possível do que em
outros contextos.)

Avaliação:

Para além da participação em aula, será pedido aos alunos a construção de um pequeno
texto em que relacionem um ou mais pontos principais das reformas (previamente tratadas pelo
professor responsável) com as respostas dadas pela Igreja através da contra reforma.

Bibliografia:

ERASMO, Desidério. Elogio da loucura. Trad. Paulo Neves, Porto Alegre: L&PM).

GINZBURG, Carlo. O Queijo e os Vermes: O cotidiano e as ideias de um moleiro


perseguido pela inquisição. São Paulo: Ed. Schwarcz Ltda., 1987

https://brasilescola.uol.com.br/historiag/contra-reforma.htm
19

A ideia aqui foi dialogar com as aulas anteriores, introdutórias para o assunto em
questão, e explorar pontos para além do que está contido no livro didático, explorando um
pouco de análise de iconografias (mais para ilustrar alguns processos de tortura, presentes no
próprio livro didático dos alunos) e também a apresentação da obra de Guinzburg visando uma
maior aproximação entre aluno e tema tratado. A disponibilização de bibliografias
complementares também será feita, visando incentivar outras leituras para os alunos e quem
sabe dessa forma criar um maior interesse para com a historiografia. A discussão de fontes
documentais e do processo de produção historiográfica também se encontra no horizonte dessa
aula proposta. Além do mais, não podemos perder nunca de vista a questão do contexto de
pandemia que estamos vivendo e o que esse contexto implica de diferente no fazer pedagógico.
Uma vez que a aula online implica em uma maior distância entre aluno e professor e como
estamos lidando com alunos do primeiro ano do ensino médio essa situação tende a ser ainda
mais delicada, haja vista que mesmo nós, terminando a graduação encontramos inúmeras
dificuldades de manter a participação e até mesmo o engajamento com as matérias. Nessa
perspectiva, esse momento específico em que o estágio está sendo feito nos trará outros
horizontes sobre a atuação profissional nos mostrando outros caminhos e outras relações a
serem construídas.

A Aula

A aula foi ministrada de maneira remota, haja vista que no momento em questão a
escola não estava em funcionamento hibrido, somente funcionando de maneira remota. Iniciei
a aula fazendo uma breve apresentação minha, falando sobre o estágio e que essa aula que seria
apresentada pelos alunos fazia parte das atividades propostas pelo estágio. Após essa breve
apresentação, deu-se início ao desenvolvimento do conteúdo propriamente dito. Apresentei,
via slide, as principais características da contrarreforma, buscando sempre um diálogo para
com os alunos. Em determinado momento foram apresentadas imagens de utensílios de torturas
utilizados pela inquisição. Em sequência comecei uma rápida explanação acerca do livro de
Guinzburg, na tentativa de ilustrar o momento estudado a partir dos relatos da vida de
Menocchio que o texto nos traz. Ao fim da aula foi apresentado também o livro de Erasmo
Carlos, como uma indicação de leitura para aqueles que se interessassem.

Conseguir manter a atenção e participação dos alunos não foi uma tarefa muito fácil e
por muitos momentos não foi da forma como eu imaginava, mas precisei ter jogo de cintura
20

para prosseguir a aula e tentar terminar o trabalho da melhor maneira dentro das circunstancias
possíveis. Pude perceber que no momento da exibição das imagens acerca dos processos de
tortura que ocorriam durante a inquisição foi o momento em que os alunos mais ficaram
participativos e interessados na aula.

Outro ponto que me chamou a atenção positivamente foi que eles realmente se
interessaram na parte em que utilizei da aula para falar sobre o Livro Queijos e Vermes, onde
eu achei que seria a maior dificuldade da aula, na verdade se mostrou uma alternativa bastante
interessante e de muita valia para ser utilizada no futuro enquanto docente de história, com toda
certeza me mostrou também a necessidade, bem grande, de maior pesquisa e aprofundamento
nas questões pedagógicas e de um melhor planejamento sobre o que realmente fazer em sala
de aula, mas acredito que tudo isso é justamente o que esse processo de estágio busca nos
mostrar e desenvolver.

Nessa perspectiva, acredito eu que foi de muita valia a aula, mesmo não saída
totalmente como planejado e também com as diversas dificuldades encontradas em guiar a aula
da melhor maneira, serviu como uma grande experiencia. Uma forma de melhor comunicação
com os alunos e de melhor amarra entre os assuntos tratados, em minha visão, ficou clara essa
necessidade.

Outro ponto que pra mim saltou aos olhos é a questão de que se tivéssemos a
oportunidade de outros momentos de estágios mais prolongados assim em outras disciplinas
pedagógicas, chegaríamos nesse ponto final do curso muito melhores preparadas para o
universo da sala de aula, pois o sentimento que fica é de que muita teoria foi aprendida e
passada, mas a colocação em prática dessas teorias, pelos mais variados motivos ficou em
segundo plano. Ainda mais no meu caso, que comecei o curso em 2016 e a configuração das
disciplinas era diferente da atual.

A avaliação

Conforme exposto anteriormente, foi solicitado ao professor responsável pela disciplina


que eu pudesse corrigir uma avaliação feita pelos alunos do primeiro ano do ensino médio, uma
vez que em minha visão a avaliação faz parte de um importante parcela do processo de ensino
e aprendizagem e meu contato com essa questão nos anos de graduação foi estritamente teórica.
O pedido foi atendido e eu fiquei responsável por uma avaliação composta por 10 questões de
21

múltipla escolha que abarcava os assuntos das Reformas religiosas europeias. Aqui cabe uma
reflexão acerca do modelo de prova, composta somente por questões de múltipla escolha, mais
uma vez ressaltando o foco da preparação na aprovação de vestibulares, e ressaltando que a
falta de questões discursivas prejudica o desenvolvimento do senso crítico e do
desenvolvimento da argumentação dos alunos.

Por ter sido uma prova composta somente por questões de marcar, a questão da
atribuição de uma nota foi tornada muito mais fácil do que realmente é, uma vez que nesse tipo
de questão só existe o certo e o errado. Mais fácil para o professor atribuir nota, mas não tão
válido para pensar a qualidade do ensino que está sendo apreendido pelos alunos e por muitas
vezes essa nota pode desmotivar totalmente um aluno que se dedicou, mas não pode alcançar
o desempenho desejado por ficar engessado em suas respostas.

O desempenho da turma foi de maneira geral bom, com 80% dos alunos tirando nota
acima da média e 15% dos alunos com nota na risca, os outros 5% por cento obtiveram nota
menor que a média. Vale aqui ressaltar que não foi somente eu que corrigi as provas, depois o
professor responsável também as corrigiu e nós comparamos nossos resultados, tendo sido
iguais.

A avaliação da aprendizagem é um importante fator dentro do processo de ensino e


aprendizagem. Utilizado para avaliar a evolução ou não dos alunos sobre os assuntos abordados
em sala. Entretanto a avaliação não pode se prender a ser somente uma medição de notas,
devendo levar em consideração os mais variados processos dentro do ensino.

A avaliação se faz valer tanto para professores quanto para alunos, servindo para que
se tenha uma noção de como está o processo de ensino e aprendizagem, mas também guiando
para os aspectos que precisam ser melhorados, mostrando caminhos que precisam ser
reforçados e através das principais dificuldades observadas na correção das atividades, bolar
estratégias pedagógicas para um melhor reforço dos assuntos em questão.

Vale ressaltar que não existe somente um modelo de avaliação. As avaliações podem
ser a participação dos alunos nas aulas, pode ser uma autoavaliação, pode ser através de uma
prova (como no caso em questão), pode ser um trabalho em grupo, um trabalho escrito e
diversas outras formas.

O artigo Interfaces entre Avaliação e Currículo de História no Ensino Médio, nos


acrescenta algumas informações de muita valia para pensarmos tais questões. o artigo trata
22

sobre uma pesquisa que investigou as bases do Programa de Avaliação da Aprendizagem


Escolar (PAAE), em Minas Gerais, identificando o modo pelo qual os itens de teste adotados
atendem aos objetivos pedagógicos anunciados, e as implicações desse programa no currículo
escolar da disciplina de História do Ensino Médio.

Os autores defendem que a escolha de determinados conceitos para guiar sua prática
pedagógica traz consigo problemas e silenciamentos de outros conceitos que também seriam
de grande valia para a prática docente. Escolher o conceito de avaliação por exemplo, significa
silenciar outros métodos e processos que trariam as mesmas informações e talvez até mais
benefícios do que a forma como as avaliações são entendidas em grande parte do campo
educacional, como são entendidas não - mas sim como são aplicadas.

Os autores defendem que para além de problematizar o real papel da avaliação nos
programas educacionais, faz-se necessário também investigarmos as concepções pedagógicas
que tais programas se fundamentam. Nesse ponto os autores postulam que pesquisadores
defendem a discussão acerca das questões do campo de avaliações relacionados aos currículos,
uma vez que ambos andam de mãos dadas, nas mais variadas concepções educacionais.

Os autores analisam os principais documentos curriculares, oriundos do contexto de


organização da oferta do ensino médio, dos anos de 1996 a 2015 em âmbito nacional. O que
fica evidenciado é que à medida que as políticas de avaliação ganhavam destaque no sistema
educacional brasileiro, a busca por uma matriz de referência para essas avaliações intensificou-
se, com forte influência da concepção de educação por competências. Concepção presente nos
PCNS e nas orientações curriculares para o Ensino Médio, documentos que influenciam as
propostas curriculares de todos os Estados do País. A maioria dos documentos não
problematiza a adoção da abordagem da educação por competências, pelo contrário acaba por
naturalizar o termo. Essa tendência de valorização do discurso das competências e da avaliação
formativa, observada em cenário internacional desde a década de 1980, é perceptível nas
reformas curriculares e nos programas de avaliação que seriam desenvolvidos no Brasil a partir
da década seguinte.

Nessa perspectiva, os autores afirmam que os discursos das vantagens e benefícios


promovidos por sistemas e programas de avaliação pautados na abordagem das competências
tendem a, como já falado anteriormente, ocultar a real dimensão da complexidade do conceito
de avaliação, em favor de concepções reducionistas e que desconsideram a pluralidade de
23

conceitos relacionados ao currículo, à avaliação, a didática e a outros elementos do processo


de ensino e aprendizagem.

Podemos assim perceber algumas das dificuldades que são encontradas dentro do
processo avaliativo e o quão complexo esse assunto é, estando relacionado às mais variadas
tendencias e concepções dentro do processo docente, tendencias e concepções essas que não
podem ser ignoradas quando o professor buscar ser efetivo no emprego dos processos
avaliativos.

O livro Avaliação da Aprendizagem Escolar: estudos e proposições, do conceituado


educador Cipriano Luckesi, é considerado um clássico da pedagogia brasileira. A obra aborda
a questão da avaliação da aprendizagem escolar de forma crítica e para isso o autor utiliza-se
de ferramentas como analise de diferentes áreas do conhecimento, cruzando referencias entre
filosofia, sociologia, política e pedagogia.

Mesmo muito já tendo sido pesquisado e discutido acerca do tema, a verdade é que
muitas escolas ainda entendem a avaliação como um fim em si mesma, existindo de forma
autônoma e sem vínculos com o projeto político pedagógico da escola. O resultado dessa noção
acaba sendo por muitas vezes desgastante tanto para a escola quanto para o aluno: a
proliferação de autoritarismos e da exclusão. O capítulo introdutório concentra boa parte da
visão do autor, pois é ali que são apresentados os contextos de produção de cada um dos artigos,
vinculados ao próprio percurso de investigação dele sobre o tema. E é nesse primeiro capitulo
que foquei para me ajudar a pensar os processos avaliativos, sendo incentivado pela atividade
que tive que cumprir dentro do estágio.

O primeiro capítulo da obra é intitulado “A aprendizagem da avaliação” e o autor nos


deixa um subtítulo um tanto quanto sugestivo: sobre a necessidade de o educador aprender a
avaliar a aprendizagem. Ou seja, antes de avaliar, temos que aprender a avaliar, e é isso que
falta na grande maioria dos educadores.

O autor nos mostra que a história da avaliação da aprendizagem é recente. Somente em


1930, com Ralph Tyler, começou-se a pensar em Avaliação da Aprendizagem, buscando sua
compreensão e divulgação. Em contrapartida, a história dos exames escolares que ainda hoje
praticamos é um tanto mais longa, datando dos séculos XVI e XVII.
24

Luckesi destaca que Raph Tyler, depois de séculos em que o sistema de exames
escolares já estava consolidados, preocupou-se com o fato de que com esse sistema de
avaliação, a cada cem crianças que ingressavam na escola, somente trinta eram aprovadas, e
Tyler achou esse número muito alto.

Nessa perspectiva Tyler propôs então um modelo de avaliação que buscasse ensinar
alguma coisa, diagnosticasse sua consecução, no caso de uma aprendizagem satisfatória - segue
em frente, e no caso de uma aprendizagem não satisfatória houvesse uma reorientação, tendo
em vista a obtenção do resultado satisfatório, destino evidente da atividade pedagógica escolar

Entretanto Luckesi afirma que essa proposta, por mais simples e correta que nos pareça,
ainda não foi totalmente colocada em prática. O autor postula que o nosso sentimento comum,
na vida escolar, enquanto educadores tem sido o de examinadores e não de avaliadores, mesmo
nós tendo sofrido na pele a mesma coisa e já enquanto alunos percebermos que esse não era o
caminho adequado. Nesse sentido vale diferenciar as duas condutas, examinar se caracteriza
pela classificação e pela seletividade e o ato de avaliar se caracteriza pelo diagnóstico e pela
inclusão, na visão do autor.

Luckesi explica que o educando não vai para a escola para ser submetido a um processo
seletivo; e, sim, para aprender. Interessa, portanto, ao sistema escolar que o educando aprenda,
e não aquele em que ele seja meramente reprovado.

Nós, educadores, temos que investir na “aprendizagem da avaliação”, pois, na maioria


das vezes, repetimos o que aconteceu conosco. Ou seja, fomos examinados por nossos
professores, através de exames escolares, agora somos examinadores de nossos alunos,
utilizando-nos dos mesmos instrumentos.

Nesse sentido, aprender a avaliar significa aprender a colocar os conceitos teóricos em


prática, mas para além disso aprender a praticar essa avaliação, buscando fugir do senso comum
a que estamos acostumados. O autor afirma que para aprender a avaliar em um primeiro
momento precisamos estar abertos a essa aprendizagem, depois devemos nos perguntar se
estamos satisfeitos com os desempenhos pedagógicos de nossos alunos, se não estivermos
satisfeitos, devemos investigar as causas dessa insatisfação, inclusive na nossa prática
pedagógica. Inclusive o método de avaliação pode ser um ponto super importante para estar
causando esses resultados insatisfatórios, ao utilizarmos instrumentos inadequados para aferir
os conhecimentos dos alunos, falta de entusiasmo e liderança por parte dos professores e a
incapacidade de avaliarmos as dificuldades dos alunos a tempo de sana-las antes da avaliação,
25

mas por outro lado a avaliação também serve para isso, para vermos os pontos que estão em
falta e melhorarmos eles, e não somente atribuir uma nota.

O autor finaliza dizendo que a mudança virá de nós, libertando-nos de amarras que a
muito nos acompanham na vida escolar e docente e também buscando sempre ser melhores e
mais interativos com os alunos e com os indicadores que eles nos oferecem.

Esse texto também vai de encontro com o já apontado anteriormente, em relação ao


papel das avaliações e como os professores devem se portar frente a elas. Levei em
consideração esses apontamentos no decorrer de minha atividade, entretanto por ser um
estagiando e estar engessado por uma avaliação de múltipla escolha ficou difícil colocar em
prática as diversas ideias super proveitosas que Luckesi nos apresenta.

Nessa perspectiva, a escolha por pedir a oportunidade de corrigir uma avaliação dos
alunos do primeiro ano do Ensino Médio se fez muito proveitosa e válida. Me levou a retomar
alguns textos e temáticas que eu já havia tido contato na graduação, mas que não estavam tão
frescas mais em minha memória e me trouxe um contato que até então não tinha existido, no
sentido de corrigir uma avaliação.

Trazendo também diversos aprendizados que serão de grande valia para a futura prática
docente, como por exemplo a necessidade de pensar formas avaliativas fora do padrão comum
e a necessidade de uma nova forma de se portar frente as avaliações, levando em consideração
questões para além somente da nota e do julgamento. Pelo contrário, o principal papel da
avaliação deve ser o de orientação da aprendizagem, no sentido de entendermos quais os pontos
foram bem aprendidos pelos alunos e aqueles que ficaram com uma defasagem e precisam ser
revistos, a avaliação também avalia o desempenho do professor, e não só dos alunos,
demonstrando ao docente quais pontos ele está acertando e quais pontos ele ainda precisa
melhorar em sua prática e em sua didática.

Realmente foi uma atividade que me trouxe muitas expectativas e abriu meus horizontes
acerca do fazer educacional e com toda certeza me ajudou a já no começo de minha caminhada
pensar formas de avaliação que fujam do padrão ao qual estamos acostumados, pelo menos nas
escolas. No sentido de pensarmos uma avaliação que nos ajude a identificar os processos de
aprendizagem, que nos ajudem a direcionar as próximas questões tratadas em sala de aula, a
necessidade de retorno a um assunto já tratado e até mesmo a necessidade de produção de uma
nova avaliação sobre a mesma temática na exceptiva de mensurar uma possível melhora na
aprendizagem após a tomada dessas outras atitudes.
26

Conclusão.

Nessa perspectiva, chegamos à conclusão do relatório final acerca do estágio realizado


com alunos do primeiro ano do ensino médio da escola Centro Educacional São José, na cidade
de Miracema – RJ. Foi um processo de imenso aprendizado, enormes desafios e a certeza de
que a escolha feita a seis anos atrás foi a correta. Especificamente no meu caso, esse estágio
foi muito valoroso, uma vez que ajudou a tapar algumas lacunas que ainda estavam presentes
antes da conclusão da graduação, lacunas que ainda existem e acredito eu sempre existiram
enquanto docente, uma vez que a docência é uma profissão que precisa sempre estar atualizada
e não é passível de ser seguida como uma receita, sempre estaremos em contato com novos
desafios, novas questões e novos aprendizados, o que torna a profissão ainda mais interessante,
no meu modo de ver.

Quero deixar aqui registrado o quão gratificante foi retornar à escola onde estudei por
toda minha vida de aluno e ainda mais, estagiar com um professor que me deu aula no ensino
fundamental e médio. Tudo isso me despertou sentimentos dos mais diversos possíveis, mas
em sua maioria sentimentos bons e como já dito anteriormente, uma sensação de ter acertado
na escolha da graduação e futura carreira profissional.

Como vimos anteriormente, a escola em questão é uma instituição privada localizada


no centro de um pequeno município do interior do estado do Rio de Janeiro. Conta com
mensalidades que variam de quinhentos a seiscentos e cinquenta reais e um programa de bolsas
que não teve a sua política muito bem explicitada. O quadro profissional da escola é muito bem
preparado, com professores requisitados em toda região, contando até mesmo com mestres e
doutores em seu quadro docente. A estrutura física da escola pode ser considerada muito boa,
sendo muito bem equipada e preparada para fornecer uma boa formação à seus alunos. As salas
possuem ar condicionado, projetor, televisão e o ambiente conta também com um laboratório
de informática, além de duas áreas de lazer e recreação. A disciplina de História no Ensino
Médio, é dividida em duas disciplinas, História Geral e História do Brasil. A minha escolha
para estagiar foi a disciplina de História Geral, uma vez que entendo esse tema como sendo
mais interessante de se tratar em sala de aula. O foco da preparação dos alunos é voltado quase
que totalmente para a realização de questões de bancas de vestibulares, visando a aprovação
desses alunos no Enem ou outros processos seletivos.
27

O material didático utilizado na escola é o material produzido pelo sistema PH de


Ensino, sendo disponibilizado em um ambiente online chamado PLURALL, um ambiente que
reúne todos os materiais didáticos dos alunos, além de uma aba para atividades, outra aba para
simulados que englobam questões de todas as disciplinas, além de uma aba com um gigantesco
banco de questões, destinado a auxiliar os professores na elaboração das aulas.

Os assuntos tratados nessa apostila são Idade Antiga: Grécia e Roma, Idade Média,
Europa Moderna: Absolutismo, Mercantilismo e Expansão Marítima, Humanismo e
Renascimento, as Reformas e Sistema Colonial: América espanhola e América Inglesa. Esses
assuntos estão divididos ao longo de 121 páginas. Divididos de forma mais ou menos iguais.
Os assuntos são rapidamente explanados em poucas páginas, na sequencia existe uma
apresentação de dois ou três pequenos textos que relacionam o tema com assuntos atuais e na
sequencia uma grande quantidade de questões, todas de bancas universitárias, ressaltando o
que já foi mencionado anteriormente em relação ao foco da preparação quase que total na
questão da aprovação em vestibulares.

O material pode ser considerado de extrema qualidade, haja vista que apresenta de uma
forma bem sucinta os assuntos, busca relacionar esses assuntos com a atualidade e apresenta
um amplo questionário ao final de cada assunto. Uma bibliografia que muito me ajudou a
pensar esse material foi o texto de Laville, que discorre acerca da guerra de narrativas na
produção historiográfica. Em minha visão, essa questão da guerra de narrativas pode e deve ser
apresentada aos alunos quando se faz uso do material didático, deve –se apresentar aos alunos
que aquele material é fruto de escolhas e interesses e não representa uma verdade absoluta. O
livro didático deve ser ao professor como um suporte e não como um guia, que deve ser levado
ao pé da letra.

Uma das atividades por mim cumpridas no decorrer do estágio foi a de dar uma aula de
50 minutos com a temática da contrarreforma católica. Essa experiencia foi muito
enriquecedora, haja vista os desafios enfrentados e as conquistas alcançadas com essa aula. A
atividade me mostrou o quão difícil é colocar o planejamento do plano de aulas em prática da
forma como imaginamos enquanto o fazemos, me mostrou também o quão difícil é conseguir
estabelecer uma comunicação para com a turma que se faça entendível por todos e que além
disso, consiga prender a atenção dos alunos e os faça participar da aula. Entretanto a estratégia
do uso de iconografias históricas para a ilustração e questionamento do assunto se mostrou
muito fortuita, uma vez que foi um dos momentos da aula em que mais aconteceram
28

participações. A estratégia da utilização da literatura de Guinzburg também se mostrou válida,


no entanto nesse ponto é necessário um melhor preparo e mais tempo de aula para que a
estratégia realmente faça-se valer.

A questão de corrigir as avaliações foi outro ponto muito interessante dentro desse
processo de estágio. Como já dito anteriormente, essa era uma atividade que eu ainda não havia
tido contato enquanto graduando e foi uma solicitação minha para o professor responsável pela
disciplina. Foi uma experiencia válida, entretanto como foi uma avaliação inteiramente de
múltipla escolha a correção dessas avaliações ficou muito engessada e não proporcionou todas
as experiencias que uma prova aberta poderia ter trazido, como por exemplo o contato com o
desenvolvimento escrito do raciocínio dos alunos, no que seria uma forma muito melhor de
aferir os caminhos que estavam sendo percorridos na produção do conhecimento entre
professor e alunos.

O professor responsável pela disciplina também me ajudou muito. Eu já o conhecia e


já havia tido aula com ele. Entretanto, ter esse contato enquanto colegas de profissão foi muito
enriquecedor, puder enxergar suas práticas com outros olhos e entender o que estava por trás
de suas atitudes. Pude também aprender muito acerca da relação aluno – professor, uma vez
que era um professor respeitado e querido pelos alunos, e é nesse tipo de relação que me inspiro
e busco ter com meus futuros alunos.

Outro ponto que não podemos deixar de falar é a questão do momento pandêmico que
o mundo está passando, momento esse que transformou todas as relações sociais e que não
poderia ser diferente em relação a educação. A necessidade de isolamento social mudou os
moldes da educação de como conhecíamos. Aulas totalmente online, necessidade de produção
de conteúdo totalmente online, formas de dar aula e passar atividades totalmente diferentes dos
convencionais. Isso só para falarmos do básico. Pensarmos também as dificuldades que isso
implica para os alunos, de ter uma boa internet, ter um bom equipamento para acompanhar as
aulas, entre outras questões que o ensino a distância implica. No caso do meu estágio em
específico, por ser uma escola particular, e consequentemente contar com alunos com uma
condição financeiro um pouco melhor do que a maioria dos brasileiros, os alunos não relataram
problemas de estrutura para o acompanhamento das aulas, mas é uma temática que jamais pode
ser perdida de vista, sabendo-se que estamos falando de Brasil, um país extremamente desigual.

Nessa perspectiva, os alunos que fizeram estágio durante esse período pandêmico
podem se considerar sortudos e azarados. Azarados no sentido de que não tiveram contato com
29

o universo escolar da forma como todos conhecemos, mas sortudos por poderem experenciar
de dentro, e antes de serem docentes, as novas formas e ferramentas para se fazer educação.

No decorrer desse processo de estágio foi muito frequente a rememoração de conteúdos


trabalhados durante a graduação, assuntos tratados tanto em prática de ensino, quanto em
laboratório de ensino que pareciam estar esquecidos, no contato com o dia a dia escolar vieram
à tona e com uma significação muito maior do que eu lhes havia conferido anteriormente.

Sem essa bibliografia, acredito eu que esse caminho teria sido ainda mais difícil de ser
percorrido e principalmente no momento em que lecionei a aula e corrigi a atividade, se eu não
tivesse todo um suporte de conhecimentos trazidos da graduação, com toda certeza as coisas
não teriam sido do mesmo jeito. Durante o período de estágio eu retornei a diversas dessas
bibliografias a fim de pensar a cerca de momentos que apareciam nas aulas e eu enquanto
observador ficava me questionando o que eu faria se estivesse no lugar do professor, ou então
qual seria a minha forma de apresentar tais conteúdos. Me questionava se seguiria esses
mesmos caminhos ou se escolheria outras formas.

Além da prática docente da questão de produção de conhecimento e de avaliação, um


outro ponto muito proveitoso do estágio foi ver como um professor lida com as situações que
ocorrem dentro de sala de aula. Como lidar com a conversa paralela, como lidar com um aluno
que não respeita os colegas ou o professor. Como ter jogo de cintura para lidar com essas
situações, sempre pensando para o que esse aluno carrega de fora da escola para dentro dela e
como o seu meio social pode estar afetando suas atitudes na escola. Coisas que são discutidas
durante a graduação, mas que eu não pensava tanto em aprender quando comecei o estágio,
mas que com o passar do tempo foi tornando-se uma das coisas que mais observava nas aulas.
Observar as relações dos alunos entre si, as relações dos alunos com o professor, tudo isso foi
muito enriquecedor para minha formação.

Claro que nem tudo são flores, e as dificuldades da docência também foram a mim
apresentadas. Dificuldades essas que podem ser lidas a cima sendo citadas como
aprendizagens. Não podemos negar que é muita responsabilidade que nossa profissão carrega
consigo. A relação com os alunos, a relação com a direção da escola e com os outros
professores. A cobrança por estar em dia com os conteúdos, não importe a que custo, a cobrança
por resultados nos vestibulares. As dificuldades de muitas vezes controlar os alunos e fazer
com que a aula renda. Mas são nas dificuldades que aprendemos e mais uma vez o estágio só
30

acrescentou conhecimentos e experiencias, mesmo quando mostrando o lado mais difícil da


profissão.

Sendo assim, podemos entender o estágio como o fechamento de um ciclo e a abertura


de um outro. Esse contato inicial com o universo profissional nos dá um choque de realidade,
no sentido de que agora chegou a nossa vez. Mas ao mesmo tempo, me deu uma segurança no
sentido de que coisas que eu nem me lembrava de ter aprendido, ao me deparar com situações
no dia a dia foram rememoradas e isso me deu mais confiança em minha formação. As
dificuldades são gigantescas e foram gigantescas durante esse processo, mas todas elas
serviram de aprendizado. A expectativa é de que daqui pra frente seja a minha vez de estar à
frente de uma turma e seja a minha vez de compartilhar tantas coisas aprendidas durante esses
anos de graduação. Mas além disso, o maior sentimento que fica é o de que, não podemos
nunca parar de estudar e nos preparar para a sala de aula, uma vez que a responsabilidade de
estar em pé ali na frente dos alunos, com todas as expectativas que isso implica é gigantesca.

O estágio foi muito válido, me lembrou diversas coisas, me mostrou outras que ainda
precisam ser melhoradas e foi uma ótima experiencia de contato com o universo escolar, por
mais difícil que o caminho tenha sido, valeu a pena.
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BIBLIOGRAFIA

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