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Discente: Millena Eduarda da Silva

Docente: Francisco Feliciano


7° Período/ Turno: Noite
RA: 202051674301
USO DE SURFACTANTES EM BOVINOS E SUINOS
Surfactante é uma palavra derivada da contração da expressão “surface active agent”,
termo que significa, literalmente, agente de atividade superficial. Em outras palavras,
surfactante é um composto caracterizado pela capacidade de alterar as propriedades
superficiais e interfaciais de um líquido.
Os surfactantes são muito utilizados em neonatos com síndrome do desconforto
respiratório, são substancias que são produzidas por pneumócitos tipo 2 na superfície
alveolar. O surfactante pulmonar (SP) é uma substância essencial no funcionamento
pulmonar em neonatos prematuros, a ausência dessa substância desencadeia a
síndrome do desconforto respiratório (SDR).
A principal função do surfactante pulmonar é reduzir a tensão superficial na interface
ar-líquido dos alvéolos pulmonares, prevenindo o colapso alveolar ao final da
expiração. Além disso, possui funções imunológicas como, por exemplo, a proteção
dos pulmões contra lesões e infecções causadas por partículas inaladas e
microorganismos (SILVA, 2009). A principal causa de SDR na prematuridade é a falta
de surfactante devido ao desenvolvimento inadequado dos pulmões. A proteína
surfactante D é secretada por pneumócitos tipo II e desempenha um papel importante
na mantendo a integridade da superfície dos alvéolos.
Surfactante pulmonar é um material tenso ativo produzido pelos pneumócitos tipo II,
constituído por um complexo lipoproteico altamente encontrado no fluido o qual
reveste a interface ar-líquido da superfície dos alvéolos. Essa substância tem a
função de estabilizar os alvéolos evitando seu colapso durante o ciclo respiratório,
bem como função imunológica de proteção dos pulmões também e lesões por
partículas inaladas Imaturos acometidos pela Síndrome do Desconforto Respiratório
possuem sistemas de produção e/ou reciclagem de surfactante em
desenvolvimento, bem como, uma maior permeabilidade endotelial e alveolar à
proteínas, possibilitando dessa forma, a ocorrência de edema pulmonar, com
posterior inativação tanto do surfactante endógeno como do surfactante exógeno,
ambos presentes na luz alveolar (JOBE, 1988; JUNIOR, 2014; FEITOSA, 2014).
A principal diferença entre a composição dos surfactantes exógenos utilizados
comercialmente e o surfactante endógeno, está no conteúdo proteico. Exógeno
natural, que geralmente é obtido dos próprios bovinos e suínos através de lavado
bronqueoalveolar, e os surfactante sintéticos que são produzidos artificialmente em
laboratório.
Os surfactantes exógenos naturais, obtidos por um processo de extração lipídica de
lavado ou homogenado pulmonar, não contêm SP-A nem SP-D em sua composição.
Estas proteínas são perdidas no processo de isolamento lipídico por serem
hidrossolúveis, por outro lado, ambas as proteínas lipossolúveis (SP-B e SP-C) estão
presentes no composto final, embora em menor quantidade em comparação com o
surfactante endógeno. Já os surfactantes sintéticos não possuem nenhuma proteína,
tendo uma composição lipídica própria, diferente do surfactante endógeno e exógeno
natural.
Os surfactantes sintéticos e naturais são efetivos na prevenção e tratamento da
SAR, promovendo não somente melhora rápida nas taxas gasosas pulmonares,
mas também aumento da complacência pulmonar (GASTIASORO-CUESTA et al.,
2006). Testes clínicos comparando ambos os surfactantes demonstraram resultados
controversos, mas, em geral, os surfactantes derivados de animais foram mais
eficazes (CUMMINGS et al., 1992; IKEGAMI et al., 1981; IKEGAMI; JOBE, 2002).
Diversos estudos demonstraram os benefícios da utilização de múltiplas doses
sobre uma única aplicação (SOLL; ÖZEK, 1999), tratamento precoce ao invés de
tratamento tardio e seletivo, e do uso de surfactantes naturais sobre os sintéticos
(SOLL; BLANCO, 2001).
Uma vez administrado o surfactante exógeno após o nascimento, esse, é
rapidamente incorporado ao tecido pulmonar, não sendo mais recuperado nas vias
aéreas. No interior do pneumócitos tipo II, o surfactante exógeno, sofre uma adição
de componentes endógenos, que estão ausentes de sua formulação original. Este
processo é conhecido por “ativação” do surfactante exógeno, resultando em um
composto com características de função melhores que o original.
A substancia é aplicada pela via endotraqueal, onde permanece nas vias aéreas
pulmonar, tendo o seu período de ação entre 48 a 72 horas. Contudo, pode ser
inativada devido as proteínas presentes no edema alveolar, sendo necessário uma
segunda aplicação. Portanto devido a produção tardia de surfactantes em neonatos
prematuros, o seu uso de maneira exógena tem se mostrado uma substancia de
grande potencial para melhorar os problemas respiratórios neonatais veterinários. No
entanto o uso de surfactantes na rotina neonatal na veterinária, ainda é bastante
escasso, sendo necessário mais testes para o melhor entendimento do agente no
organismo animal (DARGAVILLE, 2001). Quando aplicados ocorre uma melhora
quase que imediata na oxigenação do animal, havendo uma diminuição da pressão
pulmonar, no entanto essa melhora pulmonar ocorre de maneira mais lenta (JUNIOR,
2014). Além disso os surfactantes são utilizados também como detergentes e
emulsificantes devido a sua propriedade tensoativa. No entanto outro papel de grande
importância que os surfactantes tem sido usados é na alimentação, que também vem
desempenhando um papel importante na alimentação animal. Estudos indicam que o
uso de surfactantes na alimentação ajuda na digestibilidade das fibras e outros
nutrientes (CHEN,2011; CASTANON et al., 1981; AHN, 2009). Assim o uso desses
surfactantes melhoraria a produtividade e consequentemente a lucratividade para o
produtor, no entanto isso tudo ainda é muito recente e em bovinos os surfactantes
também podem afetar a fermentação ruminal e também pode afetar a microbiota
intestinal.
Referência

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