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Análise e produção de textos de

comunicação I

Rafael Batista Andrade

Formação Inicial e
Continuada

+
IFMG
Rafael Batista Andrade

Análise e produção de textos de comunicação I


1ª Edição

Belo Horizonte
Instituto Federal de Minas Gerais
2021
© 2021 by Instituto Federal de Minas Gerais
Todos os direitos autorais reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser
reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico
ou mecânico. Incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de
armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização por escrito do
Instituto Federal de Minas Gerais.

Pró-reitor de Extensão Carlos Bernardes Rosa Júnior


Diretor de Programas de Extensão Niltom Vieira Junior
Coordenação do curso Rafael Batista Andrade
Arte gráfica Ângela Bacon
Diagramação Eduardo dos Santos Oliveira

FICHA CATALOGRÁFICA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

A553a Andrade, Rafael Batista.


Análise e produção de textos de comunicação I [recurso eletrônico]
/ Rafael Batista Andrade. – Belo Horizonte: Instituto Federal de Minas
Gerais, 2021.
43 p. : il. color.

E-book, no formato PDF.


Material didático para Formação Inicial e Continuada.
ISBN 978-65-5876-125-9
1. Comunicação 2. Linguagem. 3. Análise do discurso.
4. Metalinguagem. I. Título
CDU 81’42

Catalogação: Luciana Batista Neves - CRB-6/2000

Índice para catálogo sistemático:


Comunicação - 81’42

2021
Direitos exclusivos cedidos ao
Instituto Federal de Minas Gerais
Avenida Mário Werneck, 2590,
CEP: 30575-180, Buritis, Belo Horizonte – MG,
Telefone: (31) 2513-5157
Sobre o material

Este curso é autoexplicativo e não possui tutoria. O material didático,


incluindo suas videoaulas, foi projetado para que você consiga evoluir de forma
autônoma e suficiente.
Caso opte por imprimir este e-book, você não perderá a possiblidade de
acessar os materiais multimídia e complementares. Os links podem ser
acessados usando o seu celular, por meio do glossário de Códigos QR
disponível no fim deste livro.
Embora o material passe por revisão, somos gratos em receber suas
sugestões para possíveis correções (erros ortográficos, conceituais, links
inativos etc.). A sua participação é muito importante para a nossa constante
melhoria. Acesse, a qualquer momento, o Formulário “Sugestões para
Correção do Material Didático” clicando nesse link ou acessando o QR Code a
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Palavra do autor

Caro estudante, seja bem-vindo ao curso de Iniciação e Formação


Continuada “Análise e produção de textos de comunicação I”.
Nesta década decisiva do século XXI, a sua formação profissional e
humana precisará ir muito além dos muros escolares, universitários e
empresariais. Estamos vivendo um momento em que o pensamento crítico, a
comunicação, a colaboração e a criatividade serão habilidades essenciais para
o cidadão deste novo milênio. Logo, a análise e a produção de textos de
comunicação lhe proporcionarão um conhecimento indispensável para o seu
aprimoramento pessoal, acadêmico e profissional.
Divididos em três módulos, este curso tem por objetivo incentivá-lo a
analisar e a produzir cartas de leitor, resenhas e artigos de opinião por meio de
recortes de pesquisas sobre esses gêneros de discurso do domínio jornalístico.
Trata-se, em síntese, de um curso voltado para o aperfeiçoamento de
competências que contribuem para a formação de cidadãos conscientes e
engajados com as principais causas que se devem debater, em âmbito
doméstico e internacional, ao longo deste novo milênio.

Bons estudos!!
Rafael Batista Andrade
Apresentação do curso

Este curso está dividido em três semanas, cujos objetivos de cada uma são
apresentados, sucintamente, a seguir.

Analisar aspectos linguístico-discursivos de cartas de


SEMANA 1 leitor. Produzir uma carta de leitor segundo as regras
desse gênero de discurso.

Analisar aspectos linguístico-discursivos de resenhas.


SEMANA 2 Produzir uma resenha segundo as regras desse gênero de
discurso.

Analisar aspectos linguístico-discursivos de artigos de


SEMANA 3 opinião. Produzir um artigo de opinião segundo as regras
desse gênero de discurso.

Carga horária: 30 horas.


Estudo proposto: 2h por dia em cinco dias por semana (10 horas semanais).
Apresentação dos Ícones

Os ícones são elementos gráficos para facilitar os estudos, fique atento quando
eles aparecem no texto. Veja aqui o seu significado:

Atenção: indica pontos de maior importância


no texto.

Dica do professor: novas informações ou


curiosidades relacionadas ao tema em estudo.

Atividade: sugestão de tarefas e atividades


para o desenvolvimento da aprendizagem.

Mídia digital: sugestão de recursos


audiovisuais para enriquecer a aprendizagem.
Sumário

Semana 1 – Análise e produção de cartas de leitor ...................................... 15


1.1 Análise de aspectos linguístico-discursivos de cartas de leitor ........... 15
1.2 A diversidade do gênero de discurso cartas de leitor ......................... 17
1.3 Produção de cartas de leitor............................................................... 20
Semana 2 – Análise e produção de resenhas ............................................... 23
2.1 Análise de aspectos linguístico-discursivos de resenhas ................... 23
2.2 Atividade de reflexão linguístico-discursiva sobre uma resenha ......... 26
2.3 Produção de resenhas ....................................................................... 29
Semana 3 – Análise e produção de artigos de opinião .................................. 32
3.1 Análise de aspectos linguístico-discursivos de artigos de opinião ...... 32
3.2 A busca pelo status de leitor e de articulista com o artigo de opinião . 36
3.3 Produção de artigos de opinião .......................................................... 37
Referências ................................................................................................... 39
Currículo do autor.......................................................................................... 41
Glossário de códigos QR (Quick Response) ................................................. 43
Semana 1 – Análise e produção de cartas de leitorPlataforma +IFMG

Objetivos
Analisar aspectos linguístico-discursivos de cartas de leitor.
Produzir uma carta de leitor segundo as regras desse gênero
de discurso.

Mídia digital: Antes de iniciar os estudos, vá até a sala


virtual e assista ao vídeo “Apresentação do curso”.

1.1 Análise de aspectos linguístico-discursivos de cartas de leitor

Você certamente já ouviu, ou leu textos, em que seus autores defendem a importância
da leitura, não apenas para a formação de estudantes do ensino fundamental, médio e
superior, mas também para qualquer cidadão, independentemente do seu grau de instrução.
Trata-se de uma afirmação pertinente com a qual muitos professores, pedagogos, familiares
e estudiosos da educação e da língua portuguesa, certamente, estão de acordo.
No entanto, essa ideia, bastante difundida, raramente é aprofundada. Se sua difusão
possui alguns aspectos positivos, como o reconhecimento de boa parte da população sobre
o papel relevante da leitura na vida de cada brasileiro e brasileira, as estratégias de leitura
e sua relação com a escrita nem sempre são compreendidas pela população. O que ler?
Quando ler ficção e não ficção? Em que medida a leitura de um texto de um gênero de
discurso específico pode nos ajudar a aperfeiçoar nossas práticas de escrita?
Neste curso, você será incentivado a ler cartas de leitor e a produzi-las porque
compreenderá que esse gênero de discurso lhe proporcionará um meio de se comunicar
com outros cidadãos, a fim de participar ativamente do debate público. Este ocorre sobretudo
no domínio jornalístico e não deve ser confundido com postagens em redes sociais como o
Facebook, o Twitter, o Instagram etc., o que, evidentemente, não nega a importância de tais
instrumentos comunicativos no que diz respeito a outros objetivos, sobretudo quando usados
com finalidades específicas e com uma dosagem dentro de determinados padrões sociais e
profissionais.
Voltando à questão da leitura, você já pode compreender uma especificidade deste
curso. A escolha da carta de leitor visa mostrar que há gêneros de discurso que devem ser
lidos e analisados para, posteriormente, serem produzidos. É algo muito diferente do que
ocorre com outros gêneros discursivos. A título de exemplo, lemos romances, contos,
manuais de instrução, parábolas etc. muito mais por outros motivos que para produzi-los.
Evidentemente, a leitura desses gêneros de discurso contribui para o seu processo de
escrita de modo mais geral: na aquisição de vocabulário e na percepção do uso da norma

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culta padrão da língua portuguesa, por exemplo. Mas se você não tiver lido e analisado um
gênero mais específico como a carta de leitor, a produção desta será certamente
prejudicada, pois você não conhecerá as regras específicas desse gênero, mesmo que
tenha um bom domínio de vocabulário e de algumas regras da norma culta da língua
portuguesa.
Assim, no caso da carta de leitor, vamos ver algumas características desse gênero
de discurso para que você possa compreender por que uma das propostas deste curso
objetiva incentivar a leitura e a produção desse gênero do domínio jornalístico.
O primeiro passo a ser dado nessa direção, que promoverá a sua criatividade e o seu
engajamento no debate público de sua cidade, estado, e no Brasil como um todo, é
compreender que esse gênero de discurso foi estudo por um número significativo de
pesquisadores: linguistas ou analistas do discurso, principalmente. Logo, você encontrará,
aqui, dados muito mais robustos que aqueles, eventualmente, vistos durante o seu cotidiano
escolar e não escolar.
Brocardo (2015, p. 114), por exemplo, considera que a carta de leitor possui uma
função social significativa, uma vez que, por meio dela, tem-se a materialidade ideológica do
leitor sobre enunciados anteriores. Assim, com base em textos publicados antes em um
jornal ou em uma revista, o leitor pode assumir uma postura avaliativa (explicitar seu
posicionamento ideológico) sobre diferentes temas da atualidade, denunciando, discordando
ou concordando com a opinião de outros atores sociais em relação a fatos políticos,
econômicos e sociais do Brasil e do mundo.
A autora ainda chama a atenção para diferenças entre as cartas de leitor no jornal
impresso e na versão online. Ao trabalhar com textos da revista Veja, ela conclui que o
interlocutor do autor desse gênero de discurso na edição impressa é mais restrito, pois se
trata de assinantes da referida revista. No caso da edição online, o autor da carta de leitor
possui um público mais amplo e diverso. Além disso, a pesquisadora evidencia que, na
versão impressa, a carta de leitor costuma passar por um processo de coautoria, já que
normalmente o editor do jornal ou da revista reelabora os textos originais dos leitores,
imprimindo-lhes outro olhar valorativo. Por fim, justamente por esse viés de coautoria da
carta de leitor na edição impressa da revista supracitada, Brocardo (2015, p. 158) defende
que o uso da norma culta padrão é um dos aspectos estilísticos desse gênero de discurso.
Outros aspectos do estilo da carta de leitor, segundo a pesquisadora, são o uso da
primeira pessoa do plural (nós), o uso de verbos no presente do indicativo e no pretérito
perfeito e a presença de operadores argumentativos, principalmente conjunções. Tais
aspectos são observados tanto na edição impressa quanto na online da carta de leitor, ainda
que, na última, ocorrem traços de uma maior tendência à variedade informal e à influência
de recursos tecnológicos. O último traço importante desse gênero de discurso estudado pela
autora, e que nos interessa neste estudo, é a sua construção composicional. Para Brocardo
(2015, p. 168), a versão impressa da revista impõe às cartas de leitor uma marca de
brevidade, concisão, uma vez que há poucas folhas reservadas a esse gênero na edição
impressa, o que nem sempre ocorre na edição online, em que os autores possuem maior
liberdade, inclusive para usar vocativos.

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Veja, agora, como alguns desses dados apontados até aqui podem ser observados
por você mesmo durante as leituras que realizar de cartas de leitor com o fim de aprimorar
o seu engajamento no debate local, regional e internacional em diferentes meios de
comunicação. Dessa maneira, a sua formação profissional e cidadã estará mais alinhada
com as exigências deste novo milênio, pois a leitura e a produção de cartas de leitor
enriquecerão o seu repertório textual, desenvolvendo a sua competência comunicativa, o
seu pensamento crítico, a sua colaboração para o debate público e a sua criatividade.

1.2 A diversidade do gênero de discurso cartas de leitor

O primeiro ponto que você deve considerar, a fim de se preparar para a produção de
cartas de leitor, é diferenciar a leitura e a análise desse gênero de discurso. Logo, deve-se
privilegiar a habilidade de comparar a publicação das cartas de leitor em diferentes jornais,
sendo um destes necessariamente aquele em que você almejará publicar seu texto.
Comecemos com uma carta de leitor do jornal Folha de São Paulo. Na seção Painel do
Leitor, são encontrados os dados para possíveis publicação.
folha.com/paineldoleitor leitor@grupofolha.com.br
Cartas para al. Barão de Limeira, 425, São Paulo, CEP 01202-900. A Folha se reserva o
direito de publicar trechos das mensagens. Informe seu nome completo e endereço1.

Este é um exemplo de carta de leitor publicada neste meio de comunicação.

Reforma tributária
O artigo “O teto, a renda básica e a tributação” (Tendências / Debates, 30/11), de Roberto
Luis Troster, ex-economista-chefe da Febraban, trouxe sugestões muito interessantes para
uma reforma tributária em nosso país. Estranhei que até agora esse artigo não teve grande
repercussão, pois, em minha opinião, é a melhor proposta formulada para resolver os graves
problemas fiscais e sociais. A Folha poderia fazer uma comparação com as diversas
propostas de reforma tributária que estão por aí e, com isso, contribuir com o debate.
Francisco Napoli (São Paulo, SP)2

Repare que a carta de leitor possui parágrafo único. Se você ler uma seção inteira do
Painel do Leitor, do jornal Folha de São Paulo, em sua versão online ou escrita, reparará
que praticamente todos os textos seguem esse critério. Logo, diante da informação de que
o jornal poderá fazer cortes em seu texto, não faz muito sentido você escrever uma carta de

1 Disponível em: http://acervo.folha.com.br/digital/leitor.do?numero=49366&anchor=6424705&pd =


ef84d7f98221960d0d6fb0a45cab0ba4. Acesso em 05 dez. 2020.
2 Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/paineldoleitor/2020/12/reeleicao-de-alcolumbre-e-maia-e-alvo-

de-criticas.shtml. Acesso em 05 dez. 2020. 17


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leitor extensa, com mais de um parágrafo. Outra característica que se destaca nesse
exemplo é iniciar a carta de leitor com uma alusão ao texto comentado. Trata-se de uma
estratégia interessante e bastante produtiva, pois tanto os editores do jornal como os leitores
podem acionar facilmente o tema que você abordará. Em menos de três linhas, o autor da
referida carta faz isso e aponta o posicionamento dele sobre o tema em questão. No
enunciado seguinte, há um aprofundamento do comentário dele com críticas à pouca
repercussão do artigo de opinião a que ele se refere. Por fim, o autor evidencia o que deveria
ser feito para o aperfeiçoamento do debate em torno da reforma tributária, indicando o papel
que o próprio jornal deveria exercer.
Essas dicas, contudo, não podem ser consideradas como o único modo de se
produzir uma carta de leitor, pois há muitas variáveis em sua constituição, isto é, sua
formação. Isso, aliás, ocorre com todos os gêneros de discurso. Estes sempre possuem uma
estabilidade relativa, porque podem apresentar aspectos diferentes. É por essa razão que
você precisa ler diferentes cartas de leitor para seguir as regras desse gênero de discurso
e, ao mesmo tempo, escrevê-las com originalidade e criatividade. Vejamos, pois, mais outra
carta de leitor. Nesse caso, trata-se de uma parte das análises realizadas por Brocardo
(2015, p. 170) na versão digital da revista Veja.

LEONARDO PALMEIRA
28/08/2013 às 17:58h
[...] Igualdade na educação básica não será construída da noite pro dia e nesse sentido faço
a pergunta: o enorme contingente de alunos saídos do ensino médio devem esperar a
melhoria do ensino fundamental para refazê-lo, e a partir daí tentar uma vaga nas
universidades?3

Nessa segunda carta de leitor, Brocardo (2015, p. 170) destaca o papel do uso de
uma linguagem informal na versão online da revista Veja. De fato, a concordância verbal “o
enorme contingente de alunos saídos do ensino médio devem”, em vez de “o enorme
contingente de alunos saídos do ensino médio deve”, demonstra uma produção textual que
não se enquadra no âmbito formal. Além disso, o uso de “pro” também reforça esse caráter
informal. De qualquer forma, a autora ressalta a estratégia de finalizar a carta do leitor com
uma pergunta, o que não deixa de ser uma estratégia argumentativa interessante. Esse tipo
de estratégia não precisa estar reservado apenas à edição online.
Com esses dois exemplos, você já possui uma boa ideia de que a sua produção de
cartas de leitor pode variar conforme o meio de comunicação que escolher. Alguns traços,
entretanto, estão presentes em qualquer carta de leitor, como vimos na subseção anterior e
na análise da primeira carta de leitor apresentada aqui. Embora acredite que tanto a

3 BROCARDO, Rosangela Oro. O gênero carta do leitor em diferentes suportes e mídias: uma análise de aspectos
linguístico-discursivos. 2015. 201 f. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná,
Cascavel, 2015. Disponível em: http://tede.unioeste.br/bitstream/tede/2428/1/rosangela%20_oro.pdf. Acesso em: 11 nov.
2020 18

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produção desse gênero de discurso no âmbito virtual como em edições impressas dará
muitas contribuições para o seu crescimento pessoal e profissional, pelo fato de este curso
visar o desenvolvimento de sua comunicação, ressalto a importância de que você tente
privilegiar a publicação de seus textos em meios impressos de comunicação. Isso porque
uma carta de leitor, como essa de Leonardo Palmeira, assemelha-se muito a postagens de
redes sociais e pode ter um valor social menor. Tanto é assim, que você não precisa fazer
um curso como este para trabalhar com as suas postagens em redes sociais.
Vejamos agora um último exemplo para que compreenda um aspecto valorativo da
carta de leitor em meios de comunicação impressos. Veloso (2013) estudou cartas de leitor
da mídia impressa de referência publicadas na primeira quinzena de fevereiro de 1980. Os
meios de comunicação escolhidos foram Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e
revista Veja. Para encerrarmos essa exposição, leia esta carta cujo tema está relacionado
com questões de diplomacia.

Dica do Professor: A diplomacia também foi estudada


sob o ponto de vista dos estudos linguísticos. Para saber
mais sobre o tema, leia o artigo de opinião O papel da
ciência na formação da opinião pública sobre
coranavírus e política, de Rafael Batista Andrade4,
disponível (download).

O Brasil nas Olimpíadas


Sr. Redator,
Tive o desgosto de saber que o presidente da República autorizou a ida da delegação
brasileira às Olimpíadas de Moscou, não atendendo, portanto, ao pedido do presidente
Carter. O boicote às Olimpíadas é uma maneira que os países com mais visão encontraram
para manifestarem-se contra a invasão soviética no Afeganistão, portanto, os países que
enviarem suas delegações às Olimpíadas estarão apoiando a atitude soviética em relação
ao Afeganistão. “Parabéns” ao nosso presidente por apoiar o expansionismo soviético.
Roque Carvalho de Melo Fº
Presidente Prudente
(OESP, 12/02/1980)

Em primeiro lugar, observe que o fato de se ter preservado um texto de 1980 deve-
se muito ao trabalho da imprensa de referência. É por razões como essa que sugiro a
publicação de suas cartas de leitor, prioritariamente, nesse tipo de meio de comunicação.
Em segundo lugar, destaca-se o conhecimento mínimo do autor do texto sobre o tema e a
ativação desse saber como uma provável referência a textos que foram publicados no jornal

4Disponível em: http://hiperteia.com.br/o-papel-da-ciencia-na-formacao-da-opiniao-publica-sobre-coronavirus-


e-politica/. Acesso em 12 dez. 2020.

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em questão. O vocativo (Sr. Redator) deve ser compreendido como uma característica do
gênero carta de leitor daquela época (1980), que já passou por transformações e nem
sempre é usado hoje em dia. Por fim, é preciso compreender a ironia, principalmente pelo
uso das aspas em “Parabéns”, visto que, na realidade, o autor da referida carta desaprova
a atitude do então presidente da República de aprovar a ida da delegação brasileira às
Olimpíadas de Moscou.

Atividade: Elabore uma síntese com as principais


características do gênero de discurso carta de leitor, vá
até a sala virtual e participe do Fórum “Meu curso”. Inicie
uma nova publicação ou contribua com a publicação de
algum outro colega, considerando a síntese que cada um
produziu.

1.3 Produção de cartas de leitor

Após ter compreendido as características do gênero de discurso carta de leitor, você


precisa selecionar um meio de comunicação específico, no qual você pretende publicar o
seu texto. Para isso, certifique-se, primeiro, de que o jornal ou a revista de sua preferência
possui uma seção dedicada à publicação da carta de leitor. Em seguida, invista na leitura de
textos jornalísticos publicados no referido meio de comunicação cujos temas despertem em
você interesse. Durante esse processo de leitura, privilegie também a diversidade de cartas
de leitor para que encontre o seu estilo de acordo com a sua criatividade linguístico-
discursiva e o seu posicionamento ideológico.
Atente-se para um fato: a maioria das revistas e dos jornais reserva o espaço de
publicação desse gênero de discurso para assinantes. Assim, é preciso procurar o meio de
comunicação que melhor lhe atenda. Mas, pensando em sua formação cidadã e profissional,
trata-se de um investimento que lhe poderá garantir um exercício real de escrita, inclusive
passando pelo processo de ter que escrever várias cartas de leitor, até que uma delas seja
de fato publicada.
Em relação às assinaturas dos jornais e revistas, destaca-se que a diferença entre as
suas versões online e escritas pode ser muito relativa. Aliás, hoje em dia, jornais como a
Folha de São Paulo, o Estado de Minas, o Globo e revistas como Época, Crescer e Galileu
já disponibilizam a versão impressa em PDF (versão digital). Logo, os meios de comunicação
que reservaram um espaço para as cartas de leitor têm disponibilizado esses gêneros de
discurso publicados na versão impressa por meio de assinaturas digitais.
Por fim, com a produção de cartas de leitor, você terá a oportunidade de conhecer
meios de comunicação de seu bairro ou sua cidade. Nesse sentido, poderá procurar jornais
e revistas de associações de bairro e de jornalismo independente a fim de verificar se,
nesses espaços, há um lugar reservado para o posicionamento de leitores como você.

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Dica do Professor: Realize uma busca por jornais de


prestígio na sua cidade ou estado. A sua contribuição
como leitor pode começar no âmbito regional e depois
em jornais e revistas de referência em termos nacionais
e internacionais.

Atividade: Para concluir a primeira semana de estudos,


elabore uma versão inicial de uma carta de leitor que
você pretende publicar. Em seguida, vá até a sala virtual
e participe do Fórum “Meu curso”. Disponibilize para
seus colegas de curso a referida versão e promova um
debate sobre o seu processo de aprendizado e as suas
expectativas em relação à produção de cartas de leitor.

Por fim, chegou o momento de você revisar o conteúdo da etapa e descansar para
dar prosseguimento as atividades deste curso.

Nos encontramos na próxima semana.


Bons estudos!

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Semana 2 – Análise e produção de resenhas Plataforma +IFMG

Objetivos
Analisar aspectos linguístico-discursivos de resenhas.
Produzir uma resenha segundo as regras desse gênero de
discurso.

Mídia digital: Antes de iniciar os estudos, vá até a sala


virtual e assista ao vídeo “Análise e produção de
resenhas”.

2.1 Análise de aspectos linguístico-discursivos de resenhas

Na semana anterior, foi estudado o gênero de discurso carta de leitor. Nesse período,
você compreendeu as características do referido gênero e o produziu com vistas a participar
do debate regional e nacional sobre temas atuais e de seu interesse. Uma das razões para
ter começado este curso pela carta de leitor foi o fato de esta ser caracterizada por um texto
breve, normalmente de parágrafo único. Com isso, a sua prática de escrita no âmbito
midiático foi iniciada com base em um gênero de discurso de menor complexidade,
preparando você para esta semana, na qual será estudada a resenha.
É muito provável que você já tenha tido contato com a resenha em outras ocasiões
de sua vida estudantil, profissional ou social. Aliás, diferentemente da carta de leitor, a
resenha ou resenha crítica circula em diferentes ambientes, como o acadêmico e o campo
de entretenimento, sobretudo no âmbito jornalístico. Algumas características desse gênero
de discurso podem ser restritas a esses suportes, isto é, a esses lugares em que são
publicadas, lidas ou ouvidas. Mas há outras que são comuns a qualquer tipo de resenha e
que você poderá encontrar em muitos estudos realizados por linguistas ou analistas de
discurso.
No trabalho de Fortes e Crestani (2019, p. 92), por exemplo, encontra-se uma
definição mais abrangente de resenha, inclusive com base no trabalho de outros autores
que se debruçaram sobre o estudo desse gênero de discurso. Em síntese, pode-se
considerar a resenha como um texto verbal (oral ou escrito) ou multissemiótico (com duas
linguagens ou mais, como linguagem oral, visual etc.), em que se apresenta a descrição da
obra que será resenhada (um filme, um livro, uma exposição de arte etc.). A essa
apresentação ou resumo da obra se somam partes com a formulação de conceitos de valor
em relação a esta. Nesses trechos valorativos da resenha, o leitor encontrará falhas e
méritos da obra resenhada, com a opinião do resenhista, recomendando-a ou não ao seu
interlocutor (leitor, ouvinte, internauta etc.).
Tendo em vista essa definição, há alguns pontos que devem ser comparados com a
carta de leitor, trabalhada na semana anterior, a fim de aprofundar o seu conhecimento sobre

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os gêneros de discurso selecionados para o desenvolvimento da sua competência


comunicativa neste curso. Na resenha, o próprio fato de se ter um espaço reservado para a
descrição e a apresentação da obra chama a atenção para as semelhanças e as diferenças
entre esses dois gêneros de discurso. Na carta de leitor, há uma alusão a um texto
jornalístico, publicado anteriormente na revista ou no jornal em que será publicada. Já no
caso da resenha, como se trata da apresentação de uma obra, e não apenas de uma alusão
ao um texto jornalístico como artigo de opinião, editorial etc., percebe-se que essa
apresentação exigirá muito mais espaço. Logo, essa é uma das razões por que a resenha
se constitui como um texto mais longo e com paragrafação.
Em relação a um aspecto semelhante entre esses dois gêneros de discurso, você
certamente se lembrará de que foi estudado um traço peculiar à carta de leitor no âmbito da
modalidade escrita dos meios de comunicação. Fortes e Crestani (2019) também
destacaram um dado específico observado na publicação de resenhas na versão impressa
da revista Veja. Segundo as autoras, nesse suporte, as resenhas são revisadas e, ao serem
publicadas juntamente com os demais textos que compõem cada edição, serão distribuídas
nas bancas de revista e para assinantes. Logo, os leitores das resenhas publicadas em
edições impressas possuem um público-alvo muito mais restrito.
Apesar dessas diferenças serem importantes, principalmente no que diz respeito à
diferença entre resenhas e videorresenhas, você precisa se ater mais aos aspectos das
resenhas de modalidade escrita, pois este curso lhe propiciará estratégias de produção
escrita. Logo, as resenhas no domínio jornalístico possuem esta estrutura: inicia-se com um
título cujo papel é o mesmo das manchetes (título principal em matérias jornalísticas).
Depois, há um pequeno texto que contextualiza o conteúdo da resenha (na linguagem
jornalística, trata-se do lide). Por fim, tem-se o nome do resenhista e o corpo da resenha,
normalmente com uma foto-legenda da obra resenhada.
Veja um exemplo para que essa estrutura composicional (a forma ou o formato que o
texto possui) possa ser compreendida mais facilmente. Ressalte-se, porém, que pode haver
resenhas um pouco diferentes, já que, como vimos anteriormente, os gêneros de discurso
contêm traços estáveis, mas essa estabilidade é relativa.

Atual e assustador: o que achamos de "Maria e João – O Conto das


Bruxas"
Filme que estreia nesta quinta-feira (20) traz versão mais sombria e mística do conto dos
Irmãos Grimm e foca na evolução de Maria e seus poderes sobrenaturais
LARISSA LOPES
19 FEV 2020 - 12H59 ATUALIZADO EM 19 FEV 2020 - 12H59

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Figura1: Imagem e legenda apresentadas na referida resenha.


Fonte: Atual e assustador: o que achamos de "Maria e João – O Conto das Bruxas" (Foto: Divulgação)

Lendas sobrenaturais e uma sede por autoconhecimento se misturam na nova


adaptação do conto de João e Maria para os cinemas. Em cartaz a partir do dia 20 de
fevereiro, Maria e João: Conto das Bruxas é uma releitura com dose caprichada de terror
sobre a já sombria história registrada pelos Irmãos Grimm.
Expulsos de casa pela mãe, cuja sanidade mental está comprometida, Maria, que é
a irmã mais velha, e João devem enfrentar a floresta — e as criaturas que a habitam — para
encontrar um novo lar e uma forma de sustento. Famintos, encontram uma casa no meio do
caminho, onde encontram toda a comida de que necessitam. Holda, a anfitriã, permite que
eles se hospedem por ali e oferece a Maria as respostas para os mistérios que a atordoam.
Desde pequena, a garota tem visões sobrenaturais e é assombrada pelo conto de uma
menina que também possuía esse dom, mas teve uma vida trágica.
Para aprender a lidar com seus poderes, Maria vai ter que enfrentar suas fraquezas
e se distanciar de quem ama para encontrar seu próprio caminho. O filme é dirigido por
Osgood Perkins, de A Enviada do Mal (2020) e O Último Capítulo (2016), filho do ator
Anthony Perkins, conhecido por interpretar Norman Bates no clássico Psicose, de Alfred
Hitchcock5.

Mídia digital: Vá até a sala virtual e assista à vídeo


“Resenha”. e compare-a

Atividade: Compare o vídeo assistido anteriormente


com a sua versão escrita (download).

5 Disponível em: http://revistagalileu.globo.com/Cultura/noticia/2020/02/atual-e-assustador-o-que-achamos-


de-maria-e-joao-o-conto-das-bruxas.html. Acesso em 08 dez. 2020.

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Além desses aspectos composicionais, também se devem destacar características


do estilo da resenha. Uma delas é o uso de expressões verbais de apreciação tais como
“atual”, “assustador”, “sombria”, “mística” e “caprichada”. Dessa forma, a avaliação positiva
do filme em questão fica subentendida por seu leitor, que tem como base a compreensão de
expressões como essas. A outra característica é o resumo da obra resenhada apresentado
nos dois últimos parágrafos. Assim, constata-se que há estratégias baseadas na elaboração
de sequências expositivas e narrativas no referido gênero de discurso. As primeiras podem
ser consideradas como alguns trechos em que se apresentam informações da obra, se
explicam determinados fatos: “nova adaptação do conto João e Maria”; “Maria, que é a irmã
mais velha”; “Holda, a anfitriã”. As segundas referem-se a partes do texto nas quais há uma
narrativa em torno das principais ações de algumas dessas personagens: “Expulsos de casa
pela mãe”; “Desde pequena, a garota tem visões sobrenaturais”; “Maria vai ter que enfrentar
suas fraquezas”. O fato de essas informações terem sido apresentadas nos últimos
parágrafos, contudo, não deve ser visto como uma regra geral. Muito pelo contrário. Você
pode encontrar resenhas cujos primeiros parágrafos sejam dedicados a essas informações.
Por isso mesmo, é importante que você leia diversas resenhas, principalmente aquelas
publicadas no meio de comunicação em que pretende publicar o seu texto.

2.2 Atividade de reflexão linguístico-discursiva sobre uma resenha

Depois de ter conhecido algumas das principais características do gênero de discurso


resenha, chegou o momento de realizar uma atividade com a qual você colocará o seu
conhecimento em prática, preparando-se para o momento da produção de resenhas. O texto
escolhido diz respeito a um filme exibido na Netflix, justamente para você perceber que a
escrita da resenha está associada a práticas de seu cotidiano, como assistir a séries, filmes
etc. Mas a reflexão sobre temas presentes em resenhas como esta lhe proporcionará um
mecanismo de aperfeiçoar o seu pensamento crítico com criatividade a fim de se comunicar
melhor e colaborar para um mundo que está em constante transformações. Tanto é assim
que os desafios das revoluções da biotecnologia e da tecnologia da informação são tratados
em livros como 21 lições para o século 21 (HARARI, 2018), para ficarmos apenas em um
exemplo.
Esta atividade consiste na leitura da resenha que se segue. Por meio dessa atividade
de análise textual, procure se lembrar das informações expostas no item anterior. Não hesite
em voltar ao referido item e relê-lo. É assim que diferenciamos uma simples leitura cotidiana
de um texto de sua análise. Trata-se de uma prática discursiva importante, que deve ser
incorporada em seu cotidiano, sobretudo quando objetivar a escrita de cartas de leitor,
resenhas e artigos de opinião. Você já passou pela primeira etapa. Agora precisa passar por
esta e concluir com a análise e a produção de artigos de opinião.

Resenha: 'O Dilema das Redes', da Netflix, expõe o problema e pode


ser passo para a solução
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Figura 2: Dilema das Redes, documentário da Netflix | Reprodução


Fonte: documentário da Netflix | Reprodução

Pedro Doria
O problema mais grave que atinge as democracias não é apenas de difícil
compreensão. É igualmente difícil encontrar solução. É difícil medir seu impacto. É difícil,
até, de perceber. Porque a maioria das pessoas não percebe o problema que começa a
testar até democracias longevas e em geral estáveis, como as dos EUA e do Reino Unido.
“O Dilema das Redes”, documentário dirigido por Jeff Orlowski e que estreou na Netflix, tenta
apresentar justamente isso. Desenha o problema.
A internet não era uma máquina de manipulação política. Ela se tornou uma. Isto
ocorreu no momento em que os algoritmos de aprendizado de máquina, uma forma de
inteligência artificial, passaram a controlar a maneira como nos informamos. Estes
algoritmos aprendem o comportamento humano e são orientados a resolver uma questão:
descobrir como fazer para que passemos a maior quantidade de tempo possível numa
determinada plataforma. O objetivo nada tem de maléfico — as plataformas vivem de
publicidade e, quanto mais tempo estamos lá, mais publicidade vendem. São negócios.
Os algoritmos funcionaram e descobriram o ponto fraco de nossos cérebros. Eles nos
mantêm constantemente indignados e, indignados, nas redes ficamos. Políticos que
aprendem a explorar o discurso da indignação constante, não raro extremistas, não raro
populistas, se aproveitam desta característica para também capturar nossa atenção
contínua.
Aos poucos, a distinção entre o que é verdade e o que é mentira se esvai, até usar
máscara ou não em meio a uma pandemia respiratória vira reafirmação de identidade
política. A sociedade racha ao ponto de o debate desaparecer e a troca de ideias ocorrer no
ritmo de guerra civil. Um conflito que escorre pelas ruas e, em alguns casos, termina até em
mortes.
“O Dilema das Redes” é extremamente didático: o filme intercala os depoimentos de
ex-executivos das grandes empresas do Vale do Silício com uma família fictícia na qual cada
um vai cada vez mais tendo dificuldade de largar o celular. Em especial está o caso do filho
adolescente, que neste processo também se radicaliza politicamente. Atores também
interpretam o algoritmo, numa alegoria de como o programa ‘pensa’ para tomar decisões.

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Ainda assim, a radicalização alegórica da personagem talvez seja complicada de ser


percebida em si por cada espectador. Afinal, radicais parecem sempre ser os outros. E esta
é uma das características de como o processo de distanciamento do centro se dá, quando
intermediado pelo ambiente digital. Há sempre tanta gente que pensa parecido no entorno
que uma multidão parece consistentemente confirmar que estamos sendo razoáveis. Mesmo
quando não estamos mais e faz tempo.
Puxados por Tristan Harris, fundador do Centro da Tecnologia Humanizada, os ex-
executivos de Google, Facebook, Twitter e outras plataformas dão credibilidade à
explicação. Afinal, eram eles próprios ocupantes de altos cargos na indústria, muitas vezes
diretamente responsáveis pelos desenvolvimentos que criaram o problema. Harris, um típico
empreendedor em série que terminou em cargo alto no Google, foi o primeiro a gritar no
Vale: criamos um monstro.
O quanto estas plataformas e seus algoritmos radicalizam não é mensurável. Este é
o início do problema. O problema continua pelo fato de que, a muitos grupos políticos, a
radicalização, e o tipo de líderes que ela permite eleger, interessa. Inclui a realidade de que
a encrenca está no modelo de negócio baseado em publicidade somado à inteligência
artificial que o torna viável. Ou seja: as maiores empresas dos Estados Unidos precisariam
abrir mão de lucros imensos para tentar resolver a questão. E é inescapável. São as maiores
empresas dos EUA num nível como jamais houve. O Google vale mais do que US$ 1 trilhão,
o Facebook está chegando lá.
E aqui estamos. As democracias têm um problema e a maioria dos eleitores sequer
o percebe. Quem o percebe com mais clareza é quem precisa abrir mão de fortunas para
evitá-lo. Quem está no poder se beneficia daquilo que pode custar às democracias, no limite,
sua sobrevivência. Num jogo de xadrez, estamos em xeque. Sair da possibilidade de xeque-
mate começa no ponto um. Perceber o problema. Um filme transmitido pelo streaming de
outra gigante do Vale pode ser, ironicamente, o primeiro passo6.

Atividade 1
Cite um trecho da resenha em que o autor aponta falhas do referido documentário.
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6 Disponível em: http://blogs.oglobo.globo.com/sonar-a-escuta-das-redes/post/resenha-o-dilema-das-redes-


da-netflix-expoe-o-problema-e-pode-ser-passo-para-solucao.html. Acesso em: 08 dez. 2020.

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Atividade 2
Assinale V para as alternativas VERDADEIRAS e F para as FALSAS.
A-( ) O título da resenha apresenta neutralidade.
B- ( ) A ausência de um pequeno texto entre o título e o nome do autor impossibilita a
classificação do texto como resenha.
C-( ) O primeiro parágrafo mostra que o documentário apresenta um problema atual.
D–( ) O terceiro e o quinto parágrafos apresentam resumo da obra resenhada.
E–( ) “Complicada”, “didático” e “ironicamente” são exemplos de expressões verbais de
apreciação.

Atividade 3
O autor da resenha apresenta uma avaliação positiva ou negativa da obra resenhada?
Justifique sua resposta.
Justificativa:
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2.3 Produção de resenhas

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O processo de produção de resenhas, proposto neste curso, se diferencia do


incentivo dado às publicações de cartas de leitor na semana passada. Nos meios de
comunicação, há jornalistas que se especializam em determinadas áreas. Dessa forma,
críticos de cinema são, por exemplo, os autores mais frequentes das resenhas, além de
profissionais de outras áreas que dominam determinado tema. Assim, diferentemente da
carta de leitor, que reserva um espaço de publicações especificamente para os leitores, a
autoria da resenha está relacionada a um discurso de autoridade. Isso quer dizer que
comumente o público possui interesse em ler a crítica de um filme, de um espetáculo de
teatro, de uma ópera, de uma série, de um livro etc. cuja autoria é de um especialista no
assunto.
Não obstante, isso não impede que você invista na produção desse gênero de
discurso. Muito pelo contrário. A escolha da resenha para este curso parte do pressuposto
de que a sua produção e circulação deve ser incentivada, pois comentar uma obra de forma
crítica, e por meio de um gênero de discurso em que o uso da língua portuguesa exige a
exploração de competências linguísticas e discursivas, irá contribuir para o exercício de sua
cidadania, de sua formação acadêmica e profissional.
Conheça uma iniciativa da qual você pode participar, inclusive concorrendo a
assinaturas de um jornal de prestígio. Ressalte-se que o exemplo a seguir centra-se na
produção de resenhas de livros, porém há a possibilidade de muitas outras propostas
similares a serem encontradas com base em outros tipos de obras que merecem ser
resenhadas. De qualquer forma, a escolha desse jornal não foi fortuita. No início deste curso,
foi proposta uma reflexão em torno da ideia de que a leitura deve ser feita com estratégias
específicas. Você compreendeu que a leitura de certos gêneros de discurso é essencial para
a sua produção. No caso da resenha, além da leitura diversificada desta, a leitura da obra
resenhada fará um grande diferencial na sua formação. Logo, a título de exemplo, ao se
propor a fazer uma resenha de uma obra, como Economia circular: conceitos e estratégias
para fazer negócios de forma mais inteligente, sustentável e lucrativa (WEETMAN, 2019),
você adquirirá um conhecimento não apenas para a produção desse gênero de discurso,
como para a produção de outros gêneros como o artigo de opinião, entrevistas de trabalho,
projetos de pesquisa etc.
Em 1995, a Discurso Editorial e um grupo de professores da Universidade de São
Paulo (USP) e de outras universidades públicas federais criaram o Jornal de Resenhas,
como um empreendimento sem fins lucrativos, a fim de incentivar a publicação de resenhas
sobre livros recentemente lançados no mercado editorial brasileiro.

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Atividade: Para concluir a segunda semana de estudos,


realize uma pesquisa sobre outras iniciativas similares
ao Jornal de Resenhas. Também, produza uma resenha
sobre uma obra que você já possui conhecimento (um
filme, uma série, um livro etc.). Por fim, vá até a sala
virtual e participe do Fórum “Compartilhando
experiências” com o objetivo de compartilhar a versão
inicial da resenha que pretende publicar no meio de
comunicação encontrado.

Após a realização dessa atividade, faça uma breve revisão do que aprendeu durante esta
semana. Em seguida, realize uma pausa para reflexão e descanso. Assim, assista a bons
filmes relacionados aos temas com os quais trabalhou até aqui.

Nos encontramos na próxima semana.


Bons estudos!

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Semana 3 – Análise e produção de artigos de opinião

Objetivos
Analisar aspectos linguístico-discursivos de artigos de opinião.
Produzir um artigo de opinião segundo as regras desse gênero
de discurso.

Mídia digital: Antes de iniciar os estudos, vá até a sala


virtual e assista ao vídeo “Análise e produção de artigos
de opinião”.

3.1 Análise de aspectos linguístico-discursivos de artigos de opinião

Durante as duas semanas anteriores, você compreendeu a importância dos gêneros


de discurso carta de leitor e resenha na sua formação cidadã e profissional. Em síntese, este
curso lhe tem proporcionado uma visão mais ampla sobre a leitura e a produção de textos
de parte dos gêneros que circulam na esfera jornalística com o intuito de que sua voz
também tenha destaque na formação da opinião pública em nível regional, nacional e
internacional. Nesta última semana, o encerramento deste momento de aprendizagem de
habilidades essenciais para sua atuação no século XXI ocorrerá com base na análise do
artigo de opinião.
Embora a palavra “opinião” apareça explicitamente, apenas na denominação desse
último gênero de discurso, ao longo dessas últimas semanas, você percebeu que as
sequências argumentativas (trechos do texto em que se explicitam os pontos de vista que o
autor defende em relação a certos temas) estão presentes nos três gêneros de discurso
selecionados para este curso. Essa foi a estratégia com a qual este curso lhe propôs uma
espécie de tripé argumentativo para o desenvolvimento de práticas do pensamento crítico,
competência discursiva de extrema relevância para a sua atuação social e profissional,
sobretudo nas próximas décadas do século XXI.
Nesta época da Pós-verdade (Fake News), você viu que a mídia de referência possui
um papel relevante na formação da opinião pública. Foi por essa razão que recebeu o
incentivo de publicar cartas de leitor, sobretudo nos meios de comunicação de referência
que privilegiam a modalidade escrita. Na sequência, pôde compreender que a resenha é
escrita por especialistas, mas que alguns traços de sua composição são importantes para o
exercício da sua cidadania e do seu pensamento crítico. Logo, você foi instigado a publicar
resenhas em meios de comunicação que possuem respaldo institucional. Por fim, você
compreenderá o gênero de discurso artigo de opinião, por meio de trabalhos científicos que
elucidam esta proposta de análise e produção de textos de comunicação.

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De forma similar à resenha, o artigo de opinião possui um processo de produção mais
restrito que a carta de leitor. Dessa forma, alcançar esse espaço na mídia de referência é
uma tarefa um pouco complexa, que inclusive pode demandar muito tempo. Tanto é assim
que Cunha (2012, p. 75) destaca o fato de o autor e o leitor do artigo de opinião assumirem
“posições ou status sociais diferentes e assimétricos”. De fato, constata-se que, em cada
jornal, há colunistas que cativam um público determinado por meio de uma longa carreira
que se centra no letramento e na argumentação.
Mas, também, se deve destacar o esforço de alguns jornais na promoção do debate
público com a participação de representantes de diferentes esferas sociais que assinam
artigos de opinião. A título de exemplo, na edição impressa do dia 14 de dezembro de 2020
do Jornal Estado de Minas, houve a participação, na seção Opinião, de um empresário
(Carlos Rodolfo Schneider), de uma professora do curso de tecnologia em gerontologia –
cuidado ao idoso, do Centro Universitário Internacional Uninter (Fabiana da Silva Prestes) e
de um jornalista da Academia Mineira de Letras (Fábio P. Doyle).
Vê-se, pois, que há muitos motivos para investir não apenas na leitura do artigo de
opinião, mas também em sua produção, uma vez que a diversidade das áreas em que
atuamos pode enriquecer esses debates. Certamente, enquanto estudante, cidadão ou
profissional de diferentes ramos, sua contribuição será valiosa para se aprimorar o debate
público, principalmente por meio de uma democratização das vozes de autores de artigos
de opinião nos diferentes meios de comunicação do Brasil, e até mesmo do exterior. Para
que esse objetivo seja alcançado, um bom início, como temos visto, é a análise desse gênero
de discurso a fim de compreender suas características e, posteriormente, planejar suas
publicações; seja a curto prazo, seja a longo prazo.
Segundo o estudo proposto por Cunha (2012), o artigo de opinião ocupa o polo
oposto, na esfera jornalística, ao das notícias. Estas visam informar o leitor, enquanto aquele
é marcado pela ação de comentar os fatos recentes, geralmente polêmicos, que interessam
o cidadão. Trata-se, pois, de análises mais apuradas com as quais a opinião pública vai se
posicionar ou se reposicionar de acordo com diferentes pontos de vista que cada autor
apresenta em artigos de opinião, geralmente em consonância com o status social que possui
− como profissão, atividade social, membros de instituições governamentais, não-
governamentais, internacionais etc.
Um dos pontos mais esclarecedores desse trabalho é o seguinte: você não pode se
contentar em apenas explicitar o seu ponto de vista, pensando que, com isso, produziria um
artigo de opinião. Para Cunha (2012), o autor de artigos de opinião precisa traçar estratégias
textuais e discursivas que possam modificar a visão do mundo do leitor sobre determinados
fatos e/ou temas a ponto de convencê-lo que as sequências argumentativas apresentadas
superam as opiniões adversárias com as quais o leitor tenderia a estar de acordo.
Roulet (2006) também trouxe contribuições valiosas para a compreensão e a
produção do referido gênero de discurso. Segundo o autor, algumas estratégias
argumentativas que são de muita importância no artigo de opinião são: a) a introdução de
argumentos para reforçar um ponto de vista; b) a rejeição de ideias por meio da inserção de
contra-argumentos; c) comentários de partes do próprio artigo de opinião que se elabora; d)
reformulação ou esclarecimento de ideias apresentadas ao longo do texto.

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Por fim, ainda com base no trabalho de Cunha (2012), alguns pontos são levados em
conta no artigo de opinião. É muito comum que o próprio título do artigo de opinião já
antecipe a orientação argumentativa que o autor assumirá ao longo do texto. Depois disso,
comumente, no primeiro parágrafo, ocorre uma delimitação do tema abordado com a
explicitação do tema a ser defendido pelo autor. Nos parágrafos do desenvolvimento, que
podem variar muito em termos numéricos (de um a vários parágrafos – dois, três, quatro
etc.), os autores de artigo de opinião tratam alguns subtemas de forma mais detalhada, com
uma análise cuja finalidade é convencer o leitor a aderir a tese defendida. Por fim, apresenta-
se uma conclusão na qual há uma interpretação das análises a fim de reafirmar a tese
defendida ao longo do texto.
Vejamos todas essas características neste caso concreto.

Trump, pior do que Carter e Bush pai

Figura 3: Presidente Donald Trump, ao embarcar em helicóptero no jardim da Casa Branca


Fonte: CHERISS MAY / REUTERS

Donald Trump fracassou como presidente. Perdeu por sua incompetência. E não cansa de
perder. Perdeu nas urnas, perdeu na Suprema Corte e perdeu no Colégio Eleitoral. Sua
tentativa de atacar o sistema democrático americano e dar um golpe não deu certo. Os EUA
não são uma república das bananas, apesar do atual ocupante da Casa Branca lembrar
líderes populistas autoritários latino-americanos.

Será presidente de um mandato. Mais grave, diferentemente de George Bush e de Jimmy


Carter, possui poucos argumentos para justificar sua derrota. Caso tivesse adotado uma
postura menos negacionista na pandemia, teria sido reeleito.

Carter perdeu porque a situação econômica era ruim e seu adversário, Ronald Reagan, além
do carisma, foi um dos maiores fenômenos políticos dos últimos 100 anos nos EUA.
Conseguiu não apenas ser ultra popular dentro de seu Partido Republicano, como também
entre eleitores democratas.

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Bush, por sua vez, perdeu por três motivos. Recessão econômica, um talentoso adversário
como Bill Clinton e a presença de um terceiro candidato, Ross Perot, que atraiu parcela do
voto conservador — há um enorme debate se Bush teria vencido sem esta candidatura
independente.

Já Trump enfrentou Joe Biden, que estava aposentado e nunca despertou grandes paixões.
Ninguém o responsabilizou pela crise econômica. Sabem que o mundo todo enfrenta o
mesmo problema e a economia americana vinha tendo uma boa performance, apesar do
aumento do déficit. O problema mesmo foi seu comportamento negacionista 7.

Destaca-se, primeiro, o status do autor desse artigo de opinião. Guga Chacra, além
de ser colunista do jornal O Globo, é comentarista de política internacional da Globonews e
da TV Globo nos Estados Unidos. Logo, sua opinião possui o respaldo desse status, que
também é reforçado pela sua formação acadêmica, uma vez que ele é Mestre em Relações
Internacionais pela Columbia University de Nova York. Ademais, o próprio título já antecipa
a orientação argumentativa de seu artigo de opinião: uma avaliação negativa da postura de
Donald Trump no final do mandado presidencial.
Uma característica que não foi apontada anteriormente, e que aparece no referido
artigo de opinião, é o uso de imagem após o título do texto. Trata-se de um traço que
normalmente caracteriza esse gênero de discurso, ainda que a ausência desse elemento
visual em nada diminui sua finalidade, seu eixo temático e sua estrutura composicional. Algo
muito mais frequente, enquanto elemento constitutivo do artigo de opinião, é o fato de se
apresentar, no primeiro parágrafo, uma delimitação do tema abordado. No caso do texto de
Guga Chacra, delimita-se o fracasso do presidente Donald Trump com a inserção de fatos
que marcaram o mandato do presente dos Estados Unidos nos últimos anos, comparando-
o com líderes populistas autoritários da América Latina. Fica explícita, portanto, a tese que
será defendida: Donald Trump foi o pior presidente dos Estados Unidos, quando comparado
com Carter e Bush pai.
Nos parágrafos seguintes, Guga Chacra procura convencer o leitor de que sua tese
é plausível e deve ser aderida por este. No segundo parágrafo, indica que o próprio fato de
Donald Trump ter cumprido apenas um mandado presidencial já é um indício de seu mau
desempenho. Também mostra que Trump não teria justificativas para não ter conseguido
ser reeleito, comparando-o, genericamente, com George Bush e Jimmy Carter. Por essa
razão, dedica o terceiro parágrafo a explicações da derrota de Carter e, o quarto, aos motivos
pelos quais Bush foi derrotado por Bill Clinton. Por fim, o autor evidencia que Donald Trump
enfrentou um candidato já aposentado, Joe Biden, e foi derrotado principalmente por causa
da postura negacionista que assumiu, principalmente durante o enfretamento da pandemia
do novo coronavírus, o que justifica a classificação que o colunista atribui a Donald Trump:
um presidente pior do que Carter e Bush pai.

7 Disponível em: http://blogs.oglobo.globo.com/guga-chacra/post/trump-pior-do-que-carter-e-bush-pai.html.


Acesso em 15 dez. 2020.

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3.2 A busca pelo status de leitor e de articulista com o artigo de opinião

Com a leitura e a produção de artigos de opinião, você poderá moldar parte de seu
status profissional, social e acadêmico. Esta é a principal contribuição que este curso visa
dar a você. Não se deve concluir, de tudo que foi dito no item anterior, que a produção de
artigos de opinião está restrita aos colunistas de jornais e que se deve almejar ser
responsável por uma coluna regular de jornal ou revista. Evidentemente, se isso vier a
ocorrer, será um diferencial para o seu status profissional, social e acadêmico.
Mas a própria leitura de artigos de opinião em diversos meios de comunicação
mostrará a você que há possibilidades de produzir artigos de opinião em curto prazo. Veja,
por exemplo, que, na seção de opinião do jornal Folha de São Paulo, há um convite para o
envio de artigos de opinião na seção denominada Tendência/Debates. Vê-se, pois, que esse
jornal já separou um espaço para que não colunistas publiquem o referido gênero de
discurso. Dessa forma, o seu status de articulista, ainda que seja eventual, pode ser
desenvolvido e isso certamente poderá ter reflexos positivos em sua vida pessoal,
profissional, acadêmica e social.

Figura 4: Tendências/Debates.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/tendenciasdebates/envie_seu_artigo.shtml (acesso em: 20
jan.2021).

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Pró-Reitoria de Extensão 36
Dica do Professor: analise a seção Opinião de
diferentes jornais e revistas de prestígio em nível
nacional e internacional a fim de verificar se algum deles
faz esse tipo de convite à comunidade para a publicação
de artigos de opinião.

3.3 Produção de artigos de opinião

O tópico anterior foi encerrado com uma dica de análise para que você tenha uma
referência de jornais e revistas para possíveis publicações de seus artigos de opinião. Ficou
claro também que, diferentemente da carta de leitor, a publicação de artigos de opinião pode
demandar muito mais tempo. Nesse sentido, é importante que busque alternativas para sua
participação no debate público a curto prazo.
Ao longo destas três semanas, tenho insistido no papel relevante de meios
alternativos de comunicação, desde que estes possuam credibilidade, como vimos no caso
do Jornal de Resenhas. Logo, certifique-se de que sua pesquisa tenha contemplado esses
meios, além de jornais e revistas da esfera regional, como, por exemplo, de associações de
bairros. Isso porque, a curto prazo, o mais provável é que sua publicação ocorra nesse
espaço de debate público, o que não significa um trabalho menor.
Uma maneira de você atestar a credibilidade do jornal ou revista nos quais pretende
publicar seu texto está na verificação do histórico desse meio de comunicação. Os
responsáveis, as parcerias realizadas, os autores que publicam matérias nele. Dentre essas
parcerias, certamente aquelas realizadas com instituições de ensino, pesquisa e extensão
possuem um valor que deve ser levado em conta. Um exemplo pode ser visto no projeto
ComuniCong (ANDRADE, 2020), que ao realizar uma parceria com o site Hiperteia
proporcionou a publicação de artigos de opinião da comunidade da cidade de Congonhas-
MG e de outras regiões do Alto Paraopeba.
Por fim, como a produção e a publicação de artigo de opinião demandará um tempo
que extrapola os objetivos deste curso, você deve perseguir a escrita desse gênero de
discurso ao longo de sua trajetória pessoal, profissional, acadêmica e social. Pode começar
essa produção e refletir sobre tudo o que aprendeu ao longo deste curso a fim de realizar a
atividade final.
Atividade: Para concluir o curso e gerar o seu
certificado, vá até a sala virtual e responda ao
Questionário “Avaliação geral”. Este teste é constituído
por 10 perguntas de múltipla escolha, que se baseiam na
prática de análise e produção dos gêneros de discurso
carta de leitor, resenha e artigo de opinião. Para se
preparar, faça uma revisão dos principais tópicos
trabalhados ao longo destas três semanas.

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Pró-Reitoria de Extensão 37
Por fim, em Grande sertão: veredas, há um enunciado em que Guimarães Rosa nos
deixa uma importante reflexão sobre o processo de aprendizagem: “vivendo, se aprende;
mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas” (RONÁI, 1983, p. 15).
Ao vivenciar esta experiência de análise e produção de textos de comunicação, espero que
tenha aprendido não só a importância da leitura e produção de cartas de leitor, resenhas e
artigos de opinião, mas também, e principalmente, a fazer muitas perguntas sobre a sua
participação no debate público. Este depende muito da busca constante pelo
aperfeiçoamento de sua vida profissional, social, acadêmica, pessoal e social. Na plataforma
+ IFMG, você encontrará algumas respostas para perguntas que passou a fazer por meio
deste curso e passará a fazer muitas outras perguntas que darão contribuições significativas
para sua trajetória.

Parabéns pela conclusão do curso. Foi um prazer tê-lo conosco!

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Pró-Reitoria de Extensão 38
Referências

ANDRADE, R.B.O papel da ciência na formação da opinião pública sobre coronavírus e


política. HiperTeia. Disponível em: http://hiperteia.com.br/o-papel-da-ciencia-na-formacao-
da-opiniao-publica-sobre-coronavirus-e-politica/. Acesso em 12 dez. 2020a.

ANDRADE, Rafael Batista. Discursive Practices, Extension Activities and Training of Junior
Journalists. Global Journal of HUMAN-SOCIAL SCIENCE: G Linguistics & Education, V.
20, I.9, 2020b. Disponível em http://globaljournals.org/GJHSS_Volume20/E-
Journal_GJHSS_(G)_Vol_20_Issue_9.pdf. Acesso em 23 out. 2020.

BROCARDO, Rosangela Oro. O gênero carta do leitor em diferentes suportes e mídias:


uma análise de aspectos linguístico-discursivos. 2015. 201 f. Dissertação (Mestrado em
Letras) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Cascavel, 2015. Disponível em:
http://tede.unioeste.br/bitstream/tede/2428/1/rosangela%20_oro.pdf. Acesso em: 11 nov.
2020.

CHACRA, Guga. Trump, pior do que Carter e Busch pai. O Globo. Disponível em:
http://blogs.oglobo.globo.com/guga-chacra/post/trump-pior-do-que-carter-e-bush-pai.html.
Acesso em 15 dez. 2020.

CUNHA, Gustavo Ximenes. A articulação discursiva do gênero artigo de opinião à luz de um


modelo modular de análise do discurso. Filologia e linguística portuguesa, n.14, p. 73-97,
2012. Disponível em: file:///C:/Users/rafae/Downloads/59903-
Texto%20do%20artigo%20sem% 20identifica%C3%A7%C3%A3o-77340-1-10-
20130809%20(1).pdf. Acesso em: 11 nov. 2020

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WEETMAN, Katherine. Economia circular: conceitos e estratégias para fazer negócios de


forma mais inteligente, sustentável e lucrativa. São Paulo: Autêntica, 2019.

40
Currículo do autor

Rafael Batista Andrade: Doutor em Estudos Linguísticos pela UFMG


(2018), com estágio na Université Paris Sorbonne - Paris IV (03/2016 a
02/2017; 08/2017 a 01/2018) sob a supervisão de Dominique Maingueneau
e na Universidad de Cádiz (04/2017 a 06/2017) sob a supervisão de Juan
Manuel López Muñoz. Mestre em Estudos Linguísticos, na área de
concentração de Análise do Discurso, pela UFMG (2013). Possui
graduação em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
com habilitação em Bacharelado(2008), Licenciatura plena em Língua
Portuguesa(2009) e Licenciatura plena em Língua Espanhola (2009).
Também possui Especialização em Língua Portuguesa: Leitura e Produção
de Textos pela UFMG, DELE C 1, DELF B2 e participou do Curso de
actualización de profesores de español en Centro Alpha - Argentina (2011).
Foi contemplado com uma bolsa de estudo da Universidad de La Rioja
(Espanha), onde participou do Curso de Lengua y Cultura Españolas de 08
de abril a 14 de junho de 2013. Trabalhou no Colégio Santa Maria,
lecionando Língua espanhola para o Ensino Fundamental e para o Ensino
Médio e na E.E Deputado Ilacir Pereira Lima (2013), atuando na área de Língua Portuguesa. Também foi
professor de Língua Portuguesa na E.M. Dulce Viana de Assis Moreira (Santa Luzia - 2014). Em suas
produções intelectuais, destacam-se os temas do ensino de língua espanhola para brasileiros, ensino de
língua portuguesa, gêneros de discurso, hibridização, temas e figuras e discurso diplomático. Publicou os
seguintes livros: Semiótica, éthos e gêneros de discurso nas canções-poemas de Maria Bethânia (2015) e
Discurso e identidade diplomática (2020). Atualmente é Professor de Ensino Básico,Técnico e Tecnológico,
classe D, nível 302, do IFMG-Congonhas. Atua nos cursos de nível técnico e superior. Coordena o projeto
de extensão ComuniCong: jornalistas juniores em ação no Alto Paraopeba.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3534941740306454.

Feito por (professor-autor) Data Revisão de layout Data Versão

Rafael Batista Andrade 20/01/2021 Viviane Lima Martins 22/01/2021 1.0

41
42
Glossário de códigos QR (Quick Response)

Dica do professor
Mídia digital O papel da ciência
Apresentação do na formação da
curso opinião pública sobre
coranavírus e política

Mídia digital Mídia digital


Comparação entre
Análise e produção
videorresenha e
de resenhas
resenha

Mídia digital
Análise e produção
de artigos de opinião

43
Plataforma +IFMG
Formação Inicial e Continuada EaD

A Pró-Reitoria de Extensão (Proex), neste ano de


2020 concentrou seus esforços na criação do Programa
+IFMG. Esta iniciativa consiste em uma plataforma de cursos
online, cujo objetivo, além de multiplicar o conhecimento
institucional em Educação à Distância (EaD), é aumentar a
abrangência social do IFMG, incentivando a qualificação
profissional. Assim, o programa contribui para o IFMG cumprir
seu papel na oferta de uma educação pública, de qualidade e
cada vez mais acessível.
Para essa realização, a Proex constituiu uma equipe
multidisciplinar, contando com especialistas em educação,
web design, design instrucional, programação, revisão de
texto, locução, produção e edição de vídeos e muito mais.
Além disso, contamos com o apoio sinérgico de diversos
setores institucionais e também com a imprescindível
contribuição de muitos servidores (professores e técnico-
administrativos) que trabalharam como autores dos materiais
didáticos, compartilhando conhecimento em suas áreas de
atuação.
A fim de assegurar a mais alta qualidade na produção destes cursos, a Proex adquiriu
estúdios de EaD, equipados com câmeras de vídeo, microfones, sistemas de iluminação e
isolação acústica, para todos os 18 campi do IFMG.
Somando à nossa plataforma de cursos online, o Programa +IFMG disponibilizará
também, para toda a comunidade, uma Rádio Web Educativa, um aplicativo móvel para
Android e IOS, um canal no Youtube com a finalidade de promover a divulgação cultural e
científica e cursos preparatórios para nosso processo seletivo, bem como para o Enem,
considerando os saberes contemplados por todos os nossos cursos.
Parafraseando Freire, acreditamos que a educação muda as pessoas e estas, por
sua vez, transformam o mundo. Foi assim que o +IFMG foi criado.

O +IFMG significa um IFMG cada vez mais perto de você!

Professor Carlos Bernardes Rosa Jr.


Pró-Reitor de Extensão do IFMG
Características deste livro:
Formato: A4
Tipologia: Arial e Capriola.
E-book:
1ª. Edição
Formato digital

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