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RABELO
NEIVA E
COLABORADORE
S
PSICOLOGIA
SOCIAL PRINCIPAIS
TEMAS E VERTENTES
INDEX BOOKS GROUPS
P676 Psicologia social [recurso eletrônico] : principais temas e vertentes / Cláudio Vaz
Torres, Elaine Rabelo Neiva [organizadores]. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre :
Artmed, 2011.
CDU 316.6
PSICOLOGIA
SOCIAL PRINCIPAIS TEMAS
E VERTENTES
Versão impressa
desta obra: 2011
2011
Capa
Tatiana Sperhacke
Ilustração da capa
©iStockphoto.com/Ace_Create
Preparação do original
Elisângela Rosa dos Santos
Editora Sênior – Ciências humanas
Mônica Ballejo Canto
Projeto e editoração
Armazém Digital® Editoração Eletrônica – Roberto Carlos Moreira Vieira
SÃO PAULO
Av. Embaixador Macedo Soares, 10.735 - Pavilhão 5 - Cond. Espace
Center Vila Anastácio 05095-035 São Paulo SP
Fone (11) 3665-1100 Fax (11) 3667-1333
IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
Autores
Cláudio Vaz Torres (org.). Ph.D. em Psicologia pela California School of Professional Psychology,
San Diego, Califórnia, EUA. Pós‑doutorado em Marketing pela Griffith University, Austrália. Pós‑
‑doutorado em Pesquisa e Psicologia Transcultural pela University of Sussex, Inglaterra. Professor do
Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia na Universidade de
Brasília, onde também atua como professor do Programa de Pós‑Graduação em Administra‑ ção. Um
dos fundadores do grupo de estudo e pesquisa em comportamento de consumo da Universidade de
Brasília – Consuma/UnB. É membro e contribui ativamente com a International Association for
Cross‑cultural Psychology, International Academy for Intercultural Research, The American
Psychological Association (Divisão 52) e Sociedade Interamericana de Psicologia.
Elaine Rabelo Neiva (org.). Doutora em Psicologia pela Universidade de Brasília. Professora do
Departamento de Administração da Universidade de Brasília. Atua no Programa de Pós‑graduação
em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações – PSTO. Fundadora do grupo de Pesquisa
Inovare da Universidade de Brasília. É membro da International Association of Applied Psychology
(Divisão 1) e da Sociedade Interamericana de Psicologia.
vi Autores
Recebeu o prêmio German Study Award, Ham‑
burger Koerber Stiftung, por seu trabalho no
desenvolvimento de treinamento para gerentes
alemães que trabalham no Brasil.
Autores vii
do Núcleo de Estudos em Desenvolvimento Hu‑
mano, Educacional e Social (NEDHES).
no da Sociedade Brasileira de Psicologia, tendo Membro da Sociedade Brasileira de
assumido cargo na Diretoria em duas gestões. Psicopedagogia.
Mirlene Maria Matias Siqueira. Psicóloga pela Ronald Fischer. Professor (Senior Lecturer) na
Universidade de Brasília. Mestre em Psicologia Victoria University of Wellington, Nova Ze‑
pela Universidade de Brasília. Doutora em lândia. Membro do Centre for Applied Cross‑
Psico‑ logia pela Universidade de Brasília. ‑Cultural Research. Doutor pela Universidade de
Pós‑doutora como docente visitante em 2010 Sussex, Inglaterra. Editor Associado do Journal
na Universida‑ de de Coimbra. Mestre em of Cross‑Cultural Psychology. Seu trabalho com
Psicologia Organi‑ zacional e do Trabalho valores e pacificação recebeu em 2010 o prê‑
(WOP‑P) do Programa Erasmus Mundus. mio Otto Klineberg Intercultural and Internatio‑
Presidente da Comissão Or‑ ganizadora do IV nal Relations Award agraciado pela Society for
CBPOT. Professora Titular na Universidade the Psychological Study of Social Issues.
Metodista de São Paulo. Sinésio Gomide Júnior. Psicólogo. Mestre e
Doutor em Psicologia pela Universidade de
Onofre Rodrigues de Miranda. Administrador
Brasília. Professor Associado na Universidade
de Empresas pela Universidade de Brasília.
Federal de Uberlândia.
Especialista em Gestão e Desenvolvimento da
Educação Profissional pelo SENAC e UnB. Solange Alfinito. Doutora em Psicologia So‑
Mestre em Psicologia Social e das Organiza‑ cial, do Trabalho e das Organizações pela Uni‑
ções pela UnB. Doutor em Psicologia Social, do versidade de Brasília. Mestre em Economia de
Trabalho e das Organizações pela UnB. Pro‑ Empresas pela Universidade Católica de Brasí‑
fessor Titular do Curso de Administração Geral lia. Professora no Departamento de Adminis‑
e MBA em Gestão Estratégica da Faculdade tração da UnB, onde também atua como pro‑
Cambury. fessora do Programa de Pós‑Graduação em
Administração. Membro do grupo de estudo e
Patrícia Nunes da Fonsêca. Doutora em Psico‑ pesquisa em comportamento do consumidor da
logia Social pela Universidade Federal da Paraí‑ Universidade de Brasília – Consuma/UnB.
ba. Professora do Departamento de Psicopeda‑
gogia da Universidade Federal da Paraíba. Taciano L. Milfont. Mestre em Psicologia Social
Líder pela Universidade Federal da Paraíba. Ph.D. em
Psicologia Social e Ambiental pela University of Desenvolvimento Organizacional. Professor do
Auckland, Nova Zelândia. Professor (Senior Departamento de Psicologia da Universida‑ de
Lecturer) na Victoria University of Wellington, Paulista – UNIP.
Nova Zelândia, onde também atua no Centre
Valdiney V. Gouveia. Doutor em Psicologia
for Applied Cross‑Cultural Research. Já rece‑
Social pela Universidad Complutense de Ma‑
beu prêmios internacionais por suas pesquisas
drid, Espanha. Professor Associado do Depar‑
e desde 2010 faz parte do corpo editorial do
tamento de Psicologia na Universidade Federal
Journal of Environmental Psychology.
da Paraíba, atuando como professor e orienta‑
Túlio Gomes da Silva Mauro. Mestre pelo De‑ dor na graduação e pós‑graduação (Mestrado e
partamento de Psicologia Social do Trabalho e Doutorado). Pesquisador 1B do CNPq. É fun‑
das Organizações da Universidade de Brasília. dador e membro do grupo de pesquisas Bases
Atua como consultor em Gestão de Pessoas e Normativas do Comportamento Social.
Sumário
Parte I
Fundamentação
1. Breve história da moderna psicologia social ................................................ 13
Maria Cristina Ferreira
Parte III
10 Sumário INDEX BOOKS GROUPS
Parte I
Fundamentação INDEX BOOKS GROUPS
1
Breve história da moderna psicologia social Maria Cristina
Ferreira
GRAUMANN, C.F. Introduction to the history of LANE, S.; CODO, W. (orgs.). Psicologia social:
social psychology. In: HEWSTONE, M.; o homem em movimento. São Paulo:
STROEBE, W.; STEPHENSON, G.M. (orgs.). Brasiliense, 1984.
Introduction to social psychology. 2.ed. London: LANE, S.; SAWAIA, B. Novas veredas da
Blackwell Publi psicologia social. São Paulo: Brasiliense, 1994.
LEWIN, K. Defining the “field at a given time”. MANCEBO, D.; JACÓ-VILELA, A.M. Psicologia
Psychological Review, v. 50, p. 292-310, 1943. social: abordagens sócio-históricas e desafios
LEWIN, K.; LIPPITT, R.; WHITE, R.K. Patterns contem‑ porâneos. Rio de Janeiro: EDUERJ,
of aggressive behavior in experimentally 2004. MARTIN-BARÓ, I. Sistema, grupo y
created “social climates”. Journal of Social poder: Psicolo‑ gia social desde Centroamérica.
Psychology, v. 10, p. 271-299, 1939. San Salvador: UCA Editores, 1989.
2
Psicologia social no Brasil: uma introdução
Elaine Rabelo Neiva
Cláudio Vaz Torres
pesquisas realizadas nos últimos 60 anos.
O campo ainda apresenta microteorias,
não desenvolvendo algo mais global e
pretensio so na explicação do
comportamento huma no no contexto
social. Contudo, vários fe nômenos
psicossociais foram identificados e
analisados, enfatizando -se os fatores que
O objetivo deste livro é apresentar a diver os influenciam. Nas últimas quatro
sidade de estudos e abordagens que carac décadas, a psicologia social tem sido
terizam a psicologia social brasileira, mos totalmente domi nada pela psicologia social
trando seus enfoques divergentes, -cognitiva, com preponderância de
algumas estudos que avaliem os fenômenos sociais
vezes complementares, que foram construí sob a perspectiva indivi dual. Em uma das
dos a partir de posições teóricas e políticas chamadas “crises da psi cologia social”,
que procuram gerar conhecimentos nos anos de 1960 e 1970, os estudos se
bastante aplicáveis à realidade nacional, envolveram mais com fenô menos que
sem descon siderar os temas clássicos da abarcassem a interação e a rela ção entre
psicologia so cial e possibilidades de os indivíduos. Essa crise consistiu em uma
estudos ainda pouco explorados no Brasil. crítica e autocrítica dos psicólogos
A psicologia social se beneficia de sociais acerca da validade dos métodos uti
teorizações oriundas dos grandes sistemas lizados em suas pesquisas, preponderante
psicológicos (behaviorismo, gestalt, psica mente experimentais, da relevância social
nálise, etc.), mas também apresenta teori de seus resultados, além da ética envolvi
zações próprias, desenvolvidas a partir das da em alguns de seus experimentos. Essas
críticas permanecem até hoje, envolvendo, dessa área no Brasil. Ao final do capítulo,
inclusive, movimentos dissidentes no há uma discussão mais acurada sobre os
Brasil, como a psicologia social crítica. objetos da psicologia social, bem como
Este livro tem por objetivo, além de dos objetivos do livro, ressaltando a
apresentar os te mas da psicologia social diversidade de obje tos que são
clássicos, abordar outras vertentes de motivadores de pesquisa e as teorizações
estudo que envolvem os fenômenos que fundamentam as pesquisas
grupal e cultural e, dessa forma, mostrar realizadas.
como a psicologia social tem con tribuído
para a compreensão do homem no
contexto social. A psicologia social no Brasil:
Como forma de realizar tal empreendi um pouco de história
mento, este capítulo foi construído para
apresentar a psicologia social no Brasil, rea Segundo Bomfim (2004), o curso pioneiro
lizando uma retrospectiva histórica e apre em psicologia social no Brasil foi ministrado
sentando dados sobre a situação atual
559
1336
1516 1060 1349
833
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940 1853
1513 729 752 859
957 1867
633 485 504 537
840 740 1074
603
1203 111 1426 1151
583 1134 1769 1646 1607
874 927 872 12501664
1993 637
1807 1287 89
1726 585 1500 862 596
802 889 1624 644
1606
800 1802
1233 1691 1515
681 500 1006 973 512
1637
490 792
824
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297
922
84
1265
781
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1805
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904
1327
974
1230
1114
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1835 837
1519 1133 1456 2126 1679 738
1670 777 1000
896 1522 10 793
1062 1070 566
773 958 883 548
166
1843
1551 1134 1238
1765 1665 1814 909 1592
750 642 965 782 975 902 1030
666 475 000 1713
1620 1065 1055 1061 1073 1797 558 720
1766 1047 628
623 757 569 899 1371
962 1009 878
772 5555 1602 1728
1085
1775
1059
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907
1071
1106
480
901
1739
1605
1319
953
1596
1716 1767
608 1465 1469 575
1775 929 507 512
926 1124 1325
560 596 1037 932 697
526 1660 1262 1040 1799 1295
978 1614
950 8 938
1798
1836
1719 1146 735
1112
707 1368
915 1469
578 1902 1816 1479
511 809 1789 1027 1269 1279 279
979 1787 1341
1661 667
1036 1118 1010 778 1023
1348 1857 578 1855 1708 1029
1707
95 884 968 1361
1692 1804 967 963 946 1137
918 503
1011 667
1367 1899 951 813 696
464
986 1839
1779 1888 1554 1476 1169
519 1588 1347
1328 1107 1608
1475
855
1361 1770
1770
1018
1362 1590
715 1109
1291 766
799 976
19011115 854
1107 1417
1117
1172 906
1224 1084
856
Figura 2.1
559
833 957 537 1115 766
1172
151 1117 1364
906 1362 1291 915
934 644 637 973
1203 1417 1102
1646 1770 1053
1807 738 799
1347 966 963 1061
1114 1107
837 1764 1735
1606 1367
512 1901 586
1341 493 740 504 500
696 976 1500 884
720 971 1728 1888
1839 1775 526
974 1476
548 1899 1074 1059
1047 1665 1116
985 1779
1030
883 1739 809
1169 550 1835
1716 1767 1009 792 492 946 951 1265
958 519 922
813 1602 773 511
465 888 778
112 1456 1836
15231857
1269
575 697
1596
503
1343
95
556
1327
1554
1475
1361
464
103
1768 466
560880
771 882 1279
1797
1166
1713
1006
1262
757
1469
1031
1551
938 1230 1803 1037 1465
642 628
904 907 1445
1323 903 902 907 996 666 1824
1027 1769 1139 905 878 1689
1040 1238
1018 1867 1070 1242 896
1108 1124 457 551 16671126 1130 1287
771 569
861
965
925 667 558 1057 877
1123 988 608 923 681
978 1069 1106
1023 909 1679 927
1592 793
1224
729
859 1029 1664 470 1071
1593 1112 782 1670 489 1660 781
854 1583 979 1591 1661 583
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856
752
1319
1119
911
1110 1118
480
678
475
1515
647
638
1787
1805
889
1545
603
585
872
518
1084 1014 1141 1368 797
855 1799 1109 1637 1519
1531 531 1798 1146 1134 843
1608 1765 899 929 957 840 1702 1328 485 926
1624
1233 952 578 1588 633
1348
507
1121
1667
1789
918
1590
1816
1295
707
1063
1513
1804
1336
495
1692
967
940
1620
874
802
800
1138
1726 824
1902 1479 750
1614 1516
1665 1855 1719
1349
1133
Legenda: 1065
Universidade
Psicologia Social Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Psicologia Social Universidade
Estadual do Rio de Janeiro Psicologia Clínica e Social Universidade Federal do Pará Psicologia
Social Universidade Federal da Paraíba Psicologia Social e Institucional Universidade Federal do
Rio Grande do Sul Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações Universidade de Brasília
Psicologia Social Universidade de São Paulo Psicologia Social FUF
Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social Universidade Federal do Rio de Janeiro
dos pesquisadores, foram: construção
social da subjetividade; atividade,
consciência, identidade, afetividade,
emoções, lingua gem e pensamento sob a
perspectiva sócio- -histórica; história,
representações sociais e cultura e
psicologia social foram objeto de uma aná construção da cidadania e inclu são social.
lise de conteúdo quanto a seus temas de Dentre os temas mais frequentes, dois
pesquisa e uma classificação desses dizem respeito a fenômenos no nível
temas, realizadas por três pesquisadores. individual sob a perspectiva social, e os
Os temas encontrados e classificados se dois últimos dizem respeito a fenômenos
encontram na Tabela 2.2. que ocorrem mais no nível social.
Os temas mais frequentes, de acor Quando se olha para essa
do com as classificações dos currículos diversidade de temas e para a
ambivalência entre temas que ora retratam do ao fenômeno psicológico, por outro
aspectos individuais, ora retratam lado, Floyd Allport (1920, 1924) definiu a
aspectos mais coletivos, retorna -se à psicolo gia social como uma ciência dos
questão sobre qual é o objeto da psicologia indivíduos, e Gordon Allport (1954), seu
social. irmão, definiu a psicologia social como o
Enfim, o que é o social da psicologia estudo de como os pensamentos, os
social? A psicologia tenta explicar compor sentimentos e os comporta mentos dos
tamento. Comportamento é algo indivíduos são influenciados pela
observável. presença de outros imaginários ou atuais.
Para onde olhar quando se quer A ideia das causas dos comportamen tos
compreender os mecanismos usados para serem originárias nas mentes dos indi
explicar o com portamento manifesto? A víduos tornou -se especialmente prevalente
psicologia sempre teve uma relação depois da revolução cognitiva, e o social
ambivalente com o social. Essa divisão passou a ser visto como fonte de
entre psicologia e as outras ci ências informação (Baerveldt, 2004). Alguns
sociais possui origens remotas e leva ram fatores compli cadores, como cultura e
à dessocialização da psicologia social e a fatores históricos, foram completamente
despsicologização das demais ciências so negligenciados ou transformados em
ciais. Emile Durkeim (2002) afirma que o processos cognitivos co letivos (Gardner,
fenômeno sociológico não pode ser reduzi 1985).
Tabela 2.2
Relação de temas indicados pelos pesquisadores da área de psicologia social Temas
Nº de pesquisadores
SRULL, T. K.; WYER JR, R. S. The role of TRIANDIS, H. C. Cross-cultural industrial and
category accessibility in the interpretation of organizational psychology. In: TRIANDIS, H. C.;
information about persons: Some determinants DUNNETTE, M. D.; HOUGH, L. M. (Ed.). Hand‑
and implica tions. Journal of Personality and book of industrial and organizational psychology.
Social Psychology, v. 37, p. 1660-1672, 1989. 2. ed. Palo Alto, CA: Consulting Psychologists
Press, 1994. v. 4, p. 103-172.
SRULL, T. K. Organizational and retrieval
process in person memory: An examination of TRIANDIS, H. C. Individualism and collectivism.
processing objectives, presentation format, and Boulder, CO: Westview Press, 1995.
the possible role of self-generated retrieval TRIANDIS, H. C.; GELFAND, M. J. Converging
cues. Journal of Personality and Social me asurement of horizontal and vertical
Psychology, v. 4, p. 1157-1170, 1983. individualism and collectivism. Journal of
TORRES, C. V. Do Social Norms Have an Personality and Social Psychology, v. 74, p.
Influen ce in Leadership Style Preference? 118-128, 1998.
Assessing leadership style differences between TVERSKY, A.; KAHNEMAN, D. Availability: A
Americans and Brazilians. London: VDM Verlag heuristic for judging frequency and probability.
Cognitive Psychology, v. 5, p. 207-232, 1973. 815, p. 1124-1131, 1974.
TVERSKY, A.; KAHNEMAN, D. Judgment under WYER, R. S.; SRULL, T. K. Handbook of social
uncertainty: Heuristics and biases. Science, v. cog‑ nition. Hillsdale, NJ: Erlbaum, 1984. v. 1-3.
3
Métodos de pesquisa em psicologia social1 Hartmut
Günther
Obter informação confiável sob condições Estudar pessoas em Experimento laboratorial, controladas
um laboratório simulação
Descobrir como as pessoas se comportam Observá‑las Observação sistemática em público
Descobrir como as pessoas se comportam Solicitar que Documentos pessoas na sua vida
privada mantenham um diário
Descobrir o que as pessoas pensam Perguntar às pessoas Entrevista, questionário, escalas de
atitudes
Identificar traços de personalidade ou Administrar um teste Testes psicológicos habilidades
mentais estandardizado
Identificar padrões em material escrito Tabulação sistemática Análise de conteúdo ou visual
Compreender um evento não usual Investigação detalhada Estudo de caso e demorada
Descobrir o que as pessoas fizeram Avaliar documentos Pesquisa de arquivos no passado
públicos
Abordagem quantitativa
quisa. Cabe fazer, inicialmente, uma distin versus qualitativa
ção entre estatística descritiva e inferencial.
A estatística descritiva relata a distribuição Noventa por cento do jogo é 50%
dos dados por meio de tabelas e gráficos. mental. (Berra, 1998, p. 69)
Tabelas apresentam frequências e percen
tagens em termos numéricos, enquanto Apontamos acima três caminhos prin cipais
gráficos permitem visualizar a distribuição para realizar pesquisa no contexto das
dos dados (Nicol e Pexman, 1999, 2003). ciências sociais: observação, experimen
Entretanto, a distribuição de frequências, tos e levantamento de dados. Antes de tra
as aparentes diferenças entre grupos ou tar cada um deles individualmente, convém
even tuais relações estabelecidas por meio ressaltar o que eles têm em comum. O que
de ta belas e gráficos necessitam de uma une os mais diversos métodos e técnicas
resposta à seguinte pergunta: aqueles de pesquisa incluídos nessas três grandes
resultados são sistemáticos ou se chegou famí lias de abordagem é o fato de todos
a eles por acaso? Realizando poucas partirem de perguntas essencialmente
observações em um úni co local, qualitativas (Günther, 2006). Qualquer
dificilmente será possível fazer afir mações pesquisa parte da constatação de que as
sobre o comportamento das pessoas em pessoas variam, se comportam de
geral. O mesmo ocorre se entrevistamos maneira diferente. Isso traz à tona a
apenas nossos amigos ou pessoas que pergunta a respeito da razão pela qual
estão convenientemente disponíveis. É por existe esta variabilidade. Como lidar com
meio de estatísticas inferenciais que ela? Quais as suas implicações? Estas
podemos sa ber até que ponto os perguntas exigem, por sua vez, respostas
resultados são sistemá ticos ou foram qualitativas. A variabilidade existe por essa
obtidos por acaso (Bisquerra, Sarriera e ou aquela razão. Tem essas ou aquelas im
Martínez, 2004; Dancy e Reidy, 2006; plicações. Na tentativa de se partir de uma
pergunta qualitativa e de se chegar a uma qualitativos recorrem, frequentemente, à
resposta qualitativa, há dois caminhos, não clássica afirmação de Dilthey (1894) “expli
necessária e mutuamente excludentes: o camos a natureza, compreendemos a vida
de procedimentos qualitativos e o de mental” (Hofstätter, 1957, p. 315). Querem
procedi mentos quantitativos. salientar que visam compreender a vida
mental e, portanto, utilizam métodos – qua
litativos – apropriados para a psicologia. Já
Procedimentos qualitativos os pesquisadores que usam métodos quan
titativos, argumentam que explicar e com
Procedimentos qualitativos tendem a ser in preender não são processos antagônicos,
dutivos e exploratórios: sem partir de hipó e que a vida mental faz parte dos
teses formais e explícitas, tenta -se fenômenos naturais.
construir um referencial teórico a partir de
dados coletados essencialmente por meio
de ob servações, incluindo, aqui, registros Procedimentos quantitativos
de com portamento, tais como
documentos, diários, filmes e gravações Para explicar o comportamento humano no
que registrem manifes tações humanas contexto da psicologia social, a abordagem
observáveis. Em segundo lugar, a análise quantitativa tende a ser dedutiva e confir
desses dados costuma ser interpretativa, matória, partindo de uma teoria. Parte de
usando -se técnicas de análise de expectativas explícitas ou hipóteses
discurso e de análise de conteúdo (Bauer formais para verificar a existência de
e Gaskell, 2002). diferenças ou relações nos fenômenos
Os pesquisadores que usam métodos sociais, para testá
Referências
ADAIR, J. G.; DUSHENKO, T. W.; LINDSAY, R.
9. Selecionar um objeto de pesquisa e C. Ethical regulations and their impact on
research practice. American Psychologist, v. 40,
definir a problemática, levando em
p. 59-72, 1985.
consideração resultados de pesquisas
AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION.
anteriores (fecha mento do ciclo). Manual de publicação da American
Psychological Association. 4. ed. Porto Alegre:
Sendo a publicação o outro lado da ArtMed, 2001a.
pesquisa, em um relato, explicitam -se os AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION.
passos desse processo cíclico da
Publication manual. 6th ed. Washington, DC:
pesquisa, e o próprio relato tem caráter Autor, 2010.
cíclico. O ter
ARONSON, E.; WILSON, T. D.; AKERT, R. M.
mo relato de pesquisa está sendo utilizado
Psico‑ logia social. 3. ed. Rio de Janeiro: Livros
genericamente para incluir desde trabalhos Técnicos e Científicos Editora, 2002.
em nível de graduação até teses de
ATLAS.TI. Disponível em: <www.atlasti.de>.
doutora do e publicações em revistas
BARKER, R. G. Ecological psychology:
especializadas; aplica -se a trabalhos
Concepts and methods for studying the
baseados em dados em píricos, em dados environment of human behavior. Stanford, CA:
secundários, bem como a resenhas de Stanford U Press, 1968.
literatura. Não cabe entrar em detalhes
BAUER, M. W.; GASKELL, G. (Ed.). Pesquisa
sobre como preparar um relato de quali‑ tativa com texto, imagem e som. Um
pesquisa, entre as muitas publicações manual prático. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
sobre o assunto, apontamos apenas duas:
BERKOWITZ, L.; DANIELS, L. R. Affecting the
algu mas dicas preparadas por Günther (no
salience of the social responsability norm:
pre lo) e o Manual de Publicação Effects of past help on the response to
preparado pela American Psychological dependency re lationships. The Journal of
Association (2001; 2010). Abnormal and Social Psychology, v. 68, p.
275-281, 1964.
BERRA, Y. The Yogi book: I didn’t really say
Notas everything I said. New York: Workman
Publishing, 1998.
1. A elaboração deste trabalho teve apoio do
Conselho Nacional de Desenvolvimento BINGHAM, W. V.; MOORE, B. V. How to
Cien tífico e Tecnológico (CNPq). interview. New York: Harper, 1959.
2. As citações ilustrativas no início das seções BISQUERRA, R.; SARRIERA, J. C.;
deste capítulo são oriundas de um livro de MARTÍNEZ, F. Introdução à estatística: enfoque
Yogi Berra, jogador de beisebol conhecido informático com o pacote estatístico SPSS.
por suas observações pouco Porto Alegre, RS: Artmed, 2004.
convencionais. BORING, E. G. A history of experimental
3. Usamos o termo comportamento de maneira psycho‑ logy. 2nd ed. New York:
genérica para nos referir tanto a comporta Appleton-Century-Crofts, 1957.
mentos quanto a experiências subjetivas, tais
como atitudes, sentimentos e emoções. BREWER, J.; HUNTER, A. Multimethod
4. Esta nomenclatura – VI e VD – persiste research: A synthesis of styles. Thousand Oaks,
mesmo no contexto de experimentos naturais Califórnia: Sage, 1989.
e de levantamento de dados, mesmo BRYAN, J. H.; TEST, M. A. Models and helping:
considerando- -se que estas são situações em Naturalistic studies in aiding behavior. Journal
que o pesqui sador não tem controle sobre as of Personality and Social Psychology, v. 6, p.
variáveis. 400- 407, 1967.
CAMPBELL, D. T.; STANLEY, J. C. Experimental <http://www.pol.org.br/
and quasi-experimental designs for research. legislacao/pdf/cod_etica_novo.pdf>. Acesso em:
Chicago: Rand McNally, 1963. 30.06.2008.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. DANCEY, C. P.; REIDY, J. Estatística sem
Código de ética profissional do psicólogo. matemá‑ tica para psicologia. 3. ed. Porto
Brasília: Autor, 2005. Disponível em: Alegre: Artmed, 2006.
Parte
II O
indivíduo