Você está na página 1de 4

SIMONE DA SILVA TORRES

Ilmo. Senhor Antônio........,


Proprietário

CONSIDERANDO a Constituição Federal Brasileira;

CONSIDERANDO a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT;

CONSIDERANDO o entendimento do Tribunal Regional do Trabalho – TRT 16 e dos demais


Tribunais Superiores;

CONSIDERANDO os princípios norteadores laborais e o entendimento majoritário da


doutrina trabalhista.

Trata-se de consulta formulada por Simone da Silva Torres acerca da possibilidade de terem
incorrido em desvio de função acerca das atividades laborais exercidas pela ex-colaboradora
FULANA DE TAL, assistente administrativa.

É o relatório, passo a opinar.


Inicialmente, devemos entender sobre o instituto “Desvio de Função” e sua aplicação prática
no âmbito laboral da empresa.

Caracteriza-se “desvio de função” no trabalho quando um funcionário é contratado para


exercer uma determinada função, porém acaba executando tarefas diferentes das que estão
determinadas no contrato e em sua carteira de trabalho, assumindo mais responsabilidades do
que o seu cargo exige.

A configuração do desvio de função pressupõe a constatação de modificação, pelo


empregador, das atribuições originalmente conferidas ao empregado, destinando-lhe
atividades, em geral, mais qualificadas, sem a respectiva contrapartida remuneratória.

Para o caso em tela, a atividade/ocupação da ex-funcionária era a de assistente administrativa.

Ao compulsar as informações sobre as atividades necessárias e básicas a serem exercidas por


esta ocupação junto ao Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, nos deparamos com as
seguintes atividades:

Os trabalhadores compreendidos neste subgrupo realizam diversos trabalhos de caráter


administrativos que não figuram nos subgrupos precedentes. Incluem-se aqui os
trabalhadores que controlam a chegada, armazenamento, pesagem e entrega de
mercadorias e produtos acabados; os que despacham, recebem, armazenam, entregam
e pesam as mercadorias; os que preparam os pedidos de materiais necessários às
operações de produção; os que calculam as quantidades necessárias; os que redigem
cartas comerciais e outra correspondência; os que desempenham serviços gerais de
escritório; os que informam e prestam serviços aos clientes ou visitantes de um
estabelecimento; os que codificam e compilam dados estatísticos; os que manejam
máquinas de escritório para reproduzir documentos; os que realizam outros serviços
de arquivo e serviços auxiliares de uma biblioteca; os que desempenham outras tarefas
de escritório. Classificam-se nos seguintes grupos de base: 3-91 Trabalhadores de
serviços de abastecimento e armazenagem 3-93 Auxiliares de escritório e
trabalhadores assemelhados 3-94 Recepcionistas 3-95 Arquivistas e trabalhadores
assemelhados 3-99 Trabalhadores de serviços administrativos e trabalhadores
assemelhados não-classificados sob outras epígrafes. 1
1
http://consulta.mte.gov.br/empregador/cbo/procuracbo/conteudo/tabela2.asp?gg=3&sg=9
Aprofundando mais o entendimento da atividade ora analisada observamos o que segue:

Nº da CBO: 3-11.25 Título: Assistente administrativo

Descrição resumida: Executa atividades de rotina administrativa, preenchendo


formulários, providenciando pagamento, operando máquinas e desenvolvendo
atividades afins, visando contribuir para o perfeito desenvolvimento das rotinas de
trabalho:

Descrição detalhada: preenche formulários diversos, consultando fontes de


informações disponíveis, para possibilitar a apresentação dos dados solicitados;
prepara a relação de cobranças e pagamentos efetuados, consultando documentos e
anotações realizados, para facilitar o controle financeiro; providencia pagamentos
emitindo cheques ou entregando moeda corrente, para saldar obrigações assumidas;
executa atividades próprias de departamento de pessoal, calculando folha de
pagamento, efetuando registros, preenchendo guias e demais documentos afins, para
cumprir dispositivos da legislação trabalhista; arquiva cópia de documentos emitidos
colocando-os em postos apropriados, para permitir eventuais consultas e levantamento
de informações; realiza levantamento do estoque de material existente, examinando
registros efetuados, para proceder, caso necessário, à sua reposição; confere o material
recebido, confrontando-o com dados contidos na requisição, examinando-os, testando-
os e registrando-os, para encaminhá-los ao setor requisitante; opera máquinas simples
de escritório, datilografando textos, fazendo cálculos e tirando cópias xerográficas,
para contribuir na execução dos serviços de rotina; executa trabalhos relativos à
administração de material e patrimônio, realizando levantamento e fixando plaquetas,
para propiciar o efetivo controle dos bens existentes. 2

Na análise do material enviado (print’s de WhatsApp), observou-se condutas condizentes ao


cargo de assistente administrativo exercido pela ex-funcionária.

Ressalto por relevante que, nem sempre um serviço extra requerido/solicitado pelo empregador
se caracteriza como desvio de função. O simples pedido de servir um copo com água a alguém
que chega na empresa ou a uma pessoa que está precisando, como demonstrado na conversa
enviada, por si só não desconfigura o contrato de trabalho firmado entre as partes, mesmo
porque não havia habitualidade nesta conduta, nem tampouco uma imposição por parte do
2
http://consulta.mte.gov.br/empregador/cbo/procuracbo/conteudo/tabela3.asp?gg=3&sg=1&gb=1
empregador. Segundo o ministro do TST Alexandre Ramos, o contrato entre empresa e
empregado tem que estabelecer a função do trabalhador e o serviço para o qual ele foi
contratado. Para a existência do desvio de função, é necessário que o empregado tenha uma
incumbência diferente daquela registrada na carteira de trabalho. Além disso, é preciso que
haja comprovação de perda financeira. “O mais importante é que tenha havido prejuízo
financeiro, pois o que se busca é uma condenação da empresa em diferenças salariais,
exatamente pelo exercício de função diferente”, observa o ministro. 3

CONCLUSÃO

Ante o exposto, conclui-se que não houve desvio de função acerca das atividades executadas
pela Srª ............, uma vez que não existiu qualquer desequilíbrio contratual que importasse em
alterações de suas funções e um consequente prejuízo financeiro.

Reforçasse que o desvio de função ocorre quando o empregado contratado para determinada
função passa a exercer outra, de maior complexidade, sem a contraprestação salarial devida, o
que não ocorrera na situação analisada.

S.M.J

É o parecer.

São Luís/MA, 04 de agosto de 2022.

PAULO COSTA ADVOGADOS ASSOCIADOS


CNPJ nº 46.718.328/0001-49

3
https://www.youtube.com/watch?v=PAjvplyTMs8

Você também pode gostar