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NATAL – RN
2005
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
NATAL – RN
2005
TERMO DE APROVAÇÃO
Banca examinadora:
________________________________________________________
Prof. Dr. José Pereira de Melo (Orientador)
_________________________________________________________
Prof. Ms. João Bosco de Castro Guerra
________________________________________________________
Prof. Ms. João Roberto Liparotti
NATAL – RN
2005
DEDICATÓRIA
1. INTRODUÇÃO 1
1.1 Objetivos 6
1.2 Justificativa 6
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 7
3. METODOLOGIA 95
5. CONCLUSÃO 114
ANEXOS 124
RESUMO
The present study has as is main purpose reflections about didatic planning in the teaching of
Phisical Education in schools. Twenty (20) teachers, both male and female, all working for
private schools in Natal-RN, Brazil, participated on the research. The investigation carried out
has a desciptive, quantitative, and qualitative frame, in which we chose to use questionnaires
in order to collect the data from the aforementioned subjects. Based on the analysis and
discussion of the results found, we concluded that the teachers surveyed selected a critical
assimilation of subjects as the main objective of the physical education classes in schools, they
used games as the main activity, applied teaching by commands as their prime teaching
method, used balls as their most common teaching resource and worked with tests and
theoretical research as main evaluation strategy.
1. INTRODUÇÃO
Como aluno do curso de Educação Física (EF) da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (UFRN), durante os últimos cinco anos, percebemos que há um certo desinteresse no
estudo relacionado aos aspectos didáticos de ensino. Os colegas e profissionais da área
aparentam desconhecer a importância da didática para a construção da prática pedagógica de
qualquer docente. Muitos até chegam ao ponto de afirmar que para ser um bom professor de
EF escolar, basta saber se expressar bem e possuir livros e receituários do tipo ‘1000
exercícios e atividades recreativas’.
Este tipo de comportamento acima relatado nos remete ao período em que atuamos
como estudante escolar, onde vivenciamos aulas de EF em horários desgastantes e fomos
submetidos a procedimentos de ensino repetitivos, desagradáveis e enfadonhos. A vontade de
brincar e de se divertir era constantemente suprimida pelos exercícios analíticos de calistenia,
aparentemente selecionados pelo professor, de forma aleatória e autoritária. Hoje em dia, após
a realização de algumas pesquisas em ambiente acadêmico, acreditamos que aquele professor
era um típico exemplo da falta de embasamento didático necessário à atuação docente. Sua
relação com os alunos era sustentada pela ameaça, pois se não conseguíssemos executar as
atividades de acordo com o número de repetições exigido, teríamos que desempenhá-las
novamente quantas vezes fossem necessárias. Os objetivos dos exercícios praticados nunca
eram claros, assim como também não sabíamos quais critérios estavam sendo utilizados para a
avaliação de nosso desempenho. Ao final de períodos aleatórios, alguns de nossos colegas
eram surpreendidos com a notícia de que estavam “inaptos” para as aulas de EF escolar, não
mais precisando comparecer aos próximos encontros. Deste modo, perdíamos a chance de
conviver com os mais variados tipos de pessoas. Conforme o ano passava, os alunos iam
sendo eliminados até que sobrassem os “melhores” e mais “aptos” para participarem dos Jogos
Escolares do Rio Grande do Norte (JERN’S), naquela época disputado no mês de outubro.
Esta foi a maneira como vivenciamos as nossas aulas de EF escolar durante o período de
escolarização; esta foi a educação que recebemos.
Atualmente, já em ambiente acadêmico, verificamos, conforme afirma Libâneo (2001),
que a educação é uma prática social pela qual os indivíduos adquirem características humanas
e valores éticos necessários para o convívio em sociedade. Ela acontece nas mais variadas
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esferas da vida, tais como a familiar, escolar, religiosa, comunitária, entre outras, permitindo
que os seres humanos incorporem saberes e modos de agir. Adotando este conceito como base,
percebemos que nossa educação nas aulas de EF escolar foi deficiente e insatisfatória.
A educação é posta em prática através da ciência pedagógica, ou simplesmente,
pedagogia. Para Libâneo (1994) a pedagogia consiste em um campo de conhecimentos que
investiga a natureza das finalidades da educação em uma determinada sociedade, bem como os
meios apropriados para a formação dos indivíduos, tendo em vista prepará-los para as tarefas
da vida social. Já Piletti (1995) apresenta um conceito mais direto, definindo a pedagogia
como sendo o conjunto dos aspectos filosóficos, científicos e técnicos, inerentes à prática
educativa.
No aspecto filosófico a pedagogia está contextualizada dentro de princípios
educacionais fundamentais, tais como as relações da educação com a vida, os valores e os
ideais pedagógicos. No aspecto científico, observa-se que as ciências que estudam o
comportamento humano (biologia, sociologia, psicologia, antropologia etc.) são quem
representam o suporte teórico dado ao desenvolvimento da pedagogia. Por último tem-se o
aspecto técnico, onde a pedagogia se ramifica em técnicas educativas de como ensinar
(PILETTI, 1995).
Um dos ramos da pedagogia, em seu aspecto técnico, é chamado de didática. De
acordo com Campos (2002) a didática consiste na arte de orientar a aprendizagem,
estabelecendo a teoria fundamental de ensino e examinando criticamente os diferentes
métodos e procedimentos adotados dentro do processo educativo. Já Libâneo (1994) afirma
que a didática é a principal área de estudo da pedagogia, cabendo-lhe o papel de investigar os
fundamentos, condições e modos de realização da instrução do ensino, converter objetivos
socio-politicos e pedagógicos em objetivos para a aprendizagem, selecionar conteúdos,
métodos e recursos de ensino em função desses objetivos, bem como estabelecer os vínculos
entre ensino e aprendizagem.
Piletti (1995) afirma que a didática pode apresentar-se em dois tipos: geral e especial.
Na didática geral o estudo abrange os princípios, normas e técnicas de ensino que devem
regular a atividade docente em qualquer prática pedagógica. Contrapondo-se a esta situação, a
didática especial enfatiza o estudo de aspectos técnicos de uma disciplina específica,
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1.1 Objetivos
a) Identificar os principais objetivos de ensino que devem ser atingidos ao final das
aulas de EF escolar dos professores que atuam na rede particular de ensino da cidade de Natal;
b) Identificar os principais conteúdos de ensino ministrados nas aulas de EF escolar
dos professores que atuam na rede particular de ensino da cidade de Natal;
c) Identificar os principais métodos de ensino utilizados nas aulas de EF escolar dos
professores que atuam na rede particular de ensino da cidade de Natal;
d) Identificar os principais recursos materiais de ensino utilizados nas aulas de EF
escolar dos professores que atuam na rede particular de ensino da cidade de Natal;
e) Identificar as principais estratégias de avaliação utilizadas nas aulas de EF escolar
dos professores que atuam na rede particular de ensino da cidade de Natal;
1.2 Justificativa
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
avaliação, como elementos didáticos eficazes para a prática pedagógica do professor de EF.
Lorenzini e Tavares (1998), por sua vez, também destacam a importância do planejamento na
atuação docente do profissional que trabalha na escola, enfatizando que é com este elemento
didático que o professor encaminha o processo de ensino-aprendizagem pelo qual o
conhecimento se transforma em saber escolar.
A realização de um estudo executado por Molina Neto, citado por Faggion (2000),
confirma que os professores de EF escolar não gostam de elaborar planejamentos em suas
respectivas atividades pedagógicas. A justificativa mais comum para esta atitude é que a
experiência prática que eles possuem evita a necessidade do ato de planejar, pois os
procedimentos de ensino acabam sempre se repetindo. Neste sentido, o autor levanta alguns
questionamentos interessantes. Para ele, a ausência do planejamento do processo de ensino-
aprendizagem leva os docentes a não terem objetivos bem definidos. Sem os objetivos
norteadores para a EF escolar, de que modo o professor poderá realizar sua prática
pedagógica? Quais conteúdos serão ministrados? Quais estratégias metodológicas serão
utilizadas para garantir a eficiência na aprendizagem dos conteúdos? Quais recursos de ensino
serão utilizados no decorrer do período letivo? Que tipo de avaliação será realizado?
de educação quando apresentar características essenciais que favoreçam sua utilização na ação
docente em sala de aula.
aos educandos, com destaque para os conteúdos e objetivos pretendidos naquela unidade de
estudo. Há então uma discussão aberta onde professor e alunos conversam sobre as melhores
formas de organização para a execução das atividades selecionadas, bem como as formas de se
exercitar para que cada aprendiz possa descobrir seus limites e possibilidades individuais. Em
um segundo momento o aluno tenta se apropriar do conhecimento relacionado aos conteúdos
delimitados. Nesta etapa a professor observa as atividades realizadas, faz registros sobre a
ação dos educandos, fornece feedbacks individuais ou em grupo, realiza perguntas
problematizadoras e dá sugestões para a solução de questões que precisam ser encaminhadas,
sem necessariamente interromper a atividade praticada. No terceiro e último momento é
executada uma avaliação final da aula. Nesta fase, educador e educandos verificam as
conclusões, levantam aspectos positivos e negativos e também perspectivas para as aulas
seguintes, encerrando então aquele dia letivo. O autor relata que esta proposta foi formulada
com o objetivo de que os professores planejem sua prática pedagógica, orientados pela
necessidade de uma reflexão teórico-prática dos alunos sobre os conteúdos que foram
ministrados durante aquele dia letivo. Resende et al (1997), por sua vez, também defendem
uma proposta de planejamento semelhante a esta defendia por Jeber (2003), diferenciando-se
apenas pelo fato de que no início de cada aula o professor deve fazer uma retrospectiva dos
aspectos centrais ocorridos na seção anterior, de modo a orientar a continuidade do conteúdo
que está sendo desenvolvido naquela unidade de estudo.
Assim, as questões contextuais pertinentes ao planejamento do processo de ensino-
aprendizagem em EF escolar nos leva a concordar com Libâneo (1994), quando afirma:
sociedade. Já Piletti (1995) apresenta uma definição mais direta, afirmando que os objetivos
de ensino consistem em uma descrição clara dos resultados que os alunos devem atingir, por
meio da prática pedagógica planejada e executada pelo professor.
Piletti (1995) e Turra et al (1996) indicam que a formulação de objetivos é fundamental
em qualquer processo de ensino-aprendizagem, pois permite ao professor selecionar os
procedimentos de ensino mais adequados, bem como avaliar a aprendizagem que os alunos
obtiveram durante a prática pedagógica que foi executada. Em torno da formulação de
objetivos de ensino gira todo o trabalho docente, já que a seleção de conteúdos, das estratégias
metodológicas, dos recursos e dos instrumentos de avaliação, decorrerá a partir da
determinação destes objetivos.
Libâneo (1994) afirma que a elaboração de objetivos requer um posicionamento ativo
do professor, ou seja, que o educador, ao delimitar os objetivos que devem ser atingidos pelos
seus alunos, realize uma avaliação ativa e crítica das referências que utiliza, balizada pelas
suas opções em face dos determinantes sócio-políticos da prática educativa. Deste modo, o
professor necessita saber avaliar a pertinência dos objetivos propostos, verificando em que
medida atende as exigências da democratização política e social.
ensino. Neste contexto, Campos (2002) afirma que todo e qualquer professor de EF escolar
deve possuir um conhecimento amplo e seguro sobre os objetivos educacionais, pois é este
conhecimento que norteará a formulação dos objetivos específicos inerentes à sua prática
pedagógica.
Conhecendo os objetivos educacionais, o professor poderá então delimitar os objetivos
específicos a serem atingidos pelos alunos durante o processo de ensino-aprendizagem. De
acordo com Turra et al (1996) e Piletti (1995) os objetivos específicos são aqueles que estão
presentes na realidade da sala de aula, representando proposições sobre mudanças no
comportamento dos alunos, que serão atingidas gradativamente no decorrer da prática
pedagógica. Para Libâneo (1994) este tipo de objetivo sempre apresenta um caráter
pedagógico, pois explicita o rumo a ser implementado no trabalho escolar, em torno de um
programa de formação. São objetivos que particularizam a compreensão das relações entre a
escola e a matéria de ensino, devendo o educador procurar formulá-los sempre direcionados
aos alunos. Segundo Turra et al (1996) os objetivos específicos apresentam sete funções
básicas. São elas: esclarecer os desempenhos visados; guiar a seleção e organização dos
conteúdos; orientar a organização e seleção dos procedimentos de ensino; guiar a seleção dos
recursos de ensino; permitir maior precisão na avaliação dos resultados; comunicar aos alunos
o que se espera deles; e possibilitar um enfoque comum aos professores. Quando o docente
conseguir operacionalizar objetivos que contemplem todas estas funções, terá a garantia que
sua prática pedagógica está direcionada para a efetiva aprendizagem dos educandos.
Além dos objetivos gerais e específicos, temos também aqueles que são classificados
como psicomotores, cognitivos e afetivos. De acordo com Turra et al (1996) os objetivos
relativos ao domínio psicomotor estão associados às habilidades motoras; os relativos ao
domínio cognitivo estão associados aos conhecimentos, conceitos, idéias, princípios e
habilidades mentais; e àqueles relativos ao domínio afetivo abrangem comportamentos
associados com atitudes, valores e apreciações. Dentro do contexto da EF escolar, alguns
autores rejeitam a proposta de formulação de objetivos nos diferentes domínios do
comportamento humano. Resende et al (1997), por exemplo, afirmam que os educadores que
trabalham com o referido componente curricular devem desvincular-se de preocupações
técnico-burocráticas, tais como a delimitação de objetivos em termos operacionais e a
contemplação de fragmentados domínios de aprendizagem (psicomotor, cognitivo e afetivo).
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Já Paixão e Pinto (2000) acreditam que as aulas de EF no ambiente formal devem sim ser
norteadas por objetivos que atinjam todos os domínios. Neste contexto é válido frisar que,
embora os objetivos sejam fragmentados em três domínios, eles referem-se apenas a uma
realidade: o ser humano concreto e indivisível. A referida divisão serve apenas para a
facilitação na utilização deste elemento didático durante a construção da prática pedagógica do
educador (PILETTI, 1995).
Paixão e Pinto (2000) afirmam que, por trás dos interesses higienistas, havia na
verdade o objetivo de manipulação e domesticação da classe trabalhadora, sendo que a EF
escolar nesta perspectiva servia apenas para conservar as finalidades almejadas por quem
estava no poder político. A EF praticada na escola estava sendo vista, na sua essência, como
um agente de saneamento público, dando ênfase a um projeto de ‘assepsia corporal’.
Os objetivos de ensino da EF escolar dentro da perspectiva higienista buscavam
promover uma intervenção no sentido de ensinar hábitos de higiene aos alunos, assim como
também buscavam o desenvolvimento da aptidão física dos indivíduos, ou seja, o
aprimoramento de um corpo sadio com vistas à melhoria generalizada e harmônica do
organismo. Desta maneira, esperava-se que a EF pudesse favorecer a formação de indivíduos
fortes, sadios e capazes de contribuir com o progresso da humanidade (PERES, 2001;
SOARES et al, 1992; BELTRAMI, 2001; DARIDO, 2001).
Pesquisas recentes sinalizam com a possibilidade de ainda existirem professores de EF
escolar que trabalham dentro de uma perspectiva higienista. Em um estudo realizado por
Faggion (2000) com professores de EF que atuavam no ensino médio das escolas públicas de
Caxias do Sul – RS, o autor verificou que grande parte dos docentes investigados estava
desenvolvendo sua prática pedagógica dentro de concepções higienistas, ou seja, trabalhando
com objetivos, conteúdos, métodos e procedimentos de ensino semelhantes àqueles
desenvolvidos nos países europeus, principalmente em relação à aplicação dos métodos
reproducionistas de origem francesa, sueca e alemã.
Após a abordagem higienista, Ghiraldelli Jr. (1994) afirma que a EF escolar acaba
assumindo uma perspectiva militarista. É sobre esta perspectiva que nós faremos a análise a
seguir.
Nas primeiras décadas do século XX a EF escolar no Brasil passou a sofrer uma forte
influência militar. Beltrami (2001) afirma que o contexto político da época estava situado em
meio à ascensão da ideologia fascista, o que fazia com que a EF fosse associada a eugenização
da raça humana. Os objetivos higienistas do período anterior foram mantidos, bem como o
ensino através de métodos característicos do Movimento Ginástico Europeu.
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das forças físicas, morais, cívicas, psíquicas e sociais do educando, contribuindo para a
formação de atletas de elite que deveriam representar o país em terras estrangeiras, tornando o
Brasil uma nação olímpica e promovendo o nacionalismo (PERES, 2001; BELTRAMI, 2001).
Estudos realizados por Ribeiro (1996) e Faggion (2000) indicam que alguns
professores de EF escolar ainda hoje trabalham dentro da perspectiva competitivista. A
justificativa para esta atuação seria a necessidade da obtenção de sucesso em competições
escolares nas categorias infanto-juvenis. Ribeiro (1996) faz uma crítica bastante acentuada a
esta situação. Para o autor, se a educação brasileira tem o objetivo de formar cidadãos íntegros
e com autonomia de decisão, não há nenhum motivo para os profissionais de EF escolar
continuarem trabalhando dentro da perspectiva competitivista, pois esta em nada contribui
com o objetivo acima referido.
Durante a década de 70 os efeitos do modelo competitivista começaram a ser sentidos e
contestados. O Brasil acabou não se tornando uma potência olímpica e a competição esportiva
de elite não aumentou o número de praticantes de atividades físicas (BRASIL, 1997). Um
grande número de novas perspectivas de estudo em EF escolar veio a surgir, dentre as quais
podemos destacar a da psicomotricidade.
potencial social. Valores como a verdade, ação correta, amor, não-violência, solidariedade,
cooperação e paz, eram ensinados como forma de contribuir com a ampliação da consciência
social e crítica dos alunos, bem como facilitar o desenvolvimento da natureza inocente e
bondosa da criança, tendo em vista sua participação ativa e autônoma na prática social.
Hoje em dia alguns autores continuam defendendo a educação dentro de uma
perspectiva humanista. Neste sentido, podemos analisar o estudo de Knijnik (2001), o qual
defende a importância de um sistema educacional que contribua para o equilíbrio do ser social,
cultural e psíquico, ou seja, do ser humano em suas múltiplas facetas. Isto seria conseguido
por meio de um processo de ensino-aprendizagem que fosse sustentado em três pilares
teóricos, tais como: fornecimento dos meios pelos quais os educandos conseguiriam garantir
sua sobrevivência (pilar social); fornecimento de acesso à cultura objetiva da sociedade em
que o aprendiz está inserido, através da solidariedade nas relações humanas (pilar cultural); e
fornecimento da identidade subjetiva do aluno, isto é, a busca pelo seu autoconhecimento
(pilar psíquico).
Segundo Dieckert, citado por Taffarel (1985), a criatividade se refere à habilidade que
o ser humano apresenta de produzir resultados novos e desconhecidos, desenvolvidos de
maneira intencional e objetiva. Trata-se de um objeto de estudo que desperta muita
curiosidade entre os pesquisadores científicos, pois representa um fenômeno bastante
complexo, abrangente e importante em todos os domínios do comportamento humano.
Na década de 80, Taffarel (1985) publicou o livro intitulado ‘Criatividade nas aulas de
Educação Física’, inaugurando uma nova perspectiva de ensino para os professores de EF que
atuam no ambiente escolar. Em sua obra, a autora destaca a importância de se pensar em uma
prática pedagógica norteada por métodos e procedimentos de ensino que estimulem a
criatividade. Neste contexto, foram analisados os métodos das perguntas operacionalizadas, da
análise, da análise-síntese, da tempestade de idéias e da lista de checagem. Em um momento
posterior de nosso trabalho faremos um estudo mais específico sobre estes métodos de ensino.
Segundo Le Bouch (1986) as crianças que estão na faixa etária entre 2 e 7 anos devem
ser estimuladas ao máximo em sua capacidade de criação; em virtude disto, as aulas de EF na
escola deveriam basear-se no atendimento aos diversos aspectos naturais da vida ao ar livre e
na liberdade de movimentos, ou seja, na expansão de atividades espontâneas e criativas. Ainda
de acordo com o mesmo autor, também no período entre 2 e 7 anos ocorre um fato muito
importante para o estímulo à criatividade dos educandos, uma vez que é neste espaço de tempo
que eles aprendem a ler. A capacidade de leitura permite que o aprendiz descubra um novo
mundo, repleto de atrações e de novas situações que contribuem para aumentar-lhe o poder
imaginativo e criativo.
Outro aspecto importante que podemos destacar é o fato do professor de EF
proporcionar aos alunos movimentos portadores de um sentido para os mesmos, uma vez que
movimentos mecânicos memorizados e realizados abstratamente somente contribuem para a
inibição da capacidade criativa (GONÇALVES, 1997). Portanto, as aulas de EF escolar dentro
da perspectiva da criatividade devem ser organizadas em um contexto que facilite a
emergência de atitudes criativas, sem perder de vista o intuito de transferência deste processo
criativo para todas as situações da vida (TAFFAREL, 1985).
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motor a ser atingido, pois muitas vezes os aprendizes até conseguem perceber o erro cometido,
todavia não conseguem detectar a origem do mesmo.
Um aspecto importante da abordagem desenvolvimentista é que ela privilegia a
aprendizagem motora através de estágios de desenvolvimento pré-estabelecidos, partindo
desde aquela criança iniciante até aquela especialista. Segundo Betti, citado por Mauad
(2003), a EF desenvolvimentista evolui por meio do desenvolvimento hierárquico do domínio
motor, aumentando a complexidade, diversidade, controle e qualidade do movimento,
iniciando em uma ordem de habilidades mais simples (habilidades motoras básicas) para as
mais complexas (habilidades motoras específicas).
Mauad (2003) afirma que a observação sistemática do professor representa um
instrumento didático essencial para a prática pedagógica na perspectiva desenvolvimentista.
Isto se deve ao fato de que é através desta observação que o erro cometido pelo aluno é
detectado pelo educador. A observação do comportamento do aprendiz também permite que o
professor verifique em que fase de desenvolvimento motor o aluno se encontra, podendo assim
localizar e sanar as dificuldades observadas.
A partir desta análise, podemos afirmar que o principal objetivo de ensino da EF
escolar na perspectiva desenvolvimentista, consiste em proporcionar ao aluno condições para
que seu domínio do comportamento motor evolua através do aumento e da interação entre a
diversidade e a complexidade de habilidades motoras. Para que isto seja efetivado, o educador
deve preocupar-se fundamentalmente em oferecer experiências de movimentos, adequadas aos
estágios de crescimento e de desenvolvimento do aprendiz (AZEVEDO, SHIGUNOV, 2000;
NETO, ASSUNÇÃO, 2005).
A abordagem desenvolvimentista vem sofrendo muitas críticas negativas no decorrer
dos últimos anos. Neto e Assunção (2005), por exemplo, afirmam tratar-se de uma perspectiva
que nega a compreensão da criança como um ser social e criativo, inserido em uma realidade
capitalista repleta de contradições; por este motivo, não se preocupa com a formação de
cidadãos críticos e participativos para a construção de uma sociedade mais democrática e mais
justa. Sua fundamentação demasiada nas teorias de desenvolvimento e aprendizagem motora
despreza totalmente a concepção de estratificação social da realidade capitalista, pois acredita,
de forma até certo ponto ingênua, que todas as crianças devem alcançar padrões fundamentais
de movimento, independentemente de suas classes e condições sociais.
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sem nenhuma conseqüência para a formação educacional dos jovens, devendo ser totalmente
excluída do ambiente escolar.
O professor que sustenta sua prática pedagógica dentro da perspectiva da promoção da
saúde, deve se preocupar fundamentalmente em conscientizar o educando da importância em
manter um estilo de vida saudável ao longo de toda a sua existência. Neste contexto, Guedes
(1999, p. 02) afirma que:
Fica claro então que os professores de EF escolar devem estar atualizados com os
conceitos modernos sobre pedagogia, exercício e ciências da saúde, além de apresentarem
conhecimentos bem delineados sobre o crescente corpo de informações que associam
educação e aderência ao estilo de vida saudável (MAITINO, 2000).
Assim sendo, é visível que o principal objetivo de ensino da EF escolar, dentro da
perspectiva da promoção da saúde, consiste em propiciar condições para que os educandos
obtenham autonomia em relação a prática de atividades físicas, ou seja, após o período formal
de aulas, os alunos devem possuir uma fundamentação teórico-prática suficiente para a
manutenção de um programa regular de exercícios, sem o auxílio de especialistas, se assim o
desejarem (LICO, DARIDO, 2001; GUEDES, 1999; MAITINO, 2000).
Segundo Resende et al (1997) uma das funções da escola é fazer com que os
educandos assimilem conhecimentos relativos ao patrimônio científico e cultural produzido
historicamente pela humanidade, de modo que possam adquirir a autonomia necessária a sua
interação e intervenção no processo de construção e direção da sociedade. Algumas propostas
na área de EF, fundamentadas basicamente no marxismo, têm surgido nas últimas décadas,
visando atrelar a prática pedagógica em EF escolar com as transformações sociais, econômicas
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promover o pensamento tático rudimentar e discutir noções básicas de regras, o que vai ajudar
o aluno na sua tomada de decisão e no pensamento coletivo. O terceiro ciclo compreende as
sétimas e oitavas séries, estabelecendo o momento em que o aluno deve conseguir ampliar e
sistematizar seu conhecimento através de uma leitura teórica da realidade, bem como também
antecipar alguns fatos por meio de sua elaboração mental. O quarto ciclo corresponde ao
ensino médio, no qual o aprendiz já deverá ser capaz de trabalhar com as teorias científicas e
relaciona-las com a realidade, assim como também estar capacitado para perceber
propriedades comuns e regulares nos objetos, na medida em que pode compreendê-los e
explicá-los.
A prática docente do professor de EF escolar que atua na perspectiva da cultura
corporal deve basear-se no projeto político pedagógico da escola, onde caberá ao educador
estabelecer os conteúdos com os quais vai trabalhar, manter uma relação de respeito,
compromisso, solidariedade e reciprocidade com os alunos e, principalmente, realizar uma
constante reflexão sobre o processo de ensino-aprendizagem que está desenvolvendo junto aos
seus aprendizes. Neste sentido, Soares et al (1992) afirmam que:
É preciso que cada educador tenha bem claro: Qual o projeto da sociedade e de
homem que persegue? Quais os interesses de classes que defende? Quais os valores,
a ética e a moral que elege para consolidar através de sua prática? Como articula
suas aulas com este projeto maior de homem e sociedade (p.26)
O educador deve então buscar relacionar a prática social global com a prática da
cultura corporal, direcionando seus procedimentos didático-pedagógicos com conteúdos e
métodos que estimulem a vivência lúdica, reflexiva e sócio-comunicativa de atividades
relacionadas aos jogos, esportes, danças, ginásticas e capoeira, criando assim possibilidades
para que os alunos adotem uma postura crítica em relação a assimilação destes conteúdos,
valorizando a questão da contextualização dos fatos e do resgate histórico (RESENDE,
SOARES, 1996; RESENDE et al, 1997; AZEVEDO, SHIGUNOV, 2000).
Falando especificamente dos objetivos de ensino, Resende et al (1997) e Betti e Zuliani
(2002) indicam que o objetivo geral da EF escolar dentro da presente perspectiva, consiste em
possibilitar a vivência sistematizada de conhecimentos e habilidades da cultura corporal de
movimentos, de um modo que os alunos, ao final do processo de ensino-aprendizagem,
apresentem autonomia para se posicionarem criticamente em relação aos conteúdos
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Sendo assim, a EF escolar na perspectiva dos PCN’S tem como objetivos gerais de
ensino que os alunos sejam capazes de: participar de atividades corporais, estabelecendo
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relações equilibradas e construtivas com os outros, sem adotar postura discriminatória por
características pessoais, físicas, sexuais ou sociais; adotar atitudes de respeito mútuo,
dignidade e solidariedade em situações lúdicas e esportivas, repudiando qualquer espécie de
violência; conhecer, valorizar, respeitar e desfrutar da pluralidade de manifestações da cultura
corporal; reconhecer-se como elemento integrante do ambiente social, adotando hábitos
benéficos para sua própria saúde, bem como para a manutenção e melhoria da saúde coletiva;
solucionar problemas de ordem corporal em diferentes contextos; reconhecer condições de
trabalho que comprometam os processos de crescimento e desenvolvimento; conhecer a
diversidade dos padrões de saúde, beleza e estética corporal que existem nos diferentes grupos
sociais, analisando criticamente os padrões divulgados pela mídia e evitando o consumismo e
o preconceito; conhecer, organizar e interferir no espaço de forma autônoma, bem como
reivindicar locais para promover atividades corporais de lazer (BRASIL, 1997).
Interessante notar que, no âmbito didático, os objetivos de ensino da EF escolar na
presente perspectiva, são os únicos que explicitam comportamentos a serem atingidos pelos
alunos, o que está em acordo com as orientações didáticas proferidas por Libâneo (1994) e
Piletti (1995). Em todas as outras perspectivas, os objetivos gerais de ensino destacam
comportamentos que devem ser atingidos pelos professores, excluindo assim o aluno do centro
do processo de ensino-aprendizagem.
Após delimitar os objetivos de ensino que os educandos devem atingir, o professor
deverá então selecionar conteúdos adequados a estes objetivos. A seguir, faremos uma análise
mais detalhada sobre cada um dos conteúdos de ensino na EF escolar, também sob a ótica das
diversas perspectivas que nortearam o ensino deste componente curricular ao longo de sua
história no Brasil.
conhecimento. Coll et al, citados por Darido (2001), por sua vez, acreditam que os conteúdos
de ensino nada mais são do que uma seleção de formas ou saberes culturais, cuja assimilação é
considerada essencial para que se produza um desenvolvimento e uma socialização adequada
do aluno.
Falando especificamente dos conteúdos de ensino na área de EF escolar, Soares et al,
citados por Chaves (2001a), relataram que as aulas de EF, historicamente, têm privilegiado
conteúdos que se ligam diretamente ao mundo produtivo, julgando assim, aproveitar melhor o
tempo da criança na escola. Na verdade, o que acontecia era a pura transmissão de conteúdos
desconectados da realidade, onde o professor detinha o saber e os alunos apenas reproduziam
passivamente os conhecimentos. Esta situação contribuiu para que a EF na escola fosse
questionada quanto aos seus valores dentro do currículo educacional. Com o decorrer do
tempo, o estudo na área de EF evoluiu, permitindo que os conteúdos de ensino fossem
abordados em uma visão mais ampla e contextualizada. De acordo com Moreira, citado por
Chaves (2001b), a situação atual ainda é bastante limitada em termos de dimensões
conceituais; todavia, apresenta-se melhor do que há alguns anos atrás. Este mesmo autor
afirma também que algumas observações podem ser relatadas a partir da prática pedagógica
dos docentes que atuam nas escolas: a primeira delas é que todas as propostas curriculares
seguem uma seqüencialidade de conteúdos e na EF isso não ocorre; a segunda observação é
que os professores desta disciplina não dão a devida importância aos conteúdos que deverão
ser ministrados; a terceira e última observação é que os conteúdos curriculares em EF escolar
ainda refletem uma prática pela prática, o jogo pelo jogo, ou seja, ainda são desprovidos de
aplicações baseadas em uma fundamentação teórica crítica e construtiva. Estas observações
demonstram que a EF escolar ainda tem muito a evoluir em relação à utilização dos conteúdos
de ensino, sendo necessário que os pesquisadores e professores da área entrem em debates e
reflexões sobre este assunto.
Faggion (2000) indica que é de grande importância o fato do professor de EF escolar
procurar manter-se atualizado por meio de bases científicas, para assim poder selecionar e
ministrar conteúdos relevantes dentro do processo de ensino-aprendizagem. Neste sentido
percebemos que o tratamento dispensado pelo docente aos conteúdos de ensino, representa um
dos mais evidentes indicadores do seu grau de atualização, criatividade, iniciativa e
sistematização, sendo-lhe exigido um conhecimento seguro do assunto e do grupo de alunos,
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2.3.1 Critérios Para Seleção dos Conteúdos de Ensino na Educação Física Escolar
Segundo Libâneo (1994) o professor possui basicamente três fontes para delimitar os
conteúdos de ensino de sua disciplina: a primeira delas é a programação oficial emitida pelos
órgãos relacionados à educação, na qual são fixados os conteúdos de cada matéria; a segunda
é representada pelos próprios conteúdos básicos das ciências transformadas em matérias de
ensino; e a terceira é representada pelas exigências teóricas e práticas colocadas pela vivência
dos alunos em seu ambiente social, tendo em vista o mundo do trabalho e a participação
democrática na sociedade. Após delimitar os conteúdos, o professor deve então selecionar
àqueles que farão parte de sua prática pedagógica durante o período letivo.
Na EF escolar, conforme afirma Chaves (2001b), os conteúdos de ensino geralmente se
repetem durante o período letivo, sendo selecionados em meio a antagonismos, conflitos e
indefinições, tornando-se algo problemático e complementar, sem significação para os alunos.
Para se ter uma idéia da situação caótica na utilização deste elemento didático em aulas de EF,
podemos analisar a pesquisa realizada por Maitino (2001), onde o autor verificou que 32,7%
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dos alunos que freqüentavam o ensino médio afirmaram não aprender nada com as aulas desta
disciplina. Quando a mesma pesquisa foi realizada no ensino fundamental, o número de alunos
subiu para 35,8%. Este estudo confirma que mais de 1/3 da população discente entende que o
processo de ensino-aprendizagem em EF escolar é nulo, pois a assimilação ativa de conteúdos
não existe.
Devido as dificuldades encontradas pelos professores para selecionar conteúdos
coerentes com a efetiva aprendizagem dos educandos, muitos autores sugerem que alguns
critérios sejam utilizados para facilitar este momento de seleção. Na área de EF escolar, a
proposta mais marcante indica a existência de três critérios: relevância social, características
dos alunos e características da própria área (BRASIL, 1997). No critério de relevância social,
os conteúdos devem ser selecionados obedecendo às exigências e características da realidade
sócio-econômica e histórica em que a escola está inserida, tornando assim a aprendizagem
mais concreta. Já no critério referente às características dos alunos, destaca-se que os
conteúdos de ensino devem estar relacionados com o crescimento, experiências e
possibilidades do aluno; dessa forma, devem ser observadas as potencialidades cognitivas,
motoras, afetivas e sociais de cada aprendiz, permitindo que o conteúdo selecionado seja
completamente aprendido. O terceiro e último critério é referente às características da própria
área, implicando na seleção de conteúdos que represente e incorpore a enorme gama de
conhecimentos e informações que vem sendo produzidas em EF ao longo de sua história
(Ibid.). Atentando para a importância da seleção sistemática e criteriosa dos conteúdos na EF
escolar, o professor estará dando um grande passo na direção de viabilizar uma aprendizagem
significativa e construtiva (CHAVES, 2001b).
Após selecionar os conteúdos com base nos critérios acima referidos, o educador
deverá então se preocupar com a abordagem que adotará para ministrá-los. Considerando
especificamente o ambiente da EF escolar, Silveira e Pinto (2001) e Oliveira (2002) indicam
algumas abordagens que podem ser utilizadas. São elas: histórica, técnica/tática, ética,
cultural, profissional (conteúdo como campo de trabalho), social, fisiológica e mercantilista
(conteúdo no contexto da mídia e do espetáculo). Isto quer dizer que o mesmo conteúdo pode
ser abordado sob, pelo menos, oito formas diferentes, sendo injustificável a postura do
professor que se torna repetitivo e enfadonho durante a condução do processo de ensino-
aprendizagem.
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August Listello (DARIDO, 2001). O esporte e o jogo constituíam-se nos conteúdos de ensino
prioritários, sendo desenvolvidos em quatro fases: exercícios de aquecimento, exercícios de
flexibilidade e desenvolvimento muscular, exercícios de agilidade e exercícios esportivos
(MAUAD, 2003). Com o avançar dos anos, o MDG foi gradativamente sendo abandonado e
substituído pelo ME. Neste novo contexto, o esporte passou a ser o único conteúdo de ensino
na EF escolar, onde era ministrado sob a ótica da aptidão física e da iniciação esportiva,
servindo então de base para a formação de talentos esportivos (RESENDE, SOARES, 1996;
MAUAD, 2003).
Durante a década de 70 muitas perspectivas começaram a surgir, dentre as quais
podemos destacar a da psicomotricidade. Nesta perspectiva, o envolvimento era com a
educação motora do educando e com o conhecimento relativo às outras disciplinas curriculares
(MAUAD, 2003). Os conteúdos de ensino foram representados pelas atividades corporais
produzidas historicamente pela humanidade, ou seja, o esporte, a dança, o jogo e a ginástica,
desde que trabalhados com vistas a atingir objetivos como a melhoria das condutas motoras de
base, das condutas neuro-motoras, do esquema corporal, do ritmo, da aprendizagem objeto-
motora, da coordenação motora, da adaptação postural, da percepção espaço-temporal e da
comunicação/expressão corporal (FRATTI, 2001). Também na década de 70, uma outra
perspectiva de destaque foi a humanista, a qual preocupava-se fundamentalmente com o auto-
desenvolvimento do ser humano. Os conteúdos de ensino eram os mesmos da abordagem
psicomotricista, entretanto agora eles eram utilizados como instrumentos coadjuvantes nas
relações interpessoais, além também de atuarem como facilitadores do desenvolvimento da
natureza bondosa da criança (AZEVEDO, SHIGUNOV, 2000).
Posteriormente ao humanismo, teve origem a denominada perspectiva construtivista.
Nesta perspectiva a construção do conhecimento deveria ser efetivada a partir da interação do
aprendiz com o seu ambiente social, onde o professor de EF escolar promovia a seleção de
conteúdos que fizessem parte do universo cultural do aluno, ou seja, os brinquedos de rua, os
jogos simbólicos, os jogos de construção, os jogos sociais ou de regras, as rodas cantadas,
entre outros (FREIRE, 1997; DARIDO, 2001; MAUAD, 2003). Durante a década de 80, uma
nova perspectiva que mereceu destaque foi a da criatividade, sendo Taffarel (1985) sua
principal representante no país. Tratava-se de uma perspectiva voltada para capacitar o aluno a
ter autonomia a criatividade em sua vida diária. Quanto aos conteúdos de ensino, Taffarel
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(1985) não deixa claro quais seriam, embora fique transparecendo que os jogos e os esportes
deveriam constituir-se nos principais conteúdos a serem transmitidos durante o processo de
ensino-aprendizagem.
No final da década de 80 uma outra perspectiva que ganhou destaque no país foi a
desenvolvimentista. Segundo Azevedo e Shigunov (2000) esta perspectiva de ensino tinha
como principal objetivo, promover condições para que o aluno tivesse o seu domínio motor
desenvolvido, adquirindo progressivamente padrões motores que vão desde as habilidades
motoras básicas até as habilidades motoras específicas. Para Gallahue e Ozmun (2005) os
conteúdos de ensino na perspectiva desenvolvimentista compreendem os jogos educacionais, a
dança educacional e a ginástica educacional. Os jogos educacionais seriam ministrados
progressivamente em uma seqüência iniciada com jogos simples, em seguida jogos de
liderança e, por último, jogos de esportes oficiais. A dança educacional seria iniciada com o
ensino dos ritmos fundamentais, em seguida a dança criativa, posteriormente as danças
folclóricas e, por último, a dança social. Já a ginástica educacional teria seu processo de
ensino-aprendizagem iniciado com atividades de aptidão física, em seguida atividades
acrobáticas e, finalizando, atividades com aparelhos.
Uma última perspectiva propositiva não sistematizada que apareceu no Brasil foi a
crítico-emancipatória. De acordo com Magno (2004) esta perspectiva defendia o processo de
ensino-aprendizagem baseado na libertação de falsas ilusões e falsos interesses construídos
pelos alunos, onde cada aprendiz deveria ganhar condições para combater a estrutura
autoritária e as desigualdades sociais. Apesar de ser uma abordagem bastante nova, a
perspectiva crítico-emancipatória já foi objeto de análise em pesquisas publicadas nos últimos
anos. Um dos estudos que versa sobre a presente perspectiva de ensino foi realizado por Neto
e Assunção (2005), onde os autores apontam algumas críticas negativas. Para eles, trata-se de
uma abordagem bastante limitada, uma vez que é centrada apenas no ensino dos esportes, não
contemplando as outras formas de cultura corporal produzidas historicamente pela
humanidade. Outra crítica é que ela está pautada em procedimentos de ensino que não se
preocupam com a transformação social, o que pode ser apontado como sendo mais um fator
negativo para sua adoção dentro das aulas de EF escolar. Particularmente discordamos destas
críticas negativas, pois em obras mais recentes intituladas ‘Didática da Educação Física 01’ e
‘Didática da Educação Física 02’, Kunz et al (2003; 2004) realizam uma análise bastante
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ou seja, sustentam-se em um discurso de justiça social onde os alunos, através de uma ação
crítica e reflexiva sobre a cultura corporal, lutem contra o individualismo e contra o modo
hegemônico da prática esportiva (AZEVEDO, SHIGUNOV, 2000; MAUAD, 2003). Para que
isto aconteça, as temáticas recorrentes à cultura corporal devem ser tratadas como conteúdos
curriculares sistematicamente selecionados e organizados, e não puramente como atividades
práticas sem nenhum tipo de reflexão, o que requer uma atuação docente motivadora, criativa
e, principalmente, comprometida com a aprendizagem dos educandos (OLIVEIRA, 2004).
Segundo Soares et al (1992) os conteúdos de ensino da EF escolar, na perspectiva da
cultura corporal, são: jogo, esporte, capoeira, ginástica e dança. Em estudos mais recentes,
Silveira e Pinto (2001), Mauad (2003), Oliveira (2004), Neto e Assunção (2005), entre outros
autores, têm substituído o termo “capoeira” pelo de “lutas”, abrangendo assim uma maior
gama de conhecimentos e atividades produzidas historicamente pela humanidade. Para Darido
(2001) e Mauad (2003) os conteúdos acima referidos não devem ser ensinados em etapas, ou
seja, os mesmos conteúdos devem ser abordados de maneira mais aprofundada ao longo de
todas as séries de ensino, sem a adoção de uma visão de pré-requisitos.
A seguir, serão apresentadas algumas breves considerações sobre cada um dos
conteúdos programáticos para o ensino da EF escolar na perspectiva da cultura corporal.
a) Jogos
Para Vygotsky, citado por Oliveira (1999), o jogo representa a relação entre o campo
do significado e o campo da percepção visual, ou seja, entre as situações de pensamento e as
situações reais. Já para Huizinga, citado por Knijnik (2001), o jogo nada mais é do que uma
atividade desligada de todo e qualquer interesse material, com o qual o praticante não pode
obter qualquer tipo de lucro ou vantagem. Soares et al (1992), por sua vez, acreditam que o
jogo é na verdade um ato em que sua intencionalidade e curiosidade resultam num processo
criativo para modificar, imaginariamente, a realidade social vivenciada pelos praticantes. A
riqueza de definições e proposições teóricas, demonstra que o estudo do jogo se constitui em
um assunto bastante amplo e complexo, pois sua abordagem envolve teorias de natureza
social, cultural, psicanalítica e filosófica (KNIJNIK, 2001).
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Para Rangel Betti (2001) os professores de EF escolar podem aplicar o jogo por meio
de três tipos de procedimentos de ensino: reprodução, transformação e criação. Na reprodução,
os jogos já elaborados historicamente pela humanidade são apenas reproduzidos pelos alunos
durante o processo de ensino-aprendizagem; o objetivo deste tipo de procedimento é fazer
com que os educandos tomem conhecimento das tradições culturais do jogo, assim como
também possam perpetuar as atividades em sua originalidade, sem alterações. No
procedimento de ensino de visão transformadora, os jogos já existentes são alterados pelos
alunos, de um modo que novas regras e, conseqüentemente, novas formas de jogar sejam
estabelecidas; com este tipo de procedimento se pretende que os aprendizes desenvolvam sua
criatividade, sua cognição e, principalmente, aprendam a resolver problemas. Uma última
forma de procedimento de ensino é a criação de novos jogos. Aqui os alunos recebem
orientações e diretrizes para que possam criar novos jogos ainda não existentes na cultura
corporal humana. O objetivo principal consiste em estimular a criatividade do aluno por meio
da descoberta orientada e da solução de problemas. Independentemente do tipo de
procedimento de ensino adotado pelo professor, este deve estar ciente de que o mais
importante no processo de ensino-aprendizagem do jogo é fazer com que o aluno assuma uma
postura crítica e reflexiva sobre as regras e as formas de praticar as atividades, tomando
consciência de suas escolhas e decisões (SOARES et al, 1992; RANGEL BETTI, 2001).
b) Esportes
estudado pelo mesmo autor, ainda não encontrou seu espaço entre a maioria dos professores
de EF que atuam na escola.
O esporte escolar praticado com a mesma lógica das competições esportivas federadas,
acaba por visualizar a escola como mera transmissora dos valores sociais onde está inserida,
contribuindo para o desenvolvimento de um processo de ensino-aprendizagem que,
inevitavelmente, reproduz as desigualdades sociais típicas do sistema capitalista (SOARES et
al, 1992). Como conseqüência deste fato, os próprios alunos, sem nenhum tipo de postura
crítica ou reflexiva, acabam também por reproduzirem valores como a seletividade e a
segregação de grupos, exaltação dos mais habilidosos e exclusão dos menos ‘talentosos’,
promoção da competição e da rivalidade, hierarquia nas relações de gênero e utilização das
regras oficiais como leis a serem cumpridas (FARIA, 2001). Para que o educador consiga
estabelecer uma prática pedagógica comprometida com a superação destes valores dominantes
da realidade capitalista, deve buscar considerar o conteúdo esportivo como sendo uma prática
social, não mais a vendo como atividade exclusiva para atletas e talentos, mas sim como uma
alternativa para todos os cidadãos (DINÁ, 2001; PAES, 2002). Isto somente será possível
quando as aulas de EF resgatarem os princípios que privilegiam o coletivo sobre o individual e
que defendem os sentimentos de solidariedade, respeito humano e cooperação (SOARES et al
1992).
A atuação do professor que trabalha com o ensino dos esportes na perspectiva da
cultura corporal deve estar centrada em alguns pontos importantes. Primeiro, ele deverá
sempre motivar e incentivar todos os aprendizes à prática dos esportes, preocupando-se
fundamentalmente com a inclusão de todos aqueles menos habilidosos (PAES, 2002;
OLIVEIRA, 2004). Segundo, cabe também ao professor a realização de intervenções
positivas, no sentido de que ele demonstre para o aluno o que é certo e não simplesmente
comente e critique o erro e a imperfeição (PAES, 2002). Por último, e com um grau de
importância maior, é preciso que a ação docente forneça ao aluno informações que lhe
permitam o entendimento crítico do esporte dentro de um contexto social, econômico, político
e cultural, podendo assim evoluir em suas representações do mundo e em suas idéias e
significados relacionados à prática esportiva (SOARES et al, 1992).
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c) Lutas
Segundo Gallardo (2003) as lutas são atividades da cultura corporal que reproduzem as
formas históricas de enfrentamento e de preparação para o combate, onde cada oponente deve
batalhar com seu adversário mediante técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão,
imobilização ou exclusão de um determinado espaço na combinação de ações de ataque e
defesa. Quando ministrar estes conteúdos em suas aulas de EF escolar, o professor deve
procurar enfatizá-los por meio de abordagens culturais, tradicionais e éticas, evitando dar um
tratamento simplista e exclusivamente técnico-tático.
Para Silva (2004) o conteúdo referente às lutas deve ser apresentado em dois
momentos distintos durante o processo de escolarização dos alunos. Inicialmente, quando o
educando ainda não possui experiência motora em atividades relacionadas ao referido
conteúdo, deve-se priorizar procedimentos de ensino que tragam a idéia de confronto, todavia
sem adentrar em técnicas específicas dos vários tipos de lutas. Como exemplos de atividades
ministradas nesta fase, poderíamos citar o cabo de guerra, braço de ferro, barreira, ombro a
ombro em um só pé, entre outras (SILVEIRA, PINTO, 2001; SILVA, 2004). Em um segundo
momento, quando a criança já tiver tido a oportunidade de vivenciar os mais variados
movimentos de confrontação, o professor poderá iniciar o processo de caracterização das
modalidades específicas conceituadas como sendo lutas, abordando desde as suas origens
culturais até a forma como são treinadas. Nesta segunda etapa os conteúdos programáticos de
ensino devem abranger o estudo do judô, karatê, capoeira e mais todas aquelas formas de
combate que foram produzidas pelo ser humano ao longo da história (SILVA, 2004).
Falando especificamente da capoeira, talvez a manifestação cultural de combate mais
praticada no Brasil, Gallardo (2003) acredita tratar-se da forma de luta que apresenta maior
valor pedagógico, pois retrata situações onde as agressões são ritualizadas e transformadas
numa dança lúdica, na qual a habilidade e a plasticidade são mais fortes e mais valorizadas do
que o poder destrutivo das ações de confronto. Neste sentido pedagógico, a EF escolar deve
resgatar o ensino da capoeira enquanto manifestação da cultura corporal, trabalhando com a
sua historicidade e com o movimento cultural e político que o gerou (SOARES et al, 1992).
Infelizmente o ensino da capoeira, e das lutas de um modo geral, vem sendo
negligenciado pelos professores de EF escolar. Para Silva (2004) os motivos desta negligência
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são muitos, indo desde o preconceito gerado pelos estereótipos que as lutas recebem na cultura
ocidental, até a completa falta de conhecimento sobre como deveria ocorrer a elaboração de
uma aula em que este conteúdo fosse abordado no contexto escolar. Referindo-se
especificamente a este último aspecto, Cardoso e Nunes (2000) realizaram um estudo onde
verificaram que uma parcela das instituições de ensino superior na área de EF ainda não
oferece disciplinas acadêmicas que abordem as lutas como conteúdos programáticos, o que
corrobora com a hipótese de que alguns professores inseridos no mercado de trabalho não
estão capacitados para ministrarem aulas cujo conteúdo verse sobre o estudo das lutas.
d) Ginásticas
A ginástica pode ser entendida como uma forma particular de exercitação onde, com
ou sem o uso de aparelhos, desafia-se o educando a vivenciar diferentes possibilidades de
saltar, rolar, girar, equilibrar-se, balançar, lançar-se, andar, correr, saltitar, etc., o que contribui
para o enriquecimento do repertório motor de cada aluno (LORENZINI, TAVARES, 1998).
Assim como acontece com as lutas, o ensino da ginástica também vem sendo
constantemente negligenciado pelos professores de EF escolar. Nas poucas escolas em que é
trabalhado, este conteúdo de ensino é tratado como meio para descobrir “talentos”, seguindo
os princípios pedagógicos de uma corrente tecnicista caracterizada pela ênfase nos
movimentos sistemáticos e mecanizados. Os motivos para a pequena presença da ginástica nas
aulas são variados, indo desde a formação docente deficitária por parte dos profissionais
licenciados, até a falta de instalações e aparelhos adequados e seguros para a prática da
ginástica no ambiente escolar (RINALDI, SOUZA, 2001).
Em um estudo realizado nas escolas públicas da cidade de Caxias do Sul – RS, Faggion
(2000) verificou que a ginástica vem sendo trabalhada somente durante o período de
aquecimento dos alunos para a parte principal das aulas de EF, sendo reduzida a atividades de
alongamentos e corridas em volta da quadra de esportes. Este tipo de procedimento em nada
contribui para a formação do aprendiz com postura crítica e reflexiva. Na contrapartida a esta
situação, Soares et al (1992) acreditam que:
53
e) Danças
sociedade. Neste sentido, a autora propõe que o estudo deste conteúdo de ensino na escola
aborde os aspectos e estruturas do aprendizado do movimento (coreografia, consciência
corporal e condicionamento físico); a dança sob a ótica de diferentes contextos (histórico,
crítico, estético, sociológico, antropológico, musical e biomecânico); e as possibilidades
práticas de vivência das danças (repertórios, improvisação e composição coreográfica).
transversais (ética, saúde, meio ambiente, pluralidade cultural, orientação sexual e trabalho em
consumo) durante o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem em EF escolar,
atentando para que o estudo destes temas seja devidamente adequado às necessidades de cada
região ou escola, e também para que fique contextualizado num ambiente multidisciplinar.
Após selecionar os conteúdos programáticos, o professor deverá então delimitar os
métodos de ensino que utilizará para fazer com que estes conteúdos sejam assimilados
ativamente pelos aprendizes. Sendo assim, faremos a seguir uma análise bibliográfica sobre a
utilização dos diferentes métodos de ensino na EF escolar.
Segundo Libâneo (1994) os métodos de ensino são ações docentes pelas quais se
organizam as atividades do processo de ensino-aprendizagem, visando atingir os objetivos da
prática pedagógica construída em função de um conteúdo específico. Percebemos nesta
definição a relação que o autor enfatiza entre os métodos, objetivos e conteúdos. Já Canfield,
citado por Xavier (1986), afirma que os métodos de ensino são descritos como formas
organizadas e sistemáticas de, cientificamente, criar ambientes de aprendizagem que
conduzam a resultados efetivos e favoráveis. Piletti (1995), por sua vez, afirma que os
métodos de ensino representam uma espécie de roteiro geral para a atividade, onde os alunos
são colocados em contato direto com os conteúdos selecionados, o que possibilita a
modificação de seus comportamentos (aprendizagem) em função dos objetivos da aula.
Destacamos, no contexto destas definições, a busca por resultados efetivos dentro do
processo de ensino-aprendizagem. Realmente a característica mais importante de qualquer
método de ensino é a sua efetividade. Para Xavier (1986) um método é efetivo quando cumpre
determinados princípios que garantem o aprendizado ativo, ou seja, não apenas instrui os
alunos desenvolvendo neles estruturas mentais bem definidas, mas os educa também,
formando hábitos e valores que enriquecerão sua postura crítica e reflexiva dentro da realidade
social em que vivem. Para garantir a efetividade na utilização dos métodos de ensino, o
professor de EF escolar deve selecioná-los seguindo alguns critérios importantes. Neste
sentido, podemos afirmar que três critérios podem ser utilizados. O primeiro deles afirma que
a escolha dos métodos deve estar em pleno acordo com os objetivos da aula: introdução de
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maior atenção sobre a aprendizagem dos educandos. A utilização deste método nas aulas de
EF escolar ocorre, principalmente, através da execução de treinamentos em circuitos, já que o
processo de ensino-aprendizagem geralmente é direcionado por objetivos ligados à formação
corporal.
Outro método de reprodução de conhecimentos que podemos destacar é o de avaliação
recíproca. Agora o professor delega aos estudantes a avaliação do processo de ensino-
aprendizagem, aumentando a autonomia de cada aprendiz. Todavia, a figura do docente
continua sendo centralizadora, pois é ele quem estabelece todos os critérios para que a
avaliação seja efetivada (Ibid.).
Um último método de reprodução a ser destacado é aquele denominado de
programação individualizada. Este método fundamenta-se na teoria de que os alunos são
diferentes entre si e, por isso, necessitam de diferentes tipos de estímulos didático-pedagógicos
para que a aprendizagem ocorra de maneira eficaz; sua utilização nas aulas de EF escolar
ocorre bastante entre os professores adeptos da perspectiva desenvolvimentista, onde o
educador transmite os conteúdos por meio de programações individualizadas e corrige o aluno
quando este não executa os movimentos de acordo com o padrão correto (NETO,
ASSUNÇÃO, 2005). Conforme afirmam Faria Júnior et al (1987), constitui-se em um método
de ensino que busca desenvolver seres autônomos, livres e responsáveis, todavia, podemos
perceber também que este método acaba por inibir a socialização entre os educandos, o que
pode ser apontado como uma de suas principais desvantagens.
Saindo dos métodos centralizados no professor e entrando naqueles centralizados nos
alunos, podemos estudar inicialmente o método por descoberta orientada. O uso deste método
requer que o docente evite delimitar um padrão único para o desempenho de uma resposta
motora. Ao invés disto, o mesmo deve conduzir o processo de ensino-aprendizagem utilizando
questões que gradualmente levarão à solução buscada, onde a ênfase de cada questão não é
realizada sobre o desenvolvimento de padrões fundamentais de movimentos e sim sobre o
desenvolvimento de habilidades cognitivas e psicomotoras, ajudando o educando a fazer uma
série de pequenas, mais importantes descobertas (FARIA JÚNIOR et al, 1987; GALLAHUE,
OZMUN, 2005). O professor assume, portanto, um papel de incentivador e orientador das
atividades direcionadas aos alunos, possibilitando discussões como forma de conscientização,
criticidade e reflexão entre os aprendizes (CASTRO, 1996).
64
maneiras: na primeira o professor criará uma situação problema para que o aluno a solucione
por meio de conhecimentos já adquiridos. Na segunda o professor apresentará uma situação
problema que exija dos aprendizes mais do que a aplicação dos conhecimentos já adquiridos;
exija também a aplicação inventiva destes conhecimentos e, se necessário, a produção criativa
de um novo conhecimento (BACK, CARVALHO, 2000). Através desta descrição podemos
perceber a semelhança entre os métodos das perguntas operacionalizadas e o da solução de
problemas, este último já estudado no tópico anterior de nosso trabalho.
Outro método criativo de ensino existente é o de análise. Segundo Back e Carvalho
(2000) este método pode ser caracterizado como sendo sistemático, pois o procedimento de
aplicação consiste em identificar os elementos ou partes de um todo, verificar suas inter-
relações e estruturá-las em algum modo de organização. Nas aulas de EF escolar o presente
método facilita, por parte dos alunos, a identificação das características específicas de um
recurso material de ensino, ou ainda, dos conteúdos programáticos constituintes desta
disciplina (TAFFAREL, 1985).
O terceiro método criativo de ensino é o de análise-síntese. Segundo McGee (2003) a
síntese é a capacidade de estruturar um todo a partir da compreensão das relações entre os
elementos ou partes específicas. Deste modo, o método de análise-síntese tem o objetivo de
levar o educando a entender as partes específicas de um problema, configurar relações entre
estas partes e, em seguida, sintetizar as soluções parciais numa solução total, formando um
conjunto unificado de tudo o que foi estudado. Um exemplo de aplicação do método de
análise-síntese em EF escolar seria a construção de um novo jogo a partir de elementos
específicos de alguns esportes, como o chute, o arremesso, a rebatida, entre outros.
Mais um método criativo de ensino a ser estudado é o brainstorming, ou simplesmente
tempestade de idéias. Segundo Back e Carvalho (2000) trata-se de um método caracterizado
como sendo intuitivo, fundamentado no fato de que cada indivíduo possui uma combinação
única de experiências e conhecimentos e, portanto, pode contribuir para visualizar um
determinado problema de maneira distinta das demais pessoas. A utilização deste método
durante uma aula de EF escolar é dividida em três momentos. Inicialmente a professora
requisita que várias idéias sejam formuladas em função de um problema específico, como, por
exemplo, construir uma atividade recreativa qualquer. Neste momento da aula não são
permitidas críticas e todas as idéias devem ser levadas em consideração. Em um segundo
66
instante os alunos são incentivados a gerarem mais idéias, baseados nas idéias dos outros.
Consegue-se assim aumentar a quantidade de idéias existentes. Num terceiro e último
momento é feita a avaliação conjunta entre professor e alunos sobre as idéias obtidas, sendo
desejável combiná-las, bem como classificá-las por ordem de viabilidade (TAFFAREL, 1985).
O quinto método criativo de ensino é denominado de checklist, ou lista de checagem.
Assim como o brainstorming, também é caracterizado como sendo intuitivo, baseado nas
teorias psicológicas da criatividade, cuja função é estimular a imaginação e a capacidade de
redefinição de abordagens sobre um problema específico (BACK, CARVALHO, 2000;
TAFFAREL, 1985). O professor deve atuar propondo um problema e, sobre este, formular
questões genéricas em uma espécie de lista ou questionário. As idéias que vão surgindo como
resposta às questões formuladas são então postas em discussão para que se possa obter uma
solução conclusiva sobre a problemática proposta pelo professor.
Segundo Teleña, citado por Xavier (1986), os métodos utilizados no ensino de uma
destreza motora em EF são: método global, método analítico e método misto.
O método global consiste em ensinar uma destreza motora a partir da totalidade do
movimento, demonstrando a ação motora por inteiro, do início ao fim, caracterizando-se
principalmente pelo aprender jogando (XAVIER, 1986; SOARES PINTO, SANTANA, 2005).
Ao jogar, a criança adquire experiência motora, segurança e autoconfiança no intuito de
aprender a antecipar as ações que são observadas durante o jogo (KRÖGER, ROTH, 2002).
Neste sentido, Greco (2001) indica que o método global é um dos mais eficientes durante o
processo de ensino-aprendizagem de destrezas motoras, principalmente no período inicial de
formação esportiva, pois atende ao desejo de jogar dos alunos, conseqüentemente, estes
ganham em motivação, criatividade, imaginação e pensamento tático. Outra grande vantagem
do método global é citada por Soares Pinto e Santana (2005), onde afirmam que:
Estudo realizado por Xavier (1986) verificou que os professores de EF escolar eram
unânimes em afirmar que a escolha de métodos de ensino adequados constitui-se em fator de
suma importância durante a construção de suas respectivas práticas pedagógicas. Todavia, este
tipo de discurso parece apenas ficar no campo teórico, pois Silva (2002), ao analisar a
metodologia de ensino de professores que atuavam com a EF em escolas, concluiu que
aproximadamente 40% dos docentes entendiam que os métodos se originavam a partir da
própria prática, ao passo de que 30% sequer sabiam o que vem a ser métodos de ensino.
Soares et al (1992) afirmam que a adoção de uma postura crítica, criativa e reflexiva
tornou-se de fundamental importância na realidade social em que vivemos atualmente. Na
escola, uma das maneiras que os professores possuem de estimular o desenvolvimento deste
tipo de postura em seus alunos é por meio de métodos de ensino que exijam do educando
tomadas de decisão, criatividade e reflexão sobre os conteúdos que estão sendo ministrados.
Neste sentido, acredita-se que os métodos de ensino devam ser utilizados dentro de um
contexto mais amplo e aberto, onde a ênfase do processo de ensino-aprendizagem seja
colocada na figura do aprendiz, de um modo em que este possa confrontar os desafios
propostos nas aulas de EF com capacidade de responsabilidade e autonomia.
Selecionar métodos de ensino que despertem a criticidade, criatividade e reflexão dos
educandos não é tarefa fácil. Para Faggion (2000) é preciso que o professor possua um
domínio seguro sobre os diferentes métodos de ensino, bem como procure conhecer
69
Segundo Libâneo (1994, p.73) os recursos de ensino são “meios e recursos materiais
utilizados pelo professor e pelos alunos para a organização e condução metódica do processo
70
de ensino e aprendizagem”. Já para Turra et al (1996), tais recursos são na verdade elementos
didáticos utilizados no ambiente de aprendizagem, com o intuito de estimular o aluno à
participação ativa em sala de aula. Díaz (2003), por sua vez, acredita que os recursos de ensino
compreendem um conjunto de elementos materiais susceptíveis à utilização do professor,
como suporte ou complemento para sua atuação docente. Apesar de englobarem componentes
humanos e materiais, nós daremos ênfase apenas àqueles que auxiliam didaticamente o
professor durante a construção e execução de sua prática pedagógica, ou seja, os recursos
materiais.
Hoje em dia, conforme afirmam Turra et al (1996) e Sobrinho (2002), os recursos
materiais são fundamentais para a apresentação dos conteúdos de ensino com maior clareza e
precisão, levando a uma maior qualidade do processo de ensino-aprendizagem. Isto quer dizer
que, para conseguir melhorar sua atuação docente e garantir níveis superiores de
aprendizagem aos seus alunos, é necessário ao professor selecionar e administrar corretamente
os recursos materiais de ensino que serão utilizados em sala de aula. Neste contexto, Xavier
(1986) afirma que os professores de EF escolar devem possuir um conhecimento amplo e
seguro sobre quais recursos serão mais apropriados para aplicarem, a cada momento, a cada
nova situação de ensino, pois seu aproveitamento nas aulas de EF constitui-se em um
instrumento pedagógico valiosíssimo.
Quando utilizados de maneira adequada, os recursos materiais de ensino podem
promover diversos benefícios à aprendizagem dos alunos. Na área de EF escolar podemos,
baseados em Xavier (1986), apontar os seguintes benefícios: aumento do interesse,
concentração e motivação para a prática educativa; facilitação na compreensão e fixação de
informações complementares; experimentação concreta de movimentos e objetos relacionados
com os conteúdos programáticos; estímulo a observação, imaginação e criatividade;
visualização de conhecimentos práticos e concretos a partir de noções teóricas e abstratas;
aproximação do aluno com a realidade social em que vive.
Podemos então perceber que os recursos materiais de ensino são instrumentos
importantes dentro da prática pedagógica construída e executada pelo professor. Todavia, em
pesquisa realizada por Sobrinho (2002) sobre planos de desenvolvimento escolar, identifica-se
que, geralmente, as instituições escolares possuem recursos materiais precários e utilizados de
forma completamente ineficaz pelo corpo docente. Na EF escolar a situação mostra-se ainda
71
2.5.2 Critérios Para Seleção de Recursos Materiais de Ensino na Educação Física Escolar
ser selecionados cuidadosamente, para que não sejam aplicados de forma ineficaz. Neste
sentido, Galera, citado por Rivadeneyra (2001), propõe alguns critérios que devem seu usados
para seleção dos recursos materiais de ensino na EF escolar. São eles: polivalência,
funcionalidade, manejabilidade, segurança, adaptabilidade e conhecimento prévio.
Em relação a polivalência, é válido afirmar que o recurso material deve ser genérico e
utilizável para os mais variados tipos de atividades, isto é, utilizável não só para as funções nas
quais originalmente foram concebidos, mas também para muitas outras. Quando são
polivalentes, os recursos de ensino despertam maior motivação, atenção, percepção e interesse
por parte do aprendiz, que fica “encantado” com a possibilidade de construir diversas
situações a partir de somente um tipo de material pedagógico (RIVADENEYRA, 2001; DÍAZ,
2003).
O critério de funcionalidade implica em afirmar que a seleção do recurso de ensino
deverá estar relacionada com a função esperada que o material pedagógico deve desempenhar.
Sendo assim, o professor de EF escolar deve escolher recursos que contribuam para atingir os
objetivos de ensino e que facilitem a aplicação metodológica sobre os conteúdos
programáticos da aula. “Nunca se deve utilizar um recurso de ensino só porque está na moda”
(PILETTI, 1995, p. 154).
O terceiro critério é o da manejabilidade. Falando deste critério, Rivadeneyra (2001)
afirma que é preferível o professor de EF escolar selecionar recursos flexíveis e versáteis, ou
seja, que possam facilmente ser desmontados, modificados e, quando necessário, removidos
do ambiente de sala de aula. Quanto mais manejável é o recurso de ensino, mais fácil é a sua
preparação para uso pedagógico e, conseqüentemente, menor é o tempo gasto com o
planejamento material no período imediatamente anterior à aula .
O critério de segurança, talvez o mais importante de todos, é o quarto a ser estudado.
De acordo com Barbosa [s.d] recursos materiais inadequados e utilizados de forma imprópria
constituem uma das principais causas de acidentes em aulas de EF escolar e esportes em geral.
Quando o recurso não é adequado à faixa etária do aluno e/ou quando não é vistoriado
previamente, torna-se um instrumento pedagógico inseguro e propenso a causar acidentes.
Deste modo, Rivadeneyra (2001) indica que o professor de EF escolar sempre selecione
materiais didáticos que não apresentem riscos aos alunos durante o desempenho de suas
atividades, atentando também para o fato de que se deve evitar a reutilização demasiada de
74
através da multiplicação das possibilidades de atuação, onde sua utilização deve ser vista
como meio e não como fim.
Na EF escolar os recursos materiais de ensino geralmente são utilizados para facilitar a
organização do espaço físico onde será operacionalizada a prática pedagógica. Entretanto, esta
utilização parece demonstrar um alto grau de limitação, falta de criatividade e ineficácia por
parte do corpo docente. Neste contexto, Díaz, citada por Rivadeneyra (2001), sugere que o
material pedagógico na referida disciplina seja utilizado de forma mais aberta, ampla e
proveitosa, de um modo que possa contribuir ativamente com o processo de ensino-
aprendizagem. Para que isto aconteça, a autora indica a necessidade dos educadores realizarem
mais estudos sobre os dois tipos de concepções de uso dos recursos materiais na EF escolar: a
concepção neutra e a concepção participativa e emancipatória.
Na concepção neutra os recursos materiais de ensino são utilizados de forma
completamente restrita, onde apenas cumprem funções de caráter instrutivo e reproducionista.
Nesta concepção a prática pedagógica é resumida a uma transmissão repetitiva dos conteúdos,
sem a presença de variação, adaptação e manejabilidade no uso dos materiais pedagógicos. A
concepção participativa e emancipatória segue exatamente o caminho inverso, ou seja, o
professor seleciona materiais a partir das reações discentes durante o dia-dia escolar, bem
como faz uso de sua criatividade para produzir novos recursos de ensino. Os alunos participam
ativamente da seleção e manutenção dos materiais, quando estão no ambiente da escola,
utilizando-os de forma responsável e autônoma (RIVADENEYRA, 2001). As principais
vantagens são: os custos são diminuídos, pois os recursos didáticos podem ser obtidos a partir
da transformação de materiais pouco convencionais, como, por exemplo, pneus, latas, caixas
de papelão, copos plásticos, etc; as possibilidades de variação na utilização de materiais são
aumentadas, contribuindo com o estímulo à motivação dos educandos; os aprendizes são
designados para a gestão de alguns materiais, permitindo assim o desenvolvimento das noções
de autonomia e responsabilidade; os materiais podem ser criados pelos próprios alunos, numa
ação interdisciplinar com aulas de outras disciplinas curriculares como física, química e artes,
contribuindo para a integração da EF escolar (Ibid.).
A utilização dos recursos de ensino numa concepção participativa e emancipatória
exige que o professor utilize não só os materiais tradicionais usados em aulas de EF escolar,
76
como os esportivos e ginásticos, mas também materiais que não são tão tradicionais e
específicos de sua área, como textos, fotos, desenhos, televisão, cartazes, entre outros (Ibid.).
Lahud (1998), em uma análise sobre o futebol a partir da ótica antropológica, sinaliza
com a possibilidade de que no Brasil exista o que ela denomina de ‘cultura da bola’. Nas aulas
de EF escolar isto parece realmente estar se confirmando, pois estudos realizados por Faggion
(2000), Faria (2001) e Maitino (2001) indicam que os alunos desta disciplina somente
vivenciam conteúdos de cunho esportivo, mais especificamente o futebol, voleibol e handebol,
cuja bola é o recurso material utilizado prioritariamente. Freire (1997) acredita que as
dimensões simbólicas e as múltiplas possibilidades de deslocamento e controle, fazem com
que a bola se constitua num material pedagógico sempre presente na cultura do povo
brasileiro, principalmente quando a mesma está envolvida no contexto da prática de esportes e
de exercícios físicos.
O professor de EF escolar deve sempre buscar enriquecer a sua prática pedagógica com
uma série de recursos materiais que seja a mais variada possível. Deste modo, não nos parece
prudente que os docentes do referido componente curricular monopolizem a bola como
recurso único de ensino a ser aplicado em sala de aula. Outros materiais pedagógicos também
devem ser utilizados, entre os quais podemos destacar os plintos, cordas, bastões, aros, latas,
pneus e todos aqueles que consigam estimular a imaginação e criatividade dos educandos.
Em relação ao modo como estes recursos tradicionais devem ser utilizados nas aulas de
EF escolar, Freire (1997, p.55) afirma que:
O material pintado com várias cores é muito mais atraente e motivador para a
criança. Ademais, várias cores implicam em várias subclasses, estimulando
trabalhos de classificação para o desenvolvimento do pensamento lógico. Se
variarmos os objetos em formas, por exemplo, quadrados, triangulares, circulares e
retangulares, haverá um estímulo para que a criança tenha acesso ao espaço
euclidiano e para a classificação por formas. Se fizermos variações em pesos e
tamanhos, a criança se verá frente a problemas de conservação, de quantidade, de
seriação etc. Portanto, o bom uso do material pedagógico é fundamental para que a
escola atinja o seu objetivo de estimular o desenvolvimento da capacidade de
raciocínio da criança.
77
Em um estudo realizado por Galvão (2002), constatamos que uma das características
mais importantes de professores de EF escolar comprometidos com uma prática pedagógica
eficiente, é a utilização de cadernos e livros específicos para sua disciplina, assim como
acontece normalmente em todas as outras matérias de ensino em nível escolar. Este é mais um
estudo que indica a importância do livro para a condução de uma efetiva tarefa docente nas
aulas de EF.
Após delimitar os objetivos, conteúdos, métodos e recursos de ensino, o professor já
terá dado um grande passo na construção de sua prática pedagógica. Um último elemento que
precisa ser analisado pelo docente é a forma como ocorrerá a avaliação do processo de ensino-
aprendizagem. A seguir faremos uma análise bibliográfica mais aprofundada sobre a aplicação
deste elemento didático na EF escolar.
Para construir uma sistemática de avaliação eficiente, não basta simplesmente seguir as
diretrizes e recomendações acima citadas. É preciso também que haja uma organização clara e
objetiva dos diferentes tipos de avaliação que serão aplicados ao longo do período letivo.
Neste sentido Bloom et al, citados por Rodrigues (2003), indicam a existência de três tipos de
avaliações: a diagnóstica, a formativa e a somativa, cada uma delas sendo aplicadas em
diferentes momentos do processo de ensino-aprendizagem e com objetivos distintos.
A avaliação diagnóstica é utilizada logo no início do processo. Para Rodrigues (2003) e
Piletti (1995) os objetivos deste tipo de avaliação são: verificar os conhecimentos que os
alunos já possuem; verificar as particularidades de cada aluno, constatando interesses,
possibilidades e necessidades; identificar as dificuldades, insuficiências e problemas
específicos de aprendizagem que os educandos trazem de anos anteriores. Ao realizar este tipo
de avaliação, o professor estará capacitado para individualizar o processo de ensino-
aprendizagem, se assim desejar, ministrando conteúdos adequados ao nível de
desenvolvimento dos aprendizes, ou seja, não perderá tempo ensinando o que os alunos já
sabem e também não perderá tempo tentando ensinar o que os alunos ainda não estão prontos
para aprender.
82
habilidades e esforço crítico, reflexivo e criativo. Para que isto seja conseguido, é preciso que
o educador submeta os alunos a diferentes técnicas e instrumentos de avaliação.
sala de aula. A observação permite que o professor analise o desempenho do aprendiz em fatos
do cotidiano escolar ou em situações planejadas, sendo de fundamental importância para
auxiliar a tarefa docente no sentido de perceber como o educando constrói o seu conhecimento
durante o dia-dia do processo de ensino-aprendizagem. Falando especificamente da utilização
deste instrumento na avaliação em EF escolar, Lorenzini e Tavares (1998) e Escobar (2000)
acreditam que a observação sistemática da aula desencadeia resultados mais eficientes e
válidos na aprendizagem do aluno, pois o coloca no centro do processo educativo, analisando
seu desempenho nas ações afetivas, sociais e motoras. Entretanto, para alcançar estes
resultados, o professor de EF escolar deve realizar uma observação organizada e cuidadosa,
operacionalizada através de quatro procedimentos importantes: eleição do objeto central da
investigação, elaboração de objetivos claros, identificação dos contextos e momentos em que a
observação será realizada e delimitação de formas e registros apropriados.
Um último instrumento que podemos estudar na avaliação em EF escolar é o
sociograma. Este instrumento é útil ao professor de EF na medida em que revela aspectos do
relacionamento interpessoal existente no interior da sala de aula e fornece dados para que o
docente atue como um verdadeiro orientador educacional no sentido de estabelecer a
confiança, amizade e cooperação entre os colegas de turma (TURRA et al, 1996).
Podemos então perceber que o professor de EF escolar dispõe de variados instrumentos
para a avaliação do processo de ensino-aprendizagem. Porém, se tais instrumentos são
utilizados sem reflexão e análises contextualizadas, acabam virando meios para atitudes
seletivas, classificatórias e discriminatórias, contribuindo com a execução de uma prática
pedagógica ineficaz. Assim sendo, concordamos com Betti e Zuliani (2002) quando citam que:
instrumento para avaliar os alunos era a auto-avaliação, considerando que somente o aprendiz
pode conhecer a sua própria experiência e definir o que é e o que não é significativo em
termos de ensino-aprendizagem. Costa (2002) relata que a avaliação na perspectiva humanista
deixa de lado o modelo tradicional e assume um modelo reformista, onde a principal
característica era a informalidade e a análise qualitativa, sem qualquer preocupação com
aspectos metodológicos e técnicos de ensino, já que os defensores desta perspectiva
acreditavam não haver nenhum meio didático capaz de aferir conceitos subjetivos como o
interesse, a participação, a cooperação, o respeito mútuo, a dignidade e o senso crítico.
Outra perspectiva de ensino que surgiu na EF escolar foi o construtivismo. A avaliação
a partir desta perspectiva é colocada como algo não punitivo, onde o professor deve se
preocupar fundamentalmente em verificar como o educando constrói o seu conhecimento ao
longo do processo de ensino-aprendizagem. Os defensores desta perspectiva acreditam na
necessidade do educador avaliar as dimensões motoras, cognitivas e afetivo-sociais dos
alunos, todavia a ênfase desta avaliação é dada por meio de análise qualitativa. Neste sentido,
a observação, o sociograma e a auto-avaliação constituem-se nos instrumentos de avaliação
mais importantes (MAUAD, 2003; DARIDO, 1999). Além do construtivismo, o ensino da EF
escolar na perspectiva da criatividade também foi bastante utilizado durante a década de
oitenta. Os defensores desta perspectiva não deixam transparecer a sistemática de avaliação
que deveria ser adotada no processo de ensino-aprendizagem, porém acreditamos que o
professor deveria se valer do instrumento de participação criativa do educando, avaliando por
meio da observação em produções criativas de apresentações, encenações, organização de
competições, apresentações de coreografias, etc.
Mais uma perspectiva de ensino que podemos estudar na EF escolar é a
desenvolvimentista. Os defensores desta perspectiva acreditam que a avaliação deve ser
baseada no processo de desenvolvimento motor do ser humano, ou seja, na análise do
educando em relação a faixa etária em que se encontra e suas possibilidades quanto a
realização de movimentos (BECHARA, 2000). É imprescindível que o professor avalie por
meio da observação sistemática, verificando em que fase de desenvolvimento o aluno se
encontra, para assim conseguir localizar as dificuldades motoras e poder saná-las. De acordo
com Cupolillo et al (2002) a avaliação desenvolvimentista está atrelada a um modelo
denominado de objetivista, visto que há existência de padronização do comportamento motor
89
Desta forma, podemos perceber, já em concordância com Guedes e Guedes (1994), que
os testes motores aplicados dentro da perspectiva de ensino da promoção da saúde contribuem
de maneira fundamental para a formação de uma base de conhecimento mais sólida quanto a
adoção de um estilo de vida ativo, na medida em que a realização dos mesmos deverá induzir
os alunos a se colocarem frente a frente com situações práticas que necessariamente exigirão a
aplicação dos conteúdos eventualmente abordados em aulas teóricas. Quando estes conteúdos
práticos e teóricos são avaliados, não servem para a padronização e classificação dos
resultados, mas sim para a descoberta de limites e potencialidades de cada aluno.
Segundo Soares et al (1992) e Faggion (2000) a avaliação na EF escolar não pode ser
reduzida a aplicação de testes, levantamento de medidas, seleção e classificação dos alunos.
91
Neste sentido, não se pode admitir que o professor simplesmente avalie para atribuir uma nota
com o objetivo de definir quem é o melhor e o pior aluno em sala de aula, mas sim que ele
avalie dentro de um contexto de formação e acompanhamento constante do desenvolvimento
do educando. Assim sendo, a avaliação na perspectiva da cultura corporal tem como função
principal o contínuo diagnóstico, onde o professor de EF escolar deverá estar a todo o
momento identificando, refletindo e tomando decisões sobre as experiências vivenciadas pelos
alunos durante o processo de ensino-aprendizagem (RESENDE et al, 1997).
Os defensores da perspectiva da cultura corporal acreditam numa avaliação recíproca
entre alunos e professores, buscando um olhar crítico da realidade social em que vivem,
através de uma relação dialógica e reflexiva. A maior participação dos alunos se reflete no
processo de definição dos critérios avaliativos em conjunto com a figura docente, cada qual
assumindo sua responsabilidade dentro de um contexto de avaliação participativa (DARIDO,
1999). Outra característica importante da sistemática de avaliação na perspectiva da cultura
corporal é que ela deve estar atrelada ao projeto político-pedagógico da escola, não se
reduzindo a um momento ou a períodos pré-determinados, mas sim se aproximando de um
processo avaliativo institucional e curricular na busca da unidade contínua de ação teórico-
prática (TOMÁZ, PEREIRA, 2002; MAUAD, 2003). Para efetivar uma avaliação nestes
moldes, é preciso que o educador esteja fundamentado em um conhecimento maior, em um
conjunto de idéias mais complexas e aprofundadas, construindo uma prática pedagógica que
assuma a posição crítica e transformadora da sociedade em que está inserida.
Em relação as referências didático-pedagógicas que deverão nortear o processo de
avaliação na perspectiva de ensino da cultura corporal, Soares et al (1992) dividem o assunto
em duas partes. Na primeira, abordam as finalidades, conteúdos e formas de uma proposta de
avaliação; na segunda, discutem temas a respeito das implicações metodológicas.
Na primeira parte, podemos observar que as finalidades, conteúdos e formas de
avaliação devem: apresentar fundamentação num determinado projeto histórico, sendo
selecionados de acordo com a população que a unidade escolar atende; envolver aspectos de
conhecimentos, habilidades, atitudes e condutas humanas; superar a idéia de avaliação como
algo para cumprir exigências técnicas e burocráticas, substituindo esta idéia por práticas
avaliativas que sejam produtivas, criativas e reiterativas; considerar a decisão conjunta entre
professores e alunos sobre os rumos que a avaliação deve seguir; permitir um tempo
92
A avaliação na perspectiva dos PCN’S vai além dos aspectos biofisiológicos que
caracterizaram a história da EF escolar no Brasil. Apesar da aptidão física continuar podendo
ser utilizada como critério avaliativo, desde que contextualizada dentro dos conteúdos e
objetivos do processo de ensino-aprendizagem, é preciso também que o professor realize a
avaliação considerando outros aspectos, entre os quais podemos destacar o conhecimento dos
alunos sobre os jogos, brincadeiras e variadas atividades corporais, as regras que
regulamentam estes tipos de atividades, as estratégias e as habilidades envolvidas na execução
das mesmas, o grau de independência que o aluno apresenta para cuidar de si mesmo ou para
organizar atividades, entre outros critérios (BRASIL, 1997).
Na perspectiva dos PCN’S “a avaliação deve ser algo útil, tanto para o aluno como
para o professor, para que ambos possam dimensionar os avanços e as dificuldades dentro do
processo de ensino e aprendizagem e torná-lo cada vez mais produtivo” (BRASIL, 1997, p.
55). Neste sentido, é importante que o procedimento avaliativo forneça elementos para que a
figura docente realize uma reflexão contínua sobre sua prática pedagógica, no que se refere a
escolha de objetivos, conteúdos, métodos e recursos materiais de ensino, auxiliando na
compreensão de quais aspectos devem ser revistos e replanejados para que ocorra a efetiva
aprendizagem individual ou de todo o grupo. Já para o aluno, a avaliação deve servir como
meio de tomada de consciência de suas conquistas, dificuldades e possibilidades, dando-lhe
informações que o auxiliarão no desenvolvimento de uma postura crítica, autônoma, criativa,
reflexiva, responsável e coerente com as idéias de transformação da realidade social.
Em relação aos instrumentos de avaliação, os PCN’S deixam claro que os professores
devem utilizá-los da maneira mais variada possível, desde que adequados aos objetivos e
conteúdos, bem como ao contexto em que se insere o grupo avaliado (BRASIL, 1998). É
94
preciso que os instrumentos não sirvam apenas para levantar valores mensuráveis, mas sim
para que também forneçam informações sobre os aspectos motivacionais, subjetivos e
qualitativos relacionados aos resultados, suas relações com diferentes contextos de aplicação e
o seu real significado para a construção do conhecimento pessoal do aluno, tornando-o
protagonista de sua própria aprendizagem através da opção, sugestão e reflexão crítica dos
conteúdos ministrados em sala de aula.
95
3. METODOLOGIA
A pesquisa caracterizou-se como sendo do tipo descritiva, que segundo Lobato (1997)
é um tipo de pesquisa que expõe e descreve as características de uma determinada população
sobre um determinado objeto de estudo, mas não tem o compromisso de explicar os
fenômenos que descreve, embora sirva de base para tal explicação.
O estudo de campo utilizado para o levantamento e análise dos dados foi do tipo
transversal-quantitativo.
3.2.1 População
3.2.2 Amostra
Vinte (20) professores de Educação Física escolar que atuam na rede particular de
ensino da cidade de Natal, foram selecionados aleatoriamente para constituírem a amostra da
pesquisa, o que classifica esta amostragem como sendo de natureza não-probabilística
intencional.
NELSON, 2002). Cada questionário foi constituído por dez perguntas, sendo cinco delas
classificadas como questões fechadas e cinco classificadas como questões abertas (Anexo 01).
O pesquisador realizou uma visita individual em vinte instituições que compõem a rede
particular de ensino da cidade de Natal. Nestas instituições, abordou o professor de EF escolar
e o consultou sobre a possibilidade de participação no estudo. Com a concordância, o sujeito
pesquisado assinou um termo de consentimento para a realização do trabalho, autorizando a
publicação dos dados e tendo a garantia do seu anonimato (Anexo 02). Após este instante
inicial, os dados foram coletados a partir da aplicação, pelo próprio pesquisador, de um
questionário estruturado com perguntas fechadas e abertas.
97
Tabela 01: Resultados numéricos das respostas sobre a seleção dos objetivos de ensino
nas aulas de Educação Física Escolar, obtidos da amostra dos professores da
rede particular de ensino de Natal, RN, 2005, apresentados em porcentagem
pedagógica sem objetivos selecionados. Na literatura científica, autores como Piletti (1995) e
Libâneo (1994) são unânimes em afirmar que a elaboração de objetivos de ensino constitui-se
em uma exigência indispensável ao trabalho docente. Professores que não selecionam
objetivos de ensino, não podem avaliar de maneira objetiva os resultados de sua prática
pedagógica, correndo o risco de executarem um processo de ensino-aprendizagem
caracterizado pelo improviso e pelo empirismo. Deste modo, em concordância com Faggion
(2000), questionamos: sem objetivos de ensino, como os professores poderão realizar sua
prática docente? No que eles estarão se baseando, se o objetivo é o ponto central de ensino?
O fato da maioria dos participantes deste estudo selecionarem objetivos de ensino para
suas aulas de Educação Física escolar, nos demonstra um bom nível de comprometimento com
um planejamento didático concreto, objetivo e científico.
Tabela 02: Resultados numéricos das respostas sobre os objetivos de ensino selecionados
nas aulas de Educação Física Escolar, obtidos da amostra dos professores da
rede particular de ensino de Natal, RN, 2005, apresentados em porcentagem
Os resultados de nosso estudo não foram condizentes com resultados obtidos em outras
pesquisas realizadas. Rios, citado por Darido (1999), por exemplo, também investigou a
prática docente dos professores de EF escolar, neste caso pertencentes a rede estadual de
ensino de Rio Claro – SP. Na questão referente aos objetivos de ensino, o autor verificou que
40 % dos professores acreditavam que os alunos deveriam aprender modalidades esportivas,
30 % acreditavam que o condicionamento físico era o objetivo central de ensino e os 30 %
restantes citaram o desenvolvimento das habilidades e atitudes de higiene, formação para a
cidadania e estímulo à prática esportiva. Já em dissertação de mestrado realizada por Faggion
(2000), analisando a prática docente dos professores de Educação Física do ensino médio das
escolas públicas de Caxias do Sul – RS, o autor verificou que os objetivos de ensino estavam
centrados principalmente em dois aspectos: condicionamento físico e aprendizagem das
práticas esportivas, o que o levou a concluir que os professores estavam atuando de acordo
com as perspectivas higienista e competitivista de ensino.
Através das respostas dos professores e com base no que afirma Darido (2001), quando
trata das diversas abordagens de ensino construídas ao longo da história da EF escolar no
Brasil, acreditamos que nas escolas particulares de Natal, o processo de ensino-aprendizagem
está sendo direcionado por objetivos condizentes com uma perspectiva crítica de ensino,
todavia não podemos afirmar ao certo se a maioria dos professores está atuando de acordo
com a perspectiva crítico-superadora, aqui denominada de cultura corporal, ou se está atuando
de acordo com a perspectiva crítico-emancipatória. As duas abordagens, segundo Darido
(2001), são classificadas como progressistas, propondo uma EF escolar preocupada com o
desenvolvimento da postura crítica dos alunos, a serviço das transformações sociais, políticas
e econômicas, ou seja, da superação das desigualdades, contradições e injustiças sociais
decorrentes das formas capitalistas de organização da sociedade.
Por meio dos resultados obtidos na tabela 02, também percebemos uma forte influência
das abordagens desenvolvimentista e humanista, sobre a seleção dos objetivos de ensino para
as aulas de EF escolar. A abordagem desenvolvimentista, segundo Neto e Assunção (2005),
está preocupada exclusivamente com o desenvolvimento das habilidades motoras básicas e
específicas, negando a criança como um ser social e criativo, desprezando totalmente a idéia
de uma educação crítica e participativa para a construção de uma sociedade mais democrática
e justa. Percebemos que se trata de uma abordagem completamente oposta às perspectivas
100
Tabela 03: Resultados numéricos das respostas sobre a seleção dos conteúdos de ensino
nas aulas de Educação Física Escolar, obtidos da amostra dos professores da
rede particular de ensino de Natal, RN, 2005, apresentados em porcentagem
Tabela 04: Resultados numéricos das respostas sobre os conteúdos de ensino ministrados
nas aulas de Educação Física Escolar, obtidos da amostra dos professores da
rede particular de ensino de Natal, RN, 2005, apresentados em porcentagem
esporte participação e o esporte rendimento. Em estudos realizados por Faggion (2000) e Faria
(2001), os esportes apareceram como principais conteúdos de ensino da EF escolar, todavia
sua utilização nas aulas estava atrelada aos princípios do esporte de rendimento, ou seja,
práticas caracterizadas pela exclusão, seleção e competição exacerbada. Os resultados obtidos
em nosso trabalho não nos permitem determinar se os professores estudados estão ensinando
os esportes de um modo crítico e construtivo, privilegiando os aspectos educacionais, ou se,
realmente, mantêm um ensino pautado no rendimento técnico, fundamentado basicamente na
abordagem competitivista.
As lutas (14,55 %), as danças (14,55 %) e as ginásticas (12,73 %) também foram
citadas como conteúdos de ensino, embora em uma freqüência bem menor do que os jogos e
esportes. Em relação a estes conteúdos, os resultados obtidos em nosso trabalho estão
condizentes com o que afirmam Pacheco (1999), Silva (2004) e Rinaldi e Souza (2001). Para
estes autores, os três conteúdos em discussão são constantemente negligenciados no meio
escolar, geralmente não estando presentes nos planejamentos didáticos docentes e, quando
presentes, sempre aparecem em menor proporção do que os jogos e, principalmente, do que os
esportes. Ainda segundo os mesmos autores, esta negligencia ocorre devido a dois fatores
principais: formação profissional inadequada e caráter estereotipado e preconceituoso que os
professores ainda revelam sobre os referidos conteúdos.
Um último tópico que podemos analisar refere-se aos conhecimentos sobre o corpo. De
acordo com o conceito estabelecido nos PCN’S, estes conteúdos são constituídos pelos
conhecimentos de ordem anatômica, fisiológica, biomecânica e bioquímica, que capacitam o
educando à gerenciar sua própria atividade corporal de forma autônoma, com vistas a manter
um estilo de vida ativo e saudável (BRASIL, 1997). Em nosso estudo, uma parcela ínfima dos
professores (03,64 %) citou este conteúdo de ensino, o que evidencia uma falta de
preocupação com a abordagem científica e metodológica da atividade física e suas interfaces
com a saúde. Resultados semelhantes também foram encontrados em estudos feitos por
Guedes e Guedes (1997) e Maitino (2001). Deste modo, novamente verificamos que a
perspectiva de ensino da promoção da saúde não vem sendo utilizada pelos professores de EF
escolar submetidos à pesquisa realizada.
104
Tabela 05: Resultados numéricos das respostas sobre a seleção dos métodos de ensino
nas aulas de Educação Física Escolar, obtidos da amostra dos professores da
rede particular de ensino de Natal, RN, 2005, apresentados em porcentagem
Tabela 06: Resultados numéricos das respostas sobre os métodos de ensino utilizados nas
aulas de Educação Física Escolar, obtidos da amostra dos professores da rede
particular de ensino de Natal, RN, 2005, apresentados em porcentagem
Tabela 07: Resultados numéricos das respostas sobre a seleção dos recursos materiais de
ensino nas aulas de Educação Física Escolar, obtidos da amostra dos
professores da rede particular de ensino de Natal, RN, 2005, apresentados em
porcentagem
Tabela 08: Resultados numéricos das respostas sobre os recursos materiais de ensino
utilizados nas aulas de Educação Física Escolar, obtidos da amostra dos
professores da rede particular de ensino de Natal, RN, 2005, apresentados em
porcentagem
Tabela 09: Resultados numéricos das respostas sobre a seleção das estratégias de
avaliação nas aulas de Educação Física Escolar, obtidos da amostra dos
professores da rede particular de ensino de Natal, RN, 2005, apresentados em
porcentagem
concluiu que os professores avaliavam os alunos, principalmente, pela participação nas aulas
de EF. Souza (1993), por sua vez, em pesquisa realizada com 36 professores da rede pública
do estado do Rio de Janeiro, verificou que a utilização da observação era a principal estratégia
avaliativa aplicada nas aulas de EF escolar. Nesta pesquisa, um bom número de professores já
incluía as provas teóricas em sua sistemática de avaliação.
A aplicação das provas ou trabalhos teóricos como principal estratégia avaliativa
(23,68 %) é extremamente discutível. Costa (2002), por exemplo, entende que nas provas o
professor somente pode avaliar se o aluno foi capaz de responder adequadamente suas
perguntas, todavia o erro ou acerto em cada questão não indica quais foram os conhecimentos
usados para respondê-la, tampouco o raciocínio que conduziu à resposta dada. Além disso,
existe uma tendência em se utilizar a prova como meio de atribuição de notas e classificação
de desempenhos, enfatizando o produto em uma sistemática de avaliação somativa e
quantitativa. Realmente quando os professores utilizam as provas ou trabalhos teóricos desta
maneira, acreditamos que estão seguindo o que Betti e Zuliani (2002) denominam de
concepção tradicional de avaliação. Já Libâneo (1994) afirma que as provas devem sim ser
utilizadas como meios necessários de obtenção de informação sobre o rendimento dos alunos.
Entretanto, os resultados coletados com a aplicação destas provas precisam ser apreciados
qualitativamente, servindo como indicadores de contínuo diagnóstico para a reorientação do
processo de ensino-aprendizagem. Quando utilizam as provas ou trabalhos desta segunda
maneira, os professores estão seguindo a concepção progressista de avaliação, assim
denominada por Betti e Zuliani (2002). Pela natureza descritiva de nosso trabalho, os
resultados encontrados acabam não sendo suficientes para que possamos indicar se os
professores de EF escolar, participantes do estudo, aplicam provas e trabalhos teóricos dentro
da concepção avaliativa tradicional ou da concepção avaliativa progressista.
Outra estratégia de avaliação bastante citada pelos professores foi a participação dos
alunos nas aulas (15,80 %). Segundo Costa (2002), neste tipo de estratégia não se atinge o
objetivo de avaliar o real progresso do aluno, além também de tornar o processo avaliativo
pouco transparente ao educando, à comunidade escolar e ao próprio professor, que se perde
envolvido com critérios extremamente subjetivos. Deste modo, concordamos com Faggion
(2000) quando afirma que a avaliação em EF escolar não deve restringir-se apenas à
participação do aluno em sala de aula, se participa ou não participa, mas sim ao seu
112
envolvimento com o grupo, seu crescimento pessoal e outros aspectos inerentes à sua
formação como cidadão.
Mais uma estratégia avaliativa bastante citada foi o uso das observações (15,80 %).
Darido (1999) acredita que por meio das observações o professor pode avaliar o aluno em
todos os momentos da aula, não sendo necessário saber o resultado de uma avaliação formal
para realizar uma reorientação imediata do processo de ensino-aprendizagem. Deste modo,
com base no que afirma a referida autora, acreditamos que a utilização da observação
constitui-se em estratégia avaliativa valiosíssima para todos aqueles que desejam implantar em
sua prática pedagógica uma sistemática de avaliação formativa, que permita o contínuo
diagnóstico do processo de ensino-aprendizagem e que privilegie o processo educativo em
detrimento do produto.
Uma parcela razoável das respostas citadas abrange a utilização da freqüência ou
assiduidade como estratégia de avaliação (13,16 %). Galvão (2002), ao fazer um estudo sobre
professores de EF escolar bem sucedidos, afirma que uma característica fundamental de tais
professores é o fornecimento de feedback constante e apropriado, delimitando uma sistemática
de avaliação que deixa bem claro para o estudante como foi seu desempenho no processo
avaliativo. Assim sendo, percebemos que ao utilizar a freqüência como estratégia de
avaliação, o professor não cumpre a tarefa fundamental de fornecer aos seus alunos
informações sobre seus respectivos desempenhos (feedback), já que tal estratégia não dá
nenhum tipo de indicador sobre a vivência discente nas aulas de EF escolar. Além disso,
sabemos também que na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) (BRASIL, 1996) foi abolido o
critério de aprovação por freqüência, no qual a EF normativamente se vinculava ao sistema
escolar, evidenciando que os professores que citaram a freqüência como estratégia de
avaliação estão executando sua prática avaliativa sem nenhum tipo de amparo legal.
Um último ponto que podemos destacar é o fato de alguns professores citarem as
medições antropométricas como estratégia para avaliar seus alunos. As medições
antropométricas tradicionalmente são usadas pelos docentes que atuam baseados na
perspectiva de ensino higienista, quando são aplicadas para comparar os resultados dos
aprendizes à tabelas padronizadas e assim permitirem a classificação dos mesmos. Todavia, a
EF escolar na perspectiva da promoção da saúde também faz uso desta mesma estratégia
avaliativa, mas neste caso elas são utilizadas como informações complementares ao aluno, no
113
5. CONCLUSÃO
O objetivo geral de nossa pesquisa foi analisar o planejamento didático dos professores
de EF escolar que atuam na rede particular de ensino da cidade de Natal. Ao final da pesquisa,
acreditamos que tal objetivo tenha sido atingido, do mesmo modo como também acreditamos
que a realização do presente estudo foi de fundamental importância para nossa formação
profissional.
Com base na análise e discussão dos resultados encontrados, podemos concluir que os
professores participantes do estudo selecionam a assimilação crítica de conteúdos como
principal objetivo de ensino para suas aulas de EF escolar, utilizam o jogo como principal
conteúdo programático, aplicam o ensino por comandos como principal método didático,
utilizam a bola como principal recurso material de ensino e fazem uso de provas ou trabalhos
teóricos como principal estratégia de avaliação. Assim sendo, esperamos que estes resultados
levantados possam servir de subsídio para futuras discussões nos cursos de licenciatura em EF
e também nas escolas que compõem a rede particular de ensino da cidade de Natal.
Também vale destacar que consideramos nosso estudo apenas como um diagnóstico
quantitativo de dados a respeito do planejamento didático docente. Deste modo, deixamos a
sugestão para que novas pesquisas sejam realizadas, porém agora fundamentadas em uma
análise de caráter mais qualitativo, procurando verificar se realmente o discurso teórico
apresentado pelos professores está coerente com a prática pedagógica desenvolvida pelos
mesmos no dia-a-dia escolar.
115
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ANEXO 01: QUESTIONÁRIO
1. Dados preliminares
2. Perguntas
Questão 01: você seleciona os objetivos de ensino que devem ser atingidos ao final de suas aulas
de Educação Física escolar?
( ) Sim ( ) Não
Caso a resposta acima seja “SIM”, por favor indique abaixo quais são os principais objetivos de
ensino que devem ser atingidos ao final de suas aulas de Educação Física escolar.
Questão 02: você seleciona os conteúdos de ensino que serão ministrados em suas aulas de
Educação Física escolar?
( ) Sim ( ) Não
Caso a resposta acima seja “SIM”, por favor indique abaixo quais são os principais conteúdos de
ensino que você ministra em suas aulas de Educação Física escolar.
Questão 03: você seleciona os métodos de ensino que serão utilizados em suas aulas de
Educação Física escolar?
( ) Sim ( ) Não
Caso a resposta acima seja “SIM”, por favor indique abaixo quais são os principais métodos de
ensino que você utiliza em suas aulas de Educação Física escolar.
Questão 04: você seleciona os recursos materiais de ensino que serão utilizados em suas aulas de
Educação Física escolar?
( ) Sim ( ) Não
Caso a resposta acima seja “SIM”, por favor indique abaixo quais são os principais recursos
materiais de ensino que você utiliza em suas aulas de Educação Física escolar.
Questão 05: você seleciona as estratégias de avaliação que serão utilizadas em suas aulas de
Educação Física escolar?
( ) Sim ( ) Não
Caso a resposta acima seja “SIM”, por favor indique abaixo quais são as principais estratégias de
avaliação que você utiliza em suas aulas de Educação Física escolar.
ANEXO 02: TERMO DE CONSENTIMENTO
Eu,
____________________________________________________________, ciente do teor
deste documento, declaro concordar em participar do estudo.