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O ENSINO DA ARTE PARA A EDUCAÇÃO

INCLUSIVA

Unidade I
O Processo Histórico da Pessoa com
Deficiência na Sociedade
O Processo Histórico da Pessoa com Deficiência
na Sociedade

Esta primeira Unidade vai apresentar o processo histórico da inclusão da

pessoa com deficiência no Brasil. Tratará do lugar da pessoa com deficiência


em diferentes épocas históricas na sociedade ocidental desde a antiguidade,
passando pelo Cristianismo, pela Idade Média, pelas transformações
trazidas pelo Renascimento Cultural e mostrará como tem sido feita essa
inclusão em tempos atuais.
1.1 O Lugar da pessoa com deficiência nas sociedades ocidentais antigas

Pessoas com deficiência sempre existiram desde o período primitivo e sua

inclusão, ao longo da história, se deu de modo não-linear, isto é, eram vistos


de formas diferentes, com ou sem anomalia, dependendo do lugar.

Segundo Silva (1987, P.21) as “anomalias físicas ou


mentais, deformações congênitas, amputações
traumáticas, doenças graves e de consequências
incapacitantes, sejam elas de natureza transitória
ou permanente, são tão antigas quanto a própria
humanidade”.
Na Pré-História, foram encontrados muitos

desenhos, nas cavernas, de mãos impressas faltando


um dos dedos, esqueletos de homem pré-histórico
com a espinha dorsal com curvatura acentuada,
conhecida como espondilose. Também foram

encontrados ossos do Homem de Neandertal, com


traços de traumatismos na clavícula ou reumatismo.

No Egito antigo, as pessoas com deficiência eram respeitadas e possuíam


honrarias e funerais dignos. Os cegos faziam atividades artesanais e foram
encontradas algumas múmias com indícios da presença de alguns males
incapacitantes
Já na Grécia antiga, foram encontradas pessoas com

traumatismo de mãos, braços e pernas em consequência das


batalhas, resultando em pessoas com deficiência adquirida.
Muitas pessoas com deficiência eram sacrificadas, dentre elas
as crianças. Outras, com deficiência mental, eram consideradas
como pessoas tomadas por forças do sobrenatural. Com a
intenção de curá-las, abriam um orifício na cabeça da pessoa,
para que os espíritos saíssem do crânio dela.
Na Roma antiga, as crianças de pais nobres que nasciam com
algum tipo de deficiência eram abandonadas para serem acolhidas
por alguma família plebeia. As pessoas com deficiência, nascidas
em famílias mais simples, eram utilizadas em circos, prostituição
entre outros. As pessoas mais importantes, como os imperadores,
quando apresentavam algum tipo de deficiência, eram escondidas
(Como exemplo temos o imperador Galba, que apresentava
problemas nas mãos e nos pés).
1.1.1 A pessoa com deficiência e o pensamento Cristão

O Cristianismo surgiu no Império Romano e mudou a forma pela qual as pessoas com
deficiência eram vistas e tratadas pela sociedade em geral. A doutrina cristã tinha como
princípio a caridade, a humildade e o amor ao próximo, levando, a partir do século IV, á
criação de hospitais voltados para o atendimento dos pobres e marginalizados, incluindo as
pessoas com algum tipo de deficiência.

No século V, o Concílio de Calcedônia (Concílio Ecumênico) determina que os bispos passem a


prestar assistência aos pobres e enfermos e, em contrapartida, proíbe a atuação como
padres das pessoas com deficiência.
1.1.2 A pessoa com deficiência na Idade das Trevas

Na Idade Média, a pessoa com deficiência era

considerada pela população como castigada poe Deus.


A própria Igreja Católica adota comportamentos
discriminatórios e de perseguição, substituindo a
caridade inicial pela rejeição àqueles que fugiam de
um “padrão de normalidade”.
As crianças com deficiência que sobreviviam eram separadas das suas famílias e eram
ridicularizadas. Na literatura da época relacionavam a deficiência com a figura do anão
ou corcunda.

O período da Idade Média também era conhecido como o período das

epidemias ou doenças, como peste bubônica, difteria, entre outras, deixando as


pessoas que eram acometidas com essas enfermidades em situação de extrema
privação. Também as pessoas com deformidades físicas, sensoriais ou mentais
juntavam-se aos grupos dos excluídos, pobres, enfermos ou mendigos.
1.1.3 O Renascimento: uma luz no caminho da pessoa com deficiência
Entre os séculos XV e XVII ocorre uma forte mudança sociocultural, com o

reconhecimento do valor humano, o avanço da ciência e a libertação dos dogmas e


crendices típicos da Idade Média. Essa mudança alterou “a vida do homem menos
privilegiado também, ou seja, a imensa legião de pobres, dos enfermos, enfim, dos
marginalizados. E dentre eles, sempre e sem sombra de dúvidas, os portadores de
problemas físicos, sensoriais ou mentais” (SILVA, 1987, p. 226).

No Renascimento, as pessoas com deficiência passam a ter atenção especial, e nela


incluiu-se os surdos que, até então, não acreditavam que pudessem ser educadas. O
médico e matemático Gerolamo Cardomo inventou um método para ensinar pessoas
surdas a ler e escrever, e Ponce de Leon desenvolveu a língua de sinais. Nesse período,
tivemos várias pessoas ilustres com deficiência, como Luis de Camões e Galileu Galilei.
1.1.4 A inclusão da pessoa com deficiência na sociedade: do século XIX aos nossos
dias

No século XIX, o Francês Charles Barbier desenvolve um código para ser utilizado durante as batalhas,
a pedido de Napoleão Bonaparte. Esse mesmo método foi modificado por Louis Braille para ser utilizado
por pessoas cegas, e chamado de “Método Braille”.

Ainda no século XIX, nos Estados Unidos, ocorre uma mudança


no tratamento dado aos veteranos de guerra com limitações
físicas, garantindo a eles moradia e alimentação. Essa mudança
avança no século XX, com o aumento do número de pessoas com
sequelas de guerra, em vários países; após a II Guerra, por
exemplo, intensificou-se a preocupação com as condições de vida
das pessoas com deficiência e outras questões de relevância
social.
Em contrapartida, em 1937, Hitler realiza em Munique, uma exposição com 650 pinturas,
esculturas e gravuras de artistas renomados, como Van Gogh, Matisse, Picasso, Kandinsky, Paul
Klee, entre outros, para ridicularizar a arte moderna, que para eles era considerada uma
“aberração” e uma ameaça. Ficou conhecida como a Arte Degenerada (para entender a Arte
degenerada, assista aos filmes “Arquitetura da Destruição” e “Caçadores de Obras Primas”
indicadas no “Para Saber Mais” da Unidade I).

No século XX, a melhoria nos instrumentos para as pessoas com deficiência (cadeira de

rodas, método de ensino para surdos e cegos entre outros) não é o suficiente; começa-se a
perceber que as pessoas com deficiência precisavam se reintegrar na sociedade e participar da
vida cotidiana de forma digna.
1.2 A trajetória das pessoas com deficiência no Brasil

No início, o Brasil também tratava a

pessoa com deficiência como “miserável”,


semelhantemente ao que vinha acontecendo
na Europa. Os índios e escravos sofriam
maus-tratos e violência, pela associação
errônea entre deficiência e doença
1.As pessoas com deficiência vistas pelas culturas formadoras da identidade brasileira

Entre os índios, assim como os povos da antiguidade e Idade Média, era costume a eliminação entre seus
costumes, a eliminação sumária de crianças com deficiência ou exclusão dos que adquiriam limitação física ou
sensorial. Para eles, o nascimento de uma criança com deficiência era entendido como um mau sinal, um castigo
dos Deuses. Além da existência de superstições associadas às pessoas com deficiência na cultura indígena, na
africana também acreditavam que era um castigo. Entretanto, também existiam as deficiências originadas dos
castigos a que eram submetidos os escravos.

Com a vinda dos Europeus, para substituir a mão de obra dos negros, após a abolição da escravatura também
foram acometidos por enfermidades graves, em decorrência do nosso clima e a presença de inúmeros insetos,
seguidos de inúmeros conflitos militares (Guerra dos Canudos, por exemplo), com várias deficiências
adquiridas durantes esses conflitos.
1.2.2 O Século XX e a abordagem médica da deficiência

Com o aumento de pessoas que necessitavam de uma atenção maior com relação
aos deficientes, começa-se a perceber que o tratamento para pessoa com
deficiência não se resumia á internação hospitalar e que muitas deficiências
estavam sendo diagnosticadas e tratadas de forma errada.

No Brasil, a criação da fundação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em


1854, hoje Instituto Benjamin Constant, marca o momento a partir do qual a
questão da deficiência deixou de ser responsabilidade única da família, passando
a ser um problema também do Estado.

Em 1940, passam a utilizar a expressão “crianças excepcionais” e separá-las das escolas regulares, surgindo
as Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE). Com o tempo essas entidades começam a
pressionar os governos para uma legislação que atendesse a educação especial e, em 1961, surge a primeira
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 4.024/1961.
Percebeu-se que as pessoas com deficiência poderiam estar nos
ambientes escolares e de trabalho comum. Com a Organização das
Nações Unidas (ONU), começaram a elaborar tratados e leis para
mudar esse quadro, assim como começou a ocorrer um avanço nas
legislações nacionais sobre o assunto.
Créditos das Imagens
• BORG, Locutus. Mãos de Gargas. Domínio Público. Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Manos_de_Gargas_(Francia).png Acesso em: 10
fev. 2019.

• GELLINGER. Mural do Egito. Pixabay. Disponível em: https://pixabay.com/pt/photos/mural-egito-fara%C3%B4nica-luxor-t%C3%BAmulo-484706/ Acesso em: 10


fev. 2019.

• BOUGUEREAU. William-Adolphe. Homem e seu Guia. Disponível em:< https://commons.wikimedia.org/wiki/File:William-Adolphe_Bouguereau_(1825-1905)_-


_Homer_and_his_Guide_(1874).jpg Acesso em: 09 fev. 2019

• GALBA. Imperador Romano cego. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Stockholm_-_Antikengalerie_4_-


_B%C3%BCste_Kaiser_Galba_cropped_2.jpg Acesso em: 01 mar. 2019

• BRUGUEL, Peter. Pessoas com Deficiência. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pieter_Bruegel_the_Elder_-_The_Cripples.JPG acesso em:
10 fev. 2019

• DAVID, Jacques-Louis. Belisário implorando por esmolas. Domínio público. Disponível em:<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:David_-_Belisarius.jpg
Acesso em: 03 mar. 2019

• STRUMMER. Steve. Primeira Versão Código Braille. Disponível em:


https://commons.wikimedia.org/wiki/File:First_version_French_braille_code_c1824.jpg?uselang=pt Acesso em: 01 mar. 2019

• EXPOSIÇÃO Arte Degenerada- Domínio Público. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Bundesarchiv_Bild_183-


H02648,_M%C3%BCnchen,_Goebbels_im_Haus_der_Deutschen_Kunst.jpg. Acesso em: 20 mar. 2017

• DEBRET. J. B. Execução da punição de açoitamento. Disponível em:


https://commons.wikimedia.org/wiki/File:L%27Ex%C3%A9cution_de_la_Punition_de_Fouet_by_Jean-Baptiste_Debret.jpg Acesso em: 10 fev. 2019

• GAUTIER. Armand-Desiré. Pátio dos doentes mentais. Domínio público. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Gautier_-_Salpetriere.JPG
Acesso em: 01 mar. 2019

Crédito dos Livros e Artigos


• SILVA, Otto Marques. A Epopeia Ignorada: a pessoa deficiente no mundo de ontem e de hoje. São Paulo: CEDAS/São Camilo, 1987

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