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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

INSTITUTO DE QUÍMICA

ALLYSTER RODRIGUES SILVA


WANESSA BUENO DA SILVA

LABORATÓRIO DE MÉTODOS ELETROANALÍTICOS


PROFa. DRa. LÍVIA FLÓRIO SGOBBI

DETERMINAÇÃO DAS CONSTANTES DE IONIZAÇÃO DE ÁCIDOS


ORGÂNICOS POR CONDUTIMETRIA DIRETA

GOIÂNIA
JULHO/2022
OBJETIVOS
Determinar as constantes de ionização de ácidos orgânicos (ácido acético, ácido
benzóico, cloreto de potássio e ácido tricloroacético) por condutimetria.

MATERIAIS E MÉTODOS

Materiais e reagentes:

➔ Solução de Cloreto de Potássio (KCl) 1 mol.L-1 e 0,01 mol.L-1


➔ Solução de Ácido Acético (CH 3COOH) 0,01 mol.L-1
➔ Solução de Ácido Benzóico (C6H5COOH) 0,01 mol.L-1
➔ Solução de Ácido Tricloroacético (CCl3COOH) 0,01 mol.L-1
➔ Água destilada
➔ Béquer de 50 mL e 200 mL
➔ Condutivímetro

Procedimento experimental

Inicialmente foi necessário a calibração do condutivímetro, com isso, utilizou-se


solução já preparada de KCl 1 mol.L-1. Lavou-se o eletrodo com água destilada e o secou com
auxílio de um papel toalha e o inseriu na solução de KCl 1 mol.L-1 contida em um béquer de
50 mL. Após a calibração, transferiu-se a solução de ácido acético (CH3COOH) 0,01 mol.L-1
para um béquer de 50 mL, lavou-se e secou-se o eletrodo e o inseriu no béquer, esperou-se a
estabilização do condutivímetro e anotou o valor de condutância equivalente e temperatura.
Em seguida, transferiu-se a solução de ácido benzóico (C6H5COOH) 0,01 mol.L-1 para um
béquer de 50 mL, lavou-se e secou-se o eletrodo e o inseriu no béquer, esperou-se a
estabilização do condutivímetro e anotou o valor de condutância equivalente e temperatura.
Repetiu-se os mesmos passos para as soluções de ácido tricloroacético (CCl3COOH) 0,01
mol.L-1 e cloreto de potássio (KCl) 0,01 mol.L-1.
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para início de experimento, é necessária a calibração do condutivímetro para


determinação da constante da célula, o qual é um parâmetro que não muda se não houver a
mudança entre a separação dos eletrodos e a área. A calibração se deu com solução padrão de
KCl 1 mol.L-1, pois o mesmo já possui uma condutividade exatamente conhecida. Esta
solução é utilizada pelo fato de sua condutância específica ser muito bem estabelecida em
células com geometrias perfeitamente definidas (SADLER, 2001).
Com a calibração do equipamento realizada, obteve-se os valores de condutância
específica (k) das soluções dispostas na Tabela 1.

Tabela 1. Medidas de condutância específica.

Amostras (0,01 mol.L-1) Condutância (S.cm-1) Temperatura (°C)

Cloreto de Potássio 0,001361 21,9

Ácido Acético 0,0001544 21,7

Ácido Benzóico 0,000725 22,0

Ácido Tricloroacético 0,00358 21,9

A condutância específica é expressa em S.cm-1, e representa a condutância do


centímetro cúbico de solução contida entre dois eletrodos afastados entre si de 1 cm e área de
1 cm². A condutância da solução de um eletrólito é função da concentração deste no meio, à
medida que o número de íons dissolvidos no meio aumenta, também aumenta a capacidade
da solução de conduzir uma carga elétrica. Essa carga elétrica é o que permite que um
condutivímetro meça a condutância da solução. Para um eletrólito forte, a condutância
aumenta consideravelmente com o aumento da concentração. Para um eletrólito fraco, a
condutância aumenta muito gradualmente com o aumento da concentração (CIENFUEGOS,
2000).
Conforme pode se observar na Tabela 1, o ácido acético (CH3COOH) é o que possui
menor condutância específica devido ao fato de ser o ácido mais fraco (Ka = 1,75E-5) dentre
os outros, logo se ioniza em menor quantidade, tendo menor quantidade de íons em solução.
Em seguida, o ácido benzóico (C6H5COOH, Ka = 6,28E-5), e o ácido tricloroacético
(CCl3COOH, Ka = 1,69E-1) (SKOOG, 2007). Os valores de condutância obtidos podem ter
sido afetados pela temperatura, já que a condutância aumenta com a temperatura, de modo
geral, a mobilidade dos íons aumenta enquanto que a viscosidade do meio diminui.
Determinados os valores de condutância específica, calculou-se a condutância
equivalente para cada solução, através da seguinte equação:

1000×𝑘
Λ𝑒𝑞 = 𝐶

Onde:

k = condutância específica (S.cm-1)


C = concentração (eq-1)

➔ Cloreto de Potássio (KCl):


−1
1000×0,001361 (𝑆.𝑐𝑚 )
Λ𝑒𝑞 = −1
0,01 (𝑒𝑞 )

2 −1
Λ𝑒𝑞 = 131, 61 𝑆. 𝑐𝑚 . 𝑒𝑞

➔ Ácido Acético (CH 3COOH):


−1
1000×0,0001544 (𝑆.𝑐𝑚 )
Λ𝑒𝑞 = −1
0,01 (𝑒𝑞 )

2 −1
Λ𝑒𝑞 = 15, 44 𝑆. 𝑐𝑚 . 𝑒𝑞

➔ Ácido Benzóico (C6H5COOH):


−1
1000×0,000725 (𝑆.𝑐𝑚 )
Λ𝑒𝑞 = −1
0,01 (𝑒𝑞 )

2 −1
Λ𝑒𝑞 = 72, 5 𝑆. 𝑐𝑚 . 𝑒𝑞

➔ Ácido Tricloroacético (CCl3COOH):


−1
1000×0,00358(𝑆.𝑐𝑚 )
Λ𝑒𝑞 = −1
0,01 (𝑒𝑞 )

2 −1
Λ𝑒𝑞 = 358, 0 𝑆. 𝑐𝑚 . 𝑒𝑞
Tabela 2. Valores de condutância equivalente (S.cm2.eq-1).

Amostras (0,01 mol.L-1) Condutância equivalente (S.cm2.eq-1)

Cloreto de Potássio 131,61

Ácido Acético 15,44

Ácido Benzóico 72,5

Ácido Tricloroacético 358,0

Dispostos dos dados presente na Tabela 2, pode-se observar uma ordem crescente de
condutância equivalente entre os ácidos, conforme aumenta a força do ácido. A condutância
do ácido tricloroacético (CCl3COOH) é quase três vezes maior que a condutância do cloreto
de potássio (KCl), o qual é um eletrólito forte, o que significa que está presente na forma de
íon em quase sua totalidade. Isto se dá devido ao efeito indutivo que os átomos de cloro
exercem na molécula, ou seja, os átomos de cloro atraem elétrons (retirador de elétrons),
gerando uma distorção na nuvem eletrônica da hidroxila, favorecendo a ionização do
hidrogênio.
Através da Equação 1, determinou-se os valores de grau de ionização utilizando os
valores obtidos anteriormente de condutância equivalente para ambas as soluções:

Λ𝑒𝑞
α= Λ0
𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 1

Onde Λ0 pode ser calculado da seguinte forma:

Λ0 = Λ0+ + Λ0−

Sendo:

Λ0 = condutância equivalente limite

Λ0+ = condutância equivalente limite do cátion

Λ0− = condutância equivalente limite do ânion


Os valores de condutância equivalente limite do cátion e do ânion (Tabela 3) são
valores tabelados encontrados na literatura (HAYNES, 2014):

Tabela 3. Valores de condutância equivalente limite do cátion e ânion (S.cm2.eq-1)

Cátion Λ0+ (S.cm2.eq-1) Ânion Λ0- (S.cm2.eq-1)

H+ 349,6 Cl- 76,3

K+ 73,5 CH3COO- 40,9

C6H5COO- 32,4

CCl3COO- 35,0

➔ Cloreto de Potássio (KCl):

2 −1 2 −1
Λ0 = 73, 5 (𝑆. 𝑐𝑚 . 𝑒𝑞 ) + 76, 3 (𝑆. 𝑐𝑚 . 𝑒𝑞 )
−1
Λ0 = 149, 8 𝑆. 𝑐𝑚². 𝑒𝑞

Grau de ionização:

−1
131,61 (𝑆.𝑐𝑚².𝑒𝑞 )
α= 2 −1
149,8 (𝑆.𝑐𝑚 .𝑒𝑞 )

α = 0, 8785

➔ Ácido Acético (CH 3COOH):

2 −1 2 −1
Λ0 = 349, 6 (𝑆. 𝑐𝑚 . 𝑒𝑞 ) + 40, 9 (𝑆. 𝑐𝑚 . 𝑒𝑞 )
−1
Λ0 = 390, 5 𝑆. 𝑐𝑚². 𝑒𝑞

Grau de ionização:

−1
15,44 (𝑆.𝑐𝑚².𝑒𝑞 )
α= 2 −1
390,5 (𝑆.𝑐𝑚 .𝑒𝑞 )

α = 0, 03953
➔ Ácido Benzóico (C6H5COOH):

2 −1 2 −1
Λ0 = 349, 6 (𝑆. 𝑐𝑚 . 𝑒𝑞 ) + 32, 4 (𝑆. 𝑐𝑚 . 𝑒𝑞 )
−1
Λ0 = 382, 0 𝑆. 𝑐𝑚². 𝑒𝑞

Grau de ionização:

−1
72,5 (𝑆.𝑐𝑚².𝑒𝑞 )
α= 2 −1
382,0 (𝑆.𝑐𝑚 .𝑒𝑞 )

α = 0, 1897

➔ Ácido Tricloroacético (CCl3COOH):

2 −1 2 −1
Λ0 = 349, 6 (𝑆. 𝑐𝑚 . 𝑒𝑞 ) + 35, 0 (𝑆. 𝑐𝑚 . 𝑒𝑞 )
−1
Λ0 = 384, 6 𝑆. 𝑐𝑚². 𝑒𝑞

Grau de ionização:

−1
358,0 (𝑆.𝑐𝑚².𝑒𝑞 )
α= 2 −1
384,6 (𝑆.𝑐𝑚 .𝑒𝑞 )

α = 0, 9308

Tabela 4. Valores de grau de ionização para ambas as soluções em 0,01 mol.L-1.

Amostras (0,01 mol.L-1) Grau de ionização Grau de ionização (%)

Cloreto de Potássio 0,8785 87,85

Ácido Acético 0,03953 3,59

Ácido Benzóico 0,1897 18,97

Ácido Tricloroacético 0,9308 90,08

Pode-se observar na Tabela 4, que o ácido acético se ioniza muito pouco (3,59%), o
que justifica sua condutância específica ser menor que das demais soluções. Dentre as
soluções analisadas, o ácido tricloroacético e cloreto de potássio foram os que apresentaram
maior grau de ionização, estando quase em sua totalidade ionizados.
Obtidos os valores de grau de ionização, pode-se determinar os Ka’s dos ácidos
orgânicos analisados com auxílio da seguinte equação:

2
α ×𝐶
𝐾𝑎 = (1−α)

Sendo:
α = grau de ionização
C = concentração (mol.L-1)

➔ Ácido Acético (CH 3COOH):


2
0,03953 × 0,01
𝐾𝑎 = (1−0,03953)

−5
𝐾𝑎 = 1, 62 × 10

➔ Ácido Benzóico (C6H5COOH):

2
0,1897 × 0,01
𝐾𝑎 = (1−0,1897)

−4
𝐾𝑎 = 4, 44 × 10

➔ Ácido Tricloroacético (CCl3COOH):

2
0,9308 × 0,01
𝐾𝑎 = (1−0,9308)

−1
𝐾𝑎 = 1, 25 × 10

Tabela 5. Valores de Kaexperimental e Kateórico.

Amostras (0,01 mol.L-1) Kaexperimental Kateórico

Ácido Acético 1,62E-5 1,75E-5

Ácido Benzóico 4,44E-4 6,28E-5

Ácido Tricloroacético 1,25E-1 1,25E-1


É possível observar através dos valores de Ka’s obtidos experimentalmente, que o
valor determinado para o ácido acético e para o ácido tricloroacético é muito próximo dos
valores dispostos na literatura (HAYNES, 2014). Já para o ácido benzóico, apresentou leve
discrepância quando comparado com o Kateórico, isto pode se dar pelo fato dos valores de
Kateórico serem determinados em uma temperatura específica e o Kaexperimental em temperatura
diferente do determinado teóricamente.
CONCLUSÃO

A técnica utilizada possibilitou determinar os valores de constantes de dissociação de


ácidos orgânicos. A metodologia utilizada mostrou-se eficiente, já que ambos os valores de
Ka’s determinados experimentalmente se aproximaram consideravelmente dos valores
dispostos na literatura. Tais diferenças podem se dar pela variação de temperatura na hora da
realização do experimento quando comparado com a temperatura do Kateórico, erro
experimental ou do próprio analista.
REFERÊNCIAS

CIENFUEGOS, Freddy., Análise Instrumental. Rio de Janeiro, 2000.


HAYNES, W. M., CRC Handbook of Chemistry and Physics, 95ª ed. 2014.
SADLER, Maria de L., Métodos Instrumentais para Análise de Soluções, 4ª ed. Lisboa, 2001.
SKOOG, Douglas A., Fundamentos de Química Analítica, 4ª ed. São Paulo, 2007.

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