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Ensino Médio
REFERENCIAL
CURRICULAR
DO SISTEMA SESI-SP DE ENSINO
Ensino Médio
1a edição
São Paulo, 2020
Álvaro Luiz Grave
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Paradigmas da inclusão
A percepção da diversidade como grandeza da sociedade é algo recente na história da hu-
manidade e junto a essa perspectiva surge a visibilidade sobre os aspectos da desigualdade.
A organização das sociedades foi ancorada em injustiças sociais irredutíveis, aceitas cultural-
mente e ratificadas por muitos séculos na maioria das organizações sociais.
Barros (2018) distancia a oposição entre igualdade e diferença de modo simplista e a
classifica numa questão sob a visão da semiótica, como se fossem apenas opostos, e as res-
salta como construções históricas e sociais. A dicotomia configura-se como positiva e en-
grandecedora, entretanto por referências políticas ou situações sociais específicas, deslocou-
-se para a desigualdade, que gerou na falta de acesso a oportunidades de direitos básicos
como dignidade, liberdade, trabalho, assistência, educação, cultura, entre outros.
Essas circunstâncias históricas resultaram em diferenças, que devem ser contextualizadas
e tratadas com o objetivo de analisar e identificar possibilidades para oportunizar mudanças
atitudinais. Abandonando um discurso utópico, atitudes e ações inapropriadas, podem-se
evitar reincidências e eliminações de barreiras socioambientais.
RJP
Estudantes unidos
em prol da inclusão.
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As diferenças são inevitáveis e desejáveis, e a sociedade precisa se reorganizar em várias
dimensões para buscar meios que permitam a eliminação da desigualdade. Nesse contexto,
a Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 2009) é o marco para a humanidade que
iluminou os movimentos políticos e sociais de luta para o ingresso e conclusão de todos os
estudantes na escola. É importante enfatizar que a luta pela equiparação de condições signi-
fica pleitear a obtenção de direitos e não está relacionada com desvalorização da diferença
ou privilégios. Somente com este equilíbrio será possível a diminuição ou a eliminação das
desigualdades, injustiças, e isso implica a aceitação da diversidade.
Para compreender as ações capazes de modificar as circunstâncias relacionadas às desi-
gualdades é necessário diferenciar o termo no processo educativo, considerando o sujeito e
suas características por meio de equidade.
De acordo com Aulete (2019) os termos igualdade e equidade são considerados sinôni-
mos. No entanto, ao ampliar o significado dessas terminologias, é possível a incorporação
da concepção inclusiva contemplada em um dos principais direitos da humanidade: a igual-
dade permeada pela justiça, aspecto essencial ao se tratar de equidade. Para ser justo, hão
de se considerar as diferenças individuais, os aspectos sociais envolvidos e as condições
ambientais.
RJP
IGUALDADE IGUALDADE
EQUIDADE EQUIDADE
Igualdade e equidade.
RJP
As ações baseadas em circunstâncias de equidade oferecerão meios justos e diferencia-
dos para aqueles que apresentam condição particularizada, na busca de outros meios para
conquistar o mesmo resultado. Assim, meios desiguais para atingir um desfecho baseado na
igualdade – é a equidade.
Hoje, para conquista dessa equidade, é necessário compreender os percursos da educa-
ção e o lugar em que as pessoas com deficiências, transtornos e altas habilidades ocuparam
nas relações sociais e na escola. É possível identificar as circunstâncias capazes de modificar
a ação natural das pessoas na sociedade para oportunizar um fazer permeado de justiça
para todos. A contextualização histórica também permite identificar os padrões dos modelos
passados, e então podem ser reconhecidas muitas características que ainda disseminam o
preconceito e a discriminação.
No passado, a criação e a estruturação da escola tiveram forte vínculo religioso e objeti-
varam o atendimento dos interesses da elite vigente. A escola era de acesso restrito e para
aqueles com o mesmo perfil, ou seja, nobreza ou aristocracia, de etnia branca, com alto poder
aquisitivo e considerados à época os únicos com capacidade para aprender e produzir ciência.
A possibilidade de estudos era permitida aos que tivessem condições intelectuais, sociais e
econômicas para se dedicar aos estudos.
Tomou-se como base o capacitismo, e muitos não tinham
permissão de ingressar na escola por não apresentarem as Capacitismo é uma concep-
condições consideradas adequadas para permanência. ção existente na sociedade
De acordo com Araújo (2014), mesmo centrada nos que define as pessoas com
deficiência como não iguais,
ideais de igualdade, fraternidade e liberdade propostos pela
menos aptas ou não capazes
Revolução Francesa, a democratização e universalização do de gerir a própria vida. A de-
ensino apresentaram dificuldade para romper com a homo- ficiência para o capacitista é
geneização e escolarizar as pessoas com suas diferenças. um estado diminuído do ser
Numa escola homogênea, não havia espaço para as pes- humano e está ligada ao pre-
conceito. O capacitismo para
soas com deficiência, assim todo o percurso educacional se
as pessoas com deficiência
constituiu fora da escola, numa sociedade alinhada a princí- está como o racismo para as
pios preconceituosos e discriminatórios. Nessa época, a edu- diferenças de etnia (DIAS,
cação denominada especial era para poucos e foi assumida 2013).
por instituições ou associações, numa proposta de reabilita-
ção pela medicina e demais áreas da saúde.
Caminhos distanciados foram estabelecidos, de um lado a educação movida no sentido de
atendimento padrão, para os alunos considerados normais; de outro, a educação das pessoas
com deficiência constituída em outros espaços, fora das instituições de ensino.
EXCLUSÃO SEGREGAÇÂO
RJP
INTEGRAÇÃO INCLUSÃO
O primeiro paradigma persistiu por muitos séculos: as pessoas com deficiência ou trans-
tornos eram invisíveis, negadas pela sociedade e sem acesso a nenhum atendimento. Eram
consideradas de forma caricata, por todos os setores da sociedade e até pela própria família,
que muitas vezes negava a condição ou eliminava a pessoa do convívio familiar.
Da negação, a primeira ruptura foi o direcionamento para a aceitação. O segundo para-
digma é proveniente da mudança do sentimento da repulsa para a piedade, a caridade e a
benevolência. As pessoas com deficiência ou transtornos foram encaminhadas para institu-
tos especializados para cuidados e reabilitação. Com os avanços da medicina, a proposta era
a tentativa de cura e a exclusão da sociedade foi transformada em segregação dentro dos
institutos especializados, conventos e manicômios.
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I – igual-
dade de condições para o acesso e permanência na escola; (BRASIL, 1988. P. 34)
16 A Declaração de Incheon (UNESCO, 2015) busca oferecer a educação adequada, inclusiva e equitativa de boa qualida-
de, e promover oportunidades de aprendizagem para todos ao longo da vida.
Redes de
Redes afetivas Redes estratégicas
O porquê da
reconhecimento O como da
O quê da
aprendizagem aprendizagem
aprendizagem
RJP
Princípios do Desenho Universal para a Aprendizagem (ZERBATO e MENDES, 2018).
De acordo com Nunes e Madureira (2015), a proposta do DUA permite reduzir as barrei-
ras contextuais e proporcionar apoio necessário ao sucesso dos estudantes. Dessa forma os
princípios assumem objetivos e estratégias para uma proposta didática que visa satisfazer as
necessidades de um maior número de estudantes do ensino médio. O professor deve analisar
seus objetivos com clareza e coerência, proporcionando opções de linguagem, compreensão
das expressões matemáticas e símbolos, atividades físicas, expressão, funções executivas,
incentivo ao interesse, suporte ao esforço e à persistência.
A proposta implica a redefinição dos papéis em sala de aula, e quando um ou mais estu-
dantes com deficiência ou transtornos são elegíveis para indicação de serviços de apoio, as
relações devem ser estabelecidas numa proposta de colaboração. O apoio deve ser centrado
na sala de aula e na turma. Nunca envolve a retirada do estudante com deficiência das aulas,
exceto quando houver risco à sua integridade ou à dos demais. Momentos de aprendizagem
devem ser realizados com os pares, com estratégias que envolvam a coletividade conforme
afirmam Vilaronga e Mendes (2014).
Eugenio Goulart
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