Você está na página 1de 14

EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO PRESIDENTE DO

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

MARIEL MÁRLEY MARRA, advogado inscrito OABMG157240,


brasileiro, casado, com endereço situado à R. Munhoz, 315, Santa
Rosa - Belo Horizonte/MG, CEP 30170-040, Tel:. 31 996-212-757,
email: mariel@ferreiradiasmarra.adv.br, com fundamento no artigo 5º,
LXVIII da Constituição Federal e nos artigos 647 e 667 do Código de
Processo Penal, vem, respeitosamente, impetrar ORDEM de HABEAS
CORPUS, em favor de ROBERTO JEFFERSON MONTEIRO
FRANCISCO, brasileiro, advogado em situação regular com inscrição
na OAB/RJ 36165 (doc.02), casado, filho de Roberto Francisco e Neuza
Dalva Monteiro Francisco, nascido em 14/06/53, natural do Rio de
janeiro, portador do RG 81213751-1-IFP/RJ e do CPF 280.907.647-20,
com endereço na Rua Ernesto Paixão, 37, Valparaíso, Petropólis/RJ,
CEP 25.655-050 (doc.07), contra ATO do MINISTRO ALEXANDRE DE
MORAES, brasileiro, casado com Viviane Barci de Moraes, servidor
público federal, nascido em 13 de dezembro de 1968, portador da
Cédula de Identidade RG nº 14.226.210-9 e do CPF 112.092.608-40
(doc05), com endereço no Supremo Tribunal Federal, Praça dos Três
Poderes, Brasília/DF, CEP. 70.175-900, tel. (61) 3217.3000, pelos
fundamentos de fatos e de direito a seguir expostos:

PRELIMINARMENTE
DA COMPETÊNCIA DO STF PARA JULGAR O HABEAS CORPUS

A competência do Supremo Tribunal Federal para julgar habeas corpus


é determinada constitucionalmente em razão do Paciente ou da
Autoridade Coatora (art. 102, inc. I, alínea I, da Constituição da
República).

Em razão do paciente:

O Supremo Tribunal Federal é competente por imunidades e


prerrogativas de parlamentar, representante partidário e advogado.

Ocorre que o paciente é advogado inscrito na Seccional do Rio de


Janeiro sob o número 36.165, sendo que além disso ele é presidente
nacional do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e foi deputado federal
no Congresso Nacional.

Em virtude da relevância das funções ou das atividades que exerce e/


ou exerceu, o paciente goza de tratamento jurídico diferenciado,
conferidas aos parlamentares, que compreendem às situações de
Inviolabilidade ou Imunidade penal (ou material) (CF, art. 53, caput);
Imunidade processual (CF, art. 53, §§ 3.º, 4.º e 5.º); Imunidade prisional
(CF, art. 53, § 2.º); Foro especial por prerrogativa de função (CF, art. 53,
§ 1.º); Não obrigatoriedade de testemunhar – imunidade probatória (CF,
art. 53, § 6.º) e Possibilidade de marcar dia, hora e local para o
depoimento – prerrogativa testemunhal.

A Constituição também reconheceu a importância dos líderes


partidários e conferiu-lhes atribuições não extensíveis a todos os
parlamentares. Os incisos IV e V do art. 89 dispõem que participam do
Conselho da República: "IV - os líderes da maioria e da minoria na
Câmara dos Deputados; V - os líderes da maioria e da minoria no
Senado Federal".

O art. 140 dispõe: "A Mesa do Congresso Nacional, ouvidos 'os líderes
partidários', designará Comissão composta de cinco de seus membros
para acompanhar e fiscalizar a execução das medidas referentes ao
estado de defesa e ao estado de sítio". Percebe-se que os líderes
partidários participam.

A mesma deferência é conferida pelo Regimento Interno da Câmara


dos Deputados. O Capítulo IV trata "Dos Líderes". Segundo o art. 9º,
"os deputados são agrupados por representações partidárias ou de
Blocos Parlamentares, cabendo-lhes escolher o Líder quando a
representação atender os requisitos estabelecidos no § 3º do art. 17 da

Constituição Federal". Vale ser sensível à associação que o Regimento


Interno da Câmara faz entre o líder partidário e o art. 17 da
Constituição.

Os líderes partidários encontram direitos e deveres na própria


Constituição.

O art. 53 da Constituição diz o seguinte: "Os deputados e senadores


são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões,
palavras e votos". Conhecendo e interpretando o art. 53 da
Constituição (imunidade parlamentar material) em sintonia com os
artigos 17 (líderes partidários) e 60, § 4º (parlamentares em
deliberação), fica claro a imunidade que assegurada ao líder partidário.

O paciente, Dr. Roberto Jefferson Monteiro Francisco, é advogado, em


situação regular, inscrito na seccional do Rio de Janeiro sob o número
36165 da OAB/RJ, tem atuação em todo o território brasileiro, é
profissional dotado de fé pública, e por seu múnus público se faz
necessário o reconhecimento deste HC pelo STF, e o conseqüente
salvo conduto e alvará de soltura para continuar mantendo o seu
trabalho essencial e indispensável à administração da justiça (art. 133,
CF), albergado pela lei federal nº 8.906/94 que prevê as prerrogativas
dos advogados, mais precisamente nos seus artigos 6º e 7º,
garantindo ao advogado o direito pleno de defender seus clientes com
independência e autonomia, sem temer a autoridade judiciária ou
quaisquer outras autoridades que por acaso tentem usar de
constrangimento ou outros meios que possam levar à diminuição de

sua atuação como defensor da liberdade.

Em razão da Autoridade Coatora:

O remédio constitucional que ora se apresenta deve ser acolhido e


julgado por este Supremo Tribunal Federal, uma vez que a autoridade
coatora, o Ministro do Supremo Tribunal de Justiça, Dr. Alexandre de
Moraes, é membro deste Tribunal e determinou a prisão ilegal do
paciente.

Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe processar e julgar, originariamente o habeas
corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o
paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos
diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de
crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância (alínea i,
inciso I, artigo 102 da CF).

A autoridade coatora, o Min. Alexandre de Moraes, decretou a prisão


preventiva de Roberto Jefferson Monteiro Francisco (CPF 280.907.647-
20) por meio de expedição de mandados dirigidos à Polícia Federal e
conforme petição 9.844 (doc.06) de processo que corre sob sigilo,
oriundo de representação da autoridade policial, com fundamento no
art. 301 e seguintes do Código de Processo Penal.

Ocorre que a prisão foi ILEGAL e por isso, o paciente, através de seu
advogado, expõe em resumo as suas justificativas para que este
Habeas Corpus deva ser julgado por este Colendo Supremo Tribunal
Federal, diante dos atos ilegais proferidos pela autoridade coatora e
pela suspeição e impedimento deste Ministro do STF em determinar tal
prisão, por ser parcial e conforme os fatos expostos adiante.

A autoridade coatora cerceou a liberdade do advogado, ora paciente,


de trabalhar e de ir e vir (art.5º, CF), quando DETERMINOU A PRISÃO
ILEGAL, por meio dos agentes da polícia federal, do ADVOGADO, ora
paciente neste HABEAS CORPUS.

O ato ilegal se deu quando a autoridade coatora experimento mandado


de prisão ilegal ao ADVOGADO por meio do envio de policiais federais
na casa do paciente advogado por volta das 8hs da manhã, Roberto
Jefferson Monteiro Francisco (OAB/RJ 36165), quando este se
encontrava convalecido, descansando em sua residência e no seu
escritório jurídico, culminando com a prisão ILEGAL por supostos
crimes imputados pelo próprio Ministro inquisidor e julgador do STF.

Os atos ilegais emanados do Ministro do STF, Alexandre Moraes,


confirmam a suspeição e o impedimento em julgar qualquer processo
judicial em face do paciente, o advogado Dr. Roberto Jefferson
Monteiro Francisco, atraindo assim este remédio constitucional à
competência do Presidente do Supremo Tribunal Federal, diante do
interesse da União e do Estado em manter o paciente exercendo o seu
múnus público de advogado, bem como diante das infrações às
prerrogativas contidas no Estatuto do Advogado (Lei Federal 8.906/94)
e no desrespeito aos preceitos constitucionais contidos no artigo 5º,
inciso XIII e artigo 133 da Constituição Federal, e outros preceitos
constitucionais que garantem a imunidade e as prerrogativas de
parlamentar, representante partidário nacional e advogado, explicitados
adiante.

Portanto, quer seja em razão do Paciente, quer seja em razão da


autoridade coatora, não há duvidas quanto a competência originária
do STF para processar e julgar este habeas corpus.

É C A B Í V E L H A B E A S C O R P U S E M FA C E D E D E C I S Ã O
MONOCRÁTICA DE MINISTRO DO STF

Sabe-se que o STF é dividido em duas Turmas (1ª e 2ª), cada uma com
5 Ministros e mais o Plenário (composto pelos 11 Ministros).

Se uma das Turmas toma uma decisão contrária ao réu, é possível


impetrar habeas corpus para ser julgado pelo Plenário? NÃO!

Este entendimento encontra-se cristalizado em uma súmula: Súmula


606-STF: Não cabe habeas corpus originário para o Tribunal Pleno
de decisão de turma, ou do plenário, proferida em habeas corpus
ou no respectivo recurso.

Entretanto caso um Ministro do STF, em um processo que lá tramita,


profira decisão monocrática ("sozinho") contrária a um investigado ou
réu. Neste caso, caberá habeas corpus contra essa decisão?

Em outras palavras… É cabível HC contra decisão monocrática de


Ministro do STF? SIM!

Após muita polêmica e mudanças de entendimento, a última decisão


do STF sobre o assunto é a seguinte:

Cabe habeas corpus contra decisão monocrática de Ministro do


STF. O habeas corpus é cabível contra ato individual formalizado
por integrante do Supremo. STF. Plenário. HC 130620/RR, Rel. Min.
Marco Aurélio, julgado em 30/04/2020.

E a Súmula 606 do STF?

Verifica-se que a posição mais atual é no sentido de que a Súmula 606


do STF abrange apenas ato de colegiado (Turma ou Plenário), não
sendo aplicável, portanto, para ato individual de Ministro do STF.

Logo, o entendimento que levou à edição da Súmula 606 do STF


não proíbe habeas corpus contra ato de Ministro do STF.

DOS FATOS E DO DIREITO

Em 13 de agosto de 2021, por volta das 8h da manhã, quando o


Paciente estava em sua residência, foi surpreendido com a notícia de
que a polícia federal estava se dirigindo à sua casa para prendê-lo,
visto que o endereço informado para realização da diligência era seu
antigo endereço.

Importante salientar que mesmo embora tenha recebido a notícia


antecipadamente de sua prisão, o mesmo permaneceu em sua
residência aguardando o cumprimento da ordem.

Pela leitura do ato coator, o Ministro do STF, Alexandre de Moraes,


expediu decisão, de ofício, determinando a prisão preventiva do
Paciente, com fundamento equivocado no art. 301 e seguintes do
Código de Processo Penal, o qual trata de prisão em flagrante.

Entretanto, ainda que isso seja considerado um mero erro formal,


verifica-se no caso concreto que a autoridade coatora expediu
mandado de prisão ilegal contra o paciente, pelas razões expostas
abaixo.

Verifica-se que o mandado de prisão foi expedido a partir do inquérito


Nº. 4874 do STF, que tramita sob sigilo, onde a autoridade coatora, o
Sr. Ministro Alexandre de Moraes, incluiu o paciente como investigado,
sob a pífia alegação de que o advogado Roberto Jefferson estaria
envolvido em supostos crimes previstos nos artigos 138, 139, 140, 286,
287, 288, 339 e delitos previstos no artigo 20, parágrafo 2º da lei
7.716/89 e 2º da lei 12.850/13 e nos artigos 17, 22, I, e 23, I, da lei de
Segurança Nacional e o previsto no artigo 326-A da lei 4.737/65.

A prisão preventiva ilegal ocorreu por suposta participação do paciente


na propagação de manifestação em rede social e em entrevistas que,
em tese, poderiam afrontar o Estado Democrático e a Constituição
Federal, entretanto não se verifica no caso concreto nenhuma das
hipóteses do artigo 312 do Código de Processo Penal.

Na decisão atacada, o Ministro do STF, conclui que o paciente faz parte


do “núcleo político” de uma “possível organização criminosa”, fazendo
exercício de futurologia em sua fundamentação, levantando a “tese”
com base em supostos elementos no Inquérito 4.781 (fake news),
senão vejamos o trecho da petição 9844/DF:

“Esses elementos demonstram uma


possível organização criminosa – da qual,
em tese, o representado faz parte do
núcleo político – , que tem por um de seus
fi n s d e s e s t a b i l i z a r a s i n s t i t u i ç õ e s
republicanas, principalmente aquelas que
p o s s a m c o n t r a p o r- s e d e f o r m a
constitucionalmente prevista a atos ilegais
ou inconstitucionais, como o SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL e o próprio
CONGRESSO NACIONAL, utilizando-se
de uma rede virtual de apoiadores que
atuam, de forma sistemática, para criar ou
compartilhar mensagens que tenham por
mote final a derrubada da estrutura
democrática e o Estado de Direito
no Brasil”

Mais adiante, em outro trecho da petição 9844/DF, acaba criando


supostas ações futuras que o paciente daria causa, tais como:
“fechamento da Corte Máxima do País”, “retorno da ditadura” e
“afastamento da fiel observância da Constituição Federal da
República”, justificando assim tais atos em algumas transcrições
pinçadas e recortadas a partir de entrevistas do advogado por meio de
redes sociais, onde não se consegue encontrar tais supostos atos a
serem praticados.

Ocorre excelência que estes são trechos retirados das entrevistas pela
autoridade coatora e não passam de trechos retirados de seu contexto
fático, os quais foram recortados das exposições de pensamento e de
opinião do advogado, protegidas pela Constituição Federal, pois a
liberdade de expressão é garantida pela Constituição de 1988,
principalmente nos incisos IV e IX do artigo 5º.

Sabe-se que enquanto o inciso IV é mais amplo e trata da livre


manifestação do pensamento, o inciso IX foca na liberdade de
expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação.

A autoridade coatora fundamenta sua decisão da prisão ilegal, dizendo


que o advogado, ora paciente, “exibe armas, faz discursos de ódio,
homofóbicos e incentiva a violência”, algo que por si só não legitima o
decreto de prisão preventiva, pois faz-se necessário que a decisão pela
prisão tenha sua fundamentação no caso concreto e não em gravidade
abstrata do delito.

Com esse enfoque, é altamente ilustrativo outro norte jurisprudencial


quanto à ilegalidade de prisão fundamentada no clamor social, que é a
hipótese aqui tratada:

HABEAS CORPUS. PRISÃO INADEQUADA.


SUBSTITUIÇÃO DA PRISÃO POR OUTRAS
MEDIDAS CAUTELARES. ORDEM CONCEDIDA.
1. Após a edição da Lei nº 12.403/11, a
imposição da prisão cautelar passou a estar
subordinada à presença de três elementos:
Cabimento, necessidade e adequação. Assim,
quando todos os requisitos estiverem
preenchidos, porém a prisão não for adequada,
mister aplicar ao acusado alguma das medidas
preventivas previstas no art. 319 do Código de
Processo Penal. 2. Todo Decreto prisional deve
ser necessariamente fundamentado, não
bastando meras referências quanto à gravidade
em abstrato do delito, o clamor público, a
repercussão social do crime, bem como risco de
fuga ou à aplicação de Lei Penal. Repetir os
dizeres do art. 312 do Código de Processo Penal
não se revela suficiente para privar, ainda que de
maneira cautelar, o cidadão do bem jurídico do
mais preciosos, a sua liberdade. É dever do
magistrado demonstrar, com dados concretos
extraídos dos autos, a necessidade da custódia
do paciente, dada sua natureza cautelar nessa
fase do processo, em atenção ao elencado no art.
93, inciso IX, da CF/88, os princípios da
dignidade da pessoa humana e da presunção de
inocência, consagrados pelo mesmo diploma, e
no art. 115 do Código de Processo Penal. 3.
Quando, apesar da conduta ter sido reprovável,
não houver gravidade concreta a ponto de indicar
a periculosidade da paciente e a demonstrar que
o crime extrapolou a sua tipificação legal, as
medidas cautelares previstas no art. 319 do
Código de Processo Penal se mostram mais
adequadas à espécie. 4. Ordem concedida, para
revogar a prisão preventiva decretada em
desfavor do acusado, condicionando a sua
liberdade ao atendimento das medidas cautelares
contidas no art. 319, incisos I e II, do Código de
Processo Penal. (TJES; HC
0024010-61.2013.8.08.0000; Primeira Câmara
Criminal; Rel. Des. Sérgio Bizzotto Pessoa de
Mendonça; Julg. 18/12/2013; DJES 22/01/2014)

HABEAS CORPUS. ROUBO. GRAVIDADE


ABSTRATA DO DELITO. PERICULOSIDADE DO
AGENTE NÃO DEMONSTRADA. NECESSIDADE
DE COIBIR NOVOS CRIMES NÃO
EVIDENCIADA. RÉU PRIMÁRIO.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO.
ORDEM CONCEDIDA.
1. O juízo valorativo sobre a gravidade genérica
do crime imputado ao paciente não constitui
fundamentação idônea a autorizar a prisão
cautelar, mormente quando desvinculado de
qualquer fator aferido dos autos a demonstrar a
necessidade de ver resguardada a ordem pública
em razão do modus operandi do delito e da
periculosidade do agente, reconhecidamente
primário. 2. A fundamentação segundo a qual se
firma na necessidade de coibir a prática de
delitos graves, não se presta a embasar a
segregação acautelatório. De igual modo, o
clamor público com base na gravidade do crime
de roubo não pode embasar uma prisão
preventiva. 3. Ordem concedida. (TJAC - HC
0001871-13.2013.8.01.0000; Ac. 14.670; Câmara
Criminal; Rel. Des. Francisco Djalma; DJAC
26/07/2013; Pág. 20)

Note-se, pois, que o Ministro não cuidou de elencar quaisquer fatos ou


atos concretos que representassem minimamente a garantia da ordem
pública, não havendo qualquer indicação de que seja o Paciente uma
ameaça ao meio social, ou, ainda, que o delito fosse efetivamente de
grande gravidade.

Outrossim, inexiste qualquer registro de que o Paciente cause algum


óbice à conveniência da instrução criminal, nem muito menos
fundamentou sobre a necessidade de assegurar a aplicação da lei
penal, não decotando, também, quaisquer dados(concretos) de que o
Paciente, solto, poderá se evadir do distrito da culpa.

Dessarte, o fato de imputação de “crime grave”, como aludido no


decisório, não possibilita, por si só, na decretação da prisão preventiva
do Paciente.

Dessa forma, a decisão em comento é ilegal, também por mais esse


motivo, sobretudo quando vulnera a concepção trazida no bojo do art.
93, inc. IX, da Carta Magna e, mais, do art. 315 da Legislação Adjetiva
Penal.

De bom alvitre registrar as lições doutrinárias de Eugênio Pacelli de


Oliveira, o qual, destacando linhas acerca da necessidade de
fundamentação no decreto da prisão preventiva, assevera que:

“Se a prisão em flagrante busca sua justificativa e


fundamentação, primeiro, na proteção do
ofendido, e, depois, na garantia da qualidade
probatória, a prisão preventiva revela a sua
cautelaridade na tutela da persecução penal,
objetivando impedir que eventuais condutas
praticadas pelo alegado autor e/ou por terceiros
possam colocar em risco a efetividade do
processo.
A prisão preventiva, por trazer como
conseqüência a privação da liberdade antes do
trânsito em julgado, somente se justifica
enquanto e na medida em que puder realizar a
proteção da persecução penal, em todo o seu iter
procedimental, e, mais, quando se mostrar a
única maneira de satisfazer tal necessidade.

(...)

Em razão da gravidade, e como decorrência do


sistema de garantias individuais constitucionais,
somente se decretará a prisão preventiva ‘por
ordem escrita e fundamentada da autoridade
judiciária competente.’, conforme se observa com
todas as letras no art. 5º, LXI, da Carta de
1988.” (Oliveira, Eugênio Pacelli de. Curso de
Processo Penal. 16ª Ed. São Paulo: Atlas, 2012.
Págs. 542-543)

Em nada discrepando desse entendimento, com a mesma sorte de


entendimento lecionam Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar
que:

O art. 315 do CPP exige fundamentação no


despacho que decreta a medida prisional. Tal
exigência decorre também do princípio
constitucional da motivação das decisões
judiciais(art. 93, IX, CF). O magistrado está
obrigado a indicar no mandado os fatos que se
subsumem à hipótese autorizadora da decretação
da medida. Decisões vazias, com a simples
reprodução do texto da lei, ou que impliquem
meras conjecturas, sem destacar a real
necessidade da medida pelo perigo da liberdade,
não atendem à exigência constitucional, levando
ao reconhecimento da ilegalidade da
prisão.” (Távora, Nestor; Alencar, Rosmar
Rodrigues. Curso de direito processual penal. 7ª
Ed. Bahia: JusPODIVM, 2012. Pág. 589).

Vejamos também o que professa Norberto Avena:

Infere-se do art. 315 do CPP, e também por


decorrência constitucional(art. 93, IX, da CF), o
d e c re t o d a p r i s ã o p re v e n t i v a d e v e s e r
fundamentado quanto aos pressupostos e
motivos ensejadores.” (Avena, Norberto Cláudio
Pâncaro. Processo Penal: esquematizado. 4ª Ed.
São Paulo: Método, 2012. Pág. 951).

Nunca é demais lembrar que o órgão acusador, em geral o Ministério


Público, tem a obrigação de comprovar ao juiz que a pessoa acusada
praticou o crime.

Acontece que o Procurador-Geral da República, Augusto Aras,


divulgou nota à imprensa em 13 de agosto de 2021, dia da prisão
ilegal, afirmando que se manifestou contra a prisão por entender que a
medida representaria “censura prévia à liberdade de expressão”,
conforme publicação.

O PGR asseverou em sua entrevista que “Em respeito ao sigilo legal,


não serão disponibilizados detalhes do parecer, que foi contrário à
medida cautelar, a qual atinge pessoa sem prerrogativa de foro junto
aos tribunais superiores. O entendimento da PGR é que a prisão
representaria uma censura prévia à liberdade de expressão, o que é
vedado pela Constituição Federal”, diz a nota do PGR.

Percebe-se Excelência, que no relatório da decisão atacada, a


autoridade coatora disse que, em 5/8/2021, a Procuradoria-Geral da
República foi regularmente intimada para manifestação, no prazo de 24
(vinte e quatro) horas, deixando o prazo transcorrer “in albis”, o que
também não corresponde à verdade.

Excelência o Paciente, jamais poderia ter sido preso preventivamente


pelos supostos crimes apontados pela própria autoridade coatora, pois
encontram-se ausentes os pressupostos do Art 312 do CPP e não
passam de meras teses criadas de ofício pelo Julgador, sem constar
prova da materialidade indispensável para a condenação em todo e
qualquer delito, como também não passam de fatos subjetivos de
exposição de pensamento ou opinião, que foi “entendido” pelo seu
algoz, o Ministro Alexandre de Moraes, como crimes efetivamente
praticados, o que nunca ocorreu.

DA LIMINAR

A leitura, por si só, da decisão que decretou a prisão preventiva do


Paciente, demonstra na singeleza de sua redação a sua fragilidade
legal e factual.

A ilegalidade da prisão se patenteia pela ausência de algum dos


requisitos da prisão preventiva, além de ser originária de decisão sem
fundamento.

O endereço do Paciente é certo e conhecido, mencionado no


preâmbulo desta impetração, não havendo nada a indicar que o
Paciente irá furtar-se à aplicação da lei penal.

A liminar buscada tem apoio no texto de inúmeras regras, inclusive do


texto constitucional, quando revela, sobretudo, a ausência completa de
fundamentação na decisão em enfoque.

Do fumus boni iuris:

Evidenciam-se ao lado da pretensão do paciente os indícios do bom


direito, autorizadores da concessão do salvo-conduto e do alvará de
soltura, vez que é patente seu direito à liberdade de locomoção, de
trabalho e à vida, comprovada a essencialidade do exercício de
advocacia do paciente e, portanto, necessária a intervenção do
Judiciário a fim de evitar que o autor sofra ou se ache na iminência de
sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, quando
não houver justa causa ilegal

Do periculum in mora:

Outro requisito para a concessão da liminar, o perigo na demora,


também está patente no caso concreto, pois a persistência da prisão
ilegal e as iminentes investidas em desfavor do paciente, além de toda
a insegurança causada pelo poderio do Ministro do STF e as suas
arbitrariedades, através de medidas outras, impossibilitam o normal
desenvolvimento do trabalho e a liberdade de locomoção do paciente.

Por tais fundamentos, uma vez presentes a fumaça do bom direito e o


perigo na demora, requer seja LIMINARMENTE garantido ao Paciente a
sua liberdade de locomoção, sobretudo quando inexistem elementos a
justificar a manutenção do encarceramento.

Assim, presentes os requisitos, pede-se a Vossa Excelência que,


LIMINARMENTE, assegure ao paciente advogado o direito de liberdade
de locomoção e trabalho, pela expedição incontinenti de alvará de
soltura, ou sucessivamente, seja ao Paciente concedido o direito à
liberdade provisória, sem fiança.

DO PEDIDO

O Paciente, sereno quanto à aplicação do decisum, ao que expressa


pela habitual pertinência jurídica dos julgados desta Casa e
considerando que o Paciente já se encontra ilegalmente encarcerado a
mais de 10 dias, espera deste respeitável Tribunal o conhecimento
desta Habeas Corpus e a concessão da ordem determinando a soltura
do Paciente, ratificando-se a liminar almejada.

Respeitosamente, pede deferimento.

Belo Horizonte, 23 de Agosto de 2021

MARIEL MARLEY MARRA


OABMG157240

Você também pode gostar