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RESUMO

Foi recebida por esta Corte a ação penal promovida pelo Ministério Público
Federal na qual consta como réu o deputado Daniel Lúcio da Silveira ao qual se atribui
a prática das infrações penais descritas no art. 344 do Código Penal e do art. 23, II e IV,
este último em combinação com o art. 18 da Lei nº 7.170/1983 (extinta Lei de
Segurança Nacional).
A defesa levanta a tese que, devido a revogação da Lei nº 7.170/83, em 1º de
setembro de 2021, a denúncia ora imputada ao deputado Daniel Lúcia da Silveira, com
base na mencionada lei, torna-se inegável o abolitio criminis.
No que diz respeito ao abolitio criminis, é público que em 1° de setembro de
2021, foi publicada a Lei nº 14.197, nova Lei de Segurança Nacional, que, além de
revogar a Lei 7.170/1983, acrescentou o título XII na Parte Especial do Código Penal. É
perceptivel que a nova lei manteve, em boa parte, o núcleo dos tipos penais, ou seja, a
sua essência, assim sendo entendo que ocorreu uma modernização da legislação
existente, uma evolução da lei, portanto não há que se falar em ABOLITIO CRIMINIS.
Sendo assim, não tem razão a defesa em relação a essa prelimar, ficando prejudicada.
Os direitos fundamentais dos cidadãos estão determinados na Constituição
Federal de 1988, que não autoriza qualquer tipo de controle prévio no exercício das
atividades intelectual, artística, científica e de comunicação. No entanto, a liberdade de
expressão não pode ser usada para violar direitos fundamentais . Para além da
honra, a liberdade de expressão também encontra limite quando se trata de discursos
de ódio, que incitam a violência ou a agressão. Qualquer cidadão pode expressar suas
ideias, por mais absurdas e estapafúrdias que sejam, desde que não ameace terceiros.
As imunidades parlamentares são prerrogativas inerentes à função parlamentar,
garantidoras do exercício do mandato, com plena liberdade. Prevista no art. 53, caput,
da Constituição Federal de 1988, tal imunidade garante que os parlamentares federais
são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos,
desde que proferidas em razão de suas funções parlamentares, no exercício e
relacionados ao mandato, não se restringindo ao âmbito do Congresso Nacional.
A jurisprudência do STF é pacífica no sentido de que a imunidade parlamentar
material, só alcança o parlamentar nos atos praticados dentro do parlamento e, se
praticado fora dele, deve-se comprovar o nexo de causalidade entre o ato e o exercício
parlamentar; não sendo assim possível utilizá-la como escudo de proteção para a prática
de atividades ilícitas.
A defesa citou em seus autos a jurisprudência do julgamento na AP 937/RJ, e teve
como entendimento a ofensa ao princípio do Juiz Natural. No entanto, está prescrito no
Art. 53, CF/88, §1°: “Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão
submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal”. Expresso de maneira
direta e clara a quem compete o julgamento de deputados e senadores.
O artigo 43 do Regimento Interno do STF, que autoriza ao presidente do Tribunal
a instauração de inquérito, é uma regra excepcional que confere ao Judiciário a função
atípica de investigação para preservar preceitos fundamentais, entre eles as suas
prerrogativas institucionais, diante da omissão ou inércia dos órgãos de controle em
exercer essa atribuição.
Diante de todo o exposto, JULGO TOTALMENTE PROCEDENTE a
denúncia para: CONDENAR O RÉU DANIEL LÚCIO DA SILVEIRA infrações penais
descritas no art. 344 do Código Penal, e art. 359-L e no §Único, do art. 286 ambos da
Lei nº 2.848/1940(Código Penal), incluídos e reformulados pela Lei nº 14.197/2021.
Por fim, acompanho a decisão proferida pelo relator o Min. Enderson Bezerra do
Nascimento na presente ação penal, ajuizada pelo Ministério Público contra Daniel
Lúcio da Silveira, no cargo de deputado federal.

É O VOTO.

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