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(Legenda foto 1)

John Sebastian do Lovin Spoonfull encara a massa do Festival de Woodstock, evento síntese da
Contracultura

Vídeos

1- Theodore Roszak fala sobre uma eco-psicologia (com legenda)

https://www.youtube.com/watch?v=83VHiA2HhkM

2- Documentário sobre contracultura e psicodelia (dub. Em português)

https://www.youtube.com/watch?v=CB_I9sPT4C8

Contracultura: a rejeição ao
encaixotamento da realidade
Nem “pacificar”, nem “entrar no jogo da polarização”, mas alçar voo na transversal da
contestação de tudo

Vez ou outra aqui nesse espaço semanal eu cito um termo ao qual quem lê minha coluna já
deve estar acostumado: contracultura. Relativamente popularizado pelo jornalismo e pelo
entretenimento de massa, o termo pede uma definição mais precisa do que sua imediata e
direta associação pelo senso comum aos anos 60 e os hippies. O significado mais direto de
contracultura é a rejeição dos padrões estabelecidos pela sociedade de uma forma radical e
que vê tanto no status quo quanto sua oposição institucionalizada uma forma de manter tudo
segundo a ordem vigente. Trocando em miúdos isso significa que o jogo entre esquerda e
direita só serve para manter as coisas no mesmo lugar de sempre. Ambos são os lados de uma
só e mesma moeda que o historiador Theodore Roszak define como tecnocracia. Para usar um
conceito pós-estruturalista, a contracultura seria uma alternativa na transversal desses dois
eixos.

A principal obra que fixou o conceito de contracultura é The Making of a Counterculture, do


historiador Theodeore Roszak publicado em 1969 no auge do movimento hippie. Roszak
empreende uma leitura das então novas formas de militância e ação política da chamada nova
esquerda. Pautas alternativas como as do feminismo, do então movimento gay, os direitos
civis do povo preto passam a ganhar consistência no plano do debate público. Daí a
importância de se pensar os acontecimentos desse momento histórico numa escala global.

Apesar desse vínculo com a ebulição da geração das flores, o conceito de contracultura, ao que
parece, foi usado pela primeira vez em 1939 por outro historiador chamado Arnold Tonybee
para explicar a passagem de um modelo de sociedade para outro. Alguns autores como
Norman O. Brown (Vida Contra a Morte – 1959) e Hebert Marcuse (Eros e a Civilização – 1955)
também utilizaram o conceito antes de Roszak com alguns nuances diferentes,mas com a
mesma essência fundamental – a rejeição de padrões estabelecidos pelo modelo vigente da
sociedade.William Burroughs, o bruxo da beat generation recomendava “A Decadência do
Ocidente”, de Oswald Spengler.

Recentemente foi publicado o livro de um dos mais renomados pesquisadores brasileiros que
trabalham com o tema: “Juventude e Contracultura” do professor Marcos Napolitano (USP)
que saiu pela Editora Contexto (171p. em média R$40,00 ). A obra vem em boa hora porque
aclimata para um contexto brasileiro informações que antes ficavam restritas aos livros
especialmente em inglês. Napolitano tem um texto direto e enxuto e seu livro pode ser usado
em sala de aula, pois tem a virtude de sintetizar grandes arcos temporais e conceitos sem
perder a assertividade. Já existia algo nesse sentido com a publicação da tradução de
“Brutalidade Jardim – a Tropicália e o Surgimento da Contracultura Brasileira”, do professor
Christopher Dunn que saiu pela Editora Unesp. Com a publicação de Napolitano o estudo e
compreensão dos fenômenos históricos desse importante momento na cultura
contemporânea ganha mais um importante reforço em sua fundamentação teórica. O livro
expande a aclimatação do conceito de contracultura para além do fenômeno mais destacado
que seria a Tropicália. Napolitano consegue inserir o chamado udigrudi e toda a cultural
marginal do pós-tropicalismo no debate, o que só enriquece a discussão.

Em tempos de polarização ideológica como os vivemos é fundamental buscar ar fresco em


propostas mais fluídas em contraposição ao maniqueísmo político de plantão. É aí que o
fenômeno da contracultura serve como exemplo e inspiração. A sensibilidade de um
historiador como Napolitano tem sempre algo a ensinar, principalmente pelo cuidado em
disponibilizar ao final de cada capítulo uma série de referências bibliográficas, tanto numa
perspectiva historiográfica quanto de livros de ficção e memorialísticos. Também é
apresentada uma lista de filmes e documentários que podem enriquecer em muito a
experiência do leitor.

Algumas outras referências sobre o tema da contracultura que acho serem proveitosas para
quem se interessa sobre o assunto: o sempre recomendadíssimo e premiado “O Som da
Revolução – Uma História Cultural do Rock 1965-1969” (Ed. Civilização Brasileira) de Rodrigo
Merheb; “A Contracultura, entre a curtição e o experimental” (n-1 Edições e Hedra), do
professor Celso Favaretto e uma terceira obra que merece uma tradução que é “Anti-
Disciplinary Protest – Sixties Radicalism and Postmodernism” da neozelandesa Julie Stephens.

Talvez as novas gerações encontrem um respaldo pedagógico na descoberta dos significados


das manifestações e fenômenos contraculturais para melhor absorver a produção corrente de
autores como Hakin Bey (lançado no Brasil pela Conrad) e seu terrorismo poético ou então o
sarcasmo sadio de um Bob Black (também Conrad) e seu gouxo-marxismo. Renovar as
estratégias porque o desejo é o campo do sempre diferente. O campo do “super-outro”, para
usar uma referência ao cinema underground de Edgar Navarro. Caretas de ambos os extremos
do meu Brasil varonil, tremei-vos! A imaginação no poder vos espreita! Nada será como antes,
amanhã!

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