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*NOTA DO MPJ EM DISPARADA SOBRE O ENSINO REMOTO NA UFPA*

As aulas presenciais da Universidade Federal do Pará (UFPA) estão suspensas desde o dia 19 de março
de 2020. Com o passar dos meses, a necessidade de se voltar a realizar atividades acadêmicas entrou
em pauta e, para debater sobre esses assuntos, foi criada uma comissão especial no Conselho Superior
de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) que teria como objetivo analisar possíveis cenários de volta
às aulas. As análises e ponderações, tanto da comissão especial do Consepe, quanto do GT da UFPA
sobre o coronavírus serviram de base para a elaboração de uma minuta de resolução pela Pró-Reitoria
de Ensino de Graduação (Proeg).

A minuta de resolução apresentada e debatida em reuniões extraordinárias do Consepe, mesmo após as


alterações propostas pelas unidades acadêmicas e campi da UFPA, *não entra em consonância com o
projeto de universidade pública, democrática, plural, diversa e inclusiva que tanto almejamos e
defendemos.* Pois tem colocado o corpo discente da UFPA como dois grupos homogêneos de
estudantes: os que terão acesso à internet e as aulas remotas; e os que não terão acesso, garantindo para
esses últimos um auxílio de inclusão digital.

Em nossa compreensão, essa abordagem é equivocada uma vez que a UFPA compreende um grupo
enorme de estudantes de realidades diversas, ao propor a adoção de ensino remoto é preciso pensar nos
estudantes que moram em territórios indígenas, quilombolas, zonas rurais, periferias. *É preciso pensar
atividades remotas que não provoquem que os estudantes saiam de suas comunidades para habitar
moradias precárias e lotadas para ter acesso a educação pública, que deveria ser qualidade para todos.*

A minuta também não oferece alternativa de rejeição do ensino remoto por alunos indígenas e
quilombolas, que precisam estar matriculados para poder garantir suas bolsas de permanência do
Ministério da Educação (MEC). Ou seja, *é falsa a ideia que estes terão escolha* de retornar a Belém
(pois muitos vivem em comunidades onde o sinal de internet não chega, ou tem péssima qualidade) ou
não.

Além disso, a minuta não deixa claro de que forma as unidades e campi atuarão, quando as atividades
presenciais forem retomadas, para fazer com que as turmas permaneçam, uma vez que haverão alunos
mais adiantados no curso em relação aos que não participaram das atividades remotas. *Não especifica
como serão adotadas essas realidades nos campi dos interiores, que demandam realidades diferentes e,
majoritariamente, tem se colocado contrários.*

*A pesquisa que a universidade está realizando ainda não foi concluída e analisada,* isso é um outro
fator importante para estar presente na elaboração de uma minuta sobre Ensino Remoto Emergencial
(ERE). Não concordamos em propor qualquer tipo de resolução desconectada da realidade do corpo
discente, isto porque a pesquisa só se encerra no dia 13 de agosto e a votação está prevista para o dia
seguinte.

*Não se trata de aceitar ou rejeitar o ensino remoto, trata-se de entender a realidade e particularidade de
cada estudante e de que forma esta modalidade de ensino os irá afetar.* Não é justo que estudantes que
vivem em locais onde o sinal de internet não chega, ou mesmo aqueles que não têm condições
financeiras, físicas ou mentais, sejam prejudicados e fiquem para trás em relação aos seus colegas.

Ao mesmo tempo, *é necessário compreender a necessidade do discente formando de ter o seu diploma
e ingressar no mercado de trabalho. Para estes estudantes sim, é necessário que se realizem atividades
acadêmicas e que se flexibilizem as normas para defesa de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).*
*Ao aprovar um ensino remoto nos moldes em que estão sendo formados, a UFPA repercute lógicas de
exclusão que já não cabem mais à realidade atual.* É necessário que este debate seja mais amplo, que
envolva cada vez mais a comunidade acadêmica, e que seja discutido nas congregações de institutos e
faculdades com a presença garantida dos e das estudantes.

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