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A responsabilidade nas esferas civil, penal e

administrativa

Entende-se por responsabilidade a obrigação de responder pela ação ou omissão que seja lesiva a uma
pessoa, patrimônio ou em face de uma obrigação legal. Na esfera ambiental, a responsabilidade surge
com a conduta considerada lesiva ao meio ambiente. Nesse  sentido, a Constituição Federal de 1988
disciplina a responsabilidade em matéria ambiental nos seguintes termos:

“as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas
ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados” (BRASIL, 1988, [s. p.]).

Essa norma estabelece a tríplice responsabilidade em matéria ambiental: civil, penal e administrativa.
Cada uma delas dispõe de um regime jurídico próprio que, apesar de disciplinarem a aplicação de sanções
aos responsáveis, a preocupação central está em reparar os danos causados ao meio ambiente. 
Figura 2 | Natureza jurídica da responsabilidade ambiental. Fonte: elaborada pelo autor.

A responsabilidade penal ambiental é disciplinada pela Lei nº 9.605/1998, também conhecida como Lei
de Crimes Ambientais. No caso de cometimento de um crime ambiental, conforme os tipos penais,
teremos a imputação da pessoa física ou jurídica. Essa responsabilidade é sempre subjetiva, com a
necessidade de comprovação da culpabilidade – dolo ou culpa – do autor do crime. Uma das novidades da
Lei nº 9.605/1998 foi instituir a responsabilidade penal da pessoa jurídica,

“[...] nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou
de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade” (BRASIL, 1998, [s. p.]).

Dois são os requisitos para configurar a responsabilidade penal da pessoa jurídica: (i) a decisão deve ser
praticada pelo representante legal ou pelo órgão colegiado da empresa; (ii) a conduta deve satisfazer ou
beneficiar os interesses da pessoa jurídica. Assim, uma decisão do representante legal/contratual ou de um
órgão colegiado, que beneficie a empresa, enseja a discussão do cometimento de um ilícito penal e, caso
se confirme, ela poderá ser condenada isolada, cumulativa ou alternativamente às penas de multa,
restritivas de direitos e prestação de serviços à comunidade (BRASIL, 1998). Registra-se que não é
obrigatório a dupla imputação, isto é, a persecução penal simultânea da pessoa jurídica e da pessoa física
responsável no âmbito da empresa. Já as pessoas físicas que cometem crimes ambientais poderão sofrer
as penas restritivas de liberdade, restritivas de direitos e multa, de acordo com o crime ambiental
cometido. 

A responsabilidade administrativa ambiental, por sua vez, surge quando a pessoa física ou jurídica pratica
uma infração administrativa que, segundo definição legal, é

“[...] toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação
do meio ambiente” (BRASIL, 1998, [s. p.]).

Em nível federal, o Decreto nº 6.514/2008 disciplina as infrações administrativas e o processo


administrativo ambiental. Na responsabilidade administrativa, que é subjetiva – há que demonstrar o dolo
e a culpa do responsável –, ao se verificar o cometimento de uma infração ambiental, o fiscal do órgão
ambiental – que pode ser federal, estadual ou municipal – lavra um auto de infração e aplica uma sanção à
pessoa física ou jurídica, que pode ser uma multa, suspensão de atividades, demolição de obra e outras
(BRASIL, 2008). Com isso, é instaurado o processo administrativo, em que o autuado poderá se defender
dos fatos e fundamentos consignados no auto de infração e, ao final, a decisão da autoridade
administrativa ambiental. 

Por fim, temos a responsabilidade civil ambiental. No caso da ocorrência de um dano ambiental, o
responsável, pessoa física e jurídica, de direito público ou privado, é obrigado à reparação. O
ordenamento jurídico brasileiro adota, desde a Lei nº 6.938/1981, a teoria da responsabilidade civil
objetiva, em que é necessária somente a comprovação do nexo de causalidade entre a conduta e o dano,
sem discutir sobre a culpabilidade, isto é, não é preciso investigar a culpa ou o dolo do
poluidor/degradador. Além disso, a adoção da teoria da responsabilidade objetiva implica a irrelevância
da licitude ou ilicitude da atividade e que questões como caso fortuito e de força maior não são
excludentes.  

A licitude de uma atividade ou um empreendimento, quer autorizado ou licenciado, não afasta ou atenua a


responsabilidade do poluidor. Isso porque, nas palavras de Milaré (2011, p. 1257),

“[...] não raras vezes o poluidor se defendia alegando ser lícita a sua conduta, porque estava dentro dos
padrões de emissão traçados pela autoridade administrativa e, ainda, tinha autorização ou licença para
exercer aquela atividade”.

O fato do empreendimento ou da atividade ter se submetido ao licenciamento ambiental, por exemplo,


não exime a empresa da obrigação de reparar as consequências de suas intervenções, especialmente em
caso de dano ao meio ambiente. De forma direta, o argumento da licitude da atividade não afasta eventual
responsabilidade do poluidor. Em paralelo, é tese do STJ que

“[...] não há direito adquirido à manutenção de situação que gere prejuízo ao meio ambiente” (BRASIL,
2018a, [s. p.]).  

Com relação ao caso fortuito e da força maior, que são clássicas excludentes de responsabilidade, elas não
podem ser invocadas para elidir a obrigação de reparar os danos causados. Uma vez que o empreendedor
assume a atividade, ele é integralmente responsável pelos danos decorrentes de sua atividade econômica.
Isso porque o STJ adota a teoria do risco integral em matéria ambiental, que não admite excludentes e
atenuantes na responsabilização do degradador (BRASIL, 2014).

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