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As particularidades de funcionamento

de uma editora independente


Projetos editoriais

Vamos trabalhar aqui com algumas das particularidades que o negócio do livro envolve.
Para montar uma editora é importante que você tenha projetos editoriais. São eles que
vão se constituir em um eixo em torno do qual você irá produzir e comercializar os livros
projetados. Nesses projetos o que é preciso contemplar:

• Natureza e concepção dos livros

Que tipo de livro você pretende publicar? Materialize o máximo que puder esse tipo de
livro, tomando como referência alguns exemplares de livros nacionais ou estrangeiros
que seriam similares aos que você gostaria de publicar. Caso não haja nada parecido
no mercado, ao menos descreva minuciosamente as características do seu livro.

• A questão da autoria e a contratação – Lei 9610/98

Os autores, tradutores e ilustradores têm proteção legal para seus textos e imagens. É
a Lei 9610/98 que regulamenta essa proteção e estipula algumas condições para a
cessão dos direitos do autor para que sua editora possa publicar.
A sua editora pode decidir publicar traduções de livros estrangeiros ou autores nacionais
que a procurem. Pode também ter uma ideia do livro e encomendar para algum autor
escrever. Portanto, a prospecção de títulos pode ser tanto ativa (quando a editora
procura o autor com um projeto específico) ou passiva (quando a editora recebe
originais que os autores encaminham).

• Justificativas do plano editorial

O que justifica a publicação de um determinado livro? Qual é a relevância desse


lançamento? Por quê?

• Análise do mercado potencial da editora – características e números

Para qual segmento de mercado o livro está pensado? Você tem número potencial de
leitores nesse segmento? Tem aproximadamente números de títulos e vendas desse
mercado?

• Características do público

Qual é o público-alvo dos seus livros? Você tem dados e informações sobre esse
público?
Quando se pensa no plano editorial para um mercado em que a editora quer investir, é
importante considerar que ele quase nunca é estável. Como diz Coriolano, na peça de
Shakespeare, “no mar calmo todo e qualquer barco navega bem”. Mas o que fazer em
mar agitado e turbulento? Por isso, elabore um plano de negócios com dois ou três
cenários possíveis. Pode ser que nem assim se garanta o risco zero, mas certamente
você estará mais preparado para qualquer turbulência que seu barco encontrar pelo
caminho.
Não há fórmula ou metodologia únicas para se elaborar um plano de negócios, mas o
bom senso recomenda que devemos planejar as atividades a serem desenvolvidas,
identificando os objetivos, as responsabilidades, os prazos e as metas esperadas. É
possível que imprevistos surjam e tenhamos de revisar vários pontos do nosso plano.
Um plano de negócios pode ser desenvolvido nesta sequência, que nos serve apenas
como exemplo:

• Análise da oportunidade do lançamento da linha editorial;


• Análise do mercado, do público-alvo e da concorrência;
• O plano de lançamento dos livros da linha editorial;
• Projeção dos investimentos, custos e despesas;
• Estimativa da receita;
• Análise da viabilidade do plano;
• Relativa concentração/desconcentração geográfica.

No primeiro momento, se tiver dificuldades com a distribuição para pontos distantes,


talvez seja o caso de restringir a área geográfica de atuação da editora. Para a escolha
dessa área, considere, entre outras questões, o da concentração ou não do seu público-
alvo.

Produção editorial
As etapas da produção editorial podem variar muito de editora para editora, de projeto
para projeto, de livro para livro. Mas, sem considerar rigorosamente a sequência nem a
terminologia, que pode variar de editora para editora, a produção propriamente dita de
um livro compreende estas fases que fluem de modo contínuo, quase nunca de forma
estanque ou independente:

• Prospecção e contratação de títulos e autores

É a fase de pesquisa de títulos e autores que podem ser interessantes para seu
catálogo. Pode envolver indicações editoriais, contatos com agentes literários,
pareceres, negociações com os autores ou seus agentes e a assinatura do contrato de
cessão dos direitos de edição.
A lei que regula os direitos autorais é a 9610, de 1998, que pode ser consultada aqui.
Essa lei protege não apenas os textos dos autores que a editora vai publicar, mas
também a criação das capas, as ilustrações, as fotos, as traduções, as adaptações, os
prefácios e os posfácios que sejam incluídos na edição.
No contrato de cessão dos direitos autorais do autor para a editora, é importante que
estejam combinados entre as duas partes pelo menos os seguintes pontos:

• O prazo de duração do contrato;


• O prazo que a editora tem para a publicação;
• Os direitos e os deveres do editor e do autor nos procedimentos de edição,
comercialização e pagamentos da remuneração devida;
• Como se dará a remuneração do autor.

Naturalmente, quaisquer outros aspectos podem ser acrescentados, desde que


considerados justos e combinados entre o autor e a editora. A clareza dos termos do
contrato diminui os riscos de desavenças futuras.

• Preparação do texto

Se o texto original for estrangeiro, é preciso traduzi-lo. Procura-se um profissional


habilitado e competente a quem se encomenda a tradução, combinando-se a
remuneração, o prazo, o padrão de linguagem, a normalização (quando for o caso), a
forma de apresentação do texto, etc.
Recebida a tradução, o ideal é que se revise o texto, sempre com a aprovação do
tradutor, em comum acordo com você. Antes de encaminhar o texto traduzido e
aprovado para ser paginado ou diagramado, ele é preparado para ser ajustado aos
padrões do projeto editorial e gráfico pensado para a edição do livro. A preparação
consiste em proceder minuciosamente aos acertos gramaticais, estilísticos, dando ao
texto consistência quanto à coesão, à coerência e ao nível de linguagem adequado ao
público-alvo, aos padrões e aos critérios previamente estabelecidos quanto ao uso das
maiúsculas e minúsculas, grafia de nomes, lugares, medidas, etc.
No caso de original em língua portuguesa também não se deve dispensar a preparação
do texto, com o mesmo cuidado apontado no parágrafo anterior. Um texto bem
preparado facilita os procedimentos das etapas seguintes da produção e evita os
retrabalhos provenientes de opiniões e preferências divergentes de cada profissional
que intervier nesses procedimentos. Também, com esse cuidado, é sempre
interessante que, no momento imediatamente anterior ao encaminhamento do texto
preparado para a diagramação, ele seja aprovado por você e pelo autor. Esse texto
aprovado se torna o modelo de referência, embora flexível até certo ponto, para a
produção propriamente dita.

• Arte e produção - Projeto gráfico e diagramação

Com o texto preparado você tem condições de pedir a um designer que faça um projeto
gráfico. Às vezes pode ocorrer de você ser um designer. Nesse caso, você mesmo irá
criar o projeto gráfico que servirá de modelo de referência para a criação da capa e da
paginação do miolo do livro.
Também pode ocorrer de o projeto gráfico já ter sido feito antes da preparação. Isso é
perfeitamente possível e até muito útil quando se pretende que a preparação do texto
considere algumas especificidades do texto que possam se ajustar melhor ao projeto
gráfico definido.
No momento usa-se com muita frequência o programa InDesign para a diagramação do
livro. Mas, dependendo do projeto gráfico aprovado, outros programas podem ser
sugeridos pelo pessoal de arte.

• Revisão e emendas

Uma vez diagramado o miolo, encaminha-se para a revisão. Nessa fase é importante
que se utilize o texto preparado como referência e se faça apenas correção objetiva,
indiscutível. Com um texto preparado com aprovação do autor e do editor não se fazem
alterações de estilo e de tom e ritmo da linguagem.
Depois de revisadas as provas, na tela ou no papel, a arte faz as emendas com as
correções apontadas pela revisão.

• Finalização dos arquivos

A quantidade de provas e revisões depende dos problemas apontados na primeira prova


revisada. Caso sejam poucas as correções, a revisão de segunda prova já é suficiente.
De toda forma, para o fechamento dos arquivos, salvando-os em PDF, é preciso que se
faça uma leitura final, com o olhar de um provável comprador do livro.
Fechado o arquivo em PDF e com o orçamento gráfico já aprovado, essa versão é
encaminhada para a gráfica, em geral fazendo-se o upload do arquivo no sistema da
gráfica contratada.

• Contratação da gráfica

A contratação da gráfica pode ocorrer em outros momentos da produção. Ela pode ser
contratada até mesmo quando foi aprovado o título. A vantagem da contratação da
gráfica com antecedência é o planejamento financeiro e a possibilidade da chegada
mais rápida dos exemplares impressos.

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