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DINÂMICA GRUPAL:
CONCEITUAÇÃO, HISTÓRIA, CLASSIFICAÇÃO E CAMPOS DE APLICAÇÃO

Danúzio Carneiro
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Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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DINÂMICA GRUPAL:

CONCEITUAÇÃO, HISTÓRIA,

CLASSIFICAÇÃO E CAMPOS DE APLICAÇÃO

ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO

2. CONCEPÇÕES DA DINÂMICA GRUPAL

2.1. Concepção Ideológica

2.2. Concepção Tecnológica

2.3. Concepção Fenomenológica

3. HISTÓRIA DA DINÂMICA GRUPAL

3.1. Dinâmica Grupal e Condições Históricas dos EUA

3.2. Fatos Relevantes na História da Dinâmica Grupal

3.2.1. Trabalhos do Dr. Pratt

3.2.2. Pesquisas de Hawthorne

3.2.3. Sistematização da Psicoterapia de Grupo

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3.2.4. Criação da Sociometria

3.2.5. Fundação do Primeiro Laboratório de Dinâmica Grupal

4. CLASSIFICAÇÃO DA DINÂMICA GRUPAL

4.1. Dinâmica Grupal: Psicologia e Sociologia

4.2. Dinâmica Grupal: Antecedentes e Desdobramentos

5. APLICAÇÕES DA DINÂMICA GRUPAL

5.1. Saúde

5.1.1. Grupos Operativos em Doenças Orgânicas

5.1.2. Grupos Balint

5.1.3. A Comunidade Terapêutica

5.1.4. Grupos de Auto-Ajuda

5.2. Educação

5.2.1. Apreensão do Conhecimento

5..2.2. Métodos para Formação de Educadores

5.3. Administração

5.3.1. Teoria Z

5.3.2. Sociotécnica

5.4. Serviço Social

5.4.1. Serviço Social de Grupos-SSG

6. REFERÊNCIAS

7. O AUTOR

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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I - INTRODUÇÃO

Neste trabalho estão sintetizados vinte anos de múltiplas experiências e

contínuas leituras sobre Dinâmica Grupal.

Acreditamos que, por propiciar respostas necessárias para a

compreensão e resolução do mais essencial dilema humano - o relativo à sua

convivência social, nos próximos tempos a Dinâmica Grupal ocupará nas

ciências humanas um papel com importância semelhante ao que a Psicanálise

ocupou no século passado.

Aliás, observa-se que, ao mesmo tempo em que essas duas vertentes

do conhecimento humano têm uma série de convergências em seus

postulados teóricos e em sua aplicabilidade na prática - sobre isso, Sigmund

Freud foi o primeiro a reconhecer que a psicologia individual era também

psicologia social - entre elas há também contrastes significativos, dos quais,

pela sua pertinência a esta introdução, destacamos apenas um: enquanto a

psicanálise foi criada e desenvolvida principalmente por uma única pessoa, o

próprio Freud, a Dinâmica Grupal é o resultado de trabalhos de múltiplas

pessoas, em múltiplos campos do conhecimento e da atividade humana.

Nesta Apostila, tentamos fazer uma síntese dessa multiplicidade, o que

será feito através de quatro capítulos:

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! O primeiro contém uma explanação sobre a conceituação da Dinâmica

Grupal. Nesse capítulo, a natureza interdisciplinar da Dinâmica Grupal está

expressa numa tríade conceitual: ideológica, fenomenológica e tecnológica.

! O segundo é um relato contendo os principais fatos e as condições

históricas, especialmente as relacionadas aos Estados Unidos da América, que

permitiram o surgimento e o desenvolvimento de uma ciência da grupalidade

humana.

! O terceiro é um sistema de classificação composto de duas partes: uma

considera a Dinâmica Grupal como sendo um ramo pertencente

simultaneamente à Psicologia e à Sociologia; na outra, apresenta-se um

esquema classificatório em que partindo-se dos três autores cujas obras

consideramos estruturantes para a Dinâmica Grupal – quais sejam, Freud com

a Psicanálise; Kurt Lewin, com a Teoria de Campo; e Jacob Levy Moreno com

o Psicodrama e a Sociometria; chega-se aos principais desdobramentos

teóricos e técnicos da Dinâmica Grupal.

! No quarto e último capítulo, escolhemos quatro dos principais campos da

atividade humana – isto é, Saúde, Educação, Administração de Empresas e

Serviço Social, para demonstrar como é grande a fertilidade, e como já é

enorme a quantidade de áreas beneficiadas pelos conhecimentos da Dinâmica

Grupal.

Finalmente, chamamos ainda a atenção para o fato de que o conteúdo

desta apostila se articula e, como acontece num díptico, complementa-se com

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o conteúdo do trabalho “Grupo: esquema estrutural e dinâmica grupal”, que

também está publicado nesta Biblioteca Virtual.

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2. CONCEPÇÕES DA DINÂMICA GRUPAL

Há diversas concepções para a Dinâmica Grupal. Observamos que, no

geral, cada uma delas reflete uma posição particular do que seja, e para que

serve essa especialidade do conhecimento que trata das relações humanas

quando em grupos sociais. Basicamente, pode-se classificar todas as

concepções de três maneiras: ideológica, tecnológica, fenomenológica.

2.1. Concepção Ideológica. Considera que a Dinâmica Grupal é uma

forma especial de ideologia política na qual são ressaltados os aspectos de

liderança democrática e da participação de todos na tomada de decisões.

Também ressaltam-se as vantagens, tanto para a sociedade como para os

indivíduos comuns, das atividades cooperativas em pequenos grupos.

Dessa concepção verifica-se duas linhas de pensamento e ação: uma,

idealista; outra, pragmática.

2.1.1. Linha Idealista-Utópica. Foi especialmente defendida por Jacob Levy

Moreno em seu amplo Sistema Socionômico - esse seria formado por

comunidades baseadas no amor espontâneo, na generosidade e na

santidade, na bondade positiva e na cooperação pura [1: p. 22]. Para

estruturar essas comunidades, Moreno propôs as técnicas sociométricas.

Através delas uma pessoa poderia decidir, de maneira consciente e livre,

sobre sua participação em um grupo social qualquer.

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2.1.2. Linha Pragmática. Foi cientificamente experimentada por Kurt Lewin.

Com as pesquisas sobre o fenômeno da boa liderança, Lewin demonstrou

que, quando os seres humanos participavam de atividades em grupos

democráticos, não somente sua produtividade era intensificada, como

também o seu nível de satisfação era elevado e as suas relações com os

outros membros baseavam-se na cooperação e na redução das tensões

(...) nessas circunstâncias, o grupo tornava-se suficientemente autônomo

para prosseguir sua tarefa mesmo quando o líder se ausentava [2: p. 98].

2.2. Concepção Tecnológica. Conforme essa concepção, a Dinâmica

Grupal refere-se a um conjunto de métodos e técnicas usadas em

intervenções nos chamados grupos primários, como famílias, equipes de

trabalho, salas de aula etc. A rigor, o uso de qualquer uma dessas técnicas

objetiva aumentar a capacidade de comunicação e cooperação e,

consequentemente, incrementar a espontaneidade e a criatividade dos

seres humanos quando em atividade grupal. Todas elas podem,

didaticamente, ser enquadradas em duas variantes de intervenção: uma,

dos Jogos Dramáticos; outra, do Psicodrama.

2.2.1. Jogos Dramáticos. Essa variante privilegia o jogo espontâneo,

muitas vezes sem regras pré-estabelecidas, para dinamizar a grupalidade

humana. Essa variante de concepção da Dinâmica Grupal é universalmente

difundida, isso se dá basicamente pelo fato de que a necessidade lúdica do

jogo é inerente ao crescimento e desenvolvimento humano, e também

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porque é especialmente aplicada na área da educação. - Nos países anglo-

saxônicos o jogo dramático espontâneo é uma atividade comum nas

escolas de primeiro e segundo grau, sendo incluído na disciplina

conhecida como Teatro na Educação, pois é reconhecido como um meio

efetivo de aprendizagem tanto para o conteúdo das matérias quanto para

a própria vida [3: p. XI/XII].

2.2.2. Psicodrama. Assim como o seu corolário o Sociodrama, o

Psicodrama historicamente se originou no Teatro Espontâneo ou Teatro da

Improvisação fundado por Moreno em Viena no ano de 1921. Do Teatro

Espontâneo que pretendia pôr fim à repetição da conserva dramática do

teatro convencional e dos clichês de papéis, permitindo uma contribuição

inteiramente criadora e espontânea para que assim pudesse desenvolver

novos papéis, nasceu o Psicodrama [4: p. 31].

Essa variante tecnológica que é centralizada na noção de papéis

sociais, e que enfatiza a ação corporal, tem sido utilizada de uma maneira

muito especial no campo terapêutico. Para isso, foram desenvolvidas

múltiplas técnicas direcionadas especialmente para treinamento de papéis

(role playing) caracterizados como saudáveis. Entre as técnicas criadas por

Moreno, as mais usadas são: solilóquios, inversão de papéis, duplos,

espelhos, realização simbólica, psicodança.

2.3. Concepção Fenomenológica. Aqui estão autores que priorizam suas

atividades em torno da idéia de que os fenômenos psicossociais que

ocorrem nos pequenos grupos é resultado de um sistema humano

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articulado como um todo, uma gestalt. Entre esses fenômenos, citam-se:

coesão, comunicação, conflitos, formação de lideranças etc. Nessa

concepção, também pode-se observar duas formações teóricas: uma, a

Psicologia da Gestalt, que é descritiva, pois centra seus postulados na

descrição dos fenômenos que ocorrem no aqui-agora do mundo grupal –

por exemplo, a configuração espacial adotada regularmente por uma

unidade grupal; a outra, a Psicanálise, que é explicativa por que procura

explicar a unidade do grupo através da idéia de uma ‘mentalidade grupal’

(instinto social), muitas vezes inconsciente para os membros do próprio

grupo.

2.3.1. Psicologia da Gestalt. Dessa escola da Psicologia, o grande

impulsionador da Dinâmica Grupal foi Kurt Lewin. Ele, em sua Teoria de

Campo, desenvolveu um esquema sui-generis para explicar as interações

humanas: baseando-se nos princípios da topologia – ramo da geometria

que trata das relações espaciais sem considerar a mensuração

quantitativa, Lewin concebeu uma teoria dinâmica da personalidade

centrada na idéia de campo psicológico [5: p. 83], que mantém

interpendência com múltiplas forças sociai. Disso, desenvolveu uma

metodologia de trabalho: a pesquisa-ação (action research), na qual o

indivíduo é, ao mesmo tempo, sujeito e objeto da ação em estudo; e criou

o primeiro laboratório de Dinâmica Grupal, onde em estudos realizados

com grupos primários (face to face groups) introduz conceitos retirados da

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física do campo magnético para descrever os fenômenos da existencialidade

social do ser humano – entre os termos, os mais comuns são: coesão,

locomoção em direção a objetivos, procura de uniformidade, atração e

equilíbrio de forças. Partindo desses conceitos desenvolve a idéia do grupo

como um todo dinâmico, uma gestalt que não é só resultado da soma dos

seus integrantes, mas é possuidor de propriedades específicas enquanto

‘um todo’ [6: P. 5323].

Enfim, para Lewin, esse grupo como uma totalidade dinâmica, busca

formas de equilíbrio no seio de um campo de forças sociais, sendo isso, por

exemplo, o que explica a emergência de lideranças, fenômenos que

aparecem como que reunindo um campo social de alto privilégio, e

funciona como centro de atração de todos os movimentos coletivos [7: P.

10].

2.3.2. Psicanálise. A utilização dos postulados da Psicanálise para explicar

a Dinâmica Grupal foi inicialmente tentada por Freud em sua obra

“Psicologia de grupo e análise do ego”. No entanto, o esquema conceitual,

referencial e operativo [8: p. 98] no qual ele desenvolvia sua tarefa,

estava referido não propriamente ao que atualmente se concebe como

grupo humano (microgrupo; grupo primário; face to face groups), mas sim

a outros fenômenos sociológicos como as multidões, e as hierarquias da

Igreja e do Exército.

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No entanto, Freud ao reconhecer que a psicologia individual é, ao

mesmo tempo, também psicologia social [9: p. 13], teve uma intuição

primordial: quando as pessoas se organizam em grupos, surgem

fenômenos como expressão de um instinto especial que já não é redutível

– instinto social: herd instinct, group mind –, que não vêm à luz em

nenhuma outra situação [9: p. 14). Completa sua intuição com um

raciocínio irrefutável: é possível descobrir os primórdios da evolução

desse instinto no círculo familiar [9: p. 14].

Wilfredo Bion, partindo das proposições formuladas por Melanie Klein

em suas pesquisas na clínica psicanalítica com crianças, esclareceu, com o

termo mentalidade de grupo, o significado desse instinto social - esse

termo designa uma atividade mental coletiva que se produz quando as

pessoas se reúnem em grupo (...) a hipótese de sua existência deriva do

fato de que o grupo funciona em muitas oportunidades como uma

unidade, ainda que seus membros a isto não se proponham nem disto

tenham consciência [10: p. 24].

A mentalidade grupal seria assim uma espécie de continente, “um

todo” que englobaria todas as contribuições feitas pelos membros do

grupo. Conforme a concepção bioniana, esse fenômeno comporta dois

níveis: nível da tarefa; nível dos pressupostos básicos – o primeiro, mais

ou menos relacionado com algo consciente, designado; o segundo, menos

evidente, mas está rotineiramente presente sob forma dos três processos

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que podem ser inferidos da dinâmica grupal, ou seja, dependência,

acasalamento e luta-fuga. [11: p. 23].

Enrique Pichon-Rivière, um psicanalista argentino da escola kleiniana,

desenvolveu, com sua teoria e técnica do Grupo Operativo, esse esquema

de Bion. Pichon-Rivière inicia com uma definição de grupo - conjunto de

pessoas ligadas entre si por constantes de tempo e espaço, e articuladas

por sua mútua representação interna, que se propõe, de forma explícita

ou implícita, a uma tarefa que constitui sua finalidade [12: p. 53].

Nessa definição Pichon-Rivière sintetizou as duas condições sine qua

non para a existência de todos os grupos humanos: primeira, o termo

pessoas articuladas por sua mútua representação interna, pressupõe que

essas pessoas tenham algo que as una num nível superior ao que o filósofo

francês Jean Paul Sartre definiu como serialidade [12: p. 53]; isto é,

quando as pessoas se somam sem efetivamente estabelecerem

comunicações que as unam afetivamente como acontece numa fila humana

qualquer (em estabelecimento bancário, por exemplo); a segunda condição

é a tarefa que constitui sua finalidade.

Nessa tarefa, em consonância com a construção bioniana, Pichon-

Rivière percebeu dois níveis: explícito, implícito. O explícito está

representado pelo trabalho produtivo e planificado cuja realização

constitui a razão de ser do grupo - por exemplo, produção material,

aprendizagem, cura, lazer etc. Sob essa tarefa explícita, subjaz outra, a

tarefa implícita, que consiste na totalidade das operações mentais que

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devem realizar os membros do grupo, conjuntamente, para constituir,

manter e desenvolver a sua grupalidade. [12: p. 53/54].

Os pressupostos básicos de Bion estão assim implicitamente contidos

na mentalidade do grupo em tarefa. E aí se colocam como verdadeiros

esquemas organizadores do comportamento desse grupo, e que,

freqüentemente, poderá determinar um funcionamento grupal aberrante -

ou excessivamente centrado numa liderança pessoal (na hipótese da

dependência); ou excessivamente centrado numa idéia colocada como

promessa, esperança para o futuro (na hipótese do acasalamento); ou

excessivamente centrado na sua autopreservação, que é mantida como

que o grupo reagisse atacando ou fugindo de ameaças internas ou

externas (hipótese da luta-fuga).

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3. HISTÓRIA DA DINÂMICA GRUPAL

O interesse científico pela Dinâmica Grupal é recente – trata-se de uma

ciência do século XX.

No entanto, já no século XVIII que, por ter sido caracterizado por

enormes avanços no conhecimento humano e pelas grandes revoluções

políticas da Inglaterra, da França e da Independência Americana, foi chamado

de Século das Luzes, viveu Giambattista Vico (1688-1744), um pensador

italiano que hoje é reconhecido por sua aura de precursor das ciências

humanas.

Vico, em sua obra: Principi di uma scienza nuova intorno alla commune

natura delle nazioni (1725, “Princípios de uma ciência nova: sobre a natureza

comum das nações”), estabeleceu a diferença entre Ciências Naturais e

Ciências Humanas, e propôs, como base de estudo dessa última, um princípio

epistemológico considerado fundamental para o desenvolvimento dos diversos

campos do conhecimento humanista – isto é: Antropologia, Sociologia,

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Psicologia e a Dinâmica Grupal, um ramo da psicologia social. Esse princípio

está expresso na fórmula latina: verum ipsum factum – isto é, só o feito é

verdadeiro; ou, só posso demonstrar logicamente o que é obra minha [13:

contracapa].

Nos termos da Dinâmica Grupal, esse preceito implicou diretamente na

contemporânea metodologia científica denominada de pesquisa-ação – nessa,

o sujeito pode demonstrar logicamente um fenômeno grupal que também é

feito, verdadeiramente, por ele enquanto membro desse grupo em estudo. Ou

seja, ele torna-se sujeito-objeto da pesquisa.

Há também uma notável pertinência epistemológica dessa proposição

com a Teoria da Espontaneidade de Moreno. A palavra espontâneo, um termo

central na teoria moreniana, etimologicamente deriva do latim sua sponte:

‘de livre vontade’; o que se produz por iniciativa própria do agente, sem ser

o efeito de uma causa exterior. Dado que se demonstra a relação dos

estados espontâneos com as funções criadoras [4: p. 53], então pode-se

presumir que, em verdade, só o que é criado de maneira espontânea, “de livre

vontade”, pode ser considerado como obra minha; e também disso inferir que

só o espontaneamente feito é verdadeiro.

Posteriormente a Vico, já durante o século XIX, ocorreram os avanços

nas ciências humanas que permitiram o estabelecimento das bases

conceituais e operativas e a atual sistematização científica da Dinâmica

Grupal. Dos avanços, três fatos científicos foram fundamentais:

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! Em 1839, o pensador francês Augusto Comte em seu “Curso de filosofia

positiva” criou o termo sociologia – formado do latim socius – companheiro; e

do grego logía, estudo, para definir a nova ciência da sociedade [6: p:

10513].

! Em 1879, o psicólogo alemão Wilhelm Wundt criou na Universidade de

Leipzig o primeiro laboratório de psicologia, que, com isso, tornou-se objetiva

e experimental;

! Em 1895, o cientista social francês Gustave Le Bon (1841-1931)

apresentou, em seu pioneiro trabalho sobre a Psicologia das Multidões, a

proposição básica para o entendimento de uma psicologia social: sejam quais

forem os indivíduos que compõem um grupo, por semelhantes ou

dessemelhantes que sejam seu modo de vida, suas ocupações, seu caráter

ou sua inteligência, o fato de haverem sido transformados num grupo,

coloca-os na posse de uma espécie de mente coletiva que os faz sentir,

pensar e agir de maneira muito diferente daquela pela qual cada membro

dele, tomado individualmente, sentiria, pensaria e agiria, caso se

encontrasse em estado de isolamento [9: p. 18]. Essa proposição e os

argumentos de Le Bon para justificá-la, serviu de parâmetro para o estudo

sobre Psicologia de Grupo publicado por Freud em 1921.

Contudo, só no século XX, foram estabelecidas as condições para se

conferir cientificidade aos temos da Dinâmica Grupal. Um relato sobre essas

condições pode ser feito considerando-se dois níveis de fatos: 1o) A Dinâmica

Grupal e condições históricas dos EUA. Aqui Considera-se alguns fatos

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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especificamente relacionados à história dos Estados Unidos da América e suas

relações com o desenvolvimento da ciência Dinâmica Grupal; 2o) Fatos da

história do desenvolvimento específico da Dinâmica Grupal. Apresenta-se uma

seqüência de cinco acontecimentos históricos relevantes para a autonomia e

consolidação dessa ciência na atualidade.

3.1. A Dinâmica Grupal e as Condições Históricas dos EUA. As

excepcionais condições nos campos político-ideológico, econômico, e

científico-tecnológico dos EUA neste século, foram extremamente favoráveis

para o desenvolvimento de uma ciência da grupalidade humana naquele país.

Quanto a isso, o que é sempre ressaltado é a radical coerência entre os

postulados da Dinâmica Grupal e os parâmetros do campo político-ideológico

norte-americano. Essa coerência pode ser observada nos seguintes fatos:

3.1.1. Os ideais de democracia e participação estão presentes desde os

primórdios da formação social americana – quanto a isso o pensador francês

Alexis de Tocqueville acentua sobretudo o sistema de valores dos imigrantes

puritanos que povoaram a América, e o seu duplo sentido da igualdade e da

liberdade [14: p. 214].

3.1.2. O associativismo, como uma resposta pragmática às enormes

dificuldades encontradas pelos primeiros colonizadores, é inerente ao

processo de formação da nação americana. Sobre isso, o mesmo Tocqueville

em seu célebre tratado “Sobre a democracia na América”, publicada em 1864,

fez a seguinte observação: tenho encontrado na América todos os tipos de

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associações. Os americanos de diversas idades, condições e opiniões se

associam constantemente. Não somente em termos comerciais e industriais,

mas também religiosos, morais, sérios ou fúteis, gerais ou particulares e de

grandes ou pequenas associações. Na França, você encontra liderando um

novo projeto, o Estado; na Inglaterra, um grande proprietário e, na América,

uma associação. [15: p. 2].

3.1.3. A peculiar situação política dos EUA no período que antecedeu a

Segunda Guerra Mundial. Na década de 30, a sociedade americana, em

contraposição aos sistemas totalitários que predominavam no mundo de

então (nazismo na Alemanha, stalinismo na Rússia, monarquia absoluta no

Japão etc., era o que Karl Popper caracterizou como sociedade aberta [16: p.

53], pois regida por parâmetros democráticos. Isto é, a liberdade de

comunicação e associação é uma garantia da Constituição Federal, e há

funcionamento independente dos poderes executivo, legislativo e judiciário.

Foram essas condições democráticas que permitiram que, nessa década

de 30, inúmeros cientistas e pensadores de renome abandonassem seus

países de origem e fossem desenvolver seus trabalhos nos Estados Unidos -

entre eles, muitos eram de origem judáica que fugiam do nazismo alemão,

como os já citados autores fundamentais para a Dinâmica Grupal: Kurt Lewin

e Jacob Levy Moreno.

3.1.4. As dramáticas mudanças na economia americana ocorridas na década

de trinta, mais especificamente entre os anos de 1929, crack da bolsa de New

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York, e 1941, ano do ataque japonês a Pearl Harbour e da entrada americana

na II Guerra. Nesse curto período de tempo, a economia americana

desenvolveu-se, com dramáticas modificações, em três etapas: 1a)

inicialmente, a grave recessão com desemprego em massa; 2 a) depois, a fase

de recuperação determinada por uma planejada intervenção governamental

com reorganização financeira, mobilização coletiva e pesados investimentos

econômicos na área pública, uma política denominada de New Deal; 3a)

finalmente, a aceleração do crescimento da economia que foi impulsionada

pelos esforços coletivos organizados para a guerra.

Todas essas fases econômicas propiciaram situações muito

favoráveis ao desenvolvimento de trabalhos com grupos: na época da

recessão, a preocupação com “rendimento” determinou o estudo, por parte

dos psicólogos, dos fatores de rendimento das equipes de trabalho [15: p.

2]; na fase de recuperação, foi necessário um amplo processo de mobilização

coletiva e a utilização de métodos massivos de propaganda e mobilização, e

isso instigou os dirigentes a programarem, nas suas pesquisas e análise dos

fenômenos coletivos, meios de ação sobre os grupos humanos; a preparação

para a guerra obrigou os especialistas a intensificarem suas pesquisas sobre

os fatores de coesão e eficácia das pequenas unidades de trabalho, os

elementos do ‘moral’ dos grupos isolados em operações, e os processos

acelerados de formação pelos métodos de grupos [15: p. 2].

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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3.2. Fatos Relevantes na História da Dinâmica Grupal. Os cinco fatos

mais marcantes para a história da Dinâmica Grupal no século atual

aconteceram nos Estados Unidos da América, e foram os seguintes:

3.2.1. Trabalhos do Dr. Pratt. Em 1905, o médico Joseph Pratt trabalhando

num sanatório de Boston, introduziu entre seus pacientes internados com

tuberculose uma metodologia de trabalho chamado de classes coletivas

[17: p. 23]. As classes tinham como finalidade acelerar a recuperação

física dos enfermos mediante uma série de medidas sugestivas que eram

administradas através de informações técnicas sobre a doença e dentro de

um clima de cooperação grupal. Com esse método, que foi concebido como

terapias exortativas paternais que atuam pelo grupo [17: p. 23], Pratt

tornou-se pioneiro, pois foi o primeiro a utilizar-se de forma sistemática e

deliberada das emoções coletivas com fins terapêuticos.

A notável eficácia da abordagem de Pratt, fez com que fosse estendida

para muitas outras categorias nosológicas, como diabetes, neuroses, e

alcoolismo – Alcóolicos Anônimos (AA), organização iniciada em 1935, é o

exemplo mais significativo dessa tendência terapêutica [17: p. 23].

3.2.2. Pesquisas de Hawthorne. Em 1928, na usina de eletricidade de

Hawthorne da Western Electric em Chicago, foi realizado um conjunto de

pesquisas lideradas pelo australiano Elton Mayo. Esses estudos foram

concebidos com base nos métodos da Psicologia Experimental usados por

Wilhelm Wundt em Leipzig, e inicialmente procurava determinar o efeito de

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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determinados fatores ambientais, iluminação do ambiente por exemplo,

sobre a produtividade. Com o andamento da experiência, verificou-se que

os operários comportavam-se como acreditavam que deveriam, e não

como os pesquisadores esperavam – por exemplo, aumentavam sua

produção quando os pesquisadores diziam que a iluminação aumentava,

quando ela na realidade não se alterava. A partir daí, o experimento

demonstrou que era impossível estabelecer uma correlação simples e

direta entre os fatores físicos do ambiente de trabalho e a produtividade.

As causas do desempenho estavam no comportamento humano.

Como conseqüência de um trabalho de quase uma década, Mayo e seus

colaboradores lançaram as bases de uma nova filosofia de administração,

que passou a ser chamada de Relações Humanas no Trabalho. Os pontos

principais dessa filosofia são os seguintes:

! O sistema social formado pelos grupos determina o resultado do

trabalho individual que quase nunca coincide com os padrões impostos

pela administração;

!A administração não deve estabelecer relações com o indivíduo, mas

com o grupo [18: p. 27].

3.2.3. Sistematização da Psicoterapia de Grupo. Por volta de 1932 estava

completo o desenvolvimento para sistematização da Psicoterapia de Grupo.

Inicialmente deve-se ressaltar que a psicoterapia de grupo começou

como uma ciência do grupo terapêutico e não do grupo “em si”. A

contribuição que a psicoterapia de grupo forneceu à Dinâmica Grupal é a

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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de que ela se ocupa, de forma realística, com a patologia do grupo [19: p.

19].

Por volta de 1931, começaram quase que simultaneamente em Nova

Iorque dois movimentos com a utilização de pequenos grupos para o

tratamento de transtornos psíquicos: início dos trabalhos psicodramáticos

por Moreno; início da Grupoterapia ativa de Samuel R. Slavson.

Com o início desses dois trabalhos, foram criadas as duas principais

organizações de terapeutas de grupo: a Associação Americana de

Psicoterapia de Grupo fundada por Slavson, e a Sociedade Americana de

Psicoterapia de Grupo e Psicodrama criada por Moreno [11: p. 7].

E também delineiam-se os dois modelos básicos para se abordar um

grupo com objetivos terapêuticos: diretivo; não diretivo. O primeiro, um

estilo que Moreno, um líder narcísico e carismático [11: p. 6], desenvolveu

na terapia pela ação do Psicodrama. O segundo modelo institucionalizou-se

na Sociedade de Slavson, um educador progressista influenciado pelas

idéias democráticas de John Dewey (...) um autodidata, pioneiro da

terapia psicanalítica de grupo com crianças [11: p. 119, 467].

! O Modelo psicodramático de Moreno representou uma revolução

conceitual e operativa para o manejo psicoterápico de grupos humanos.

Conceitualmente, a maior contribuição moreniana à Dinâmica Grupal

foi a introdução do termo tele. Tele é um fator que na sociometria, uma

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


1

outra criação de Moreno que será abordada num próximo item, indica

encontro humano.

Esse mesmo sentido de tele permitiu a Moreno propor o psicodrama

como um método terapêutico único, abrangente e capaz de, via o encontro

na ação grupal, efetivar uma cura. A justificativa moreniana é expressa na

seguinte construção: Mesmer afirmava que as curas hipnóticas são devidas

ao magnetismo animal. Bernheim demostrou que não é o magnetismo

animal que produz a cura, mas a sugestionabilidade do sujeito. Freud

descartou a terapia pela hipnose e declarou que o eixo da

sugestionabilidade (e portanto da cura) é a transferência [20: p. 18].

Completando esse raciocínio, Moreno propôs o tele como superação da

relação transferencial – o tele é o corolário do encontro que se estabelece

entre o terapeuta e o cliente-grupo, sendo assim o autêntico eixo da cura.

Operativamente, o novo da proposta moreniana está no formato

terapêutico. Um formato terapêutico consiste em duas partes, uma é o

veículo, tal como o divã, a cadeira, o palco do teatro terapêutico etc.; e

outra, são as instruções relativas ao modo de comportar-se quanto ao

veículo [20: p.117].

Quanto ao veículo, a grande contribuição moreniana à terapia grupal

consistiu na introdução do palco. Esse permitiu a ativa participação do

grupo, enquanto atores e platéia de um drama terapêutico, nos processos

de cura.

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


1

O palco também propiciou um ambiente terapêutico com instruções

específicas: o desempenho de papéis.

Na terminologia inglesa, desempenhar papéis significa role playing, e

consiste em colocar as pessoas (atores) em várias situações e em vários

papéis [20: p. 157]. Com isso, busca-se a espontaneidade e o seu corolário

a criatividade que são os fatores fundamentais para uma vida humana

saudável.

! Em relação a Slavson, ele, em suas contribuições à psicoterapia de

grupo, partilha da crença subjacente do primado da abordagem do indivíduo

em grupo. Por sua abordagem individualista a Dinâmica Grupal era

minimizada e as concepções do grupo funcionando como uma entidade

eram vigorosamente atacadas [11: p. 133].

O modelo terapêutico de Slavson, que é chamado de intrapessoal por

acentuar o primado da psicodinâmica individual no grupo, e por ver na

situação da terapia grupal uma réplica do tratamento um-a-um (um

terapeuta, um paciente) da psicanálise individual, foi contestado pelo

modelo integralista que vê o grupo como um todo, como o local e a força

motivacional principal para a mudança terapêutica [11: p. 10].

O modelo integralista mais consistente foi apresentado na já citada

concepção de Wilfredo Bion.

Bion, que se achava familiarizado com a teoria de campo de Kurt

Lewin, e via o grupo como dinamicamente diferente dos membros

individuais [11: p. 31], concebeu, a partir de suas experiências como

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


1

psicoterapeuta de grupo na Tavistock Clinic de Londres durante a Segunda

Guerra Mundial, a citada teoria dos pressupostos básicos para explicar o

grupo como um todo.

Em termos práticos Bion defendeu a idéia de que o papel do

terapeuta de grupo reside essencialmente em confrontar o grupo como

um todo com seus temas de fantasia inconscientes partilhados sob forma

dos pressupostos básicos [11: p. 8].

O trabalho de Bion com a Dinâmica Grupal foi muito breve. Contudo,

suas concepções e o campo de trabalho estruturado na Tavistock Clinic

impulsionaram as pesquisas e as experiências com terapia grupal em todo o

mundo.

Na América Latina, mais especificamente na Argentina do final de

década de cinqüenta, um fértil campo terapêutico foi desenvolvido,

ocupando lugar central os trabalhos com grupo operativo de Pichon-Rivière.

A concepção de grupo operativo surgiu a partir da idéia bioniana de que

as atividades grupais comportam dois níveis: nível da tarefa, e nível dos

pressupostos básicos. Pichon-Rivière propôs uma psicoterapia de grupo

centrada na tarefa [8 p. 84]. Para ele, juntamente com a idéia de que o

grupo é o agente da cura, o terapeuta deve fazer uma análise sistemática

das dificuldades do grupo em tarefa. Isto é, a atividade terapêutica está

centrada na mobilização de estruturas e condutas estereotipadas que

imobilizam a realização de uma tarefa pelo grupo [8 p. 84].

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


1

Conforme o esquema pichoniano, essas estruturas estereotipadas são

determinadas pelas ansiedades despertadas pelas mudanças que uma

tarefa impõe ao grupo. Por sua vez, Pichon-Rivière, inspirado na teoria dos

mecanismos de defesa primitivos de Melanie Klein, identificou duas

modalidades básicas de ansiedades que podem paralisar a atividade grupal:

(a) ansiedade depressiva, determinada pelo abandono do vinculo que o

grupo mantinha com uma tarefa anterior; (b) ansiedade paranóide, criada

pelo novo vínculo que o grupo deverá manter com a outra atividade a que

estará submetida.

Nessas circunstâncias, o papel do coordenador (terapeuta) deve ser a

de diminuir essas ansiedades, favorecendo o vínculo entre o grupo e o

campo de sua tarefa. Conseqüente a isso, é estruturado um grupo

operativo onde o esclarecimento, a comunicação, a aprendizagem e a

resolução de tarefas coincidem com a cura [8: p. 98].

Em Pichon-Rivière esse funcionamento aberrante emerge como

ansiedades e conflitos que podem paralisar a realização da tarefa pelo

grupo. Por isso é necessário que seja trabalhado para que o grupo continue

a existir eficazmente em torno de uma tarefa. Nesse sentido, ocupa papel

fundamental uma liderança formal ou informal. Essa liderança, no

acontecer grupal, é representada por aquele indivíduo que se faz

depositário dos aspectos positivos do grupo, tornando-se assim uma

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


1

espécie de direcionador das diversas atividades desenvolvidas pelo grupo

[12: p. 56].

Para finalizar, deve-se atentar que, para desempenhar um bom papel

corretor e bem direcionador das atividades grupais, a liderança, ao mesmo

tempo em que deve desmistificar (desvelar) essa dinâmica subjacente que

paralisa os trabalhos em grupo, deve também assumir a função de aglutinar

a cooperatividade do grupo em torno do planejamento e realização da

tarefa produtiva.

3.2.4.Criação da Sociometria. Em 1932, Moreno cria, simultaneamente com

o Psicodrama, a Sociometria.

Na apresentação desse método, Moreno define a sociometria como a

ciência da medida do relacionamento humano [19: p. 39]. Contudo, coloca

um pressuposto nessa definição científica – o método sociométrico foi

concebido a partir de uma outra referência epistemológica básica, qual seja,

a religiosa.

Moreno reconhece que, rigorosamente, a religião não é considerada

um referencial científico. Apesar disso ele próprio contra-argumenta com

pertinência: religião vem de religare, que é o princípio de tudo reunir, de

ligar em conjunto. [19: p. 21], e daí propõe a sociometria como a ciência

que busca a essência da ligação, da re-ligação, e da vinculação humana.

Ademais, a base religiosa permitiu-lhe a criação de uma verdadeira

estrutura cosmológica para a sociedade humana. Essa estrutura formaria

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


1

um sistema social utópico por ele denominado de socionômico cujo

projeto, em princípio, visava a uma elucidação do fenômeno social tal qual

era vivido no seu interior pelos seres humanos que dele participavam, o

que exigiria a adoção de métodos diretos e experimentais [4: p. 121]. Ou

seja, exigiria a adoção do método sociométrico.

Ainda nesse ideal utópico, estavam implicitamente delineados os três

eixos que fundamentariam a sociometria, e que também se constituiria na

principal contribuição de Moreno à ciência da Dinâmica Grupal, quais sejam,

o conceito de espontaneidade-criatividade, o fator tele, a teoria do papel.

Quanto a isso, Moreno afirma numa citação autobiográfica que minha

posição religiosa original compreendia três aspectos: primeiro, a hipótese

da espontaneidade-criatividade como força propulsora do progresso

humano, acima e independente da libido e dos motivos sócio-ecônomicos;

segundo, a hipótese do amor e da partilha mútua como princípio funcional

poderoso e indispensável na vida de um grupo; terceiro, a hipótese de

uma comunidade superdinâmica baseada nestes princípios que pode ser

efetivida através de técnicas sociométricas [1: p. 23].

Ou seja, repetindo, esses três aspectos englobam o que atualmente é

considerado os fundamentos da concepção moreniana relativa à pessoa

humana: o conceito de espontaneidade-criatividade para a dimensão

individual; o amor, e sua expressão o fator tele, em sua projeção social; o

papel, como eu tangível, resultado da conjugação dessas duas dimensões

anteriores.

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


1

A espontaneidade está no princípio da sociometria, pois um processo

sociométrico só merece fé quando os seus participantes manifestam

espontaneamente suas preferências. [21: p. 120].

O papel, um conceito derivado do teatro e introduzido na sociologia e

na psiquiatria por Moreno, indica a posição (status) que a pessoa assume

dentro da sociedade. [21: p. 211]. O teste sociométrico visa justamente

captar esse status num indivíduo de uma relação grupal.

O tele é um corolário do religioso conceito amor – summum bonum

[22: p. 24]. Na Dinâmica Grupal o que unifica e constitui a unidade grupal é

o tele [21: p. 195].

O fator télico possibilita o encontro na grupalidade humana. Nessa

mesma grupalidade, o fator que opera facilitando o desencontro, a

desagregação grupal, é a “força” descrita pela psicanálise como

transferência.

O tele é ainda uma proposição sociométrica que pode ser expressa na

seguinte relação: eleição e percepção do indivíduo para o grupo/eleição e

percepção do grupo para o indivíduo.

Com isso o tele torna-se fatorável. Significando que, através de um

teste sociométrico, ele pode ser expresso num fator numérico; o qual, num

primeiro plano topológico, indica um valor relativo ao status que um

indivíduo ocupa numa grupalidade; e, num plano maior, indica um valor

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


1

relativo ao nível de agregação conseguido pelo grupo do qual esse indivíduo

faz parte.

Esses valores relativos, por sua vez, podem ser apresentados através

de tabelas e gráficos denominados de sociogramas.

Encerrando com Dalmiro Bustos, um psicodramatista argentino que,

mercê de sua formação psicanalista, realizou, após visitar Moreno em seu

Instituto de Beacon (Nova York) em 1969, um trabalho para

aperfeiçoamento do Teste Sociométrico: tele implica um conceito

existencial e totalizador, intelectivo, afetivo, biológico e social. Ao

abandonar o acaso em nossa infância começa a seleção. Buscamos

sociometricamente aqueles que complementem positivamente nossos

objetivos, rechaçamos outros ou permanecemos indiferentes a terceiros.

Quando se dá o encontro, existe a certeza e não são necessárias

verbalizações de confirmação. Produzem-se respostas-condutas coerentes

com as propostas. Deste modo sabemos que é o fator télico que está

funcionando. [23: p. 17].

3.2.5. Fundação do Primeiro Laboratório de Dinâmica Grupal. Em 1945 Kurt

Lewin funda, a pedido do Instituto Tecnológico de Massachusets

(Massachusets Institute of Technology-M.I.T.), o primeiro centro de

pesquisas dedicado especificamente à Dinâmica Grupal.

Como acontece com todas as outras ciências, a história da Dinâmica

Grupal também pode ser dividida em dois períodos: pré-científico e

científico.

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


1

Pode-se dizer que o período pré-científico desenvolveu-se até a década

de trinta quando Kurt Lewin e seus colaboradores realizaram as primeiras

pesquisas empíricas, teoricamente significativas com grupos humanos. Até

esse período, quem sentia curiosidade pela natureza dos grupos para

obter respostas às suas questões dependia, sobretudo, da experiência

pessoal e de documentos históricos. Foram criados sistemas teóricos

complexos e muito amplos, pois foram concebidos por homens de notável

capacidade intelectual, entre os quais: Cooley, Durkheim, Tarde, Le Bon,

Freud. [24: p. 6/7].

As pesquisas que Lewin e sua equipe realizaram entre a década de

trinta e quarenta, e que levaram ao reconhecimento científico e ao convite

para fundação do laboratório no M.I.T. representaram para as ciências

sociais, sobretudo para a psicologia e a sociologia, uma verdadeira

rebelião empírica. Nesses trabalhos, em vez de se aceitar a especulação

sobre a natureza dos grupos, procuraram-se os fatos e buscaram-se

separar dados objetivos e impressões subjetivas. [24: p. 7].

Entre esses trabalhos, dois são destacados, tanto porque apresentam

um procedimento metodológico de fácil operacionalização e

reprodutibilidade; como também pelo alto valor heurístico de suas

conclusões, podendo, por isso, ser consideradas como um verdadeiro

padrão-ouro utilizável no campo das pesquisas científicas com a Dinâmica

Grupal.

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


1

Em virtude da mencionada importância histórica dessas duas pesquisas,

será apresentado um relato sobre as mesmas, e também será feita uma

apresentação do que ficou conhecido como T-Group, uma técnica iniciada

por Lewin a partir dessas pesquisas com a Dinâmica Grupal.

Porém, antes desse relato, deve-se considerar que a lewiniana equipe

iniciou cada uma das duas pesquisas com um pressuposto básico: na

primeira, a pressuposição era a de que os grupos funcionam como

totalidades dinâmicas, e que realizam seu equilíbrio num “campo de

forças”. No entanto, mesmo sendo um “campo de forças”, uma pressão

exterior pode modificá-lo ou basta que se integre a informação no campo

perceptivo do grupo para provocar a mudança [2: p. 95]; a segunda,

referiu-se aos estados de equilíbrio grupal. Nesta, pressupunha-se que,

como uma gestalt, o grupo busca uma “boa forma” em seu equilíbrio. [2:

p. 97];

Primeira pesquisa: em 1943, o estado de relativa penúria devido à

constituição de reservas para o exército levou as autoridades norte-

americanas a se voltarem para os meios de mudar os hábitos alimentares

dos estadunidenses. Era necessário persuadi-los de que as vísceras

(coração, rins etc.), muitas vezes rejeitadas, tinham as mesmas qualidades

nutritivas da carne considerada “de primeira”. Toda uma campanha de

informações pela imprensa, pelo rádio, por cartazes tinha tentado

demonstrar as vantagens econômicas desta mudança.

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


1

Apesar dos meios utilizados, os resultados se revelaram

insignificantes. Lewin foi então encarregado pelo governo americano de

estudar um novo modo de ação. De princípio constatou que eram as donas-

de-casa que representavam o elemento de decisão em toda compra de

carne consumida pelas famílias. Decidiu então atuar sobre pequenos grupos

de donas-de-casa.

Ao iniciar os trabalhos, achou-se diante do seguinte problema: ou

acentuava o caráter positivo do consumo das vísceras; ou diminuía as

reticências diante desses alimentos julgados negativamente.

Reuniu então vários grupos de uma quinzena de pessoas. Em metade

desses grupos, especialistas qualificados (como médicos e nutricionistas)

explicaram como e por que deveria se consumir tais pedaços de carne.

Essas explicações revelaram-se decepcionantes, pois somente 3% dos

membros dos grupos aceitaram realmente as informações, traduzindo-as

em seus comportamentos alimentares.

Na outra metade dos grupos, a equipe de pesquisadores contentou-se

em colocar o problema para os participantes: tendo em vista a difícil

situação econômica com grave escassez de carne, de que modo é possível

mudar o consumo para que haja disponibilidade de carne para toda a

população?

Depois deixou a discussão desenvolver-se sem intervir, exceto para

fornecer informações, quando eram pedidas. Essas discussões permitiram a

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


1

cada dona de casa a possibilidade de falar sobre seu próprio

comportamento, de analisar suas atitudes diante dos problemas etc. Ficou

rapidamente claro que a recusa desses alimentos baseava-se em certos

receios subjetivos, preconceitos que pareciam possíveis de ultrapassar.

Resoluções foram tomadas em comum, e as participantes se

comprometeram a modificar suas atitudes. Com efeito, os resultados

mostraram que 32% delas modificaram suas compras, e passaram a usar

em seu cardápio as vísceras.

Lewin e sua equipe tiraram do fato constatado a seguinte conclusão: na

primeira metade dos grupos, ao trazer a informação por meio de

autoridade, aumentava-se a pressão por uma mudança. No entanto, seria

necessário uma pressão mais forte, mais autoritária para que essa solução

tivesse êxito, o que poderia desencadear tanto agressividade quanto recusa

por parte do grupo.

Na outra metade, ao invés de aumentar, por meios autocráticos, as

pressões externas, ele preferiu reduzir as resistências que se opunham à

mudança através do diálogo do compromisso com a mudança pelos

participantes. Com isso, houve deslocamento para um novo equilíbrio

grupal.

Segunda pesquisa: os estudos dos estados de equilíbrio levam

Lewin e sua equipe a procurar qual deva ser “a boa forma” de um grupo.

Isto é, para que tipo de organização um grupo deva dirigir-se. O

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


1

experimento que ilustra essas pesquisas é conhecido com o nome de

“experimento dos três climas”.

Três grupos de crianças eram voluntários para a construção de

maquetes de teatro. Essas crianças foram agrupadas por afinidades, o que

facilitava a coesão no grupo e motivação na tarefa. Daí, pensava-se que os

resultados do grupo dependeria do tipo de organização utilizada. Em cada

grupo um experimentador induziu uma forma diferente de organização.

No primeiro grupo, o experimentador define os objetivos e os meios

para atingí-los, e as crianças devem obedecer a seguinte exigência: é um

grupo autocrático, em que a organização é definida “de fora”, pelo

experimentador.

No segundo grupo, o experimentador define com as crianças as

finalidades, os meios e a divisão das tarefas: é um grupo democrático, em

que os indivíduos interagem para encontrar a melhor organização.

No terceiro grupo, o experimentador não impõem nem propõe nada, o

grupo é entregue a si mesmo: é um grupo sem diretrizes, um grupo

laissez–faire.

O experimento mostrou resultados diferentes, conforme os três tipos

de organização.

No grupo autocrático a tarefa é efetuada sem entusiasmo; a produção

é “média”; as relações interpessoais são tensas; os participantes sentem-se

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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frustrados e suas atitudes oscilam entre a apatia e a agressividade. Assim

que o experimentador deixa a sala. o trabalho é interrompido.

No grupo democrático a produção é “boa”, o nível de satisfação

elevado, e as relações entre os membros baseiam-se na cooperação com a

redução das tensões. O grupo é suficientemente autônomo para prosseguir

em sua tarefa quando o animador se ausenta.

No grupo “laissez-faire” a produção é pequena, os participantes

mostram um constante sentimento de frustração e de fracasso, a

agressividade entre os membros é intensa.

Desse experimento, foi tirado uma conclusão quanto à “boa forma”

grupal: o grupo democrático, por ser o mais produtivo e por trabalhar

dentro do “melhor clima”, mostrou-se a forma ideal de organização social.

T-Group: Após essas duas pesquisas, e com a fundação do

laboratório no M.I.T., Kurt Lewin e seu grupo de colaboradores ampliaram o

campo de experiências aplicando a Dinâmica Grupal em treinamentos de

relações humanas.

O método utilizado então passou a ser denominado de T-Group

(Training Group, ou Grupo de Treinamento). Para viabilização desse

método, Lewin partiu de uma outra pressuposição básica: é possível a

modificação da conduta individual através de transformação do

comportamento em grupo [25: p. 13].

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


1

A comprovação desse pressuposto, que também é coerente com os

formulados para as duas pesquisas anteriores, deu-se com uma série de

sessões de grupos. Dessas, será apresentado um resumo histórico da

experiência inicial, quando Lewin e sua equipe fez, fortuitamente, a

descoberta do poderoso meio de formação e de mudança em Dinâmica

Grupal, o T-Group. [15: p. 69].

A história do T-Group começa em 1946 quando, numa escola estadual

para formação de professores primários em Connecticut-EUA, foi realizada

uma experiência sob a responsabilidade técnica do centro de pesquisa de

Dinâmica Grupal dirigido por Lewin. Essa experiência tinha como finalidade

principal testar hipóteses concernentes aos efeitos comparados das

conferências e dos estudos de casos sobre o comportamento e suas

mudanças. Ao mesmo tempo também objetivava formar animadores de

grupo em organizações pedagógicas.

Nas sessões iniciais, os participantes, em número de 30, eram

divididos em três grupos que se reuniam sob a coordenação de um monitor

e com a presença de um observador que preenchia as folhas de observação

das interações e da dinâmica grupal. Os sub-grupos empregavam seu tempo

entre estudos de casos com jogos de papéis e exposições magistrais.

Para avaliação dessas reuniões foram organizadas sessões especiais

de trabalho, as quais reuniam os animadores oficiais e os observadores

para verificar as observações e discutí-las. Durante o desenvolvimento dos

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


1

trabalhos, alguns participantes da experiência que moravam nessa escola

pediram para assistir a essas sessões de avaliação. Após discussões entre

os membros da equipe coordenadora, eles foram admitidos. Aconteceu

então algo imprevisto que é descrito assim: Lewin e sua equipe de

animadores não previra os efeitos sobre os participantes da descrição de

seus comportamentos, nem a maneira pela qual seria preciso orientar as

relações entre a equipe e os ouvintes voluntários. Aberta a discussão, o

efeito foi elétrico, primeiramente, foi preciso, inexoravelmente, abrir

essas reuniões às demais pessoas interessadas, e logo todos passaram a

comparecer. As reuniões prolongavam-se por três horas seguidas. Os

participantes declaravam que elas eram essenciais, e ninguém mais

deixou de lembrar o programa previsto, os casos que a equipe preparava,

as situações trazidas pelos membros voluntários, os jogos de papéis etc.

[15: p. 69].

Logo depois nasceu a idéia de substituir o conteúdo das sessões que

era baseado em fatos ocorridos “um outro lugar, num outro tempo”, pela

análise do comportamento dos próprios membros do grupo no “aqui-agora”

(em latim: hic et nunc) das sessões. E assim o papel do monitor passou a

consistir em atrair a atenção do grupo sobre o hic et nunc vivido e não

apenas racionalizado pelos membros do grupo.

Infelizmente, no início de 1947 Kurt Lewin morre subitamente, o que

certamente dificultou a continuidade e o aprofundamento teórico das

pesquisas por sua equipe. No entanto, os seus achados com o T-Group

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


1

influenciaram de maneira decisiva o desenvolvimento teórico e prático de

diversas áreas da Dinâmica Grupal na atualidade – Gestalterapia, Sócio-

Análise, Grupos de Encontro, Grupo Operativo etc. Para encerrar este

capítulo, sumariza-se apenas duas dessas áreas de influência: (a) Grupos de

Encontro; (b) Grupo Operativo.

(a) Grupos de Encontro. Em verdade constituiu-se num amplo

movimento grupalístico que se desenvolveu, especialmente na sociedade

americana, durante a década de sessenta. Esse movimento foi iniciado pelo

psicólogo Carl Rogers e se caracterizou pela amplitude de uma organização

multitudinária, pelas experiencias comunitárias, e pela postura

liberalizante em sua prática grupal [26: p. 130]. Esta última característica,

um aspecto fundamental da concepção dita rogeriana, se expressa numa

postura que é prescritiva para o animador de um Grupo de Encontro, qual

seja, a não-diretividade.

Sobre isso, ressalve-se ainda dois fatos: primeiro, conforme uma

observação crítica, com sua técnica, Rogers buscou apenas uma

fundamentação ético-filosófica, não existindo nele qualquer preocupação

científico-epistemológica. [26: p. 130]; segundo, essa fundamentação

ético-filosófica foi absorvida por correntes pedagógicas contemporâneas que

encontraram em Rogers, com o seu personalismo radicalmente libertário e

a sua recusa de toda relação de autoridade na experiência pedagógica, [6:

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


1

p. 3621], o modelo ideal para a prática de uma almejada educação

humanista.

(b) Grupo Operativo. Iniciou-se com a denominada “Experiência

Rosário”, um seminário coordenado por Pichon-Rivière, em 1958, numa

instituição universitária da cidade de Rosário na Argentina.

Em Rosário ocorreu uma experiência de laboratório social que se

efetivou mediante as técnicas de investigação ativa de Kurt Lewin, e que

teve como propósito a aplicação de uma didática interdisciplinar e de

caráter acumulativo [12: p. 88]. Dela resultou a técnica do Grupo Operativo

que está centrada na tarefa, onde teoria e prática se resolvem numa práxis

permanente e concreta do “aqui-agora” de cada campo grupal assinalado.

Finalmente, deve-se assinalar que Grupo Operativo não é um termo

utilizado para se referir a uma técnica específica, e nem a um tipo

determinado de grupo – Grupo Terapêutico, por exemplo. Mas refere-se a

uma forma de pensar e operar em grupos, que pode se aplicar à

coordenação de diversos tipos de atividades grupais, existindo, portanto,

grupos operativos terapêuticos, familiares, de aprendizagem, de reflexão,

entre outros. [12: p. 53].

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


1

4. CLASSIFICAÇÃO DA DINÂMICA GRUPAL

A Dinâmica Grupal é uma ciência Interdisciplinar. Portanto, qualquer um dos

modelos que se use para sua classificação deve considerar as múltiplas

disciplinas científicas a ela relacionada. Nesta obra será apresentado um

modelo composto de dois itens: primeiro, um esquema classificatório com

posicionamento da Dinâmica Grupal perante a Psicologia e a Sociologia, ou

seja, perante as duas ciências humanas a que está diretamente vinculada;

segundo, um quadro divisório relacionando os grandes antecedentes, e as

linhas de influência mais significativa da Dinâmica Grupal.

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


1

4.1. Dinâmica Grupal X Psicologia e Sociologia

1.1.1. Behaviorismo
(Psicologia Comportamental)

1.1. Psicologia
Individual

1.1.2. Psicanálise
(Psicologia Dinâmica)

1. Psicologia

1.2.1. Psicologia das Massas


(Multidões)

1.2. Psicologia
Social

1.2.2. Psicologia dos Grupos

Dinâ
mica
Grupa
l

2.1. Micro-Sociologia

2. Sociologia

2.2. Macro-Sociologia

Observar que a Dinâmica Grupal foi colocada numa situação de dupla

equivalência: a psicologia de grupos e a micro-sociologia. No entanto, pode-

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


1

se afirmar, com fundamentos, que a Dinâmica Grupal está ligada

primordialmente à Psicologia, e secundariamente à Sociologia. Uma

fundamentação para esta afirmativa será apresentada nos parágrafos

seguintes.

No campo da Sociologia é feita a divisão entre macro-sociologia e micro-

sociologia. A primeira trata da vida social na escala mais ampla das

organizações sociais, das comunidades e das sociedades inteiras. A

segunda focaliza o mundo face-a-face da interação social. [27: p.139].

A micro-sociologia refere-se ao que C.H. Cooley, num dos estudos

clássicos das ciências sociais define como “grupos primários”, isto é,

aqueles grupos que se caracterizam pela associação íntima, face-a-face

entre seus membros. [6: p. 5516].

Considerando que essa definição de Cooley é compatível com o conceito

que Pichon-Rivière dá ao fenômeno grupo, então, pode-se afirmar que, por

terem nos “grupos primários” o mesmo objeto de estudo, a Dinâmica Grupal

e a micro-sociologia referem-se a uma mesma especialidade das Ciências

Humanas.

Contudo, sobre isso deve-se ainda considerar que há pertinência na

perspectiva teórica que percebe no fenômeno grupo um arcabouço

entremeado em espiral e constituído pela tríade: a) estrutura; b) processo;

c) conteúdo. [28: p. 16].

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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a) Estrutura. Em termos sociológicos, refere-se ao conceito de

morfologia social, e tem quase o mesmo sentido que os geógrafos utilizam

para designar o modo pelo qual a população se distribui pela terra. A

estrutura é essencialmente material, física. [6:p. 4303]. Isto é, refere-se

aos aspectos espaço–temporais do quando, onde e quem, que é

exemplificado nos termos grupos primários ou secundários, classes sociais,

instituições, comunidades, sociedade etc.

b) Processo. Refere-se aos aspectos dinâmicos que são ativados dentro

e entre essas estruturas. [28: p. 17]. A ação se desenvolve como interação

e comunicação na estrutura social.

c) Conteúdo. Diz respeito ao significado desta ação nesta estrutura.

Significado este que estabelece a coesão, a coerência e a continuidade

grupal [28: p. 18].

Sendo assim, e observando-se que desde os seus fundadores Augusto

Comte, Herbert Spencer e Emil Durkheim, a sociologia esteve

particularmente interessada na estrutura social – Durkheim em 1901,

definiu a sociologia como a ciência das instituições [28: p. 17] - tendo

secundarizado a abordagem dos processos e dos significados da ação social.

Ainda deve-se considerar que o tangível num processo grupal é o

comportamento de seus membros; e que o significado desse processo está

baseado na subjetividade desses componentes. Assim, considerando-se que

os elementos comportamento e subjetividade constitui-se no próprio objeto

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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de estudo da Psicologia, então, a Dinâmica Grupal, que também busca

estudar esses elementos na grupalidade humana, é, sobretudo, uma

derivação da Psicologia.

De fato, para completar, foi principalmente o desenvolvimento da

Psicologia entre o final do século XIX e o início do século XX que permitiu o

surgimento e a sistematização de uma ciência do campo grupal.

Nesse desenvolvimento da Psicologia destacam-se duas linhas teóricas:

a Psicanálise e a Psicologia da Gestalt; e uma área prática: a psicoterapia de

grupo. A Dinâmica Grupal constituiu-se, enquanto especialidade das ciências

humanas, principalmente referenciada nesses três campos da Psicologia, de

onde ela retirou os seus principais conceitos e os elementos necessários

para operacionalizar os seus termos. Baseado na argumentação acima

exposta, apresenta-se a seguir o já citado Quadro Divisório. Nele estão

relacionados os principais antecedentes, e os desdobramentos mais

significativos da Dinâmica Grupal.

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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4.2. Dinâmica Grupal: Antecedentes e Desdobramentos


Autores Teorias e Técnicas Desdobramentos
Estruturantes Originais Técnicos

Grupos de Encontro

Psicologia da Gestalt T-Group


Lewin
+ Teoria do Campo

Gestalterapia

Freud+Bion Psicanálise Psicoterapia de Grupo


+ Pichon-Rivière

Grupo Operativo

Psicodrama Análise Institucional


Moreno
+Sociometria

Psicodrama

Quanto ao quadro da pagina anterior deve-se fazer apenas três

considerações:

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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10) Ele é resultado de uma adaptação de um quadro apresentado no

manual sobre Psicoterapia de Grupo que foi elaborado por uma equipe

coordenada por Osvaldo Saidon. O quadro, segundo seus autores, representa

uma tentativa de decifrar as linhas de influência que podem ser identificadas

em relação às práticas terapêuticas de grupo mais difundidas no panorama

atual deste campo; [26: p. 16];

20) O denominador comum entre os citados autores estruturantes está

justamente no caráter estruturalista de suas investigações. Sobre isso,

observa-se que o grupo é um fato privilegiado para investigação social, pois

nele o caráter de totalidade próprio às estruturas [29: p. 10] é evidente.

30) A propósito dessa última afirmação, sabe-se que através da

sociometria pode-se demonstrar, matematicamente, a procedência da

propriedade expressa na fórmula: o todo é mais do que a soma de suas partes.

Isto é, exemplificando: considere o tele como o fenômeno grupal que preenche

esse caráter de totalidade. Então, ao se buscar um cálculo de um índice télico

num grupo operativo qualquer, pode-se verificar que, mais do que o simples

somatório das manifestações télicas de cada um dos participantes nessa

atividade grupal, deve ser considerado outras propriedades estruturais de

grupo [29: p. 10], como os subgrupos em parelhas e triangulações formadas

entre os indivíduos em interação operativa.

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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5. APLICAÇÕES DA DINÂMICA DA GRUPAL

Como está na classificação, a Dinâmica Grupal é uma ciência

interdisciplinar. Isso significa que são múltiplas as suas aplicações técnicas, e,

por conseguinte, também são múltiplos os campos dos saberes humanos que

podem ser beneficiados com seus conhecimentos.

Entre os saberes beneficiados, citaríamos um enorme rol: saúde,

educação, serviço social, administração de empresas, política, esportes,

religião etc. No entanto, para efeitos descritivos, escolhemos apenas os

quatro primeiros relacionados acima – Saúde, Educação, Administração e

Serviço Social - para fazer uma sucinta descrição sobre os seus termos que

são particularmente beneficiados com os conhecimentos da Dinâmica Grupal.

5.1. Saúde. Na área da saúde humana é onde se situam os resultados

mais promissores das aplicações práticas da Dinâmica Grupal.

Neste sentido o destaque cabe às já apresentadas psicoterapias

grupais. No entanto, além desse campo de aplicação, o qual já foi

suficientemente relatado em capítulos anteriores, os trabalhos grupais têm

se mostrado de grande utilidade em muitas outras áreas da saúde humana.

Apresenta-se quatro exemplos:

5.1.1. Grupos Operativos em Doenças Orgânicas. Trabalhos de

Grupos Operativos são largamente utilizadas como adjuvantes no

tratamento de pessoas com doenças orgânicas consideradas crônicas.

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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Desse modo, em diversas instituições médicas têm sido formados grupos

operativos com portadores de diabetes, nefropatias, tuberculoses etc.

Esses grupos têm funcionado com objetivos diversos. No nosso meio

hospitalar, já funcionam Grupos Operativos formados por esse tipo de clientela,

um deles reúne pacientes dialisados do setor de nefropatia do Hospital Geral de

Fortaleza (Ceará, Brasil). Como está no projeto: o grupo objetiva melhor

prepará-los para enfrentarem as dificuldades inerentes a sua

enfermidade, e contribuir para o bom êxito do processo de hemodiálise.

Nas reuniões são realizadas atividades para incentivar o acompanhamento

rotineiro com nefrologista; para transmitir informações úteis sobre a

doença e métodos terapêuticos, para facilitar o estabelecimento de

hábitos considerados saudáveis para o nefropata crônico, e, enfim, para

melhorar o suporte psico-emocional, e Integrar os familiares no processo

terapêutico [30: p. 1].

5.1.2. Grupos Balint. Nos grandes Hospitais de Ensino Universitário

são aplicadas muitas técnicas grupais para facilitar a formação e o

aperfeiçoamento médico. Entre essas técnicas, é imprescindível uma

menção aos Grupos Ballint. Esses grupos, cujo nome homenageia o

psicanalista inglês Michel Ballint que, nos anos 50-60, desenvolveu essa

técnica grupal, consiste, basicamente, em discutir a dinâmica das relações

humanas contidas no bojo das situações clínicas trazidas pelos médicos

participantes do grupo, na medida em que os mesmos experimentavam e

reconheciam em sí próprio os dinamismos inconscientes inerentes a essa

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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tarefa [31: p. 352]. Nas reuniões busca-se fazer com que os integrantes do

grupo desenvolvam a capacidade de refletir acerca dos fenômenos

relacionais inconscientes. Essa capacidade de reflexão implica no

desenvolvimento simultâneo das capacidades para perceber, sentir, pensar,

agir e, especialmente, o aprender a aprender manejar as diversas

situações no dia-a-dia da atividade clínica.

5.1.3. A Comunidade Terapêutica e suas reuniões comunitárias nas

quais todos os pacientes e membros do quadro de pessoal de uma unidade

de saúde mental se reunem, é o mais complexo dos grupos terapêuticos

[11: p. 498].

A primeira experiência de Comunidade Terapêutica aconteceu no

Northfield Military Hospital, na Inglaterra durante a II Guerra Mundial.

Nesse hospital militar, onde, entre outros, trabalhavam Bion, Tom Main, Pat

de Mare e Sigmund Foulkes, aconteceram, nesse período, mudanças

radicais em sua organização social, havendo transformações quanto aos

cuidados médicos e ao papel dos pacientes em seu processo terapêutico –

com os pacientes buscava-se superar as atitudes de passividade e

retraimento estimulando a participação ativa numa comunidade de

estrutura grupal [11: p. 498].

Nas décadas que se seguiram a essa primeira experiência em Northfield,

a onda de comunidades terapêuticas espraiou-se pelas instituições

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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psiquiátricas do mundo ocidental e, com ela, sua marca distintiva: a reunião

comunitária.

Quanto a essa modalidades de reunião pode-se dizer que elas, do ponto

de vista da terapêutica, apresentam vantagens e desvantagens. Contudo,

como é inerente uma índole positiva nesta obra, será dito apenas sobre o

que Sigmund W. Karterud, professor de psiquiatria na Universidade de Oslo,

considera a função de Foro para Partilha de Informações a vantagem mais

óbvia das assembléias de comunidade terapêutica, isto é: a reunião

comunitária pode alcançar a todos e informá-los a respeito de

acontecimentos que afetam a unidade como um todo. Quem se acha

presente, quem não compareceu e por quais razões? Novos pacientes são

apresentados, alguns pacientes podem estar indo embora, e membros do

quadro de pessoal falam a respeito de suas próprias ausências. Atuações

dramáticas – tais como comportamentos grosseiramente aberrantes,

rompimento de normas e tentativas de suicídio – são geralmente trazidas

ao conhecimento geral na reunião comunitária. Ao lado de seu puro valor

informativo, a reunião também fornece oportunidades para avaliar-se a

importância dinâmica dos eventos comunitários e corrigir percepções

distorcidas [11: p. 499].

5.1.4. Grupos de Auto-Ajuda. Um movimento grupal que se

universalizou e se diversificou graças a uma imagem modelada por poucas

idéias simples mas bastante poderosas: pessoas comuns com um

problema comum reunem-se, partilham seus problemas e aprendem umas

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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com as outras, sem utilizar-se da ajuda de profissionais, em settings que

os membros do grupo possuem e controlam [11: p. 244].

Atualmente, em todo o mundo, é enorme a quantidade de grupos de

auto-ajuda – Morton A. Lieberman, um professor de psiquiatria do San

Francisco School of Medicine, realizou um estudo com mais de 3.000 grupos

de auto-ajuda somente da Califórnia. Também é enorme a diversidade de

suas linhas de ação: alcoolistas, narcóticos, neuróticos, comedores

compulsivos, fumantes etc.

De todos esses grupos o mais disseminado e popular é o constituído

pelo movimento mundial de Alcoólicos Anônimos (AA). O primeiro grupo de

AA aconteceu após um encontro casual entre um cirurgião de renome: o Dr.

Bob, e um corretor de imóveis conhecido como Bill W., ambos de Nova York

e alcoólicos desenganados pela medicina. Eles fundaram o primeiro grupo

de Alcoólicos Anônimos no ano de 1935 em Akron, Ohio-EUA.

Uma análise mais cuidadosa da estrutura dos grupos AA, revela que seu

dinamismo e real efetividade no tratamento do alcoolismo se assenta em

três elementos, os quais como que se articulam em três níveis ideológicos:

fundo religioso; metodologia grupalística; ação individualizante.

! O fundo religioso colocou-se desde as idéias primordiais para

criação dos primeiros grupos de AA. Sobre isso Bill W. diz que foi

convencido por seu médico, o Dr. Silkworth, de que as experiências

espirituais libertam pessoas que sofrem do alcoolismo [32: p. 58].

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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Bill W. também relata que, em 1934, estava internado no Hospital

Charles B. Towns em Nova York quando leu um livro de William James –

“Variedades da experiência religiosa” – no qual ele encontrou uma resposta

para sua profunda crise existencial e, ao mesmo tempo, entendeu aquilo

que poderia ser uma fórmula para efetivar a cura de um alcoolismo como o

seu. Bill W. relata: James achava que as experiências espirituais poderiam

ter realidade objetiva, quase do mesmo modo como as dádivas do céu

poderiam transformar as pessoas. Algumas eram, de repente, iluminações

brilhantes, outras vinham muito gradativamente. Algumas nasciam de

fontes religiosas, outras não. Mas quase todas tinham denominadores

comuns de dor, sofrimento, e calamidade. Total desespero e fundo do

poço eram quase sempre necessários para se chegar à aceitação [32: p.

58].

A fórmula encontrada por Bill W. se formou com esses dois termos:

“fundo do poço”, “aceitação”.

O “fundo do poço” estava representado na condição de absoluta

miséria existencial a que estava lançado devido ao seu alcoolismo; e

também no total desespero pela constatação de que tanto ele, como todas

as outras pessoas (especialistas) tinham fracassado no intento de resgatá-

lo de tão baixa condição.

Daí, para Bill W. houve uma súbita compreensão: somente Deus lhe

restava como superior autoridade capaz de presidir o seu destino. Também

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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houve a “aceitação” da idéia de que, como ponto de apoio humano, só lhe

restavam aqueles que eram semelhantes a ele na tão miserável condição de

alcoólatra.

Essa aceitação implicou na concepção da citada fórmula, a qual está

apresentada numa citação de Bill W.: O Dr. Carl Jung tinha contado a um

amigo quão sem esperança era o seu alcoolismo. O Dr. Silkworth tinha

dito a mesma coisa em relação a mim. É provável que somente esses

testemunhos nunca fizessem com que eu aceitasse completamente o

veredicto. Mas, quando um alcoólico começou a falar com outro alcoólico a

coisa deu certo [32: p. 58/59].

Dessa “aceitação” também derivou um duplo compromisso: missionário

associativista. Isto é, a sua missão seria trabalhar pela recuperação dos que

padecem do alcoolismo, e isto seria feito através de associações entre

alcoólatras. Esse duplo compromisso, posteriormente, se materializou em

dois Códigos de Ética, os quais fundamentam a existência da própria

organização grupal: As doze tradições; Os doze passos.

! A metodologia grupalistica é claramente delineada nas Doze

Tradições: nosso bem estar deve estar em primeiro lugar; a reabilitação

individual depende da unidade de A.A. [33: p. 13] diz a primeira tradição.

No entanto, é na quarta onde está explicitado aquilo que pode ser

considerado, nos termos da Dinâmica Grupal, o elemento que melhor

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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justifica a eficácia dessa metodologia. Essa outra tradição diz: cada grupo

deve ser autônomo [33: p. 13].

Em termos práticos e teóricos a questão da autonomia ocupa lugar

primordial no acontecer grupal. Sobre isso o conceito central é Projeto.

Max Pagés, um professor de psicologia social da Universidade de Paris-

Dauphine, afirma, com muita propriedade, que existe uma projeto auto-

gestionário inconsciente em todos os grupos, independente das ideologias

ou das origens sociais. É um projeto em que o grupo assume a

responsabilidade de todos os aspectos de sua própria vida [34: p. 89].

Pichon-Rivière também pensou sobre essa questão. Para ele, o

projeto surge, num processo dialético, como emergente da tarefa, e dá-se

quando todos os membros do grupo conseguem visualizar o objetivo

grupal. Isto significa ter conhecimento de que pertence a um grupo

específico, com objetivos também específicos [12: p. 55]. O Projeto,

geralmente, se concretiza na elaboração de um Plano de Trabalho ou de um

Código de Ética.

Por outro lado, ainda conforme Max Pagés, o projeto é ao mesmo

tempo individual e relacional. Ele visa afrontar a contradição entre a

expressão sem repressão nem inibição, dos desejos individuais, e a ação

em relação com os outros [34: p. 89].

Essa duplicidade do Projeto está bem definida no que preceituam mais

duas das tradições: a quinta que diz que cada grupo é animado de um

único propósito primordial – o de transmitir sua mensagem ao alcoólatra

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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[34: p. 33]; e a terceira tradição: para ser membro de A.A., o único

requisito é o desejo de abandonar a bebida [33: p. 23].

Em suma, um propósito (projeto) grupalístico voltado primordialmente

para um desejo individual de abandonar o alcoolismo. Mas esse desejo

individual também deveria estar bem delineado e isso foi feito nos Doze

Passos.

! A ação individualizante é expressão dos Doze Passos. Esse código

surgiu da idéia religiosa de que a embriaguez e a desintegração do

alcoólatra não são penalidades impostas por nenhuma autoridade; elas

são os resultado da desobediência pessoal aos princípios espirituais.

Portanto, o alcoólatra precisa obedecer certos princípios se não morre

[32: p. 108].

Pode-se dizer que, dos doze passos, três sintetizam tudo o que foi dito

acima sobre os A.A. Apresenta-se os três para encerrar este capítulo:

Primeiro passo: admitimos que éramos impotentes perante o álcool –

que tinhamos perdido o domínio sobre nossas vidas [35: p. 13].

Segundo passo: viemos a acreditar que um Poder superior a nós

mesmos poderia devolver-nos à sanidade [35: p. 17].

Décimo-Segundo passo: tendo experimentado um despertar

espiritual graças a esses passos, procuramos transmitir esta mensagem

aos alcoólicos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades

[35: p. 93].

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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5.2. Educação. A pedagogia dos grupos permite uma síntese perfeita entre

instrução e socialização do indivíduo. Todas as vertentes da Dinâmica

Grupal contribuem para essa perfeição, no entanto, foram os achados de

Lewin e de Moreno que mais contribuíram para esse objetivo pedagógico.

Didaticamente, ao se diferenciar as contribuições entre um e outro

desses autores, pode-se dizer que os postulados lewinianos se relacionam

mais à apreensão do conhecimento dentro do processo de aprendizagem; e

os achados morenianos são diretamente aplicáveis no treinamento do papel

do educador no processo de sua formação profissional.

5.2.1.Apreensão do Conhecimento. As já relatadas experiências de Lewin

permitiram o desenvolvimento de uma nova mentalidade pedagógica em

que se destacam três princípios: no primeiro, o grupo (classe) não é

concebido como ambiente de competição, mas sim como ele mesmo, um

fato de cooperação, sendo por isso um objeto de sua própria instrução; o

segundo preceitua que o papel do monitor (professor) é motivar o grupo,

controlar seu funcionamento e seus resultados, e ajudá-los a definir suas

dificuldades; por fim o terceiro implica num método pedagógico ativo. Ou

seja, nele os “alunos“, através de suas próprias experiências, devem chegar

ao conhecimento.

Observar que a tríade ambiente, educador, educando se articula

em momentos considerados ideais por alguns educadores, para o processo

ensino-aprendizagem, ou seja, momentos fecundos em que se sente no

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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aluno a tensão por conhecer, em que se percebe a ruptura do equilíbrio

em sua visão e compreensão do mundo que o rodeia, e com isso, o

surgimento do interesse para recuperar esse equilíbrio. Nesses

momentos, depois de surpreender-se ou desconcertar-se, o aluno começa

a perguntar, e as questões que formula são autênticas, porque são

espontâneas e, por essa mesma razão, provocadoras de novos interesses

[36: p. 47].

Ainda sobre isso, é interessante se ressaltar que na literatura

dedicada à educação na perspectiva construtivista não se encontram

referências bibliografias relativas a Kurt Lewin. No entanto, foi ele quem

demonstrou, pela primeira vez, o valor da principal da tese construtivista: o

ser humano nasce com potencialidades para aprender. Mas este potencial

só se desenvolverá na interação com o mundo, na experimentação com o

objeto de conhecimento, na reflexão sobre a ação [37: p. 94].

Quanto às muitas outras referências bibliográficas do

Construtivismo, são principalmente citados os trabalhos em Epistemologia

Genética do psicólogo suíço Jean Piaget. Porém, é importante se saber que

Piaget apenas propõe um projeto estruturalista e, portanto, gestáltico para

o desenvolvimento cognitivo humano; não sendo essa sua proposta, de

modo direto como no caso dos trabalhos de Lewin, uma metodologia

aplicável aos trabalhos pedagógicos com grupos humanos.

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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5..2.2. Métodos para Formação de Educadores. A metodologia constitui uma

dimensão pedagógica que, provavelmente, poderia ser mais beneficiada

com a utilização de técnicas psicodramáticas.

A dúvida expressa no “provavelmente poderia ser” se justifica

quando escutamos a educadora argentina Maria Alicia Romaña lamentar-se

que, em geral, os professores se formam apenas baseando-se em sua

intuição, em seu afeto por crianças e adolescentes e nos estereótipos de

professores introjetados em suas vivências como alunos. Além disso, lhes

são oferecidas fórmulas ou receitas sobre como deve ser um professor, o

que deve ou o que não deve fazer. (...). Se em vez desses elementos que,

com pequenas variações, intensificam-se nas cadeiras do último ano de

formação de educadores, trabalhássemos com role-playing (treinamento

de papéis), o futuro professor teria a possibilidade de elaborar suas

expectativas e seus temores. Tomaria também conhecimento de suas

idealizações com relação à futura profissão, e perceberia, finalmente, com

maior objetividade, os limites de sua tarefa como educador [36: p. 53].

5.3. Administração. Se no campo da saúde é onde se verificam as mais

auspiciosos experiências de aplicabilidade da Dinâmica Grupal, é no campo

administrativo onde mais se universalizou a sua ideologia.

A história desse processo de universalização tem dupla entrada: uma

ocidental, outra oriental. Na cultura ocidental, o primeiro passo para o

reconhecimento da importância da Dinâmica Grupal na área da

administração de empresas foram as pesquisas realizadas, em 1928, na

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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usina de Hawthorne. Como já historiado, essas pesquisas constataram,

cientificamente, que os pequenos grupos de trabalho tendem a engendrar

estruturas informais nas suas relações, havendo com isso profundas

mudanças quanto ao significado do trabalho, do rendimento e das relações

formais e hierarquizadas das áreas de produção empresarial.

5.3.1. Teoria Z. Do Oriente, vem a grandiosa contribuição da cultura Zen,

uma sabedoria milenar que humaniza a administração de empresas no

Japão. Sobre isso, W. Ouchi, um japonês naturalizado norte-americano,

publicou um livro sobre o que ele denominou de Teoria Z. Essa teoria serve

para explicar alguns dos principais procedimentos que levaram ao

proverbial êxito de grandes grupos econômicos japonesas, os quais Ouchi

chamou de empresas do tipo Z, por que nelas a “democraticidade” e a

integração são considerados um fator de eficiência, e daí estimula-se a

participação dos empregados nas decisões da diretoria e acionam-se

vários mecanismos para que a competitividade característica do ambiente

de trabalho dê lugar à cooperação durante o expediente e ao coleguismo

nos momentos de lazer [38: p. 336].

Esses dois movimentos de orientação geográfica e cultural diferentes

implicaram em qualificativas mudanças no campo da administração de

empresas na contemporaneidade. Mudanças essas que, tanto do ponto de

vista prático como do conceitual, podem representar um conjunto de

rupturas de grande relevância em relação ao paradigma clássico de

organização empresarial [39: p. 16].

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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Desse modo, hoje é trivial afirmar que, do ponto de vista técnico, no

setor de recursos humanos do mundo empresarial predominam os

postulados do movimento de relações humanas veiculados através da teoria

e da prática grupal - por exemplo, contemporaneamente coloca-se como

um requisito de eficácia a utilização de métodos da Dinâmica Grupal

durante o processo de recrutamento, seleção, treinamento e

desenvolvimento de pessoal em grandes empresas produtivas.

Mas não é só na área da administração propriamente dita que a

ideologia do trabalho grupal tem predominado, também já acontecem

auspiciosas experiências no campo da organização do trabalho socialmente

produtivo.

Apenas para melhor situar o alcance da afirmativa do parágrafo

anterior, apresenta-se dados de uma concepção, a Sociotécnica, e

exemplifica-se com um fato referente à aplicabilidade de um dos postulados

dessa concepção, qual seja, a de grupos produtivos semi-autônomos.

5.3.2. Sociotécnica. Essa proposta surge a partir da década de 50 com

base em estudos realizados por pesquisadores reunidos no mesmo

Instituto Tavistock de Relações Humanas de Londres. Ao contrário do

modelo de produção clássico que, elaborado por Frederick Taylor e Henry

Ford no início do século XX, está fundamentado no trabalho individualizado,

a escola sociotécnica procura desenvolver projetos conceituais e

intervenções práticas com fundamentos nos trabalhos em grupo.

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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O início do desenvolvimento dessa abordagem deu-se na década

de cinqüenta, contudo observa-se que somente a partir dos anos 90 é que

houve possibilidades de difusão do princípio sociotécnico centrado na

idéia de grupos semi-autônomos na produção. Também houve condições

para o surgimento de metodologias mais detalhadas e sistemáticas (por

exemplo, Total Quality Control-TQC) para implantação dessa modalidade

de trabalho em grupo [39: p. 29].

Diversas experiências com aplicação dos princípios sociotécnicos

do trabalho em grupo na produção industrial já foram realizadas. Nesse

sentido, uma experiência considerada paradigmática acontece com a

empresa sueca Volvo.

Nessa empresa automobilística, as mudanças no processo social

de produção culminaram numa experiência que já se desenvolve desde

1989 e que pode ser resumida no dístico: “Na Volvo, grupos de operários

montam carros do começo ao fim”.

A Volvo é uma empresa que historicamente tem se notabilizado

por inovações na área da organização do trabalho. A partir dos anos 70

essas inovações começam a ser implantadas em sua produção

automobilística. Nesse período, embora não tenha abandonado as linhas

de montagem, introduziu “mini-linhas, separadas por buffers de produtos

em processo, como estratégia para possibilitar que grupos semi-

autônomos pudessem gerir de maneira mais independente cada uma

dessas “mini-linhas” [39: p. 38].

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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No mencionado ano de 1989 foi aberta, em uma de suas unidades

produtivas, uma planta industrial com esquema de organização baseado

em grupos semi-autônomos. Nessa planta, que atualmente encontra-se

voltada para a fabricação de carros esportivos, a autonomia e o trabalho

em grupos são prioritários, e os produtos, automóveis no caso, são

montados do começo ao fim, em fases sucessivas - docas [39: p. 40].

As principais características dessa planta são os poucos níveis

hierárquicos; o reduzido staff na área de serviços de apoio, com grande

parte das atividades desses setores sendo desenvolvida pelos próprios

grupos; o processo de gestão que se baseia no estabelecimento de metas

e resultados de período; e o auto-controle das partes responsáveis pelo

dia-a-dia da produção.

Enfim, é preciso salientar que essa experiência tem enfrentado algumas

dificuldades para sua consolidação. Isso se verifica especialmente quanto

ao fato de que a estratégia de sua produção não se coadunou com a dos

produtos a ela designada [39: p. 44]. No entanto, com base em seu

desenvolvimento, tem se observado o valor dos grupos semi-autônomos,

e apontado para sua viabilidade em outros tipos de sistemas de produção

[39: p. 45].

5.4. Serviço Social. Essa área foi uma das primeiras a reconhecer

explicitamente que os grupos podem ser orientados de forma a obterem dos

seus participantes as modificações desejadas [24: p. 15].

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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Apesar desse pioneirismo, observa-se que, infelizmente, ainda são

pouco aproveitados os muitos recursos que a Dinâmica Grupal coloca a

disposição do trabalho que o Serviço Social realiza para que os indivíduos e os

grupos socialmente necessitados de assistência sejam protegidos e

recuperados em sua dignidade.

Esse fato é bem evidenciado e criticado especialmente no Trabalho

Social realizado na América Latina. Quanto a isso, Ezequiel Ander-Egg, um

autor argentino relacionado ao Serviço Social, desvenda uma realidade com

os seguintes termos: uma questão que vejo no trabalho social latino-

americano é a do uso não-dialético do marxismo. O manualismo e o discurso

ideológico oco de alguns trabalhos me parecem deprimentes. Às vezes se

debatem em pura tautologia, não acrescentam absolutamente nada ao

conhecimento da realidade... Há livros de Trabalho Social escritos por

trabalhadores sociais que não citam uma única experência de Trabalho

Social e o fazem com abundância no referente a livros marxistas. Querem

ser científicos mas (...). Em vez disso, as questões que lhe concernem são

tratadas de passagem, ou se inserem em um discurso teórico que nada

acrescenta à compreensão da realidade e nem oferece instrumentos para

atuar sobre ela [40: p. 161/162].

Porém, nos Estados Unidos e Europa as técnicas e esquemas

metodológicos da Dinâmica Grupal são incorporadas pelo Serviço Social

fazendo parte do seu projeto de ação social e de resolução de problemas

coletivos.

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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Um exemplo notável disso está na incorporação da lógica lewiniana da

pesquisa-ação nos procedimentos metodológicos do trabalho social. Assim a

metodologia da pesquisa-ação tem sido utilizada para: a) identificar

problemas relevantes dentro da situação investigada; b) estruturar a

explicação dos problemas; c) definir um programa de ação para a resolução

dos problemas escolhidos como prioritários; d) acompanhar os resultados

da ação [41: p. 138].

5.4.1. Serviço Social de Grupos-SSG. O principal representante dessa

concepção é Natálio Kisnerman, um trabalhador social da Argentina que,

influenciado pelos pioneiros trabalhos sociais de Mary Richmond e tendo como

pressupostos os conhecimentos da psicanálise, iniciou, na década de 60, uma

investigação operacional sobre os processos de grupo e suas aplicações

terapêuticas a nível de comunidades.

O esquema teórico e operacional do SSG ainda está em fase de

estruturação. Para finalizar este capítulo, apresenta-se uma interessante

classificação de grupo formulada por Kisnerman, a qual, certamente é

representativa de um grande valor heurístico para a idéia do SSG: aceitamos

uma divisão em grupos orientados para o crescimento, pela necessidade de

ajuda sentida por seus membros, e grupos orientados para a ação social,

nos quais os membros necessitam de auxílio para conseguirem um bom

padrão de relacionamento com os outros, em vista dos quais orientam sua

ação. Os primeiros são os grupos de tratamento, recreação, discussão,

aprendizagem. Os segundos são os grupos de trabalho, de comunidade,

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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institucionais (sociedades de fomento, de vizinhos, comissões etc). O

crescimento do grupo ocorre em ambos, no primeiro de forma direta, como

objetivo metodológico básico; no segundo de forma indireta, pois se procura

principalmente o crescimento dos que recebem a ação executada pelo grupo

[42: p. 114].

6. REFERÊNCIAS

1] MORENO, J. L. - Quem Sobreviverá? Fundamentos da Sociometria,

Psicoterapia de Grupo e Sociodrama. Volume 1. Goiânia: Dimensão, 1992

2] AMADO, Gilles; GUITTET, André - A dinâmica da comunicação nos

grupos. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

3] COURTNEY, Richard. Jogo, teatro & pensamento: as bases intelectuais do

Teatro na Educação. São Paulo: Perspectiva, 1980.

4] NAFFAH NETO, Alfredo. Psicodrama: descolonizando o imaginário (um

ensaio sobre J.L.Moreno). São Paulo: Brasiliense, 1979.

5] LEWIN, Kurt. Teoria Dinâmica da Personalidade, (tradução de Álvaro

Cabral). São Paulo: Cultrix, 1975.

6] MIRADOR - Enciclopédia Mirador Internacional. São Paulo-Rio de Janeiro:

Enciclopaedia Britannica do Brasil, 1979. (Verbetes: Educação, Estrutura,

Gestalt, Grupo, Sociologia)

7] CARNEIRO, Francisco Danúzio de Macêdo. Curso: Liderança grupal. In:

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


1

CONGRESSO BRASILEIRO DE PSIQUIATRIA, 140, 1996, Belo Horizonte.

(Impresso, 13 páginas)

8] PICHON-RIVIÈRE, Enrique - O processo grupal. São Paulo: Martins Fontes,


1982.
9] FREUD, Sigmund - Psicologia de grupo e a análise do ego. Ed. Standard

Brasileira, vol. XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 1980.

10] GRINBERG, Leon; SOR, Dário; BIANCHEDI, E. de T. - Introdução às Ideias

de Bion. Rio de Janeiro: Imago, 1973

11] KAPLAN, Haroldo I. SADOCK, Benjamin J. Compêndio de psicoterapia de

grupo, (tradução de José Octávio de A. Abreu e Dayse Batista, revisão de

Adonay Genovese Filho). Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

12] CARNEIRO, Francisco Danúzio de Macêdo. Síntese teórica e reflexões

sobre as limitações e aplicabilidade da técnica do grupo operativo. Revista

de Humanidades, Ano 6 - N. 4. Fortaleza: Centro de Ciências Humanas da

UNIFOR, 1989.

13] BURKE, Peter – Vico, (tradução de Roberto Leal Ferreira). São Paulo:

Editora da Universidade Estadual Paulista, 1997. (Ariadne).

14] ARON, Raymond – As etapas do pensamento sociológico, (tradução de

Sergio Bath, revisão de Áureo Pereira de Araújo). São Paulo: Martins

Fontes, 1990.

15] MUCCHIELLI, Roger – A dinâmica de grupo, (tradução de Renato Couto

Bacelar Nunes). Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1979.

16] BAUDOUIN, Jean – Karl Popper. Rio de Janeiro: Edições 70, 1992.

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


1

17] PY, Luiz Alberto et al. Grupo sobre grupo. Rio de Janeiro: Rocco, 1987.

18] MAXIMIANO, Antônio César Amaru – Introdução à administração. São

Paulo: Atlas, 1990.

19] MORENO, Jacob Lévy – Psicoterapia de grupo e psicodrama: introdução

à teoria e à praxis, (tradução de Antônio C. Mazzaroto Cesarino Filho). São

Paulo: Mestre Jou, 1974.

20] MORENO, Jacob Lévy – Fundamentos do psicodrama, (tradução de Maria

Sílvia Mourão Neto, revisão técnica de Paulo Alberto Topal). São Paulo:

Summus, 1983.

21] MARTÍN, Eugenio Garrido – J. L. Moreno: psicologia do encontro,

(tradução de Maria de Jesus A. Albuquerque). São Paulo: Livraria Duas

Cidades, 1984.

22] DRUMMOND, Henry – O Dom supremo, (tradução e adaptação de Paulo

Coelho). Rio de Janeiro: Rocco, 1991.

23] BUSTOS, Dalmiro M. - O teste sociométrico: fundamentos, técnica e

aplicações. São Paulo: Brasiliense, 1979.

24] CARTWRIGHT, Dorwin; ZANDER, Alvin - Dinâmica de grupo: pesquisa e

teoria. São Paulo: EPU/EDUSP, 1975.

25] WEIL, Pierre; SCHUTZENBERGER, Anne Ancelin; GARCIA, Célio et al. –

Dinâmica de grupo e desenvolvimento em relações humanas. Belo

Horizonte: Itatiaia, 1967.

26] SAIDON, Osvaldo et al. – Práticas grupais. Rio de Janeiro: Campus, 1983.

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


1

27] JOHNSON, Allan G. Dicionário de Sociologia: guia prático da linguagem

sociológica, (tradução de Ruy Jungmann, consultoria de Renato Lessa). Rio

de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

28] MARÉ, P. B de – Perspectiva em psicoterapia de grupo, (tradução de

Reynaldo Bairão). Rio de Janeiro: Imago, 1974.

29] PIAGET, Jean - O estruturalismo. São Paulo-Rio de Janeiro: Difel, 1979.

30] HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA - Projeto de grupo operativo com

pacientes do serviço de diálise renal. Fortaleza, 1998. (Impresso, 02 pág.)

31] OSÓRIO, Luiz Carlos et al. – Grupoterapia hoje. Porto Alegre: Artes

Médicas, 1986.

32] ALCOHOLICS ANONYMOUS WORLD SERVICES, INC – Alcoólicos

anônimos atinge a maioridade: uma breve história de A.A, Primeira

Edição. Impresso no Brasil, 1985.

33] ALCOHOLICS ANONYMOUS WORLD SERVICES, INC – As doze

tradições. Centro de Distribuição de Literatura A.A. para o Brasil, 1976.

34] PAGÉS, Max – A vida afetiva nos grupos. Coleção Concientia, n. 1, 1974,

Ed. Vozes, Petrópolis, RJ.

35] ALCOHOLICS ANONYMOUS WORLD SERVICES, INC – Os doze passos.

Centro de Distribuição de Literatura A.A. para o Brasil, 1972.

36] ROMAÑA, Maria Alicia - Psicodrama pedagógico: a pedagogia do drama.

Campinas: Papirus, 1996.

37] GOULART, Iris Barbosa et al. – A educação na perspectiva construtivista:

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


1

reflexões de uma equipe interdisciplinar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

38] NOGARE, Pedro Dalle – Humanismos e anti-humanismos: introdução à


a
antropologia filosófica, 10 Edição. Petrópolis: Vozes, 1985.

39] MARX, Roberto – Trabalho em grupos e autonomia como instrumentos de

competição: experiência internacional, casos brasileiros, metodologia da

implantação. São Paulo: Atlas, 1997.

40] SERVIÇO SOCIAL E SOCIEDADE. São Paulo: Cortez, ano III, n. 9, Ago

1985, pag 160-3.

41] THIOLLENT, Michel – Notas para o debate sobre a pesquisa-ação. Serviço

Social e Sociedade, N. 10, Ano IV, 1982, Cortez Editora.

42] KISNERMAN, Natalio – Serviço social de grupo: uma resposta ao nosso

tempo, (tradução de Ephraim Ferreira Alves). Petrópolis: Vozes, 1980.

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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7. O AUTOR

Francisco Danúzio de Macedo Carneiro

Sou cearense, e tenho 46 anos de idade.


Na minha biografia há um dado considerado bastante peculiar – a minha
trajetória de vida pessoal se baseia em algo que também é fundamental no
meu histórico profissional – isto é: falo da grupalidade humana e do seu
corolário: a dinâmica grupal.
Em termos pessoais, em minha vida se complementam duas ordens de
fatores, que, de um modo estrito e explícito, estão relacionados ao coletivo
grupal. Em primeiro lugar, faço parte de uma numerosa estrutura familiar – só
na minha familiar nuclear, além do casal de pais, havia nove filhos, e
exatamente no meio, como quinto filho, nasci eu. Além do mais, essa família
ainda se insere numa complexa ramificação de outras famílias - verdadeiros
clãs sertanejos, como os Macêdo radicados no Cariri, um verde vale no sul do
Ceará. Em segundo lugar está o fato de que também nesse vale situa-se
Juazeiro do Norte. Nessa cidade passei toda a minha infância, adolescência e,
pelo fato de lá ainda residirem os meus pais, continuo a visita-la. Sempre que

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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a visito, renovo a oportunidade de vivenciar, “saboreando a emoção” de


participar de uma intensa movimentação de base social – as “romeiradas” de
Juazeiro acontecem quando múltiplas comunidades, muitas vezes e em muitos
lugares se somam em multidões reunidas em torno de uma mística
religiosidade cristã, com matriz mariana e, localmente, fundamentada na
mítica presença do Padre Cícero.
Em termos profissionais, sou funcionalmente psiquiatra – na atualidade o
meu principal campo de atuação está no Ambulatório de Psiquiatria Infanto-
Juvenil do Hospital Geral de Fortaleza (HGF, 1996- ). Contudo, na história
dessa formação profissional merece ser destacado que exerço outras três
funções, as quais, também de maneira estrita e explícita, estão relacionados
ao campo grupal: (1) Exerço atividades profissionais no magistério.
Atualmente ensino apenas em cursos de pós-graduação na área médica – por
exemplo: no momento, ministro a disciplina Metodologia Científica para uma
Publicação na Área Médica no curso de Especialização em Acupuntura dado
pela Sociedade Médica Brasileira de Acupuntura em convênio com a
Universidade Estadual do Ceará (SOMA/UECE, 1999-?). No entanto, ainda
quando aluno do curso de Medicina na Universidade Federal do Ceará (UFC,
1975-1981), era professor secundarista (Colégio Brasil, 1977-1981); e, já
como graduado, fui professor de Dinâmica Grupal no Curso de Psicologia da
Universidade de Fortaleza (UNIFOR, 1987-1992); (2) Sou mestre em Saúde
Pública pela Universidade Estadual do Ceará (UECE, 1994-1997). Por ter
defendido tese no campo da Epidemiologia, que é a medicina do coletivo,
ensino essa matéria – entre outros, desenvolvo um curso de Epidemiologia
Clínica na Residência de Clínica Médica do Hospital Geral de Fortaleza (HGF,
1998-?); (3) Tenho formação psicodramática pela Federação Brasileira de
Psicodrama (FEBRAP, 1981-1985) e, com essa técnica, tenho dirigido grupos
terapêuticos com adolescentes em meu consultório particular.

Dinâmica Grupal: Conceituação, História, Classificação e Campos de Aplicação


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Encerro ressaltando que ainda há outras três condições profissionais que,


agregadas à toda formação anterior, fortalecem os meus vínculos com o
trabalho grupal: (1) Como desdobramento de minha prática no Psicodrama,
me aperfeiçoei em Sociometria – sou didata dessa disciplina na Fundação
Instituto do Homem (FIH, 1996-?), uma das instituições de formação
psicodramática de Fortaleza; (2) Como modelo teórico para a Dinâmica Grupal,
adotei a teoria do Grupo Operativo. Assim, desde 1983, tenho trabalhado com
esse instrumento interdisciplinar e planificado, tendo sido o introdutor da
técnica nas seguintes instituições: Minha Escola Profissionalizante da
Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE, 1983-1985);
Comunidade Terapêutica Infanto Juvenil do Hospital de Saúde Mental de
Messejana (HSMM, 1990-1995); Hospital Geral de Fortaleza (HGF, 1996-?) (3)
Por opção política, e por necessidade econômico-social tornei-me
cooperativista. Atualmente, sou cooperado de duas Cooperativas - Cooperativa
de Trabalho Médico de Fortaleza (UNIMED, 1993); Cooperativa de Economia e
Crédito Mútuo de Médicos de Fortaleza (UNICRED, 1995-?). Também sou
fundador e presidente da Cooperativa dos Psiquiatras do Ceará (COOPEC,
2000).

Endereço Para Correspondência


Condomínio Clinics, Rua Coronel Linhares, 1741
Aldeota, CEP 60170-241, sala 304, fone (0XX85) 224.8767.

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