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br/2020/08/por-que-os-conservadores-nao-conseguem-
rebater-os-argumentos-de-marx/
Se você quer enfurecer um intelectual conservador, experimente afirmar que as teorias de Karl
Marx têm algum valor. Ou pior, argumente que as ideias de um homem que escreveu vários
livros sobre os mais diversos assuntos, de filosofia alemã às premissas da economia política
clássica, teriam mais nuances que “os ricos são maus, os pobres são bons”.
Mesmo décadas após o fim da Guerra Fria, muitos comentaristas de direita continuam não se
dando ao trabalho de oferecer refutações aos argumentos de Marx que tenham alguma
consistência. Jordan Peterson já descreveu o marxismo como uma “teoria do mal” e fez seu
nome criticando um certo “marxismo pós-moderno”, mesmo admitindo durante um debate que
não havia lido muito mais que o Manifesto Comunista.
Em sua última obra, Don’t Burn This Book (“Não queime este livro”), Dave Rubin compara o
socialismo ao nazismo e ao fascismo, alegando que Benito Mussolini fora “criado com O Capital,
de Marx” – ignorando todos os esforços do líder fascista para aprisionar e silenciar marxistas e
outros “inimigos da nação”. Mais recentemente, o livro How To Destroy America in Three Easy
Steps (“Como destruir os EUA em três passos simples”), de Ben Shapiro, recicla antigos clichês
sobre o “absurdo” da teoria do valor-trabalho de Marx, sem perceber a ironia de elogiar John
Locke por ele “apontar corretamente como a propriedade é uma mera extensão do trabalho;
quando o homem altera o estado natural de um objeto, misturando com o seu trabalho, ele
agrega um pouco de si a este objeto e, consequentemente, faz dele sua propriedade”.
Essa tendência de criticar Marx sem, de fato, abordar suas ideias é bastante notável,
principalmente se pensarmos que Peterson, Rubin e Shapiro estão sempre repetindo feito
papagaios clichês sobre a importância do trabalho árduo e do debate acalorado. Uma maneira
fácil de impugná-los seria simplesmente insistir em que eles não façam jus ao próprio discurso,
entre uma apresentação e outra em canais conservadores.
Mas pretendo adotar uma abordagem um pouco diferente e sugerir que os conservadores evitam
lidar com a obra de Marx de forma séria não só porque ele criticava o capitalismo, lançava
polêmicas sobre religião ou por que ele suspeitava da hierarquia das classes, mas porque sua
obra expôs profundas contradições das amadas doutrinas conservadoras.
Dois exemplos dos mais evidentes: a inclinação conservadora para elogiar o capitalismo e, ao
mesmo tempo, lamentar o declínio das tradições; e a tendência de invocar uma “natureza
humana” imutável para açoitar críticos do capitalismo e, ao mesmo tempo, afirmar que os
indivíduos devem ser compreendidos de acordo com as tradições e comunidades em seu
entorno.
SOBRE O AUTOR
Matt McManus é professor visitante de política no Whitman College. Ele é o autor de "The Rise of
Post-Modern Conservatism and Myth" e co-autor de "Mayhem: A Leftist Critique of Jordan
Peterson".