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SUPREMO CONSELHO DO GRAU 33

DO R∴E∴E∴A∴ DA MAÇONARIA

PARA A REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

INSPETORIA LITÚRGICA 11ª REGIÃO – SP

A∴R∴L∴S∴ DE PERFEIÇÃO 19 DE JUNHO

TRABALHO SOBRE O GRAU 6 – SECRETÁRIO ÍNTIMO

Ir∴ João Maluf Franco


Secretário Íntimo

O sexto grau do Rito Escocês Antigo e Aceito é chamado de


secretário íntimo. O título evoca de imediato a ideia de intimidade e
lealdade que devem conter em todas as grandes parcerias e as mais
frutíferas amizades que se formam entre duas ou mais pessoas, ou,
indo um pouco mais longe, se quisermos estender este conceito às
relações que se formam entre o mesmo conjunto de elementos a
nível coletivo.
Na Maçonaria, amizade, fidelidade, lealdade e devoção
devem sempre ser preservadas como as principais virtudes a serem
cultivadas. A propósito, grupos sem essas virtudes não são usados
como elos entre os membros. É neles que se encontra a força da
instituição e suas garantias de longa data, pois cada vez que é
atacada, e isso continua acontecendo, ela, a instituição, encontra
sua defesa no poder da egrégora e lhe confia proteção. O 6º grau do
REAA é significativo por uma razão particular. Diz-se que faz
referência a uma tradição atribuída a um servo do rei Salomão.
Acredita-se que esse servo, chamado Joaben, tenha sido um
secretário leal durante os tratados que o sábio rei hebreu havia
estabelecido com o rei de Tiro para ajudar na construção do Templo
de Jerusalém. Como primeiro secretário do rei, Joaben era
responsável por manter a privacidade do rei, filtrando seus visitantes
e selecionando quais assuntos deveriam, ser levados a ele.
Por isso, ele foi referido como o secretário íntimo, e o
consequente interrogatório que aparece como trolhamento do grau:

P - Sois vós secretário Intimo?


R: - O meu zelo foi tomado como curiosidade.                       
P: - O que vos aconteceu?
R: - A minha vida correu grande perigo.
P: - Onde fostes recebido?
R: - Na presença e a pedido do Rei de Tiro.
P:- O que aprendestes?
R: - A ser zeloso, fiel, desinteressado e bondoso.
P: - De onde vindes?
R:- De qualquer parte.
P:  Onde ides?
R:- A qualquer parte.    
Esse tipo de interrogatório decorre da crença costumeira de
que o rei Salomão enviou uma comissão liderada por Joaben ao rei
Hiram de Tiro para discutir o fornecimento de materiais e
trabalhadores qualificados necessários para a construção do templo
em Jerusalém. De acordo com o protocolo padrão, Joaben perguntou
sobre vários aspectos da economia e política fenícia, como seria de
se esperar de qualquer embaixador que buscasse estabelecer uma
aliança. Infelizmente, o rei Hiram sentiu que esse pedido era uma
violação da autonomia de sua nação, levando à prisão de Joaben e à
ameaça de execução. Essa crise diplomática exigiu a intervenção
direta do rei Salomão com o governante fenício. Após o
restabelecimento da paz e o devido esclarecimento dos fatos, o rei
Hiram concordou em libertar Joaben e negociar com ele o
fornecimento de materiais essenciais e trabalhadores qualificados,
incluindo o mestre construtor Hiram Abiff, para a construção do
templo. Não há relato desse evento específico na Bíblia ou em
qualquer outro documento histórico. No entanto, tanto as crônicas
bíblicas quanto os relatos de Flávio Josefo* fazem menção a isso.
Segundo esses registros, Joaben negociou com o rei fenício a troca
de materiais, trabalhadores e técnicos de Hiram de Tiro pela entrega
de vinte cidades na região da Galileia. Porém, ao visitar essas
cidades, o rei Hiram acusou Joaben de enganá-lo. As cidades eram
na verdade apenas ruínas no deserto. Furioso com a desonestidade
de Joaben, Hiram foi pessoalmente ao palácio de Salomão sem
seguir o protocolo adequado. O zeloso secretário impediu a entrada
de Hiram. Ao chegar, Hiram expressou insatisfação a Salomão em
relação ao tratamento que havia recebido de Joaben, secretário de
Salomão. Hiram exigiu que Joaben fosse punido por seu
comportamento desrespeitoso. Apesar das reclamações de Hiram, a
inequivoca sabedoria de Salomão prevaleceu, e ele finalmente
convenceu o rei fenício a reconsiderar sua posição sobre as atitudes
de Joaben. A lealdade e o zelo de seu devotado servo foram a fonte
de sua origem.
Toda a filosofia por trás deste grau é transmitida através
de um diálogo, no qual a instrução pretendida para o aluno é
esclarecida. Subir a Escada de Jacó não deve ser um mero ato de
curiosidade, mas sim uma busca de auto aperfeiçoamento. Isso
requer um fervor para o conhecimento a ser adquirido e para os
interesses da Fraternidade. Aqueles que são meramente curiosos
muitas vezes vacilam ao longo do caminho e podem até fazer mau
uso do conhecimento que adquirem. É importante distinguir entre
zelo e curiosidade; o primeiro é benéfico e facilita o verdadeiro
aprendizado, enquanto o último pode ser perigoso e até fatal. Como
maçom, a pessoa compartilha os segredos e a intimidade da
irmandade. Consequentemente, a responsabilidade do indivíduo
aumenta à medida que ele progride na escada. O maçom é
conhecido como o homem universal, obrigado a viajar para todo e
qualquer local. Por isso, inevitavelmente enfrentará uma série de
provas que desafiarão seu compromisso com a Fraternidade e
colocarão à prova suas crenças aprendidas na prática maçônica.
Esses testes desafiarão sua lealdade, bondade e sabedoria. Além
disso, ele frequentemente será solicitado a divulgar os segredos que
compartilha com seus irmãos maçônicos e, se for mais movido pela
curiosidade do que pela dedicação, pode ser incapaz de resistir à
pressão. Este grau é considerado uma deturpação da fidelidade
devido aos desafios que o maçom pode enfrentar. É importante
lembrar que a Maçonaria tem sido consistentemente submetida a
perseguição e difamação como instituição, muitas vezes devido à
confusão com seitas religiosas ou grupos com intenções
inapropriadas. A história da organização é marcada por membros
sendo perseguidos, presos e até torturados por seu compromisso de
promover ideias de liberdade, igualdade e fraternidade.
Infelizmente, esse estado de coisas ainda prevalece na sociedade
atual, onde a tirania, a intolerância, o preconceito e o fanatismo
continuam a existir. Sempre haverá aqueles que procuram suprimir
a busca da virtude, da liberdade e da luta por boas causas em favor
do ganho pessoal ou da segurança física. O Maçom deve permanecer
firme, leal, apaixonado e inabalável para ganhar a distinção de
Secretário Íntimo no sexto grau. O interrogatório menciona uma
alegoria em que o maçom é considerado o "homem de todos os
lugares", capaz de viajar de um lugar para qualquer local. Essa ideia
parece ser um aceno para os Rosa-cruzes, que eram considerados
"cidadãos do universo", de acordo com sua mitologia fraterna. Este
conto deriva da lenda de Cristhian Rosencreutz, que dizem ter
viajado ao redor do mundo em busca dos grandes segredos da
natureza. No início do século XVII, os alquimistas Sheton e
Sendivogius expandiram essa lenda em um trabalho convincente
intitulado Tratado da Natureza, no qual eles se referiam a si mesmos
como cosmopolitas. A alegoria não apenas alude aos maçons
operativos, mas também destaca seu privilégio de trabalhar em
diferentes cidades e localidades. Esses maçons frequentemente
formavam grupos itinerantes e mantinham seus segredos envoltos
em silêncio. Este segredo e mística, sempre estiveram associados
aos habilidosos Trabalhadores da Arte Real, que eram vistos como
cidadãos de todos os lugares. A história de Joaben é um exemplo
perfeito de como uma tradição bíblica pode ser integrada com
alegorias herméticas e temas intimamente ligados à Maçonaria
operativa. É crucial ver essas alegorias como didáticas por natureza,
transmitindo uma lição de moral por meio da linguagem simbólica.
Esta abordagem permite a integração dos aspectos espirituais e
históricos da Maçonaria. O primeiro traça suas raízes desde o início
da civilização, enquanto o último preserva a arte real de construção
que surgiu nas guildas medievais. Progredir nos níveis dos
ensinamentos maçônicos permite a aquisição de virtudes que
conduzem à perfeição. Um Mestre Perfeito, dedicado, discreto,
diligente e leal, que adquiriu conhecimento dos segredos dos Graus
Inefáveis, estará então equipado para compreender o verdadeiro
significado da Justiça. Consequentemente, os graus subsequentes,
de sete a nove, terão como objetivo transmitir essa lição crucial.

Bibliografia:
Recapitulação do livro "Conhecendo a Real Arte" de João
Anatalino e publicado pela Editora Madras em 2007.
*Josefo (Flávio Josefo)

(Cerca de 37 d.C até cerca de 100 d.C.) Historiador judeu que


pertencia a uma família de sacerdotes. Josefo se tornou fariseu e
mais tarde foi nomeado pelo Sidério como comandante militar
durante a revolta dos judeus contra Roma. O seu nome de nascença
era José ben Matias (Yosef ben Mattityahu).

Josefo e seus homens foram derrotados pelos romanos em 67 d.C.,


na Galileia. Ele se rendeu, mas depois foi solto pelo comandante
romano Vespasiano, que mais tarde se tornou imperador. Seguindo o
costume da época, Josefo adotou o nome “Flávio”, que era o nome da
família de Vespasiano. A essa altura, Josefo já tinha reconhecido a
superioridade militar de Roma e até mesmo tentou servir como
intermediário entre os romanos e os judeus rebeldes durante o sítio
de Jerusalém. A cidade foi conquistada em 70 d.C. por Tito, filho de
Vespasiano. Depois disso, Josefo foi com Tito para Roma, onde se
dedicou a escrever. Entre as obras de Josefo estão A Guerra dos
Judeus, Antiguidades Judaicas, Resposta a Ápio e Autobiografia.

Josefo é considerado um historiador confiável, mas não infalível. Sua


obra ajuda a entender o contexto histórico de alguns relatos bíblicos
e dá informações importantes sobre a história judaica que não
aparecem em nenhum outro lugar. Com exceção da Bíblia, os escritos
de Josefo são a principal fonte de informação sobre o templo e a
cidade de Jerusalém no século 1 d.C. Em seus escritos, Josefo faz
referência a Jesus, a Tiago (meio-irmão de Jesus) e a João Batista.
Além disso, Josefo presenciou a destruição de Jerusalém e do templo,
e seu relato sobre esse acontecimento ajuda a entender como
algumas profecias bíblicas se cumpriram.

Vale de Ribeirão Preto-SP, 26 de maio de 2023

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