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PROCESSO PENAL

1. INQUÉRITO POLICIAL
1.1. CONCEITO, NATUREZA E CARACTERÍSTICAS
INQUÉRITO POLICIAL É UM PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO PRÉVIO,
QUE CONSISTE EM UM CONJUNTO DE DILIGÊNCIAS REALIZADAS PELA
POLÍCIA JUDICIÁRIA PARA A APURAÇÃO DE UMA INFRAÇÃO PENAL E SUA
AUTORIA, A FIM DE EVENTUALMENTE EMBASAR AÇÃO
A NATUREZA JURÍDICA DO IP É: PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO
PRÉVIO.
POLICIA ADMINISTRATIVA: PREVENTIVO. POLICIAMENTO OSTENSIVO.
PM, PP, PRF, PFF, PF,
POLÍCIA JUDICIÁRIA: REPRESSIVA. PF/PC
ASSIM, POR POLÍCIA JUDICIÁRIA PODEMOS ENTENDER A POLÍCIA
RESPONSÁVEL POR APURAR FATOS CRIMINOSOS E COLIGIR (REUNIR)
ELEMENTOS QUE APONTEM SE, DE FATO, HOUVE O CRIME E QUEM O
PRATICOU (MATERIALIDADE E AUTORIA). A POLÍCIA JUDICIÁRIA
É REPRESENTADA, NO BRASIL, PELA POLÍCIA CIVIL E PELA POLÍCIA
FEDERAL.
A POLÍCIA MILITAR, POR SUA VEZ, NÃO TEM FUNÇÃO INVESTIGATÓRIA,
MAS APENAS FUNÇÃO ADMINISTRATIVA (POLÍCIA ADMINISTRATIVA), DE
CARÁTER OSTENSIVO, OU SEJA, SUA FUNÇÃO É AGIR NA PREVENÇÃO DE
CRIMES, NÃO NA SUA APURAÇÃO!
NOS TERMOS DO ART. 4° DO CPP:
ART. 4 A POLÍCIA JUDICIÁRIA SERÁ EXERCIDA PELAS AUTORIDADES
POLICIAIS NO TERRITÓRIO DE SUAS RESPECTIVAS CIRCUNSCRIÇÕES E
TERÁ POR FIM A APURAÇÃO DAS INFRAÇÕES PENAIS E DA SUA AUTORIA.
O IP TEM NATUREZA DE PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO, E NÃO DE
PROCESSO JUDICIAL. MUITO CUIDADO COM ISSO!
O INQUÉRITO POLICIAL POSSUI ALGUMAS CARACTERÍSTICAS,
ATRELADAS À SUA NATUREZA. SÃO ELAS:
• O IP É ADMINISTRATIVO - O INQUÉRITO POLICIAL, POR SER
INSTAURADO E CONDUZIDO POR UMA AUTORIDADE POLICIAL, POSSUI
NÍTIDO CARÁTER ADMINISTRATIVO. O INQUÉRITO POLICIAL NÃO É FASE
DO PROCESSO! CUIDADO! O IP É PRÉ- PROCESSUAL! DAÍ PORQUE
EVENTUAL IRREGULARIDADE OCORRIDA DURANTE A INVESTIGAÇÃO NÃO
GERA NULIDADE DO PROCESSO.
• O IP É INQUISITIVO (INQUISITORIALIDADE) - A INQUISITORIALIDADE
DO INQUÉRITO DECORRE DE SUA NATUREZA PRÉ-PROCESSUAL. NO
PROCESSO TEMOS AUTOR (MP OU VÍTIMA), ACUSADO E JUIZ. NO
INQUÉRITO NÃO HÁ ACUSAÇÃO, LOGO, NÃO HÁ NEM AUTOR, NEM
ACUSADO. O JUIZ EXISTE, MAS ELE NÃO CONDUZ O IP, QUEM CONDUZ O
IP É A AUTORIDADE POLICIAL (DELEGADO). NO INQUÉRITO POLICIAL,
POR SER INQUISITIVO, NÃO HÁ DIREITO AO CONTRADITÓRIO NEM À
AMPLA DEFESA. COMO DISSEMOS, NO IP NÃO HÁ ACUSAÇÃO ALGUMA. HÁ
APENAS UM PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DESTINADO A REUNIR
INFORMAÇÕES PARA SUBSIDIAR UM ATO (OFERECIMENTO DE DENÚNCIA
OU QUEIXA). NÃO HÁ, PORTANTO, ACUSADO, MAS INVESTIGADO OU
INDICIADO (CONFORME O ANDAMENTO DO IP). EM RAZÃO DESTA
AUSÊNCIA DE CONTRADITÓRIO, O VALOR PROBATÓRIO DAS PROVAS
OBTIDAS NO IP É MUITO PEQUENO, SERVINDO APENAS PARA ANGARIAR
ELEMENTOS DE CONVICÇÃO AO TITULAR DA AÇÃO PENAL (O MP OU O
OFENDIDO, A DEPENDER DO TIPO DE CRIME) PARA QUE ESTE OFEREÇA A
DENÚNCIA OU QUEIXA.
CUIDADO! O JUIZ PODE USAR AS PROVAS OBTIDAS NO INQUÉRITO PARA
FUNDAMENTAR SUA DECISÃO. O QUE O JUIZ NÃO PODE É FUNDAMENTAR
SUA DECISÃO SOMENTE COM ELEMENTOS OBTIDOS DURANTE O IP. NOS
TERMOS DO ART. 155 DO CPP:
ART. 155. O JUIZ FORMARÁ SUA CONVICÇÃO PELA LIVRE APRECIAÇÃO DA
PROVA PRODUZIDA EM CONTRADITÓRIO JUDICIAL, NÃO PODENDO
FUNDAMENTAR SUA DECISÃO EXCLUSIVAMENTE NOS ELEMENTOS
INFORMATIVOS COLHIDOS NA INVESTIGAÇÃO, RESSALVADAS AS PROVAS
CAUTELARES, NÃO REPETÍVEIS E ANTECIPADAS.
OBS.
• OFICIOSIDADE – EM SE TRATANDO DE CRIME DE AÇÃO PENAL PÚBLICA
INCONDICIONADA, A AUTORIDADE POLICIAL DEVE INSTAURAR O
INQUÉRITO POLICIAL SEMPRE QUE TIVER NOTÍCIA DA PRÁTICA DE UM
DELITO DESTA NATUREZA. QUANDO O CRIME FOR DE AÇÃO PENAL
PÚBLICA INCONDICIONADA (REGRA), PORTANTO, A INSTAURAÇÃO DO IP
PODERÁ SER REALIZADA PELA AUTORIDADE POLICIAL
INDEPENDENTEMENTE DE PROVOCAÇÃO DE QUEM QUER SEJA. É CLARO
QUE, SE O MP JÁ DISPUSER DOS ELEMENTOS NECESSÁRIOS AO
AJUIZAMENTO DA AÇÃO PENAL, O IP NÃO PRECISA SER INICIADO. O QUE
O INCISO I DO ART. 5O QUER DIZER É QUE A AUTORIDADE POLICIAL TEM
O PODER-DEVER DE INSTAURÁ-LO, DE OFÍCIO, NO CASO DE CRIMES
DESTA NATUREZA (O QUE DETERMINARÁ A INSTAURAÇÃO, OU NÃO, SERÁ
A EXISTÊNCIA DE INDÍCIOS MÍNIMOS DA INFRAÇÃO PENAL E A EVENTUAL
UTILIDADE DO IP).
• OFICIALIDADE – O IP É CONDUZIDO POR UM ÓRGÃO OFICIAL DO
ESTADO.
• PROCEDIMENTO ESCRITO - TODOS OS ATOS PRODUZIDOS NO BOJO DO
IP DEVERÃO SER ESCRITOS, E REDUZIDOS A TERMO AQUELES QUE
FOREM ORAIS (COMO DEPOIMENTO DE TESTEMUNHAS, INTERROGATÓRIO
DO INDICIADO, ETC.). ESSA REGRA ENCERRA OUTRA CARACTERÍSTICA
DO IP, CITADA POR ALGUNS AUTORES, QUE É A DA FORMALIDADE.
• INDISPONIBILIDADE - UMA VEZ INSTAURADO O IP, NÃO PODE A
AUTORIDADE POLICIAL ARQUIVÁ-LO, POIS ESTA ATRIBUIÇÃO É
EXCLUSIVA DO JUDICIÁRIO, QUANDO O TITULAR DA AÇÃO PENAL ASSIM
O REQUERER.
• DISPENSABILIDADE - O INQUÉRITO POLICIAL É DISPENSÁVEL, OU SEJA,
NÃO É OBRIGATÓRIO. DADO SEU CARÁTER INFORMATIVO (BUSCA REUNIR
INFORMAÇÕES), CASO O TITULAR DA AÇÃO PENAL JÁ POSSUA TODOS OS
ELEMENTOS NECESSÁRIOS AO OFERECIMENTO DA AÇÃO PENAL, O
INQUÉRITO SERÁ DISPENSÁVEL. UM DOS ARTIGOS QUE FUNDAMENTA
ISTO É O ART. 39, § 5° DO CPP7
• DISCRICIONARIEDADE NA SUA CONDUÇÃO - A AUTORIDADE POLICIAL
PODE CONDUZIR A INVESTIGAÇÃO DA MANEIRA QUE ENTENDER MAIS
FRUTÍFERA, SEM NECESSIDADE DE SEGUIR UM PADRÃO PRÉ-
ESTABELECIDO. ESSA DISCRICIONARIEDADE NÃO SE CONFUNDE COM
ARBITRARIEDADE, NÃO PODENDO O DELEGADO (QUE É QUEM PRESIDE O
IP) DETERMINAR DILIGÊNCIAS MERAMENTE COM A FINALIDADE DE
PERSEGUIR O INVESTIGADO, OU PARA PREJUDICÁ-LO. A FINALIDADE DA
DILIGÊNCIA DEVE SER SEMPRE O INTERESSE PÚBLICO, MATERIALIZADO
NO OBJETIVO DO INQUÉRITO, QUE É REUNIR ELEMENTOS DE AUTORIA E
MATERIALIDADE DO DELITO.
• SIGILOSO - O IP É SEMPRE SIGILOSO EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS DO
POVO EM GERAL, POR SE TRATAR DE MERO PROCEDIMENTO
INVESTIGATÓRIO, NÃO HAVENDO NENHUM INTERESSE QUE JUSTIFIQUE
O ACESSO LIBERADO A QUALQUER DO POVO. TODAVIA, O IP NÃO É, EM
REGRA, SIGILOSO EM RELAÇÃO AOS ENVOLVIDOS (OFENDIDO,
INDICIADO E SEUS ADVOGADOS), PODENDO, ENTRETANTO, SER
DECRETADO SIGILO EM RELAÇÃO A DETERMINADAS PEÇAS DO
INQUÉRITO QUANDO NECESSÁRIO PARA O SUCESSO DA INVESTIGAÇÃO
(POR EXEMPLO: PODE SER VEDADO O ACESSO DO ADVOGADO A PARTES
DO IP QUE TRATAM DE REQUERIMENTO DE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA
FORMULADO PELO DELEGADO AO JUIZ).
DURANTE MUITO TEMPO HOUVE UMA DIVERGÊNCIA FEROZ NA DOUTRINA
E NA JURISPRUDÊNCIA ACERCA DO DIREITO DO ADVOGADO DE ACESSO
AOS AUTOS DO IP, PRINCIPALMENTE PORQUE O ACESSO AOS AUTOS DO
IP, EM MUITOS CASOS, ACABARIA POR RETIRAR COMPLETAMENTE A
EFICÁCIA DE ALGUMA MEDIDA PREVENTIVA A SER TOMADA PELA
AUTORIDADE.
VISANDO A SANAR ESSA CONTROVÉRSIA, O STF EDITOU A SÚMULA
VINCULANTE N° 14, QUE POSSUI A SEGUINTE REDAÇÃO:
SÚMULA VINCULANTE NO 14
“É DIREITO DO DEFENSOR, NO INTERESSE DO REPRESENTADO, TER
ACESSO AMPLO AOS ELEMENTOS DE PROVA
QUE, JÁ DOCUMENTADOS EM PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO
REALIZADO POR ÓRGÃO COM COMPETÊNCIA DE
POLÍCIA JUDICIÁRIA, DIGAM RESPEITO AO EXERCÍCIO DO DIREITO DE
DEFESA”.
PERCEBAM, PORTANTO, QUE O STF COLOCOU UMA “PÁ-DE-CAL” NA
DISCUSSÃO, CONSOLIDANDO O ENTENDIMENTO DE QUE:
⇒ SIM, O IP É SIGILOSO
⇒ NÃO, O IP NÃO É SIGILOSO EM RELAÇÃO AO ADVOGADO DO
INDICIADO, QUE DEVE TER LIVRE ACESSO AOS AUTOS DO IP, NO QUE SE
REFERE AOS ELEMENTOS QUE JÁ TENHAM SIDO JUNTADOS A ELE.
1.2. FINALIDADES DO IP:
IP => PRODUZ ELEMENTOS INFORMATIVOS/ELEMENTOS DE
PROVA/INFORMAÇÕES SOBRE AUTORIA E MATERIALIDADE DELITIVA.
EXCEÇÃO: É POSSÍVEL A PRODUÇÃO DE PROVAS NO IP. EX. PROVAS NÃO
REPETÍVEIS (PERÍCIAS/CONTRADITÓRIO É DIFERIDO OU POSTERGADO)
E PROVA ANTECIPADA.
ART. 155. O JUIZ FORMARÁ SUA CONVICÇÃO PELA LIVRE APRECIAÇÃO DA
PROVA PRODUZIDA EM CONTRADITÓRIO JUDICIAL, NÃO PODENDO
FUNDAMENTAR SUA DECISÃO EXCLUSIVAMENTE NOS ELEMENTOS
INFORMATIVOS COLHIDOS NA INVESTIGAÇÃO, RESSALVADAS AS PROVAS
CAUTELARES, NÃO REPETÍVEIS E ANTECIPADAS.
PROCESSO => PRODUZ PROVA, PQ TEM CONTRADITORIO E AMPLA
DEFESA.
1.3. FORMAS DE INSTAURAÇÃO
1.3.1. DE OFÍCIO:
TOMANDO A AUTORIDADE POLICIAL CONHECIMENTO DA PRÁTICA DE
FATO DEFINIDO COMO CRIME CUJA AÇÃO PENAL SEJA PÚBLICA
INCONDICIONADA, PODERÁ PROCEDER (SEM QUE HAJA NECESSIDADE DE
REQUERIMENTO DE QUEM QUER QUE SEJA) À INSTAURAÇÃO DO IP,
MEDIANTE PORTARIA.
QUANDO A AUTORIDADE POLICIAL TOMA CONHECIMENTO DE UM FATO
CRIMINOSO, INDEPENDENTEMENTE DO MEIO (PELA MÍDIA, POR BOATOS
QUE CORREM NA BOCA DO POVO, OU POR QUALQUER OUTRO MEIO),
OCORRE O QUE SE CHAMA DE NOTITIA CRIMINIS. DIANTE DA NOTITIA
CRIMINIS RELATIVA A UM CRIME CUJA AÇÃO PENAL É PÚBLICA
INCONDICIONADA, A INSTAURAÇÃO DO IP PASSA A SER ADMITIDA, EX
OFFICIO, NOS TERMOS DO JÁ CITADO ART. 5°, I, DO CPP.
QUANDO ESTA NOTÍCIA DE CRIME SURGE ATRAVÉS DE UMA DELAÇÃO
FORMALIZADA POR QUALQUER PESSOA DO POVO, ESTAREMOS DIANTE
DA DELATIO CRIMINIS SIMPLES. NOS TERMOS DO ART. 5°, § 3° DO CPP:
§ 3O QUALQUER PESSOA DO POVO QUE TIVER CONHECIMENTO DA
EXISTÊNCIA DE INFRAÇÃO PENAL EM QUE
CAIBA AÇÃO PÚBLICA PODERÁ, VERBALMENTE OU POR ESCRITO,
COMUNICÁ-LA À AUTORIDADE POLICIAL, E ESTA, VERIFICADA A
PROCEDÊNCIA DAS INFORMAÇÕES, MANDARÁ INSTAURAR INQUÉRITO.
A DOUTRINA CLASSIFICA A NOTITIA CRIMINIS DA SEGUINTE FORMA:
⇒ NOTITIA CRIMINIS DE COGNIÇÃO IMEDIATA – OCORRE QUANDO A
AUTORIDADE POLICIAL TOMA CONHECIMENTO DO FATO EM RAZÃO DE
SUAS ATIVIDADES ROTINEIRAS.
⇒ NOTITIA CRIMINIS DE COGNIÇÃO MEDIATA – OCORRE QUANDO A
AUTORIDADE POLICIAL TOMA CONHECIMENTO DO FATO CRIMINOSO POR
MEIO DE UM EXPEDIENTE FORMAL (EX.: REQUISIÇÃO DO MP, COM VISTAS
À INSTAURAÇÃO DO IP).
⇒ NOTITIA CRIMINIS DE COGNIÇÃO COERCITIVA – OCORRE QUANDO A
AUTORIDADE POLICIAL TOMA CONHECIMENTO DO FATO EM RAZÃO DA
PRISÃO EM FLAGRANTE DO SUSPEITO.
A DELATIO CRIMINIS, QUE É UMA FORMA DE NOTITIA CRIMINIS, PODE
SER:
DELATIO CRIMINIS SIMPLES – COMUNICAÇÃO FEITA À AUTORIDADE
POLICIAL POR QUALQUER DO POVO (ART. 5O, §3O DO CPP).
⇒ DELATIO CRIMINIS POSTULATÓRIA – É A COMUNICAÇÃO FEITA PELO
OFENDIDO NOS CRIMES DE AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA OU
AÇÃO PENAL PRIVADA, MEDIANTE A QUAL O OFENDIDO JÁ PLEITEIA A
INSTAURAÇÃO DO IP.
⇒ DELATIO CRIMINIS INQUALIFICADA – É A CHAMADA “DENÚNCIA
ANÔNIMA”, OU SEJA, A COMUNICAÇÃO DO FATO FEITA À AUTORIDADE
POLICIAL POR QUALQUER DO POVO, MAS SEM A IDENTIFICAÇÃO DO
COMUNICANTE.
MAS, E NO CASO DE SE TRATAR DE UMA DENÚNCIA ANÔNIMA. COMO
DEVE PROCEDER O DELEGADO, JÁ QUE A CONSTITUIÇÃO PERMITE A
MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO, MAS VEDA O ANONIMATO? NESSE
CASO, ESTAMOS DIANTE DA DELATIO CRIMINIS INQUALIFICADA, QUE
ABRANGE, INCLUSIVE, A CHAMADA “DISQUE-DENÚNCIA”, MUITO
UTILIZADA NOS DIAS DE HOJE. A SOLUÇÃO ENCONTRADA PELA
DOUTRINA E PELA JURISPRUDÊNCIA PARA CONCILIAR O INTERESSE
PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO COM A PROIBIÇÃO DE MANIFESTAÇÕES
APÓCRIFAS (ANÔNIMAS) FOI DETERMINAR QUE O DELEGADO, QUANDO
TOMAR CIÊNCIA DE FATO DEFINIDO COMO CRIME, ATRAVÉS DE
DENÚNCIA ANÔNIMA, NÃO DEVERÁ INSTAURAR O IP DE IMEDIATO, MAS
DETERMINAR QUE SEJA VERIFICADA A PROCEDÊNCIA DA DENÚNCIA E,
CASO REALMENTE SE TENHA NOTÍCIA DO CRIME, INSTAURAR O IP.
1.3.2. REQUISIÇÃO DO JUIZ OU DO MP
O IP PODERÁ SER INSTAURADO, AINDA, MEDIANTE REQUISIÇÃO DO JUIZ
OU DO MP. NOS TERMOS DO ART. 5°, II DO CPP:
ART. 5O NOS CRIMES DE AÇÃO PÚBLICA O INQUÉRITO POLICIAL SERÁ
INICIADO:
(...)
II - MEDIANTE REQUISIÇÃO DA AUTORIDADE JUDICIÁRIA OU DO
MINISTÉRIO PÚBLICO, OU A REQUERIMENTO DO OFENDIDO OU DE QUEM
TIVER QUALIDADE PARA REPRESENTÁ-LO.
ESSA REQUISIÇÃO DEVE SER OBRIGATORIAMENTE CUMPRIDA PELO
DELEGADO, NÃO PODENDO ELE SE RECUSAR A CUMPRI-LA, POIS
REQUISITAR É SINÔNIMO DE EXIGIR COM BASE NA LEI.
1.3.3. REQUERIMENTO DA VÍTIMA OU DE SEU REPRESENTANTE LEGAL
NOS TERMOS DO ART. 5°, II DO CPP:
ART. 5O NOS CRIMES DE AÇÃO PÚBLICA O INQUÉRITO POLICIAL SERÁ
INICIADO:
(...)
II - MEDIANTE REQUISIÇÃO DA AUTORIDADE JUDICIÁRIA OU DO
MINISTÉRIO PÚBLICO, OU A REQUERIMENTO DO
OFENDIDO OU DE QUEM TIVER QUALIDADE PARA REPRESENTÁ-LO.
VEJAM QUE AQUI O CPP FALA EM REQUERIMENTO, NÃO REQUISIÇÃO. POR
ISSO, A DOUTRINA ENTENDE QUE NESSA HIPÓTESE O DELEGADO NÃO
ESTÁ OBRIGADO A INSTAURAR O IP, PODENDO, DE ACORDO COM A
ANÁLISE DOS FATOS, ENTENDER QUE NÃO EXISTEM INDÍCIOS DE QUE
FORA PRATICADA UMA INFRAÇÃO PENAL E, PORTANTO, DEIXAR DE
INSTAURAR O IP.
O REQUERIMENTO FEITO PELA VÍTIMA OU POR SEU REPRESENTANTE DEVE
PREENCHER ALGUNS REQUISITOS. ENTRETANTO, CASO NÃO FOR
POSSÍVEL, PODEM SER DISPENSADOS. NOS TERMOS DO ART. 5°, § 1° DO
CPP:
§ 1O O REQUERIMENTO A QUE SE REFERE O NO II CONTERÁ SEMPRE QUE
POSSÍVEL:
A) A NARRAÇÃO DO FATO, COM TODAS AS CIRCUNSTÂNCIAS;
B) A INDIVIDUALIZAÇÃO DO INDICIADO OU SEUS SINAIS
CARACTERÍSTICOS E AS RAZÕES DE CONVICÇÃO OU DE PRESUNÇÃO DE
SER ELE O AUTOR DA INFRAÇÃO, OU OS MOTIVOS DE IMPOSSIBILIDADE
DE O FAZER;
C) A NOMEAÇÃO DAS TESTEMUNHAS, COM INDICAÇÃO DE SUA
PROFISSÃO E RESIDÊNCIA.
CASO SEJA INDEFERIDO O REQUERIMENTO, CABERÁ RECURSO PARA O
CHEFE DE POLÍCIA. VEJAMOS:
ART. 5O (...) § 2O DO DESPACHO QUE INDEFERIR O REQUERIMENTO DE
ABERTURA DE INQUÉRITO CABERÁ RECURSO PARA O CHEFE DE POLÍCIA.
1.3.4. AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE
EMBORA ESSA HIPÓTESE NÃO CONSTE NO ROL DO ART. 5° DO CPP, TRATA-
SE DE HIPÓTESE CLÁSSICA DE FATO QUE ENSEJA A INSTAURAÇÃO DE IP.
PARTE DA DOUTRINA, NO ENTANTO, A EQUIPARA À NOTITIA CRIMINIS E,
PORTANTO, ESTARÍAMOS DIANTE DE UMA INSTAURAÇÃO EX OFFICIO.
TRAMITAÇÃO DO IP
JÁ VIMOS AS FORMAS PELAS QUAIS O IP PODE SER INSTAURADO. VAMOS
ESTUDAR AGORA COMO SE DESENVOLVE (OU DEVERIA SE DESENVOLVER
O IP).
1.4. DILIGÊNCIAS INVESTIGATÓRIAS
APÓS A INSTAURAÇÃO DO IP ALGUMAS DILIGÊNCIAS DEVEM SER
ADOTADAS PELA AUTORIDADE POLICIAL. ESTAS DILIGÊNCIAS ESTÃO
PREVISTAS NO ART. 6° E 7º DO CPP.
ART. 6º LOGO QUE TIVER CONHECIMENTO DA PRÁTICA DA INFRAÇÃO
PENAL, A AUTORIDADE POLICIAL DEVERÁ:
I - DIRIGIR-SE AO LOCAL, PROVIDENCIANDO PARA QUE NÃO SE ALTEREM
O ESTADO E CONSERVAÇÃO DAS COISAS, ATÉ A CHEGADA DOS PERITOS
CRIMINAIS;
II - APREENDER OS OBJETOS QUE TIVEREM RELAÇÃO COM O FATO, APÓS
LIBERADOS PELOS PERITOS CRIMINAIS;
III - COLHER TODAS AS PROVAS QUE SERVIREM PARA O
ESCLARECIMENTO DO FATO E SUAS CIRCUNSTÂNCIAS;
IV - OUVIR O OFENDIDO;
V - OUVIR O INDICIADO, COM OBSERVÂNCIA, NO QUE FOR APLICÁVEL,
DO DISPOSTO NO CAPÍTULO III DO TÍTULO
VLL, DESTE LIVRO, DEVENDO O RESPECTIVO TERMO SER ASSINADO POR
DUAS TESTEMUNHAS QUE IHE TENHAM
OUVIDO A LEITURA;
VI - PROCEDER A RECONHECIMENTO DE PESSOAS E COISAS E A
ACAREAÇÕES;
VII - DETERMINAR, SE FOR CASO, QUE SE PROCEDA A EXAME DE CORPO
DE DELITO E A QUAISQUER OUTRAS PERÍCIAS;
VIII - ORDENAR A IDENTIFICAÇÃO DO INDICIADO PELO PROCESSO
DATILOSCÓPICO, SE POSSÍVEL, E FAZER JUNTAR AOS AUTOS SUA FOLHA
DE ANTECEDENTES;
IX - AVERIGUAR A VIDA PREGRESSA DO INDICIADO, SOB O PONTO DE
VISTA INDIVIDUAL, FAMILIAR E SOCIAL, SUA CONDIÇÃO ECONÔMICA,
SUA ATITUDE E ESTADO DE ÂNIMO ANTES E DEPOIS DO CRIME E
DURANTE ELE, E QUAISQUER OUTROS ELEMENTOS QUE CONTRIBUÍREM
PARA A APRECIAÇÃO DO SEU TEMPERAMENTO E CARÁTER.
X - COLHER INFORMAÇÕES SOBRE A EXISTÊNCIA DE FILHOS,
RESPECTIVAS IDADES E SE POSSUEM ALGUMA EFICIÊNCIA E O NOME E O
CONTATO DE EVENTUAL RESPONSÁVEL PELOS CUIDADOS DOS FILHOS,
INDICADO PELA PESSOA PRESA.
ART. 7º PARA VERIFICAR A POSSIBILIDADE DE HAVER A INFRAÇÃO SIDO
PRATICADA DE DETERMINADO MODO, A AUTORIDADE POLICIAL PODERÁ
PROCEDER À REPRODUÇÃO SIMULADA DOS FATOS, DESDE QUE ESTA NÃO
CONTRARIE A MORALIDADE OU A ORDEM PÚBLICA.
ALGUNS CUIDADOS DEVEM SER TOMADOS QUANDO DA REALIZAÇÃO
DESTAS DILIGÊNCIAS, COMO A OBSERVÂNCIA DAS REGRAS
PROCESSUAIS DE APREENSÃO DE COISAS, BEM COMO ÀS REGRAS
CONSTITUCIONAIS SOBRE INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO (ART. 5°, XI
DA CF), DIREITO AO SILENCIO DO INVESTIGADO (ART. 5°, LXIII DA CF),
APLICANDO-SE NO QUE TANGE AO INTERROGATÓRIO DO INVESTIGADO,
AS NORMAS REFERENTES AO INTERROGATÓRIO JUDICIAL (ARTS. 185 A
196 DO CPP), NO QUE FOR CABÍVEL.
PERCEBAM QUE O ART. 7° PREVÊ A FAMOSA “RECONSTITUIÇÃO”,
TECNICAMENTE CHAMADA DE REPRODUÇÃO SIMULADA. ESTA
REPRODUÇÃO É VEDADA QUANDO FOR CONTRÁRIA À MORALIDADE OU À
ORDEM PÚBLICA (NO CASO DE UM ESTUPRO, POR EXEMPLO). O
INVESTIGADO NÃO ESTÁ OBRIGADO A PARTICIPAR DESTA DILIGÊNCIA,
POIS NÃO É OBRIGADO A PRODUZIR PROVA CONTRA SI.
DE ACORDO COM O ARTIGO 13-A, EM SE TRATANDO DE DETERMINADOS
CRIMES, A AUTORIDADE POLICIAL OU O MP PODERÃO REQUISITAR
DADOS OU INFORMAÇÕES CADASTRAIS DA VÍTIMA OU DE SUSPEITOS.
SÃO ELES:
⇒SEQUESTRO OU CÁRCERE PRIVADO
⇒ REDUÇÃO À CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO
⇒ TRÁFICO DE PESSOAS
⇒ EXTORSÃO MEDIANTE RESTRIÇÃO DA LIBERDADE (“SEQUESTRO
RELÂMPAGO”)
⇒ EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO
⇒ FACILITAÇÃO DE ENVIO DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE AO EXTERIOR
(ART. 239 DO ECA)
OU SEJA, EM SE TRATANDO DE UM DESSES CRIMES O CPP
EXPRESSAMENTE AUTORIZA A REQUISIÇÃO DIRETA PELA AUTORIDADE
POLICIAL (OU PELO MP) DESSAS INFORMAÇÕES, PODENDO A
REQUISIÇÃO SER DIRIGIDA A ÓRGÃOS PÚBLICOS OU PRIVADOS
(EMPRESAS DE TELEFONIA, ETC.).
ALÉM DISSO, EM SE TRATANDO DE CRIMES RELACIONADOS AO TRÁFICO
DE PESSOAS (ART. 13-B), O MEMBRO DO MP OU A AUTORIDADE POLICIAL
PODERÃO REQUISITAR, MEDIANTE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL, ÀS
EMPRESAS PRESTADORAS DE SERVIÇO DE TELECOMUNICAÇÕES E/OU
TELEMÁTICA QUE DISPONIBILIZEM IMEDIATAMENTE OS DADOS (MEIOS
TÉCNICOS) QUE PERMITAM A LOCALIZAÇÃO DA VÍTIMA OU DOS
SUSPEITOS DO DELITO EM CURSO (COMO SINAIS, INFORMAÇÕES E
OUTROS).
CONTUDO, O ACESSO A ESSE SINAL:
⇒ NÃO PERMITIRÁ ACESSO AO CONTEÚDO DA COMUNICAÇÃO, QUE
DEPENDERÁ DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL (APENAS DADOS COMO LOCAL
APROXIMADO EM QUE FOI FEITA A LIGAÇÃO, DESTINATÁRIO, ETC.).
⇒ DEVERÁ SER FORNECIDO PELA PRESTADORA DE TELEFONIA MÓVEL
CELULAR POR PERÍODO NÃO SUPERIOR A 30 DIAS (RENOVÁVEL UMA VEZ
POR MAIS 30 DIAS). PARA PERÍODOS SUPERIORES SERÁ NECESSÁRIA
ORDEM JUDICIAL.
NESSES CRIMES (RELACIONADOS AO TRÁFICO DE PESSOAS) O IP DEVERÁ
SER INSTAURADO EM ATÉ 72H, A CONTAR DO REGISTRO DE OCORRÊNCIA
POLICIAL (INFORMAÇÃO DA OCORRÊNCIA DO CRIME À AUTORIDADE, O
CHAMADO “B.O.”).
REQUERIMENTO DE DILIGÊNCIAS PELO INDICIADO E PELO OFENDIDO
O OFENDIDO OU SEU REPRESENTANTE LEGAL PODEM REQUERER A
REALIZAÇÃO DE QUAISQUER DILIGÊNCIAS (INCLUSIVE O INDICIADO
TAMBÉM PODE), MAS FICARÁ A CRITÉRIO DA AUTORIDADE POLICIAL
DEFERI-LAS OU NÃO. VEJAMOS A REDAÇÃO DO ART. 14 DO CPP:
ART. 14. O OFENDIDO, OU SEU REPRESENTANTE LEGAL, E O INDICIADO
PODERÃO REQUERER QUALQUER DILIGÊNCIA, QUE SERÁ REALIZADA, OU
NÃO, A JUÍZO DA AUTORIDADE.
1.5. IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL
COM RELAÇÃO À IDENTIFICAÇÃO DO INVESTIGADO (COLHEITA DE
IMPRESSÕES DE DIGITAIS), ESTA IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL SÓ SERÁ
NECESSÁRIA E PERMITIDA QUANDO O INVESTIGADO NÃO FOR
CIVILMENTE IDENTIFICADO, POIS A CONSTITUIÇÃO PROÍBE A
SUBMISSÃO DAQUELE QUE É CIVILMENTE IDENTIFICADO AO
PROCEDIMENTO CONSTRANGEDOR DA COLETA DE DIGITAIS
(IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL), NOS TERMOS DO SEU ART. 5°, LVIII:
ART. 5º (...)
VIII - O CIVILMENTE IDENTIFICADO NÃO SERÁ SUBMETIDO A
IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL, SALVO NAS HIPÓTESES
PREVISTAS EM LEI;
QUEM SE CONSIDERA CIVILMENTE IDENTIFICADO? A RESPOSTA ESTÁ NO
ART. 2O DA LEI 12.037/90.
POR FIM, MAS NÃO MENOS IMPORTANTE, A LEI 12.654/12 ACRESCENTOU
ALGUNS DISPOSITIVOS À LEI 12.037/09, PASSANDO A PERMITIR A
COLETA DE MATERIAL GENÉTICO COMO FORMA DE IDENTIFICAÇÃO
CRIMINAL.
1.6. INDICIAMENTO
O INDICIAMENTO É O ATO POR MEIO DO QUAL A AUTORIDADE POLICIAL,
DE FORMA FUNDAMENTADA, “DIRECIONA” A INVESTIGAÇÃO, OU SEJA, A
AUTORIDADE POLICIAL CENTRALIZA AS INVESTIGAÇÕES EM APENAS UM
OU ALGUNS DOS SUSPEITOS. O INDICIAMENTO NÃO DESCONSTITUI O
CARÁTER SIGILOSO DO INQUÉRITO POLICIAL, SENDO APENAS UM ATO
MEDIANTE O QUAL A AUTORIDADE POLICIAL PASSA A DIRECIONAR AS
INVESTIGAÇÕES SOBRE DETERMINADA OU DETERMINADAS PESSOAS.
O ATO DE INDICIAMENTO É PRIVATIVO DA AUTORIDADE POLICIAL.
1.7. PRAZOS
PRESO: 10 DIAS. IMPRORROGÁVEL. PRAZO MATERIAL OU PENAL.
SOLTO: 30 DIAS. PRORROGÁVEL. PRAZO PROCESSUAL.
ENTRETANTO, EXISTEM EXCEÇÕES PREVISTAS EM OUTRAS LEIS:
• CRIMES DE COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL – 15 DIAS PARA
INDICIADO PRESO (PRORROGÁVEL POR MAIS 15 DIAS) E 30 DIAS PARA
INDICIADO SOLTO.
• CRIMES DA LEI DE DROGAS – 30 DIAS PARA INDICIADO PRESO E 90
DIAS PARA INDICIADO SOLTO. PODEM SER DUPLICADOS EM AMBOS OS
CASOS.
• CRIMES CONTRA A ECONOMIA POPULAR – 10 DIAS TANTO PARA
INDICIADO PRESO QUANTO PARA INDICIADO SOLTO.

O STJ FIRMOU ENTENDIMENTO NO SENTIDO DE QUE, ESTANDO O


INDICIADO SOLTO, EMBORA EXISTA UM LIMITE PREVISTO NO CPP, A
VIOLAÇÃO A ESTE LIMITE NÃO TERIA QUALQUER REPERCUSSÃO, POIS
NÃO TRARIA PREJUÍZOS AO INDICIADO, SENDO CONSIDERADO COMO
PRAZO IMPRÓPRIO E PROCESSUAL
CONTUDO, ESTANDO O INDICIADO PRESO, DOUTRINA E
JURISPRUDÊNCIA ENTENDEM, MAJORITARIAMENTE, QUE O PRAZO É
CONSIDERADO MATERIAL, OU SEJA, INCLUI O DIA DO COMEÇO, NOS
TERMOS DO ART. 10 DO CP.

1.8. CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL


ESGOTADO O PRAZO PREVISTO, OU ANTES DISSO, SE CONCLUÍDAS AS
INVESTIGAÇÕES, O IP SERÁ ENCERRADO E ENCAMINHADO AO JUIZ. NOS
TERMOS DO ART. 10 DO CPP:
ART. 10. O INQUÉRITO DEVERÁ TERMINAR NO PRAZO DE 10 DIAS, SE O
INDICIADO TIVER SIDO PRESO EM FLAGRANTE, OU ESTIVER PRESO
PREVENTIVAMENTE, CONTADO O PRAZO, NESTA HIPÓTESE, A PARTIR DO
DIA EM QUE SE EXECUTAR A ORDEM DE PRISÃO, OU NO PRAZO DE 30
DIAS, QUANDO ESTIVER SOLTO, MEDIANTE FIANÇA OU SEM ELA.
§ 1º A AUTORIDADE FARÁ MINUCIOSO RELATÓRIO DO QUE TIVER SIDO
APURADO E ENVIARÁ AUTOS AO JUIZ COMPETENTE.
CASO O DELEGADO NÃO CONSIGA ELUCIDAR O FATO NO PRAZO
PREVISTO, DEVERÁ ASSIM MESMO ENCAMINHAR OS AUTOS DO IP AO
JUIZ, SOLICITANDO PRORROGAÇÃO DO PRAZO. CASO O INDICIADO
ESTEJA SOLTO, O JUIZ PODE DEFERIR A PRORROGAÇÃO DO PRAZO. CASO
O INDICIADO ESTEJA PRESO, O PRAZO NÃO PODE SER PRORROGADO,
SOB PENA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL À LIBERDADE DO INDICIADO,
ENSEJANDO, INCLUSIVE, A IMPETRAÇÃO DE HABEAS CORPUS.
1.9. ARQUIVAMENTO
COM RELAÇÃO AO DESTINATÁRIO DO IP, A DOUTRINA SE DIVIDE. PARTE
DA DOUTRINA, ACOLHENDO UMA INTERPRETAÇÃO MAIS GRAMATICAL DO
CPP, ENTENDE QUE O DESTINATÁRIO IMEDIATO DO IP É O JUIZ, POIS O
IP DEVE SER REMETIDO A ESTE. DESTA FORMA, O TITULAR DA AÇÃO
PENAL SERIA O DESTINATÁRIO MEDIATO DO IP (PORQUE, AO FIM E AO
CABO, O IP TEM A FINALIDADE DE ANGARIAR ELEMENTOS DE CONVICÇÃO
PARA O TITULAR DA AÇÃO PENAL).
OUTRA PARCELA DA DOUTRINA, QUE PARECE VEM SE TORNANDO
MAJORITÁRIA, ENTENDE QUE O DESTINATÁRIO IMEDIATO SERIA O
TITULAR DA AÇÃO PENAL, JÁ QUE A ELE SE DESTINA O IP (DO PONTO DE
VISTA DE SUA FINALIDADE). PARA ESTA CORRENTE O JUIZ SERIA O
DESTINATÁRIO MEDIATO, POIS AS PROVAS COLHIDAS NO IP SERIAM
UTILIZADAS, AO FIM E AO CABO, PARA FORMAR O CONVENCIMENTO DO
JUIZ.
CASO O MP ENTENDA QUE NÃO É O CASO DE OFERECER DENÚNCIA (POR
NÃO TER OCORRIDO O FATO CRIMINOSO, POR NÃO HAVER INDÍCIOS A
AUTORIA, ETC.), O MEMBRO DO MP REQUERERÁ O ARQUIVAMENTO DO IP,
EM PETIÇÃO FUNDAMENTADA, INCLUINDO TODOS OS FATOS E
INVESTIGADOS. CASO O JUIZ DISCORDE, REMETERÁ OS AUTOS DO IP AO
PGJ (PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA), QUE DECIDIRÁ SE MANTÉM OU
NÃO A POSIÇÃO DE ARQUIVAMENTO. O JUIZ ESTÁ OBRIGADO A ACATAR
A DECISÃO DO PGJ (CHEFE DO MP).
A DECISÃO DE ARQUIVAMENTO DO IP FAZ COISA JULGADA? EM REGRA,
NÃO, POIS O CPP ADMITE QUE A AUTORIDADE PROCEDA A NOVAS
DILIGÊNCIAS INVESTIGATÓRIAS, SE DE OUTRAS PROVAS TIVER NOTÍCIA.
ENTRETANTO, EXISTEM EXCEÇÕES, OU SEJA, SITUAÇÕES EM QUE O
ARQUIVAMENTO DO IP IRÁ PRODUZIR “COISA JULGADA MATERIAL” (NÃO
SERÁ POSSÍVEL RECOMEÇAR A INVESTIGAÇÃO). VEJAMOS:
1. ARQUIVAMENTO POR ATIPICIDADE DO FATO
2. ARQUIVAMENTO EM RAZÃO DO RECONHECIMENTO DE EXCLUDENTE
DE ILICITUDE OU DE CULPABILIDADE
3. ARQUIVAMENTO PELO RECONHECIMENTO DA EXTINÇÃO DA
PUNIBILIDADE

2. AÇÃO PENAL
Quando alguém pratica um fato criminoso, surge para o Estado o poder-
dever de punir o infrator. Esse poder-dever, esse direito, é chamado de ius
puniendis.
Entretanto, o Estado, para que exerça validamente e legitimamente o seu
ius puniendis, deve fazê-lo mediante a utilização de um mecanismo que
possibilite a busca pela verdade material (não meramente a verdade
formal), mas que ao mesmo tempo respeite os direitos e garantias
fundamentais do indivíduo. Esse mecanismo é chamado de Processo Penal.
Mas, professor, onde entra a Ação Penal nisso? A ação penal é, nada mais
nada menos que, o ato inicial desse mecanismo todo chamado processo
penal.
O processo é o meio do qual o Estado se utiliza para exercer a jurisdição
(o poder de “dizer” o direito aplicável ao caso concreto).
É o instrumento necessário para que o Estado-Juiz conheça a pretensão do
autor e, ao final, lhe diga se possui ou não razão. Na clássica definição de
Hélio Tornaghi, o processo é “um caminhar para frente (pro cedere); é uma
sequência ordenada de atos que se encadeiam numa sucessão lógica e com
um fim: o de possibilitar, ao juiz, o julgamento.”
No âmbito penal, o processo pode ter início pela iniciativa do Ministério
Público (ação penal pública) ou do ofendido (ação penal privada).
O procedimento, por outro lado, nada mais é do que o rito utilizado no
processo. Enquanto o processo é o instrumento pelo qual o Estado exercerá
a jurisdição, o procedimento é o caminho ou forma que será perseguido
até o objetivo final. E ainda pode ser diferenciado da seguinte maneira:
“Quando os atos se coordenam numa série sucessiva com um fim
determinado, fala-se que há processo, se o movimento se realiza em
função da atividade jurisdicional; se é uma atividade administrativa que se
desenvolve, o que existe nessa série de atos, que se entrelaçam, é tão-só
procedimento.”
Quanto a natureza jurídica, prevalece o entendimento de que, na verdade,
o processo possui natureza de relação jurídica. Segundo afirma Bülow, há
duas relações processuais distintas: uma de direito material e outra de
direito processual.
A relação de direito material, segundo aquele autor, seria a causa de pedir
da ação, consistente na própria relação debatida em juízo. Assim, no
âmbito penal, a relação de direito material seria a própria violação da
norma penal pelo sujeito ativo do crime.
Já a relação de direito processual consistiria naquela estabelecida com o
próprio processo, em que estariam relacionados juiz, autor e réu. Assim,
definia que a relação jurídica processual era distinta da relação de direito
material.
A doutrina costuma identificar 6 características da relação jurídica
processual. São elas:
1 – NATUREZA PÚBLICA – a relação jurídica processual é pública, tendo em
vista que o processo é um instrumento de que se vale o Estado para exercer
uma função que lhe é própria: a jurisdição.
2 – AUTONOMIA – significa que a relação de direito processual é diversa
da relação da relação jurídica de direito material, que dela independe.
Significa dizer que a relação jurídica processual independe que o autor da
ação tenha razão em suas alegações. Mesmo que o acusado seja inocente,
ou seja, que a suposta relação jurídica de direito material inexista, a
relação jurídica processual permanece hígida e válida.
3 – PROGRESSIVIDADE (ou CONTINUIDADE, ou DINAMICIDADE) – a ideia
aqui é de que os atos processuais possuem um encadeamento lógico e
progressivo até a prolação da sentença.
4 – COMPLEXIDADE – de acordo com a doutrina, a complexidade decorre
da progressividade. Significa que o caráter complexo da relação processual
advém dos numerosos atos praticados pelas partes, no exercício de seus
direitos, obrigações, ônus e poderes. 5 – UNICIDADE (ou UNIDADE) –
exprime a ideia de que a relação jurídica processual é única, permanecendo
a mesma do início ao fim.
6 – TRILATERALIDADE – trata-se do caráter tríplice da relação processual,
na qual temos a presença de três sujeitos distintos: o órgão de acusação,
o acusado, e o juiz.
Quanto aos sujeitos processuais, marcam a existência da relação
processual o juiz (ou Estado-Juiz), o autor (órgão do MP ou ofendido) e o
réu (acusado).
São os requisitos necessários para a existência de uma relação jurídica
processual válida. De acordo com a doutrina, podem ser subjetivos e
objetivos:
SUBJETIVOS QUANTO AO JUIZ:
I) investidura – o juiz deve ser um agente oficial do Estado, que tenha
ingressado na magistratura por intermédio de concurso público;
II) competência – todo juiz possui jurisdição. No entanto, por questão
conveniência, os diversos órgãos jurisdicionais têm sua atribuição (leia-se:
competência) limitada por lei. Assim, um juiz que atua em uma Vara
Criminal, por exemplo, não pode decidir acerca da nulidade do casamento
de uma pessoa. Da mesma forma, um juiz que atua na área cível não
possui competência para julgar uma demanda trabalhista. Dessa maneira,
podemos entender que a competência é o poder de exercer a jurisdição
nos limites definidos pela lei.
III) imparcialidade – a noção de imparcialidade do órgão judicial é própria
do sistema acusatório, devendo o juiz permanecer em uma posição
equidistante das partes. Ao contrário do que ocorre no sistema inquisitivo,
no sistema acusatório é vedado ao juiz praticar atos de persecução penal
na fase de investigação, não podendo, ainda, ter qualquer relação com as
partes, com a causa a ser julgada ou com outros juízes. Por essa razão, a
legislação processual penal traz uma série de motivos causadores de
suspeição, impedimento ou incompatibilidade do juiz (artigos 112, 252,
253 e 254 do CPP).
SUBJETIVOS QUANTO AS PARTES
I) capacidade de ser parte – trata-se da aptidão genérica para ser autor ou
réu em ação judicial. Dessa forma, menores de 18 anos de idade não
possuem capacidade para ser parte em processo penal (não obstante os
maiores de 12 anos respondam por seus atos na forma do Estatuto da
Criança e do Adolescente);
II) capacidade processual – além de ter capacidade para ser parte, a
pessoa deve ter as condições de exercer validamente seus direitos;
III) capacidade postulatória – aptidão para representar a parte, caso ela
própria não tenha, por força de lei, capacidade para atuar em juízo em
nome próprio. Dessa forma, deverá ser verificado se a parte encontra-se
devidamente representada por advogado ou defensor público. Exceção à
regra: habeas corpus (qualquer pessoa pode elaborar um habeas corpus).
OBJETIVOS
Extrínsecos – inexistência de fatos impeditivos, como litispendência e coisa
julgada (art. 95, III e V);
Intrínsecos – procedimento adequado, citação válida do réu, intervenção
do Ministério Público e da defesa, inexistência de qualquer nulidade
prevista na legislação processual etc.

2.1. CONDIÇÕES DA AÇÃO:


Tal qual ocorre no processo civil, no processo penal a ação também deve
obedecer a algumas condições. Sem elas a ação penal ajuizada deve ser
rejeitada de imediato pelo Juiz. Nesse sentido temos o art. 395, II do CPP:

Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando


(...)
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação
penal;
São condições da ação penal:
2.1.1. Possibilidade Jurídica do pedido
Para que esteja configurada essa condição da ação, basta que a ação penal
tenha sido ajuizada com base em conduta que se amolde em fato típico.
Assim, não se exige que a conduta tenha sido típica, ilícita e o agente
culpável. Mesmo se o titular da ação penal (MP ou ofendido) verificar que
o crime foi praticado em legítima defesa, por exemplo, (exclui a ilicitude)
a conduta é típica, estando cumprido o requisito da possibilidade jurídica
do pedido.
2.1.2. Interesse de Agir
Se no processo civil o interesse de agir é caracterizado como a necessidade
da prestação da tutela jurisdicional, devendo a parte autora comprovar que
não há outro meio para a resolução do litígio que não seja a via judicial, no
processo penal é um pouco diferente.
No processo penal a via judicial é obrigatória, não podendo o Estado
exercer o seu ius puniendi fora do processo penal. O processo civil é
facultativo, podendo as partes resolver a lide sem a intervenção do
Judiciário. O processo penal, por sua vez, é obrigatório, devendo o titular
da ação penal provocar o Judiciário para que a lide seja resolvida.
Há quem defenda, inclusive, que não necessariamente há lide no processo
penal (a lide é o fenômeno que ocorre quando uma parte possui uma
pretensão que é resistida pela outra parte), pois ainda que o acusado
reconheça que deve ser punido, a punição só pode ocorrer após o processo
penal, dado o interesse público envolvido.
No processo penal o interesse de agir está mais ligado a questões como a
utilização da via adequada. Assim, não pode o membro do MP oferecer
queixa em face de alguém que praticou homicídio, pois se trata de crime
de ação penal pública. Nesse caso, o MP é parte legítima, pois é o titular
da ação penal. No entanto, a via escolhida está errada (deveria ter sido
ajuizada ação penal pública, denúncia).
Alguns autores entendem que o interesse de agir no processo penal está
relacionado à existência de lastro probatório mínimo (existência de indícios
de autoria e prova da materialidade). Esses elementos, no entanto, formam
o que outra parte da Doutrina entende como justa causa.
Obviamente que os autores que entendem serem estes elementos
integrantes do conceito de “interesse de agir”, entendem também que não
existe a justa causa como uma condição autônoma da ação penal.
O CPP, no entanto, em algumas passagens, prevê a existência da justa
causa:
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (...)
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. [...]
Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal:
I - quando não houver justa causa;
2.1.3. Legitimidade ad causam ativa e passiva
A legitimidade (e aqui nos aproximamos do processo civil) é o que se pode
chamar de pertinência subjetiva para a demanda.
Assim, a presença do MP no polo ativo de uma denúncia pelo crime de
homicídio é pertinente, pois a Constituição o coloca como titular exclusivo
da Ação Penal, o que é corroborado pelo CPP. Também deve haver
legitimidade passiva, ou seja, quem deve figurar no polo passivo (ser o réu
da ação) é quem efetivamente praticou o crime, ou seja, o sujeito ativo do
crime.
CUIDADO! O sujeito ativo do crime (infrator) será, no processo penal, o
sujeito passivo na relação processual!
Parte da Doutrina entende que os inimputáveis são partes ilegítimas para
figurar no polo passivo da ação penal. Entretanto, essa posição merece
algumas considerações.
A inimputabilidade por critério meramente biológico é somente uma, e
refere-se à menoridade penal. Ou seja, somente o menor de 18 anos será
sempre inimputável, sem que se exija qualquer análise do mérito da
demanda. De plano se pode considerar sua ilegitimidade, conforme prevê
o art. 27 do CP:
Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis,
ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial.
Assim, se o titular da ação penal ajuíza a ação em face de um menor de
18 anos, falta uma das condições da ação, que é a imputabilidade penal,
pois de maneira nenhuma pode o menor de 18 anos responder
criminalmente, estando sujeito às normas do ECA.
O STF e o STJ entendem que a Pessoa Jurídica pode figurar no polo passivo
de ação penal por crime ambiental, conforme previsto no art. 225, § 3° da
CF/88, regulamentado pela Lei 9.605/98. Quanto aos crimes contra a
ordem econômica, por não haver regulamentação legal, a jurisprudência
não vem admitindo que a pessoa jurídica responda por tais crimes.
2.2. ESPÉCIES DE AÇÃO PENAL
A ação penal pode ser pública incondicionada, pública condicionada, ou
privada. Nos termos do quadro esquemático, para facilitar a compreensão
de vocês:

2.2.1. AÇÃO PENAL PÚBLICA


2.2.1.1. PRINCÍPIOS
• Obrigatoriedade – Havendo indícios de autoria e prova da materialidade
do delito, o membro do MP deve oferecer a denúncia, não podendo deixar
de fazê-lo, pois não pode dispor da ação penal. Atualmente esta regra está
excepcionada pela previsão de transação penal nos Juizados especiais (Lei
9.099/95), que é hipótese na qual o titular da ação penal e o infrator
transacionam, de forma a evitar o ajuizamento da demanda. A previsão
não é inconstitucional, pois a própria Constituição a prevê, em seu art. 98,
I. A Doutrina admite que, estando presentes causas excludentes da
ilicitude, de maneira
inequívoca, poderá o membro do MP deixar de oferecer denúncia.
• Indisponibilidade – Uma vez ajuizada a ação penal pública, não pode seu
titular dela desistir ou transigir, nos termos do art. 42 do CPP: Art. 42. O
Ministério Público não poderá desistir da ação penal. Esta regra também
está excepcionada pela previsão de transação penal e suspensão
condicional do
processo, que são institutos previstos na Lei dos Juizados Especiais (Lei
9.099/95).
• Oficialidade – A ação penal pública será ajuizada por um órgão oficial, no
caso, o MP. Entretanto, pode ocorrer de, transcorrido o prazo legal para
que o MP ofereça a denúncia, este não o faça nem promova o arquivamento
do IP, ou seja, fique inerte. Nesse caso, a lei prevê que o ofendido poderá
promover ação penal privada subsidiária da pública (que estudaremos
melhor daqui a pouco). Assim, podemos concluir que a ação penal pública
é exclusiva do MP, durante o prazo legal. Findo este prazo, a lei estabelece
um prazo de seis meses no qual tanto o MP quanto o ofendido pode ajuizar
a ação penal, numa verdadeira hipótese de legitimação concorrente: Art.
29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for
intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa,
repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do
processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo,
no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal.
Findo este prazo de seis meses no qual o ofendido pode ajuizar a ação
penal privada subsidiária da pública, a legitimidade volta a ser do MP,
exclusivamente, desde
que ainda não esteja extinta a punibilidade.
• Divisibilidade – Havendo mais de um infrator (autor do crime), pode o MP
ajuizar a demanda somente em face um ou alguns deles, reservando para
os outros, o ajuizamento em momento posterior, de forma a conseguir mais
tempo para reunir elementos de prova. Não nenhum óbice quanto a isso,
e esta prática não configura preclusão para o MP, podendo aditar a denúncia
posteriormente, a fim de incluir os demais autores do crime ou, ainda,
promover outra ação penal em face dos outros autores do crime.
Com relação à divisibilidade, é importante notar que este é um princípio
que, por si só, pulveriza a tese de arquivamento implícito.
Inclusive essa é a orientação firmada pelo próprio STJ:

(...) 3 - Não vigora o princípio da indivisibilidade na ação penal pública. O


Parquet é livre para formar sua convicção incluindo na increpação as
pessoas que entenda terem praticados ilícitos penais, ou seja, mediante a
constatação de indícios de autoria e materialidade, não se podendo falar
em arquivamento implícito em relação a quem não foi denunciado.
4 - Recurso não conhecido.
(RHC 34.233/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA
TURMA, julgado em 06/05/2014, DJe 14/05/2014)

Importante ressaltar que o membro do MP não está obrigado a ajuizar a


denúncia sempre que for instaurado um inquérito policial. Ele só ajuizará a
denúncia se estiverem presentes dois requisitos:
• Prova da materialidade
• Indícios de autoria
Caso não estejam presentes estes requisitos, o membro do MP deverá
requerer o arquivamento do INQUÉRITO POLICIAL, ou seja, não irá ajuizar
a denúncia.
2.2.1.2. AÇÃO PÚBLICA INCONDICIONADA
Ação penal pública incondicionada é a regra no ordenamento processual
penal brasileiro. Sua titularidade pertence ao Ministério Público, de forma
privativa, nos termos do art. 129, I da Constituição da República.
Neste caso, tanto o Inquérito quanto a ação penal devem ser instaurados,
independentemente da vontade da vítima, de ofício.
Outrossim, independentemente de qual seja o crime, quando praticado em
detrimento do patrimônio ou interesse da União, Estado e Município, a ação
penal será pública. É o que prevê o art. 24, §2o do CPP:
Art. 24 (...) § 2o Seja qual for o crime, quando praticado em detrimento
do patrimônio ou interesse da União, Estado e Município, a ação penal será
pública.
Mas qual é o prazo para que o membro do MP ofereça a denúncia? Em
regra, 05 dias no caso de réu preso e 15 dias no caso de réu solto.
Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será
de 5 dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público receber
os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto ou
afiançado. No último caso, se houver devolução do inquérito à autoridade
policial (art. 16), contar- se-á o prazo da data em que o órgão do Ministério
Público receber novamente os autos.
§ 1o Quando o Ministério Público dispensar o inquérito policial, o prazo para
o oferecimento da denúncia contar-se-á da data em que tiver recebido as
peças de informações ou a representação O oferecimento em momento
posterior não implica nulidade da denúncia, que pode ser oferecida
enquanto não estiver extinta a punibilidade do delito.
Por se tratar de uma ação penal em que há forte interesse público na
punição do autor do fato, qualquer pessoa do povo poderá provocar a
atuação do MP:
Art. 27. Qualquer pessoa do povo poderá provocar a iniciativa do Ministério
Público, nos casos em que caiba a ação pública, fornecendo-lhe, por escrito,
informações sobre o fato e a autoria e indicando o tempo, o lugar e os
elementos de convicção.
2.2.1.3. Ação penal pública condicionada (à representação do ofendido e
à requisição do Ministro da Justiça)
Temos, aqui, duas hipóteses pertencentes à mesma categoria de ação
penal, a ação penal pública condicionada.
Aplica-se a esta espécie de ação penal tudo o que foi dito a respeito da
ação penal pública, havendo, no entanto, alguns pontos especiais. Aqui,
para que o MP (titular da ação penal) possa exercer legitimamente o seu
direito de ajuizar a ação penal pública, deverá estar presente uma condição
de procedibilidade, que é a representação do ofendido ou a requisição do
Ministro da Justiça, a depender do caso. Frise-se que, em regra, a ação
penal é pública e incondicionada. Somente será condicionada se a lei
expressamente dispuser neste sentido.
Para facilitar o estudo de vocês, elaborei os seguintes quadros com as
peculiaridades da ação penal pública condicionada, tanto no caso de
condicionamento à representação do ofendido quanto no caso de requisição
do Ministro da Justiça.
AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO DO
OFENDIDO
Ø Trata-se de condição imprescindível, nos termos do art. 24 do CPP.
Ø A representação admite retratação, mas somente até o oferecimento
da denúncia.
Ø Admite-se, ainda, a retratação da retratação. Ou seja, a vítima oferece
a representação e se retrata (volta atrás). Posteriormente,a vítima
resolve oferecer novamente a representação.
Ø Caso ajuizada a ação penal sem a representação, esta nulidade
processual pode ser sanada posteriormente, caso a vítima a apresente
em Juízo (desde que realizada dentro do prazo de seis meses que a vítima
possui para representar, nos termos do art. 38 do CP).
Ø Não se exige forma específica para a representação, bastando que
descreva claramente a intenção de ver o infrator ser processado. Pode
ser escrita ou oral (neste último caso, deverá ser reduzida a termo, ou
seja, ser “passada para o papel”). A jurisprudência admite que o simples
registro de ocorrência em sede policial, desde que conste informação de
que a vítima pretende ver o infrator punido, PODE ser considerado como
representação.
Ø A representação não pode ser dividida quanto aos autores do fato. Ou
se representa em face de todos eles, ou não há representação, pois esta
não se refere propriamente aos agentes que praticaram o delito, mas ao
fato. Quando a vítima representa, está manifestando seu desejo em ver
o fato ser objeto de ação penal para que sejam punidos os responsáveis.
Entretanto, embora não possa haver fracionamento da representação,
isso não impede que o MP denuncie apenas um ou alguns dos infratores,
pois um dos princípios da ação penal pública é a divisibilidade.
Ø A legitimidade para oferecer a representação é do ofendido, se maior
de 18 anos e capaz (art. 34 do CP). Embora o dispositivo legal estabeleça
que se o ofendido tiver mais de 18 e menos de 21 anos tanto ele quanto
seu representante legal possam apresentar a representação, este artigo
perdeu o sentido com o advento do Novo Código Civil em 2002, que
estabeleceu a maioridade civil em 18 anos.
Ø Se o ofendido for menor ou incapaz, terá legitimidade o seu
representante legal. Porém, se o ofendido não possuir representante legal
ou os seus interesses colidirem com o do representante, o Juiz deve
nomear curador, por força do art. 33 do CPP (por analogia). Este curador
não está obrigado a oferecer a representação, devendo apenas analisar
se é salutar ou não para o ofendido (maioria da Doutrina entende isso,
mas é controvertido).
Ø Se ofendido falecer, aplica-se a ordem de legitimação prevista no art.
24, § 1° do CPP. É importante observar que essa ordem deve ser
observada. A Doutrina equipara o companheiro ao cônjuge.
Ø O prazo para representação é de SEIS MESES, contados da data em
que veio a saber quem é o autor do delito (art. 38 do CPP).
Ø Se o ofendido for menor de idade, o prazo, para ele, só começa a fluir
quando este completar 18 anos.
Ø Se a vítima vier a falecer, o prazo começa a correr para os legitimados
(cônjuge, ascendente, etc.) quando tomarem conhecimento do fato ou
de sua autoria (art. 38, § único do CPP) ou, no caso de já ser conhecido,
da data do óbito da vítima.
Ø A representação pode ser oferecida perante o MP, a autoridade policial
ou mesmo perante o Juiz.

AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA


JUSTIÇA
Ø Prevista apenas para determinados crimes, nos quais existe um juízo
político acerca da conveniência em vê-los apurados ou não. São poucas
as hipóteses, citando, como exemplo, o crime cometido contra a honra
do Presidente da República (art. 141, I, c/c art. 145, § único, do CP).
Ø Diferentemente do que ocorre com a representação, não há prazo
decadencial para o oferecimento da requisição, podendo esta ocorrer
enquanto não estiver extinta a punibilidade do crime.
Ø A maioria da Doutrina entende que não cabe retratação dessa
requisição, ao contrário do que ocorre com a representação do ofendido,
por não haver previsão legal e por se tratar a requisição, de um ato
administrativo.
Ø O MP não está vinculado à requisição, podendo deixar de ajuizar a ação
penal.

2.2.2. AÇÃO PENAL PRIVADA


2.2.2.1. PRINCÍPIOS
Alguns princípios regem a ação penal privada:
⇒ Oportunidade – Diferentemente do que ocorre com relação à ação
penal pública, que é obrigatória para o MP, na ação penal privada
compete ao ofendido ou aos demais legitimados proceder à análise da
conveniência do ajuizamento da ação.
⇒ Disponibilidade – Também de maneira diversa do que ocorre na ação
penal pública, aqui o titular da ação penal (ofendido) pode desistir da
ação penal proposta (art. 51 do CPP).
⇒ Indivisibilidade – Outra característica diversa é a impossibilidade de
se fracionar o exercício da ação penal em relação aos infratores. O
ofendido não é obrigado a ajuizar a queixa, mas se o fizer, deve ajuizar
a queixa em face de todos os agentes que cometeram o crime, sob pena
de se caracterizar a RENÚNCIA em relação àqueles que não foram
incluídos no polo passivo da ação. Assim, considerando que houve a
renúncia ao direito de queixa em relação a alguns dos criminosos, o
benefício se estende também aos agentes que foram acionados
judicialmente, por força do art. 48 do CP:
Art. 48. A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao
processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua indivisibilidade.
2.2.2.2. AÇÃO PRIVADA EXCLUSIVA, COMUM OU PROPRIAMENTE DITA
É a modalidade de ação penal privada clássica. É aquela na qual a Lei
entende que a vontade do ofendido em ver ou não o crime apurado e o
infrator processado são superiores ao interesse público em apurar o fato.
O prazo para ajuizamento da ação penal privada (queixa) é decadencial
de seis meses, e começa a fluir da data em que o ofendido tomou ciência
de quem foi o autor do delito. O STF e o STJ entendem que se a queixa
foi ajuizada dentro do prazo legal, mas perante juízo incompetente,
mesmo assim terá sido interrompido o prazo decadencial, pois o
ofendido não ficou inerte.
A queixa pode ser oferecida pessoalmente ou por procurador, desde que
se trate de procuração com poderes especiais, nos termos do art. 44 do
CPP. Caso o ofendido venha a falecer, poderão ajuizar a ação penal:
§ Cônjuge
§ Ascendente
§ Descendente
§ Irmão
Importante ressaltar que deve ser respeitada esta ordem, ou seja, se
aparecer mais de uma pessoa para exercer o direito de queixa, deverá
ter preferência primeiramente o cônjuge, depois os ascendentes, e por
aí vai (art. 36 do CPP).
Essas mesmas pessoas também têm legitimidade para dar SEGUIMENTO
à ação penal, caso o ofendido ajuíze a queixa e, posteriormente, venha
a falecer.
⇒ Quando o começa a correr o prazo para estes legitimados? O prazo,
neste caso, varia:
§ Se já foi ajuizada a ação penal – Possuem o prazo de 60 dias, sob pena
de perempção.
§ Se ainda não foi ajuizada a ação penal – O prazo começa a correr a
partir do óbito do ofendido, exceto se ainda não se sabia, nesse
momento, quem era o provável infrator.
2.2.2.3. Ação penal personalíssima
Trata-se de modalidade de ação penal privada exclusiva, cuja única
diferença é que, nesta hipótese, somente o ofendido (mais ninguém, em
hipótese nenhuma!) poderá ajuizar a ação. Assim, se o ofendido falecer,
nada mais haverá a ser feito, estando extinta a punibilidade, pois a
legitimidade não se estende aos sucessores, como acontece nos demais
crimes de ação privada.
Além disso, se o ofendido é menor, o seu representante não pode ajuizar
a demanda. Assim, deve o ofendido aguardar a maioridade para ajuizar
a ação penal privada.
Só temos um crime dessa modalidade de ação, do artigo 236 do CP.
2.2.2.4. Ação penal privada subsidiária da pública
Trata-se de hipótese na qual a ação penal é, na verdade, pública, ou
seja, o seu titular é o MP. No entanto, em razão da inércia do MP em
oferecer a denúncia no prazo legal (em regra, 15 dias se indiciado solto,
ou 05 dias se indiciado preso), a lei confere ao ofendido o direito de
ajuizar uma ação penal privada (queixa) que substitui a ação penal
pública. Esta previsão está contida no art. 29 do CPP:
Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta
não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a
queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os
termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a
todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como
parte principal.
Entretanto, o ofendido tem um prazo de seis meses para oferecer a ação
penal privada, que começa a correr no dia em que se esgota o prazo do
MP para oferecer a denúncia, conforme art. 38 do CPP:
Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante
legal, decairá no direito de queixa ou de representação, se não o exercer
dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que vier a saber quem
é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o
prazo para o oferecimento da denúncia.
Importante ressaltar que, a partir do momento em que se inicia o prazo
para a vítima, tanto ela quanto o MP possuem legitimidade para ajuizar
a ação penal (a vítima para ajuizar a ação penal privada subsidiária e o
MP para ajuizar a ação penal pública). Trata-se, portanto, de
legitimidade concorrente.
Para que surja o direito de ajuizamento da queixa-crime subsidiária, é
necessário que haja INÉRCIA do MP. Assim, não cabe ação penal privada
subsidiária da pública se:
§ O MP requer a realização de novas diligências
§ Promove o arquivamento do IP
§ Adota outras providências
Nestes casos não se pode admitir a ação penal privada, pois esta
somente existe para os casos nos quais o MP permaneceu inerte, sem
nada fazer. Se o MP pratica uma destas condutas, não há inércia, mas
apenas a prática de atos que lhe são permitidos.
Por fim, não é admissível o perdão do ofendido na ação penal privada
subsidiária da pública, pois se trata de ação originariamente pública, na
qual só se admitiu o manejo da ação privada em razão de uma
circunstância temporal. Tanto é assim que o art. 105 do CP estabelece
que:
Art. 105 - O perdão do ofendido, nos crimes em que somente se procede
mediante queixa, obsta ao prosseguimento da ação.
Ora, se o artigo fala em “crimes em que somente se procede mediante
queixa”, exclui desta lista a ação penal privada subsidiária da pública,
pois esta é cabível nos crimes que são, originariamente, de ação penal
PÚBLICA.
O MP atua em toda e qualquer ação penal. Nas ações penais públicas,
atua como acusador (autor da ação) e fiscal da lei (custos legis). Na ação
penal privada o MP atua apenas como fiscal da lei (custos legis). Na ação
penal privada subsidiária da pública, todavia, temos uma atuação sui
generis (peculiar), eis que o MP atua como fiscal da lei, mas por ser o
original titular da ação penal, sua atuação será bem mais ampla que nas
ações privadas exclusivas.
Vejamos o que diz o art. 29 do CPP:
Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta
não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a
queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os
termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a
todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como
parte principal.
O MP pode, especificamente no caso da ação penal privada subsidiária
da pública:
⇒ Aditar a queixa – Com relação a este aditamento, ele pode se referir
a qualquer aspecto (inclusão de réus, inclusão de qualificadoras, etc.).
Na ação penal privada exclusiva o MP até pode aditar a queixa, mas
apenas em relação a elementos formais, nunca em relação a elementos
essenciais (não pode o MP, na ação penal privada exclusiva, incluir um
réu, por exemplo).
⇒ Repudiar a queixa – O MP só pode repudiar a queixa quando alegar
que não ficou inerte, ou seja, que não é hipótese de ajuizamento da
queixa-crime subsidiária. Neste caso, deverá desde logo apresentar a
denúncia substitutiva.
⇒ Retomar a ação como parte principal – Aqui o querelante (a vítima) é
negligente na condução de causa, cabendo ao MP retomar a ação como
parte principal (como autor da ação).
2.2.2.5. Renúncia, perdão e perempção
O ofendido pode renunciar ao direito de ajuizar a ação (queixa), e se o
fizer somente a um dos infratores, a todos se estenderá, por força do
art. 49 do CPP:
Art. 49. A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um
dos autores do crime, a todos se estenderá.
A renúncia só pode ocorrer antes do ajuizamento da demanda e pode
ser expressa ou tácita. Com relação à renúncia tácita (decorrente da não
inclusão de algum dos infratores na ação penal), o STJ firmou
entendimento no sentido de que a omissão do querelante (ausência de
inclusão de algum dos infratores) deve ter sido VOLUNTÁRIA, ou seja,
ele deve ter, de fato, querido não processar o infrator. Em se tratando
de omissão INVOLUNTÁRIA (mero esquecimento, por exemplo), não se
pode considerar ter ocorrido renúncia tácita, devendo o MP requerer a
intimação do querelante para que se manifeste quanto aos demais
infratores.
Após o ajuizamento da demanda o que poderá ocorrer é o perdão do
ofendido. Nos termos do art. 51 do CPP:
Art. 51. O perdão concedido a um dos querelados aproveitará a todos,
sem que produza, todavia, efeito em relação ao que o recusar.
A utilização do termo querelado denota que só pode ocorrer o perdão
depois de ajuizada a queixa, pois só após este momento há querelante
(ofendido) e querelado (autor do crime).
O perdão, à semelhança do que ocorre com a renúncia ao direito de
queixa, também pode ser expresso ou tácito. No primeiro caso, é
simples, decorre de manifestação expressa do querelante no sentido de
que perdoa o infrator. No segundo caso, decorre da prática de algum ato
incompatível com a intenção de processar o infrator (ex.: Casar-se com
o infrator).
O perdão pode ser:
• Judicial (processual) – quando oferecido pelo querelante
dentro do processo
• Extrajudicial (extraprocessual) – quando o querelante
oferece o perdão FORA do processo (não o faz em
manifestação processual)
Diferentemente da renúncia, que é ato unilateral (não depende de
aceitação), o perdão é ato bilateral, ou seja, deve ser aceito pelo
querelado:
Art. 58. Concedido o perdão, mediante declaração expressa nos autos, o
querelado será intimado a dizer, dentro de três dias, se o aceita, devendo,
ao mesmo tempo, ser cientificado de que o seu silêncio importará
aceitação.
Parágrafo único. Aceito o perdão, o juiz julgará extinta a punibilidade.
Assim, uma vez oferecido o perdão, o querelado será intimado para, em
03 dias, dizer se aceita o perdão, valendo o silêncio como aceitação.
Todavia, é importante ressaltar que, em razão do princípio da
indivisibilidade da ação penal privada, o perdão oferecido a um dos
infratores se estende aos demais. Porém, se algum deles recusar, isso não
prejudica o direito dos demais.
O perdão pode ser aceito pessoalmente (pelo ofendido ou seu
representante legal) ou por procurador com poderes especiais.
Na ação penal privada pode ocorrer, ainda, a perempção da ação penal,
que é a perda do direito de prosseguir na ação como punição ao querelante
que foi inerte ou negligente no processo. As hipóteses estão previstas no
art. 60 do CPP:
Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa,
considerar-se-á perempta a ação penal:
I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento
do processo durante 30 dias seguidos;
II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não
comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60
(sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado
o disposto no art. 36;
III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a
qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular
o pedido de condenação nas alegações finais;
IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem
deixar sucessor.
Com relação ao inciso I (deixar de dar andamento ao processo por 30 dias
seguidos), a Doutrina é pacífica no sentido de que não é possível falar em
perempção quando o querelante deixa de dar seguimento ao processo por
várias vezes, mas todas elas em período inferior a 30 dias (25 dias em uma
vez, 15 em outra, etc.).
2.3. Acordo de não persecução penal: a novidade do Pacote Anticrime
interpretada pelo STJ
Uma das principais inovações inseridas no Código de Processo Penal (CPP)
pela Lei 13.964/2019 (Pacote Anticrime), o acordo de não persecução
penal pode ser definido como uma espécie de negócio jurídico pré-
processual entre o Ministério Público (MP) e o investigado, assistido por seu
defensor. Nele, as partes negociam cláusulas a serem cumpridas pelo
acusado, que, ao final, será favorecido pela extinção da punibilidade.
O acordo está previsto no artigo 28-A do CPP: "Não sendo caso de
arquivamento e tendo o investigado confessado formal e
circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave
ameaça e com pena mínima inferior a quatro anos, o Ministério Público
poderá propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e
suficiente para reprovação e prevenção do crime".
A relevância e a dimensão desse instrumento – ainda recente no
ordenamento jurídico brasileiro – podem ser estimadas pelas palavras do
ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Rogerio Schietti Cruz. No
julgamento do HC 657.165, ele definiu o instituto como "uma maneira
consensual de alcançar resposta penal mais célere ao comportamento
criminoso, por meio da mitigação da obrigatoriedade da ação penal, com
inexorável redução das demandas judiciais criminais".
Segundo Schietti, o acordo de não persecução penal não se propõe
especificamente a beneficiar o réu, mas sim a Justiça criminal de forma
integral, visto que tanto ele quanto o Estado renunciam a direitos ou
pretensões em troca de alguma vantagem. O Estado – explicou o ministro
– não obtém a condenação penal em troca de antecipação e certeza da
resposta punitiva. Já o réu deixa de provar sua inocência, "em troca de
evitar o processo, suas cerimônias degradantes e a eventual sujeição a
uma pena privativa de liberdade".
No mesmo voto, Schietti enumerou as principais diferenças do acordo de
não persecução penal em relação a outras formas de Justiça penal
negociada, como a transação penal e a suspensão condicional do processo.
"Enquanto na transação penal o acordo é de cumprimento de penas (não
privativas de liberdade) e no sursis processual já há um processo
instaurado, no acordo de não persecução penal se acerta o cumprimento
de condições (funcionalmente equivalentes a penas)", detalhou o ministro.
A outra diferença apontada é que, ao contrário do que ocorre em relação
aos dois outros institutos, o acordo de não persecução penal pressupõe,
como requisito para sua celebração, a prévia confissão do crime por parte
do investigado.
Em agosto de 2022, a Sexta Turma do tribunal entendeu que a falta de
confissão do autuado, durante o inquérito policial, não impede que o MP
analise o oferecimento do acordo de não persecução penal.
Ao analisar o HC 657.165, o colegiado anulou decisão da Justiça do Rio de
Janeiro que, mesmo diante do pedido da defesa, não remeteu os autos ao
procurador-geral de Justiça, depois que o membro do MP em primeira
instância deixou de oferecer o acordo, sob o argumento de que o acusado
não havia confessado o delito na fase do inquérito.
O relator do caso, ministro Rogerio Schietti Cruz, observou que o acusado
estava sem advogado no interrogatório e preferiu ficar em silêncio, sem
tomar conhecimento da possibilidade de celebrar o acordo.
Schietti avaliou que a exigência de confissão na fase policial poderia levar
a uma autoincriminação antecipada, apenas com base na esperança de
oferecimento do acordo, o qual – segundo o ministro – poderá não ser
proposto em razão da falta de requisitos subjetivos ou de outro motivo,
conforme a avaliação do MP.
"Além de, na enorme maioria dos casos, o investigado ser ouvido pela
autoridade policial sem a presença de defesa técnica e sem que tenha
conhecimento sobre a existência do benefício legal, não há como ele saber,
já naquela oportunidade, se o representante do Ministério Público
efetivamente oferecerá a proposta de acordo ao receber
o inquérito relatado", disse o magistrado.
No julgamento do HC 628.647, a Sexta Turma do STJ estabeleceu, por
maioria, a possibilidade de aplicação retroativa do acordo de não
persecução penal, desde que a denúncia não tenha sido recebida. Para o
colegiado, uma vez iniciada a persecução penal em juízo, não há como
retroceder no andamento processual.
Na ocasião, os ministros negaram o pedido da Defensoria Pública de Santa
Catarina para que fosse oferecido o acordo de não persecução penal a um
homem preso em flagrante por portar armamentos e munições de uso
restrito, antes de a nova lei entrar em vigor.
Autora do voto que prevaleceu no julgamento, a ministra Laurita Vaz
considerou que "por mais que se trate de norma de conteúdo híbrido, mais
favorável ao réu – o que não se discute –, o deslinde da controvérsia deve
passar pela ponderação dos princípios tempus regit actum e da
retroatividade da lei penal benéfica, sem perder de vista a essência da
inovação legislativa em questão e o momento processual adequado para
sua incidência".
No entendimento da relatora, a lei nova mais benéfica deve retroagir para
alcançar aqueles crimes cometidos antes da sua entrada em vigor. Por
outro lado, "há de se considerar o momento processual adequado para
perquirir sua incidência, sob pena de se desvirtuar o instituto
despenalizador", ponderou.
Circunstância semelhante foi analisada pela Quinta Turma no julgamento
do HC 607.003, de relatoria do ministro Reynaldo Soares da Fonseca. O
colegiado não conheceu do pedido por entender que o acordo de não
persecução penal se aplica a fatos ocorridos antes da Lei 13.964/2019,
mas desde que não recebida a denúncia. A decisão refletiu posicionamento
já firmado pelo STF no HC 191.464.
No caso dos autos, a discussão acerca da aplicação do acordo só ocorreu
na fase da apelação. A Lei 13.964/2019 não estava em vigor no momento
do recebimento da denúncia, o que impede a incidência do instituto.
O relator também citou uma decisão do ministro Felix Fischer, proferida
em petição no AREsp 1.668.089, de junho de 2020. O então decano do STJ
salientou que o Enunciado 20, formulado pelo Conselho Nacional dos
Procuradores-Gerais por meio de uma comissão especial, trata da
retroatividade do artigo 28-A do CPP, nos seguintes termos: "Cabe acordo
de não persecução penal para fatos ocorridos antes da vigência da Lei
13.964/2019, desde que não recebida a denúncia".
No RHC 161.251, a Quinta Turma estabeleceu que é competência exclusiva
do MP a possibilidade de oferecimento do acordo de não persecução penal,
não cabendo ao Poder Judiciário determinar ao órgão acusador que o
oferte.
Nesse julgado, o impetrante havia sido denunciado por corrupção ativa,
tendo o MPF se manifestado pela impossibilidade de celebração do acordo.
No Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), um habeas corpus foi
indeferido e, no STJ, a defesa alegou que seria possível a intervenção do
Poder Judiciário com base na ausência de fundamentação idônea por parte
do MPF para o não oferecimento do acordo.
Para o relator, ministro Ribeiro Dantas, as regras do devido processo legal
foram respeitadas na época da denúncia – quando o acordo de não
persecução não existia no sistema processual penal. Para ele, o MPF expôs
de forma satisfatória os motivos para considerar que a celebração do
acordo, no caso concreto, não seria suficiente para reprovação
e prevenção do crime.
"Não há ilegalidade na recusa do oferecimento de proposta de acordo de
não persecução penal quando o representante do Ministério Público, de
forma fundamentada, constata a ausência dos requisitos subjetivos legais
necessários à elaboração do acordo", apontou o ministro.
Por fim, Ribeiro Dantas afirmou que a possibilidade de oferecimento do
acordo é conferida exclusivamente ao MP, não constituindo direito subjetivo
do investigado.
PRISÕES

Quando falamos em “prisão”, no bojo do Direito Processual Penal, só


podemos estar diante de duas espécies de medidas privativas de liberdade:
Prisão pena – É uma punição que decorre da aplicação da lei penal através
de uma sentença penal condenatória irrecorrível (imodificável);

Prisão não-pena – Trata-se não de uma punição (pois ainda não há


condenação irrecorrível), mas de uma medida de NATUREZA CAUTELAR
(cautela = cuidado, a fim de se evitar um prejuízo), cuja finalidade pode
ser garantir o regular desenvolvimento da instrução processual, a aplicação
da lei penal ou, nos casos expressamente previstos em lei, evitar a prática
de novas infrações penais.

1. PRISÃO PENA/DEFINITIVA (REGRA): RECLUSÃO, DETENÇÃO E A


PRISÃO SIMPLES.
2. PRISÃO NÃO PENA
CAUTELAR/PROVISÓRIA/PROCESSUAL(EXCEÇÃO): PRISÃO EM
FLAGRANTE, PRISÃO PREVENTIVA E A PRISÃO TEMPORÁRIA.

3.1. PRISÃO EM FLAGRANTE

#NATUREZA JURÍDICA: A prisão em flagrante é uma modalidade de prisão


cautelar que tem como fundamento a prática de um fato com aparência de
fato típico, MAS QUE DEVE SER RATIFICADA PELO JUDICIÁRIO. PORTANTO
SUA NATUREZA É MISTA (ADMNISTRATIVO E JUDICIAL).

#SUJEITOS DO FLAGRANTE:
#SUJEITO ATIVO: QUEM PRENDE?
Flagrante obrigatório (ou compulsório): Trata-se do flagrante típico
da autoridade policial ou da atuação das forças policias. Decorre do estrito
cumprimento do dever legal.
Flagrante facultativo: Trata-se da prisão em flagrante realizada por
qualquer cidadão, exceto integrante das forças policiais/ autoridade
policial. Decorre do exercício regular do direito.
#SUJEITO PASSIVO: QUEM PODE SER PRESO? QUALQUE PESSOA PODE
SER PRESA EM FLAGRANTE (REGRA)
#EXCEÇÕES:
MENORES DE 18 ANOS.
PRESIDENTE DA REPÚBLICA.
DIPLOMATAS (IMUNIDADE DIPLOMATICA)
QUEM PRESTA SOCORRO EM CRIMES CULPOSOS DE TRANSITO
INFRAÇÕES QUE NÃO SÃO PUNIDAS COM PENAS PRIVATIVAS DE
LIBERDADE (PRISÃO)

O CPP destaca a prisão em flagrante como espécie de prisão processual,


esclarecendo no artigo 301 do Código de Processo Penal (CPP).
Art. 301.  Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus
agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante
delito.
Note, desde já, que a pessoa do povo poderá (faculdade), ao passo que
a autoridade policial deverá (dever).
Portanto, a prisão em flagrante autoriza a captura daquele que é está em
flagrante delito. O objetivo é, a priori, a proteção da sociedade.
Entretanto, a doutrina aponta, também como finalidade:
1. Evitar a fuga daquele que foi surpreendido praticando a
infração penal;
2. Impedir a consumação do crime;
3. Alcançar indícios que possam, eventualmente, contribuir
para adoção de providência penal.
É curioso observar que parte da doutrina compreende a prisão em flagrante
como medida pré-cautelar, ou seja, anterior a próprio necessidade de
cautela.
#ESPÉCIES DE FLAGRANTE:
Segundo esta ótica, a prisão em flagrante poderá ser:
1. Flagrante próprio (ou real/ perfeito): Trata-se do
flagrante realizado em face do sujeito que:
 a) Está cometendo a infração (art. 302, I, CPP),
ou seja, o sujeito está desenvolvendo os atos
executórios;
 b) Acaba de cometê-la (art. 302, II, CPP), ou
seja, já finalizou os atos executórios, mas permanece
no contexto fático da infração penal.
2. Flagrante impróprio (QUASE-FRAGRANTE ou irreal/
imperfeito): PERSEGUIÇÃO/LOGO APÓS/PRESUNÇÃO DE
AUTORIA. Trata-se do flagrante que ocorre diante daquele que
é perseguido logo após a prática do crime (art. 302, III,
CPP). a Doutrina sustenta que essa perseguição deve ser
contínua, ainda que sem contato visual.
3. Flagrante presumido (ou ficto/ assimilado):
ENCONTRADO/LOGO DEPOIS/PRESUNÇÃO. Trata-se do
flagrante que ocorre em face do sujeito que é encontrado, logo
depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que
façam presumir ser ele autor da infração (art. 302, IV, do
CPP).
4. Flagrante postergado (ou diferido/ retardado/ ação
controlada).
Trata-se de modalidade de flagrante em que a autoridade policial, ouvido
MP e com diligência delimitada pelo juiz, pode retardar/ diferir a prisão em
flagrante para identificar e responsabilizar o maior número de integrantes
do crime.
O flagrante postergado é autorizado, apenas, nos casos de crime
organizado, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
Em todos os casos, é preciso deliberação do juiz com outiva do MP (art. 8°
da lei 12.850/2013; art. 53, II, da lei 11343/06 e art. 4°-B da lei
9.613/98).
5. Flagrante forjado: Visa incriminar o inocente que não tem
qualquer intenção de praticar a infração;
6. Flagrante esperado: É aquele que ocorre quando, sabendo que
um delito irá ou poderá acontecer, a polícia espera (aguarda) para
prender o criminoso em flagrante. Note que a polícia NÃO estimula
a prática do delito, mas apenas espera acontecer.
7. Flagrante preparado (ou provocado): É aquele em que a
polícia estimula a prática do delito. Fala-se, por isso, que o Estado
constrói a situação e o agente passa a ser manipulado dentro de
uma espécie de peça teatral. Nesse caso, o crime é
impossível (súmula 145 do STF), dado que o ato nunca poderia se
consumar, já que, antes da consumação, o Estado sabe de antemão
que a pessoa será presa.
Súmula 145 do STF: Não há crime, quando a preparação do flagrante
pela polícia torna impossível a sua consumação.

Obs. Em regra, Não cabe prisão em flagrante nos crimes habituais, pois o
crime não se consuma em apenas um ato, exigindo-se uma sequência de
atos isolados para que o fato seja típico (maioria da Doutrina e da
Jurisprudência). Parte minoritária, no entanto, entende possível, se quando
a autoridade policial surpreender o infrator praticando um dos atos, já se
tenha prova inequívoca da realização dos outros atos necessários à
caracterização do fato típico (Minoritário). Há decisões jurisprudenciais
nesse último sentido (possível, desde que haja prova da habitualidade).

Nos crimes permanentes e continuados, O flagrante pode ser realizado em


qualquer momento durante a execução do crime, logo após ou logo depois.

#Procedimento da lavratura do Auto de Prisão em Flagrante

Após ser apresentado o preso em flagrante delito à autoridade policial, esta

deverá adotar o seguinte procedimento:

a) Ouvir o condutor

b) Ouvir as testemunhas

c) Ouvir a vítima, se for possível

d) Ouvir o preso (Interrogatório)

# E quando o Juiz receber o Auto de Prisão em Flagrante, o que deve

fazer? Ao Juiz são facultadas três hipóteses:

• Relaxar a prisão ilegal;


• Converter a prisão em prisão preventiva, desde que presentes os
requisitos para tal, bem como se mostrarem inadequadas ou insuficientes
as outras medidas cautelares;

• Conceder a liberdade provisória, com ou sem fiança, a depender do caso


PRISÃO PREVENTIVA
CPP, ART. 311 EM DIANTE
Art. 282.  As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser
aplicadas observando-se a:           (Redação dada pela Lei nº 12.403, de
2011).
I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a
instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a
prática de infrações penais;           (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato
e condições pessoais do indiciado ou acusado.          (Incluído pela Lei nº
12.403, de 2011).
A PRISÃO PREVENTIVA DEVE SER ADEQUADA E NECESSÁRIA.
Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo
penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, a requerimento do
Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da
autoridade policial.       (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
O JUIZ NÃO PODE DECRETAR PREVENTIVA DE OFICIO
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da
ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução
criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova
da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado
pelo estado de liberdade do imputado.       (Redação dada pela Lei nº 13.964,
de 2019)
§ 1º  A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de
descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras
medidas cautelares (art. 282, § 4o).    (Redação dada pela Lei nº 13.964, de
2019)
§ 2º A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser motivada e
fundamentada em receio de perigo e existência concreta de fatos novos ou
contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida adotada.    (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)
CABIMENTO E NÃO CABIMENTO DA PREVENTIVA
Art. 313.  Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a
decretação da prisão preventiva:            (Redação dada pela Lei nº 12.403, de
2011).
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima
superior a 4 (quatro) anos;            (Redação dada pela Lei nº 12.403, de
2011).
Crimes dolosos com pena máxima de até 4 anos não admitem
preventiva.
Crimes culposos não admitem a preventiva.
Contravenções não admitem preventiva.
II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença
transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64
do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal;        
 (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
É cabível preventiva independentemente da quantidade de pena,
quando o agente for reincidente em crime doloso.
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher,
criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para
garantir a execução das medidas protetivas de urgência;          (Redação dada
pela Lei nº 12.403, de 2011).
IV - (revogado).      (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).
§ 1º  Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida
sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos
suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente
em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a
manutenção da medida.    (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º Não será admitida a decretação da prisão preventiva com a
finalidade de antecipação de cumprimento de pena ou como decorrência
imediata de investigação criminal ou da apresentação ou recebimento de
denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Art. 314.  A prisão preventiva em nenhum caso será decretada se o juiz
verificar pelas provas constantes dos autos ter o agente praticado o fato
nas condições previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 23 do Decreto-
Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal.            (Redação dada
pela Lei nº 12.403, de 2011).
Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão
preventiva será sempre motivada e fundamentada.     (Redação dada pela
Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º Na motivação da decretação da prisão preventiva ou de qualquer
outra cautelar, o juiz deverá indicar concretamente a existência de fatos
novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida
adotada.  (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela
interlocutória, sentença ou acórdão, que:      (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato
normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão
decidida;     (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o
motivo concreto de sua incidência no caso;     (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra
decisão;     (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes
de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;      (Incluído pela
Lei nº 13.964, de 2019)
V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem
identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso
sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;     (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou
precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção
no caso em julgamento ou a superação do entendimento.     (Incluído pela
Lei nº 13.964, de 2019)
Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a
prisão preventiva se, no correr da investigação ou do processo, verificar a
falta de motivo para que ela subsista, bem como novamente decretá-la, se
sobrevierem razões que a justifiquem.     (Redação dada pela Lei nº 13.964,
de 2019)     (Vigência)  
Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor
da decisão revisar a necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa)
dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a
prisão ilegal.      (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)     (Vigência)    (Vide
ADI 6581)      (Vide ADI 6582)
PRISÃO PREVENTIVA

A prisão preventiva é o que se pode chamar de prisão cautelar por


excelência, pois é aquela que é determinada pelo Juiz no bojo do Processo
Criminal ou da Investigação Policial, de forma a garantir que seja evitado
algum prejuízo.

1. PRESSUPOSTOS OU REQUISITOS (FUMUS COMISSI


DELICTI):
1. INDÍCIOS SUFICIENTES DE AUTORIA:
2. PROVA DA MATERIALIDADE:
OBSERVAÇÃO: PROVA DA MATERIALIDADE E INDICIOS DE AUTORIA
CARACTERIZAM A JUSTA CAUSA.
2. FUNDAMENTOS (PERICULUM LIBERTATIS):
1. garantia da ordem pública: gravidade da infração
+ repercussão social + periculosidade do agente. A
perturbação da ordem pública pode ser conceituada como o
abalo provocado na sociedade em razão da prática de um
delito de consequências graves. Assim, a prisão preventiva
se justificaria para restabelecer a tranquilidade social, a
sensação de paz em um determinado local (um bairro, uma
cidade, um estado, ou até mesmo no país inteiro). A
jurisprudência, contudo, vem entendendo que é possível o
reconhecimento da “ameaça à ordem pública” quando haja
alta probabilidade de que o agente volte a delinquiR.

2. da ordem econômica: Esta hipótese é direcionada


aos crimes do colarinho branco, àquelas hipóteses em que o
agente pratica delitos contra instituições financeiras e
entidades públicas, causando sérios prejuízos financeiros.

3. conveniência da instrução criminal: ameaça


testemunha, esconde ou destrói provas.
4. Para assegurar a aplicação da lei penal: para
evitar fuga
5. descumprimento de qualquer das obrigações
impostas por força de outras medidas cautelares
6. quando houver dúvida sobre a identidade civil da
pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes
para esclarecê-la

CABIMENTO E NÃO CABIMENTO DA PREVENTIVA


Art. 313.  Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a
decretação da prisão preventiva:            (Redação dada pela Lei nº 12.403, de
2011).
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima
superior a 4 (quatro) anos;            (Redação dada pela Lei nº 12.403, de
2011).

O inciso I estabelece a impossibilidade de decretação da preventiva nos


crimes culposos e nos crimes dolosos cuja pena máxima seja igual ou
inferior a quatro anos. Veja, portanto, que o crime de furto simples, por
exemplo, não admite mais a decretação da prisão preventiva, pois a pena
máxima cominada para este crime é de quatro anos. Contudo, em relação
a esta última hipótese, há exceção, prevista no inciso II.

O inciso II trata do reincidente em crime doloso. Mas o que seria a


“ressalva do art. 64, I do CP”? Essa ressalva diz respeito à hipótese na qual
a sentença condenatória anterior não gera reincidência, em razão de ter
sido extinta a punibilidade da primeira pena há mais de cinco anos. Assim,
se o indivíduo foi condenado por crime doloso e cumpriu pena, tendo sido
extinta sua punibilidade em 2002, tendo cometido, em 2012, novo crime
doloso, não haverá reincidência apta a justificar a decretação da
preventiva, GRAÇAS AO PERÍODO DEPURADOR DA REICIDÊNCIA QUE É
DE 5 ANOS.

Se passou a adotar o critério da gravidade do crime para verificação da


possibilidade de decretação da preventiva (gravidade aferida, a princípio,
com base na pena cominada). Além disso, o inciso III ampliou o rol das
vítimas de violência doméstica, de forma a abarcar outras pessoas
vulneráveis (crianças, idosos, pessoas com deficiências, etc.).

ASSIM, LEMBRE:
Crimes dolosos com pena máxima de até 4 anos não admitem
preventiva.
Crimes culposos não admitem a preventiva.
Contravenções não admitem preventiva.
PRISÃO TEMPORÁRIA

A prisão temporária é uma modalidade de prisão cautelar que não


seencontra no CPP, estando regulamentada na Lei 7.960/89.

A prisão temporária é uma espécie bem peculiar de prisão cautelar, pois


possui prazo certo e só pode ser determinada DURANTE A INVESTIGAÇÃO
POLICIAL. Assim, após o recebimento da denúncia ou queixa, não poderá
ser decretada NEM MANTIDA a prisão temporária.

Art. 1° Caberá prisão temporária:   (Vide ADI 3360)     (Vide ADI 4109)


PRISÃO TEMPORÁRIA= 3 POSSIBILIDADES
HIPOTESE I + HIPOTESE III
HIPOTESE II + HIPOTESE III
HIPOTESE I + HIPOTESE II + HIPOTESE III

I - quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;


II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer
elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade;
III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova
admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos
seguintes crimes:
a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°);
b) seqüestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° e 2°);
c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°);
e) extorsão mediante seqüestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°, 2° e
3°);
f) estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e
parágrafo único);          (Vide Decreto-Lei nº 2.848, de 1940)
g) atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua combinação com
o art. 223, caput, e parágrafo único);           (Vide Decreto-Lei nº 2.848, de
1940)
h) rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art. 223 caput, e
parágrafo único);          (Vide Decreto-Lei nº 2.848, de 1940)
i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°);
j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou
medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput, combinado com art.
285);
l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal;
m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 1° de outubro de
1956), em qualquer de sua formas típicas;
n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de outubro de
1976);
o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de junho de
1986).
p) crimes previstos na Lei de Terrorismo.           (Incluído pela Lei nº
13.260, de 2016)
Art. 2° A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da
representação da autoridade policial ou de requerimento do Ministério
Público, e terá o prazo de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual período em
caso de extrema e comprovada necessidade.
§ 1° Na hipótese de representação da autoridade policial, o Juiz, antes
de decidir, ouvirá o Ministério Público.
§ 2° O despacho que decretar a prisão temporária deverá ser
fundamentado e prolatado dentro do prazo de 24 (vinte e quatro) horas,
contadas a partir do recebimento da representação ou do requerimento.
§ 3° O Juiz poderá, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público
e do Advogado, determinar que o preso lhe seja apresentado, solicitar
informações e esclarecimentos da autoridade policial e submetê-lo a exame
de corpo de delito.
§ 4° Decretada a prisão temporária, expedir-se-á mandado de prisão,
em duas vias, uma das quais será entregue ao indiciado e servirá como
nota de culpa.
§ 4º-A  O mandado de prisão conterá necessariamente o período de
duração da prisão temporária estabelecido no caput deste artigo, bem
como o dia em que o preso deverá ser libertado.   (Incluído pela Lei nº
13.869. de 2019)
§ 5° A prisão somente poderá ser executada depois da expedição de
mandado judicial.
§ 6° Efetuada a prisão, a autoridade policial informará o preso dos
direitos previstos no art. 5° da Constituição Federal.
§ 7° Decorrido o prazo de cinco dias de detenção, o preso deverá ser
posto imediatamente em liberdade, salvo se já tiver sido decretada sua
prisão preventiva.
§ 7º  Decorrido o prazo contido no mandado de prisão, a autoridade
responsável pela custódia deverá, independentemente de nova ordem da
autoridade judicial, pôr imediatamente o preso em liberdade, salvo se já
tiver sido comunicada da prorrogação da prisão temporária ou da
decretação da prisão preventiva.  (Redação dada pela Lei nº 13.869. de
2019)   
§ 8º  Inclui-se o dia do cumprimento do mandado de prisão no cômputo
do prazo de prisão temporária.       (Incluído pela Lei nº 13.869. de 2019)
Art. 3° Os presos temporários deverão permanecer, obrigatoriamente,
separados dos demais detentos.
Art. 4° O art. 4° da Lei n° 4.898, de 9 de dezembro de 1965, fica
acrescido da alínea i, com a seguinte redação:
"Art. 4° ...............................................................
i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de
segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir
imediatamente ordem de liberdade;"
Art. 5° Em todas as comarcas e seções judiciárias haverá um plantão
permanente de vinte e quatro horas do Poder Judiciário e do Ministério
Público para apreciação dos pedidos de prisão temporária.
Art. 6° Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 7° Revogam-se as disposições em contrário
PRAZO: CRIME NORMAL 5 + 5
CRIME HEDIONDO E EQUIPARADO 30+30

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