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FILOSOFIA – 10ºAno

Prof. Cláudia Monteiro

TEXTOS COMPLEMENTARES
Determinismo
Para começar, podemos suspeitar que isso da «liberdade» talvez seja apenas uma ilusão que eu tenho
sobre as minhas possibilidades reais. Afinal de contas, tudo o que acontece tem a sua causa determinante
de acordo com as leis da natureza. Abro um pouco a torneira de água e vejo sair dela algumas gotas: se eu
soubesse de antemão onde se encontravam essas gotas na canalização e tendo em conta a lei da gravidade,
as regras do movimento dos líquidos, a posição do orifício na torneira, etc., teria podido por certo
determinar que gota devia sair em primeiro lugar e qual em quarto. O mesmo acontece com todos os
factos que observo à minha volta e mesmo com a maioria dos que acontecem no meu corpo (respiração,
circulação sanguínea, tropeção na pedra que não vi, etc.). Em cada caso posso retroceder até a uma
situação anterior que torna inevitável o que aconteceu a seguir. Só a minha ignorância de como as coisas
estão no momento A justifica que me surpreenda com o que acontece depois no momento B. A doutrina
determinista (um dos mais antigos e persistentes pontos de vista filosóficos) estabelece que se eu
soubesse como estão dispostas todas as peças do mundo agora e conhecesse exaustivamente todas as leis
físicas, poderia descrever sem erro tudo o que vai acontecer no mundo dentro de um minuto ou dentro de
cem anos. Como eu também sou uma parte do universo, devo estar submetido à mesma determinação
causal que o resto do universo. Onde fica então o «sim ou não» da liberdade?
F. Savater, As Perguntas da Vida, Dom Quixote, 2000, p. 144.

O argumento da responsabilidade
O pressuposto de que temos livre-arbítrio está profundamente enraizado nas nossas formas habituais de
pensar. Ao reagir a outras pessoas, não conseguimos deixar de as ver como autoras das suas ações.
Consideramo-las responsáveis, censurando-as caso se tenham comportado mal e admirando-as caso se
tenham comportado bem. Para que estas reações estejam justificadas, parece necessário que as pessoas
tenham livre-arbítrio.
Outros sentimentos humanos importantes, como o orgulho e a vergonha, também pressupõem o livre-
arbítrio. Alguém que conquista uma vitória ou tem sucesso num exame pode sentir-se orgulhoso,
enquanto alguém que desiste ou faz batota pode sentir-se envergonhado. Porém, se as nossas ações se
devem sempre a fatores que não controlamos, os sentimentos de orgulho e de vergonha são infundados.
Estes sentimentos são uma parte inescapável da vida humana. Assim, uma vez mais, parece inescapável
que nos concebamos como livres.
Podemos, portanto, raciocinar desta forma:
1. Não conseguimos deixar de admirar ou de censurar as pessoas pelo que fazem, nem conseguimos deixar
de, por vezes, sentir orgulho ou vergonha pelo que fazemos.
2. Estas reações — admiração, censura, orgulho e vergonha — não seriam apropriadas se as pessoas não
tivessem livre-arbítrio.
3. Logo, temos de acreditar que as pessoas têm livre-arbítrio.
4. Dado que temos de ter essa crença, temo-la de facto: as pessoas têm livre-arbítrio.
J. Rachels, Problemas da Filosofia, Gradiva, 2009, pp. 189-190.

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