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TEXTO 1

TEXTO 2

«Quanto a mim, considero livre uma coisa que existe e age unicamente pela necessidade da sua natureza; considero
constrangida aquela que é obrigada por uma outra a existir e a agir de determinada maneira. Deus, por exemplo,
existe livremente (…) Mas desçamos às coisas particulares criadas, que todas são determinadas a existir e a agir
segundo uma forma precisa determinada. (…) Uma pedra, por exemplo, recebe de uma causa exterior que a atira
uma certa quantidade de movimento, e, mesmo depois de acabar o impulso provocado pela causa exterior, a pedra
continuará, necessariamente, a mover-se (…) na medida em que todas as coisas são necessariamente determinadas
a existir e a agir de dada maneira por uma causa exterior. Concebei agora, se o quiserdes, que a pedra, enquanto se
move, sabe e pensa que faz todo o esforço possível para continuar a mover-se. Visto que tem consciência do seu
esforço, a pedra julgará ser livre e que a continuação do movimento ocorre porque ela quer.

Assim é a liberdade humana que todos se gabam de possuir, e que consiste unicamente no facto de os Homens
terem consciência dos eus desejos e ignorarem as causas que os determinam. Uma criança julga desejar livremente
o leite… Um ébrio julga dizer, por decisão sua, aquilo que, quando voltar a estar sóbrio, quereria ter calado. (…) Este
preconceito, sendo natural e congénito em todos os Homens, dificilmente será abandonado por estes. E, no entanto,
a experiência ensina que se há coisas de que os Homens são pouco capazes é de controlar os seus desejos. De facto,
mesmo constatando que, perante dois desejos contrários, vêem o melhor e executam o pior, continuam entretanto,
a acreditar que são livres (…).»

Espinosa, Lettre a G.H. Schuller in 705 Azul (de Fátima Alves e al), Lisboa, Texto Editora, p. 82-83.

TEXTO 3

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TEXTO 4

«Para começar, podemos suspeitar que isso da ‘liberdade’ talvez seja apenas uma ilusão que eu tenho sobre as
minhas possibilidades reais. Afinal de contas, tudo o que acontece tem a sua causa determinante de acordo com as
leis da natureza. Abro um pouco a torneira de água e vejo sair dela algumas gotas: se eu soubesse de antemão onde
se encontravam essas gotas na canalização e tendo em conta a lei da gravidade, as regras do movimento dos
líquidos, a posição do orifício na torneira, etc., teria podido por certo determinar que gota devia sair em primeiro
lugar e qual em quarto. O mesmo acontece com todos os factos que observo à minha volta e mesmo com a maioria
dos que acontecem no meu corpo (respiração, circulação sanguínea, tropeção na pedra que não vi, etc.). Em cada
caso, posso retroceder até a uma situação anterior que torna inevitável o que aconteceu a seguir. Só a minha
ignorância de como as coisas estão no momento A justifica que me surpreenda com o que acontece depois no
momento B. (…) se eu soubesse como estão dispostas todas as peças do mundo agora e conhecesse todas as leis
físicas, poderia descrever sem erro tudo o que vai acontecer no mundo dentro de um minuto ou dentro de cem
anos. Como eu também sou uma parte do universo, devo estar submetido à mesma determinação causal que o resto
do universo.» Savater, As perguntas da vida

TEXTO 4

«Esta é a doutrina que afirma serem todos os acontecimentos – inclusive vontades e escolhas humanas – causados
por acontecimentos anteriores. Segue-se que o ser humano seria destituído de liberdade de decidir e de influir nos
fenómenos em que toma parte. O indivíduo faz exatamente aquilo que tinha de fazer e não poderia fazer outra
coisa; a determinação de seus atos pertence à força de certas causas, externas e internas. É a principal base do
conhecimento científico da Natureza, porque afirma a existência de relações fixas e necessárias entre os seres e
fenómenos naturais: o que acontece não poderia deixar de acontecer porque está ligado a causas anteriores. A
chuva e o raio não surgem por acaso; a semente não germina sem razão, etc.; há sempre acontecimentos prévios
que preparam outros: chove porque houve primeiro evaporação, depois resfriamento e condensação do vapor; e
assim por diante. Os mundos físico e biológico são, pois, regidos pelo determinismo – ao nível macroscópico. Ao
nível mental, também vigora o mesmo princípio, pois, os pensamentos têm uma causa, assim como as nossas ações,
deles decorrentes; pensamentos e atos estão relacionados aos impulsos, traços de carácter e experiências
caracterizam a personalidade.» Carlos Toledo Rizzini (ADAPTADO)

TEXTO 5

«É estranho que os filósofos tenham argumentado ao longo de milénios sobre o determinismo e o livre-arbítrio,
citando exemplos a favor de uma tese ou de outra sem primeiro terem tentado explicitar a própria ideia de ação...
Devemos notar em primeiro lugar que uma ação é em princípio intencional... Ora, se assim é, devemos dizer que
uma ação implica como sua condição necessária o reconhecimento de algo que se deseja, ou seja, o reconhecimento
de uma lacuna objetiva ou de uma negatividade, de algo que falta ou que ainda não existe. A intenção do imperador
Constantino de construir uma cidade cristã que rivalizasse com Roma ocorreu-lhe ao reconhecer uma lacuna
objetiva... faltava uma cidade cristã. Isto significa que, desde o momento da conceção desse ato, a consciência foi
capaz de se distanciar do mundo do qual tinha consciência, deixando o plano do ser (do que existe) para se
aproximar do plano do não ser (do que ainda não existe). Nenhum estado de facto, seja ele qual for (a estrutura
política e económica da sociedade, estados psicológicos, etc.), pode por si mesma determinar e motivar qualquer
ato. Um ato é uma projeção do ser humano em direção ao que ainda não é, e o que é ou existe não pode de modo
nenhum determinar por si o que não é. A realidade humana é livre porque é perpetuamente arrancada a si mesma
(ao seu passado e ao que é).» Jean-Paul Sartre, L’Être et le Néant

TEXTO 6

Não somos livres de escolher o que nos acontece (ter nascido certo dia, de certos pais, em tal país, sofrer de um
cancro ou ser atropelado por um carro, ser bonitos ou feios, que os Aqueus queiram conquistar a nossa cidade, etc.),
mas somos livres de responder desta maneira ou daquela ao que nos acontece {obedecer ou revoltar-nos, ser
prudentes ou temerários, vingativos ou resignados, vestir-nos de acordo com a moda ou disfarçar-nos de ursos das
cavernas, defender Tróia ou fugir, etc.).” Fernando Savater, Ética para um Jovem, Lisboa, Editorial Presença
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TEXTO 7

«Suponhamos o seguinte caso. Uma jovem recebe duas cartas no mesmo correio; uma é um convite para ir com o
seu namorado a um concerto, a outra é um pedido para que visite uma criança doente num bairro de lata. A rapariga
é uma grande apreciadora de música e receia bairros de lata. Ela deseja ir ao concerto e estar com o namorado; ela
receia as ruas imundas e as casas sujas, e evita correr o risco de contrair sarampo ou febre. Mas ela vai ver a criança
doente e não vai ao concerto. Porquê?

Porque o seu sentido do dever é mais forte. Ora, o seu sentido do dever é em parte devido à sua natureza – isto é, à
sua hereditariedade –, mas é principalmente devido ao meio. Como todos nós, a rapariga nasceu sem quaisquer
conhecimentos e com apenas uns rudimentos de uma consciência. Mas foi bem ensinada e a instrução faz parte do
seu meio. Este ensino, que faz parte do seu meio, controla a sua vontade.

Quando alguém diz que a sua vontade é livre, quer dizer que é livre de todo o controlo ou interferência; que pode
dominar a hereditariedade e o meio.

Respondemos que a vontade é governada pela hereditariedade e pelo meio. A hereditariedade e o meio tendo feito
de um ser humano um ladrão, ele irá roubar. A hereditariedade e o meio tendo feito honesto um ser humano, ele
não irá roubar. Quer dizer, a hereditariedade e o meio decidiram a ação da vontade antes de ter chegado a altura da
vontade agir». Robert Blatchford, Not Guilty, Albert and Charles Boni, Inc., 1913, p. 35.

TEXTO 8

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