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Ficha Formativa
O problema do livre-arbítrio
1. Caraterize o libertismo.
«Suponhamos o seguinte caso. Uma jovem recebe duas cartas no mesmo correio;
uma é um convite para ir com o seu namorado a um concerto, a outra é um
pedido para que visite uma criança doente num bairro de lata. A rapariga é uma
grande apreciadora de música e receia bairros de lata. Ela deseja ir ao concerto e
estar com o namorado; ela receia as ruas imundas e as casas sujas, e evita correr o
risco de contrair sarampo ou febre. Mas ela vai ver a criança doente e não vai ao
concerto. Porquê?
Porque o seu sentido do dever é mais forte. Ora, o seu sentido do dever é em
parte devido à sua natureza – isto é, à sua hereditariedade –, mas é
principalmente devido ao meio. Como todos nós, a rapariga nasceu sem quaisquer
conhecimentos e com apenas uns rudimentos de uma consciência. Mas foi bem
ensinada e a instrução faz parte do seu meio. Este ensino, que faz parte do seu
meio, controla a sua vontade.
Quando alguém diz que a sua vontade é livre, quer dizer que é livre de todo o
controlo ou interferência; que pode dominar a hereditariedade e o meio.
Respondemos que a vontade é governada pela hereditariedade e pelo meio. A
hereditariedade e o meio tendo feito de um ser humano um ladrão, ele irá roubar.
A hereditariedade e o meio tendo feito honesto um ser humano, ele não irá
roubar.
Quer dizer, a hereditariedade e o meio decidiram a ação da vontade antes de ter
chegado a altura da vontade agir».
Robert Blatchford, Not Guilty,
Albert and Charles Boni, Inc., 1913, p. 35.
5.1. Mostre por que razão este texto pertence a um determinista radical.
Segundo o autor do texto, colocada perante duas alternativas, uma jovem escolheu
visitar uma pessoa doente a ir a um concerto. A sua decisão tem uma causa –
resulta ou de influências hereditárias e do modo como foi criada e educada – e é o
desfecho necessário de acontecimentos e de fatores anteriores. Quem pensa assim
defende uma perspetiva determinista radical.
O libertista pensa que, apesar das influências hereditárias e das influências do meio
(relativas ao modo como somos educados e criados), a jovem escolheu livremente
visitar a pessoa doente. Podia ter ido ao concerto por mais condicionada que esteja
pela hereditariedade e pelo meio. Não é o seu passado que decide por ela. Ela fez o
que quis. Quem pensa assim acredita no livre-arbítrio, ou seja, que as nossas ações
não são determinadas.
A jovem tem de decidir entre visitar uma pessoa doente num local desagradável e
ir a um concerto que promete ser muito agradável. A jovem delibera, pondera o
que é melhor ou mais correto fazer e decide: escolhe ir visitar a pessoa doente.
Para o libertista, qual é a condição necessária para que essa escolha seja livre?
Escolher visitar a pessoa doente é uma escolha livre se a jovem pudesse ter
escolhido ir ao concerto. Se a ação da jovem só pudesse ter seguido o caminho que
seguiu, não faria sentido para o libertista falar de livre-arbítrio. Para o libertista,
quando deliberou, a jovem tinha dois caminhos realmente em aberto: fazer a visita
ou ir ao concerto. Fez a visita, mas poderia ter escolhido e agido de modo
diferente. Em termos simples, fez o que fez porque quis.
autor do texto?
texto?
Não. Embora o determinista moderado reconheça que todas as nossas ações são
determinadas, pensa que isso não impede que também sejam livres. Tudo depende
de como são determinadas. Assim, o comportamento da jovem é determinado pela
sua personalidade, pelas crenças e desejos que de certa forma aprendeu a
valorizar. Aprendeu a valorizar a 7crença de que é moralmente mais apropriado
apoiar pessoas carenciadas do que procurar o seu prazer pessoal de forma egoísta.
Aprendeu que não é bom ser indiferente aos problemas dos necessitados. O seu
desejo neste caso é o de ficar bem com a sua consciência, é fazer o que é devido. A
sua ação é determinada por certas predisposições do seu temperamento e
sobretudo pela educação no sentido do cumprimento do dever. Apesar de tudo isto,
a sua ação é livre porque essas crenças e desejos que mencionámos são causas
internas do seu comportamento. Para o determinista moderado, uma ação é livre
se for causada pela vontade ou por estados internos do agente e não resultar de
uma coerção ou constrangimento externo (faço o que quero e não o que outros
querem).
Assim, se uma ação é causada pelas minhas crenças e desejos, assim como pelo
meu caráter e personalidade, essa ação é livre. O que distingue ações livres de
ações não livres é a natureza das causas que estão na sua origem: as ações livres
têm causas internas ou psicológicas (desejos, crenças), ao passo que as ações não
livres têm causas externas. Vemos aqui a diferença entre o determinista moderado
e o radical. Este considera que uma ação livre seria uma ação sem qualquer causa,
o que ele nega por não ser cientificamente credível ou respeitável. Aquele concebe
a liberdade de outro modo: livre é a ação que tem como causa os desejos e crenças
de um indivíduo, isto é, uma ação cuja causa não são forças externas ao agente.
Bom trabalho! 😊